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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO DE JANEIRO

24ª Câmara Cível

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM APELAÇÃO CÍVEL Nº


0001139-72.2011.8.19.0203
6ª VARA CÍVEL REGIONAL DE JACAREPAGUÁ
EMBARGANTE : GUIMARÃES BOTELHO ADVOGADOS
ASSOCIADOS S.C.
EMBARGADO : ROBSON ROMÃO DOS SANTOS
RELATORA : DESEMBARGADORA REGINA LUCIA PASSOS

DECISÃO

Embargos de Declaração. Apelação Cível. Alegação de


Omissão. Inocorrência. Julgado que enfrentou as questões
trazidas com a devida fundamentação, tendo, contudo,
proferido resultado diverso daquele pretendido pela parte
embargante. Incidência do verbete sumular nº 52 do
TJRJ. Pretensão de concessão de efeito infringente que
não se admite. Impossibilidade de reexame da matéria já
discutida. Precedentes citados: AgRg no Ag 1.379.154/SP,
Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 24/04/2012, DJe 04/05/2012; REsp
1185070/RS, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 22/09/2010, DJe
27/09/2010; AgRg no REsp 1245446/CE. REJEIÇÃO DOS
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.

Trata-se de recurso de Embargos de Declaração, em


face da R. Decisão de fls. 697/709, que negou provimento ao
recurso de apelação.

A Decisão ora embargada restou assim ementada:

“Apelação Cível. Relação de Consumo. Ação de Obrigação de


Fazer c/c Indenizatória. Promessa de compra e venda de
imóvel. Cessão de direitos. Alegação de cobrança indevida de
comissão de corretagem, taxa de interveniência e honorários
advocatícios. Sentença de parcial procedência. Irresignação
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das partes. Não acolhimento. Preliminar de ilegitimidade ad
causam rejeitada. Solidariedade entre incorporadora e
corretora, vez que ambas participam da cadeia do consumo,
estando coligadas a fim de alcançar o sucesso do
empreendimento. Rejeição da preliminar de cerceamento de
defesa. Depoimento pessoal do autor que não se mostrou
necessário ao convencimento do Juízo. O pagamento da
comissão de corretagem é de responsabilidade dos
vendedores, se não houver disposição legal em contrário ou
acordo diverso entre as partes. Necessária, entretanto, a
prévia e clara informação ao consumidor de sua
responsabilidade pelo pagamento, quando assim for acordado.
Necessidade de abatimento no preço do imóvel. Ausência de
comprovação nesse sentido. Contrato de adesão. Violação do
Dever de Informação e de Transparência. Condenação à
devolução que se mostra correta. Cobrança de taxa de
interveniência prevista no contrato. Ausência de abusividade.
Autor que fez uso dos serviços. Cobrança de honorários
advocatícios que não possui respaldo em contrato firmado
entre as partes. Condenação à devolução escorreita. Pedido de
devolução de valor relativo a saldo devedor que não se acolhe.
Prova pericial que concluiu pela inexistência de taxas abusivas.
Autor que não se desincumbiu do ônus do art. 333, I, do CPC.
Precedentes citados: 0010927-24.2013.8.19.0209 -
APELAÇÃOJDS. DES. LUIZ HENRIQUE MARQUES -
Julgamento: 04/09/2014 - VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA
CÍVEL;0005628-03.2012.8.19.0209 - APELACAO JDS. DES.
LUCIA GLIOCHE - Julgamento: 15/04/2015 - VIGESIMA
QUARTA CAMARA CIVEL CONSUMIDOR.
DESPROVIMENTO DO RECURSO.”

Por meio dos Embargos de Declaração, opostos às fls.


724/727, alega a ocorrência de omissão no Julgado, aduzindo que:
i) ausência de relação contratual direta do autor em relação ao
embargante; ii) ausência de pagamento dos honorários
advocatícios pelo auto; e iii) expressa previsão contratual para o
pagamento dos honorários advocatícios.

É o relatório. Passa-se a decidir.

Com efeito, são cabíveis os embargos de declaração


quando houver, na decisão, obscuridade ou contradição, ou quando
for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou
tribunal. Este é o teor do art. 535, incisos I e II, do CPC.

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Sobre essa modalidade de recurso, leciona o professor
Luiz Guilherme Marinoni, in Processo de Conhecimento, Luiz
Guilherme Marinoni, Sergio Cruz Arenhart, 7ª Ed. V. 2, Editora
Revista dos Tribunais, 2008, pag.553:

“É necessário que a tutela jurisdicional seja prestada de


forma completa e clara. Exatamente por isso, ou melhor, com o
objetivo de esclarecer, complementar e aperfeiçoar as
decisões judiciais, existem os embargos de declaração. Esse
recurso não tem a função de viabilizar a revisão ou a anulação
das decisões judiciais, como acontece com os demais recursos.
Sua finalidade é corrigir defeitos – omissão, contradição e
obscuridade – do ato judicial, os quais podem comprometer sua
utilidade.”

Assim, oportuna a lição de Luiz Orione Neto in


Recursos Cíveis, Ed. Saraiva, 2002, pag.432:

“A omissão é a preterição no comando estatal, indicando


lacuna, deixando a sentença de dizer alguma coisa, ou porque
olvidou-se em dizer, ou descuidou-se em dizer. Importa em
ausência, lacuna de alguma coisa que nela deveria existir,
exatamente a preterição de um dizer. (...) Decisão omissa é,
portanto, aquela que deixou de atender aos requisitos
essenciais previstos nos incisos II e III do art. 458 do Código
de Processo Civil, ou seja, que deixou de analisar as questões
de fato e de direito e que deixou de resolver as questões que
as partes suscitaram ou que devessem ser apreciadas de
ofício.“

Porém, não é qualquer omissão que dá ensejo aos


embargos declaratórios. Faz-se necessário que o Julgador tenha
deixado de se manifestar sobre ponto essencial ao deslinde da
controvérsia, sem necessidade de abordar todo e qualquer ponto
trazido pelo embargante.

Valioso, ainda, o dizer do mestre Orione Neto, na obra


acima referida:
“A melhor exegese desse texto é de que apenas as omissões
relevantes comportam embargos de declaração; não as
totalmente despojadas de alcance prático, vale dizer: nenhum
dever tem o juiz ou tribunal de se pronunciar sobre pormenor
irrelevante. Assim, não há omissão que deva ser suprida,
mediante embargos de declaração, se o acórdão adotou, para
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negar provimento ao recurso, fundamento suficiente em si
mesmo e, por desnecessário, deixou de manifestar-se sobre
questão tornada irrelevante.”

Dessa forma, conclui-se que o Julgador não está


obrigado a mencionar os dispositivos de lei suscitados pelas
partes, de forma expressa, em sua decisão, desde que esteja
suficientemente fundamentado o deslinde da controvérsia.

A propósito, o verbete sumular nº 52 deste Tribunal de


Justiça:
"Inexiste omissão a sanar através de embargos declaratórios,
quando o acórdão não enfrentou todas as questões argüidas
pelas partes, desde que uma delas tenha sido suficiente para o
julgamento do recurso."

Cabe destacar o posicionamento da Primeira Turma do


Superior Tribunal de Justiça:

AgRg no Ag 1.379.154/SP, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES


LIMA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 24/04/2012, DJe
04/05/2012
“Os embargos de declaração têm como objetivo sanear
eventual obscuridade, contradição ou omissão existentes na
decisão recorrida. Não há omissão no acórdão recorrido
quando o Tribunal de origem pronuncia-se de forma clara e
precisa sobre a questão posta nos autos, assentando-se em
fundamentos suficientes para embasar a decisão.”

No caso em comento a Decisão embargada não merece


retoque, inexistindo omissão a ser sanada.

A Decisão embargada menciona expressamente os


temas abordados como omissos no presente recurso

Vejamos:

O mesmo não ocorre quanto ao valor pago a título de


honorários advocatícios, eis que não lograram êxitos os réus
em demonstrar que o autor, efetivamente, tivesse contratado
tal serviço.

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Em que pese ter havido possível mediação da cessão de
direitos por advogados, não há demonstração de que o autor
tivesse contratado ou sido informado que teria que pagar por
tal serviço. Ressaltando-se que o ônus de demonstrar que o
autor teria ciência sobre a contratação, em cumprimento ao
Dever de Informação, seria dos réus. A uma porque suficiente
tecnicamente e, a duas, porque não se poderia exigir do autor
prova de fato negativo, isto é, de que não foi informado.

Ademais, a súmula 335 do TJRJ é expressa ao


mencionar a abusividade da cláusula acerca dos honorários,
vejamos:

Nº. 335 "Revela-se abusiva a prática de se estipular


penalidade exclusivamente ao consumidor, para as hipóteses
de mora ou de inadimplemento contratual, sem igual imposição
ao fornecedor em situações de análogo descumprimento da
avença."

 Por tais razões e fundamentos, o voto é no sentido de


CONHECER, MAS REJEITAR OS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO.

Publique-se e, após, retornem concluso para apreciação


do agravo interno

Rio de Janeiro, 03 de Fevereiro de 2016.

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RELATORA

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