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Mesa redonda. Viseu, 9Março2013.

Centro Pastoral

Na sua canção "Imagine", o famoso beatle John Lenon convidava a todos a


sonharem um mundo sem céu nem inferno, de fraternidade e sem religião.
Lenon estava no seu direito de propor esta visão terrena do mundo. Mas os
crentes também têm o direito a apresentar uma ideia menos mágica do céu e
do inferno, uma fraternidade com religião inteligente. E se um ateu não deseja
um religioso fundamentalista à sua volta, um crente também não pretende
conviver com um ateu fanático e intolerante. Em nome de uma ideia falsa da Fé,
muitos crimes se cometeram, mas em nome de outros fanatismos, não
religiosos, muita outra violência se tem gerado.
O Catecismo da Igreja, mostra-nos nos números 27a 49, que o ser humano é
'capaz de Deus', porque Deus o criou com esta abertura (Sto. Agostinho: "Tu
criaste-nos para Ti e o nosso coração está inquieto até que descanse em Ti..."
Mais à frente, acrescenta:"Que eu, Senhor, Te busque invocando-Te e Te
invoque acreditando em Ti, pois já me foste pregado. Invoca-Te, Senhor, a
minha fé, a fé que Tu me deste e inspiraste pela Humanidade do Teu Filho e
pelo ministério do teu pregador" (Confissões I, 1).
Esta capacidade só é possível porque Deus vem primeiramente ao encontro do
ser humano. É o que nos fala o Catecismo no número 50 até ao 141, onde se
expõe a Revelação de Deus, apresentado esta vontade de proximidade de Deus
para com a condição humana.
Mas isto não exclui todo o esforço, que é necessário efetuar, para chegar a abrir
este presente da fé, que é Dom de Deus.
Atualmente, o pêndulo da história tende para a primazia do indivíduo. O que lhe
apraz fazer nada nem ninguém o deve impedir. Mas este direito pode
facilmente transformar-se em ditadura. E o ditador, normalmente, não é um
coletivo, mas um indivíduo. No campo da Fé, também não se pode dar primazia
ao indivíduo, mas à comunidade: foi assim que ela nasceu, é desta forma,
especialmente, que ela cresce e se celebra.
A fé é um ato pessoal e uma resposta livre e comprometida à proposta do Deus
Revelador; por isso, dizemos: "Eu creio". É assim que o Catecismo nos
apresenta, a partir do número 142. No entanto, este 'creio' pessoal é precedido
por um "Nós cremos", comunitário. "Eu creio", como assinala o número 167: "...
é a fé da Igreja, professada pessoalmente por cada crente". Desta forma, não é,
de todo, correto afirmar: "Eu cá tenho a minha fé!" A fé não é algo que me
pertence, que eu posso dispor ou manipular. Ela é herança, e se queremos ser
fiéis a essa herança devemos cultivar a 'obediência da fé', como nos recorda o
Catecismo, no número 144, recordando os grandes testemunhos bíblicos: de
Abraão a Maria.
A segunda seção do Catecismo, expõe a Profissão da Fé Cristã: clarifica o
Principio Trinitário desta fé - em Deus Pai, em Jesus Cristo e no Espírito Santo.
Uma coisa deve ficar clara na nossa mente: Deus revela-Se, o ser humano abre-
se ou não a esta revelação, esforça-se por captar esta evidência obscura; apesar
disto, o que podemos apreender de Deus é sempre uma 'centelha'. Como
afirmava um teólogo alemão, Dietrich Bonhoeffer: "Um Deus que existe, não
existe!", caso contrário, seria um ídolo dos homens e facilmente manipulável
por eles. O que existe é a incapacidade do Homem de abarcar a grandeza
infinita de Deus. Num jogo de contrários, no seu livro Teologia Mística, Dionísio
Areopagita diz-nos: "Para sermos admitidos a esta Luminosa e esplendidíssima
Escuridão,... Aquele que transcende toda a vista e toda a ciência, é preciso que
oremos".

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