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x. O texto do Levítico conta-nos que Aarão se cala após a morte dos seus dois
filhos (10,3). Por outro lado, no livro de Job é-nos dito que os seus fiéis amigos
ficaram junto a ele durante sete dias sem lhe dirigir uma palavra (2, 13),
respeitando com o silêncio o do amigo em sofrimento. Na dor, diz o texto das
Lamentações (3, 28), o homem deve sentar-se e permanecer em silêncio. O
silêncio deve exprimir-se muitas vezes, como nos episódios bíblicos
mencionados, esse silêncio que transcende a palavra. Quando a dor é grande o
grito permanece sufocado na garganta.
«Como em outros lugares que visitei, onde foram cometidos atos horríveis»,
confiou-me o meu amigo, «também neste lugar desejo exprimir-me com o
silêncio. Rezar e sentir, chorar se Deus me abençoar com o derramar de lágrimas,
sem dizer uma palavra, é isto que devo fazer em Auschwitz».
Escutando este seu propósito, voltou à minha mente a oração de Ana, mãe de
Samuel. «Moviam-se apenas os lábios, mas a voz não se ouvia» (1 Samuel 1, 13).
xx. Salvar um outro não é preservá-lo da morte mas tornar a sua morte uma
passagem, um êxodo para a vida eterna, para o Reino! Jesus não nos salva agora
como nós queremos, mas salva-nos se nós, que não somos nunca nem justos nem
bons, soubermos acolher o perdão que Deus nos oferece, que Jesus nos oferece.
Ambos os malfeitores compreenderam que serem bons e justos é segundo a
vontade de Deus mas que, se isso não aconteceu na própria vida, o que conta no
fim é acolher o seu perdão, dizendo simplesmente: «Jesus, recorda-te de mim
quando chegares ao teu Reino».