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Trabalho de Conclusão de Curso I do Curso de Farmácia.
2
Acadêmica do curso de Farmácia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí. e-mail:
julybrittes@yahoo.com.br
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Mestre em Controle de Qualidade, docente do Departamento de Ciências da Saúde da Universidade Regional do Noroeste do Estado
do Rio Grande do Sul – Unijuí. e-mail: angelica.moreira@unijui.tche.br
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REVISTA CONTEXTO & SAÚDE IJUÍ EDITORA UNIJUÍ v. 5 n. 10 JAN./JUN. 2006 p. 47-53
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48 Juliana Melchior Brittes – Angélica Cristiane Moreira
A concentração de cloridrato de ranitidina para (Gehaka® modelo AG200), sobre papel de pesagem
o preparo das fórmulas foi de 10 mg por cápsula. registrando os valores até a 4ª casa (em g). Em se-
Pesou-se 0,672 g de cloridrato de ranitidina em ba- guida calculou-se o peso médio, limites de variação,
lança analítica (Gehaka® modelo AG200) para pre- desvio padrão e o coeficiente de variação percentual
parar uma quantidade de 60 cápsulas. Determinou- (Farmacopéia Brasileira, 1988).
se o volume aparente do pó em uma proveta, para
As cápsulas preparadas foram acondicionadas em
encapsulação na cápsula nº 0 (0,68 mL) o volume
potes de plástico branco e devidamente rotuladas.
restante foi preenchido pela mistura de excipientes.
Foram preparados três tabuleiros de sessenta cáp-
sulas para avaliar os três diferentes processos de Desintegração
mistura. Considera-se Processo I – saco plástico,
Processo II – gral de porcelana e Processo III – Para o teste de desintegração utilizou-se 6 cáp-
misturador automático. sulas de cada processo de mistura, dispondo-as iso-
ladamente em cada tubo do cesto do desintegrador
(Nova Ética®). O meio utilizado foi 900 mL de água
Processo I à temperatura de 37°C (Farmacopéia Brasileira,
1988).
Em um saco plástico verteu-se o pó proveniente
da proveta e fez-se movimentos leves em todas as
direções por 5 minutos. Em seguida encapsulou-se. Determinação do Teor de Princípio Ativo
Para a determinação do teor de princípio ativo
Processo II utilizou-se o método espectrofotométrico, sendo pri-
meiramente realizado o teste de dissolução segundo
Transferiu-se o pó da proveta para um gral de
a monografia do fármaco da USP XXIV.
porcelana. Com auxílio do pistilo a mistura se deu
através de movimentos do centro para a periferia e Para a realização do teste de dissolução das cáp-
da periferia para o centro (Prista, Alves, Morgado, sulas, utilizou-se o dissolutor Nova Ética modelo 299/
1995), por um tempo de 5 minutos e posterior en- 6 com cesto. Como líquido de dissolução usou-se
capsulação. 900 mL de água. Colocaram-se as cápsulas no meio
de dissolução a 37°C em agitação constante de 50
rpm por um tempo de 45 minutos. Retirou-se alí-
Processo III
quotas de 9 mL de cada amostra nos tempos 5, 15,
Utilizou-se misturador automático Mixer Plus® 30 e 45 minutos, filtrou-se e procedeu-se a leitura
(Tepron®), no qual colocou-se o pó no recipiente de da absorbância em comprimento de onda de 314
vidro móvel e ligou-se o aparelho por 5 minutos na nm. Para cada alíquota retirada foi reposta igual
velocidade de 56rpm (estudos prévios demonstram quantidade de meio de dissolução. O teste foi reali-
que entre as velocidades 31, 47 e 56 rpm a última zado em triplicata.
demonstrou maior eficácia de mistura) (Souza, 2001).
Preparou-se uma solução padrão de mesma con-
centração da amostra. Determinou-se a absorbân-
Análise das Cápsulas cia das amostras e do padrão através do espectro-
fotômetro UV e Vis (Metrolab modelo 1700 V.
3.02C) na região UV.
Peso Médio
Com os valores de absorbância obtidos efetua-
Verificou-se o peso médio usando 20 cápsulas ram-se os cálculos através da equação de Lambert-
preparadas por cada processo de mistura. Pesou-se Beer para a determinação do teor de princípio ativo
individualmente as cápsula em balança analítica liberado em cada tempo de coleta das amostras.
% p.a
padrão, CV% = coeficiente de variação percentual, LI = 70
60
limite inferior, LS = limite superior, DLI = dobro do limite
50
inferior, DLS = dobro do limite superior.
40
30
Os dados obtidos foram analisados com base
20
nas especificações estabelecidas pela Farmacopéia 10
Brasileira IV edição, que determina para o teste de 0
peso médio de cápsulas que possuem peso médio 5 15 30 45
Tempo (min)
superior a 300 mg o limite de variação de ± 7,5 %
(LI, LS) podendo duas cápsulas exceder estes limi- Figura 1: P I (saco plástico) – porcentagem de princípio
tes e, nenhuma ultrapassar o dobro dos limites (DLI, ativo x tempo de coleta
DLS) (Farmacopéia Brasileira, 1988). Sendo assim, No processo de mistura realizado em saco plás-
nenhuma cápsula dos processos I, II e III excede- tico em 45 minutos não foi liberada a quantidade
ram os valores especificados. mínima de princípio ativo que segundo a USP XXIV
Complementando o teste de peso médio calculou-se deveria ser de 80%, sendo liberado apenas 60,20%,
o desvio padrão, parâmetro útil na medida da ampli- quantidade esta inferior ao preconizado.
tude de variação em torno da média, assim quanto Tabela 3: P II (gral de porcelana) – valores médios
menor o valor do desvio padrão menor a variação de absorbância e teor de princípio ativo em cada
dos pesos individuais. Através do coeficiente de varia- tempo de coleta
ção obtém-se um indicativo desta relação em termos Tempo 5’ 15’ 30’ 45’
percentuais (Ferreira, 2002). Os valores obtidos de
Abs Média 0,0925 0,4420 0,4910 0,4740
desvio padrão e coeficiente de variação percentual
nos diferentes processos de mistura foram adequa- % p.a 19,27 92,08 97,28 98,75
dos o que sugere a uniformidade das doses. Legenda: Abs = absorbância, % p.a = porcentagem de
O tempo de desintegração obtido para os pro- princípio ativo
cessos de mistura em saco plástico e em gral de 120
% p.a
% p.a
Tempo 5’ 15’ 30’ 45’ 100
princípio ativo 20
0
% p.a
120
5 15 30 45
100 Tempo (min)
80
Figura 4: Comparação dos processos de mistura
60
40
20
0
5 15 30 45
Tempo (min)
Conclusão
Figura 3: P III (misturador automático) – porcentagem de
Em termos de qualidade, as cápsulas prepara-
princípio ativo x tempo de coleta
das pelos diferentes processos de mistura estão den-
Os processos II e III provenientes respectiva- tro dos limites aceitáveis. Limites estes especifica-
mente de mistura em gral de porcelana e em mis- dos pela Farmacopéia Brasileira IV edição em rela-
turador automático, apresentaram resultados sa- ção ao peso médio, limites de variação, desvio pa-
tisfatórios, pois no tempo de 45 minutos liberaram drão, coeficiente de variação percentual e teste de
a quantidade mínima de 80% do fármaco de acor- desintegração. As quatro primeiras variáveis são de
do com o preconizado pela USP XXIV. extrema importância para garantir a uniformidade
de conteúdo e o teste de desintegração afeta direta-
De acordo com a monografia do fármaco, para mente a absorção, biodisponibilidade e portanto a
o teste de dissolução de cápsulas de cloridrato de ação terapêutica.
ranitidina, um único tempo de coleta é especifi-
Apesar das cápsulas obtidas através do proces-
cado que é de 45 minutos. Entretanto, retirou-se
so de mistura em saco plástico apresentarem quali-
alíquotas em tempos de 5, 15, 30 e 45 minutos
dade o mesmo não ocorreu quanto à eficácia tera-
com a finalidade de traçar um perfil de dissolu-
pêutica. Pois, este processo de mistura originou um
ção. Observou-se através deste perfil traçado que
teor de princípio ativo inferior ao exigido na mono-
as cápsulas preparadas pelo processo de mistura grafia do fármaco da USP XXIV. Possíveis causas
utilizando o gral de porcelana liberaram o princí- para a baixa porcentagem de liberação do princípio
pio ativo mais rapidamente do que as cápsulas ativo seriam: perdas de pó durante o processo de
obtidas pelo processo de mistura utilizando o mis- mistura e aderência do pó as paredes do saco plás-
turador automático. Todavia considera-se satis- tico. Através dos resultados obtidos comprova-se
fatório os resultados obtidos com ambos os pro- que o processo de mistura realizado em saco plásti-
cessos de mistura, pois liberaram o fármaco den- co é ineficaz e inseguro quanto à concentração do
tro do tempo de 45 minutos estabelecido pela fármaco nas cápsulas. O que restringe seu uso em
monografia do fármaco recomendado pela USP farmácias magistrais devido à falta de exatidão quan-
XXIV. to à homogeneidade da dose.
Já os processos de mistura utilizando gral de por- ANSEL, H. C.; POPOVICH, N. G.; ALLEN JR.,
celana e o misturador automático, apresentaram L. V. Farmacotécnica: formas farmacêuticas &
qualidade da forma farmacêutica e eficácia quanto sistema de liberação de fármacos. 6. ed. São Paulo:
ao teor de princípio ativo. Consideram-se estes dois Premier, 2000. p 181-190.
processos de mistura os mais eficazes e adequados MANUAL: misturador para sólidos Mixer Plus®.
para serem executados nas farmácias de manipula- São Paulo: Tepron, 2003.
ção, tendo em vista que ambos promoveram uma NIGRO, P. R. A.; CARAZZATTO, R. A farmaco-
excelente liberação do fármaco e também por se- técnica das cápsulas. Racine, São Paulo, n. 52, p.
rem menos passíveis de perdas durante o processo 21, set./out. 1999.
de mistura. HOSTETLER, Van. Cápsulas Parte 1 – Cápsulas
de gelatina dura. In: LACHMAN, L.; LIEBER-
Os processos de controle de qualidade descritos
MAN, H. A.; KANIG, J. L. Teoria e prática na
devem ser realizados cuidadosamente para que o indústria farmacêutica. Lisboa: Calouste Gulbenki-
produto final tenha qualidade e eficácia assegura- an, 2001, p. 672. V. 2.
da. Pois com o crescimento do consumo de medi-
FERREIRA, Anderson. Guia prático da farmá-
camentos manipulados, principalmente na produção
cia magistral. 2. ed. Juiz de Fora, 2002. p. 56-60,
de cápsulas é de obrigatoriedade do farmacêutico 70-72, 81, 132, 796.
seguir todos os parâmetros exigidos e preconizados
EISEIG, Jaime N.; LAUDANNA, Antônio A. Ma-
pela legislação vigente.
nual de condutas médicas: úlcera péptica. Instituto
para o desenvolvimento da saúde: Programa Saú-
de da Família. São Paulo, 2001. Disponível em:
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Agradecimentos texto81_definicao.asp.>. Acesso em: 2 abr. 2005.
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