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TRIBUNAL JUSTIÇA DO RIO DE JANEIRO

DE
24ª Câmara Cível
EMBARGOS DECLARTÓRIOS DE AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº
0000714-57.2012.8.19.0026
1ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE SÃO FIDELIS
EMBARGANTE : BANCO BRADESCO FINANCIAMENTO S.A.
EMBARGADO : CIRLEI GLORIA DIAS ALVES
RELATORA : DESEMBARGADORA REGINA LUCIA PASSOS

DECISÃO

Embargos de Declaração. Alegação de Contradição


e Omissão. Inocorrência. Decisão que enfrentou as
questões trazidas, com a devida fundamentação,
tendo, INCLUSIVE, proferido resultado favorável
a parte. Embargos procrastinatórios. Aplicação de
multa. REJEIÇÃO DOS EMBARGOS.

Trata-se de recurso de embargos de declaração,


oposto em face da decisão de fls. 146/156, que deu parcial
provimento ao recurso de apelação.

A decisão ora embargada restou assim ementada:

Apelação Cível. Relação de Consumo. Contrato de


alienação fiduciária. Financiamento de veículo.
Cobrança de valores a título de “tarifa de cadastro”,
“tarifa de avaliação de bens” e “tarifa de gravame”.
Sentença de parcial procedência. Cobrança que se
mostra indevida. Cláusulas nulas. Concessão do crédito
que já é remunerado pelos juros e encargos
contratuais. Devolução que deve se dar em dobro,
ante a ausência de engano justificável. Mero
aborrecimento que não enseja reparação por dano
moral. Sucumbência recíproca configurada.
Precedentes citados: 0021506-89.2012.8.19.0007 -
APELAÇÃO - DES. PETERSON BARROSO SIMAO -
Julgamento: 14/11/2013 - VIGÉSIMA QUARTA
CAMARA CÂMARA CÍVEL; 0118193-
49.2012.8.19.0001 - APELAÇÃO DES. REGINA LUCIA

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Embargos de Declaração na Apelação Cível nº 0000714-57.2012.8.19.0026 (n)
DESEMBARGADORA REGINA LUCIA PASSOS
PASSOS - Julgamento: 15/01/2014 - VIGÉSIMA
QUARTA CAMARA CÂMARA CÍVEL; 0008143-
53.2012.8.19.0001 - APELAÇÃO DES. JOAQUIM
DOMINGOS DE ALMEIDA NETO - Julgamento:
15/01/2014 - VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL
CONSUMIDOR e 0022654-60.2010.8.19.0087 -
APELAÇÃO DES. REGINA LUCIA PASSOS -
Julgamento: 30/10/2013 - VIGÉSIMA QUARTA
CÂMARA CÍVEL CONSUMIDOR. PROVIMENTO
PARCIAL AOS RECURSOS.

Através dos presentes aclaratórios, alega contradição


quanto à fundamentação da Decisão.

É o relatório. Passa-se a decidir.

Presentes os requisitos objetivos e subjetivos de


admissibilidade do recurso.

Com efeito, são cabíveis os embargos de declaração


quando houver, na sentença ou no acórdão, obscuridade ou
contradição, ou quando for omitido ponto sobre o qual devia
pronunciar-se o juiz ou tribunal. Este o teor do art. 535, incisos I
e II, do CPC.

Sobre essa modalidade de recurso, leciona o professor


Luiz Guilherme Marinoni, in Processo de Conhecimento, Luiz
Guilherme Marinoni, Sergio Cruz Arenhart, 7ª Ed. V. 2, Editora
Revista dos Tribunais, 2008, pag.553:

“É necessário que a tutela jurisdicional seja prestada de


forma completa e clara. Exatamente por isso, ou melhor, com o
objetivo de esclarecer, complementar e aperfeiçoar as
decisões judiciais, existem os embargos de declaração. Esse
recurso na tem a função de viabilizar a revisão ou a anulação
das decisões judiciais, como acontece com os demais recursos.
Sua finalidade é corrigir defeitos – omissão, contradição e
obscuridade – do ato judicial, os quais podem comprometer sua
utilidade.”

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Embargos de Declaração na Apelação Cível nº 0000714-57.2012.8.19.0026 (n)
DESEMBARGADORA REGINA LUCIA PASSOS
No caso dos autos, alega o embargante contradição,
contudo, indica ponto da decisão que lhe foi favorável.
“A D. Desembargadora relatora, apesar de
fundamentar seu posicionamento no sentido da legalidade da
cobrança da tarifa de cadastro, manifestou-se, no dispositivo,
pela procedência da cobrança da referida tarifa, in fine.”

Ora, se a cobrança da tarifa de cadastro é legal, por


conseguinte, a decisão tem que ser no sentido de procedência da
cobrança da tarifa.

Por fim, dentre outras causas, a cultura do recurso é


uma das que mais contribuem para a morosidade judicial e para a
insegurança dela resultante.

Seria interessante que as partes e os advogados, se


conscientizassem da necessidade de agir dentro do processo com
uma dose maior de lealdade e de boa-fé, evitando-se assim, a
interposição de recursos que sabem ser, manifestamente,
improcedentes ou inadmissíveis.

Contudo, o dia-a-dia forense está repleto de exemplos


em que esse ideal não se concretiza.

Nesse contexto, considerando-se que o próprio sistema


processual oferece meios de enfrentar recursos manifestamente
protelatórios, cabe ao Poder Judiciário tomar as medidas cabíveis.

Como se viu pela fundamentação retro, os presentes


embargos de declaração não fizeram referência e nem mostraram
a ocorrência de qualquer das hipóteses legais de cabimento dessa
espécie de recurso.

E isso torna lícito entender que estamos diante de mais


um caso de recurso de embargos de declaração, manifestamente
infundado e meramente procrastinatório.
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Assim, a teor do que determinam o artigo 17, VI e VII,
combinado com o artigo 538, parágrafo único, todos do CPC, a
parte embargante deve ser condenada ao pagamento de multa em
prol da parte embargada, em montante equivalente a 1% do valor
da causa.

Vale ressaltar a jurisprudência do STJ que abriga o


entendimento de que é cabível a multa prevista no parágrafo único
do artigo 538 do CPC, para casos como o presente.

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO COM


CARÁTER INFRINGENTE. INEXISTÊNCIA DE VÍCIOS A SEREM
SANADOS. IMPOSSIBILIDADE DE RECONHECER A
INFRINGÊNCIA. NÍTIDO CARÁTER PROTELATÓRIO.
APLICAÇÃO DO ART. 538, P. ÚN., DO CPC. (...) É caso de aplicar o
art. 538, p. ún., do Código de Processo Civil. 8. Embargos de
declaração rejeitados com aplicação de multa pelo caráter
protelatório na razão de 1% sobre o valor da causa.” (EDcl. no REsp
n.º 949.166/RS, 2ª Turma, STJ, Relator: Ministro Mauro Campbell
Marques, julgado em 04/11/2008)

Precedentes deste Tribunal de Justiça:

0151389-20.2006.8.19.0001 - APELAÇÃO - DES. GILBERTO GUARINO


- Julgamento: 27/06/2012 - DÉCIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, EM AGRAVO INOMINADO, EM
APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGANTE QUE OBJETIVA O SANEAMENTO
DE OMISSÃO E OBSCURIDADE, A MODIFICAÇÃO DO ACÓRDÃO,
BEM COMO PRÉ-QUESTIONAR ARTIGOS DE LEI FEDERAL
REFERENTES AO MERITUM CAUSAE. PROCESSO QUE, EM 1º GRAU
DE JURISDIÇÃO, FOI JULGADO EXTINTO, SEM RESOLUÇÃO DO
MÉRITO, POR FORÇA DO ACOLHIMENTO DA PRELIMINAR DE
ILEGITIMIDADE ATIVA E DA PRELIMINAR DE MÉRITO
(PRESCRIÇÃO TRIENAL). MATÉRIAS DE DIREITO SUFICIENTE E
ADEQUADAMENTE ANALISADAS POR ESTE COLEGIADO.
CASSAÇÃO DA SENTENÇA TERMINATIVA QUE NÃO É
DESFAVORÁVEL À RECORRENTE. APLICAÇÃO DA TEORIA DA
ASSERÇÃO. PRAZO PRESCRICIONAL VINTENÁRIO. PRÉ-
QUESTIONAMENTO. IMPOSSIBILIDADE DE APRECIÁ-LO, SOB
PENA DE SUPRESSÃO DE UMA INSTÂNCIA. INAPLICABILIDADE
DA TEORIA DA CAUSA MADURA. DIREITO LITIGIOSO CUJA
NATUREZA DEMANDA DILAÇÃO PROBATÓRIA, QUE SE ABRE NO
CURSO DA REGULAR TRAMITAÇÃO NO JUÍZO DE 1ª INSTÂNCIA.
MANIFESTA INEXISTÊNCIA DOS VÍCIOS ELENCADOS NO ART.
535, I E II, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. ACLARATÓRIOS

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DESEMBARGADORA REGINA LUCIA PASSOS
NITIDAMENTE PROTELATÓRIOS. PRECEDENTES DO C. SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL E DO E. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO, COM APLICAÇÃO DA
MULTA DO ART. 538 DO DIPLOMA PROCESSUAL CIVIL.

0028557-32.2009.8.19.0210 – APELAÇÃO- DES. GILBERTO GUARINO


- Julgamento: 24/04/2012 - DÉCIMA OITAVA CÂMARA CÍVEL.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, EM AGRAVO INOMINADO, EM
APELAÇÃO CÍVEL. INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO, OBSCURIDADE
OU CONTRADIÇÃO. EMBARGANTE QUE VISA, EXCLUSIVAMENTE,
DE FORMA EXPRESSA, AO PRÉ-QUESTIONAMENTO. CONFIGURA
ABUSO NO EXERCÍCIO DO DIREITO DE AMPLA DEFESA A
INTERPOSIÇÃO DE ACLARATÓRIOS, RECURSO QUE TEM POR
PRESSUPOSTO A EXISTÊNCIA DE VÍCIO DE OBSCURIDADE,
CONTRADIÇÃO OU OMISSÃO (ART. 535, I E II, DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL), COM OBJETIVO NITIDAMENTE
PROTELATÓRIO. DESCABIMENTO DOS DECLARATÓRIOS
EXCLUSIVAMENTE PARA O FIM DE PRÉ-QUESTIONAMENTO.
ARTIGOS 18 E 34, DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, E 186
E 927 DO CÓDIGO CIVIL QUE NÃO FORAM MENCIONADOS NAS
RAZÕES DO APELO. PRECEDENTES DO COLENDO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL E DOS EE. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
E TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.
PROTELAÇÃO NÍTIDA E INACEITÁVEL. DESPROVIMENTO DOS
EMBARGOS, COM APLICAÇÃO DA MULTA DO ART. 538 DO
DIPLOMA PROCESSUAL CIVIL.

Assim, diante do caráter eminentemente


procrastinatório do presente recurso, vez que sequer aponta
alguma contradição, condena-se a parte embargante ao pagamento
de multa em prol da parte embargada, no montante equivalente a
1% do valor da causa, na forma do art. 538, parágrafo único, do
CPC.

Por tais razões e fundamentos, o voto é no sentido


conhecer, mas REJEITAR OS EMBARGOS, condenando-se a
parte embargante ao pagamento de multa equivalente a 1% do
valor da causa.

Rio de Janeiro, 05 novembro de 2013.

DESEMBARGADORA REGINA LUCIA PASSOS


RELATORA

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