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Minutos 40-45

O que Fanon deixa muito claro é que esse sujeito racializado nasce justamente da fratura da
identidade. A identidade surge como suporte precário de significados que carregamos para
conhecer a nós mesmos, mas que muda durante a nossa ação no mundo. É justamente quando
descubro que sou excedente, numa relação de um Eu igual a Eu que é atravessada por um
Outro. Aquilo que me diz o que eu sou é justamente a diferença que o Outro me dá, me
entrega com a sua significação e a sua existência. É justamente isso que possibilita a falta que
constitui o sujeito.

(...) Apesar de saber o absurdo que essa falta provoca à nossa existência, nós nunca vamos
acreditar nela. São poucos o que levam a sério esse absurdo da falta de significação, isto é, que
a significação parte de nossa relação com o mundo, portanto de um corte que nosso próprio
Eu realiza frente ao mundo. Isso é absolutamente importante pra construção de um sujeito
que franqueia o caminho [para a emancipação].

O sujeito que Fanon nos fala não é um sujeito cartesiano, mas um sujeito que emerge de um
grito que tem fundamentação política. Quando me descubro negro de fato, quando me torno
negro, imediatamente cai sobre minhas costas 500 anos de colonialismo, imediatamente cai
sobre minhas costas a visão geral que eu tenho de uma sociedade excludente. Nesse sentido, o
negro (o indivíduo racializado) quando se descobre como um Eu responde por uma verdade
dessa sociedade excludente. Ele é a própria verdade dessa sociedade excludente que põe em
xeque os discursos dessa própria ordem. Por isso que o sujeito racializado é um sujeito
eminentemente político. Isso é na verdade a sua condenação porque o indivíduo racializado
não pode tornar-se aquilo que dizem que ele é se não passar pelo crivo da política. Então,
necessariamente ele é um sujeito político porque responde por essa verdade excludente. Isso
é uma condenação de fato e é por isso, talvez, que seja tão impossível se assumir no lugar do
racializado, pois se assumir nesse lugar impõe que você efetivamente aja em nome da
liberdade, em nome de uma construção do sentido político. É isso que Fanon o tempo inteiro
nos chama a atenção.

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