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FERREIRA, Mariana Carnaes.

O Clientelismo e os Cargos Comissionados: Impacto na Eficiência da Administração


Pública. São Paulo: 20014. Disponível em: www.abdet.com.br

CITAÇÕES

Nas palavras de Hely Lopes Meirelles,

“o concurso é o meio técnico posto à disposição da Administração Pública para obter-se moralidade, eficiência e
aperfeiçoamento do serviço público e, ao mesmo tempo, propiciar igual oportunidade a todos os interessados que
atendam aos requisitos da lei, fixados de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, consoante
determina o art. 37, II, da CF. Pelo concurso afastam-se, pois, os ineptos e os apaniguados que costumam abarrotar
as repartições, num espetáculo degradante de protecionismo e falta de escrúpulos de políticos que se alçam e se
mantêm no poder leiloando cargos e empregos públicos”. (MEIRELLES, 2007, P.436)

“um sistema de controle do fluxo de recursos materiais e de intermediação de interesses no qual não há número
fixo ou organizado de unidades constitutivas. As unidades constitutivas do clientelismo são agrupamentos, pirâmides
ou redes baseados em relações pessoais que repousam em troca generalizada. As unidades clientelistas disputam
frequentemente o controle do fluxo de recursos dentro de um determinado território, a participação em redes
clientelistas não esta codificada em nenhum tipo de regulamento formal, os arranjos hierárquicos no interior das
redes estão baseados em consentimento individual e não gozam de respaldo jurídico”. (NUNES, 2003, P.40)

CONTEXTO HISTORICO

Conforme demonstrado na breve evolução história feita anteriormente, àqueles nomeados para tomar conta das
capitanias hereditárias e, mais tarde, para fazerem parte do corpo governamental do Império nada mais eram do
que simples marionetes da Coroa Portuguesa que, em troca dos privilégios e status do cargo público, apenas
reproduziam a vontade egoística da Corte, não se preocupando com o interesse público.

PANORAMA ATUAL DO CLIENTELISMO

No entanto, o que não se aceita é a continuação da prática de troca de favores em uma sociedade democrática,
dentro da qual estão garantidas todas as formas de proteção e manifestação de direitos da população, cujo poder de
mando é absoluto.

Infelizmente, não é isso que ocorre. Na sociedade atual, o antigo coronelismo e mandorismo evoluíram para a
prática já conceituada do clientelismo, o qual, além de funcionar dentro de uma sociedade democrata, exclui a
figura do coronel para substituí-la pelos aliciadores presentes dentro dos partidos políticos.

Como já estudado e, seguindo as lições de Robert Kaufman, a relação clientelista se dá entre o mais forte e o mais
fraco do ponto de vista político, visando uma atitude de reciprocidade que, apesar de ter aparência de legalidade, na
verdade busca apenas interesses privados.

Por esse motivo podemos compreender porque os cargos comissionados podem ser uma forma de atuação do
clientelismo. Para tanto, far-se-ão maiores digressões.
CONCURSOS PUBLICOS X CARGOS COMISSIONADOS.

Da leitura em epígrafe é possível concluir que a necessidade do concurso público para preenchimento de vagas
públicas foi instituída com a finalidade de criar um sistema meritório na Administração Pública, através do qual fosse
possível escolher, de forma isonômica e imparcial, os melhores indivíduos possíveis para exercer a função.

Isso também significa que o concurso público pode ser considerado uma forma de controle prévio da atuação da
Administração Pública, já que, em razão da impessoalidade e do controle de méritos, impede a entrada de quem
apenas visa beneficiar-se pessoalmente do cargo, atendendo, inclusive, aos princípios constitucionais da moralidade
e eficiência.

No entanto, esse controle prévio não pode ser considerado absoluto, já que plenamente possível que o indivíduo
inicialmente bem intencionado, passe a utilizar as garantias de seu cargo para satisfazer interesses pessoais.

Esse foi o exato argumento para a manutenção da previsão da necessidade de cargos em comissão para funções de
direção, chefia e assessoramento: os partidários argumentam que, em razão da estabilidade dos concursados, estes
poderão se filiar a interesses que não sejam o bem comum e poderão se proteger no manto das garantias
constitucionais do cargo. Por isso mesmo que, para a manutenção da estabilidade administrativa, seria necessário
que, para os cargos de decisão, fossem nomeadas pessoas de extrema confiança do titular do poder, evitando que
meros interesses políticos comandem o exercício do cargo.

Na prática o que se vê é exatamente o oposto – apesar de existir sim um corporativismo entre os funcionários
públicos, estes, por terem estabilidade, não se sentem influenciados ou pressionados a filiarem-se a ideais políticos
que não visem o bem comum. Ao contrário, os detentores de cargos comissionados vinculam-se àquele que o
nomeou, detendo um dever “moral” de retribuir a indicação.

Os cargos em comissão passaram a ser uma moeda de troca por favores pessoais – os nomeantes e apadrinhados
não se mostram devotos aos princípios constitucionais ou ao interesse comum: enquanto um visa angariar votos
para satisfazer interesses pessoais, o outro visa o status e a estabilidade do cargo público, enquanto fizer as
vontades daquele que o nomeou.

Na verdade, o que se PERCEBE, é que os cargos comissionados são uma afronta ao princípio da eficiência, e que
apenas diminuem a produtividade da Administração Pública na prestação de seus serviços.

A Constituição Federal, ao prever a possibilidade dos cargos em comissão e apenas exigir a sua criação por lei,
concede uma discricionariedade demasiada aos detentores do poder que poderão contratar qualquer pessoa,
mesmo que não possua nenhum tipo de qualificação técnica para o cargo. Isso permite uma busca e aliciamento de
particulares mal intencionados, que pagarão o preço da reciprocidade para manterem-se no cargo público indicado
para eles.

E referida reciprocidade exigida do particular em relação à concessão feita pelo administrador público nada mais é
do que o clientelismo em ação.

AFETANDO A EFICIÊNCIA

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