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RE V I SÃO DA LITERATUR
LITERATU RA SOBRE SINCRET
SINCRETIISMO
RELIGIOSO AFRO
AFRO-- BRASILEIRO
EVOLUCIONISMO
Nina Rodrigues
Rodrigues ( 1935
1935,, p. 13) estava convencido , de acordo com a rs -
Nina Rodrigue
Rodriguess (1935, p. 17 1) faz também distinção entre candomblés
africanos - terreiros de ge n te da C o s t a - e os candomblés naciona is - de
gente da terra, crioul
criou l os c mulatos. Posteriormente ( 1977
1977,, pp. 253-254) apre
senta outra distinç ão entre du
duaa s formas d e adaptação fetichista do culto
católico. Uma interna ou s ubjctiva
ubjctiva,, que preva
prevall ece qu
quaa ndo a dircção do culto
é confiada a um sacerdóc i o mais ou menos esclarecido c o fenômeno tem a
feição que e l e de sc reve u n o traba l ho ante r ior (1 9 3 5). A outra seria externa
ou cu l tu
tuaa l, ocorrendo quando os negros as s umem li v r emente a direção do
culto. Documenta e exemplifi
exe mplifi ca ( 1977, pp. 254-260) es
estas
tas asserções,
asserções, citando
uma ce rimônia dos Metodistas U i va
vadd o r es nos EUA e a cabula, descrita no \
Estado do Es p írito Santo pelo bispo cató li co D João Corre ia Nery / Lamen
tamos entretanto qu
quee , tendo de i xado sua inacaba ·a, i o r ig ues
não ten ha detalhado melhor a di st
stinç
inç ão que fez e nt
ntrre a adap
adapttação interna ou
s ubjeti va qu e lhe pa rece ocorrer no ca ndomblé da Bahia (1977, p.255) e a
adaptação externa ou c u ltual
ltual,, i dentificada por ele no que po st e r iormente
será chamado de macumba c ma is tarde de umbancla (S il va, 1987, pp. 65 -
85)) . O s incretismo ou a adaptação fetichista ao catolicismo , no dize r de
85
Nina Ro
Rodd ri g ue s, no candomblé e na umbanda, parec
parecee hoje ma is claramen
claramentte
distinto do que em fins do século passado, ao tempo de suas p es qui s as. -
do fetichismo
fet ichismo negro (1935, p. p . 194). Assinala (1977, p . 245) a extraordinária
extraordinária
resistência
resistênc ia e a vitalidade elas crenças da raça negra apesar dos p reconceitos,
das perseguições e da repressão policial. Para ele, o
ulto jeje-nagô é uma
ve rdadeira religião, e por isso deve merecer as garantias de liberdade cons
titucional (1977, p. 246). Também constata (1977, p . 230) que, na Bahia,
prevalece esta mitologia, cuja fusão íntima acredita, segundo Ellis, ser de
vido a estes povos provirem de um tronco ancestral comum.
Aceita sem discutir a perspectiva evolucionista c racista da época,
CULTURALISMO
rthur Ramos
Cerca de tr in
intt a anos após
a morte de Nina Rodrigues e durante duas
décadas, Arthur Ramos foi seu divulgador c continu
cont inuador.
ador. Teve rápida ascen
são acadêmica e também vida cu rt
rtaa . Médico nordestino, como Nina, dedi
cou-se igua l mente à medicina legal c tornou-se o primeiro professor ele
Será prefe
preferríve l cham armos ao res ul tado harm onioso, ao mosaico cultura l se m
conflito, co m partic ipação igua l de duas ou mai s cult ur as cm conta to de sincretismo
Ampliamos ass ass im o signifi cado de um ter mo que já havíamo s empregado com rcfe-
rência à cu ltu ra espiri tu al, especi
espec ialmente relig
eligiios a. Parece-n os que o signficado de
s in cretismo deva se r estendido a todos aqueles casos de resultados harmonioharmoniosos
sos de
connta tos cultur
co cultu ra is não só espiri
espir itua is como materiais, ou todos aqueles casos que os
e-ameriica nos cha mam de adaptação ( 1942 pp. 41-42).
norte-amer
nort
As s im, pa
Ass parra Arthur Ram Ramos, os, o si nc r et etiismo nã o se re resstringe exclusiva
exclusiva
mente
men te ao do mínio religioso, embo emborr a sej sej a este o do míni o mai s típic típicoo c o qu q ue
ele m a is se de dedidico
couu a estudar. Na defi ni ção de si nc retismo apresen aprese n tada por
Ar t hur Ramos, en e nf at iza
iza-- se o aspecto de pro processo
cesso harmonharmoniioso, se semm conni
tos, de c u lturas em contato. Poste ri or men mente te o próprio Ramos irá constatar
q u e este pr p rocesso não é sempre tão ha rm rmoo ni nioso
oso c pouco co nniti vo, espe
cialmente nos casos de colonização, de domina dominação ção c de escravização.
Em um de seus ú ltimos tr trabal hos, ao di discu scutirtir o problema ge geral
ral da ac ul ul
turação
tura ção ( 1947 pp . 475-4 83 ) , ~ m o s re lac iona a euro europpe iz aç ão do mund o
com o imperialismo, a dominação, a colonização, a destrui dest rui ção cultu <a l, o
rec
ecoo nce ito racial, as lutas contra a dom inação européia c os pmccssos ele
co n tr a -ac
acuu l t ur
uração
ação.. Na d éc écaa d a de 1940 t ais associações não eram comu com u ns,
a m a ser i O ou 15 anos mai s tarde. Também não era frcqücnt e
cm a ut utores
ores que abordam a acultu ração, relacioná-la com o imperia lismo ismo,, a
coloni zação c a domina ção c ultur al. Ramo Ramoss j á co ns ta tatt av
ava,
a, ass im , qu e o
pro cesso de ac aculturaçã
ulturaçãoo não é se mpr mpree tão harm harmoo ni oso c sem se m coconflito
nflito s co mo
p revê a teo r ia cultuculturr al ista. _ { :.
'Em diver
dive rsos trabalh
traba lhos os Arthur Ramos apresenta quad quadrros c esquesq ue ma s de 2 -
sincreti smo qu quee são comuns cm out o utrros autore
autoress da época vincul vinc ulados
ados ao cu c u - -
turall ismo. Referi ndo-
tura ndo-sc sc à avo la nche d e si ncrct crctiismos, aprese nt ntaa esquem
esque mas
c o m 9 ~ a g . Q m u u l m i b a n t o e a t ó c o ~ p í r i t a c a b o c o ( 1942, p. 146).
Arthu r Ramos in fe li z mente mor morrr eu ce ceddo, com apenas 46 anos, co mo . , r;f y
Nina Rodrigues. De fa fatoto n5 2 foi um gra grandende teó t eó ri coco,, ne
ne m g ~ n c l e p e s q u i s a d ~ ~
~ m p o . A respé espéititoo de s in cr cree ti s mo e de acu lturação, ap aprresen
esentto u uma s ín- ..
tese
te se d o que os outros esc escrreveram, acresce nta ndo de dettalhes, su sugestões c algu-
;,na s cr ít i c o s esquemas c class cla ssifi
ificca ções sobr sob re sinc sincreti
reti smo rel igioso qu quÓ Ó
u t iliza parecem hoj e demasiadamente formais, m c c a n i c i s t a s _ q ~
·c de reduzido va vallo r explicativo.
explicativo.\\ .
~ m o é, po porrtatannto, um dos resultados do processo
de a c uituraçã
uituraçãoo . Como er e ra co mum na época, não di sti ng ue s incretismo de
ac ul t ura ção c não e nte nd ndee s in incr
cree ti s mo co c o mo fo rm rmaa de resi res istê ncia cultural ,
como será encarado p osterior me nt nte.e. Adotanclo v isão esqu esq u e mát ica c con-
Gonçalves
Gon çalves Fernand
Fernandes
es
-
grantes japoneses , li baneses e ita li anos . Comcnta o aparecimento, nad 6c'adã'
• de 1930, d a macumba para s e ga n h ar jogo
-......:-
ele futebo l e ela m c u m
, turistas .lé f t ã e a s o s de cu r adores c beatos que co nstroem templo s b iz arros
e organizam se i tas estranhas .' O t rabal há apresenta informações interes-
- d o 6 . ~ 1 c n d ~ quase jornaií st ic a , assemelhando-se aos
scritos de João do Rio, de iníci o s elo século, in co rrendo c m preconceitos'
I
a in
indd a co m un s e m trabalhos da época. · -
Waldemar Valente
REVISÃO DA LITERA
LITERATURA
TURA SOBRE SINCRETISMO 47
rura de elementos culturais , uma interfu são, uma simbiose entre compo
interfusão,
nentes de culturas cm contato.
Considera que o sincretismo, como processo de intcração cultur al,
abrange duas fases . A pr ime meir ira,
a, de ac
acoo m odaç
odação,
ão, de ajus
ajusta
tamento
mento e de redução
de conflitos. A se g unda unda,, de assimilação, implicando modific modificações
ações ou fusão,
num proce sso lento c inconsciente em qu quee o rcmpo exerce sua ação.
Referindo-se diversas vezes à incapa cidade mental do negro, parece-
nos que Valente adota a visão da mentalidade primitiva de Lévy-Bruhl, que,
segundo o próprio Valente 1976, p. 16), 16), te
terr ia perdido a razão de ser. Sobre
sincretismo afirm afirmaa 1976, p. 68): Nos candomblés de caboclo processa-se
r b i
• ...Í' ':
um s tncreti smo complexo, no qual se entrosam elementos de procedênci a ).1-l-
nagô, jeje, banto, mina, malê , tu p i, católica c kardeci kardec ista. Misturados ainda
com possíveis vestígios esotéri esotéricos,cos, tcosóficos e maçônicos. E também com
rátt icas de q u i r ~ m a n c . : . : ~ : _
rá n ~ L •
Assim Valente amplia os quadros do s incretismo incretismo,, acrescentando novos
dados aos elementos co ietados por N in inaa Rodrigues
Rodrigue s c Arthur Ramos. Ado a,
porém, a mesma visão de Arthur Ramos que no noss parece
parec e automática, mecâni
mecânicaca
e pouco e s c l a r e c c d o r a C i ó v i s Moura 1988: -p. 39). criticando Va Vallente, re
~ n c c c s s i ~ e se analisar a i nflu nfluência
ência do conceito de sincretismo
criticamente, pois ele inclui um julgamento de va lor entre as religiões infe
riores e superiores que, pelo menos no Brasil Brasil,, reproduz a situação da estru
tura social de dominadores e dominados .
Vemos que Valente, e mbora incorrendo c m preconceitos, procura
ampliar a no noçç ão de sincretismo, distinguindo-a do conceito de acu ac uituração
c caracterizando suas etapas. Apesar de deficiências, os trabalhos de
0 . . 2 , ~ ' . v ~ s Fernandes c Waldemar ~ l c n t c sobre s incre t i smo foram pio
.. •
Herskovits e a teoria cu lturali
turalista
sta
ele R c n é Ribeir o ( 1963, pp. 37 7 -4 2 9). Em E m 1948, ele fo r ma didát ica, expõe a
teoria da c ultura , c m o bra h oj e clás s ica ( 19 6 9 ) .
Co n s ide ra que foco cul cu l tu
tural
ral consis
consistte na in st ituição de uma cultura que
a p r es e nta ma io r co m p lexidade, m a io r va ri ação c onde ocor re m as maiores
mu d a nças ou on d e o c onser va nti ntiss mo ap a rec e com m a io r inten intenss id
idaa de (1969,
pp. 36 3 - 37 5). P ara H c r s k ov i ts, nas c ul ultt u ras da Á fri ca O c id enta l c cm suas
d e ri vadas no Novo M un do, a c ul tu ra é o e le m ento f ocai ( 1969, p . 374).
C om o re g iões sua
s uass c renças nã nãoo co ntinham dogmas rí rígidos,
gidos, os deuses
d o s venc i d os c dos vence do re s f oram li livr
vree mente to m ad o s de c mp rc s t imo
( 1969, p 375) .
D ef
efii n e re in te r p re tação co m o .. o pr ocess o p e l o q u a l a n tigos significa
dos s e ad screv e m a no vos e l e ment os o u atrav és d o qual va l o res n ovos
muda m a s ig ni niff icação c ul tu ra l de ~ (ppp .
(p ~ C o
o s in cretis m o como fo r ma d e r ci cinn te rp rcwção dõSCicdõSCicm me niOs de uma cul t ura.
A ss i m , pa ra e l e, s inincc re tism o c r e int
intee rp
rprr etaçã o c o n st i t u e m compo n e n tes dojdoj
diálo go c n re__ ~ C onstata q ue o pr ocesso de sinc sin c ret ismo tam -
oé m o co rr e u e nt re e n t id ades dos H a u ssás d a N igéria, que foram m aome
t a ni zadas co m e le me n tos do Alco rã o ( 1969, p. 3 7 6 ) .
Utiliza o co n c eito d e pr o ví n c ia c ultur a l d o V e lho M undo ( 194 1
p. 18), r e c o nh ec e n d o qu e, apes a r d a au to nomi a e ntre c i v il izações, h á
tr a di ções c in st i t u ições s im i l ares, es p e c i al m ente no fo i ci o rc, na rel igião c
c m o utr os aspe
as pectos
ctos ela cu cultu
ltu ra el e po vos ela Eu ro pa
pa,, Ásia
Ási a c A fr ica. E le
lem m entos
cultur a i s didiss tribu íd o s cm t o d o o V e lh o Mundo p od e m se mani fe fess ta r, p o r
ex e m plo, cm c m sosobb re v i vênc
vênciias de a fri ca
cann ismos no Novo Mundo, qu q ue e m e rgem
el e co nt atos e n t re povos de p rocedê nc i a euro p éi éiaa c a f r i can a.
No tr a balh o qu e apre se nt o u c m o ~ s s o n a Ba hj.i)' so b re d euses
a f ri ca n os c sa nt os ca tó li cos ( 19 4 0 , p. 2 1 , co n s id e ra qu e é a i n ê nci a do n
ca to li
licc is m o, ju nta m e nt ntee co m ve s t ígios h od icrn os elo me d o de qu e os cul
to s a fri c a n os se j am f oc o s de re vo lta popu l r m e d o co n st staa n te me nt
ntee pre
s en t e n o entendim e nto dos e u ropeu s d urant e a escra vi vidd ã o - qu e ex p l i ca a
i n fe ri or p o s ição so c i a l m an t id
idaa por estes ' c ul
ultt os fe t ic hi s tas' onde q uer que
se j a " . Aprese n ta ta m bé m co r respo n dências e ntre deuses a f ri ca n os e s an t os
c at ó li cos no B ras il , c m C uba c n o H ai t i, c on s t at a nd ndoo qu e a s di vergênc ias
I. Em relação ao 13ra sil, ll cr skovits deixou diversos trabalhos importantes. Real Realii zo u observações
d irctas en
e ntre 194 1 c 1942 cm
c m Rec
R ec ife, Sal
Sa l vad or, R io de Jan
Ja nei
eirr o, São Paul
Pau lo c Por
ortto 1\lcgre. Orientou
trab a lhos de pesqu isadores br asisilleiros, p ub li
lico
couu nu merosos a rtirtigos
gos e en
e nca m inhou traba
tra ba lhos aos
con •rcssos afro-brasi leiros de Reei rc cm 1934 . de SalvadoSalvadorr cm 193 19377 e de amcncanistas em São
Pa u lo cm 195 4 . omo mencio
mencionnam 13astide e outros, l lcrskovits p a r e h c g o u a pu
pubb li car
todo o material que coletou no 13rasil.
-
Ribeiro desenvolve até hoje estudos so
sobre
bre o negro,
negro , religiõe
outros assuntos, espe cialmente em Pernambuco.
religiõess a fro-brasil eiras
Em v á ri
rioo s trabalhos René Ribeiro di s cute aspectos do sincretismo .
N um dele s 1955, pp. 473-491), anali s a o si n cr etis mo n a p e rs p ec t iva do
Tullio
Tullio Seppilli
Sep pilli
O antropólogo it
itaali ano Tullio Scppill i J9
J9555a; b; c), na década de 1950,
publico
publi co u e m R o ma dois artigos e um anexo, num to
to tal de umas c e m páginas,
sobre sin cr etismo afro-bras
afro-brasileiro
ileiro c acult ur ação. Os a rtigos foram tr aduzidos
pelo Instituto de E studos Bra sile ir
iroo s da US P, n a década d e 1970, m as não
estão publicados no Brasil, sendo difícil localiz á - lo s. Tr a ta - se de estudos
bem document ados c criteriosos, com referências bibliográficas numerosas.
--
REVISÁO
REVISÁO DA LITERATURA SOBRE SINCRETISMO 5
Para M ou ra (1988, p. 45 ) , o co n ce it
itoo e ac ultura ção te m limit
limitações
ações
c i en t í fica s enormes . Tem como co n se qü ê ncia a di luiçã o ela " d om i nação
estru tu r al - cc o nômi co, so c ial c pol í t i co de uma das culturas sobre a outra.
nômico,
[. ] O cultura li s mo
exclui a histo
hist o ri c idade do c o ntato (1988, pp. 4 5-46) . A
ac ulturaç ão n ão m o difi c a as re la ções so c i a i s c co n seqüente ment e as in st i
tuições fundamen t ais de uma estrutura social. Não modifica as r elações de
produção ( 1988
1988,, p. 47). Parece-lh
Parece-lhee que o pr oc esso aculturativo d es
esee mboca
no conceito d e " d em ocraci a ra ci a l , c a acultura ção n ão é um p r ocesso de
di n âmica so c ial.
e
omo vimos, a t ria culturalista te m s id
idoo c ri ticada p o r muit os, m as
fo i apli cada a inúm e ra s áreas. N o c am p o d os estudos so b re o n e g r o c d as
re li g iõ es afro-americanas , Hc rskov i ts foi seu princip al auto r. Foi nela qu e
se fi
fizz e ram p rim
rimee iro, c com m a io r ê nfa se, te nta t ivas de
de abordage
abordagemm m a is te
teóó ri
cas do fenômeno d o s in cret i smo.
T rês anos após seu falecimento, duas rese resess fo ram d efefee ndidas cm Pa ri s
Bcylicr, 1977 c Ravclct , 1977) sobre ele. O total de sua ob ra foi aval i ad o
c m 13 35 tex tos Ra vclc t , 1978). É , portantO, mu i to complexa uma síntese
d e se u pen sam e n to sob qualquer aspecto. Int Interessa
eressa-- no
nos,
s, aqui
aqu i, a con t ribu
ribuiiçã
çãoo
de Ba st id c a r es peito d e s in c r etismo a fr o -b r as i l e i ro , as s unto so b r e o qual
fo i dos autores que mai s escreveram c teorizara m , ad o ta n do a perspectiva
d a s o ciolog ia e m proji didade d e Gurvitch.
<
sas vezes ao s in cretismo. Discut i nd o, por exemp lo, a o ri gem do can domb l é - - ;..J
de caboc lo 1945, p . 196), cons consii de
derra qu
quee o indi
indigc
gcni
niss m o após a independência ,
um da índio no ca ndom . se
fi noic lu sãodos motivos in ccomo
lu são do afirmaram, ou s ebteria
l é s ido difundida
Pergunta esta , /
d atar i a d e
com o espiritis mo , que c m ou t ro lugar
lhe
Basti d e,1971 , p.432) i n for m a ter
s ido introduzido _::o m sucesso imedia to n o Brasil Brasil,, d esde 1863.
Datta de 194
Da 19466 um dos primeiros c imp impoo rt
rtaa ntes estudos d e Ba stid
tidcc 1973,
pp . 159-1 9 1) so bre s i n cr e ti s mo. Con s id era aí que nã o ex i ste uma r e li g i ão
afro- b r a s il
ilee i ra, mas vá ri
riaa s. Procurando entender o sincretismo dos orixás
co m o s santos, p a rece- lh e qu quee h á ini cialme nt
ntee um a in
intt e rp retação soc i oló
g i c a ~ catolic i smo é um m e io de 9 i sf a r eé a ilusão da catequese d e que
fala N in
inaa Rodr i g ue ues.
s.
segunda interpretação se ria psicana lít i ca - trata -se d a projeção de
5 REPENSANDO SINCRETISMO
~ teórica00 de um lad
teórica la d o, inspirado em Nina Rodrigues, Euclides da Cunha.
Cunha.
e n s i d e r v a existência de uma dualidade em nossa sociedade
(brancos X negro s; cidades X campo; sobrevivências africanas X valores
~ e outro lado, apoiava-se na te o ria e n d i d por Lévy-Bruhl
cm voga na década de 1930, so sobb re o pensamento pr imiti vo.
Para Lévy-Bruh l, as representações coletivas dos povos p rimitivos
teriam a especificidade da participação. Os primitivos raciocinariam segundo
a lei de associação de idéias, por contigüidade c por similaridade. A lei de
participação constituiria para Lévy-Bruh l a ba se d a lógi
lóg ica primitiva, orien
tando suas classificações 4 •
(1983, pp. 33
Pere ira de Queiroz 33--34) mostra que a teoria de Lévy
Bruhl foi sendo abandonada por Roger Bastide ao aprofundar suas análises
sobre as religiões afro-bras il eiras, verificando que não ex ist
stiiam categorias
primeiras do espírito humano, e sim sistemas mitológicos difere nt es, co n
forme as sociedades. No mencionado artigo (1973, p. 184), Bastide vê o
sincretismo como um s istema de equivalências funcionais , de analogias e
de participações. ---._,_
artigo de 1955 e em outros trabalhos,
__ Como aparece formalizado cm
\}3 astide elaborou a partir destas idéias o princípio de cisão ou de cortc 5 •
Diversas vezes (1971
(1971,, pp. 529-530), emprega-o como solso l ução do problema
da aculturação, parecendo-lhe possuir valor geral caracte rí stico dos fenô
fenô
menos aculturativos.
·o princípio de cisão é uma das idé
id é ias-c
ias-cha,;
ha,;,cs
,cs incluídas
incl uídas em sua tese d e\
~ ali parcialmente c o mentado n a introdução e na s conclusões
(Bastide, 1971, pp. 17 - 24,37 - 42, 523-535), embora tenha s ido intuído e
século
sécu lo.
. Nos seus Carncts publicados pos
e a lei depoparticipação
s tumamentepara
começos do cm 1949, aba ndona a idéia do
caráler pr é-l ógico
caráler do pe nsame ntO primitivo enttender sua lógica (Lévy
en
Bruhl , 1949, pp. 60 -62, 7777-8
-800) . Bastide
Bastide,, em vári
vár ios trabalhos (1955, p. 493 ; 1973, p . XIII), reco
reco
nhece que Lév y-Bruhl ha havv ia abandonado a tese do pensame nto pré-lógico, mas isto não quer
dizer que a lei de participação n ão existe, som somente
ente,, que ele havia dado uma int interpretação
erpretação crrônea .
P ara Bastide ( 19 73. p. XIII), em s eu euss Carnets Lé Lévy-B
vy-B ruhl jamai s r enegou a noção de partici
partici
pação. Ev a ns -Pritch a rd (1978b, pp. 111- 138) faz r evisão crítica, analisa
analis a ndo os principais con
ce itos utilizados por Lévy- Bruhl.
5 . Perei
ereira
ra de Quei
Queiroz
roz (1983, p. 32) afirma em nota nota:: Roge
Rogerr Bastide util
utiliizou o termo francês coupure
que significa ato de co rt rtar.
ar. Julgamos que o termo correspondente em português seja 'cisão' .
Constatamos que algumas vezes este ter mo aparece traduzido por Hcorte como em l3ast
l3astidc.
idc.
1971, pp. 238, 517). É traduzido ta mbém por princi
principp io de ruptura in TrinTrindade,
dade, 1983, p. 643).
Coupure é a s vezes denominado pelo autor de brisure. rupture
rupture hiatus (Ravclct, 1978, pp. 322-
323). Em português, pode se r traduzido c omo rompimento
rompimento,, separação, fissura, cisura ou cisão
cisão..
Parece-nos porém que a tradução c isão p roposta por PerPeree ira de Queiroz é a mais adequada e a
que dev e ria ser utili
utilizada
zada uniformem en
entte em novas edições ou traduções
traduções da obra de 13astide, bem
como nas referências que lhe forem feitas.
feitas .
6 REPENS NDO O SI
SINCRETISMO
NCRETISMO
Para Ba sti de
de,, as g randes interpretações da cosmologia primit iva, a d e
L6vy-B ru
ruhh l a de Du rk
rkhh e i m c a de Griaulc, lon g e de se op o rem, co n sti tu em
pontos d e vista complementares . Parece-lhe , pois, que os princípios de cor
r espondência , o de participação c o de cisão constituem a melho r i m agem
que s e pode fazer da cosmologia p rimi tiva. Destes, o mais importante é o
REVISÃO D LITERATURA SOB RE SINCRETISMO 7
princípio de cisão, pois dentro das c isões é que se realizam as participações participaçõe s
c as co rre rrespondênc
spondênciias mí místst ica
icass .
No mesmo tr ab abaa lh
lho,o, Ba
Bass tide (1955, p. 498) constata que qu e é preciso
re ver a teoria do homem marginal marginal , do d o h ome m dividido e nt ntrre dois mun
dos que se defrontam dentro dele. Parece- Parece - lhe que, pe pelo
lo pri ncípio de cisão,
o afro-brasileiro escapa à desgraça da marginalidade. Imp re ssiona-l ssiona-lhhe a ale
g ria de viver c o equi quilíbrio
líbrio ps ps icoló
icológg ico dos adeptos do candomblé. Q n ~ g r o
~ é tfío fe r voroso patriota q u ant o está li ga gadd o à sua cult
culturaura anccs
anccs
~ Age como os outros brasi brasillei ros no mundo cconômico
cconômico,, c en qu a nt o mem mem
bro do candomblé, faz par partete ele um mundo onde on de predominam outros valores.
Esta car
ca racteríst
acterísticicaa não é puramente brasileira. Na Áfri ca também se
diz : É verdadeiro para os ne negros
gros . O negegrro con
co ns ide ra nam ra l que um so rt i-
lég
égioio,, uma ma g ia um rit ritoo ajam qu an do se trat trataa de africano, mas não ten tenhham
e ficá
ficácia
cia quando aplicado, aos bra ncos . Quando um membro do candomblé
afirma seu catolicismo, não mente, mente , poi
poiss é a o mesmo tempo cató católiclic o c fe
tichista . ~ s _ d u a s coisas nã o são opostas, mas separadas- é a lei de an a lo
g iaiass que ~ c As Asss i m o cocorrte ou cisão é con onss tatad
tatadoo ao se se--ve rifica
rificarr que
que nosn os
templ
te mplos os d e candomblé há um altar ca católico
tólico c um pcji africano,
africano , que se podem
corr
co rresponde
esponde r mas não se idcnti ficam, pois desempenham papéis diferentes diferente s .
Um informante
informan te lh e diz que rezando la dainhas não mistura n ad a de africano
c qu
quee c m ou outrtros
os momentos celebra fe stas africanas c não mi stu ra n ad a de
católico .
Tra ta
ta-- se, cm
c m sua visão. de u m mundo compartimcntado c cujos com
partimentos não são enca encaixáv
ixáveis
eis un s no s outros. O prin p rinccípi o de ci sã o parece
parece
lhe como uma característica dos fen fenômenos
ômenos aculturativos, agindo sobretudo
nas famí li as li gadas ao candomblé,
candomblé , na nass classes ba ixas da sociedade, onde a
influência
in fluência da esc escol
olaa permane
permanece ce confinada a alguns anos da primeira in infân
fân
cia c nas comunidades onde os prec ecoo nce
ceititos
os de cor são mínimomínimoss (Bastidc,
19 55 , pp. 493-503; 197 1, pp. 17-29, 17-29, 523-531 e 1973, 1973 , pp . 182-191).
E nco ntr
ntram
amoo s por parte de p ais-de-santo co mo pô i Balbi Balbinno da Bahia,
ou d e intelectua is radicados cm nosso meio meio,, como Pi er re Ve Verrgc r, dedecc la
lara
ra
ções
çõ es de qu quee .. candomblé c catolicismo sã sãoo cocomo
mo úgua e ól o podem fic ar
no mesmo copo, mas não se misturam (Vcrgcr, 19 83 83,, p. 45). Segundo
Segund o
Verg cr cr ( 198 i p. 28), ''com o passar do tempo,[ .. ] tornaram- tornaram-se se eles tão sin
ce ramente católicos quando vão à ig rej a, como lig ligados
ados às tradiçõe
tradiçõess afafrricanas,
quando particip
participaa m, zelosamente, das cerimôni as do candom cando mblé . Declarações
com
co mo estas, a nosso ver, complementam a op ini inião
ão de Bastide.
Bastide.
Atualmcntc, o sin s incret
cretiismo afro-católico passa a ser re rejj eitado pub li
ca mente, por diversos pais c mães-de- mães-de - sa santos,
ntos, como mãe Stela de Oxóssi,
8 REPENS NDO O SINCRETISMO
REVIMO DA LITERATURA SOBRE SINCRETIS M O . . 9
Ribe iro também c r iti c a a p e rsp e ctiva marxi sta ele Bastide, que a seu
ver e nfatiza o fator económ i co . C r i t i ca o princíp i o ele c i são dizendo que
toda soc
sociiedade impõe uma padroni
padronização
zação de grande número de pap é is. Crit ica
a m e t odologia de Bastide, que cons idera es truturali s ta, p o r despre za r a
natureza valo rativa da cultura. S uas c ríti cas a no sso ve r procedem e m part e,
p o i s o marxismo d e Bastide não o faz incorrer num determinismo
' ~ '
6 REPENSANDO O S NCRET SA 0
A religião foi o mais poderoso transmis sor de valores[ ... ] que de nenhum
modo permaneceram congelados [ .. ] é absolutamente enganador interpretar a fide
' lidade às raízes africanas como cópia, como algo imutável c congelado( . .] Sustentar
a premissa do congclamcnro re vela, por um lado, dcsconhccimcnro do dinam ismo
próprio do sistema africano
afr icano herdado c de sua habilidade de renovação [ . .] incorpo
rando mudanças; c por outro lado lado,, comete o ctnoccntrismo inconscien
inconsciente
te de regis
?E VISÃO DA LITERATURA SOBRE SINCRETISMO 6
Este foi o início de uma atividadc que ele continuou ao longo de toda a vida:
sumarizar a massiva litera tura brasileira[ .. ] Além disso freqücntcmentc faz uso
destes resultados como s upo porrt e para sua próprias interpretações. Fazendo isso ini
ciou um novo c quase peculiar meio[ .. ] que posso chamar de etnografia conge conge
lante : a falsa, e m bora atrativa suposição de que os dados apresentados nos livros
c artigos de escritores brasileiros representam a realidade da vida do culto, de tal
forma que podem ser aceitos como válidos in inclusive
clusive na época atual, não importando
quão velhos eles sejam sejam.. Esta etnogr
etnografi
afiaa congelante aceita a descrição do que acon
teceu num grupo de culto no noss tempos de N in a Rod
Rodrr igues como sendo ainda um retrato
válido do que está acontecendo nos gr gru u pos de cu lt
lto
o da Bahia na própria época da
pess quisa de Rogcr Bastidc. Sem dúvida ele não foi o primeiro autor a adotar uma
pe
etnografia atemporal , mas a grande ênfase que sempre pôs nas referências biblio
gr;ITííê a s to ríiã cs t Cjji-o ccdimcnto técnico mu ito aparente na maioria de seus livros,
gr;IT livros ,
somen te um erudito, mas freqüentemente a utiliza cm mu itas ocas iões
pois ele não era soment
como fontfontee de dados
dados..
I '
62 REPENSAN
REPENSAN O SINCRETISMO
I
reflexões sobre sincretismo (Santos, 1977, pp. I 03- 03- I 28), afi rm
rmando
ando qu
quee : a
religião foi o mais poderoso tran smi miss s o r de valores e ssenciais dessa negrinegri
tude afro - america na . Para eles os cultos se acomodaram sem se embran
quecer, pela capacidadé ne gra de di ge rir ou ou afr icanizar as c ontribuições.
Classificam as expressões da religião ne g ro-amro-amee r icana entre as variá
variá
ve is homo gé neas: os complexos jeje-nagô do r a s u c u m i e nani go de
REPENS NDO O SINCRETISMO
que as diversas categ orias de s incre tismos devem ser r eexam inada s como
incretismos
form a s de resistência. A religião e suas co munid ades const i tuem o balu
arte da di g ni d a d e ps í quica c cultural do negro 1977a, p. 115).
E l bcin do s Santos 1977) resu m e colocações anteriores, de modo ex p lí
cito. Defende uma reformula ção conceptual c t er m inológic
inológicaa de designações
que têm como conseqüênc i a negar o carátcr d e religião ao s ist e m a mí st ico
l egado pelo s africa no s c re
reee l aborado por seus descendentes. Considera que
os termos fctich i s mo, anim ismo c até s inc retismo são co n seqüênc i as da he
he
rança evol uci o n ista, que se cont inu a até hoje. Termos co m o bruxaria , magia
c superst ições são ut ili zados para encobrir o papel da relig
religiião, j á que a in
indc
dc--
_ /
REVISÃO DA LITERATURA SOBRE SINCRETISMO 6
Adiante afirma:
REPENS NDO O SINCRETISMO
es pecial mententee pelos antropólogos, que foram responsáveis, em grande parte, pela
glori fic aç ão dos cultos de ororiige m ioruban a, cm detrimento dos de procedência '' banto
c daqueles que adoraram práticas r itu ai s da umbanda cm expa nsã sãoo . De sde o in ic io
do es tudo cieciennt ífi co sobre os candomb
candombllés, os antr
ntroopólogos com tendência a expli expli
\ classificarram os terreiros de supos
cações cm termos de ge nét ica cul tur al classifica supostta ori
origem
y ioruba co m o se nd o d e al g um modo mais puros que os óc origem banto (ai iás, a
próp ria ca tego ria ba nto não tem nenhum sentido nes te conte contexto,
xto, poi s refe
eferre-se a um
grupo lingüístico c não c ultural . Os que tinh am abs orv orviido pr áticas não -ior
oruuban as
-fo;a
o;amm cl as s ifi ca dos co mo impuro
ifica (Fry,, 1986, pp . 4 1-42)
impuross ou deturpados (Fry 42)..
oposta
oposta,
ú ltimas, cconseqüências,
não consi
cons ide r,am
conseqüências o visão
esta africano
r et co mo aos
etiraria
iraria primitivo ounte
ou
p a rti c ipa in fer
pante feriior. Levada
s destas às
rellig iões
re
REVISÃO D LITERATURA SOBRE SINCRETISMO
SINCRETISM O _ _ 67
a possibi
possibill idade de elaborar c manter suas próprias tradições, o que, no Bras il ,
vem sendo feito há c c r c ~ de um século e meio po r an
antt igas comunidades reli
reli
giosas, independentemente da colabo r ação de intelectuais, como s e cons
tata nos terreiro s .
Esta perspectiva se rá retomada por B eat riz Dantas (1982, 1987
1987,, 1988),
ao re
repp ensar a questão da pur
pu reza nagô. Beatriz afirma que avança cm pistas
propostas por Yvon n c Maggic, Pc ter Fr y c Patrí
Patrícia
cia Birman . V a i estudar u m
terreiro r econhecido pela p opulação como único puro de La r an anjj eiras cm
Sergipe, c diz:
qu estionar a dominação, também tem sido uma forma d e domest icação dos cultos,
mais su til que a exercida pelos aparelhos r ep ressivos, na medida cm q ue não altera
as re la ç ões entre as classes c o s grupos, cons t ituindo ass i m uma idcoiogização da
pu reza africana pa ra encobri r a do m inação (Dantas , 1982, p. 19 19).
).
- . : r r i z
com( 1\lcjandro
Damas 'ri geri
I 988) '·um dos o que , em
trabalhos correspondência
mais de I 988. nos diz
importantes nos ú lt1mo di z isasobre
t1moss tempo
tempos se r o otraba
trabalho
tema
te lho
ma .
8 REPENSANDO O SINCRETISMO
sujj eito (histórico), c, enquanto tal, capaz de ma n ipular o pesqu i sador . Para
su
Sodré (1988, p . 64): U m a interpretação desse gênero recalca a possibil i
dade de elaboração autônoma de uma estratégia político-cultural por parte
d o grupo negro . A ri Araújo 1986, pp. 69-70) diz:
A crít
crí t i c a - por vezes ex t remamente ácida- ao modelo puro [ . ] não justi
fica sua extensão à co componen
mponen te de res
esiistência presente na cultura negro
negro--brasileira.
[ ... ]Também não justifica o não - reconhecime
econhecimentonto de passos f undamenta i s dados
por esta vertent
verte ntee da pesquisa, como como,, por cxcmpio, o da constatação de que os te terr
reiros cons ti t ue hisro
hisrorr ic amcntc a mais imponante fo rma de organização social para
lela à da sociedade abrangente; de que o terrei ro implica[ . ] um impulso de
resistência à ideologia dom inante [ ]
;
autent i c idad e de suas tradições .
E n tre as décadas de 1930 e 1950, as religiões afro-brasileiras come
çavam a se tornar conhecidas. Havia, porém, m uitos preconceitos, acusações
de charlatanismo e perseguiçõe
perseguiçõess polic i ais. Os antropólogos procuraram jus-
REVISÃO DA LITER TUR SOBRE SINCRETI SMO 69
--
r e i ros. Muitas casas incluem intelectuais em sua estrutura como ogans o u
m outros cargos, o que também é um costume consagrado. Embora não se
ne g u e esta influência, sua função é limitada e condicionada pe l a atuação
dos lídere s, que mantêm c renovam as tradições dos terreiros, manipul a n
do-as e m função de seus int
in t eresses.
Beatriz Dantas (1988, p. 147) consta ra que a ''
' ' decantada pureza nagô
tem contornos diferentes na Bahia, cm
c m Sergipe c cm Pernambuco. As seme
l hança
hançass c diferenças entre as re
re li giões afro-brasileiras ela Bahia, Pernambuco,
Sergipe, Rio Grande do Sul, Pará, Maranhão, etc., não se devem a repre
se ntaçõe s de a fr icani smos construídas no s meios acadêmicos . Há de fato
diferenças incont estáveis entre as práticas religiosas nestas c e m outras
re giões. Dantas (1988, p. 14 7) descarta rápido demais a hipótese de que se
devam a diferenças étnicas nos grupos ne gros or iginários, c uja s tradições
8. Segundo I lobsbaw m (llobsbawm Ranger, 1984, p 9), ''muitas vezes 'tradições' que parecem
ou s5o co ns ideradas antigas são bastante rec e ntes, quando
quand o n ão são inv
invee ntadas . ll o bsbawm ana
lisa a inv enção de tradições como processo de r ituali zação. Estudando casos na Inglaterra d o
século XVIII
XV III ao XX, mostra que tradiçõe
tradiçõess que são consideradas como tendo vár ios séculos fo ram
i nvenç ões relativamente recent es fei ta
tass p or intelectuais, como o saiote irlandês, es tabelec
tabeleciido cm
inícios do século XIX.
7 REPENS NDO O SINCRET ISMO
R V I SlO D LITERATUR;I SOBRE SINCRETISMO 71
PESQ UISAS A TU IS
7 REPENS NDO O SINCRETISMO
Desconfiamos no entanto que o sincret ismo seja mais aparente que real, e
sobretudo, não seja viv ido do mesmo modo pelas diversas religiões de origem
africana. [ .. ] Acreditamos que seja poss ível falar de sincretismo no caso da umbanda.
Nela, as divindades e os ritos não se juswpõem apenas. Fundem-se.
Fundem-se . [ .. ] a doutrina
incorpora os diversos valores das demais religiões.[ . .] Nas regiões onde a religião
nagô tradicional pôde subsistir[ .. ] é mais difícil falar cm sincretismo. Todas as
definições que encontram
encontramos
os da palavra sincr
sincretism
etismo o dão como essencial a fusão
de vúrios elementos. No caso do candomblé de rito nagô, parece tratar-se de
justaposição mais do que fusão. [ . .)Nossa opinião é que houve fusão real ao ní vel
das divindades africanas [ .. ] Nossa avaliaçã
avaliação o é mais reservada cm rela çã o ao propa-
relaçã
lado si ncre ti smo com o catolicismo. [ .. ] Ao nível do candomblé tradicional, não hú
fusão, nem síntese entre a ideolo
ideolog
gia cristã e o sistema nagô.
REVIISi
REV DA LITER TUR SOBRE S INCRETISMO 73
7 REPENS NDO O SINCRETISMO
9 Valclllc ( 19 89, p. 253) refere · se ao fato oe que a 1mprensa de Siio Pau o pra
pratt icamente tam
bém
bé m 1gnorou o Co n gresso lmernacional do Ceme ná nárrio da Abolição, promovido pela USP cm maio
de 98 8 . Es:c desinteresse é comu m cm todo o pais. Em junho de 19 85 a UNESCO organizou no
Maranhii o um colóqu 1o internacional para discutir Sobrevi
Sobrev i vência das Tradi
Trad ições Religiosa
Religios a s Afr icanas
n A mérica Latina c o ri bc. reunindo mais de qu rent especialis tas de diversos países s meios
de comunicaçflo nadonais não ve ram interesse cmnoticinr o evento. apesar do empenho dos
r
Organ izad ores. Tal ntitudc reflete preconceitos raciais contra o negro e as religiões a fro · br
brasilciras.
asilciras.
. UC se constnt
constn t n imprens c em outros
outros sctorcs d socied de m vári s regiões d o pa í s