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ybre as cansas exdgena: 1d6; il, organizacio ional e europeu Geter ORT Cau ae eel aaticieciaecic erp eVr Taree ete Lue rt Capitulo 1. Desigualdade social: objeto e modelo proteérico de analise Veit Bader | Albert Benschop* 1. 0 QUE E A DESIGUALDADE? “Bu concebo na espécie humana dois tipos de desigualdade: uma, que se chama desigualdade natural ou fisica, porque é estabelecida pela natureza e consiste nas diferengas de idade, satide, forca do corpo e pelas qualida- des do espirito ou da alma. A outra pode ser designada como desigual- dade moral ou politica, porque depende de uma espécie de convengio € Geestabelecida ou, pelo menos, validada pelo consentimento das pessoas. Consiste esta nos diferentes privilégios de que gozam alguns em detri- ‘mento de outros, tais como serem mais ricos, mais honrados, mais pode- 0508 do que os outros, ou mesmo estarem em condigdes de se fazerem obedecer. * Professonese Inestigadores da Universidade de Amesterdio, Fst texto € publica em Portugués, em primeiro lugar, em dn Menariam de Albert Benschop, que fleceu a27 de fevereito de 2038 ea quem sprovet,juntamente com Manu Caos Siva, para prestar hhomenagem pésturs no sé pelos seus contributor taGricosinovadoressobreas desigual dades,designadamente as desigualdades de class, mas também pel se enpenocivico € militate no movimento cstudantil e nos movimentos soca, em particular, na critica renovagio do CPN (Partido Comunista Holandis). A propésito da merscids homena- gem aocolega Manvel es, realizada na Universidade do Mishoa 4 de outubro de 2017, enquanto primeito autor dest texto, aproveito gualmenteparaagradecer este meu ando em tese de doutoramento hoje lustre colega a tradugia do holandés segundo capital da obra D publicada em 1988 emolandése em 1985 emale Juso-holandesa Maria Joh » Ver aAoERIALEERT EENSCNOF Nio se pode perguntar pela origem da desigualdade natural, porque a resposta encontra-se enunciada na simples definigio da palavra. Ainda ‘menos se pode procurar saber se haveria alguma relagio essencial entre a8 duas espécies de desigualdade; isso equivaleria a perguntar, por outras palavras, se aqueles que mandam valem necessariamente mais do que 08 que obedecem; e se a forga do corpo e do espfrito, a sabecoria oa virtude se encontram sempre nos mesmos individuos em proporsio do poder ow da riqueza, questo talvez boa para ser agitada entre escravos owvidos por seus senhores mas que nao convém a homens razosveis e livres que bus~ camaverdade” (Rousseau, 1755/1983, p. $3) 1.1. A DIVERSIDADE DAS PESSOAS ‘Todas as pessoas so desiguais, mas algumas so mais desiguais do que ‘outras. As pessoas podem diferenciar-se entre si de modos muito diver- ‘808. Se designéssemos estas diferengas como desigualdade, nenhuma ‘pessoa poderia ser socialmente igual a outra. Sem explicagio adicional, niio seria de antemio claro 0 que se entende por ‘desigualdade social’ Por isso, fazendo um resumo de velhas € novas discusses, procurare~ mos dar conta de que ‘desigualdades’ se trata, Na esteira de Dahrendorf (2966), distinguiremos desigualdade, antes de mais, a partir de dois eixos: () desigualdades por caraeteristieas naturais dos indivictuas e desigual- dades relativas & sua posigio social; (i) desigualdades As quais nio esté associada qualquer valoragio e desigualdades socialmente valorizadas. Se combinarmos estes dois eixos, podemos distinguir quatro formas de desigualdade social: (As pessoas diferenciam-se umas das outras por caracteristicas herdadas, inatas ou adquiridas. Esta diversdade natural & sobretudo determinada por resultados contingentes de dupla raiz genética. Os resultados desta lotaria genética manifestam-se nas diferengas que por ineréncia nfo sio desigualmente valorizaveis, tais como diferenca na cor da pele, no sexo, na constituigao do compo. Ou, se 6 forem, a valorizasio hierdrquica destas diferengas nao depende: das proprias diferencas fisicas, mas é totalmente determinada por padres cognitivos ¢ normativos e por relagdees sociais de poder que num certo momento se tornam dominantes, DeSICUALDADE SOCIAL OBIETOE MODELO PROTEORICO OE ANAUISE 2 (®)A desiqualdade ‘natura surge justamente quando e na medida em que ‘io aplicados determinados critérios a determinados tragos ‘natu- ras ou seja, somente quando estes sio valorizados e normatiza- dos. Diferengas na forea fisica corporal, na altura, na velocidade & similares so 0 resultado combinado de disposigdes herdadas, de caracteristicas inatas e de matérias como educagio, treino ¢ mentagiio. Elas podem ser estabelecidas com uma precisio relati- ‘vamente grande por parte das ei@ncias naturais. Alguns individuos ‘io, por exemplo, mais altos, mais velozes e/ou mais fortes do que outros; por isso, medidos por critérios normativos de prestacio aids especificiveis, podem ser qualificados como ‘melhores’ ou ‘piores, ‘superiores’ ou ‘inferiores. (©)A divisio do trabalho ea diferenciagao de papéis conduzem a dife- rentes tipos de atividades e posigdes sociais. Este é também o caso see quando estas atividades e posigGes slo igualmente valorizadas, Esta diferenciagio social amide ‘horizontal’ ~ assim designada desde Sorokin (1927) ~ deve seranaliticamente distinguida de modo preciso da desigualdade social no sentido especifico do termo. (d Apenas poderemos falar de desigualdade social quando as diferen- tes posigées sociais implicam recursos e recompensas estrutural- mente assimétricas que siio valorizadas como desiguais no sentido de uma ordenagio hierarquica’. 1 Diferenciago social ‘horizontal’ &o tema nuclear das toniss soioligicas da evolugio (desde Durkheim, 1926/1960 Luhmann 1984). A amide designada desigualdade 'ver- tical sob diferentes denominagdes (eamadas soci estratifcago soci, erarquia de «statutos' ow ‘ivsio de classes’) €e continua a sero tema central da socologia da desi- _aldade sociale da tori marsista de classes. A diferengaanalitica entre difrenciagio sociale desigualdae social &pressuposta em todas a tics i tentativas de explcar a Aesigualdade social ‘vertical a patrda'ifeenciago horizontal. Tal tem sido recorren- temente tentado desde Schmoller (1890) até A socilogiafancionalsta da estaiicagia socal (£ por exemplo,em contrapont, a eitica de Tumi, 195). [antes observimos que se deve ser prdente na utiagio de metifrasespaciais como ~Thorizonta "vertical, porque elas podem ind o, Parsons, 940, p. 65; Krecke, 983, p31). Na linguagem nao sé quotidian como cien- ties € mst dif desfazemo-nos de reréncasaposigbes socials desigusis em termos de ‘cima'/baivo “mals alt’? mals base! (ef: Ossowsl Schivart, 1981. 1505s)-Aotadusi'visdes tevicas sobre desigualae social extrtural 2 muitos mal-entendides (par exe 62 e, mais detalhadamente, 1.2. DESIGUALDADE NATURAL E SOCIAL Adistingao classicamente formulada por Rousseau (1755/1983) entre desi- gualdade natural e desigualdade social referida na citagio imtrodutéria éde ‘uma importincia fundamental para a moderna discussio politica, social e cientifica. A pergunta sobre a origem da desigualdade social foi ubordada deuma maneira totalmente nova, Gom a assungio da igualdade democré- tica por diteito natural, operou-se uma rutura radical com a tradigio aris totélica, segundo a qual se partia de uma congruéncia entre a desigualdade natural ea desigualdade social; ou seja, a desigualdade social era explicada clegitimada remetendo para as diferencas naturais entre as pessoas: “Bevidente que & da natureza haver livres e escravos e écerto ¢ justo que estes sirvam aqueles [...]. Do mesmo modo é também da natureza a relagio entre ‘bhomemea mulher, que wm & mais, a outra é menos e que o primeiro manda ea segunda & mandada. De resto entre os birbaros é da mesma ordem o ser ‘mulher ¢ ser comandado. Isto acontece porque elas nfio posstem o ser natu- ‘almentedominante|...}.Porisso,diz.o poeta, “justo queos gregos dominem sobre os bérbaros’, porque é desigmadamente da natureza que o barbaro € 0 ‘eseravo sejam a mesma coisa. (Aristételes, sa, 1254b, 1951) Na tradigio de diteito natural é criticada a desigualdade social par- tirda idefa de uma ‘gualdade natural de todas as pessoas’. O contributo nalinguagem do quotidiano, 6 if vitae metoras tals como ‘mais alto "mais bai’ Com simples metforaseanslogias comoas de‘cim'ede"baio! pens pensar coms ‘car assim como opera na vida politica. Porém, com este uso pende-ae a forga da refeida Aistingio. A desigualdade social antagonisticamente estraturada (ig, "relagdes de explora io) &muitomis fide formularmumuso delingusgem vertical,pelo menos sem negar carder especiico das elagdesantaginicas,exploradoras 2 Ocerne de qualquer ica mversalista democrities & 0 de as pessoas terem o dteto de fazerem vale as suas reiviniicagies na base da san humanidade comm, ‘Diteitos natu: ‘is’ signifies simplesmente‘diretos humanos, ou sea, “dietos que so humans, na no sentido trivial de que os que os tm 880 pestoas, mas no sentido mais desafiedor de (qe, para trem esses dtclios, As pestons basta serem pessoas” (Vlastos, 2984, p. 44) (diet ntural igual’ serd c) nfo #6 absolto, porque & wm diseto que & sempre ‘mas elevado, um fator mas desi que os direitos psiivos expresso nas eis existentes (E Dworkin, 1984), () mas também ‘inalienéve' ‘intansmissivl, pois ninguém pode tuansferirparaoutrem ox eus‘dtetos natura’ prdprias ous de outros. de Rousseatt foi um prekidio para a explicagio dos direitos das pessoas e dos cidadiios de 1789; “Todas as pessoas sio livres eiguais em direitos por nascimento. As diferencas sociais podem apenas basear-se no interesse geral”’ Este postulado normativo de igualdade foi uma pré-condigio tedrico- -histdriea para a questo sociolégica sobre a origem da desigualdade. E ela ‘0 €atéhoje, se tivermos em conta duas imitagoes: () A igualdade ‘natural’ de que se fala nas teorias do diteito natural demoeritico nao deve ser entendida como uma afirmagio sobre a ‘original’ igualdade histérica, A assungao de uma original ‘situagio natural’ live e igual nao é seguramente uma premissa necesséria da abordagem cientifica critica da desigualdade social’, (i)A desigualdade natural e a social no podem ser assim tio sim- plesmente separadas, tal como, conforme a citagio de Rousseau, tem ocorrido ¢ ainda ocorre amitide: desigualdade ‘natural’ vista como geneticamente determinada e totalmente independente das relagées sécio-histéricas do meio versus desigualdade social. Por uum lado, no programa genético (gendtipo) estio jé implicadas as seleges do meio de geragbes anteriores; por outro lado, todas as diferengas em saiide,forga fisica etracos psiquicos e espirituais sio s6cio-historicamente determinadas e num grau muito mais forte do que é pressuposto em explicagdes naturalizantes’, 3. Cf an. 1 da Declaragio de 3791: "Os homens nascem e permanecemn livres ¢iguais em. Aieto 4 Contrariamente ao preconceito corrent, Roustea tio-pouco apretenta uma constrigio bistériea mos uma pura construgiohipotéic da ‘orignal’ igualdade natural entre as pes ‘038. CF-Starobinski (972), Lemaie (1980). Oearicter constrativn ou cca do ‘estado ‘natural éem geal desenvolvdo por Euchner (1969) e Macpherson (1962). 5. Nas crtcas sabre o determinismo bildyico tem sk frtemente acentuada por gene ata, antropslogosecietistas soca aimportincia do meio social no desenvolvimento das carcteristicas humanas (uureure ove nature). Aq em sido freguente recorter a um “ambientalismo’ ass simplista. Nas ritcas mais recentes aos deterministas boligicos (Gl com Artur Jensen, Richard Hermstein, Steven Goldberg, E.O. Wilson, R. Datkins, AR, Jensen, H. J Eysenck, A.D. de Groot entre outros) tém sido tam demonstados oslimites dural reconismo ambiental social ouculturaletem-gepugnade peloaban- ‘dono de dicotomias ingénuas como ‘awe verous nurture’ CF Rose (1382), Lewontin, Rose A diversidade natural abarca todas as diferengas fisiolégico-biolégicas centre as pessoas: (i tragos hereitdrios, ou sefa, por transmissio genética de determinadas diferencas,tais como sexo, cor da pele, forma do nariz& coutras similares; (i dferengas inawas, ou sea, caracteristicas nfo herdadas, tal como algumas deficiéncias corporais e mentais; (ii) caracterstcas natu- raisindvidualmente adguirida, tais como forga corporal, qualificagies fi cas ou mentais ou deficiéncias em consequéncia de acidentes ou doengas cocorridas no decurso da vida individual de cada um. As fronteiras entre ‘estas trés categorias sao fluidas e amitide muito controversas. Disto so ainda ilustrativas as discusses correntes sobre a hereditariedade da “inteligeneia’s ‘Todos os esforcos para explicar as estruturas de desigualdade soci remetendo paras diferengas ‘naturais' entre os individuos sio ideologias, circulates, ‘cientificamente’ mascatadas, jé que tais diferengas ‘naturais! so elas préprias o resultado de desiguais oportunidades (de educacio, de alimentagao, entre outras)’. EZ mesmo quando e na medida em que estas ‘Kamin (984, pp. 15-249) Birk e Silvertown (1984), Turner (198.4), Bader e Henschop (0988 capitulo Xp. 26559). 6 CE ae crtias sobre a ieologas racists, cexstas ede classe que, nomeadamente no «campo da inrestgaso sobre a ineligtnea,permanecem em debate: Kamin (3974), Vicon (098). Greon (1981), Rose (982), Lewontin, Rose & Kamin (1984, ph. 79-120) expecal- mente sobre ‘icologissclentifias' racstas, ef: Montagu (1953), Sains (1977), Barker (098), Stephan (1982), Plikov eral (298s), em particular, sobre “deolgias centifics’ sexstas: Hubbard & Lowe (979) Sayers (1982) 17 Nio podemos aqui debrucar-nos mais detalhadamente sobre as deter nists ‘expen Ges biolégcas dos modernossocobilogos neferdos na nota 7. Atendendo atualidade lurmista dostasconceses, queremos todavia pelo menos exbog [Atesenucleardasacabilogia ade qe ocomportamen ou doutrs mancia, gencticamente programade. As tis principals etapas neste modelo Ade explcagio reducionista so: (08 fendmenos soins fo cansequéncia dite do com portamento individ (0 compo inatas (i) estas qualdadese caracterstieas fenotipieas de wm determinade organismo tstioprviamente codifcadas no fenétipo hurmano que & hereditariamentetrnsmitido. ‘Aaslosocial eos fnimenossocials so redzidos 0 comport teisticas hamanas‘nteinsecas’(Fendtipo) so vedusdas a earateriatieas yonsticamente etenninads (gondtpo)-E tudo 0 que into ~ ox que se assume como tal Zentendile ‘sqm como itive: As earacteristins inatae das individhios so diretamente ien- tieadas comascaracersticasboligicasheredidras,Oprocedimento delegitimagio dat social das pessoas est dna nto individual efit dneto das carateristias to individual, ar cara DESIGUALOADE SOCIAL ONIETOE MOOELO FROTEORICO DE ANALISE 33 diferengas ‘naturais’ nao podem ser interpretadas como resultado de uma prévia desigualdade das oportunidades sociais, estes modelos explicativos tém reduzida importincia. Para a explicagiio da erigem e continuidade da estruturada einstitucionalizada desigualdade de posigdes tais perspetivas, naturalistas fornecem alegadamente um contributo que consiste afinal em puras especulagdes sobre as ditas ‘apropriagies e ‘represses’ origin (c£. criticamente, Hondrich, 1984, p. 269). De resto, as posigdes estri- turalmente desiguais sio simplesmente pressupostas e funcionam apenas como legitimagao da alocagao dos individuos ou grupos através de critérios individualistas-meritocriticos ou eoletivo-adseritivos. Isto vale em geral também para as tentativas de explicar as desigualdades sociais a parti de desigualdades individuais, independentemente de estas serem interpreta- das como diferengas ‘naturais’ ou social e historicamente determinadas. "resultant toma-se alegadaments evident: seas desiqualdades socials ao a consequéncia iretaeinevitvel das dferencasinatas nas ineinsecascapnckdadese posibilidades dos Indviduos ese os sucess o facastos so to fortemente determinados pelos tragos de cariter que esto localizados nos gos genticos dos indviduos, eno deve a exten: ‘inde ais ferengasgoncticamenteherdadasdesemibocar mima sociedade hieraruiada, 0 efeito das eorsssocibiokigias na ‘explicasio' das desiguaades sociais £ mesmo que o das ‘xplicages’classicas inspradas nas ‘torias' bolas, tai como as conce- {ese escolasbio-onganilstas (Plato), antroporracais (Aritételes, 4, 3951 Gobinens, 1859/1983: Galton, 1865), darwinistas instintvistas (também Sorokin, 1927). Apenas ‘os meios pretendem aparentarsermaiscientifcos: 8 Istovilideparatodasa exlicaBes' natura desigualdade socal entre coletivos, com ‘uma importante exe: exstndo uma no to pequens dterenca biol, socalmente relevante,como jaa deque somenteas mulheres podem engravidar dar thizeamamen= tar a diferengas bolgicas e isioligicas entre homens e mulheres tém importantes eo sequtnctassocio-estaturis reconhecves para divisio socal do trabalho (diferencissS0 soda) Paras desiqualdade socal estas dferengas natura’ sia apenas relevantes na medida em ‘que superordadefsica méia por parte dos homens foi eforgada e ulivad historia ‘mente ela ivisio social do trabalho. Vista numa perspetivshistricad desenvolvimento, Alininui fortementea importncia de is difeengas individatsgragas aprofundada titucionaigio (¢ Giddens, 973. p. 12; Kreckel, 1976, p. 352); em situagBes exceco- ‘ais, 0 papel dos ‘andes individuos tem a maior elevincia para a desgualdade. Numa pevspetiva teva estratural, a elevncia maior da dferencas indivduateefetivas para a desiguldade social situa-se a0 nivel iteracional, enquantoanvel societal ae diferengas Aexém uma elevncia menor. A diversidade ‘natural’ dos individuos e gripos no pode portanto explicar a desigualdade social. Tal nfo significa contudo que essas dife- rengas sejam irrelevantes para adesigualdade social. Desde que estas dife- rengas sejam ‘verticalizadas, hierarquicamente valorizadas, observadas, vivenciadas e definidas, desde que sejam apresentadas como ‘maldade desigual natural, oferecem igualmente pontos de ligaglio e critérios na base dos quais podem fechar-se relagies socinis e oportunidades de vida. Namedida em que isto ocorre defacto, juntam-se padrées de esigualdade estéveis na aparentemente ‘inocente’ diversidade natural. E da mesma maneira poder-se-i dizer que a ‘iferenciagao social, ou seja, a diversi- dade de tipos de trabalho social, papéis e profissdes ‘em si’ tio-pouco pode cexplicar a desigualdade social. Apenas a sua ‘verticalizagio’ comporta desigualdade da valoracio, a qual é caracteristica da desigualdade social. Esta valoracio desigual pressupde todavia uma estruturada desigualdade do poder de disposico sobre os recursos sociais. 1.8. A DESIGUALDADE SOCIAL £ UMA DESIGUALDADE ESTRUTURAL A desigualdade social & definida, em primeira instincia, como uma desigualdade de posigGes sociais, que se caracterizam pela distribuigio assimétrica de recursos e recompensas. Em sentido estrito, porém, s6 poderemos falar de desigualdade social quando ela se torna estrutural em dois aspetos: (A divisio desigual do poder de disposi pensas,a qual constitui posigGes desi i sobre recursos e recom- iais,nao pode sercasual. Para se poder falar propriamente de posigdes sociais como ‘lugares’, no podem tais posigées ser fluidas; elas terdo de ser em larga medida cristalizadas e institucionalizadas. A desigualdade das posigies das de recrutamento deve portanto apresentar uma certa regulari- dade de ‘estrutura! no sentido mais geral do termo?. 9 Falamosde‘estrtur’ sempre qu as oportniades de poder que esto assimeticamente Aistribuidas, podem inluencarduradowament ede modo desigual procesos sociis de institicionaizagfo. Com esta delimitasio no pressupoanos um elevado gnu de ‘ondena- bes sociasinstitucionalzads CESIGUALDADE SOCIAL ORIETOE MoDKLO PROTEORICO OF ANALISE 8 () Igualmente, a ocupagio de lugares deve apresentarum grau minimo de durabilidade. A desigualdade de posigées, institucionalizada, estabilizada ou usurpada, torna-se ustamente um problema quando se juntam barreiras de mobilidade (certamente & 0 que ocorre, de facto, quase sempre), ou seja, quando determinados grupos, orga~ nizagdes ou individuos estio em condigies de monopolizar as posi~ ‘es estruturalmente desiguais ou de limitar duma maneira mais ou menos dristica o acesso as mesmas”. Portanto, a desigualdade social estruturada pressupde uma certa medida de sistematizacao, estabilidade e duragao. As formas incidentais ou formas niio durdveis de desigualdade caem fora do conceito de desi- gualdade social estruturada, 1.4, ESTRUTURAGAO DE POSIGOES E RECRUTAMENTO DE Ipiviovos: Antes de analisar as desigualdades sociais, devemos fazer uma distingZo © mais precisa possivel entre (i) o problema da estruturacio das posi- Bes desiguais ~ ou seja, das condigdes do aparecimento e da reprodugio dos lugares vazios’ na estrutura social, os quais se caracterizam por uma desigual distribuigio do poder de disposigio sobre recursos, recompen- sas e valoragdes desiguais ~ e (i) 0 problema do recrutamento dos indi- viduos nestas desiguais posigées estruturadas ~ ou seja, dos critérios € 30 Quando alguém, po exemlo, ocupa um gar numa pissin ox num cinema, que, como tal nfo pode sertomaudo pr outen falas apenas de ma desiguatade casi oupases- avira, Aquels que, poress aio, io temporaramente exchids exper pla sa er « podem seguidament, sob deteminadas condizdes ~ pagamenta do preva de entrada, toma esse gar fazer uso temporito do mesmo Sé se pode faa de desigaldads social «straturada () quando existem dretamentebarerasdseriminatérias que por exempt, or meio de lyslaio racists ou convengSesconduzer ‘cinemas brancos’ ea ‘pscnas ara brancoy’ (i) quando 580 colocadas condiges monetiias ou dterminadas barrel- ras cilturis de tal maneiraelevadas que fanconam como especiicas bares de dasse * ou grupo socal (por exempla, a pertensaexclsiva como membro de chibes de vela ow a assisténcia a concertos). Do mesmo modo, o acesso a deteminadas lugares televantes Ae educagio eformagio pode também se limitado de wma maneira menos casual ¢ mais

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