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1 INTRODUÇÃO
A partir dos anos 70, a assistência à saúde vem incorporando diversos avanços científicos e as
instituições hospitalares estão se transformando, cada vez mais, em centros de aplicação de
inovações tecnológicas, atendendo indivíduos com patologias que requerem terapêutica altamente
agressiva e invasiva, aumentando a sobrevida e, às vezes, a qualidade de vida do paciente
hospitalizado.
A despeito do avanço considerável na assistência hospitalar, possibilitada pelo advento da
indústria de produtos médicos•, a utilização desses dispositivos trouxe, também, sérios danos para
o paciente usuário desses materiais, suscitando questões teórico-práticas de segurança e
efetividade dos processos e dos riscos de eventos adversos relacionados com a qualidade de sua
utilização e manuseio.1-9
É de conhecimento de todo o mundo e consenso entre autores que as infecções relacionadas a
assistência à saúde♦(IRAS) constituem a complicação mais comum entre os pacientes
hospitalizados. Estas são consideradas grave problema de saúde pública, pois estão associadas a
um aumento da morbi-mortalidade desses pacientes, além de outros malefícios como aumento do
tempo de hospitalização, do uso de antimicrobianos e dos custos ligados à internação. É
imperioso, portanto, reduzir o risco das IRAS através da identificação de fatores de risco, bem
como a implantação de medidas de controle. Sabe-se que os micro-organismos estão em
crescente emergência e constituem um verdadeiro desafio para profissionais de saúde e órgãos
reguladores, a exemplo do Cryptosporidium parvum, Helicobacter pylory, Escherichia coli
0157:H7, coronarírus, Mycobacterium tuberculosis multidrogra-resistente e as micobactérias não
tuberculosas, vírus da AIDS, vírus exóticos, agente responsável pela doença de Creutzfeldt-
Jacob∗ e, atualmente, da Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC), a mais recente bactéria
resistente em unidades hospitalares10-13.
•
Neste trabalho, vamos utilizar o termo produto médico como sinônimo de dispositivo, equipamento, material e
artigo médico.
♦
O termo Infecção Hospitalar está sendo substituído por Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS).
∗
Doença de Creutzfeldt-Jacob é causada por um príon, que é um fragmento protéico altamente resistente a maioria
dos métodos de descontaminação e de reprocessamento.9
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Estudos têm documentado que as IRAS podem ser adquiridas, também, em decorrência de
práticas inadequadas de desinfecção e esterilização de artigos usados em cuidados hospitalares
assistenciais. Tais estudos enfatizam a necessidade de um adequado reprocessamento para artigos
hospitalares.9,14-22
Milhares de diferentes produtos médicos existem em todo o mundo e são usados para detectar,
diagnosticar e tratar condições médicas. Esses produtos estão disponíveis em ambas versões
reusáveis e descartáveis.23 Os artigos reusáveis, ou de uso múltiplo, são bens duráveis e
designados para resistir aos processos de descontaminação. Para a reutilização segura desses
materiais faz-se necessária a ação do reprocessamento, que é o processo que inclui limpeza, teste
de avaliação de desempenho, desinfecção ou esterilização, a ser aplicado ao produto médico, que
garanta a segurança na sua utilização, incluindo controle de qualidade em todas suas etapas.5,9,14-
16,24-29
14
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♣
Apesar do termo “descartável” ser considerado atualmente arcaico, dando-se preferência ao termo “uso único”,
utiliza-se neste estudo ambos os termos com o mesmo significado.
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proibição do reuso de produtos de uso único foi a menos favorável pelos líderes. Os argumentos
utilizados para refutarem essa opção foram a ausência de estudos sólidos que relacionam
infecção a esta prática, o aumento de custos institucionais relacionados ao descarte, bem como
considerações ambientais.53-54
Na Europa, a regulação dos dispositivos médicos de uso único iniciou-se na metade dos anos
1990, vinte e cinco anos após à regulação norte-americana e à regulação da indústria
farmacológica européia.55-56 O reprocessamento de artigos descartáveis na União Européia está
proibido por lei desde 2005, mas, efetivamente, o único país que não reutiliza artigos de uso
único é a França. Na Espanha, um inquérito realizado em 42 hospitais de Madri, no ano de 2005,
revelou que 82,4% dos hospitais desse estudo reprocessavam dispositivos de uso único sem
nenhuma normativa federal que avaliasse essa prática no país. A Inglaterra permite o reuso de
artigos descartáveis somente em situações controladas devido à grande preocupação com os
príons. Na Bélgica, Dinamarca, Alemanha, Holanda, Eslováquia e Suécia os produtos médicos de
uso único são reprocessados segundo rígidos padrões de qualidade. Na Grécia, Estônia, Chipre,
Letônia, Malta e Polônia, não há regulação sobre essas práticas.34,57-58 Na Austrália, o
reprocessamento é semelhante às condições dos EUA.39,59,60 Na Ásia, 95% dos serviços de saúde
reprocessam artigos de uso único.61 Na África, América Central e América do Sul, as práticas de
reprocessamento de artigos de uso único são prevalentes, por falta de recursos médicos e
financeiros.31,46,51
Algumas associações internacionais de grande influência na área da saúde têm se posicionado a
respeito da prática do reprocessamento de artigos de uso único. Nos anos 80, o Food and Drug
Admistration, o Center for Deasese Control and Prevention (CDC) e o The Joint Commission on
Accreditation of Healthcare Organizations (JCAHO) tinham posições contrárias ao reuso de
produtos de uso único. Mas, atualmente, apesar dessas entidades não encorajarem o reuso, estas
são favoráveis à esta prática com publicações enfatizando políticas institucionais exclusivas para
esses procedimentos e advertindo sobre a necessidade de maiores pesquisas acerca da segurança e
efetividade dos dispositivos reusados.37 A posição da Associação Americana de Hospitais é
similar às das entidades, acima citadas, e considera que cada instituição hospitalar deve elaborar
uma conduta-guia com questões relativas à sua própria realidade, seus recursos disponíveis e
conseqüências legais para casos de falhas do reprocessamento de artigos descartáveis. A
Associação Americana de Enfermeiros de Centro Cirúrgico (Association of Operating Room
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Nurses – AORN) publicou uma série de três artigos sobre o reprocessamento de artigos de uso
único, abordando temas sobre decisão gerencial para avaliação dessa atividade, riscos associados
à prática do reuso e o papel das agências governamentais reguladoras. A Associação Americana
de Fabricantes da Indústria da Saúde (Health Industry Manufactures Association – HIMA), que
representa mais de 700 indústrias de artefatos e artigos voltados para a saúde, opõe-se à
reutilização de artigos descartáveis. A Sociedade Americana de Enfermeiros em
Gastroenterologia e Associados recomenda a não reutilização de artigos críticos• etiquetados pelo
fabricante como de uso único. No Canadá, o Canada’s Device Technology Companies advoga
que produtos médicos de uso único não devem ser reusados.49 Na Austrália, a Confederação de
Enfermeiros de Centro Cirúrgico, a Federação de Aconselhamento em Esterilização e a
Associação de Indústrias Médicas, também, são contrárias ao reuso de produtos de uso único.31,62
Na Colômbia, a Associação Nacional da Indústria, publicou um documento técnico
posicionando-se de forma contrária à prática de reuso de produtos descartáveis, isentando-se de
eventuais conseqüências advindas do reuso de um produto etiquetado para uso único.60
No Brasil, o reprocessamento desses artigos é uma realidade nos serviços de saúde e,
infelizmente, há poucos dados nacionais sobre “quais/quantas” instituições, efetivamente,
praticam o reuso e com qual intensidade. Sabe-se que os hospitais brasileiros reprocessam artigos
de uso único
nas mais variadas situações, devido às grandes diferenças sócio-econômicas e culturais existentes
entre as diferentes regiões do país, sem fiscalização, sem padronização dos produtos e processos
e sem controle dos resultados finais.64
Uma pesquisa sobre artigos de uso único no “estado” de São Paulo, em 1997, revelou que 38
hospitais consultados (19 públicos e 19 privados) relatavam que reprocessavam algum tipo de
artigo de uso único. Da lista de 631 itens, os hospitais privados reprocessavam 45,2%, os
hospitais públicos de ensino 32,3% e os hospitais públicos assistenciais 22,5%. Os itens mais
freqüentemente reprocessados eram os de videolaparoscopia (19,4%) e os de hemodinâmica
(15%).65
•
Artigos críticos: são artigos destinados à penetração através da pele e mucosas adjacentes, tecidos subepiteliais e
sistema vascular, bem como todos os tecidos conectados diretamente com este sistema. Apresentam alto risco de
infecção, se contaminados com qualquer microorganismo, incluindo esporos bacterianos, e, portanto, requerem
esterilização para satisfazer os objetivos a que se propõem. Ex: agulhas; cateteres cardíacos; implantes.63.
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Num estudo da Universidade Federal de Minas Gerais, entre 23 hospitais desse estado, 21
reusavam materiais de uso único.66 Um inquérito nacional em instituições afiliadas, a Sociedade
Brasileira de Hemodinâmica e Intervenção Cardiológica, revelou que 97% dos hospitais
participantes deste estudo reprocessavam produtos médicos de uso único e desses, apenas 22%
utilizavam protocolos padronizados para esta atividade.67
Os artigos de uso único são objeto de preocupação, também, do Ministério da Saúde (MS), que
desde 1984, com a Reunião de Peritos vem discutindo e tentando normalizar o reuso desses
produtos no país.68 Atualmente, o marco regulatório vigente sobre reprocessamento de produtos
médicos data de 2006 e consta de três normas: a RDC N˚ 156, que dispõe sobre o registro,
rotulagem e reprocessamento de produtos médicos; a RE N˚ 2.605, que fornece uma lista de
produtos proibidos de reprocessamento no país; e a RE N˚ 2.606, que define as diretrizes para
elaboração, validação e implantação de protocolos de reprocessamento de produtos médicos.69-71
Essas regulamentações redefiniram o antigo conceito de artigo ou material hospitalar,
renominando-o como produto médico● e classificando-os em dois grupos: produtos com
reprocessamento proibido (lista negativa composta por 66 produtos) e produtos passíveis de
reprocessamento (uma equivalência à tradicional categorização dos artigos hospitalares em
reusáveis ou de uso único/descartável).
A despeito do certo avanço normativo da legislação brasileira sobre reprocessamento de produtos
médicos, várias regulamentações definidas na RDC N˚ 156 e REs N˚ 2.605 e 2606, de 2006,
apresentam-se de forma mal formulada, imprecisa e com conteúdo vago, dando margens a
diversas interpretações por parte dos serviços de saúde, empresas terceirizadoras de
reprocessamento e fabricantes ou importadores de produtos médicos.
Apesar de haver mais de cinco décadas de utilização de artigos de uso único no mundo e também
da controvérsia na literatura sobre esta prática, ainda não há estudos que comprovem a segurança
e eficácia do reuso para todos esses artigos, realizado, muitas vezes, de forma indiscriminada,
como vista em alguns países, a exemplo do Brasil. Adicionalmente, a literatura registra vários
surtos de infecção associados a produtos considerados de uso múltiplo ou reusáveis4,7,17,19,20-
21,38,50,72
, realçando a problemática do reprocessamento de produtos médicos de forma geral,
●
“Produto médico” é produto para a saúde, tal como equipamento, aparelho, material, artigo ou sistema de uso ou
aplicação médica, odontológica ou laboratorial, destinado à prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação ou
anticoncepção e que não utiliza meio farmacológico, imunológico ou metabólico para realizar sua principal função
em seres humanos, podendo entretanto ser auxiliado em suas funções por tais meios.70
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♣
De 2000 a 2008, foram notificados 2128 casos de infecção por MCR, distribuídos predominantemente em hospitais
privados do país.
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Os estudos publicados sobre reuso e reprocessamento de produtos de uso único são excassos,
sendo considerados estatisticamente insignificantes e sem seguimento dos pacientes usuários a
longo prazo, sinalizando a necessidade de estudos clínicos mais abrangentes.38,75 Esses estudos
revelam que o reuso de produtos de uso único, a exemplo de cateteres de angioplastia coronariana
percutânea transluminal, cateteres de eletrofisiologia, transdutores, instrumentos laparoscópicos,
dentre outros, também considerados de uso único, não possuem, evidências de efeitos adversos
relacionados com a reutilização desses dispositivos ou ainda, que esta prática tenha maior risco
do que o uso de produtos novos.32,37-38,42,44,81-86 Entretanto, o risco potencial, associado ao reuso
de produtos de uso único, não se limita apenas à infecção de pacientes. Há riscos para staffs e
ambientes, acrescido de importantes questões legais, éticas e econômicas. Adicionalmente, as
questões de controle de infecção e dos procedimentos de reprocessamento, em geral, são
aplicadas também ao reuso de produtos de uso múltiplo.81-83
O maior incentivo para a adoção do reuso de artigos descartáveis é o econômico, que exerce,
talvez, a maior influência na adoção desta prática, uma vez que tais materiais são caros,
dificultando sua sustentação no sistema de saúde, seja ele público ou privado.1,3,34-35,42,44,48-
49,52,55,60,87-92
Dispositivos de uso único que são reprocessados custam aproximadamente a metade do valor dos
dispositivos novos, podendo esse custo ser menor do que 10% do que o do produto original, se o
reprocessamento for realizado dentro da própria instituição.38 Alguns autores,88 ao compararem
custos da aquisição de fórceps de biópsia descartável versus o reprocessamento do mesmo
produto reusável, durante dois anos, numa unidade de gastroenterologia, concluiram que o custo
de aquisição e reprocessamento de fórceps reusáveis foi 25% menor do que o custo de aquisição
deste produto descartável. Neste sentido, na visão de mercado favorável ao reprocessamento, a
análise do custo do reuso deveria ser a primeira etapa do processo decisório sobre a reutilização
de qualquer artigo, entretanto, a carência de métodos específicos e a complexidade da
mensuração dos custos do reprocessamento de artigos são fatores que limitam esta
atividade.74,93,94
Autoras64 ratificam essa reflexão, referindo que sempre existe a busca da economia hospitalar via
reuso do material ou, em outra análise, nos hospitais públicos, o reuso constitui, muitas vezes, a
única forma de promover o atendimento, devido aos recursos exíguos que impedem a aquisição
do produto. Segundo essas autoras, aspectos ecológicos, também, podem favorecer o reuso de
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descartáveis, uma vez que não é possível eliminar tudo o que é descartável, já que a crescente
quantidade de lixo gerado pelos hospitais com essa prática é relevante, não só no sentido do
impacto de volume de resíduos no meio ambiente, mas, também, devido ao risco potencial de
infecção vinculado a estes. Adicionalmente, o meio ambiente é de outro modo agredido com os
germicidas químicos líquidos, tradicionalmente utilizados nos processos químicos de desinfecção
de artigos, seja de uso único ou múltiplo, que são descartados em última instância, nos lençóis de
água, contribuindo para a contaminação da água e agravando/potenciando a questão da finitude
deste recurso natural. É necessário que haja um consenso entre gerentes e profissionais de saúde,
fabricantes de produtos médicos e usuários, em torno de um equilíbrio entre o incremento no
gasto sanitário resultante do descarte dos produtos ditos de uso único e a insegurança no reuso
desses produtos quando garantias não são ratificadas.59
Autores que são favoráveis ao reprocessamento e reuso de produtos descartáveis afirmam que,
com a tecnologia e conhecimentos científicos disponíveis atualmente, é possível permitir o
reprocessamento de produtos ditos descartáveis usando procedimentos validados e certificados
que assegurem a completa funcionalidade e integridade desses produtos.24,25,41,58,74,90 A pré-
condição indispensável para o reprocessamento é a adequabilidade das características dos
materiais. Todas as especificações geométricas dos produtos devem ser capazes de resistir à
demanda do reprocessamento, devendo se manter funcionais.
Nessa linha de consideração, o reprocessamento de produtos de uso único requer as seguintes
condições: a) nível de segurança equivalente ao status de um produto novo, o que significa que os
pacientes usuários de produtos descartáveis reprocessados devem ter o mesmo risco dos pacientes
usuários de produtos novos; b) o reprocessamento deve ser baseado em uma minuciosa avaliação
e análise de risco, além de que todas as medidas de segurança e de qualidade devem ser descritas;
c) o reprocessamento de produtos médicos requer um sistema de gerenciamento de qualidade,
que determine e documente responsabilidades em todas as fases das atividades, além de o
processo ser validado segundo métodos reconhecidos de ciência e tecnologia, considerando a
influência negativa do reprocessamento nas propriedades do material e na segurança técnica e
funcional.24-25,41,58,74,90
Adicionalmente, o reprocessamento de produtos médicos descartáveis requer o estabelecimento
de um sistema de gerenciamento de qualidade com os seguintes passos: formulação de objetivos;
definição de responsabilidades; avaliação e classificação dos produtos médicos, segundo seu
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no que se refere ao número de enxágües, para remoção dos resíduos químicos empregados,
possibilitando a pureza suficiente para a isenção de endotoxinas. Essa realidade distancia-se da
maioria das práticas de reprocessamento das Centrais de Material e Esterilização (CME)
brasileiras.
Autoras84 revisaram 21 publicações sobre reuso de cateteres cardíacos, a fim de descreverem os
efeitos do reprocessamento sobre esses materiais e encontraram unanimidade em relação ao
sistema de suprimento de água como principal fonte de micro-organismos e pirogênios,
ratificando a necessidade do uso de água apirogênica na redução dos riscos para pacientes
submetidos à cateterização cardíaca com cateteres reusados. Em outro estudo sobre a avaliação
da eficácia da limpeza e esterilização em cateteres de angiografia cardiovascular, há o alerta para
a importância do enxágüe com água tratada por osmose reversa esterilizada, mostrando, nesta
condição, a ausência de endotoxinas nos cateteres pesquisados.77
Um estudo sobre a avaliação das dificuldades na limpeza de artigos de uso único resultou na
elaboração de nove critérios para subsidiar a decisão quanto à adoção de protocolos de reuso para
esses materiais: ser desmontável; ser transparente; possuir estrutura interna revestida por capa
isolante protetora da entrada de sangue e outros fluídos; possuir estrutura interna sem risco de
acúmulo de carga orgânica; possuir estrutura que permita entrada e saída de água; uso de
artefatos para auxiliar na limpeza interna; limpeza similar ao artigo considerado de uso
permanente; o grau de risco de contaminação, segundo Spaulding; e preço.96
Algumas tecnologias de esterilização, a baixa temperatura, a exemplo da esterilização a partir de
óxido de etileno, plasma de peróxido de hidrogênio e vapor a baixa temperatura de formaldeído
têm incentivado o reuso de materiais descartáveis no mundo, uma vez que, por serem artigos
termo-sensíveis, requerem esse tipo de esterilização. Um estudo experimental de avaliação da
esterilidade pelo óxido de etileno, em acessórios de uso único, utilizados em cirurgia vídeo-
laparoscópica, comprovou a eficácia desse método de esterilização através do estabelecimento de
um protocolo teste para essa categoria de materiais.32
Assim, ao considerar o reprocessamento e o reuso de um produto descartável, faz-se necessário
conhecer os possíveis riscos ligados a essa prática, avaliar o impacto no paciente versus a
economia potencial dos custos institucionais e relevar que determinados riscos podem não ser
detectáveis e/ou preveníveis. Ademais, os eventos adversos relacionados a esta prática são
frequentemente sub-informados, em grande parte, pela inadequação dos sistemas de vigilância,
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pela dificuldade para determinar a real causa desses eventos, além das questões de
responsabilidade ética que envolvem esses procedimentos.38,44,95,99
Atualmente, não existem dados conclusivos acerca dos eventos adversos relacionados com
reprocessamento de produtos médicos.24-25,38,41,44,58,82 Entretanto, dentre os possíveis riscos
associados ao reuso de produtos cita-se os seguintes1,4,35,39,52,58,100: infecção, contaminação do
material com endotoxinas, biofilmes∗, presença de resíduos tóxicos dos produtos usados para a
limpeza e desinfecção ou esterilização, bioimcompatibilidade com proteínas dos últimos usuários
que eventualmente permaneceram no material, inconfiabilidade funcional, ausência de
integridade física e de barreiras de proteção, entre outros.
O debate ético acerca do reuso de produtos de uso único centra-se na responsabilidade dos líderes
que se envolvem nessa prática como provedores de serviços de saúde, fabricantes, usuários e o
Estado. Os princípios éticos fundamentais associados com o reuso e reprocessamento de produtos
descartáveis são beneficência, autonomia e justiça distributiva. Beneficência implica que o
benefício do paciente deve ser maximizado e, ao mesmo tempo, o risco minimizado. Idealmente,
a decisão ética acerca do reuso de produtos descartáveis deveria basear-se num estudo controlado
e randomizado no qual os produtos novos são comparados com os reusados, combinados com
custos bastante favoráveis para justificar o reuso. Em relação ao princípio da autonomia, o reuso
pode ser limitado por meio da aceitação ou não do paciente.37,60,74
Produtos médicos que possuem cavidades internas, partes móveis, múltiplos lumens, cabos e
condutores elétricos constituem desafios potenciais para o reprocessamento e reuso de materiais.
Nesse sentido, é essencial a acessibilidade dos protocolos elaborados e seguidos pelos fabricantes
de artigos de uso único, para definirem que o artigo é realmente de uso único, e, portanto, não
reprocessável, uma vez que a prática assistencial hospitalar convive com modelos idênticos de
artigos permanentes e de uso único, a exemplo do bisturi elétrico, que apresenta, nas suas duas
versões, dificuldades operacionais de limpeza, devido aos fato de não serem desmontáveis e
apresentarem estrutura interna permeável a sangue e a outros fluídos do corpo.
Alguns produtos descartáveis são realmente complexos, contendo lumens, dobradiças e/ou partes
miniaturadas móveis, enquanto outros são muito simples e parecem não diferirem dos seus
equivalentes reusáveis. Determinados artigos considerados como de uso permanente não podem
∗
Biofilmes são “colônias organizadas de células de micro-organismos, anexadas em uma matriz auto-excretora,
composta principalmente de polissacárides que facilitam a adesão superficial” 100.
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um produto médico não necessariamente significa que o mesmo não pode ser reprocessado e, na
realidade, os fabricantes desses dispositivos não têm idealizado uma metodologia validada para
esse reprocessamento que aporte garantia suficiente para a reutilização segura desses produtos,
razão pela qual se rotula como uso único.34 Ainda em relação ao rótulo de uso único, essa
classificação não atribui expressamente um significado ao produto e a informação de uso único é
confusa ao não esclarecer sobre a proibição absoluta de reutilização, se é possível reutilizar num
mesmo paciente e quantas vezes.102
Sabe-se que, devido às exigências adicionais de validação e dos ensaios de engenharia, a
liberação pelo FDA norte americano para comercialização dos produtos médicos reusáveis requer
mais dados, consumindo assim, mais tempo do que para os produtos de uso único, levantando
questionamentos se este motivo estimularia particularmente o rótulo de uso único pelos
fabricantes.6
Ao analisar produtos reusáveis, Fireman5 afirma que o número de exposições aos quais esses
dispositivos podem ser sujeitados sem perdas de suas habilidades funcionais irá determinar sua
vida útil, inovando na discussão de vida útil para artigos reusáveis, discussão esta
tradicionalmente aplicada aos produtos de uso único. O grupo de aconselhamento científico sobre
reprocessamento de produtos médicos do Canadá, ao analisar os desafios que os serviços de
saúde enfrentam na implementação das práticas de reuso de materiais hospitalares, sugeriu
identificar os dispositivos médicos de uso múltiplo, que não podem ser seguramente limpos,
tratando-os como produtos de uso único, trazendo, também, a questão da avaliação da
reutilização de produtos reusáveis, questão esta tradicionalmente focalizada para produtos
descartáveis.75
Neste sentido, a diferenciação entre produtos médicos reusáveis e de uso único é
contraproducente, uma vez que essa distinção provoca, a depender do produto, uma super-
estimação ou sub-estimação da necessária avaliação de risco para o reprocessamento e,
independente do tipo de produto médico submetido ao reprocessamento, torna-se imprescindível
uma análise de custo e de segurança para o paciente usuário desses dispositivos.58
O FDA especifica que a instituição ou profissionais que reusam produtos de uso único devem
demonstrar que o artigo pode ser adequadamente limpo e esterilizado, que as características
físicas ou a qualidade do artigo não foi afetada e permanece segura e efetiva para o intencionado
uso clínico. Esse critério deveria, também, ser aplicado igualmente para instrumentos reusáveis
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que são reprocessados nos hospitais. Assim, se um produto considerado como reusável é reusado
ou descartado, dependerá do processo de inspeção, etapa anterior à reesterilização. “Se você não
pode limpar, você não pode esterilizar”, princípio norteador que deveria ser aplicado tanto para
instrumentos reusáveis, quanto para os de uso único. “O produto descartável ou reusável tem uma
vida funcional o qual não pode ser precisamente determinada.”101
Em relação às considerações legais, ainda não existe, no Brasil, legislação específica que impute
ao promotor do reuso qualquer responsabilidade criminal, situação esta freqüente nos Estados
Unidos. Nesta linha de considerações, de quem é a responsabilidade legal pela qualidade dos
materiais reprocessados, sejam de uso único ou múltiplo? As instituições hospitalares ou as
empresas reprocessadoras? Sabe-se que a maioria das empresas reprocessadoras apenas
esterilizam o material, cuja limpeza é realizada nas instituições hospitalares. Como dividir essas
responsabilidades? Como uma empresa terceirizada reprocessadora pode assegurar a esterilização
se não realiza ou desconhece como foi realizado o processo de limpeza e enxágüe do artigo a ser
esterilizado?
Adicionalmente, o paciente não é consultado ou orientado sobre quais produtos/dispositivos, se
descartáveis ou não, farão parte do seu arsenal terapêutico, durante sua hospitalização.4,64. Na
prática, ele ignora a problemática que envolve o reuso de artigos e as conseqüências
subsequentes. Ainda para estas autoras, num reuso de 10 vezes, por exemplo, qual o critério a ser
adotado, pelas instituições, para definir quem será o primeiro e o décimo paciente a receber o
mesmo artigo? Como as instituições hospitalares estabelecem a cobrança de um artigo utilizado
várias vezes? Essas são questões sérias e ainda não definidas no país.
Outra variável relacionada ao reprocessamento de artigos de uso único diz respeito ao número de
vezes que o item é utilizado. Quantas vezes se deve utilizar um cateter de hemodinâmica ou outro
artigo descartável? Não existem consensos e nem recomendações na literatura sobre esse assunto
especifico24,41,58,74,104 e a determinação do número de reusos deve ser individual para cada
produto, segundo sua função e condição de uso clínico.74 Um estudo, realizado em São Paulo,
revelou que, em 44,8% dos hospitais paulistas estudados, os cateteres de hemodinâmica eram
reprocessados acima de sete vezes e que, em 41,2% destes, não havia controle do número de
reprocessamento.65
Os serviços de saúde que reprocessam artigos de uso único, no Canadá, padronizaram algumas
normas para determinados artigos. Dentre estas estão os números máximos de reprocessamento,
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tais como: 1 a 2 utilizações para itens como fórceps de biópsia; 3 a 5 reutilizações para
esfincterótomos; reprocessamento permitido para acessórios de laparoscopias, porém, com a
utilização da técnica de retrolavagem para itens não-abertos; reprocessamento permitido para
cateteres diagnósticos cardíacos, entretanto, com a utilização de enxágüe com água de osmose
reversa; proibição do reprocessamento de cateteres cardíacos com balão, por não serem passíveis
do processo de limpeza. Um programa de reuso de artigos descartáveis, nas instituições de saúde,
deve contemplar vários ítens estruturais e organizacionais, como os que se seguem: treinamento
dos staffs e determinação de suas competências; qualidade da água para o enxágüe dos materiais
(ausência de endotoxinas); equipamentos adequados de desinfecção e/ou esterilização;
estabelecimento do número máximo de reuso para cada artigo; manutenção da integridade da
prótese; segurança do profissional de saúde; validação dos processos de limpeza e esterilização.
Conclui-se que comitês de reuso de produtos médicos são imprescindíveis para a necessária
expertise em biomecânica, controle de infecção, gerenciamento de materiais e esterilização, no
sentido de avaliar a segurança do reuso individual de cada produto médico.23,61
O consenso entre autores, que tratam do reuso de produtos médicos descartáveis ou reusáveis, é
de que o reprocessamento desses materiais deve garantir esterilidade, funcionalidade e isenção de
resíduos, além de assegurar que o reuso não comprometa a qualidade do cuidado assistencial.
Faz-se importante, também, avaliar os fatores que impactam as práticas de reuso como validação
da esterilização, mudanças físico-funcionais dos produtos reprocessados, biocompatibilidade e
análise de custo.
Diante do exposto, como lidar com a incerteza científica associada ao reprocessamento de um
artigo, seja de uso único ou reprocessável, sem as condições básicas ditas pela literatura que
possam garantir a segurança dos processos? Como determinar o risco de um produto médico
reprocessado e reusado? Como as instituições hospitalares brasileiras podem operacionalizar as
recomendações da legislação em vigor? Que estratégias políticas devem ser adotadas pelos
gerentes de hospitais para a realização segura do reprocessamento de produtos médicos, sejam
descartáveis ou reusáveis? Como validar os protocolos de reprocessamento nas Centrais de
Materiais e Esterilização das unidades de saúde de um país com tanta diversidade e
especificidades como o nosso, sem uma diretriz que contemple estas diferenças? Como
monitorar/fiscalizar/controlar esses processos nas inúmeras unidades de saúde do país? Os
profissionais da vigilância sanitária, que devem fiscalizar as normativas da área da saúde, têm
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♠
Regulação como a intervenção de um terceiro, neste caso, o Estado, entre a demanda do usuário e a prestação
efetiva de cuidados de saúde pelos serviços de saúde173.
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Com base nas colocações anteriores, foi traçado um panorama resumido da situação que envolve
a reutilização dos artigos hospitalares e o desafio das unidades de saúde brasileiras em
operacionalizarem essas atividades. Neste cenário, considera-se que um estudo sobre o
reprocessamento de produtos médicos, com ênfase na segurança sanitária e na proteção da saúde
coletiva, não apenas é bastante oportuno, atual e relevante - haja vista a existência de uma
legislação federal que não consegue alcançar a realidade das práticas de reprocessamento de
produtos médicos realizadas nas unidades de saúde brasileiras - urgindo, desta forma, outras
proposições políticas de reprocessamento de produtos médicos para o país, mas, também, este
estudo resgata a problemática do trabalho da Vigilância Sanitária na proteção da saúde coletiva,
ratificando a amplitude do seu escopo de ação, que para a sua concretização, requer não apenas
múltiplos saberes, mas articulações complexas de natureza econômica, jurídico-política, ética,
técnica, assemelhando-se, nesse sentido, ao objeto de estudo desta pesquisa.
Este estudo propõe, portanto, contribuir, de alguma forma, com as lacunas de questionamento
acerca dessa temática, subsidiando as autoridades de saúde do estado da Bahia e do país,
particularmente a ANVISA, nas futuras normatizações sobre produtos médicos.
Nesse sentido, esta investigação tem como objetivo geral o de analisar o reprocessamento de
produtos médicos em hospitais de Salvador, tendo em vista a segurança sanitária e a proteção da
saúde da população. Como objetivos específicos pretende-se analisar as condições técnicas do
reprocessamento de produtos médicos em hospitais de Salvador, identificando e analisands os
limites, dificuldades e possibilidades da organização hospitalar no gerenciamento do
reprocessamento de produtos médicos.
Parte-se do pressuposto inicial de que o reprocessamento de produtos médicos, em hospitais
brasileiros, está condicionado a um sistema de estrutura organo-funcional que atende aos
requisitos de segurança intrínsecos a essa atividade, podendo, na ausência desse sistema,
potencializar riscos para a saúde da população usuária.
30
31
2 REFERENCIAL TEÓRICO
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35
sobre riscos ao público foi incorporada nessas áreas. O cálculo dos riscos consiste da
identificação dos efeitos adversos potenciais do fenômeno em análise, da estimativa de sua
probabilidade e da magnitude de seus efeitos. A percepção do risco se volta para a relação entre o
público e os riscos tecnológicos, estando associado ao estudo da aceitação de determinadas
tecnologias e à perspectiva de seu controle preventivo, buscando, através da educação, influir nos
comportamentos deletérios para a saúde do homem e do meio ambiente. A gestão de riscos
compreende quatro estratégias: os seguros, as leis de responsabilidade por danos, a intervenção
governamental direta e a auto-regulação.108
A avaliação de risco como atividade organizada, a nível federal, nos EUA, iniciou-se na década
dos anos 70. Em 1983, o Food and Drug Administration (FDA) solicitou um estudo à Academia
Nacional de Ciências (National Research Council), que resultou numa grande obra sobre riscos,
intitulada Risk Assessement in the Government: Managing the Process, e internacionalmente
conhecido como Red Book, que estruturou um modelo de avaliação de risco em diversas áreas
naquele país, constituindo, ainda hoje, um marco referencial nesse campo. A sistematização da
análise de risco desse estudo resultou numa clara separação entre avaliação de risco (risk
assessment) e gerenciamento de risco (risk management). Enquanto a avaliação de risco é uma
atividade de natureza mais científica, ligada à pesquisa, à estatística e à epidemiologia,
procurando definir a relação causa-efeito dos eventos, o gerenciamento de risco é uma ação de
orientação político-administrativa, que utiliza os dados da avaliação de risco integrados aos dados
dos contextos político, social e econômico para definir se o risco pode ser aceitável, definindo,
assim, as ações regulatórias.
Nessa linha de concepção de risco, a avaliação de risco é a caracterização científica sistematizada
de efeitos adversos potenciais à saúde resultante da exposição humana a agentes ou situações
perigosas. O gerenciamento de riscos é o processo no qual ações políticas são determinadas para
o enfrentamento dos perigos identificados na avaliação/caracterização dos riscos, considerando
questões sociais, econômicas, políticas e culturais, ponderando as alternativas e elegendo ações
político-regulatórias apropriadas.123-128
A avaliação de risco contém alguns ou todos os seguintes elementos: identificação do risco, que
se constitui no processo para determinar se a exposição a um agente particular pode causar um
aumento na incidência de uma condição de saúde, além de envolver a caracterização da natureza
35
36
∗
A caracterização da dose-resposta inclui a determinação de níveis de efeitos semelhante a LD50 (dose produzindo
50% de letalidade), ED10 (dose produzindo um efeito em 10% da população exposta) e níveis de efeitos adversos
não observados.124
36
37
Análise de risco
Informação pós-produção
37
38
analisar, avaliar e controlar risco relacionado a produto médico. Essas normas trazem o conceito
de risco residual, muito importante para o campo do risco relacionado às tecnologias médicas,
como o risco que permanece, mesmo após a implementação de medidas de controle.
Após a implementação e verificação das medidas de controle, o fabricante deve decidir se o risco
residual geral, apresentado pelo produto médico, é aceitável, utilizando os critérios definidos no
plano de gerenciamento de risco. Essas normas exigem dos fabricantes de produtos médicos a
elaboração de um plano de gerenciamento de risco, que deve descrever e identificar todas as fases
do ciclo de vida desses produtos, além de designar responsabilidades para a execução de todas as
atividades de gerenciamento.
A determinação de risco aceitável é um conceito sem consenso e tem gerado significantes
debates acerca do que constitui um aceitável nível de risco em produtos médicos, não havendo
dados, na literatura, acerca do risco aceitável para produtos ditos de uso único em situações de
reuso. O conceito de risco aceitável é um atributo valioso para o processo de gerenciamento de
risco de produtos médicos. Este, geralmente, é uma competência delegada para fabricantes e as
agências regulatórias e, as normas que tratam desta questão,113,129,133 estão silentes sobre o que é
risco aceitável. Entretanto, essas organizações orientam, quando da determinação de um risco
aceitável em produto médico considerar que a ampla variedade desses dispositivos dificulta essa
decisão e que valores, práticas e legislações locais são mais apropriadas para definir a
aceitabilidade de risco para um país, região ou cultura particular do mundo.115,125-126,130-131
Os princípios de gerenciamento de risco de produtos médicos devem ser aplicados durante todo o
ciclo de vida desses dispositivos, sendo este processo desenvolvido em fases/atividades. A
primeira fase é a da determinação do que seriam os níveis aceitáveis de risco de um produto
médico. Aqui, o critério de aceitabilidade de risco pode utilizar a análise da experiência do
próprio fabricante com produtos semelhantes ou a análise de pesquisadores acerca do que
constitua risco aceitável, de reguladores, de usuários, de pacientes, considerando os benefícios
derivados do diagnóstico/tratamento com o produto médico. A segunda, é a da análise
propriamente de risco. Inicia-se com a identificação dos riscos que podem ocorrer das
características e propriedades do produto médico durante a sua utilização normal ou do emprego
incorreto. Após os riscos identificados, riscos são estimados para cada risco identificado, usando
as informações disponíveis. Na terceira fase, os riscos estimados são comparados aos critérios de
aceitabilidade de risco e esta comparação irá determinar uma redução apropriada dos níveis de
38
39
risco. A última é composta por atividades de controle de risco e de seu monitoramento. As ações
estabelecidas de controle de risco, nessa fase, intencionam eliminar ou reduzir os riscos a fim de
que estes se harmonizem com os critérios, previamente determinados, de aceitabilidade de
riscos.126
Uma revisão histórica do risco identificou, no presente, um aumento de novos riscos que diferem
tanto na característica quanto na magnitude dos riscos do passado, relacionando os resíduos
radioativos, acidentes nucleares, exposição a pesticidas e químicos sintéticos, acidentes
laboratoriais com recombinação de DNA, depleção da camada de ozônio, dentre outros, cuja
magnitude não é facilmente estimada, devido à dificuldade de coleta de dados por situações como
grande latência, longo tempo para o aparecimento do efeito adverso e irreversibilidade.
Conseqüentemente, a relação dose-resposta, causa-efeito e avaliação da exposição constituem um
grande problema para a avaliação desses riscos. As tecnologias para a saúde se enquadram nessa
situação e, neste sentido, o gerenciamento de riscos é a opção do Estado para controlar e reduzir
os riscos inerentes às tecnologias usadas nos processos do cuidado à saúde humana.113
39
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41
42
Todo produto médico, usado na prática assistencial, porta um certo grau de risco, podendo causar
problemas em determinadas situações. Neste sentido, não existe segurança absoluta quando do
uso de dispositivos médicos. A decisão de adotar um procedimento clínico, utilizando um
produto médico, requer um balanceamento entre os riscos considerados residuais e os benefícios♠
previstos do procedimento.125-126,130
O risco apresentado por um dispositivo médico depende, em parte, da intenção de uso, do modo
como o produto é usado e de seu grau de complexidade tecnológica. Dois principais tipos de
riscos estão associados com o reuso de um dispositivo médico, independentemente se de uso
único ou de uso múltiplo: o risco de transmissão de infecção e o risco de alteração do
desempenho do produto após o reprocessamento. Nesta área, a avaliação de risco∗ refere-se ao
potencial de perigo de um produto médico, que possa resultar em um dano e em um problema de
segurança para pacientes e profissionais de saúde.14,33,35,95,125-126,130.
O uso clínico de um dispositivo médico, seja de uso único ou de uso múltiplo, contribui para a
sua natural degradação e, em alguma situação, tais produtos estarão inseguros para o cuidado
assistencial. As propriedades físicas, ópticas, mecânicas e eletrônicas dos produtos habitualmente
deterioram com o uso continuado e a degradação pode ser insignificante após muitos usos ou
pode ocorrer após um único uso, mesmo que esse produto seja rotulado pelo fabricante como
reusável.37,99
O risco para a saúde pública, representado por um produto médico de uso único reprocessado, é
variável e depende, em grande extensão, do tipo de produto e de sua interação com o corpo
humano. A maioria dos produtos não críticos pode ser reusado com risco mínimo. Produtos
estéreis abertos, mas não usados, podem ser reesterilizados, desde que os materiais resistam ao
processo de esterilização. Entretanto, alguns produtos invasivos, especialmente com longos
lumens, partes dobradiças ou os que possuem fendas entre componentes, podem ser difíceis ou
impossíveis de limpar, não podendo, portanto, serem reusados.39,54,149
Faz-se necessário, portanto, determinar o risco de um produto médico de uso único reprocessado
e reusado. Neste sentido, o FDA, em 2000, tentou categorizar o risco do reprocessamento de
produtos descartáveis centrando-se em dois principais riscos: o risco de infecção e o risco de
♠
Benefício originado de um produto médico é aquele relacionado com a probabilidade da melhoria da saúde do
paciente.130
∗
Utiliza-se o conceito de risco empregado pela Organização Mundial de Saúde(1996), como uma “medida de
combinação de um perigo, da possibilidade de um evento adverso e da severidade ou impacto geral”.
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Dentre os conceitos tradicionais de risco, essas normas inovam no conceito do risco residual,
definido como o risco remanescente, relacionado com o uso de produtos médicos, mesmo após a
implementação de medidas de controle. Embora tenha havido significantes debates sobre a
constituição de um nível aceitável de risco para produtos médicos, essas normatizações não se
posicionam em relação aos níveis de aceitabilidade, justificando essa omissão devida a grande
variedade e especificidade de produtos médicos existentes no mundo e à subjetividade implícita
ao conceito de risco, fortemente influenciada por normas locais e distintos costumes, valores,
culturas, dificultando o consenso sobre a aceitabilidade para esses riscos.
As normas, acima citadas, introduzem, também, o conceito de risco insignificante ou
negligenciável, como o risco residual, abaixo de um certo nível, comparável com o risco diário
que nós todos experenciamos e toleramos. Entretanto, estas apontam a importante distinção entre
o risco residual, que é tão baixo, que não há necessidade para considerá-lo (risco insignificante ou
negligenciável) e o risco residual, o qual é maior do que este, mas que são aceitos por causa dos
benefícios associados e da impraticabilidade na redução desses riscos. Neste caso, opções de
controle de risco devem ser investigadas para os riscos não negligenciáveis.
A estimativa de risco é o processo usado para designar valores para a probabilidade da ocorrência
de um dano e sua severidade. O grau de confiança dessa estimativa é aumentado quando dados
quantitativos da probabilidade da ocorrência podem ser feitos, segundo fontes seguras e
controladas, ou quando uma estimativa qualitativa razoável é possível. Entretanto, esse é um
processo difícil, ou impossível, para o campo dos produtos médicos, particularmente quando
aplicado na condição de reuso ou de reprocessamento de um dispositivo. Na impossibilidade da
estimativa do risco, essas normas estabelecem a necessidade de avaliar o risco somente com base
na natureza do dano. Nesta situação, pode-se concluir que o dano é de pequena conseqüência
prática, ou seja, o risco pode ser julgado aceitável e nenhuma medida de controle de risco ser
necessária. Para riscos julgados significantes, definidos como riscos de alta severidade, a
estimativa de risco deveria ser feita com base na probabilidade estimada para o pior caso
razoável. Essas normas orientam que, um modo de aplicar critérios de aceitabilidade a esse
contexto é através da combinação da probabilidade do dano e de sua severidade.
A decisão para usar um produto médico, no contexto de um procedimento clínico particular,
requer que o risco residual versus o benefício antecipado do procedimento seja avaliado.
Semelhante julgamento teria que considerar o uso intencionado do dispositivo médico, seu
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disponível uma metodologia de teste de funcionalidade que possa ser utilizada para todo produto
médico, seja descartável ou de uso múltiplo. Adicionalmente, é difícil simular experimentalmente
os vários stress que um dispositivo é exposto em situações reais de reuso clínico. Portanto, os
testes de integridade e de funcionalidade devem ser realizados de acordo com as características
específicas do produto médico, a exemplo da verificação da flexibilidade de um dispositivo
quando esta propriedade influi no seu uso intencionado.37,24,54,156
Nesse sentido, os testes de funcionalidade dos produtos médicos objetivam prevenir os riscos que
poderiam advir em decorrência da alteração das características dos produtos submetidos ao
reprocessamento com consequente limitação no seu desempenho, sendo estes devidamente
realizados no curso dos processos de validação. Os produtos médicos devem cumprir com sua
proposta, sem limitações, durante cada uso, independente de quantas vezes é usado.24
Adicionalmente, os testes de funcionalidade dependem da complexidade do produto médico, do
desenho, dos materiais utilizados, da área e duração de aplicação e, mais importantemente, do
risco potencial do produto médico, devendo ser determinado segundo o produto individual no
curso do desenvolvimento e validação do procedimento de reprocessamento. Esses testes fazem
parte do gerenciamento de risco, são usualmente realizados de forma randomizada, após a
limpeza dos produtos, de modo que as características críticas para o sucesso do reprocessamento
possam ser comparadas com os parâmetros correspondentes dos produtos novos.24,37
Outra consideração, associada à funcionalidade do produto médico, refere-se ao número de vezes
que esse produto é utilizado na prática clínica. O número de vezes que um produto de uso único
pode ser reprocessado deve ser determinado, separadamente, para cada produto individual,
segundo sua construção técnica, composição e complexidade dos materiais que o constituem, não
sendo possível fazer qualquer declaração geral do número de ciclos pemitidos.41
Faz-se necessária uma avaliação tecnológica a fim de fornecer garantias em relação a possíveis
mudanças no desenho original do dispositivo e suas conseqüências para o reuso, uma vez que há
uma variedade de combinações de materiais e diferentes demandas para cada produto durante seu
uso clínico.41 É preciso conhecer qual a estimativa de vida expectada para cada produto, situação
esta difícil de ser monitorada no cotidiano do cuidado assistencial. A determinação de que um
cateter, por exemplo, pode ser usado em um certo número de vezes tem relevância em termos de
inflação desse produto, mas não necessariamente pode corresponder ao número máximo do stress
cumulativo relacionado com os processos de descontaminação. Esta questão deve ser considerada
47
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quando na determinação do número máximo de reusos por tipo produto.37,41 Neste sentido, faz-se
necessária a definição de instruções acerca dos produtos em condição de reuso e
reprocessamento, para que sejam retirados do ciclo de uso segundo a ocorrência de qualquer
alteração na sua qualidade.41
Um teste mecânico básico é o teste tênsil ou de alargamento, o qual mensura a força requerida
para alargar um produto. Outros testes incluem flexibilidade, rigidez e fadiga. Como um
complemento para alguns casos, a inspeção visual para danos externos, ou mudanças na
aparência do produto, podem ser empreendidos . Algumas alterações podem ser indicativas da
perda da integridade de um produto sob a condição de reuso: mudança do tamanho original,
resistência para inserção (cateter central), descoloração, vazamentos, entre outros. O teste de
pirogênio deve ser realizado para qualquer produto médico, seja reusável ou de uso único, que
entra em contato com sangue e fluidos do corpo, podendo conter endotoxinas bacterianas
passíveis de provocar uma reação adversa, como um choque pirogênico. Nesse caso, pode ser
utilizado o teste do The Limulus Amebocyte Lysate (LAL), numa freqüência regular, no mínimo,
anualmente ou em situações de mudança do desenho do produto, da embalagem ou do método de
esterilização.37
Além das questões de risco relacionados às características dos produtos médicos, os riscos podem
advir de todas as etapas do processo de descontaminação desses produtos, da escolha do método
apropriado, do plano de manutenção, do monitoramento de engenharia e microbiológico, da
estocagem, após descontaminação, e das condições de manipulação.159
Conceitua-se evento adverso como qualquer agravo à saúde, ocasionado a um paciente ou
usuário, em decorrência do uso de um produto submetido ao regime de vigilância sanitária, tendo
sua utilização sido realizada nas condições e parâmetros prescritos pelo fabricante.127 Eventos
adversos em produtos médicos são eventos não-usuais e não esperados, associados com o uso do
produto, que aumentam ou potencializam a ocorrência de efeitos não desejáveis, envolvendo a
segurança dos pacientes, usuários e outros. Tais eventos podem contribuir para sérios problemas,
incluindo o incorreto ou o retardado diagnóstico e tratamento ou agravos aos pacientes. Nem
todo incidente com produto médico conduz a um evento adverso, mas todo incidente deve ser
investigado para identificar problemas do produto que possam resultar em injúria para o paciente
e profissionais de saúde. Eventos adversos podem ocorrer a partir de diversas falhas: do próprio
produto, durante sua fabricação (incluindo mal funcionamento e defeitos de fabricação); de
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Dentre os vários riscos associados ao reuso de produtos médicos, tanto os de uso único quanto os
reusáveis, variados autores citam basicamente os seguintes4,37,39,43,89,58,79: infecção; biofilmes,
contaminação do material com endotoxinas; presença de resíduos tóxicos dos produtos usados
para a limpeza e desinfecção ou esterilização; bioimcompatibilidade com proteínas dos últimos
usuários que eventualmente permaneceram no material; inconfiabilidade funcional; ausência de
integridade física e de barreiras de proteção, entre outros.
Pelo o que foi exposto, a decisão para reprocessar um produto de uso único é emblemática. Pode
ser difícil, se não impossível, documentar que esse produto pode ser reprocessado sem toxicidade
residual e funcionar satisfatoriamente e efetivamente. Questões também aplicáveis aos produtos
ditos reusáveis. Nesse sentido, a decisão de usar um produto médico, seja de uso único ou
múltiplo, requer uma avaliação do risco residual versus o benefício antecipado do uso de um
artigo durante um procedimento assistencial. Esse julgamento tem necessariamente que
considerar o uso intencionado do dispositivo médico, seu desempenho e riscos associados, bem
como os riscos e benefícios associados com o procedimento clínico ou a circunstância de
uso.125,130
Algumas importantes instituições norte americanas de saúde têm-se posicionado em relação ao
reuso de produtos descartáveis, contribuindo com os serviços de saúde no julgamento para a
tomada de decisão em relação à adoção, ou não, dessa prática. No início dos anos 80, o Food
and Drug Adminstration (FDA), o Center for Disease Control and Prevention (CDC), o The Joint
Commission on Accreditation of Healthcare Organizations (JCAHO) e a American Hospital
Association (AHA) não recomendavam o reuso de dispositivos descartáveis. Atualmente, essas
instituições posicionam-se advertindo e enfatizando a elaboração de políticas e procedimentos
escritos, relacionados a esta prática, além de assinalar a necessidade de pesquisas acerca da
segurança e efetividade dos produtos reusados . O JCAHO, apesar de não encorajar o reuso de
descartáveis, não penaliza o processo de acreditação dos hospitais que praticam o reuso de forma
controlada e com protocolos escritos.37
O manual de políticas de conformidade do FDA♦, capítulo 24, trata do reuso de produtos médicos
descartáveis, estabelecendo três critérios na definição de uma instituição de saúde em
implementar um programa de reuso: (I) o produto pode ser adequadamente limpo e esterilizado;
(II) as características físicas e a qualidade do produto não são adversamente afetadas com o
♦
United States. Food and Drug Administration, 1987.
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reprocessamento; (III) o produto permanece seguro e efetivo para o seu uso intencionado. Este
guia, emitido em 1987, rescindiu uma posição prévia do FDA que proibia o reuso de cateteres
centrais e de fios-guia.37
Em 1981, o FDA dos EUA proibiu o reuso de cateteres cardíacos de angiografia em razão da alta
incidência de reações pirogênicas em pacientes submetidos a esse procedimento. Essa
recomendação foi revogada, em 1987, em função da dificuldade em distinguir reações adversas
atribuídas a resíduos de endotoxinas de outras reações relacionadas ao contraste utilizado nesses
cateteres. Estudos comparando os sinais e sintomas de reações pirogênicas (febre não explicada,
tremores, hipotensão arterial), em pacientes com cateteres venosos centrais, não encontraram
diferenças entre o uso de cateteres novos e reusados, sugerindo que o meio de contraste usado
para todo procedimento de angiografia pode ser um fator contribuinte para pirogenias.37
Avolumam-se pesquisas na área do reprocessamento de produtos médicos de uso único com o
objetivo de melhor compreender os riscos relacionados com essa prática. Em 1996, The Canadian
Healthcare Association37 empreendeu uma extensa investigação bibliográfica em busca de
evidências científicas sobre o reuso e reprocessamento de dispositivos descartáveis, a fim de
subsidiar as unidades de saúde canadenses no julgamento do mérito das práticas de reuso.
A despeito da abundância de informações registradas acerca do reuso de produtos descartáveis
por esse estudo, esse documento conclui que a evidência científica a favor dessa prática é
limitada e pontual, que a maioria dos estudos publicados são retrospectivos e não empregam
desenhos controlados ou randomizados e que a maioria dos dados de segurança e efetividade são
relacionados com cateteres cardíacos e hemodializadores. Uma das recomendações derivadas
desse trabalho apontou a necessidade de que um programa de reuso de produtos descartáveis
deveria incluir os seguintes objetivos: análise de custos; desenvolvimento de procedimentos
prospectivos de reprocessamento e validação dos mesmos e um programa de treinamento para
colaboradores.
Em Toronto, o Ministério da Saúde e uma associação científica, o Provincial Infectious Diaseses
Advisory Commitee9 recomendam que, para o reprocessamento de um produto médico
descartável, faz-se necessária as seguintes condições: manutenção da integridade e
funcionalidade do produto; traceabilidade do produto; habilidade para recolhimento do produto;
realização de testes de apirogenicidade; existência de um programa de controle de qualidade e
habilidade para reportar eventos adversos.
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do princípio da precaução, que exige medidas de restrição e de controle para situações passíveis
de risco.
A implementação de um programa de reutilização de produtos médicos descartáveis, num serviço
de saúde, deve ser uma definição a nível institucional e não departamental, com o
estabelecimento de uma política formal de reuso que possa garantir a segurança e eficácia dos
protocolos de reuso. Para tanto, faz-se necessária a análise das questões gerenciais e operacionais,
a serem realizadas na unidade reprocessadora desses dispositivos, tais como a capacidade interna
da execução de testes de função e integridade dos produtos médicos, de testes de apirogenia de
produtos que acessam o trato circulatório, da segurança dos profissionais manipuladores, além de
considerações quanto às possíveis responsabilidades legais implicadas nessa prática.
Adicionalmente, o programa de reuso de produtos de uso único deve ser conduzido e monitorado
por uma equipe multiprofissional composta por membros do Serviço de Esterilização, Controle
de Infecção Hospitalar, Bioengenharia, Custos, Laboratório de Microbiologia, Farmácia,
profissionais assistenciais como médicos e enfermeiros, entre outros, que, com a expertise
necessária, deveriam definir quais os produtos seriam inclusos nesse programa, segundo a
capacidade organo-funcional da unidade prestadora de serviço de saúde.37,54,156
Na conclusão desse capítulo que abarca a temática do risco associado a reprocessamento de
produtos médicos, torna-se evidente que os dispositivos médicos, como outras tecnologias,
apresentam riscos residuais à saúde coletiva, riscos esses ainda caracterizados por um estado
fluído e incompleto do conhecimento científico, difíceis de serem quantificados e analisados da
forma desmembrada, como realizada no estabelecimento das avaliações do tipo de dose-resposta,
impondo a necessidade da incorporação das práticas de gerenciamento de risco, principalmente,
quando da condição de reuso desses dispositivos.
O tema da regulação tem perpassado diversas disciplinas, sendo enfocada, mais frequentemente,
no campo da economia e da ciência política. Pouco desta produção tem sido aplicado aos
problemas relacionados à saúde.
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comercialização resida no fato de que eventos adversos relacionados com produtos médicos são
difíceis de serem investigados, primeiramente, pela dificuldade de informação dos usuários
desses produtos para um sistema de vigilância, além desses serem bastante heterogêneos em
conteúdo e qualidade, limitações essas que restringem a elaboração de instrumentos estatísticos
que possam ser aplicados na avaliação do risco-benefício de produtos médicos em uso pós-
comercialização.162,175 Uma vez um produto médico aprovado, e introduzido no mercado, a
habilidade para controlar ou eliminar o uso inapropriado, com controle rigorosos, é um desafio
para os órgãos reguladores.
Embora existam diferentes sistemas regulatórios de produtos médicos entre vários países, todos
aplicam a filosofia do gerenciamento de risco e, assim, o grau de escrutínio regulatório, imposto
para qualquer produto médico, é proporcional a intenção de uso do dispositivo, ao seu nível de
risco e ao grau de invasividade do produto no corpo humano. Entretanto, princípios essenciais de
segurança e de desempenho devem ser aplicados nas atividades regulatórias de todos os produtos
médicos.4,75,126,143,152,155,177-180 Internacionalmente, há também uma variedade de níveis
regulatórios no estabelecimento de políticas de reuso de produtos médicos, que, de modo geral,
tendem a ter um caráter preventivo, com recomendações que objetivam a segurança da saúde
pública.44,143,152,175
Na Austrália, o The Australian Therapeutic Goods Administration (TGA), órgão nacional
regulador de produtos médicos, emite um Australian Register of Therapeutic Goods (ARTG), que
é o número do produto a ser comercializado. Nesse país, o TGA permite o reuso de produtos
médicos de uso único somente em condições nas quais esse produto mantenha a qualidade de um
equivalente original. Em 2002, esse Comitê propôs alguns componentes regulatórios para o
reprocessamento de dispositivos médicos de uso único. São eles as auditorias de qualidade e de
certificação dos serviços que realizam reprocessamento, que passaram a ser fiscalizados com
inspeções equivalentes às exigidas para fabricantes de equipamentos; a adequação de rotulagem e
embalagens de produtos médicos; o monitoramento do produto; a informação de eventos
adversos, com um sistema de recalls pós-comercialização; os relatórios técnicos sobre os
produtos e banco de dados dos seus fabricantes; além do consentimento por parte dos pacientes.
A regulação de reprocessamento de produtos de uso único exclui os produtos de uso único
abertos, mas não utilizados e indivíduos que reprocessam dispositivos descartáveis para seu
próprio uso pessoal.39,44,95,52,143,158,181-182
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Na Austrália, os produtos médicos são classificados, segundo seu risco, em cinco categorias:
Classe I (baixo risco); Classe IIa (baixo a médio risco); Classe IIb (médio a alto risco); Classe III
(alto risco) e Classe de produtos médicos implantáveis – AIMD (alto risco). Os reprocessadores
de produtos médicos de uso único das classes II e III necessitam desenvolver procedimentos de
avaliação de conformidade (Conformity Assessment Procedure-CAP) para obter, do TGA
australiano, a certificação de avaliação de conformidade (Conformity Assessment Certyfication –
CAC). A classe do produto médico determina quantos CAPs são apropriados. Para os produtos
das classes I e IIa, que sejam comercializados como estéreis, ou que tenham função de medida,
exige-se um procedimento de produção de garantia de qualidade (Production Quality Assurance
Procedure –PQAP).155
Em dezembro de 2003, a Austrália e a Nova Zelândia assinaram um tratado para normatizar
produtos terapêuticos e médicos na forma de uma agência conjunta bi-nacional, substituindo a
Australian Therapeutic Goods Administration (TGA) e a New Zealand Medicines and Medical
Devices Safety Authority (MEDSAFE), a fim de estabelecer um esquema regulatório conjunto
para produtos médicos e medicinais, com previsão a ser operacionalizada em 2006.44,183
No Canadá, a licença de um produto médico é concedida pelo Therapeutic Products Directorate
e as regulações do Canada’s Food and Drug Act and Medical Devices, órgão nacional
responsável pelos produtos médicos, direcionam-se para fabricantes e comercializadores de
produtos médicos, não objetivando a regulação do uso ou reuso desses materiais.27,37,49,95
Nesse país, as regras classificatórias dos produtos médicos se assemelham às adotadas pelas
diretivas da União Européia. Os produtos são agrupados de acordo com seu risco potencial em
três classes: produtos invasivos, produtos não-invasivos e produtos ativos. Dentro dessa
classificação, os produtos podem ser designados em quatro classes (I, II, III e IV) seguindo um
contínuo de invasividade e de conseqüente risco para o paciente.27,152,184 Nesse sentido, produtos
médicos de classe I são isentos de aprovação pré-comercialização, mas devem satisfazer os
requerimentos gerais de segurança, efetividade e rotulagem. Os produtos classe II requerem uma
declaração do fabricante de que estão em conformidade com as exigências de rotulagem. A
licença de produtos classes III e IV depende de rigorosos processos regulatórios.27,95
Apesar do Canadá ainda não possuir uma regulação federal que legisle o reuso e reprocessamento
de produtos médicos de uso único, o Health Canada, órgão responsável pelas questões relativas à
saúde, vem trabalhando intensivamente na perspectiva da elaboração de um marco regulatório
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único para atender a demanda do reuso desses dispositivos em todas as províncias. Esse órgão
tem expedido inúmeros manuais, objetivando orientar as instituições hospitalares canadenses
quanto à prática do reuso de produtos médicos.39,44,53,95,185
As províncias desse país vem, individualmente, desenvolvendo padronizações acerca do reuso de
produtos descartáveis. Em 2004, a associação de hospitais de Ontário aprovou um documento do
grupo de trabalho de reuso de produtos médicos de uso único que definiu as seguintes posições:
os hospitais dessa província não deveriam reprocessar produtos de uso único considerados
críticos e semi-críticos (posição revogada um ano depois); sugeria que o Health Canada definisse
um marco regulatório para nortear a segurança das práticas de esterilização para produtos
reusáveis e de uso único; e estabelecia que, até a elaboração dessas regulações, os hospitais dessa
província deveriam considerar os serviços de empresas terceirizadoras de reprocessamento
devidamente licenciadas. Em Quebec e em Manitoba existem algumas diretivas para hospitais
acerca do reuso, a exemplo da proibição do reuso de certos dispositivos descartáveis críticos
desde 1997. Na Columbia British e no Território do Noroeste, há estudos para revisar o reuso de
produtos médicos, planejando novas regulamentações a partir de 2005.39,45,49,52-54,185. Em Toronto,
o Ministério da Saúde e uma associação científica, o Provincial Infectious Diasese Advisory
Commitee, elaboraram um documento guia sobre reprocessamento de produtos médicos, com
uma recomendação de que dispositivos médicos descartáveis não devem ser reprocessados e
reusados, a menos que esta atividade seja realizada por uma empresa reprocessadora devidamente
licenciada por uma autoridade sanitária.9 Até 2004, as empresas reprocessadoras de produtos
médicos, no Canadá, são norte-americanas ou agem em nome destas.49
O sistema regulatório de produtos médicos da União Européia é recente, bastante posterior a
regulação dos produtos farmacêuticos. Até 2003, não existia uma Agência regulatória única de
produtos médicos para toda a Europa, sendo um sistema descentralizado, com os estados
membros responsáveis pela transposição das suas normativas. No Reino Unido e na comunidade
européia esta regulação se iniciou nos anos 90, com três diretivas de produtos médicos. A
Diretiva de produtos médicos de implantes ativos (90/385/EEC), a Diretiva de produtos médicos
(93/42/EEC) e a Diretiva de produtos médicos diagnósticos in vitro (98/79/EC). Atualmente, a
diretiva 2007/47/EC está em vigor, substituindo as normativas anteriores.142,146,186,187,188,189. A
regulação da reutilização de produtos descartáveis, na Espanha, data de 1985, com uma
publicação da Direção Geral de Farmácia, Nº 27/1985, que proibia o reprocessamento desses
63
64
♣
Corpos de certificação ou notificação são organizações de certificação apontadas por países membros da EU para
conduzir auditorias formais de produtos e sistemas de qualidade. São organizações primariamente privadas, mas
também podem incluir setores públicos que acreditam Corpos de Notificação privados. Independente do status de
origem, agem a favor da coletividade.55.
64
65
65
66
66
67
67
68
Os produtos da classe I estão sujeitos a controles regulatórios gerais, tais como o registro e as
conformidades com as boas práticas de fabricação. A maioria desses produtos são isentos de
avaliação pré-comercialização. Produtos da classe II estão sujeitos a controles especiais,
semelhantes à avaliação de padrões de desempenho, vigilância pós-comercialização, e requerem a
notificação pré-comercialização, denominado 510K, que se baseia no conceito regulatório da
equivalência substancial, processo este que demonstra que o produto médico proposto é
equivalente, em termos de desenho, material e uso, a um produto já qualificado e previamente
utilizado no país. Os produtos classe III requerem uma aprovação de comercialização através do
premarket approval application (PMA), que deve demonstrar por meio de evidências científicas
validadas, segurança e efetividade do produto. Essa aprovação requer uma completa descrição do
artigo e seus componentes, desde a fase de concepção às informações sobre metodologias e
controles usados na fabricação do dispositivo, dados de rotulagem, publicidade, esterilidade,
bioimcompatibilidade, entre outros. Ademais, O FDA requer resultados de ensaios clínicos,
estudos em animais, bancos de testes e inspeção nas unidades fabricantes a fim de conferir a
veracidade das boas práticas de fabricação.36,132,151,178,194-195,180
Nos EUA, o FDA regula o reprocessamento de produtos descartáveis através do The Medical
Device User Fee and Modernization Act (MDUFMA), que classifica os produtos reprocessados
segundo seu risco. As empresas reprocessadoras devem submeter aplicações ao FDA para
diferentes tipos de produtos médicos de uso único que desejam reprocessar e colocar no
comércio. Hospitais e empresas reprocessadoras que realizam esta prática, são considerados
como fabricantes♣ e os requerimentos de aplicação dependem da classe de risco do produto
reprocessado. Desse modo, o reprocessamento de produtos de uso único classe I e II exige uma
submissão de notificação pré-comercialização e os produtos de classe III, uma aprovação pré-
comercialização, a qual reprocessadoras validam a segurança do produto reprocessado como se
este fosse um produto novo.151,177-179,194,200-202
A notificação pré-comercialização (510 K) e a aprovação pré-comercialização (PMA) são
específicas para cada produto e, desse modo, cada dispositivo, a ser liberado para
reprocessamento, requer um 510 K ou um PMA. Nos EUA, existe uma Associação de
Reprocessadores de Produtos Médicos que inclui três companhias, que fornecem 95% do
♣
Para o FDA, um fabricante é definido como “qualquer pessoa que fabrica, prepara, propaga, compôem, junta ou
processa um dispositivo médico através de procedimentos químicos,físicos, biológicos ou outros”201
68
69
reprocessamento realizado no país. Até 2005, somente quatro empresas reprocessadoras foram
licenciadas pelo FDA para o reprocessamento de produtos para classe I e II, e nenhuma para
produto classe III.151,177-179,194,200-202
Em setembro de 2001, o FDA adaptou um novo posicionamento dirigido somente para hospitais,
obrigando-os à obter imediatamente registro de empresa reprocessadora além de prestar
informações acerca dos produtos que reusam, sob pena de serem cassados. Igualmente aos
fabricantes, os hospitais são obrigados a submeter aos controles regulatórios da notificação pré-
comercialização (510K) dos produtos médicos que pretendem distribuir. Em outubro de 2002, o
FDA adicionou uma nova seção regulatória para produtos de uso único a serem reprocessados,
exigindo uma lista de validação dos processos de limpeza, de esterilização, dados de
desempenho funcional, demonstrando que produtos descartáveis reprocessados permanecem
substancialmente equivalentes a um produto qualificado, após o número máximo de vezes
intencionados para produto no momento da submissão do 510K. Em abril de 2003, o FDA
identificou aqueles produtos críticos de uso único reprocessados, que não mais seriam isentos dos
requerimentos do 510K e, na oportunidade, emitiu uma lista de produtos de uso único
reprocessados não isentos, sujeitos a dados de validação. Em abril de 2004, o FDA repetiu essa
mesma ação para produtos semi-críticos e atualizou a lista anterior incluindo outros produtos. Em
novembro de 2004, o FDA publicou nova lista de produtos médicos sujeitos ao 510K e que,
segundo a lei de modernização dos direitos dos ususários de dispositivos médicos, expedida em
2002, requerem validação. Os reprocessadores de produtos médicos incluídos nessa lista, e que já
tinham obtido do FDA o 510K, terão que, adicionalmente, apresentar dados acerca da
funcionalidade, limpeza e esterilização.34,87,151,192,198,200,202-203
A despeito dos rigorosos processos de revisão pré-comercialização, o 510(K) e o PMA, os
produtos médicos são somente tão seguros quanto a informação conhecida no tempo presente.
Por exemplo, ensaios clínicos, para dispositivos médicos, podem envolver somente uns poucos
100 pacientes; produtos médicos são tipicamente testados em bancadas, ao invés de testados em
situações clínicas reais e, diferentemente, das drogas, a maioria dos produtos médicos reusávies
não tem tempo de vida estabelecido, isto é, não é conhecido como, e por quanto tempo, um
produto pode ser usado e como frequentemente pode ser usado.160,174
Uma vez um produto médico colocado no mercado, o CDRH/FDA realiza seu processo de
monitoramento de vigilância pós-comercialização. O The Medical Device Reporting Regulation
69
70
(MDR) de 1984, o The Safe Medical Act de 1990 e o The Food and Drug Modernization Act
(FDAMA), de 1997, auxiliam o FDA com instrumentos para monitorar o perfil de segurança do
produto médico, enquanto mantém sua disponibilidade. Entre todos esses instrumentos, o sistema
MDR se destaca por ser passivo, capturando informações de fabricantes, importadores e serviços
usuários, incluindo dados de injúria séria e mal funcionamento relacionado aos dispositivos.162,196
Mais recentemente, sob a provisão do FDAMA, uma maior abordagem pró-ativa para capturar
eventos adversos pós-comercialização tem sido instituído, através do The Medical Product Safety
Network, ou MEDSUN, uma rede de trabalho de 350 serviços usuários, a maioria hospitais,
intensivamente treinados como sítios informantes de eventos adversos advindos de produtos
médicos. Se o CDRH recebe uma informação de que um produto médico, ou seu acessório,
resulta em falência ou mal funcionamento, concorrendo para um risco potencial de injúria à saúde
ou morte, esse órgão realiza uma análise de risco e, se necessário, autoriza uma investigação para
determinar a causa da falência, processo judicial este que pode culminar em requerimento de
ações corretivas ou recall de produtos.162,196
Existem várias limitações para a efetiva avaliação de produtos após a comercialização.
Primeiramente, eventos pós-comercialização são prováveis de serem não reportados porque
médicos, e outros profissionais de saúde, podem não estar cônscios da necessidade de informar
ao sistema. Estes podem achar incômodo, ou podem temer responsabilidades pessoais e
institucionais. Os informes pós-comercialização são heterogêneos em termos de conteúdo e
qualidade, não existindo uma fonte formal de verificação, de documentação e freqüência de
narrativas que requeiram melhores investigações. Finalmente, a soma dessas limitações, junto
com a ausência de um verdadeiro denominador, restringe instrumentos estatísticos que possam
ser aplicados para refinar a avaliação do risco-benefício de novos produtos em uso pós-
comercialização.162
O Grupo de Trabalho de Harmonização Global (The Global Harmonization Task Force) é uma
organização voluntária a nível mundial, representada por governos e suas autoridades regulatórias
e associações de indústrias de produtos médicos, cujo objetivo é: estimular a harmonização de
requisistos regulatórios, reduzir as diferenças regulatórias entre os países, facilitar o
desenvolvimento de um sistema internacional de vigilância pós-comercialização e estimular a
coperação entre países. Esse grupo foi fundado há 17 anos, tendo os seguintes países como
membros: Austrália, Canadá, Estados Unidos, Japão e União Européia.95,136,204 A dinâmica do
70
71
GHTF se desenvolve através de cinco grupos de estudos que produzem documentos que, uma vez
aprovados, são utilizados pelos países para moldar/reconfigurar seus programas regulatórios:
Grupo 1 - requisitos regulatórios; Grupo 2 - Vigilância de produtos médicos; Grupo 3 – Sistemas
de Qualidade; Grupo 4 – Auditoria; Grupo 5 – Ensaios clínicos. Desde que o GHTF se iniciou,
este já elaborou 27 documentos normativos, organizando conferências globais a cada 18
meses.136,145,204
A avaliação de conformidade conduzida, antes e após de um produto médico ser colocado no
mercado, e a vigilância pós-comercialização do dispositivo em uso são elementos
complementários do modelo regulatório do GHTF. Esses controles são intencionados para
fornecer evidências objetivas de segurança, desempenho, riscos e benefícios para manter a
confiança do público.176
Os antecedentes de uma política regulatória de produtos médicos, na América Latina, datam de
1986, com uma conferência convocada pelo Food and Drug Administration (FDA), pela
Organização Mundial de Saúde e pela Organização Pan-Americana de Saúde quando se começou
a organização de agências reguladoras no continente. Foi criada a Cooperação Panamericana de
Equipamentos Médicos (PACME), grupo de países reguladores da Latinoamérica e Caribe. Na
América Latina, até 2007, dezoito dos 32 países e territórios não têm legislação na área de
regulação de produtos médicos. Dez de 14 países, que tem legislação, aplicam-a efetivamente
com limitações na parte de vigilância, com maior ênfase na parte de registro. Quatorze países não
têm nenhum requisito para importar dispositivos médicos e 16 outros participam ativamente em
conferências e grupos de estudos do GHTF, o qual tem uma sessão especial para a América
Latina.136
No Brasil, os produtos médicos são regulamentados pela ANVISA, através da RDC Nº 185 de 22
de outubro de 2001148, que os classifica em quatro categorias (I, II, III e IV) segundo o risco que
representam para a saúde do consumidor, do paciente, do operador ou terceiros envolvidos. Essa
normatização abrange os procedimentos para registro, classificação, revalidação e informações
sobre rótulos e instruções de uso dos produtos médicos no país.
Os artigos descartáveis são objeto de preocupação do Ministério da Saúde brasileiro (MS), desde
1984, quando ocorreu uma Reunião de Peritos. Este vem discutindo e tentando regulamentar o
reuso desses produtos no país. Em 1986, foram expedidas as Portarias MS n˚ 03 e 04 que traziam
definições e normas sobre o reuso de artigos descartáveis. Em 2006, a ANVISA editou, em 11 de
71
72
agosto, a Resolução da Diretoria Colegiada - RDC n˚ 156 - que dispõe sobre o registro,
rotulagem e reprocessamento de produtos médicos; a Resolução Especial - RE n˚ 2.605 - que
estabelece uma relação de 66 produtos proibidos de reprocessamento no país e a RE n˚ 2.606, que
define as diretrizes para elaboração, validação e implantação de protocolos de reprocessamento
de produtos médicos.69-71 Em julho de 2007, a ANVISA tornou a editar nova Resolução Especial,
de n˚ 2.305205, prorrogando em cento e oitenta dias o prazo para entrada em vigência da
normativa estabelecida no artigo 17 da RE 2.606, demonstrando, com essa medida, a dificuldade
dos hospitais brasileiros na operacionalização da regulamentação proposta de reprocessamento
seguro de produtos médicos.
Embora a regulação brasileira sobre reprocessamento de produtos médicos tenha avançado, as
normativas em vigor apresentam várias imprecisões que contribuem para distintas interpretações
por parte dos serviços de saúde, empresas terceirizadas de reprocessamento e fabricantes ou
importadores desses produtos.
Uma análise recente da regulamentação da ANVISA sobre reprocessamento de produtos médicos
aponta doze nós críticos, a exemplo da baixa sensibilidade de critérios para a definição de
produto de uso único, ausência de transparência de critérios utilizados na elaboração da lista
negativa de produtos e sua potencial obsolescência, entre outros, que dificultam a
operacionalização dessas normas206. Segundo essa análise, a lista negativa de produtos da
Resolução 2605 desvia a atenção do risco real, associado aos processos de limpeza, desinfecção,
esterilização e seus controles de qualidade, para um risco potencial de o que pode e o que não
pode ser reprocessado, minimizando a problemática do processo de trabalho das CMEs do país,
cerne da segurança de qualquer produto a ser reprocessado.
Conclui-se que o desempenho e a segurança dos produtos médicos requerem a cooperação entre
todos os atores envolvidos no tempo de vida de um produto: o Estado, os fabricantes, os
importadores e os vendedores, os profissionais de saúde e os pacientes. Cada qual tem um papel
específico no gerenciamento de risco de um produto médico e educação. O treinamento
continuado e a avaliação são pontos nucleares do controle de um produto.
A Vigilância Sanitária (VISA), inscrita na Lei Orgânica da Saúde, é uma área da saúde pública
que trata dos riscos e ameaças à saúde resultantes dos modos de vida contemporâneo. Seus
72
73
objetos de atuação são múltiplos e crescem à medida da incorporação do avanço tecnológico, que
resulta em novas necessidades, novos hábitos e novas formas de vida coletiva, desafiando sua
principal função, que é o controle sanitário dos riscos envolvidos na produção, circulação e
consumo de produtos, processos e serviços ligados a saúde humana.128
Dentre os desafios da VISA, soma-se o controle sanitário dos serviços de saúde (SS),
estabelecimentos onde se realizam procedimentos médicos e cirúrgicos, ou práticas de saúde,
sejam de prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação ou de apoio. Estes são considerados
como uma combinação de tecnologias concretas e de atos humanos que se articulam para cuidar
de um segmento populacional. Devido aos procedimentos, cada vez mais invasivos e complexos,
realizados nos cuidados assistenciais, os SS se constituem em fatores de risco não apenas aos
pacientes-usuários em busca de atendimentos às suas necessidades de Serviços de Saúde, mas
para profissionais que neles atuam.207-208
A Vigilância Sanitária de Serviços de Saúde (VSSS) compreende um vasto campo da Saúde
Pública, cujas ações objetivam garantir a qualidade técnica da prestação dos serviços de saúde,
evitando danos à saúde e as iatrogenias∗ relacionadas ao cuidado assistencial.207-209
A VSSS é uma área recente de atuação no Brasil, datada do início dos anos 70, no Ministério da
Saúde, originalmente vinculada à Secretaria de Assistência à Saúde (SAS) e a extinta Secretaria
de Vigilância Sanitária (SVS), com ações isoladas, atuando em resposta a demandas externas.
Esta vem se conformando como um campo não integrado às ações globais de saúde, com forte
componente cartorial e policial nos estados onde existem alguma ação, sendo mais uma atividade
ligada à interdição e multa.208
O primeiro registro de uma ação de VSSS se reporta à elaboração de uma publicação sobre
orientações gerais para a construção de estabelecimentos de saúde, de 1970, na Divisão Nacional
de Organização de Serviços de Saúde, quando esta buscava opinar sobre projetos financiados
pela Caixa Econômica Federal, a partir do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social. Essa
publicação subsidiou a Portaria Nº 400/77, seguida pela Portaria Nº 1884/94, que foi revogada
pela atual Resolução ANVISA RDC Nº 50/2002. Além dessa publicação, e Portaria posterior, as
ações federais da Vigilância Sanitária em Serviços de Saúde se situaram na área do sangue, com
o Programa Pró-Sangue no início dos anos 80, criado sob a forte crise sanitária da
∗
Iatrogenias são resultados negativos da prática médica.209
73
74
•
Lei N° 9.782 de 26 de Janeiro de 1999
74
75
75
76
●
Hospital é todo estabelecimento de cuidado assistencial, em regime de internação, podendo contar com
atendimento ambulatorial e/ou outros serviços.
♦
Neste trabalho, utiliza-se o termo “usuário” como sinônimo de “paciente”, “cliente” (usado mais na lógica de
mercado, no âmbito da circulação de mercadorias, onde há predomínio da livre escolha, seria o “consumidor” das
empresas privadas de saúde) e de “cidadão” (compreendido como o “consumidor” dos serviços públicos de saúde).
76
77
♣
Caórdico implica “admitir o caos e buscar extrair dele a ordem possível”. Ver “Organizações Caórdicas” de
Antonio Carlos Ritto, Ed. Ciência Moderna, 2005.
77
78
médicas utilizadas nesses serviços. Mas se pode elencar, além das já tradicionais atividades
relacionadas a cadastramento, licenciamento e fiscalização dos estabelecimentos, outras ações da
VISA como o diagnóstico da situação hospitalar quanto ao seu grau de risco epidemiológico,
intimamente relacionado com os serviços existentes na instituição, o acompanhamento do
funcionamento dos Programas de Controle de Infecção Hospitalar e de Qualidade, através da
análise dos indicadores epidemiológicos gerados na instituição, o controle sanitário do
reprocessamento de produtos médicos na instituição, tanto os considerados reusáveis, quanto os
produtos ditos de uso único, o monitoramento dos resíduos gerados na instituição, entre outras
ações, estas últimas complementadas com uma efetiva intervenção sanitária, quando os dados
apontarem a emergência de riscos para os pacientes ali expostos.
Pela complexidade das ações da VISA em SS, principalmente nas organizações hospitalares, a
prática desse controle sanitário exige uma expertise técnico-científica contínua e atualizada para
que seus profissionais possam exercer uma ação harmonizadora entre os interesses do capital e os
interesses da saúde coletiva. Para tanto, além do conhecimento da legislação básica intrínseca à
VISA, os vigilantes sanitários das organizações hospitalares necessitam se apropriar de todas os
setores que compõem o complexo ambiente hospitalar, para que essa vigilância atenda suas
necessidades e especificidades. Apresentamos, abaixo, um diagrama que relaciona as ações da
VISA dentro de um hospital. Os marcos regulatórios correspondentes a cada unidade, a ser
fiscalizada, dentro do hospital, estão descritos no Apêndice V.
78
79
Central de Unidade de
VISA Terapia
Material e
Centro Cirúrgico Esterilização Intensiva
CCIH
Unidades Farmácia
Hemodiálise Laboratório de Lactário
internação Nutrição
Banco de parenteral
Almoxarifado Nutrição
sangue Resíduos
Queimados
Radioterapia Endoscopia
Banco de
leite Lavanderia
Radiologia Oncologia/
Quimioterapia Higienização
79
80
Figura 1
Para controlar seus múltiplos objetos de atuação, a organização dos processos de trabalho da
VISA, particularmente no controle sanitário dos SS, deve considerar a divisão técnica e social do
trabalho em dois aspectos que a compõem: na dimensão técnico-científica e na da organização
político-administrativa do trabalho. Isto significa que a VISA deve estar organizada e competente
para controlar/minimizar prospectivamente, os riscos que podem advir dos diversos sub-serviços
que compõem a organização hospitalar, requerendo, para tanto, ações de complementaridade e
interdependência entre os diversos processos de trabalho que a conformam, como princípios
norteadores da organização das práticas para o controle dos riscos sanitários.218
As ações de complementaridade e interdependência devem se assentar no trabalho em equipe e
na multiprofissionalidade, uma vez que os objetos de trabalho da VISA, particularmente na
organização hospitalar, são múltiplos e complexos e requerem além da integração disciplinar,
tratamento ético, político e institucional para a sua intervenção.218
As práticas da VISA são sustentadas pelos conceitos de risco, qualidade e segurança. Aqui, o
conceito epidemiológico de risco como probabilidade estatisticamente verficável de um evento
adverso à saúde, relacionado com determinado fator causal, é relevante, mas não suficiente para
fundamentar as atuações da vigilância sanitária, devido as ações eminentemente de proteção da
saúde, característica das ações do controle sanitário. Para a VISA, risco é sinônimo de
possibilidade, perigo, ameaça de dano e suas ações estão dirigidas, em geral, para o controle de
riscos e não necessariamente, para a fonte de riscos, como na área de atuação epidemiológica.
Neste sentido, a VISA trabalha com os princípios do risco potencial, conceituado como a
80
81
possibilidade de ocorrência de uma agravo à saúde, sem precisamente descrever o agravo e a sua
probabilidade de ocorrência. É um conceito que expressa um julgamentpo de valor sobre uma
exposição em potencial a um possível risco. O risco potencial é o risco do risco. Os conceitos de
qualidade em saúde, como atributos de produtos, processos e serviços, aliados aos conceitos de
eficácia e de segurança, constituem, junto com o de risco, os pilares norteadores das atividades do
controle sanitário.116-117,219
No contexto das atividades da VISA, em serviço hospitalar, a inspeção sanitária, a tecnologia de
trabalho mais utilizada por esta instituição, necessita incorporar outros atributos para transformar-
se em um poderoso instrumento de avaliação a ser utilizado como um monitor de risco e aplicado
com o objetivo de ser um indicador da possibilidade de ocorrência de uma dano.207,220
Nesse sentido, monitores de risco podem ser entendidos como sinais, eventos ou situações de
fontes potenciais de danos, presentes em produtos e processos dentro de um serviço de saúde,
detectados durante uma inspeção sanitária e que subsidiam o desencadeamento de ações de
avaliação e de controle. Os monitores de risco se assemelham aos sinais de alarme, pelas suas
características de chamar atenção para a possibilidade de ocorrência de um dano.207 Dessa forma,
os dados pontuais, isolados e, muitas vezes, subvalorizados, detectados rotineiramente durante
uma inspeção sanitária de um hospital, a exemplo da ausência de uso de indicadores biológicos
no processo de esterilização física de produtos médicos, da ausência de ar comprimido medicinal
para a secagem de produtos que contém lumen ou da alta freqüência de manutenção corretiva dos
equipamentos utilizados em procedimentos assistenciais, passam a ter a significância de um
monitor de risco ou de um sinal de alerta que pode assinalar possibilidades de danos, exigindo
uma ação pontual da vigilância sanitária nesse serviço. Para tanto, há que se ter profissionais da
VISA não apenas capacitados com todo o arcabouço legislativo necessário para esta atividade,
mas, também, com uma atuação antenada com a situação particular a ser avaliada, consciente de
seu papel de agente de prevenção de riscos, a utilizar plenamente suas tecnologias de trabalho.
Faz-se necessária, também, a elaboração de instrumentos de avaliação a serem utilizados nas
inspeções dos serviços de saúde, principalmente, dos hospitalares. Os roteiros de inspeção
elaborados pela ANVISA, além de poucos, não atendem às necessidades/especificidades das
VISAs estaduais e municipais pela, já conhecida, distinta realidade sanitária do país. Urgem,
portanto, roteiros de inspeção que traduzam a realidade do serviço de saúde a ser avaliado e, para
tanto, há necessidade da elaboração de vários roteiros de inspeção segundo o serviço de saúde a
81
82
ser inspecionado, a exemplo de roteiros para serviços hospitalares, para serviços oncológicos,
para serviços de terapia de substituição renal, para serviços de cirurgia ambulatorial, para
serviços de endoscopias, dentre outros. Desse modo, a inspeção sanitária não deve ser, a priori,
uma tecnologia de trabalho utilizada somente em situações agudas ou emergenciais, mas uma
poderosa ferramenta da vigilância sanitária que requer, principalmente, uma fase de planejamento
para responder as questões do tipo: qual o objetivo da inspeção, o que fazer, onde avaliar, o que
avaliar, como avaliar e por quanto tempo, quem são os avaliadores, quais os resultados da
avaliação, quais os desdobramentos da inspeção sanitária, que vão retroalimentar o controle
sanitário dos serviços, conforme sumarizado na figura abaixo.
Roteiro de inspeção
específico Monitores
de risco Ação
Planejamento corretiva
pontual
Inspeção sanitária em
Avaliação
Hospitais
sanitária
Retroalimentação
Suspensão temporária
Apreensão de de serviços
produtos Multas
82
83
83
84
gestão ética e socialmente responsáveis♦. Nesta linha de ação, estão surgindo empresas
intituladas de instituições de responsabilidade social, aquelas que adotam uma posição ética, de
livre e ativo compromisso de contribuirem com a melhoria da sociedade, tendendo a torná-la
mais solidária e sustentável, agindo para a construção de um meio ambiente mais limpo e mais
seguro. Essa dimensão confere um novo marco para o desenvolvimento das empresas, com
especial ênfase nos resultados sociais e ambientais, com responsabilidades para além do
cumprimento da legislação, pagamentos de impostos e geração de empregos, mas, também, da
adoção de medidas e atitudes organizacionais que contribuam para a melhoria da vida do nosso
planeta.222
Concluímos que, ao analisar qualquer arranjo que se imponha na implementação de uma
Vigilância Sanitária de Serviços de Saúde na organizacional hospitalar, não há como anular o
território tenso do fazer em saúde e não há como deixar de se experimentar a emergência de
novos processos instituintes que podem ser a chave para a reforma do próprio campo de prática,
desafio constante para qualquer paradigma a ser adotado.215
♦
Para maiores informações sobre empresas que objetivam associar crescimento econômico com atenção às
necessidades humanas como saúde, longevidade, participação social ver Amartya Sem. On ethics and economics.
Oxford:Blackewll, 1987.
84
85
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102
Resumo
Abstract
∗
Publicado na Revista Ciência e Saúde Coletiva em 9/4/2010.
102
103
Resumen
103
104
Introdução
104
105
105
106
Metodologia
Embora existam diferentes sistemas regulatórios de produtos médicos entre os países, todos
aplicam a filosofia do gerenciamento de risco. Assim, o grau de escrutínio regulatório, a ser
imposto para qualquer produto médico, deve ser proporcional ao seu risco potencial.16-19
Internacionalmente, há, também, uma variedade de níveis regulatórios no estabelecimento de
políticas de reuso de produtos médicos, que, de modo geral, tendem a ter um caráter preventivo,
com recomendações que objetivam a segurança da saúde pública.18
Na Austrália, o The Australian Therapeutic Goods Administration (TGA), órgão nacional
regulador de produtos médicos, emite o Australian Register of Therapeutic Goods (ARTG), que é
o número do produto a ser comercializado. Nesse país, o TGA permite o reuso de produtos
médicos de uso único somente nas condições em que esse produto mantenha a qualidade de um
equivalente original. Em dezembro de 2003, a Austrália e a Nova Zelândia assinaram um tratado
para normatizar produtos terapêuticos e médicos na forma de uma agência conjunta bi-nacional,
em substituição à Australian Therapeutic Goods Administration (TGA) e à New Zealand
Medicines and Medical Devices Safety Authority (MEDSAFE), a fim de estabelecer um esquema
regulatório conjunto para produtos médicos e medicinais, com previsão de ser operacionalizada
em 2006.8,18,20
No Canadá, a licença de um produto médico é concedida pelo Therapeutic Products Directorate
ainda não existindo uma norma federal regulando o reuso e reprocessamento de qualquer tipo de
106
107
produto médico. Em Quebec e Manitoba, existem algumas diretivas para hospitais acerca do
reuso desses produtos. Entretanto, as regulações do Canada’s Food and Drug Act and Medical
Devices, órgão nacional responsável pelos produtos médicos, direcionam-se para fabricantes e
comercializadores de produtos médicos, não objetivando o uso ou reuso desses materiais.5,8,14,18
O sistema regulatório de produtos médicos da União Européia (UE) é baseado na diretiva
2007/47/EC que designa responsabilidades do ciclo regulatório para os fabricantes de produtos
médicos, para o Estado e para as organizações de certificação, os chamados corpos de
certificação ou de notificação, que são organizações destinadas a realizarem auditorias de
produtos e sistemas de qualidade. As Diretivas da União Européia não são direcionadas para o
reuso e reprocessamento de produtos médicos, embora a prática do reprocessamento desses
materiais seja freqüente e heterogênea entre os países membros.10,14 De modo geral, nenhuma
autoridade européia possui uma política documentada, embasando e assegurando o reuso de
dispositivos médicos de uso único. A prática do reprocessamento desses materiais é bastante
difundida através dos países membros da UE e, atualmente, o status regulatório legal desses
países é bastante heterogêneo. Não existe nenhum nível regulatório para o reuso e
reprocessamento de produtos médicos de uso único na Áustria, na Bélgica, na Dinamarca, na
Grécia, e na Suíça. O reuso e reprocessamento é parcial ou indefinido em países como Noruega,
Suécia, Itália, Portugal e Alemanha. O reuso é proibido na Finlândia, na França, na Hungria, no
Reino Unido e na Espanha.10,18
No Reino Unido, em 2003, a agência de dispositivos médicos (The Medical Devices Agency),
uniu-se à agência de controle de medicina (The Medicines Control Agency), surgindo, dessa
maneira, o The Medicines and Healthcare Products Regulatory Agency (MHRA), que se constitui
numa agência executiva do departamento de saúde do país, responsável pela proteção da saúde
pública. O MHRA se posiciona fortemente contra o reuso de dispositivos descartáveis e
argumenta que tal prática compromete a segurança, desempenho e efetividade dos produtos, além
de que o risco de exposição para pacientes e reprocessadores é maior do que qualquer benefício.20
Nos EUA, o The Center for Devices and Radiological Health (CDRH), um órgão do Food and
Drug Administration (FDA), é responsável pela regulação sanitária das empresas que fabricam,
embalam, rotulam e/ou importam produtos médicos. Em 1999, este reestruturou sua política de
reutilização de dispositivos de uso único, segundo um princípio de equidade regulatória, no qual
fabricantes de produtos médicos originais, empresas reprocessadoras terceirizadas e instituições
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108
hospitalares estão num mesmo patamar de controle regulatório. Ficaram excluídos, dessa
legislação, instituições de saúde não hospitalares (clínicas, hospitais-dia, unidades de cuidados
prolongados, cuidado domiciliar), dispositivos de uso único abertos, mas não usados, marca-
passos de implante permanente e hemodializadores.1,3,8,17,19,21-26
O FDA classifica os produtos médicos segundo o grau de risco que representam para a segurança
do paciente, dispondo-os em três classes: classe I (risco mínimo), classe II (maior risco) e classe
III (alto risco). Os produtos das classes I e II requerem notificação pré-comercialização,
denominado 510K, que consiste num processo de autorização, demonstrando que o produto
médico proposto é equivalente, em segurança e efetividade, a um produto já comercializado no
país. Os produtos classe III requerem uma autorização pré-comercialização, o PMA, que deve
demonstrar, por evidências científicas validadas, a segurança e a efetividade do produto. O
reprocessamento dos produtos médicos de uso único das classes I, II e III seguem as mesmas
normativas acima descritas.1,3,8,17,19,21-26
Para o FDA, o risco à saúde, associado ao reprocessamento de produtos médicos de uso único,
varia de acordo com o tipo de cada produto. Hospitais e empresas reprocessadoras que realizam
esta prática, são considerados como fabricantes e a submissão a essa Agência, para liberação do
reprocessamento de um produto de uso único, depende da classificação do produto. Desse modo,
o reprocessamento de produtos de uso único classe I e II exige submissão de notificação pré-
comercialização, enquanto os produtos de classe III, exigem uma aprovação pré-comercialização.
Em outubro de 2002, o FDA incluiu dados de validação dos processos de limpeza e esterilização,
além dos dados que demonstram que esses produtos mantêm a funcionalidade de um produto
substancialmente equivalente, mesmo após o número máximo de vezes que o dispositivo é
reprocessado, como declarado na notificação pré-comercialização. A notificação pré-
comercialização e a aprovação pré-comercialização (PMA) são específicas para cada produto,
deste modo, cada dispositivo, a ser liberado para reprocessamento, requer um 510 K ou um
PMA.1,16-17,22-26
Atualmente, os Estados Unidos apresentam o mais rigoroso controle regulatório estabelecido para
as práticas de reuso e reprocessamento de produtos médicos do mundo. Entretanto, as normativas
desse país, fixadas pelo FDA, tal como ocorre em outros países, são obscuras em pontos cruciais
do reprocessamento, suscitando questões quanto à implementação dessas normativas,
especialmente nas instituições hospitalares norte-americanas.
108
109
Os artigos de uso único são objeto de preocupação do Ministério da Saúde (MS), que, desde
1984, quando ocorreu uma Reunião de Peritos, vem discutindo e tentando regulamentar o reuso
desses produtos no país. Em 1986, foram expedidas as Portarias MS n˚ 03 e 04, que traziam
definições e normas sobre o reuso de artigos descartáveis.
Em 2006, a ANVISA editou, em 11 de agosto, a Resolução da Diretoria Colegiada - RDC n˚ 156,
que dispõe sobre o registro, rotulagem e reprocessamento de produtos médicos; a Resolução
109
110
110
111
potencial dos custos institucionais e atentar que determinados riscos podem não ser detectáveis
e/ou preveníveis. Os eventos adversos relacionados ao reprocessamento, frequentemente são sub-
informados, em grande parte por deficiências dos sistemas de vigilância sanitária, havendo
dificuldades para determinar a real causa dos eventos e questões de responsabilidade ética que
envolvem esses procedimentos.3,8,14
Diante dessas considerações, questiona-se o que realmente deve distinguir um produto de uso
único de um produto reusável e quais critérios a agência regulatória brasileira (ANVISA) utiliza
para aceitar, do fabricante, o rótulo de um produto como de uso único ou de uso permanente. Para
autores6,31 o que difere um dispositivo médico de uso único de outro reusável transcende
questões econômicas, ou de complexidade tecnológica, e centra-se na exclusiva descrição e
intenção do fabricante do produto.
Não existem padrões consensuais que diferenciem qualidade, funcionalidade ou vida útil entre
produtos reusáveis ou de uso único.31 O FDA especifica que a instituição ou profissionais, que
reusam produtos de uso único, devem demonstrar que o artigo pode ser adequadamente limpo e
esterilizado e que as características físicas ou a qualidade do artigo não foi afetada,
permanecendo segura e efetiva para o uso clínico pretendido. Esse critério deveria, também, ser
aplicado igualmente para instrumentos reusáveis que são reprocessados nos hospitais.
Quanto aos aspectos de ordem legal, ainda não existe, no Brasil, legislação específica que impute
ao promotor do reuso, qualquer responsabilidade criminal, situação esta freqüente nos Estados
Unidos. Nessa linha de considerações, surge um conjunto de indagações sobre questões cruciais,
ainda não definidas no país, a exemplo da responsabilidade legal pela qualidade dos materiais
reprocessados, sejam de uso único ou múltiplo, se as instituições hospitalares ou as empresas
reprocessadoras. Se a maioria das empresas reprocessadoras apenas esteriliza o material, cuja
limpeza é realizada nas instituições hospitalares, como dividir essas responsabilidades? Como
uma empresa reprocessadora terceirizada pode assegurar a esterilização se não realiza ou
desconhece como foi realizado o processo de limpeza e enxágue do artigo a ser esterilizado?
Como as instituições hospitalares estabelecem a cobrança de um artigo utilizado várias vezes?
A despeito de avanços na regulamentação brasileira sobre reprocessamento de produtos médicos,
vários dispositivos das referidas Resoluções da ANVISA 156, 2.605 e 2606 estão mal
formulados, contêm imprecisões e conteúdo vago, dando margem a diversificadas interpretações
111
112
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113
tendo em conta a imensidão de produtos médicos existentes em uma instituição de saúde? Qual
deverá ser a periodicidade mínima desses testes? Como elaborar um prontuário para cada artigo
crítico e semi-crítico com os dados exigidos por essa normativa, considerando a realidade físico-
funcional-organizacional da maioria das CMEs dos hospitais do Brasil e a vastidão de produtos
que compõem o seu arsenal?
Uma análise recente da regulamentação da ANVISA, sobre reprocessamento de produtos
médicos, aponta doze nós críticos, a exemplo da baixa sensibilidade de critérios para a definição
de produto de uso único, ausência de transparência de critérios utilizados na elaboração da lista
negativa de produtos e sua potencial obsolescência, entre outros, que dificultam a
operacionalização dessas normas32. Segundo essa análise, a lista negativa de produtos da
Resolução 2.605 desvia a atenção do risco real, associado aos processos de limpeza, desinfecção,
esterilização e seus controles de qualidade, para um risco potencial de o que pode e o que não
pode ser reprocessado, minimizando a problemática do processo de trabalho das CMEs do país,
cerne da segurança de qualquer produto a ser reprocessado.
Diante do exposto, questiona-se como lidar com a incerteza científica associada ao
reprocessamento de um artigo, seja de uso único ou reprocessável, sem as condições básicas,
ditas pela literatura, que possam garantir a segurança dos processos? Que estratégias políticas
devem ser adotadas pelos gerentes de hospitais para a realização segura do reprocessamento de
produtos médicos, sejam descartáveis ou reusáveis? Como validar os protocolos de
reprocessamento nas CMEs das unidades de saúde de um país, com tanta diversidade e
especificidades como o nosso, sem uma diretriz que contemple essas diferenças? Como
monitorar/fiscalizar/controlar esses processos nas inúmeras unidades de saúde do país? Os
profissionais de vigilância sanitária, que devem fiscalizar o cumprimento das normas sanitárias,
têm condições de realizar o controle dessa atividade?
Trata-se de relevante problema de saúde pública, do âmbito da vigilância sanitária, que é
definida, na Lei Orgânica da Saúde (n˚ 8.080/1990), como um conjunto de ações capaz de
eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes
do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da
saúde. Cabe-lhe, portanto, a tarefa não apenas de normatizar, mas também de fiscalizar o
cumprimento das normas que visam a proteção da saúde.
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114
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Associação Paulista de Estudos e Controle de Infecção Hospitalar (APECIH).
Reprocessamento de Artigos de Uso Único. São Paulo: APECIH; 2008.
117
118
Resumo
Abstract
The reprocessing of medical articles is a practice that has raised questioning, especially with
respect to the potential risk of infection, but also with regard to functionality after processes for
cleansing, or disinfection, or sterilization. Review the state-of-the-art regarding control of risks
associated to reprocessing of medical articles, and to analyze the problems raised as a subsidy for
the proposition of guidelines for reprocessing. A literature search was made without restrictions
on date or language, using national and foreign databases, with the help of specific descriptors.
The studies underscore the complexity involved in the evaluation of risks associated to the
reprocessing of medical articles, either those considered recyclable or those viewed as single-use,
both of which are difficult to assess on the basis of dose-response evaluations. The findings
subsidized the formulation of a methodology for management of risk associated to reprocessing
of medical items, based on the principle of precaution.
∗
Encaminhado para publicação à Revista Ciência & Saúde Coletiva em 16/8/2010.
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Resumen
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120
Os avanços científicos e tecnológicos muito têm contribuído para a melhoria geral da vida do
homem, especialmente na área da saúde, possibilitando o aumento da qualidade e do tempo
médio de vida. Entretanto, essas tecnologias são tributárias, também, de novos riscos como os
advindos dos campos eletromagnéticos de baixa freqüência, os radioativos, os químicos, os
biológicos, os infecciosos, entre outros, provocando a afirmação de um novo paradigma, o da
segurança.1
Risco é um termo polissêmico, de múltiplos significados. É utilizado, no senso comum, como
perigo, ameaça, dano ou perda de algo precioso, chance ou possibilidade de um acontecimento
qualquer. O risco pode ser visto essencialmente como uma percepção, sensação ou um
julgamento de valor, tendo, portanto, um elemento subjetivo neste significado. Risco se refere à
probabilidade de ocorrência de um evento particular, adverso ou indesejado, e sua severidade,
usado como medida de impacto ou associado a diferenciais de morbidade ou mortalidade entre
grupos, com e sem um determinado atributo, constituindo-se no risco epidemiológico ou clássico.
Independente da polissemia do termo, há um consenso de que o risco é elemento central, na
sociedade atual, e indutor de tomada de decisão racional, face à crescente incerteza na cultura
moderna.2-7
A avaliação de risco, como atividade organizada a nível federal, nos EUA, iniciou-se na década
dos anos 1970 e, em 1983, o Food and Drug Administration (FDA) solicitou um estudo à
Academia Nacional de Ciências (National Research Council) que resultou numa grande obra
sobre riscos, intitulada Risk Assessement in the Government: Managing the Process,, e
internacionalmente conhecido como Red Book, que estruturou um modelo de avaliação de risco
em diversas áreas naquele país, constituindo, ainda hoje, um marco referencial nesse campo. A
sistematização da análise de risco, desse estudo, resultou numa clara separação entre avaliação de
risco (risk assessment) e gerenciamento de risco (risk management). Enquanto a avaliação de
risco é uma atividade de natureza mais científica, ligada à pesquisa, a estatística e a
epidemiologia, procurando definir a relação causa-efeito dos eventos, o gerenciamento de risco é
uma ação de orientação político-administrativa, que utiliza os dados da avaliação de risco
120
121
integrados aos dados dos contextos político, social e econômico para definir se o risco pode ser
aceitável, definindo, dessa maneira, as ações regulatórias.8
Nessa concepção, a avaliação de risco é a caracterização científica sistematizada de efeitos
adversos potenciais à saúde resultante da exposição humana a agentes ou situações perigosas. O
gerenciamento de riscos é o processo no qual ações políticas são determinadas para o
enfrentamento dos perigos identificados na avaliação/caracterização dos riscos, considerando
questões sociais, econômicas, políticas e culturais, ponderando as alternativas e elegendo ações
político-regulatórias apropriadas.8-12
A avaliação de risco contém os seguintes elementos, ou alguns deles: identificação do risco, que
se constitui no processo para determinar se a exposição a um agente particular pode causar um
aumento na incidência de uma condição de saúde, envolvendo a caracterização da natureza e da
potência da evidência de causação; avaliação dose-resposta, que é a relação entre a dose de um
agente administrado, ou recebido, e a incidência do efeito como uma função da exposição
humana ao agente, levando em consideração a exposição e a possibilidade de outras variáveis que
podem afetar a resposta como sexo, estilo de vida e outros fatores; avaliação da exposição, que é
o processo de medir ou estimar a intensidade, freqüência e duração da exposição humana a um
agente, descrevendo a magnitude, duração, rota de exposição, tamanho, natureza e classe de
populações humanas expostas; caracterização do risco que é o processo de estimativa de efeitos
na saúde sob as várias condições da exposição humana descrita na avaliação da exposição, sendo
esta última uma combinação da avaliação dose-resposta e da avaliação da exposição.8-9,13
A avaliação de riscos subsidia o processo de gerenciamento de riscos, realizado pelo Estado que
se estrutura em três etapas: estabelecimento das opções regulatórias e tomada de decisão, quando
são levantadas as possibilidades de ações para minimizar riscos, segundo a viabilidade político-
econômico-social das ações e o contexto situacional; implantação das ações de controle e
comunicação dos riscos, processo que deve instrumentalizar as medidas necessárias para a
efetivação das ações regulatórias e o momento de informação da sociedade sobre os riscos;
avaliação das ações de controle, que consiste no julgamento das ações implementadas e
redireciona novas ações.14
Este estudo prioriza o risco decorrente do uso de tecnologias para a saúde e tem por objetivo,
revisar o estado da arte sobre risco associado ao reprocessamento de produtos médicos, a fim de
121
122
analisar essa problemática e suas implicações para a saúde coletiva, bem como subsidiar uma
proposta para o seu gerenciamento.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa de síntese, realizada através de uma pesquisa bibliográfica sem
restrição de tempo e idioma, utilizando as seguintes bases de dados: Web of Science, Pubmed,
Scielo e Lilacs, com o auxílio dos seguintes descritores: reprocessing devices medical;
reprocessing devices single-use; reuse device material; reprocessing and risk. Identificaram 71
artigos e selecionaram 36, cujo objeto de interesse se centrava especificamente, na questão do
risco relacionado ao reprocessamento e reuso de produtos médicos. Foram excluídos os artigos
que tratavam do reprocessamento de produtos médicos, sem a abordagem do risco.
Neste artigo, utiliza-se o termo produto médico como sinônimo de dispositivo, equipamento,
material e artigo médico e risco conforme o conceito empregado pela Organização Mundial de
Saúde como uma medida da combinação de um perigo, da possibilidade de um evento adverso e
da severidade ou impacto geral.
122
123
2.000 tipos de instrumentais cirúrgicos, 450 diferentes tipos de materiais implantáveis e mais de
um milhão de diferentes marcas, modelos e tamanhos em todo o mundo. Esse crescente parque
industrial segue a racionalidade capitalista, cuja dinâmica competitiva compreende a saúde não
como um direito humano, outorgado pela Constituição Brasileira, mas como um bem de mercado
referente a vários agentes econômicos como os consumidores, os prestadores e os
financiadores.17-19
Um produto ou dispositivo, usado em cuidados médicos, varia de equipamentos muito simples
como seringas e agulhas, a itens de tecnologia sofisticada, tais como equipamentos anestésicos,
instrumentais cirúrgicos, transdutores cardíacos, próteses, stentes coronários, cateteres etc, e são
definidos como qualquer equipamento usado para tratar, diagnosticar ou prevenir doenças.18,20 A
Organização Mundial de Saúde (OMS), as normativas da União Européia, dentre outros órgãos,
definem um dispositivo médico como qualquer instrumento, aparato, utensílio, material ou outro
artigo, intencionado pelo fabricante para ser usado em humanos, com a proposta de diagnóstico,
prevenção, monitoramento, tratamento ou alívio de doença ou injúria, investigação, substituição
ou modificação da anatomia, ou processo fisiológico, ou controle de concepção, nos quais não
realiza sua ação principal dentro ou sobre o corpo humano por meios farmacológicos,
imunológicos ou metabólicos.12,17,20-21 Assim, a diferença principal entre um fármaco e um
produto médico é que o primeiro interage com o paciente diretamente, enquanto que o segundo
somente interage com o paciente através de um intermediário, que é o profissional de saúde,
acrescendo, nessa interação, mais um risco, relacionado com a performance/habilidade/qualidade
desse ator-cuidador no momento da utilização do produto.
Todo produto médico, usado na assistência à saúde porta um grau de risco e pode causar
problemas em determinadas situações. Neste sentido, não existe segurança absoluta quando do
uso desses dispositivos. A decisão de adotar um procedimento clínico, utilizando um produto
médico, requer um balanceamento entre os riscos considerados residuais e os benefícios previstos
do procedimento.10,22-24 Benefício originado de um produto médico é aquele relacionado com a
probabilidade da melhoria de um paciente.24
O risco apresentado por um dispositivo médico depende, em parte, da intenção de uso, do modo
como o produto é usado e do seu grau de complexidade tecnológica. Dois principais tipos de
riscos estão associados com o reuso de um dispositivo médico, independente do artigo de uso
único ou de uso múltiplo: o risco de transmissão de infecção e o risco de alteração do
123
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125
126
infecção, está associada a falhas nas etapas do reprocessamento e não com o método do
reprocessamento em si.35-37
Consideramos evento adverso qualquer agravo à saúde ocasionado a um paciente ou usuário em
decorrência do uso de um produto submetido ao regime de vigilância sanitária, tendo sua
utilização sido realizada nas condições e parâmetros prescritos pelo fabricante.12,17,20 Eventos
adversos em produtos médicos são eventos não-usuais, e não-esperados, associados ao uso do
produto, que aumentam ou potencializam a ocorrência de efeitos não desejáveis, envolvendo a
segurança dos pacientes, usuários e outros. Nem todo incidente com produto médico conduz a um
evento adverso, mas todo incidente deve ser investigado para identificar problemas no produto
que possam resultar em agravo para o paciente e/ou para os profissionais de saúde. Eventos
adversos podem decorrer de diversas falhas: do próprio produto durante sua fabricação; de
instruções de uso inapropriadas; de defeitos após ajustes e serviços de manutenção; da prática
decorrente da sua manipulação/procedimento; do ambiente onde o produto é utilizado ou
estocado; e de prescrições incorretas. Nesse sentido, tanto a indústria fabricante quanto as
instituições de saúde são co-responsáveis pelos eventos adversos associados ao uso de produtos
médicos.17,20
Embora o reprocessamento de produtos de uso único possua um risco teórico à saúde, há
evidências clínicas de que certos produtos podem ser seguramente reprocessados, a exemplo dos
cateteres de eletrofisiologia, comercializados como artigos de uso único e reprocessados há mais
de vinte anos nos EUA37-38, os acessórios para cirurgias vídeo-laparoscópica - pinças grasper,
dissector, tesoura, agulha de veress - como evidenciado em determinado estudo39 - , e os cateteres
de angiografia cardiovascular estudados40. Entretanto, é também claro que os produtos de uso
único, em sua maioria, não são seguros para reprocessamento, dada a imposssibilidade de
limpeza desses materiais e, consequentemente, de esterilização, além dos riscos associados à não
funcionalibidade após o reprocessamento.25,28,37,41-43
Dentre os vários riscos associados ao reuso de produtos médicos de uso único, autores28,36,42,44
citam os seguintes: infecção; biofilmes; contaminação do material com endotoxinas; presença de
resíduos tóxicos dos produtos usados para a limpeza e desinfecção, ou esterilização;
bioimcompatibilidade com proteínas dos últimos usuários que eventualmente permaneceram no
material; inconfiabilidade funcional; ausência de integridade física e de barreiras de proteção;
entre outros.
126
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128
(2) as características físicas e a qualidade do produto não são adversamente afetadas com o
reprocessamento; (3) o produto permanece seguro e efetivo para o seu uso intencionado. Esse
guia, emitido em 1987, revogou uma posição anterior do FDA que proibia o reuso de cateteres
centrais e de fios-guia.46
O FDA havia proibido, em 1981, o reuso de cateteres cardíacos de angiografia em razão da alta
incidência de reações pirogênicas em pacientes submetidos a esse procedimento. A mudança
dessa posição, em 1987, deu-se em função da dificuldade em distinguir reações adversas
atribuídas a resíduos de endotoxinas de outras reações relacionadas ao contraste utilizado nesses
cateteres. Estudos comparando os sinais e sintomas de reações pirogênicas (febre não explicada,
tremores, hipotensão arterial), em pacientes com cateteres venosos centrais, não encontraram
diferenças entre o uso de cateteres novos e reusados, sugerindo que o meio de contraste usado
para todo procedimento de angiografia pode ser um fator contribuinte para pirogenias.46
Cresce o número de pesquisas na área do reprocessamento de produtos médicos de uso único com
o objetivo de melhor compreender os riscos relacionados com essa prática. Em 1996, a Canadian
Healthcare Association46 empreendeu uma extensa investigação bibliográfica em busca de
evidências científicas sobre o reprocessamento e reuso de dispositivos descartáveis, a fim de
subsidiar as unidades de saúde canadenses no julgamento do mérito das práticas de reuso. A
despeito da abundância de informações acerca do reuso de produtos descartáveis, registrada nesse
estudo, o documento conclui que a evidência científica a favor dessa prática é limitada e pontual,
que os estudos publicados, em sua maioria, são retrospectivos e não empregam desenhos
controlados ou randomizados e que a maioria dos dados de segurança e efetividade é relacionada
com cateteres cardíacos e hemodializadores. Uma das recomendações derivadas desse estudo
apontou a necessidade a qual um programa de reuso de produtos descartáveis deveria incluir os
seguintes objetivos: análise de custos; desenvolvimento de procedimentos prospectivos de
reprocessamento e sua validação; e um programa de treinamento para colaboradores.
Em Toronto, o Ministério da Saúde e uma associação científica, o Provincial Infectious Diaseses
Advisory Commitee47, recomendam que, para o reprocessamento de um produto médico
descartável, faz-se necessárias as seguintes condições: manutenção da integridade e
funcionalidade do produto; traceabilidade do produto; habilidade para recolhimento do produto;
realização de testes de apirogenicidade e existência de um programa de controle de qualidade e
capacidade para reportar eventos adversos.
128
129
129
130
mais, elas recomendam que o reprocessamento de alguns produtos de uso único é possível em
condições controladas, sendo impossível o reprocessamento indiscriminado.
Um estudo que objetivou identificar evidências científicas em relação ao efeito do
reprocessamento dos cateteres cardíacos, concluiu que, apesar da existência de diversos estudos
primários publicados na literatura, persistem as dúvidas em relação à segurança do reuso na
questão da limpeza e esterilidade dos cateteres de hemodinâmica.49
No Canadá, pesquisadores50 avaliaram, através de uma revisão bibliográfica sistemática, as
evidências do reuso de produtos descartáveis quanto à segurança, à efetividade e aos custos e, a
exemplo do estudo da Nova Zelândia, encontraram trabalhos de qualidade variável e
metodologias distintas, concluindo que as evidências científicas são insuficientes para estabelecer
segurança, eficácia e custo-efetividade para o reuso de produtos de uso único.
Em 2008, outros autores brasileiros51 analisaram os desafios e limitações para a validação dos
produtos médicos de uso único quanto à limpeza, à esterilização, à funcionalidade e a integridade
e revisaram publicações entre os anos de 2002 a 2007. Constatou-se que, dentre as limitações da
validação desses produtos, destacou-se a impossibilidade da extensão dos resultados para todas as
categorias de produtos de uso único.
Analisando os resultados dos estudos, acima citados, conclui-se que os dados da literatura
corroboram muito mais para a construção de uma base teórica do que para a clarificação de
evidências científicas sobre a problemática do reprocessamento de produtos médicos de uso
único, mantendo-se a controvérsia em relação ao tema, com alguns estudos in vitro dando suporte
à prática desse reuso e outros definindo problemas com a limpeza, integridade, compatibilidade
desses materiais. O consenso em relação aos riscos, relacionados com a reutilização de produtos
de uso único, é de que existe um potencial para dano (injúria), infecção e eventos adversos na
reutilização de materiais de uso único, embora os estudos recentes não evidenciem que esses
riscos sejam significativamente maiores do que aqueles experenciados com produtos
reusáveis.20,36-38,43,46
Adicionalmente, há dificuldades em informar eventos adversos conseqüentes ao reprocessamento
e reuso, devido à ausência de um sistema de vigilância de produtos médicos e de métodos de
monitoramento desses produtos após uso clínico, além da possibilidade de questões de
responsabilidade legal.20,38 Evidencia-se, portanto, que o risco associado ao reuso de produtos
médicos em pacientes expostos não é adequadamente documentado, em decorrência da
130
131
Pelo exposto, torna-se claro que os produtos médicos, como outras tecnologias, representam
riscos à saúde coletiva, conquanto ainda pouco caracterizados por um estado fluído e incompleto
do conhecimento científico, por se mostrarem difíceis de serem quantificados e analisados da
forma tradicional, como realizada nas avaliações do tipo de dose-resposta. Ademais, pela
dificuldade na obtenção de dados que apontem a real probabilidade da ocorrência de um dano e
sua severidade, relacionado com o reprocessamento de produtos médicos – reusáveis e os de uso
único. Talvez, o conceito de risco residual seja o mais indicado quando do monitoramento de
riscos nesta área.
Desse modo, os processos decisórios sobre risco associado com o reprocessamento de produtos
médicos exigem novas formas de compreensão, à luz do princípio da precaução. Tal princípio -
que orienta e exige direcionar as ações mesmo na ausência de prova científica da existência de
risco impõe-se, especialmente, aos poderes públicos, a fim de prevalecer imperativos de saúde e
segurança em situações que configurem perigos para os homens e o meio ambiente.52-53
No propósito de produzir subsídios para se operacionalizar medidas de controle e de
gerenciamento do risco associado ao reprocessamento de produtos médicos nos serviços de saúde
brasileiros, apresentamos o fluxograma a seguir que apresenta as bases conceituais e a resposta de
um conjunto de ações direcionadas para os serviços de saúde que realizam o reprocessamento de
produto médico.
131
132
Anális
e de PM crítico, semi-crítico e não crítico
risco Classificação do PM segundo grau
de risco
Limpeza
Desinfecção ou Esterilização
132
133
Tendo em vista que os produtos médicos somente podem causar um dano ao paciente se uma
sequência de eventos concorrem para a ocorrência de situações perigosas10,24, o fluxograma, visto
anteriormente, faz uma adaptação das etapas do reprocessamento de produtos médicos, situando-
as, segundo os conceitos de análise, avaliação, controle de risco e informações após os processos,
compondo, assim, o gerenciamento de risco. Nesse modelo, os produtos médicos, submetidos ao
reprocessamento, devem ser classificados quanto ao risco de transmitirem infecção em críticos,
semi-críticos e não críticos, sendo esta a etapa da análise de risco dos produtos. Após a
classificação, o produto médico deverá ser descontaminado conforme o seu grau de risco,
aplicando-se os seguintes procedimentos: limpeza como passo inicial e essencial; esterilização
para produtos classificados como críticos; desinfecção de alto nível, para produtos semi-críticos;
e desinfecção de baixo nível, para os definidos como produtos não críticos. Nessa etapa, faz-se,
também, necessário estimar o risco envolvido em cada método de descontaminação, constituindo
as ações de avaliação de risco. O controle de risco em reprocessamento de produtos médicos
prevê um conjunto de atividades que resultam: a) na identificação e seleção das medidas de
controle de risco para cada método de descontaminação a ser utilizado; b) registro e verificação
da realização desses controles; c) ações de rastreamento dos produtos esterilizados segundo
indicadores físicos, químicos e biológicos. Finalmente, o gerenciamento de risco, nessa área,
também requer informações acerca dos produtos reprocessados, a fim de monitorar os eventos
adversos oriundos dessa prática, com o objetivo de agir prontamente sobre os mesmos.
Considerações finais
133
134
que sejam obtidas evidências objetivas a respeito da caracterização dos riscos e seus possíveis
danos.
O conceito de risco aceitável, introduzido pelas ISOs já citadas, apesar de ser um atributo valioso
no gerenciamento de produtos médicos, ainda não tem consenso e tem gerado significantes
debates acerca do que constitui um nível de risco aceitável em produtos médicos. Além disso, não
há evidências, na literatura, acerca do risco aceitável para produtos médicos em situações de
reprocessamento.
Nesse sentido, as ISOs, referidas neste estudo, não tratam do gerenciamento dos riscos dos
produtos médicos, em condição de reuso e reprocessamento, embora muitos dos seus princípios
possam ser aplicados, como o que afirma que um risco somente pode ser avaliado e gerenciado
uma vez que uma situação perigosa tenha sido identificada. Dessa forma, para identificar
situações perigosas e estabelecer medidas de prevenção e controle, o gerenciamento de riscos em
reprocessamento de produtos médicos requer uma análise das variáveis envolvidas nesse
processo, desde o desenho do produto, dos materiais que o constituem e da sua compatibilidade
com os processos de limpeza, desinfecção e esterilização, até às outras situações que concorrem
para a eficácia dos processos de descontaminação.
A implementação de um programa de reutilização de produtos médicos, num serviço de saúde,
deve ser objeto de uma definição a nível institucional e não departamental, com o
estabelecimento de uma política formalizada de reuso que possa garantir a segurança e eficácia
dos protocolos de reuso. Para tanto, faz-se necessária a análise das questões gerenciais e
operacionais a serem realizadas na unidade reprocessadora desses dispositivos, tais como a
capacidade interna da execução de testes de função e integridade dos produtos médicos, os testes
químicos para avaliação de resíduos orgânicos após limpeza, a qualidade da água em todas as
fases dos processos, a segurança dos profissionais manipuladores, além das considerações quanto
às possíveis responsabilidades legais implicadas nessa prática.
Face ao estado da arte sobre o tema, questões e argumentos apresentados é possível concluir que
a implementação de um sistema de gerenciamento de risco, em reprocessamento de produtos
médicos, é uma estratégia relevante para os serviços de saúde efetuarem o controle de risco
relacionado com essa prática.
134
135
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138
139
Resumo
Abstract
Reprocessing of medical products is an extremely important and complex process that requires
both, the operational skills for its implementation, and the technical qualification of the
professionals involved in the activity. The typical questions in reprocessing medical products
involve issues that are technical, economic, and regulatory, either regarding reusable items or
regarding those destined for single use. The purpose of the present study is to propose a new
regulatory model for the reprocessing medical products in Brazil. This model must, on the one
hand, satisfy the requirements for quality and safety, as recommended in the literature and, on the
other hand, prove to be operational under the conditions prevailing in Brazilian hospitals. The
elaboration of the present normative proposal was based on the Consensus Conference technique
among specialists in the area. Guided by the contribution of these specialists, a proposal is put
forth of a regulatory model for reprocessing medical products, so as to address some previously
identified gaps in the normative body currently used in Brazil.
∗
Submetido para publicação à Revista de Enfermagem da Universidade Estadual de São Paulo em 18/10/2010.
Aceito para publicação em 15/03/2011.
139
140
Resumen
140
141
Introdução
∗
Neste artigo, utiliza-se o termo produto médico como sinônimo de dispositivo, equipamento, material e artigo
médico.
∗
Utiliza-se o termo descontaminação no latu senso, para designar a remoção/destruição de micro-organismos.
141
142
São dois os principais tipos de riscos que estão associados com o reuso de um dispositivo
médico, independente se de uso único ou de uso múltiplo: o risco de transmissão de infecção e o
risco de alteração do desempenho do produto após o reprocessamento. Nessa área, a avaliação de
risco se refere ao potencial de perigo de um produto médico, que possa resultar em um dano e em
um problema de segurança para pacientes e profissionais de saúde.1,6,12-13
Internacionalmente, há uma variedade de níveis regulatórios no estabelecimento de políticas de
reuso de produtos médicos, que, de modo geral, tendem a ter um caráter preventivo, com
recomendações que objetivam a segurança da saúde pública.14-16
No Brasil, a regulação vigente sobre reprocessamento de produtos médicos data de 2006, quando,
após algumas normativas nessa área, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)
editou, em 11 de agosto, a Resolução da Diretoria Colegiada - RDC n˚ 156, que dispõe sobre o
registro, rotulagem e reprocessamento de produtos médicos; a Resolução Especial - RE n˚ 2.605,
que estabelece uma lista de 66 produtos proibidos de reprocessamento no país; e a RE n˚ 2.606,
que define as diretrizes para elaboração, validação e implantação de protocolos de
reprocessamento de produtos médicos.2,17-18 A despeito dos avanços na regulamentação brasileira
sobre reprocessamento de produtos médicos, verifica-se, na experiência prática, que essas
normativas estão sendo retardadas em sua implementação nos hospitais brasileiros. Vários
dispositivos, das referidas resoluções da ANVISA, estão mal formulados - contêm imprecisões e
conteúdo vago - dando margem a distintas interpretações por parte dos serviços de saúde,
empresas terceirizadas de reprocessamento e fabricantes, ou importadores desses produtos. Além
das questões que suscita, a dificuldade em operacionalizar o marco regulatório legal sobre
reprocessamento de produtos médicos no Brasil, desafia a própria legitimidade da norma
regulatória, reafirmando a importância da problemática que envolve a reutilização de produtos
médicos, tanto os reusáveis quanto os considerados de uso único.
Face aos problemas à saúde coletiva, relacionados ao reprocessamento de produtos médicos
sumarizados nesta introdução, este estudo, que integra uma investigação mais ampla, tem o
objetivo de desenvolver um modelo regulatório de reprocessamento de produtos médicos que
atenda aos requisitos de qualidade e de segurança ditados na literatura e que seja, ao mesmo
tempo, operacional para os serviços hospitalares brasileiros. Ao propor esse modelo para o
Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), pretende-se contribuir com a formulação de
políticas voltadas para o controle de melhorias de qualidade dos serviços de saúde no país.
142
143
Metodologia
Na 1ª. etapa, os especialistas participantes receberam, por correio eletrônico, uma proposta de
regulação do reprocessamento de produtos médicos, sendo, nesse momento, solicitados a
manifestarem, individual e secretamente, sua posição de concordância ou discordância com a
proposta apresentada neste estudo. Nessa etapa, os especialistas foram solicitados a atribuir
pontos de zero a dez aos critérios apresentados, conforme a relevância científica e prática
operacional dos mesmos. O ponto zero equivaleu à eliminação do critério proposto e o ponto dez
equivaleu à aceitação máxima do critério. Cada pontuação recebeu uma justificativa por parte do
especialista. As respostas dos especialistas foram devolvidas, também, por correio eletrônico, no
prazo máximo de 10 dias contados a partir da data do envio.
Na 2ª. etapa, em reunião presencial com os especialistas, apresentou-se a proposta originalmente
formulada, mostrando-se os pontos, por eles atribuídos, aos critérios sugeridos na 1ª. etapa, as
●
Estudo de desenvolvimento objetiva desenvolver/melhorar uma intervenção. Ver Contandriopoulos AP et al. Saber
preparar uma pesquisa: definição, estrutura, financiamento. São Paulo: Hucitec/Rio de Janeiro: ABRASCO;1994.
143
144
Na 3ª. etapa, os especialistas receberam novamente, por correio eletrônico coletivo, a proposta
recomendada e resultante da etapa presencial, quando estes foram solicitados a atribuírem uma
nova pontuação aos critérios já conhecidos e trabalhados. Nessa etapa, a inclusão de um novo
critério só foi considerada se unânime e consensual entre os três especialistas. Ao serem
calculadas as médias e os desvios-padrões dos pontos atribuídos pelos especialistas, constatou-se
um enorme desvio-padrão na pontuação dos critérios (desvio padrão maior do que 5),
representando, com isso, um grande dissenso entre os especialistas sobre os sub-critérios
analisados. Desse modo, tornou-se necessário reelaborar a nova proposta de modelo regulatório
de reprocessamento de produtos médicos, a fim de se alcançar um consenso dos critérios e sub-
critérios sugeridos. Nessa etapa, uma especialista decidiu se afastar desse estudo e a Conferência
de Consenso prosseguiu com a pesquisadora e duas especialistas.
Na 4ª. etapa, foi encaminhada uma nova proposta de modelo regulatório, fruto dos trabalhos da
etapa anterior, para que as duas especialistas atribuíssem, definitivamente, nova pontuação aos
144
145
critérios já conhecidos e analisados. Devido ao fato de contar-se, nessa etapa, com apenas duas
avaliadoras, não foi possível calcular o desvio-padrão dos pontos atribuídos aos sub-critérios,
sendo calculado apenas as médias desses pontos, definindo-se, assim, o padrão ouro de regulação
do reprocessamento de produtos médicos dessa investigação.
Pontuação de critérios
145
146
Média de pontos Desvio padrão Análise quanto à Análise quanto ao consenso Inclusão na proposta do
relevância do critério do critério marco regulatório
(1) Desde que respaldado por estudos científicos importantes. (2) Somente se recomendado por órgãos oficiais.
Resultados
Nas etapas dessa metodologia, observou-se grande consenso entre especialistas e pesquisadora
quanto à necessidade da classificação de produtos médicos para efeito de reprocessamento,
segundo possibilidade de completa limpeza e monitoramento das condições de integridade,
funcionalidade e esterilidade, independente desses produtos serem considerados reusáveis ou de
uso único. Houve consenso, também quanto à necessidade de um padrão de qualidade da água
utilizada para enxágüe, segundo o tipo de produto e as etapas do reprocessamento. Optou-se por
utilizar o termo monitoramento em lugar de validação, pela polissemia que envolve esse conceito,
e formas de como implementá-lo no contexto hospitalar, e por entender-se que a validação é parte
integrante de um sistema maior de monitoramento de qualidade, processo este que ainda desafia a
maioria das CMEs brasileiras. Introduziu-se o termo rastreabilidade como sinônimo de
traceabilidade e rastreamento, de forma a designar o processo por meio do qual os dados
resultantes do monitoramento do processo de esterilização são utilizados para acompanhamento e
recolhimento dos produtos recall, quando da suspeita de qualquer resultado inadequado que
possa conferir risco para o paciente usuário de produto reprocessado.
146
147
147
148
148
149
149
150
Fazer teste c/ lentes intensificadoras p/ avaliação de avarias externas, forma, cor e Fazer testes da funcionalidade de cada
avaliação de características como flexibilidade, força tênsil, p/ cada PM PMUU segundo seu uso intencionado
Considerações finais
∗
Tecnologia em saúde são os medicamentos, equipamentos, artigos, produtos, procedimentos e os sistemas
organizacionais e de suporte dentro dos quais são oferecidos cuidados à saúde.
151
152
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Ferraro AHA.Imagem-objetivo para descentralização da Vigilância Sanitária no
município [dissertação]. Salvador: Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da
Bahia; 2007.
153
154
Resumo
Os produtos médicos utilizados nos serviços de saúde são em sua maioria altamente complexos.
A despeito dos seus benefícios para a assistência hospitalar, tais produtos são, também,
tributários de vários fatores de risco e suscitam considerações sobre a segurança e a eficácia dos
processos relacionados com o seu reprocessamento e reuso. O presente trabalho é uma pesquisa
avaliativa, cujo método é o estudo descritivo de casos múltiplos, objetivando analisar as
condições técnicas do reprocessamento de produtos médicos em hospitais de Salvador, na Bahia.
As estratégias utilizadas para a busca de evidências empíricas foram entrevista semi-estruturada e
observação direta. Foi elaborado um modelo regulatório de reprocessamento de produtos
médicos, utilizado como padrão de referência neste estudo. Os resultados revelaram a
inadequação generalizada das condições técnicas de reprocessamento de produtos médicos, tanto
das condições estruturais das Centrais de Material e Esterilização estudadas quanto das condições
dos processos de trabalho. Identificam-se dificuldades não apenas no campo gerencial, mas,
também, organizacional. Conclui-se que as práticas de reprocessamento dos produtos médicos,
dos hospitais analisados, configuram risco para os pacientes usuários, urgindo a adoção de um
sistema de gerenciamento de risco, por esses hospitais, e de maior controle sanitário, por parte do
Estado, a fim de proteger a saúde dos pacientes usuários desses dispositivos.
Abstract
Risk and sanitary safety: an analysis of the technical conditions in hospitals for
reprocessing of medical products in Salvador, Bahia.
Medical products used in health services are highly complex. Despite their contribution to
hospital assistance, those products are also the bearers of several risk factors, and give rise to
concerns regarding safety and effectiveness of the processes related to their reprocessing and re-
utilization. The present work is a qualitative research, based on the method of descriptive study of
multiple cases, with the purpose of analyzing the technical conditions in hospitals for
reprocessing of medical products in Salvador, Bahia. The empirical evidence was collected by a
combination of semi-structured interviews and direct observation. A regulatory model for
reprocessing of medical products was formulated and used as the standard of reference inthis
study. The results reveal the generalized inadequacy of technical conditions for reprocessing,
both in the structural conditions of Materials and Sterilization Centers, and in the work processes.
The difficulties revealed are not only managerial but also organizational. The conclusion is that
the reprocessing practices adopted in the studied hospitals constitute risk factors to patients users
of the medical products, and that there is immediate need to implement a risk management
system in these hospitals, and need for greater sanitary control by the State in order to protect the
health of patients.
Resumen
Los productos médicos utilizados en los servicios de salud son altamente complejos. Sin
embargo de sus beneficios para la asistencia hospitalaria, esos productos son igualmente
vehículos de varios factores de riesgo y ameritan consideraciones sobre la seguridad y eficacia de
los procesos relacionados a su reprocesamiento y utilización. El presente trabajo es una
investigación cualitativa, basada en el método de estudio descriptivo de casos múltiples, con el
objetivo de analizar las condiciones técnicas para reprocesamiento de productos médicos en
hospitales de Salvador, Bahia. La estrategia adoptada para obtener evidencia empírica se basó en
entrevistas semi-estructuradas y la observación directa. Se formuló un modelo regulatorio de
reprocesamiento, que fue tomado como padrón de referencia en este estudio. Los resultados
revelan la inadecuación generalizada de las condiciones técnicas para reprocesamiento de
productos medicos, ya sea en las condiciones estructurales de las Centrales de Materiales y
Esterilización, o en las condiciones contenidas en los procesos de trabajo. Se identifican revela
dificultades en los campos gerencial y organizacional. La conclusión es que las prácticas de
reprocesamiento de productos médicos en los hospitales estudiados representan riesgo para los
pacientes usuarios de productos médicos, y que hay necesidad inmediata de que se implemente
un sistema de gestión de riesgo in esos hospitales y la necesidad de mayor control por el Estado
para proteger la salud de los pacientes.
155
156
Introdução
•
Tecnologia em saúde são os medicamentos, equipamentos, artigos, produtos, procedimentos e os sistemas
organizacionais e de suporte dentro dos quais são oferecidos cuidados à saúde57,58.
∗
Neste estudo, vamos utilizar o termo produto médico como sinônimo de dispositivo, equipamento, material e artigo
médico.
•
Utiliza-se o termo descontaminação no latu senso, para designar a remoção/destruição de micro-organismos.
156
157
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158
produtos, requerendo uma análise das variáveis envolvidas em todo o processo, desde o desenho
do produto, e seu registro nas instâncias competentes, até a avaliação na esfera dos serviços,
acerca dos materiais que constituem os dispositivos e sua compatibilidade com os processos de
limpeza, desinfecção e esterilização, além de outras situações que concorrem para a eficácia dos
processos de descontaminação.
Dentre os eventos associados com o reuso e reprocessamento de produtos médicos, são
reportados na literatura, infecção, presença de endotoxinas, biofilmes•, perda da integridade do
material, dentre outros.1,3,6,24-31
Na prática hospitalar, as conseqüências de eventuais falhas do reprocessamento de produtos
médicos podem até passarem despercebidas. Entretanto, quando surgem as infecções
relacionadas à assistência a saúde (IRAS), especificamente, as infecções do sítio cirúrgico, o
processo de esterilização e a Central de Material e Esterilização (CME) passam a ganhar
visibilidade dentro da organização, além de serem investigados, como evidenciado no surto de
infecções pós-cirúrgicas por Micobactérias de Crescimento Rápido (MCR), relacionado com
falhas no reprocessamento de produtos médicos reusáveis, em diferentes regiões do Brasil, entre
os anos de 2000 a 2008.32
A CME é a estrutura orgânico-funcional de um serviço assistencial de saúde responsável pela
limpeza, desinfecção, esterilização, controles de qualidade e dispensação de produtos médicos. É
um serviço de crucial importância, do qual dependem todas as atividades assistenciais de saúde.
Requer uma expertise específica de conhecimentos ligados à área de produção e controle de
qualidade tais como monitoramentos físico-químico-biológicos e rastreabilidade de produtos,
atividades estas usuais nas indústrias e incipientes, nos serviços hospitalares brasileiros,
requerendo profissionais competentes, comprometidos com a temática dos produtos médicos e
estimulados para esse trabalho.
Como já explicitado, são muitos os problemas para a saúde coletiva, relacionados ao
reprocessamento de produtos médicos. Esta investigação se dedica a responder a seguinte questão
central: como dá-se o reprocessamento de produtos médicos em hospitais de Salvador? Esse
questionamento resultou no objetivo geral deste estudo, que é analisar as condições técnicas do
•
Biofilmes são colônias organizadas de células de micro-organismos, anexadas em uma matriz auto-excretora,
composta principalmente, de polissacárides que facilitam adesão superficial de difícil remoção e que interferem com
a eficácia da limpeza e esterilização de artigos.29
♣
O termo infecção hospitalar está sendo substituído por infecções relacionadas à assistência à saúde.
158
159
Metodologia
•
Dados acessados pelo portal do CNES (www.cnes.datasus.gov.br) e SESAB-DIVISA-NECIH em 27 de novembro
de 2009.
159
160
♦
Ver ANVISA RDC N˚156, RE N˚2605 e RE N˚2606 de 11 de agosto de 2006.
160
161
Descreve-se, a seguir, os resultados e análises das evidências empíricas das condições técnicas de
reprocessamento de produtos médicos dos casos múltiplos estudados, iniciando-se com a
caracterização dos hospitais, seguida das condições estruturais das respectivas CMEs, e os dados
das variáveis que compõem as categorias de análise desta pesquisa. Finaliza-se com a
classificação dos hospitais estudados segundo o reprocessamento de produtos médicos.
Para cada caso, realizou-se um estudo completo, procurando-se evidências convergentes acerca
das condições técnicas de reprocessamento de produtos médicos. O resumo de cada caso
possibilitou a elaboração da descrição dos casos múltiplos desta investigação.
Caracterização dos casos múltiplos
Os casos múltiplos deste estudo são representados por dois hospitais da Rede Sentinela da
ANVISA (casos 1 e 2) e dois hospitais da rede pública estadual de Salvador (casos 3 e 4). Desses
casos, dois hospitais são considerados de porte♦ 4 (casos 1 e 4) e dois de porte 3 (casos 2 e 3). Os
hospitais da Rede Sentinela realizam atendimento assistencial geral e os dois estaduais prestam
assistência hospitalar especializada, sendo um destes um hospital de referência em cardiologia
cirúrgico-clínica e nefrologia (caso 3), e outro hospital de referência em emergência
traumatológica (caso 4). Todos os casos possuem serviços próprios de CMEs e realizam
internamente reprocessamento de seus produtos médicos.
Caracterização das Centrais de Materiais e Esterilização (CMEs)
As CMEs, dos casos estudados, realizam as atividades de limpeza, desinfecção e esterilização de
produtos médicos de forma descentralizada (casos 1, 3 e 4), significando que outras unidades do
hospital também realizam alguns desses processos, o que pode contribuir para aumento de custos
institucionais relativos à reutilização de produtos e menor controle dessas atividades, que se
tornam diluídas e sob várias supervisões. As CMEs de todos os casos são coordenadas pelo
profissional enfermeiro, sendo que, em dois hospitais (casos 2 e 4), esse responsável técnico
♦
Ver Portaria Ministerial N˚2.224, de 5 de dezembro de 2002, que estabelece o sistema de classificação hospitalar
do Sistema Único de Saúde.
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Os casos não apresentam as áreas e condições de piso, paredes e teto recomendadas para uma
CME, como determinado pela RDC ANVISA Nº 307/2002.39-40 Em todos os casos, as condições
de ventilação das áreas das CMEs são inadequadas, em desacordo com o consenso da literatura
quanto à necessidade de condições controladas de temperatura e umidade relativa do ar, entre 18
a 23ºC e 30 e 60%15,41-44, isso não apenas para manutenção das condições de esterilização e
prevenção de contaminantes ambientais, mas, também, para o conforto dos trabalhadores desse
serviço, que necessitam do uso de equipamentos de proteção individual à medida do
desenvolvimento das suas atividades laborais.
Em todos os casos, as torneiras para limpeza dos produtos contaminados dispõem somente de
água fria, nenhuma dispondo de água quente, necessária quando do uso de detergentes
enzimáticos. Apenas o caso 3 dispõe de torneira com dispositivo para lavagem de produtos
canulados. A inexistência desse recurso, nos demais casos, impossibilita a adequada lavagem de
materiais que possuem lumens ou estruturas internas. Os artefatos para a realização da limpeza
manual (buchas, escovas, serpilhos) estavam em boas condições de função em apenas dois casos
(1 e 3), encontrando-se inadequados nos casos 2 e 4, o que dificulta a fricção mecânica e remoção
de sujidades externas dos produtos contaminados. As bancadas de trabalho apresentam
dimensões compatíveis com as atividades a serem realizadas em três (1, 2 e 3) dos quatro casos.
Nenhuma CME estudada dispõe de um sistema de água potável com filtro bacteriano (filtros < 5
µm) para a retenção de conteúdos microbianos da água usada na limpeza dos artigos. Igualmente,
não existem lentes intensificadoras de imagem que permitam a visualização minuciosa dos
artigos após limpeza, para avaliação de eventuais resíduos e avaliação visual da integridade física
dos produtos limpos. Em todos os casos, existe fonte de ar comprimido medicinal para a secagem
de produtos que possuem estruturas internas.
Os recipientes plásticos, que portam soluções detergentes e desinfetantes são identificados com o
tipo de solução e possuem tampa em apenas um caso (3). Nos demais, esses recipientes são
utilizados destampados e sem registro de nome, concentração e data de diluição das soluções
germicidas, configurando práticas inadequadas e potencializando riscos diversos. Não existem
lavadoras ultrassônicas (imprescindíveis para a lavagem de produtos canulados), nem secadoras
automatizadas, em nenhum caso estudado. As seladoras térmicas, necessárias para o adequado
fechamento das embalagens de papel, estão presentes em todos os casos, entretanto, não há
controle da temperatura do equipamento, nem da qualidade da selagem.
163
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Nenhuma CME do estudo possui balança para o necessário controle de peso dos pacotes a serem
esterilizados. Predominam as autoclaves por vapor saturado sob pressão para produtos termo
resistentes em todos os casos estudados. No caso 2, registrou-se, também, a existência de
autoclave à baixa temperatura de formaldeído e uma autoclave de plasma de peróxido de
hidrogênio (sem funcionar há um ano) para produtos críticos termo sensíveis. O caso 4 utiliza,
além da autoclave a vapor sob pressão, uma estufa para esterilização de gazes vaselinadas,
método de esterilização obsoleto e com sérias restrições de uso.1,34,41,45
A infra-estrutura, relacionada aos recursos materiais das CMEs, apresenta inadequações de
materiais necessários para a operacionalização e garantia dos processos de limpeza, tais como
buchas, escovas, serpilhos (casos 2 e 4), caixas plásticas desprovidas de tampas (casos 1, 2 e 4),
ausência de ponto de água com filtro (< 5mm), torneira com jatos de água direcionável, lupas ou
lentes intensificadoras de imagem, lavadoras ultrassônicas e ponto de água quente, ausentes em
todos os casos.
A falta dos materiais/equipamentos do processo de limpeza, acima citados, inviabiliza a adequada
limpeza dos produtos, uma vez que impede a escovação, fricção e consequente remoção física da
carga microbiana dos artigos a serem limpos. A limpeza de produtos que possuem lumens requer
a utilização de uma lavadora ultrassônica, a fim de acessar por meio do processo de cavitação, as
partes inacessíveis dos artigos canulados.14,45-46 A ausência de lupas ou de lentes que aumentem a
imagem dos produtos dificulta a inspeção visual dos artigos após limpeza, prejudicando a
avaliação da eficácia desse processo. A limpeza é o processo inicial e mais importante de todo o
reprocessamento e cujo resultado influencia as etapas posteriores de desinfecção e
esterilização.14-15,44-45
Processo de Limpeza
O processo de limpeza dos produtos médicos das CMEs estudadas é descrito no quadro a seguir e
analisado posteriormente.
Quadro 1. Caracterização das Centrais de Material e Esterilização segundo o processo de limpeza.
Salvador. 2010.
164
165
♠
Água tratada é aquela submetida a um processo de redução de impureza, que pode incluir filtração, deionização,
destilação ou osmose reversa, de forma única ou em combinação.15,30
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registram-os de forma incompleta (exceto o caso 2), não os utilizando de forma apropriada como
sinais de alerta para possíveis problemas com o esterilizador e, conseqüente, com os produtos
esterilizados, de forma a prevenir em tempo real eventos, como contaminação e possível surto de
infecção.
A rastreabilidade♦ é um poderoso instrumento de avaliação de risco para pacientes usuários de
produtos reprocessados e para os procedimentos de notificação para pacientes, serviços e/ou
autoridades sanitárias. Observou-se que a rastreabilidade de produtos apresenta grande
discrepância de variação entre os casos estudados: no caso 2 não há práticas de rastreabilidade
(apesar de realizar monitoramento da esterilização e de possuir registro destas atividades) e o
caso 4 apresenta um baixo percentual de rastreabilidade (18,2%). Esses dados revelam que,
apesar dos hospitais estudados apresentarem práticas de monitoramento do processo de
esterilização, estes não utilizam esse instrumental de forma a racionalizar a tomada de decisão
segundo o resultado dos mesmos, subestimando, portanto, a importância dos monitores para o
processo subseqüente, que é o de rastreamento de produtos esterilizados.
Estudos, do início dos anos 70, revelavam que o tempo de validade de um produto médico estéril
variava com o tipo de embalagem (porosidade) e condições de estocagem/armazenamento
(armário aberto X fechado). Atualmente, existem duas correntes que preconizam o tempo de
validade de esterilização de PM: validade de esterilização relacionada com o tempo de
estocagem (prática mais convencional, disseminada e de racionalidade questionada) e validade
de esterilização relacionada a um evento que resulte em contaminação do produto estéril
(corrente que advoga que os produtos médicos, uma vez estéreis, permanecem estéreis até que
um evento contribua para sua contaminação, a exemplo de danos na embalagem (rasgos),
umidade, quebra da selagem, contaminação ambiental, manuseio excessivo e inadequado45,42,52.
Em todos os hospitais, observou-se a prática do sistema de validade de esterilização de produtos,
relacionada com o tempo de estocagem dos mesmos, sistema este considerado obsoleto e
questionável pela ausência de dados científicos para a sustentação dessa prática45,42,52. Os
eventos possíveis e prováveis que comprometem a esterilidade de um produto variam de um
serviço a outro, cujas realidades e especificidades são distintas. Desta forma, a manutenção da
♦
Utiliza-se, neste estudo, rastreabilidade como sinônimo de traceabilidade e de rastreamento para designar o
processo através do qual, os dados resultantes do monitoramento do processo de esterilização, são usados para
acompanhamento dos produtos médicos e recolhimento (recall) dos mesmos, quando da suspeita de qualquer
resultado inadequado que possa conferir risco para a saúde do paciente.
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esterilidade não pode ser determinada por meio de datas fixadas segundo a embalagem utilizada,
prática observada nos casos deste estudo e experenciadas, também, nas CMEs brasileiras, sem a
necessária validação dos processos, e ausente como um exercício de monitoramento de
qualidade em cada serviço de saúde. Faz-se necessário, portanto, desenvolver a prática da
validade da esterilização de produtos por meio de um sistema evento-relacionado e, ademais,
envolver os demais profissionais na avaliação destes, certificando de que tais produtos estão
adequadamente estocados e íntegros antes do uso clínico.
Processo de Desinfecção
O processo de desinfecção dos produtos médicos das CMEs estudadas é descrito a seguir.
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desinfecção de produtos médicos, nos casos estudados, também, apresenta inadequações que
podem comprometer a qualidade dessa atividade.
Em todos os quatro casos, são reusados e reprocessados alguns dos produtos médicos da lista da
ANVISA RE N˚ 2605/200653, que categoriza os produtos de uso único proibidos de
reprocessamento, como demonstrado no quadro 4.
Quadro 4. Relação de produtos da lista RE ANVISA N˚ 2605/2006 que são reprocessados pelos
hospitais estudados. Salvador, 2010.
Observa-se, no quadro acima, que os casos 2 e 4 são os que mais reprocessam produtos da lista
negativa da ANVISA. Todos os artigos, acima listados, à exceção das compressas e campo
cirúrgico, são de configuração complexa e apresentam alto grau de dificuldade para o processo de
limpeza e conseqüente esterilização, razão pela qual fazem parte da lista negativa da ANVISA.
Não existe um controle do número de reusos desses produtos que só são retirados do uso clínico
quando apresentam defeitos de função.
Das condições técnicas de Reprocessamento de Produtos Médicos
Apresenta-se, na Tabela 1, a seguir, uma síntese das condições de reprocessamento de produtos
médicos das CMEs avaliadas, agrupadas nas quatro categorias analíticas deste estudo, conforme
o desempenho estimado pela pontuação.
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173
A tabela, acima, revela um baixo percentual de conformidade dos casos estudados em todas as
categorias analíticas, exceto o caso 3, que apresentou um percentual elevado de adequação
(81,8%) na categoria de rastreabilidade de produtos médicos. O monitoramento de produtos
médicos variou de 20% a 60% de adequação. O que obteve o maior percentual de pontos foi o
monitoramento de produtos médicos (desempenho médio de 37,6%), seguido pela rastreabilidade
de produtos médicos (desempenho médio de 36,3%) e gerenciamento das práticas de
reprocessamento (desempenho médio de 36,1%). A categoria de menor percentual de
conformidade foi a de protocolos de reprocessamento de produtos médicos, cujo desempenho
médio foi de 28,9%. O caso 3 apresentou o maior percentual de conformidade com o modelo
regulatório deste estudo (54,4%), e, o caso 4, o menor percentual (22,1%).
A análise comparativa dos dados dos hospitais da Rede Sentinela versus hospitais da rede
estadual revela que estes apresentam maiores percentuais médios de conformidade (38,2%) que
os da Rede Sentinela (31,2%). Entretanto, a variação de desempenho entre os quatro casos revela
maior homogeneidade na Rede Sentinela. Estes apresentam menor variação de conformidade,
isto é, são menos discrepantes, entre si, do que os dois casos da rede pública estadual. Na Rede
Sentinela, encontrou-se o segundo maior percentual de conformidade das categorias de análise
deste estudo (33,9%), enquanto nos hospitais estaduais foram observados o melhor (54,4%) e o
pior (22,1%) desempenho das condições de reprocessamento de produtos médicos.
A classificação dos hospitais estudados, segundo sua condição técnica de reprocessamento de
produtos médicos, é apresentada na tabela 2.
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174
Observa-se, na tabela acima, que nenhum dos hospitais apresenta condições técnicas adequadas
de reprocessamento de produtos médicos. Os casos 1, 2 e 4 apresentam condições técnicas
inadequadas. O caso 3 necessita implementar adequações no reprocessamento de seus produtos
médicos. Os dois hospitais Sentinela (casos 1 e 2) apresentam condições inadequadas de
reprocessamento, sendo que o caso 2 tem o segundo menor percentual de conformidade com o
modelo regulatório desse estudo. No entanto, embora a média percentual de adequação dos casos
da Rede Sentinela seja menor do que os casos públicos estaduais, a variação de desempenho dos
casos sentinela também é menor, sugerindo uma maior uniformidade de procedimentos de
reprocessamento de produtos médicos entre eles, possivelmente decorrente da contínua
informação que recebem dos órgãos federais parceiros dessas instituições.
O caso 3 (público estadual) apresenta o melhor desempenho quanto à adequação com o modelo
regulatório deste estudo. O caso 4 (público estadual), apresenta o pior desempenho. Essa
diferença de comportamento organizacional pode refletir as distintas trajetórias históricas desses
hospitais, uma vez que o caso 3 era um hospital federal transferido, na década de 90, para a
gestão estadual, com forte estrutura organo-funcional e grande experiência na área do controle
das infecções hospitalares, o que certamente possibilitou a consolidação de ações mais
desenvolvidas em sua CME. O caso 4 é um hospital de referência estadual em emergência
traumatológica, portanto, sujeito a demanda aberta e contínua, com conseqüente atendimento
assistencial acima de sua capacidade operativa, o que pode dificultar a implantação de práticas
planejadas e de qualidade na CME. Conclui-se, com esses dados, que os hospitais analisados
possuem práticas de reprocessamento inadequadas, apontando possíveis problemas para a área do
cuidado assistencial e para os serviços de vigilância sanitária, encarregados da fiscalização.
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Discussão
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implantadas nessas organizações. Seria por desconhecimento da coordenação das CMEs sobre as
funções e utilidades dos monitores de esterilização? Seriam falhas gerenciais dos processos de
trabalho? Seria por pressão das empresas fabricantes de indicadores químicos e biológicos para
que esses hospitais adquiram esses produtos? São questões que transcendem o escopo desta
pesquisa, mas que apontam uso incorreto das inovações tecnológicas da saúde na área de
produtos médicos e, como conseqüência, inadequação dos processos de monitoramento da
esterilização de produtos de maior risco assistencial, além de desperdícios de recursos
financeiros institucionais.
Os baixos percentuais de desempenho no gerenciamento das práticas de produtos médicos e nos
protocolos de reprocessamento, revelados nesse estudo, são traduzidos nas inadequações das
condições estruturais das CMEs estudadas e dos processos de trabalho das atividades de limpeza,
desinfecção e esterilização dos produtos reprocessados e reusados nessas organizações. Estes
percentuais são reflexos diretos das dificuldades não apenas no campo gerencial das CMEs, mas,
também, organizacionais visualizadas pela falta de investimentos e limitado aporte de recursos
materiais nesses serviços. Tornou-se claro que a temática dos produtos médicos não é uma
prioridade política nesses hospitais, na medida em que não existe um envolvimento institucional
acerca de como o processamento de produtos são realizados, seus resultados e suas
conseqüências para pacientes e profissionais de saúde, quais, como e quantas vezes um
dispositivo médico é reusado e reprocessado, independente se de uso único ou múltiplo, decisão
esta delegada e circunscrita nas CMEs, sem o comprometimento amplo e responsável que a
questão exige.
As CMEs de todos os casos estão sob a responsabilidade técnica de um enfermeiro, profissional,
a priori, capacitado para a coordenação/planejamento/gerenciamento das atividades
desenvolvidas nesse serviço. Entretanto, os resultados apontam problemas administrativo-
gerenciais básicos como a falta de recursos materiais imprescindíveis para o desenvolvimentos
das atividades do reprocessamento de produtos médicos, materiais estes dos mais simples aos
mais custosos e complexos, porém imprescindíveis, o que certamente inviabiliza processos e
contribui para os baixos percentuais das categorias de gerenciamento das práticas de
reprocessamento e de protocolos de reprocessamento encontradas. Adicionalmente, a
coordenação das CMEs estudadas mostrou-se, também, deficitária no necessário domínio
cognitivo das normativas legais acerca do seu objeto de trabalho, no reprocessamento de produtos
176
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médicos, além das deficiências organizacionais dos processos de trabalho, como a não
implantação de rotinas inerentes e imprescindíveis para a operacionalização das boas práticas de
reuso de materiais, bem como para a avaliação e validação dos processos. Observou-se também
que os profissionais que trabalham nas CMEs analisadas são expostos continuamente a riscos
físicos, químicos e biológicos, potencializando os problemas administrativo-gerenciais desses
serviços.
Nenhuma CME, deste estudo, realiza inspeção visual sistematizada nos produtos em condição de
reuso, nem testes de integridade e de funcionalidade, necessários para prevenir riscos advindos de
falhas da limpeza e da possível alteração das características dos produtos submetidos aos
múltiplos ciclos de reprocessamento. Sabe-se que a verificação da funcionalidade dos produtos
médicos reprocessados requer expertise necessária e equipamentos especializados, raramente
encontrados nos serviços hospitalares. Entretanto, é imperioso que as CMEs brasileiras
incorporem a cultura da prática da avaliação e validação do processo de limpeza, atualmente
restrita ao processo de esterilização, por meio da sistematização da inspeção visual, passível de
ser realizada mesmo nos serviços mais simples. É imperioso, também, que haja a adoção de testes
químicos, principalmente para produtos críticos e de configuração complexa e inacessível para
exame visual, a fim comprovar ausência de carga orgânica e inorgânica e de liberar os produtos
médicos para as etapas posteriores do processamento. Há, portanto, que se cultivar a prática da
limpeza, associada a testes de integridade e funcionalidade, como etapa principal e definidora de
todo processamento de produtos médicos, seja produtos de uso único ou considerados reusáveis,
como proposto no modelo regulatório utilizado.
Em todos os hospitais, verificou-se que são reprocessados produtos médicos de uso único que
constam da lista negativa da ANVISA, revelando que essas organizações descumprem as
normativas que regulam o reprocessamento de produtos no país, infringindo legislações sanitárias
brasileiras. A despeito do registro de que a VISA realizou inspeção sanitária em duas CMEs deste
estudo, essa inspeção não foi competente na detecção desse problema, e, neste sentido, questiona-
se a qualidade dessa ação sanitária e da capacidade da VISA para identificar os riscos advindos
do reprocessamento de produtos médicos em CMEs baianas.
Sabe-se que a principal função da VISA é atuar no sentido de eliminar ou minimizar o risco
sanitário envolvido na produção, circulação e consumo de certos produtos, processos e serviços.
Uma vez que as tecnologias de saúde são utilizadas prioritariamente dentro dos serviços de saúde,
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particularmente, dentro dos hospitais, esses serviços devem constituir campo prioritário de
atuação da VISA, mas, para tanto, requerem uma expertise diferenciada para o controle dos seus
produtos e processos.
No contexto das atividades da VISA em serviço hospitalar, particularmente nas CMEs, a
inspeção sanitária - a tecnologia de trabalho mais utilizada por esta instituição - necessita
incorporar outros atributos para responder à complexidade da organização hospitalar de forma a
se transformar em um poderoso instrumento de avaliação a ser utilizado como um monitor de
risco e aplicado com o objetivo de ser um propiciador da possibilidade da ocorrência de um
dano.54-55
A Segurança sanitária, objeto de ação da VISA, é a segurança das pessoas contra riscos
terapêuticos de toda a espécie, riscos estes ligados tanto à escolha terapêutica - aos atos de
prevenção, de diagnóstico ou de tratamento, ao uso de bens e produtos de saúde - quanto às
intervenções e decisões das autoridades sanitárias. Essa definição é limitada, uma vez que a
segurança sanitária não se restringe somente ao campo da prática médica, mas a todas as
atividades relacionadas com a preservação da saúde.56
Os riscos relacionados ao reprocessamento de artigos são generalizáveis, tanto para os artigos
considerados de uso único quanto para os artigos passíveis de reprocessamento, ou de múltiplo
uso, uma vez que a maioria dos eventos adversos♠, ou de surtos de infecção, está relacionada com
falhas nas etapas do reprocessamento e não com o reprocessamento em si.1,3,6,36 Essa afirmativa
ressalta a importância dos processos de trabalho dentro de uma CME, cujas ações requerem
planejamento e gerenciamento do risco envolvido nos produtos utilizados e das diversas
atividades que compõem o processamento dos mesmos, exigindo, para tanto, não apenas estrutura
físico-operacional, mas, sobretudo, profissionais comprometidos com essa problemática, de
forma a harmonizar o desafio crescente do reprocessamento e reuso de produtos médicos, tendo
como princípio norteador a viabilidade técnica do reprocessamento dos produtos médicos e a
segurança do paciente usuário desses dispositivos.
O reprocessamento e reuso de produtos ditos descartáveis requer condições que garantam um
nível de segurança equivalente ao status de um produto novo, o que significa que pacientes
usuários de produtos descartáveis reprocessados devem ter o mesmo risco dos pacientes usuários
♠
Evento adverso em produtos médicos são eventos não usuais/não esperados associados com o produto, envolvendo
a segurança dos pacientes, usuários e outros5,60,61.
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outro evento adverso, antes e após o uso específico de um produto, uma vez que outros fatores do
cuidado assistencial, tais como os procedimentos cirúrgicos e clínicos, por si, podem também
contribuir para eventuais danos ao paciente, urgindo a utilização de práticas de gerenciamento de
risco, uma vez que, nesses casos, os estudos de avaliação de risco não são conclusivos e,
portanto, de aplicabilidade questionável.
O gerenciamento de risco consiste na aplicação sistemática da gestão de políticas, procedimentos
e práticas para desenvolver as atividades de analisar, avaliar e controlar riscos relacionados ao
reprocessamento de produtos médicos.7-9 Os princípios dessas práticas requerem necessariamente
planejamento dos processos de trabalho na CME, aplicados em todas as fases/atividades do
reprocessamento. Para tanto, faz-se necessária a análise das questões gerenciais e operacionais a
serem realizadas nos serviços, tais como a avaliação da capacidade interna da execução das
atividades - das mais simples às mais complexas - nível de competência técnica da equipe de
trabalho - treinamento contínuo dos profissionais executores - bem como definição de
responsabilidades. É necessário, também, a captação de recursos materiais para a implantação e
manutenção das atividades de avaliação e controle de risco em reprocessamento de produtos
médicos, a exemplo da estimativa de risco para cada método de descontaminação de produtos, do
registro e verificação das medidas de controle, da rastreabilidade dos produtos após esterilização,
dentre outras, além das questões da segurança do ambiente de trabalho, dos profissionais
manipuladores e das considerações quanto às possíveis responsabilidades legais implicadas na
prática do reuso de produtos médicos, particularmente dos considerados descartáveis.
Considerações finais
Esta pesquisa se soma as outras, já realizadas no Brasil, acerca da temática do reuso de produtos
médicos e responde à questão central de como se dá o reprocessamento de produtos médicos em
hospitais de Salvador. Distingue-se de outros estudos, por analisar as condições de
reprocessamento de produtos tendo em vista a segurança sanitária. Portanto, esse estudo se
direciona numa perspectiva mais abrangente de saúde coletiva e de controle de riscos, utilizando
um modelo regulatório próprio desenvolvido como padrão de referência da investigação. Esse
modelo, além de possibilitar a análise das condições técnicas do reprocessamento de produtos em
hospitais baianos, respondendo à pergunta inicial de investigação, possibilitou, também,
180
181
181
182
∆
Viabilidade no conceito de Carlos Matus como a de “tornar possível uma operação num jogo concreto, como a
capacidade de produzir mudanças reais"
182
183
reusados. Desse modo, o diagrama 1 constitui um eixo norteador para a classificação e decisão
sobre produtos a serem reprocessados, podendo ser uma linha futura de investigação nessa área.
Outro ponto a ser considerado diz respeito à limitada capacidade de generalização dos resultados,
característica esta dos estudos de caso. Contudo, pode-se generalizar o pressuposto inicial, que
foi evidenciado e replicado nos quatro casos analisados, de que organizações hospitalares, sem a
adequada estrutura organo-funcional para realizar processos seguros e monitorados de
descontaminação de produtos médicos, apresentam situações cumulativas de riscos para os
pacientes usuários desses dispositivos.
Pode-se considerar como ponto positivo deste estudo a introdução do conceito de risco residual a
ser aplicado na temática do reuso de produtos médicos. Facilita o entendimento dos fatores que
contribuem para a ocorrência de eventos adversos, relacionados com as tecnologias de saúde, mas
principalmente como elemento contínuo de alerta para gestores, gerentes e profissionais de saúde,
de forma a utilizá-lo como instrumento de planejamento, vigilância e de coordenação. Se o risco
residual é condição inerente do produto médico reprocessado, o controle dos riscos deve estar
concentrado nos processos de trabalho. Nesse sentido, esse conceito clarifica, dismistifica e
liberta o eterno debate sobre se é possível ou não o reprocessamento de produtos considerados de
uso único, uma vez que, dado a existência do risco residual tanto para produto reusável como de
uso único, a decisão para o reuso e reprocessamento deve se assentar na capacidade organizativa
dos serviços, que, com adequados controles de avaliação dos produtos e monitoramento dos
processos de descontaminação, definem quais materiais serão reusados.
A incorporação do conceito de risco residual em produtos médicos obriga os profissionais da
CME a atuar de forma sistematizada, com as atividades de gerenciamento de risco, em todas as
instâncias/ciclos das etapas do reprocessamento desses produtos. Introduz-se, assim, uma
racionalidade para a tomada de decisão nos seus processos de trabalho, à luz dos referenciais de
riscos, o que confere relevo à CME como serviço autônomo, dentro da organização hospitalar,
definidor e realizador de processos, sem os quais não funcionam os demais serviços, elevando a
auto-estima dos profissionais desse serviço.
Na conclusão deste artigo, pode-se afirmar, à luz do pensamento Matusiano do planejamento
estratégico acerca das organizações hospitalares baianas estudadas, que faltou as estas a tríade de
variáveis que condicionam e interdependem o sucesso de um trabalho de gestão, tais como
projeto, nesse caso, representado pela inexistência de um programa de reprocessamento de
183
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189
190
190
191
e não agravo da sua saúde. Requer conhecimento e consentimento do paciente sobre o que os
profissionais de saúde, no propósito das ações diagnósticas e terapêuticas, deliberam o que
precisa ser feito e inserido no seu corpo, e que esses procedimentos, e seus riscos associados,
sejam realizados de forma igualitária e socializada, independente do seu status sócio-cultural-
etário.
Este estudo revelou, com a bibliografia apresentada, que, independente da condição de reusável
ou de uso único, o reprocessamento de dispositivos médicos deve ser alicerçado segundo os
princípios da segurança sanitária e da qualidade desses produtos que inclui, dentre outros,
manutenção da integridade e funcionalidade dos materiais, utilização de processos e insumos
adequados, mecanismos de monitoramento e rastreabilidade dos processos de esterilização.
Como já descrito, nos referenciais teóricos sobre risco, a avaliação de risco em produtos médicos,
principalmente na condição de reuso e de reprocessamento, é dificultada pelos vários fatores de
confundimento que cercam o uso desses materiais e da assistência hospitalar. Os produtos
médicos são geralmente usados como parte de uma série complexa e variável de atividades do
cuidado assistencial. Estes, diferentemente dos produtos farmacológicos, para serem utilizados,
necessitam de um profissional de saúde. Na rotina do cuidado assistencial, são múltiplos os
atores-cuidadores manipulando um mesmo paciente, acrescendo nessas interações, além do risco
intrínseco do dispositivo, o risco relacionado com a qualidade e performance de cada cuidador.
Nos estudos publicados sobre reuso de produtos médicos, particularmente dos produtos de uso
único, verifica-se uma ausência de estudos clínicos randomizados e de dados apresentando uma
relação causal entre reuso e resultados adversos nos pacientes expostos. A maioria dessas
pesquisas possuem metodologias distintas, traduzem contextos laboratoriais e avaliam resultados
substitutos como contaminação (artificialmente produzida) e integridade dos produtos, mantendo
a indefinição dos estudos de avaliação de risco nesse segmento. Os resultados são pontuais e, em
relação aos riscos relacionados com o reuso de produtos de uso único, a despeito de existir um
potencial para a ocorrência de danos, que não deve ser menosprezado, estudos recentes, como os
realizados na Alemanha, não evidenciam que esses riscos sejam significativamente maiores do
que os comparados com o reuso de produtos ditos de uso múltiplo.
Outra análise é a de que os surtos de infecção e de outras complicações decorrentes da utilização
de produtos considerados reusáveis é uma realidade no Brasil e no mundo, ratificando a máxima
de que todo produto médico usado na prática assistencial porta um certo grau de risco e pode
191
192
causar problemas em determinadas situações, além de que, independente do rótulo de uso único
ou reusável, o reprocessamento desses produtos deve ser realizado sob os princípios da segurança
sanitária e da qualidade que contempla, entre outros, profissionais e ambiente qualificado,
realização de testes de funcionalidade e procedimentos de descontaminação validados.
Nesse cenário, acima desenhado, a eterna e conflituosa pergunta de que posso reusar um produto
de uso único? é respondida que sim, é possível, desde que esse produto seja passível de limpeza
completa e avaliada, que sejam mantidas suas propriedades físicas e funcionais e que seja
compatível com os métodos validados de esterilização (se produto crítico) disponíveis. Questões
também a serem atendidas para o reuso de produtos considerados de uso múltiplo.
É importante compreender que não existe risco zero quando do uso de um produto médico,
especialmente em condição de reuso, seja produto de uso único ou reusável. As indefinições da
avaliação de risco, acima citadas, impõem, aos serviços de saúde, a incorporação e
implementação de um sistema de gerenciamento de riscos, a ser iniciado quando da decisão de
adotar um procedimento clínico utilizando um produto médico reusado. Esse sistema permitirá o
balanceamento dos riscos considerados residuais e os benefícios previstos do procedimento,
complementado com ações de controle de risco em todo o ciclo do processamento dos produtos.
O gerenciamento de risco é, dessa maneira, o instrumento de qualidade que as organizações de
saúde podem utilizar para enfrentar os riscos residuais advindos das tecnologias de saúde, e
prevenir seus eventos adversos. O programa de reuso e reprocessamento de produtos médicos,
com a racionalidade do gerenciamento de risco, requer, além de uma equipe multiprofissional
envolvida com essa questão, o comprometimento da alta gestão das organizações de saúde, a
ratificar o plano definido pela equipe de quais produtos a serem reusados, como e em que
condições.
A introdução do conceito de risco residual, nas práticas de reprocessamento e reuso de produtos
médicos, como o risco remanescente relacionado com o uso desses dispositivos mesmo após a
adoção das medidas de controle, pode ser utilizado como um elemento sinalizador a apontar a
possibilidade da emergência de um evento adverso durante qualquer etapa do processamento dos
produtos e da necessidade sistemática do planejamento, controle e vigilância permanentes quando
das atividades de reuso de artigos médicos. Esse conceito eleva a condição das Centrais de
Materiais e Esterilização dos serviços de saúde que, para atuarem segundo a racionalidade do
risco, necessitam, além da expertise teórico-prática, da condição de governança (capacidade
192
193
193
194
194
195
9 Apêndice I
Prezado Diretor,
Certa de poder contar com a colaboração da sua instituição para a realização deste estudo,
agradecemos antecipadamente.
Salvador, de 2010
195
196
10 Apêndice II
Salvador, de de 2010.
196
197
Introdução
Esta Conferência de Consenso objetivou validar um modelo regulatório de reprocessamento de
produtos médicos, como parte do processo de construção da metodologia de investigação da tese
de doutorado de Eliana Auxiliadora Magalhães Costa, sob orientação da profa. Dra. Ediná Alves
Costa, no programa de pós-graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Saúde Coletiva da
Universidade Federal da Bahia. O estudo, intitulado Risco e Proteção da saúde:
Reprocessamento de produtos médicos em Hospitais de Salvador-Ba, teve por objetivo geral
analisar o reprocessamento de produtos médicos em hospitais de Salvador, tendo em vista a
segurança sanitária e a proteção da saúde da população. Esta pesquisa abrangerá duas dimensões
de avaliação: a primeira dimensão, avaliará unidades hospitalares quanto às condições técnicas de
reprocessamento de produtos médicos e a segunda dimensão, o controle sanitário do
reprocessamento a ser exercido pelo Estado.
Os questionamentos acerca da atual legislação brasileira sobre reprocessamento de produtos
médicos, representadas pela RDC ANVISA n˚ 156/2006 e REs n˚ 2.605 e 2.606/2006, norteou a
doutoranda a utilizar deste marco regulatório apenas algumas normativas consideradas relevantes,
e deste modo, para a avaliação do reprocessamento de produtos médicos considerados reusáveis e
de uso único desse trabalho de doutorado, foi construído um padrão ouro de regulação de
reprocessamento de produtos médicos, a partir de dados nacionais e internacionais, que serviu
como referência ou imagem-objetivo2 da regulação do reprocessamento de produtos deste estudo.
A composição deste padrão-ouro contemplou os requisitos essenciais para a segurança do
reprocessamento de produtos médicos ditados na literatura, bem como as questões operacionais
das unidades hospitalares reprocessadoras de materiais, e para a sua composição final, foi
realizado um consenso entre especialistas no assunto. Neste sentido, o padrão ouro formulado foi
submetido, consensuado e validado por um comitê de experts. Após a formulação e aprovação do
padrão ouro de regulação de reprocessamento, essa “normativa” foi utilizada para a avaliação do
reprocessamento de produtos médicos nos quatro hospitais de Salvador que farão parte desta
pesquisa.
2
“Imagem-objetivo” é um conceito oriundo do planejamento estratégico de Carlos Matus, ao se referir a uma
situação desejada, inserida em um tempo futuro e que aponta a direção das estratégias a serem implementadas.
197
198
O grupo de especialistas participantes da validação do padrão ouro desta pesquisa foi constituído
por três profissionais brasileiros de notório saber na área do reprocessamento de produtos
médicos, selecionados a partir da sua produção intelectual específica relacionada à temática em
estudo3. Os especialistas receberam um certificado emitido pelo Instituto de Saúde Coletiva
afirmando sua participação.
A técnica de consenso entre especialistas aplicada neste estudo é a “Conferência de Consenso”
adaptada da original proposta por Souza et al (2005) e da utilizada por Ferraro (2007)4, e
organizada em quatro etapas descritas abaixo, durante um período de três meses (novembro de
2009 a janeiro de 2010).
Na 1ª. etapa, os especialistas participantes deste trabalho receberam por correio eletrônico, a
proposta de regulação do reprocessamento de produtos médicos elaborada pela doutoranda,
sendo, neste momento, solicitados a manifestarem individual e secretamente sua posição de
concordância ou discordância com a proposta apresentada neste estudo. Nesta etapa, os
especialistas forão solicitados a atribuir pontos de zero a dez aos critérios apresentados, conforme
a relevância científica e prática operacional dos mesmos. O ponto zero equivaleu à eliminação do
critério e o ponto dez equivaleu à aceitação máxima do critério. Cada pontuação recebeu uma
justificativa por parte do especialista. As respostas dos especialistas foram reenviadas para a
doutoranda também por correio eletrônico, no prazo máximo de 10 dias contados a partir da data
do envio.
Na 2ª. etapa, a doutoranda fez uma apresentação para os especialistas em reunião presencial da
proposta originalmente formulada quando foram apresentados os pontos por eles atribuídos aos
critérios sugeridos na 1ª. etapa, as médias e os desvios-padrão calculados, a fim de subsidiar as
3
Especialistas participantes: Profa. Dra. Kazuko Graziano (EEUSP) ; Profa. Dra. Maria Clara Padoveze (EEUSP) ;
Profa. Dra. Silma Ribeiro (EEUFMG).
4
Ver FERRARO,Andréa Helena A.Imagem-objetivo para descentralização da Vigilância Sanitária no município.
Dissertação de Mestrado. Instituto de Saúde Coletiva. Universidade Federal da Bahia, 2007. Ver Conferência de
Consenso sobre a imagem-objetivo da descentralização da atenção à saúde no Brasil, de Luís Eugênio Portela de
Souza, Lígia Maria Vieira da Silva e Zulmira Harz. In: HARTZ, Zulmira, VIEIRA DA SILVA, Lígia. Avaliação em
Saúde. Dos Modelos Teóricos à Prática na Avaliação de Programas e Sistemas de Saúde. Salvador: Edufba, Rio de
Janeiro: Fiocruz, 2005.
198
199
A 2ª. etapa, foi realizada na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) em Brasília, no
dia 14 de dezembro, no bloco E, 1˚. andar, sala 5, com a participação da doutoranda, sua
orientadora, as 3 especialistas e 10 convidados da ANVISA que trabalham na Unidade de
Investigação e Prevenção de Infecção e Eventos Adversos (UIPEA)5, unidade esta responsável
pela regulação do reprocessamento de produtos médicos no país.
A metodologia empregada nesta etapa contemplou exposição oral participativa e discussão aberta
entre a doutoranda e os especialistas. Os 10 convidados não teriam, a priori, direito a
modificações nos critérios apresentados. Esta etapa constou dos seguintes passos:
Passo 1 - A doutoranda fez uma apresentação resumida do seu projeto de tese de doutorado
durante 15 minutos e a seguir, apresentou o modelo regulatório original de reprocessamento de
produtos médicos apresentado aos especialistas, bem como o resultado das médias e desvio
padrão dos critérios pontuados na 1ª. etapa. Foram descritos os critérios e sub-critérios do modelo
regulatório de reprocessamento de produtos médicos que foram excluídos e mantidos da proposta
original.
Passo 2 – Foi apresentado o modelo regulatório segundo as exclusões dos critérios avaliados na
1ª. etapa da Conferência de Consenso.
5
Dos 10 convidados da ANVISA que trabalham na UIPEA, apenas 1 compareceu à Conferência no período
matutino.
199
200
regulatório a ser reelaborado pela pesquisadora, para ser posteriormente encaminhado através de
e-mail para nova pontuação.
A 2ª. etapa demandou um dia intenso de trabalho, com início às 9 horas e término às 18 horas.
Na 3ª. etapa, os especialistas receberam novamente por correio eletrônico coletivo, a proposta
sugerida e resultante da etapa presencial e foram solicitados a atribuírem uma nova pontuação aos
critérios já conhecidos e trabalhados. Nesta etapa, a inclusão de um novo critério só foi
considerada, se unânime e consensual entre os três especialistas. Ao calcularmos as médias e
desvios-padrão dos pontos atribuídos pelos especialistas, constatamos um enorme desvio-padrão
na pontuação dos critérios (desvio padrão maior do que 5), representando, com isto, um grande
dissenso entre os especialistas dos sub-critérios analisados, tornando-se necessário que a
pesquisadora reelaborasse uma nova proposta de modelo regulatório de reprocessamento de
produtos médicos, a fim de se alcançar um consenso dos critérios e sub-critérios sugeridos. Nesta
etapa, uma especialista6 decidiu se afastar desse estudo e esta Conferência de Consenso
prosseguiu com duas especialistas.
Na 4ª. etapa, foi encaminhado uma nova proposta de modelo regulatório, fruto dos trabalhos da
etapa anterior, para que as duas especialistas atribuíssem definitivamente nova pontuação aos
critérios já conhecidos e analisados. Devido ao fato de contarmos nesta etapa com apenas duas
avaliadoras, não foi possível calcular o desvio-padrão dos pontos atribuídos aos sub-critérios,
sendo calculado apenas as médias desses pontos, definindo assim, o padrão ouro de regulação do
reprocessamento de produtos médicos desta investigação.
Pontuação de critérios
Os critérios sugeridos nesta proposta foram apresentados em matrizes segundo a classificação
regulatória dos produtos médicos e as etapas do reprocessamento. Cada critério regulatório
determinou sub-critérios que representaram categorias operacionais do reprocessamento de
produtos médicos. Nesta Conferência de Consenso a pesquisadora elaborou cinco propostas
6
A especialista Profa. Dra Silma Ribeiro decidiu se retirar da Conferência de Consenso, e resolvemos não inserirmos
uma nova especialista neste trabalho, por considerarmos que estamos na etapa final de construção do modelo
regulatório de reprocessamento de PM e que a inserção de uma nova avaliadora nesta contingência poderia resultar
em atraso do produto final.
200
201
regulatórias que foram apresentadas e submetidas aos especialistas nas quatro etapas de
avaliação, e que resultaram no modelo regulatório final de reprocessamento de produtos médicos
apresentado no Apêndice V.
Cada sub-critério de avaliação da presente proposta, recebeu uma pontuação de 0 a 10,
significando, respectivamente, baixa e alta aceitação do sub-critério apresentado. A pontuação do
critério resultou da média das notas atribuídas aos seus sub-critérios correspondentes. Para todos
os critérios e sub-critérios de avaliação foram calculados a média aritmética e o desvio padrão.
Assim, quanto maior a média, maior a importância/relevância/robutez do critério e quanto menor
o desvio padrão, maior o grau de consenso do critério.
As recomendações/sugestões individuais de cada especialista que não constavam nas propostas
originais elaboradas pela pesquisadora e portanto, não pontuadas, só foram acatadas quando
relacionavam-se com a forma/estilo de redação dos critérios.
Neste estudo, à semelhança do utilizado por Ferraro (2007), foram aplicados os seguintes pontos
de corte de avaliação de critérios:
a) média de pontos < 7: critério de pouca relevância. Critérios com essa média de pontos
não fizeram parte da proposta regulatória final deste estudo.
201
202
• Todo critério com média de pontos igual ou maior que 9 e desvio-padrão igual ou menor
que 1, foi considerado de muita relevância e de grande consenso e fez parte da proposta
regulatória.
• Todo critério com média de pontos igual ou maior que 9 e desvio padrão maior que 1 ou
menor ou igual a 3, foi considerado de muita relevância e pouco consenso e fez parte da
proposta regulatória.
• Todo critério com média de pontos maior ou igual a 7 e menor que 9 e desvio padrão
igual ou menor que 1, foi considerado de média relevância e de grande consenso e fez
parte da proposta regulatória.
• Todo critério com média de pontos maior ou igual a 7 e menor que 9 e desvio padrão
maior que 1 ou menor ou igual a 3, foi considerado de média relevância e de pouco
consenso e fez parte da proposta regulatória, desde que respaldado por estudos científicos
importantes.
• Todo critério com média de pontos maior ou igual a 7 e menor que 9 e desvio padrão >
que 3 e < ou igual a 4, foi considerado de média relevância e de grande dissenso e
somente fez parte da proposta se recomendado por órgão/associações oficiais.
• Todo critério com média inferior a sete e desvio padrão > que 3 e < ou igual a 4, foi
considerado de pouca relevância e de grande dissenso e foi excluído da proposta.
• Todo critério com média de pontos maior ou igual a 7 e menor que 9 e desvio padrão >
que 3 e < ou igual a 4, foi considerado de média relevância e de grande dissenso e
somente fez parte da proposta se recomendado por órgãos/associações oficiais.
• Todo Critério com média de pontos < que 7 e desvio padrão maior que 1 e menor ou igual
a 3, foi considerado de pouca relevância e de pouco consenso e foi excluído da proposta
202
203
Modelo Regulatório de Reprocessamento de Produtos Médicos
203
204
Fazer teste c/ lentes intensificadoras p/ avaliação de avarias externas, forma, cor e Fazer testes da funcionalidade de cada
avaliação de características como flexibilidade, força tênsil, p/ cada PM PMUU segundo seu uso intencionado
PM c/ falha em Indicador
Químico(classe 5/6):
Qualificar Qualificação de instalação não usar PM na vigência de falhas
Qualificação operativa comprovadas;
esterilizador Qualificação de desempenho rever parâmetros físicos do
Qualificação térmica anual das autoclaves esterilizador;
rever disposição dos PM dentro do
esterilizador;
Monitorar Indicadores físicos (cada ciclo) interromper esterilizador se IQ falha
Indicadores químicos 5 ou 6 (cada cx cirúrgica) em mais de um PM;;
ciclos de Indicadores biológicos (mínimo semanal, após conserto, proceder manutenção corretiva;
esterilização suspeita de mau função e em todo ciclo de implantes) notificar CCIH.
c/ registros Teste de B&D diário (autoclave pré vácuo)
204
escritos
PM c/ falha em Indicador Biológico:
repetir teste IB e se positivo, interromper uso do esterilizador/; notificar CCIH;
Realizar rastreabilidade do proceder manutenção corretiva ; recolher PM processados do ciclo c/ falha no
teste IB;
205
1. Para efeito de reprocessamento os produtos médicos são classificados em produto médico reprocessável e
produto médico não reprocessável.
2.2 Produto médico comercializado como de uso único passível de ser submetido às seguintes condições:
1- Limpeza monitorada e documentada. A monitoração desse processo pode ser realizada através
de teste químico para avaliação de resíduo orgânico;
2- Integridade física mantida após cada processamento por meio de testes de inspeção visual com
lentes intensificadoras de imagem;
3. Os produtos médicos não reprocessáveis são aqueles comercializados como de uso único que apresentam as
características abaixo-citadas e devem ser descartados após único uso:
1- Produto não desmontável e/ou com compartimento interno permeável a sangue e outros
fluidos, não passível de limpeza comprovada por meios visuais e de análises de testes químicos para resíduos
orgânicos;
4-Esterilidade duvidosa
4.Os produtos médicos reprocessáveis são classificados segundo o risco de transmissão de infecção nas seguintes
categorias:
4.1 Produtos Críticos de configuração complexa (são produtos que contenham lumens ou outros
espaços internos, balões, filtros, válvulas, partes móbeis, engates, dobradiças...).
4.2 Produtos Críticos de configuração simples (são produtos sólidos, sem estrutura ou espaços
internos e de superfície lisa).
6. No processo de limpeza:
6.1 Lavar PM com detergente neutro ou enzimático ou alcalino conforme seu grau e
sujidade.
6.2 Realizar fricção mecânica com artefatos de limpeza (escovas/buchas) adequados,
utilizando jatos de água sob pressão sobre todas as superfícies.
6.3 Complementar limpeza manual com a lavadora ultrassônica com retrofluxo, para
produtos críticos complexos canulados.
6.4 Utilizar água potável (filtro < 5 µm) e corrente para enxágüe.
6.5 Utilizar água tratada (destilada estéril OU osmose reversa OU filtrada com filtro <0,2µ)
para último enxágüe de PM usados em oftalmologia, cardiologia, e implantes de neurologia e ortopedia.
6.6 Secar PM crítico de configuração simples com compressas limpas e os artigos complexos
com jatos de ar comprimido medicinal. ou por meio do calor.
8.1 Realizar teste com lentes intensificadoras de imagem para avaliação de avarias externas,
forma, cor para cada PM. Avaliar também características segundo especificidades do PM a exemplo de flexibilidade,
força tênsil, força motora.
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207
11.1 Monitorar o processo de esterilização através dos controles dos parâmetros físicos
(temperatura, pressão, tempo de exposição, concentração do agente esterilizante) a cada ciclo.
207
208
15.3 Monitorar a concentração efetiva mínima da solução germicida com fitas testes, no
mínimo diariamente e documentar o teste.
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17.3 Monitorar a concentração efetiva mínima da solução germicida com fitas testes,
no mínimo diariamente e documentar o teste.
209
210
1. Qual o profissional responsável pelo reprocessamento de produtos médicos no CME do seu hospital?
( ) Enfermeira do CME
( ) Técnico ou Auxiliar de Enfermagem sob supervisão da Enfermeira
( ) Farmacêutico
( ) Outro........................................
2. O CME centraliza todas as atividades de reprocessamento de produtos médicos do hospital?
( ) Sim ( ) Não. Descrever.....................................................................................
3. Quais dos profissionais do CME realizam as atividades abaixo citadas?
( ) Limpeza de material................................................................................................
( ) Desinfecção..............................................................................................................
( ) Esterilização.............................................................................................................
( ) Outras atividades...........................................................................................................
4. Existe barreira física entre as áreas suja e limpa do CME?
( ) Sim ( ) Não. Descrever..........................................................................................
5. Assinale os ambientes do CME do hospital:
( ) Sala de recepção e limpeza. Ver presença de pia com sabão e papel toalha e dispensador de álcool gel.
( ) Sala de preparo e esterilização
( ) Sala de desinfecção química
( ) Área de monitoramento do processo de esterilização
( ) Sala de armazenamento e distribuição de materiais esterilizados
( ) Dispensadores de álcool gel em todas as áreas.
( )Vestiário com sanitário para funcionários
( ) Depósito de Material de limpeza
( ) Copa de funcionários
( ) Sala administrativa
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211
1.No seu hospital existe um Comitê/Grupo responsável pelo gerenciamento do reprocessamento de produtos
médicos? (Sim- pontuação 1 ponto)
( ) Sim. Membros constituintes.....................................................................................................
( ) Não
2.Qual o critério para a aquisição dos produtos médicos na sua instituição? (Sem pontuação - Esta questão pode ter
mais de 1 resposta)
( ) Indicação do Comitê de reprocessamento de produtos médicos
( ) Indicação dos médicos e/ou outros profissionais da equipe
( ) Recomendações resultantes de eventos científicos
( ) Iniciativa do setor de Compras do Hospital
( ) Outro .................................................................................................................
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213
3.Qual o setor/serviço responsável pela aquisição de produtos médicos na sua organização? (Sem pontuação – pode
ter mais de uma resposta)
( ) Comitê de reprocessamento de produtos médicos
( ) Serviço de Compras ou afim
( ) Serviço de Enfermagem
( ) Não existe
( ) Outro ..................................................................................................................
4.Existem protocolos escritos sobre especificações técnicas para a aquisição de produtos médicos? (Sim-pontuação 1
ponto)
( ) Sim ( ) Não
5.Existem protocolos escritos sobre as situações operacionais a serem implementadas nos casos de não
conformidades na aquisição dos produtos médicos? (Sim -pontuação 1 ponto)
( ) Sim ( ) Não
6.Os produtos médicos utilizados na sua organização, possuem registro da ANVISA? (Sim -pontuação 1 ponto)
( ) Sim ( ) Não
7. Você conhece as atuais regulamentações da ANVISA sobre Reprocessamento de Produtos para a Saúde? Se sim,
quais as linhas gerais destas normativas? (Sim -pontuação: 1 ponto)
( ) Sim.............................................................................................................................................
( ) Não
8. As regulações da ANVISA causaram alguma mudança nas práticas de reprocessamento de artigos na sua
instituição? (Sem pontuação)
( ) Sim ( ) Não
9.Que mudanças de ordem técnica nas práticas de reprocessamento de produtos médicos aconteceram no seu
hospital, após as novas legislações da ANVISA? ( Sem pontuação. Esta questão pode ter mais de 1 resposta)
( ) Mudança no processo de limpeza dos artigos
( ) Mudança no processo de esterilização dos artigos
( ) Elaboração e implantação de protocolos de validação dos processos de limpeza e esterilização
( ) Padronização do número de vezes de reprocessamento de cada artigo descartável
( ) Nenhuma mudança
Outras..................................................................................................................
10. Das situações listadas abaixo, quais foram evidenciadas no seu hospital, após as novas legislações da ANVISA?
(Sem pontuação - Esta questão pode ter mais de 1 resposta)
( ) Aumento de custo hospitalar decorrente da aquisição de materiais anteriormente reutilizados
( ) Diminuição de determinados procedimentos assistenciais associados com artigos de uso único
( ) Diminuição de atendimento assistencial
( ) Nenhuma mudança
( ) Outras..................................................................................................................
11. Da lista de produtos relacionados na RDC da ANVISA no. 2.606/2006, assinale qual artigo é reprocessado no
seu hospital e quantas vezes é reutilizado (Sem pontuação):
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214
214
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38. ( )Fios de sutura cirúrgica de fibra natural, sintético ou de colágeno, c/ ou s/ agulha. Número de
reuso........................................................
39. ( ) Geradores de pulso implantáveis. Número de reuso........................................
40. ( ) Hemoconcentradores. Número de reuso....................................................
41. ( ) Injetores valvulados p/ injeção de medicamentos, s/ agulha metálica. Número de reuso....................................................
42. ( ) Lâmina de Shaiver c/ diâmetro < 3mm. Número de reuso.................................
43. ( ) Lâminas descartáveis de bisturi, exceto as de uso oftalmológico. Número de reuso.........................................................
44. ( ) Lancetas de hemoglicoteste. Número de reuso..........................................
45. ( ) Lentes de contato descartáveis. Número de reuso.......................................
46. ( ) Luvas cirúrgicas. Número de reuso...........................
47. ( ) Luvas de procedimento. Número de reuso........................
48. Óleos e soluções viscoelásticas oftalmológicas. Número de reuso....................
49. ( ) Oxigenador de bolhas. Número de reuso.....................................
50. ( ) Oxigenador de membranas. Número de reuso..........................................
51. ( ) Pinças e tesouras não desmontáveis de qualquer natureza p/ cirurgia vídeo assistida laparoscópica. Número de
reuso.................................
52. ( ) Produtos implantáveis de qualquer natureza. Número de reuso...........................
53. ( ) Punch cardíaco plástico. Número de reuso..........................................
54. ( ) Reservatórios venosos p/ cirurgia cardíaca de cardioplegia e de cardiotomia. Número de reuso.................................................
55. ( ) Sensor de débito cardíaco. Número de reuso.........................................
56. ( ) Sensores de pressão intra-craniana. Número de reuso...................................
57. ( ) Seringas plásticas, exceto de bomba injetora de contraste radiológico. Número de reuso.......................................................
58. ( ) Sondas de aspiração. Número de reuso......................................
59. ( ) Sondas gástricas e nasogástricas, exceto do tipo fouché. Número de reuso...............................................
60. ( ) Sondas retais. Número de reuso.......................................
61. ( ) Sondas uretrais e vesicais, exceto as de uso em urodinâmica. Número de reuso..............................................................
62. ( ) Sugador cirúrgico plástico odontológico. Número de reuso...........
63. ( ) Registro multivias de plástico, exceto tipo manifold. Número de reuso.....................................
64. ( ) Cúpula isoladas p/ transdutores de pressão sanguínea. Número de reuso....................................
65. ( ) Trocater não desmontável com válvula de qualquer diâmetro. Número de reuso......................................................
66. ( ) Tubo de coleta de sangue. Número de reuso............................................
12.Em relação aos produtos médicos de uso único, qual das características abaixo relacionadas pode influir para a
decisão do não reprocessamento dos mesmos na sua instituição? (Sem pontuação - Esta questão pode ter mais de 1
resposta)
( ) Impossibilidade de limpeza do artigo
( ) Presença de lumens
( ) Presença de engates e válvulas
( ) Presença de filtros e acessórios
( ) Nenhuma característica acima é considerada
( ) Outra ............................................................
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14. O hospital fornece gratuitamente aos profissionais do CME imunização contra as doenças abaixo citadas?
(Pontuar 1 ponto para cada alternativa)
( ) Tétano
( ) Difteria
( ) Hepatite B
( ) Outra................................................................
1.No CME, existe manual sobre as rotinas de limpeza, desinfecção e esterilização de produtos médicos? (Sim –
pontuação- 1 ponto. Considerar Sim, SE existir manual para as 3 atividades.)
( ) Sim ( ) Não
2.Em caso afirmativo, estes manuais estão disponíveis para os profissionais que trabalham diretamente no
reprocessamento de produtos médicos? (Sim –pontuação-1 ponto)
( ) Sim ( ) Não
3.Qual a periodicidade de revisão deste manuais? (Marcar apenas 1 resposta)
( ) Semestral –( 1 ponto)
( ) Anual – (1 ponto)
( ) Sem revisão
( ) Outro ......................................................
4.O hospital adota alguns dos critérios abaixo para a verificar se o produto médico é passível de limpeza?
(Pontuação:1 ponto para cada critério. Esta questão pode ter mais de 1 resposta).
( ) Produto desmontável
( ) Produto transparente
( ) Produto possui estrutura interna revestida que protege seu interior da entrada de secreções
( ) Produto permite entrada e saída de água
( ) Não adota nenhum critério
( ) Outro...................................
5.No seu hospital, o processo de limpeza dos produtos médicos, é realizado através de ( Sem Pontuação):
( ) Limpeza manual
( ) Limpeza automatizada. Descrever tipo de máquina........................................................................................
( ) Outro .....................................................................................................................
6. A limpeza manual é realizada nas condições abaixo-citadas: (Pontuação:1 ponto para cada. Esta questão pode ter
mais de 1 resposta):
( ) Utilização de detergente neutro OU enzimático OU alcalino, conforme o grau de sujidade do produto médico.
( ) Fricção mecânica com artefatos (buchas/escovas/serpilhos) adequados, utilizando jatos de água sobre todas as superfícies dos PM.
( ) O recipiente da solução detergente é limpo diariamente e possui tampa
( ) A solução enzimática é preparada diariamente, conforme recomendação do fabricante
( ) A solução enzimática diluída e em uso é descartada sistematicamente ou na presença de grumos, sujidades, mudança de cor ou outra situação
que contribua para sua alteração.
( ) Os produtos são totalmente imersos na solução enzimática
( ) A escovação dos produtos é realizada de forma a prevenir a formação de aerossóis
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( ) Autoclave gravitacional
( ) Estufa
( ) Outro....................................................................
13.Qual o método de esterilização adotado no seu hospital, para produtos médicos termo-sensíveis? (Sem pontuação)
( ) óxido de etileno
( ) plasma de peróxido de hidrogênio
( ) plasma de formaldeído
( ) esterilização química líquida
( ) Não realiza
( ) Outro....................................................................
14. Qual o método de descontaminação de produtos médicos semi-críticos e não críticos no CME da sua instituição?
( Ver pontuação)
( ) Termo desinfecção para PM semi-criticos compatíveis com altas temperaturas – 1 ponto
( ) Desinfecção de alto nível para PM semi-crítico – 1 ponto
( ) Limpeza para PM não críticos, na ausência de matéria orgânica – 1 ponto
( ) Desinfecção de baixo nível para PM não crítico na presença de matéria orgânica, após limpeza – 1 ponto
( ) Não realiza
( ) Outro.......................................................................................................
15. Quais os desinfetantes de alto nível versus PM utilizados no seu hospital? (Sem pontuação)
( ) Glutaraldeído 2%.............................................................................................
( ) Ortoftaldeído 0,55%........................................................................................
( ) Peróxido de hidrogênio...................................................................................
( ) Ácido per acético............................................................................................
( ) Outro..............................................................................................................
( ) Não utiliza.
16. Quais os desinfetantes de baixo nível versus PM utilizados no seu hospital? (Sem pontuação)
( ) Hipoclorito de sódio a 0,02%.........................................................................
( ) Álcool 70%.......................................................................................
( ) Quaternário de amônio...................................................................................
( ) Outro..............................................................................................................
( ) Não utiliza.
17. O CME dispõe de uma sala exclusiva para a realização da desinfecção química? ( Sim- pontuação 1 ponto).
( )Sim ( ) Não
18. Assinale as características da sala de desinfecção química: (Pontuação: 1 ponto para cada alternativa).
( ) Área mínima de 4m²
( ) Sistema de ventilação com temperatura entre 18 a 22˚C, umidade relativa entre 40 a 60%, com vazão mínima de ar total de 18,00m³/h/m²
( ) Exaustão de ar para o exterior
( ) Bancada com cuba de lavagem de 0,80m X 0,60m e 0,50m de profundidade
( ) Ponto de água potável com filtro < 0,5 micra para enxágüe
( ) Outro...............................
( ) Nenhum acima
19.Assinale a freqüência do monitoramento da concentração da solução germicida em uso. ( Ver pontuação).
( ) Teste diário – 1 ponto
( ) Teste a cada ciclo de desinfecção – 1 ponto
( ) Teste semanal
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219
( ) Não realiza
( ) Outro..................................
20.Qual o critério adotado no CME para descarte da solução germicida em uso? (Pontuação: 1 ponto para cada
alternativa).
( ) Cada ciclo
( ) Baseado no resultado do teste
( ) Segundo orientação do fabricante
( ) Nenhum
( ) Outro.......................................................
21.Quais EPIs são utilizados no processo químico de desinfecção ou esterilização? (Ver pontuação)
( ) touca
( ) luva butílica -1 ponto
( ) máscara anti-químico – 1 ponto
( ) avental impermeável – 1 ponto
( ) Outro......................................................................
22. Após o processo de desinfecção química, assinale as rotinas adotadas no CME (Ver pontuação):
( ) Enxágüe do PM com água potável (filtro < 5µM) e corrente – 1 ponto
( ) Secagem interna e externa do PM – 1 ponto
( ) Acondicionamento em embalagem limpa – 1 ponto
( ) Não realiza
( ) Outro.........................................................................................
23.Qual embalagem é utilizada para esterilização dos produtos médicos, na sua instituição? (Sem pontuação)
( ) Tecido de algodão
( ) Papel grau cirúrgico
( ) Papel crepado
( ) Não tecido
( ) Tyvec
( ) Outra .......................................................................................................
24.Caso a embalagem seja de tecido de algodão, assinale as especificações e controles de uso desta embalagem: (Ver
pontuação).
( ) Tecido de algodão sem critérios específicos
( ) Tecido 100% algodão, com padrão sarja 2/1, gramatura de 210g/m²±5%, urdume de 40 fios por polegada quadrada no sentido longitudinal,
trama de 17 fios por polegada quadrada no sentido transversal, textura de aproximadamente 40 a 56 fios por cm². – 1 ponto
( ) Troca do arsenal de tecidos de algodão como embalagem anualmente e/ou na presença de perfurações e desgastes.- 1 ponto
( ) Controle do número de usos através de registros nas embalagens- 1 ponto
( ) Nenhum controle de uso
( ) Outro...................................................................
25. Como é feita a identificação do pacote esterilizado no CME? (Ver pontuação).
( ) Conteúdo, número do lote, data do reprocessamento, data da validade da esterilização, método de esterilização, nome do operador – 1 ponto
( ) Conteúdo, data do reprocessamento.
( ) Data da validade da esterilização.
( ) Outra.......................................................................................................................
26. Após esterilização, como são monitorados os produtos médicos em relação a validade de esterilização? ( Pode ter
mais de 1 resposta)
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220
( ) Sistematização de inspeção semanal dos estoques de PM esterilizados, retirando de uso os PM com sinais de comprometimento da embalagem,
selagem e/ou outros eventos relacionados com perda da esterilidade - 1 ponto
( ) Sistematização através de datas fixadas de validade de esterilização.
( ) Não realiza
( ) Outro.........................................................
1.Na rastreabilidade de PM esterilizados segundo indicadores químicos (IQ) , o CME adota as seguintes rotinas
listadas abaixo (Pontuação: 1 ponto para cada afirmativa)
( ) Não utilizar PM na vigência de falhas comprovadas no indicador químico classe 5 ou 6 - 1 ponto
( ) Rever a disposição dos PM dentro do aparelho esterilizador, quando IQ apresentar falhas - 1 ponto
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( ) Rever parâmetros físicos da esterilização como tempo, temperatura e qualidade do vapor e saturação de 95% ou rever a concentração do agente
esterilizante, quando IQ apresentar falhas em mais de um PM do mesmo lote – 1 ponto
( ) Interromper a utilização do esterilizador quando IQ apresenta falhas em mais de um PM do mesmo lote e há falha nos parâmetros físicos – 1
ponto
( ) Notificar à Comissão de Controle de Infecção Hospitala – 1 ponto
( ) Proceder à manutenção corretiva do esterilizador – 1 ponto
( ) Não realiza
( ) Outro...........................
2.Na rastreabilidade de PM esterilizados segundo indicadores biológicos (IB) , o CME adota as seguintes rotinas
listadas abaixo (Pontuação: 1 ponto para cada afirmativa)
( ) Na vigência de ciclo de esterilização com teste IB positivo, repetir o teste IB e se o segundo teste IB for positivo, interromper o uso do
esterilizador - 1 ponto
( ) Notificar à Comissão de Controle de Infecção Hospitala – 1 ponto
( ) Proceder à manutenção corretiva do esterilizador . se o segundo teste IB for positivo – 1 ponto
( ) Recolher das unidades assistenciais os PM processados do ciclo de esterilização em falha no teste IB – 1 ponto
( ) Realizar 3 testes no esterilizador com IB e liberar equipamento se testes IB são negativos – 1 ponto
( ) Não realiza
( ) Outro...........................
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13 Apêndice V
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223
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RDC N˚ 50, de 21 de fevereiro de 2002 – atualizada pela RDC Nº 307 Estrutura física
de 14 de novembro de 2002 – regulamento técnico para planejamento,
programação, elaboração e avaliação de projetos físicos dos
estabelecimentos assistenciais de saúde.
RDC Nº 189, de 18 de julho de 2003 – altera a RDC Nº 50/2002.
Portaria Federal MS N˚ 36 de 19 de janeiro de 1990- estabelece Qualidade da água
normas da potabilidade de água para consumo humano.
Portaria MS N˚ 518, de 25 de março de 2005 – estabelece os
procedimentos/responsabilidades relativos ao controle e vigilância da
qualidade de água (Revoga a Portaria MS Nº 1469/2001).
Decreto Federal N˚ 79.367 de 9 de março de 1977- estabelece
competência do MS sobre definições de potabilidade da água para
consumo humano.
Lei N˚ 6050 de 24 de maio de 1974- dispõe sobre a fluoretação da
água em sistemas de abastecimentos.
225