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DIREIT O

CIVIL – CAROLINE ANDRIOT T I

60018 AULA26 - DIREIT O CIVIL IV - ANT ICRESE E CONCESSÃO

1. DA ANT ICRESE

Dificilm ente o instituto é visto na prática, m as possui im portância teórica pelas

suas diferenças com o penhor e a hipoteca, bem com o pela possibilidade de incidência

em provas. Regula-se pelos arts. 1.506 a 1.510 do C C , sendo certo que nos term os do

art. 1.225:

Art. 1.225. São direitos reais: (...) X - a anticrese.

A anticrese é direito real autônom o, e em sentido diverso ao penhor e à hipoteca

não confere preferência na excussão do bem dado em garantia, m as consiste na

transferência da posse direta da coisa para o credor anticrético para que possa fruir de

suas utilidades econôm icas com o fim de descontar na obrigação principal.

Desse m odo, a natureza da anticrese com porta a transferência do bem do

devedor para o credor anticrético, com o fim de que possa explorá-la econom icam ente

segundo suas utilidades, e im putar o resultado da exploração na dívida da obrigação

principal. Possui, portanto, a finalidade de perceber frutos e rendim entos, sendo certa a

obrigação do credor de prestar balanço anual, vez que figura na adm inistração do

bem .

Adem ais, é possível por convenção entre as partes que os frutos sejam

im putados a título de juros, desde que não seja excedente à taxa m áxim a perm itida,

casos em que o correspondente que ultrapassar o lim ite deverá ser utilizado para

am ortizar a dívida e eventualm ente extingui-la.

Art. 1.506. Pode o devedor ou outrem por ele, com a entrega do imóvel ao credor,
ceder-lhe o direito de perceber, em compensação da dívida, os frutos e
rendimentos.
§ 1º É permitido estipular que os frutos e rendimentos do imóvel sejam percebidos
pelo credor à conta de juros, mas se o seu valor ultrapassar a taxa máxima
permitida em lei para as operações financeiras, o remanescente será imputado ao
capital.

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O utrossim , perm ite-se que o credor anticrético explore tanto diretam ente o bem

quanto indiretam ente, através de locação ou de arrendam ento, casos em que os

proventos serão im putados na obrigação principal.

Menciona-se ainda a possibilidade do exercício do direito de retenção do credor

anticrético, conform e art. 1.423 do C C , o qual tam bém estabelece o prazo m áxim o de

15 anos que, vencido e rem anescente parte da dívida, passa-se o credor a ser com um

(quirografário), hipótese em que lhe será possível excutir o bem pelo concurso de

credores, m as não pela anticrese, a qual não lhe confere tal direito (atenção: verificar

se a dívida não foi inclusive prescrita, considerando o prazo dilatado de 15 anos):

Art. 1.423. O credor anticrético tem direito a reter em seu poder o bem, enquanto
a dívida não for paga; extingue-se esse direito decorridos quinze anos da data de
sua constituição.

A anticrese constitui-se m ediante a tradição, vez que ocorre o desapossam ento e

a transferência da posse direta ao credor anticrético e, para que lhe seja atribuída

eficácia erga omnes, exige-se o registro no RGI.

Adem ais, por expressa disposição do C C a hipoteca e a anticrese não se

prejudicam , sendo possível a coexistência sobre o m esm o bem , até m esm o em razão

da diferença na natureza de cada instituto, na hipoteca não há transferência do bem

m as preferência na excussão, enquanto que na anticrese há desapossam ento e direito

de retenção e fruição das utilidades da coisa.

O utrossim , defende-se a anticrese por instrum entos específicos, as denom inadas

ações anticréticas, que tanto podem ser em favor do credor, quando deseja a posse do

bem dado em garantia (direito de sequela de se im itir na posse do bem que está com

terceiro), quanto do devedor, quando pede a restituição do im óvel negado, a despeito

da quitação da obrigação principal (ação de rem ição anticrética).

C om o visto, o credor anticrético não possui preferência na excussão do bem ,

m as apenas fruição dos direitos econôm icos provenientes da exploração da coisa.

Todavia, pode lhe ser possível excutir o bem com o credor com um , com o no caso de

insolvência do devedor e escoam ento do prazo de 15 anos da anticrese.

Por fim , extingue-se a anticrese pela extinção da obrigação principal,

considerados os m esm os m otivos quando tratada a questão sobre a hipoteca, dada a

acessoriedade das garantias reais. Do m esm o m odo ocorre pelo term o final do

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gravam e, seja convencional ou os 15 anos estabelecido no C ódigo, o qual não extingue


necessariam ente a anticrese, m as o direito de retenção previsto no art. 1.423. Ainda,

extingue-se pelo perecim ento da coisa, já que im pede a fruição dos frutos e

rendim entos, bem com o pela desapropriação, a qual reverte em indenização e não

im plica na perm anência da garantia sobre os valores. No ponto salienta-se que a

garantia não está sobre o bem , e sim sobre os seus rendim entos, o que faz com que a

garantia não subsista para satisfazer o crédito da obrigação principal nas hipóteses em

que o bem é convertido em valores, com o na desapropriação e no pagam ento de

indenização de bem segurado.

2. CONCESSÃO DE USO ESPECIAL PARA FINS DE MORADIA

Essa m odalidade de concessão possui regim e híbrido, já que bastante estudada

pelo Direito Adm inistrativo e descartada por certos autores no estudo do Direito C ivil.

A concessão destina-se à regularização fundiária tendo em vista a função social

da propriedade pública, notadam ente em im óveis da União, denom inados novos

direitos reais sobre bens públicos, sob a perspectiva da função social tam bém para

esses bens. Regula-se pela Lei nº 11.481/2007, MP nº 2.220/2001 e Lei nº 13.465/2017.

Lei nº 11.481
Art. 22-A. A concessão de uso especial para fins de moradia aplica-se às áreas de
propriedade da União, inclusive aos terrenos de marinha e acrescidos, e será
conferida aos possuidores ou ocupantes que preencham os requisitos legais
estabelecidos na Medida Provisória no 2.220, de 4 de setembro de 2001.

A MP 2.220 previu um prazo em 2001, para os interessados que satisfizessem os

requisitos da MP que pudessem ser reconhecidas concessões de uso especial para fins

de m oradia. C om o advento da Lei nº 11.465/2017 alterou-se o prazo estabelecido para

22 de dezem bro de 2016.

MP 2.220/2001, com redação da Lei 13.465/2017


Art. 1º. Aquele que, até 22 de dezembro de 2016, possuiu como seu, por cinco
anos, ininterruptamente e sem oposição, até duzentos e cinquenta metros
quadrados de imóvel público situado em área com características e finalidade
urbanas, e que o utilize para sua moradia ou de sua família, tem o direito à
concessão de uso especial para fins de moradia em relação ao bem objeto da
posse, desde que não seja proprietário ou concessionário, a qualquer
título, de outro imóvel urbano ou rural. (Redação dada pela lei nº 13.465, de
2017)

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A Lei nº 13.465 tam bém estabeleceu um a m odalidade coletiva de concessão de

uso especial para fins de m oradia, nos casos em que a área total não exceder, por

pessoa, o fracionam ento de 250m ² , parâm etro constitucional considerado para a

usucapião.

MP 2.220/2001, com redação da Lei 13.465/2017


Art. 2º Nos imóveis de que trata o art. 1º, com mais de duzentos e cinquenta
metros quadrados, ocupados até 22 de dezembro de 2016, por população de baixa
renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, cuja
área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta
metros quadrados por possuidor, a concessão de uso especial para fins de moradia
será conferida de forma coletiva, desde que os possuidores não sejam
proprietários ou concessionários, a qualquer título, de outro imóvel urbano ou
rural.

C um pre ressaltar que não se trata de usucapião de propriedade pública, a qual é

vedada, m as sim de concessão de uso especial para fins de m oradia, fenôm eno de

regularização fundiária perm itido para terrenos públicos.

O utrossim , a lei dispõe que o instituto não se aplica a im óveis funcionais, afetos

à própria adm inistração pública, bem com o que pode se dar em outro local, para os

casos em que a ocupação se der em : bem de uso com um do povo; destinado a projeto

de urbanização; - de interesse da defesa nacional, da preservação am biental e da

proteção dos ecossistem as naturais; reservado à construção de represas e obras

congêneres; ou situado em via de com unicação.

Sobrelevando-se a finalidade social, a concessão será gratuita, ao hom em ou à

m ulher, independentem ente do estado civil, e não poderá ser reconhecida por m ais de

um a vez ao m esm o concessionário. No m esm o sentido, será possível a acessão da

posse, a qual consiste na som a dos tem pos da posse pelo herdeiro quando já resida no

im óvel em que se coloca a concessão de uso especial para fins de m oradia.

Ainda, é possível que o bem concedido seja objeto de outros direitos reais, com o

a própria garantia para alienação fiduciária, a hipoteca e a superfície, com vistas a

garantir a existência da concessão e conferir-lhe viabilidade econôm ica no

ordenam ento.

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A concessão poderá ser adm inistrativa, através de pedido adm inistrativo, ou

judicial, quando reconhecida judicialm ente se eventualm ente negada a concessão

adm inistrativa, portanto constituída por ato adm inistrativo ou por sentença, sendo

certo que am bos devem ser levados ao RGI para registro e eficácia erga omnes.

3. CONCESSÃO DE DIREIT O REAL DE USO

Nos term os do art. 7º da Lei nº 11.481/2007, esta m odalidade de concessão pode

ocorrer tanto em propriedades públicas quanto particulares.

Art. 7º É instituída a concessão de uso de terrenos públicos ou particulares


remunerada ou gratuita, por tempo certo ou indeterminado, como direito real
resolúvel, para fins específicos de regularização fundiária de interesse social,
urbanização, industrialização, edificação, cultivo da terra, aproveitamento
sustentável das várzeas, preservação das comunidades tradicionais e seus meios
de subsistência ou outras modalidades de interesse social em áreas urbanas.
(Redação dada pela Lei nº 11.481, de 2007)

Pode ser rem unerada ou gratuita, por tem po certo ou indeterm inado, para

exploração de um a gam a de interesses sociais diversificados, diferindo da concessão

de uso especial de m oradia, já que esta é estrita para terrenos da União e vinculada ao

exercício do direito de m oradia.

Ainda, difere do direito real de uso, no qual há utilização do im óvel pela própria

pessoa ou sua fam ília, e eventual fruição vinculada ao seu sustento e subsistência,

apesar de tam bém ser possível entre particulares. A diferença, portanto, reside na

am pla gam a de interesses sociais na concessão de direito real de uso.

No ponto, o concessionário fruirá am plam ente do bem , a m enos que dê

destinação contrária ou diversa da estabelecida no term o de concessão, ressaltando-se

a im portância de atenção aos fins estabelecidos, sob pena de desvirtuar o instituto.

O utrossim , o concessionário se responsabiliza por todos os encargos

adm inistrativos e tributário, bem com o despesas do bem , sendo certo que o direito é

transm issível, inter vivos ou mortis causa, vinculado à finalidade urbana precípua.

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