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Progressões – Parte I

Newton de Góes HortaMatemática, PA, PG Matemática, Técnico36 Comments

Esta matéria aborda o conceito e propriedades de sequência ou sucessão, com ênfase nas
que possui uma fórmula bem definida que permite calcular qualquer um de seus termos.
Ou seja, das sequências que possuem uma lei de formação que estabelece uma relação
entre o valor de seus termos e sua posição.

Especificamente, das duas mais conhecidas: a Progressão Aritmética (PA) e a


Progressão Geométrica (PG), dividido em três partes (a primeira este artigo e as demais
serão publicadas oportunamente):

 Parte I – teoria sobre PA;


 Parte II – teoria sobre PG;
 Parte III – exercícios resolvidos sobre PA e PG.

Mas antes precisamos conhecer a definição do que seja uma sequência ou sucessão.

Sequências ou Sucessões

Uma sequência ou sucessão é um conjunto ordenado (finito ou infinito) de elementos de


qualquer natureza, em que cada elemento fica naturalmente seqüenciado.

Um conjunto ordenado é um conjunto que possui uma relação de ordem.

E uma relação de ordem é definida para pares de elementos de um conjunto S, e têm


que, necessariamente, possuir três características:

 anti-simetria: para todo e , ou ;

 se e , então ;

 transitividade: se e , então .

São exemplos de sequências:

 sequência dos dias da semana: domingo; segunda-feira; terça-feira; quarta-feira;


quinta-feira; sexta-feira; sábado;
 sequência dos 100 primeiros números inteiros positivos: 1; 2; 3; … ; 98; 99;
100;
 Os números de Fibonacci (esta seqüência foi descrita primeiramente por
Leonardo de Pisa, também conhecido como Fibonacci (c. 1200), para descrever
o crescimento de uma população de coelhos): 0, 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55,
89, 144, 233, 377, 610, 987, 1597, 2584, 4181, 6765, 10946…

Note que todos os exemplos possuem as três características definidas na relação de


ordem.
A título de ilustração, abrindo um parênteses, apresento a seguir a fórmula recursiva que
define os números de Fibonacci (n pertencente ao conjunto dos números Naturais):

Na prática: você começa com 0 e 1, e então produz o próximo número de Fibonacci


somando os dois anteriores.

A representação de uma sequência é feita escrevendo-se seus elementos, ou termos,


entre parênteses. Assim, o segundo exemplo acima, é representado por:

(1; 2; 3; … ; 98; 99; 100)

Da definição de sequência, onde a ordem de seus elementos é uma condição necessária,


temos que:

( 1; 3; 5; 7; 9; 11) é diferente de (1; 3; 7; 5; 9; 11)

Genericamente, sua representação pode ser escrita como:

(a1; a2; a3; …; an-1; an; …)

onde n pertence ao conjunto dos números naturais positivos. Os índices indicam a


posição dos termos na sequência (a1 representa o primeiro termo, an representa o
enésimo termo, …).

Formalmente, uma sequência ou sucessão numérica pode ser definida como uma função
dos números naturais menos o zero em R:

Uma sequência numérica é finita se o domínio de f é finito, isto é, i varia de 1 a n


pertencente ao conjunto dos números Naturais (i = 1, 2, …, n), também conhecida como
n-upla. E infinita quando o domínio é o próprio conjunto dos números Naturais
positivos (i = 1, 2, …., n-1, n, …).

Três termos consecutivos qualquer de uma sequência podem ser representados por:

an-1, an, an+1

onde an-1 é o antecessor de an e an+1 é o sucessor de an.

Lei de Formação
Interessam à Matemática as sequências numéricas para as quais é possível estabelecer
uma lei de formação, ou seja uma fórmula que permita calcular qualquer um de seus
termos. Ou em outras palavras as sequências numéricas em que seus termos se sucedem
obedecendo a uma regra.

Estas leis de formação podem ser apresentadas das maneiras a seguir:

a) Por Recorrência

São dadas duas ou mais regras: uma (ou mais) que define os termos iniciais da
sequência e outra para calcular os demais termos a partir de antecessores.

Exemplos:

 Os números de Fibonacci: definidos a1 = 0 e a2 = 1 e a regra F(n-1) + F(n-2) que


corresponde à soma dos dois antecessores para definir os demais termos;
 a1 = 5, an = an-1 + 3 e n = 5: a1 = 5, a2 = a1 + 3 = 8, a3 = a2 + 3 = 11, a4 = a3 + 3 =
14, a5 = a4 + 3 = 17 => (5; 8; 11; 14; 17)

b) Em função do índice da sequência (posição)

Exemplos:

 an = 2n + 3, n = 1, 2, 3, 4, 5: (5; 7; 9; 11; 13);


 an = 2n, n Natural diferente de zero: (2; 4; 8; 16; …).

c) Por propriedade dos termos

Exemplos:

 A sequência cujos termos são os primeiros cinco números primos: (2; 3; 5; 7;


11);
 A sequência dos números inteiros ímpares menores do que 20: (1; 3; 5; 7; 9; 11;
13; 15; 17; 19).

Progressões Aritméticas (PA)

Define-se progressão aritmética como toda sequência numérica em que cada termo, a
partir do segundo, é igual à soma de seu antecessor por um número constante r. r é
denominado a razão da PA. Em símbolos:

an = an-1 + r (n >= 2)

As PA são classificadas em três tipos:

Uma PA é crescente quando r > 0, ou seja, quando cada termo é maior do que seu
antecessor (claro, a partir do segundo). De fato, da definição decorre que:

an – an-1 = r > 0 <==> an – an-1 > 0 <==> an > an-1


Uma PA é constante quando r = 0, ou seja, quando cada termo é igual ao antecessor:

an – an-1 = r = 0 <==> an – an-1 = 0 <==> an = an-1

Uma PA é decrescente quando r < 0, ou seja, quando cada termo é menor do que seu
antecessor:

an – an-1 = r < 0 <==> an – an-1 < 0 <==> an < an-1

Fórmula do Termo Geral de uma PA

Seja (a1; a2; a3; …; an-1; an; …) uma PA qualquer de razão r. Então seu enésimo termo
(an) é:

an = a1 + (n – 1)r

Demonstração:

Sabemos, da definição de uma PA, que a diferença entre cada termo e seu antecessor é
igual a razão, isto é:

a2 – a1 = r, a3 – a2 = r, a4 – a3 = r, …, an – an-1 = r

Somando, membro a membro, estas n – 1 igualdades, obtemos:

a2 – a1 + a3 – a2 + a4– a3 + … + an – an-1 = (n – 1)r

Cancelando os termos comuns:

-a1 + an = (n – 1)r => an = a1 + (n – 1)r

Observações:

 Da definição decorre que uma PA fica determinada quando conhecemos o


primeiro termo e a razão;
 Em uma PA finita a1 e an são denominados os seus extremos e os demais termos
os meios aritméticos;
 A fórmula do termo geral de uma PA nos diz que para calcular o termo de ordem
n é suficiente somarmos (n – 1) vezes a razão ao primeiro termo;
 Do mesmo modo, essa fórmula permite calcular o número de termos de uma PA
finita conhecendo-se seus extremos e a razão.

Termos Equidistantes dos Extremos

Dados os dois termos ap e aq de uma PA finita com n termos, dizemos que eles são
equidistantes dos extremos se o número de termos que antecedem ap – (p – 1) termos – é
igual ao número de termos que sucedem aq – (n – q) termos.

Da definição vem que:


p – 1 = n – q => p + q = n + 1

Essa relação nos permite dizer, por exemplo, que em uma PA finita com 30 termos, o
termo 6 é equidistante do 25, uma vez que 6 + 25 = 30 + 1.

Soma dos termos de uma PA finita

Antes de deduzir a fórmula da soma dos n primeiros termos de uma PA finita, vamos
demonstrar a seguinte propriedade:

PA1. Em uma PA finita, a soma de dois termos equidistantes dos extremos é igual à
soma dos extremos.

Demonstração:

Sejam ap e aq dois termos equidistantes dos extremos de uma PA finita com n termos. O
que vamos provar é:

ap + aq = a1 + an

Pela fórmula do termo geral:

ap = a1 + (p – 1)r e aq = a1 + (q – 1)r

Somando os membros das igualdades obtemos:

ap + aq = a1 + (p – 1)r + a1 + (q – 1)r = a1 + a1 + (p + q – 2)r

Substituindo p + q (veja definição acima):

ap + aq = a1 + a1 + (n + 1 – 2)r = a1 + a1 + (n – 1)r

E pela definição do termo geral de uma PA:

ap + aq = a1 + an

PA2. A soma dos n primeiros termos de uma PA é dada pela fórmula:

Demonstração:

Pela propriedade PA1 temos que (note que a soma de todos os índices de cada parcela é
igual a n + 1, e portanto, equidistantes dos extremos):

a2 + an-1 = a3 + an-2 = … = a1 + an

Por outro lado:


Sn = a1 + a2 + … + an

=> Sn + Sn = 2Sn = (a1 + an) + (a2 + an-1) + … + (an + a1)

onde ordenamos as parcelas convenientemente, primeiro termo do primeiro Sn com o


último do segundo, e assim por diante, de modo a obter n parcelas iguais a a1 + an.
Logo:

2Sn = (a1 + an)n => Sn = [(a1 + an)n]/2 c.q.d.

PA3. A soma dos n primeiros inteiros positivos é:

Demonstração:

Consequência direta de PA2, uma vez que a1 = 1 e an = n.

Progressões – Parte II
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Em continuidade ao artigo Progressões – Parte I que trata dos conceitos e propriedades


de sequência e da Progressão Aritmética (PA), vamos, agora, fazer a abordagem teórica
sobre as Progressões Geométricas (PG).

Progressões Geométricas (PG)

Definição

Uma progressão geométrica (PG) é uma sequência numérica em que cada termo, a
partir do segundo, é igual ao antecessor multiplicado por uma constante q denominada a
razão da PG. Ou seja:

an = an-1.q (n >= 2)

Observe que se a1 e q são diferentes de zero podemos escrever q = an/an-1, uma vez que,
nessas condições, todos os termos da PG são também diferentes de zero.

Exemplos:

1. (1; 2; 4; 8; 16; …) onde a1 = 1 e q = 2;


2. (-2; -6; -18; -54; …) onde a1 = -2 e q = 3;
3. (9; 9; 9; 9; …) onde a1 = 9 e q = 1;
4. (1; -3; 9; -27; …) onde a1 = 1 e q = -3;
5. (20; 0; 0; 0; …) onde a1 = 20 e q = 0.
Classificação

As PG são classificadas em cinco categorias de acordo com os valores do seu primeiro


termo a1 e de sua razão q.

a) Crescentes:

São as PG em que cada termo é maior do que o seu antecessor (exemplo 1. acima) e
ocorre nas duas situações seguintes:

1. a1 > 0 e q > 1 (termos positivos e razão maior do que 1);


2. a1 < 0 e 0 < q < 1 (termos negativos e a razão entre zero e um).

Demonstração de 1:

Como a1 e q são diferentes de zero, temos

an/an-1 = q > 1 <==> an > an-1

b) Decrescentes

São as PG em que cada termo é menor do que o seu antecessor (exemplo 2.) e ocorre
nas duas situações abaixo indicadas:

1. a1 < 0 e q > 1 (termos negativos e razão maior do que 1);


2. a1 > 0 e 0 < q < 1 (termos positivos e a razão entre zero e um).

c) Constantes

São as PG em que cada termo é igual ao anterior (exemplo 3.):

1. a1 = 0 e q qualquer;
2. a1 = c e q = 1, onde c é um número real qualquer.

d) Alternantes

São as PG em que cada termo tem o sinal contrário ao de seu antecessor (exemplo 4.).
Ocorre quando q < 0 e a1 é diferente de zero.

e) Estacionárias

São as PG em que seu termo inicial a1 é diferente de zero e todos os demais são iguais a
zero (exemplo 5.). Ocorre quando q = 0, e, claro, a1 é diferente de zero.

Fórmula do Termo Geral de uma PG

Seja (a1; a2; a3; … ; an-1; an; …) uma PG de razão q, então seu enésimo termo (an) é:

an = a1.qn-1
Demonstração:

Pelo princípio da indução finita:

i) Verdadeira para n = 1:

a1 = a1.q1-1 => a1 = a1.qo = a1.1 = a1

ii) Suponhamos que a fórmula é verdadeira para n = p (hipótese da indução) e


mostremos que é verdadeira para n = p + 1, isto é:

ap = a1.qp-1 => ap+1 = a1.qp+1-1 = a1.qp

Da definição de PG:

ap+1 = ap.q

Da hipótese, vem:

ap+1 = a1.qp-1.q => ap+1 = a1.qp+1-1 = a1.qp

Interpolação Geométrica

Interpolar k meios geométricos entre dois números a e b, é o mesmo que determinar


uma PG de n = k + 2 termos, onde seus extremos sejam iguais a esses números, ou seja,
onde a1 = a e an = b.

Como temos os extremos definidos, para interpolar meios em uma PG basta calcular sua
razão. Assim, da definição de PG temos:

Note que se o índice da raiz é par, teremos como solução duas PG distintas
correspondente a q positivo e q negativo, respectivamente.

Soma dos Termos de uma PG Finita

A soma dos n primeiros termos de uma PG é:

Demonstração:

Temos:

Sn = a1 + a2 + a3 + … + an-1 + an
Multiplicando os membros da igualdade por q obtemos

qSn = a1q + a2q + a3q + … + an-1q + anq = a2 + a3 + … + an + an+1

Na última passagem foi utilizada a definição de PG. Subtraindo membro a membro esta
igualdade da anterior e cancelando os termos comuns:

qSn – Sn = -a1 + an+1 = -a1 + a1.qn

Colocando Sn e a1 em evidência vem:

(q – 1)Sn = a1(qn – 1)

Dessa última igualdade se obtem a fórmula da soma.

Soma dos Termos de uma PG Infinita (Limite da Soma)

Inicialmente, deixemos claro que a fórmula da soma a seguir só se aplica quando -1 < q
< 1. Isto porque, somente nessas condições, uma PG infinita converge, ou seja, à
medida que n tende para infinito, qn tende a zero.

Caso contrário, quando q > 1 ou q < -1, qn cresce indefinidamente à medida que n
cresce, e, portanto, é impossível calcular a soma dos termos da PG. Lembre-se que em
uma PG seus termos crescem ou decrescem em função da razão.

Para clarear, tome como exemplo a PG infinita definida por:

cuja soma dos seus n primeiros termos, aplicando-se a fórmula é (deixo os cálculos para
você):

Conforme n aumenta indefinidamente (na fração) o seu denominador aumenta da


mesma forma e, em consequência, a fração assume valores cada vez mais próximos de
zero e Sn se aproxima de 1. Ou seja:

Dessa forma, podemos agora estabelecer a definição da soma dos termos de uma PG
infinita.

Seja (a1; a2; a3; … ; an-1; an; …) uma PG infinita de razão q, -1 < q < 1, então a soma de
seus termos é dada por:
Demonstração:

Como em Sn, qn tende a zero quando n tende a infinito temos:

Viche Responde #2 – Questão de Progressão


Aritmética
Newton de Góes HortaExercício Resolvido, Matemática, PA Matemática, VICHE
Responde13 Comments

A categoria Viche Responde estava submersa. Na tentativa de trazê-la a tona farei um


esforço para publicar a solução de uma ou mais questões por semana ou, na pior
circunstância, uma ou mais por quinzena, selecionadas entre as propostas pelos leitores
nos comentários dos artigos e, claro, que estejam relacionadas ao assunto lá abordado.

Retomo com uma questão de Progressão Aritmética relativamente simples, pelo menos
para mim ;-), agregando à solução em si o detalhamento de um método de como penso
se deva proceder para interpretar e resolver questões de matemática.

Proponente
Marcelo Augusto
Questão
Quantos números inteiros compreendidos entre 1 e 500 são divisíveis por
3 e por 7 ao mesmo tempo?

Condições – O que se tem:

O primeiro passo é o estabelecimento das condições iniciais da questão, as quais podem


ser extraídas facilmente do enunciado:

1. Os números inteiros são divisíveis por 3 e 7 ao mesmo tempo;


2. E estão compreendidos entre 1 e 500.

Parece óbvio esse passo, e é na maioria das vezes, mas se trata de um procedimento
essencial da solução.

Tese – O que se quer:

A quantidade de números inteiros que satisfazem as condições iniciais.


Solução:

a) Analisando a Condição 1:

Para que um número inteiro seja divisível por outros dois números inteiros ao mesmo
tempo é suficiente que ele seja divisível pelo mínimo múltiplo comum entre eles. Como
os números 3 e 7 são primos entre si, uma vez que o m.d.c.(3,7) = 1, os números que
satisfazem essa condição devem ser múltiplos de 3 x 7 = 21 = m.m.c.(3,7).

Desse fato concluimos que os números formam a sequência:

(21, 42, 63, …, an)

e que essa sequência é uma PA de razão r = 21, pois a diferença entre um termo, a partir
do segundo, e seu antecedente é sempre 21 e onde, por enquanto, desconhecemos
quanto valem an e n, os quais serão determinados a partir da condição 2. Note que n é a
quantidade procurada.

b) Analisando a condição 2:

Como os números devem estar compreendidos entre 1 e 500 temos que:

a1 = 21 > 1 e an < 500

Para concluir a solução do problema basta, então, determinar o valor de n.

E isso é feito a partir da fórmula do termo geral de uma PA:

an = a1 + (n – 1)r = 21 + (n – 1)21 = 21 + 21n – 21 = 21n < 500

Da desigualdade acima obtemos que:

n < 500/21 => n < 23,809…

E, finalmente, que o maior termo (an = 21 x 23 = 483) da seqüência que satisfaz a


condição 2 é o obtido quando n = 23, que é a quantidade de números procurada.

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