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DOI: http://dx.doi.org/10.18310/2446-4813.2015v1n4p05-06
Janaina Matheus Collar LIFE EXPERIENCE IN THE LIVE TERRITORY: CLUES TO OVERCOME
João Beccon de Almeida Neto MODELING IN MEDICAL TRAINING
Editores-Executivos
e a transformação de mundos como uma as transformações curriculares em curso, . Guattari F. Três ecologias. Campinas: Papirus; 2004.
2
who reported having used some of the UHS década de 90, vem se mobilizando esforços 2Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/
ii
participação social no âmbito do SUS. Nesse arquivos/pdf/relatorio_da_pesquisa_de_satisfacao.
pelo Departamento de Ouvidoria Geral do discutir e avaliar o acesso e a qualidade da Tabela 1- Diferenças entre os grupos entrevistados
SUS6, com 26.662 participantes, distribuídos qualidade da AB em diferentes contextos,
em todo território nacional, nos períodos de sendo aprovado no Comitê de Ética em Utilizaram o Não utilizaram o
junho a julho de 2011 e novembro de 2011 Pesquisa da Universidade Federal do Rio SUS SUS
a janeiro de 2012. Grande do Sul, sob protocolo nº 21904.
Os dados supracitados foram gerados Não têm Plano de Saúde 77% 49%
por meio de contato telefônico assistido Sexo Feminino 67% 55%
por computador, a partir de bases de dados Declaram-se Brancos 41% 45%
Resultados
fornecidas por empresas de telefonia. Declaram-se Negros 12% 11%
Após serem informados sobre o objetivo
da pesquisa e o órgão executor, 18.673 Declaram-se Pardos 43% 40%
Eixo 1- Quem são os usuários do SUS? Têm Nível Médio de Escolaridade Completo 43% 44%
usuários que mencionaram que utilizaram
o SUS nos últimos 12 meses antes da Num primeiro momento, antes de Têm Nível Superior de Escolaridade Completo 10% 19%
entrevista, responderam um questionário problematizar e traçar o perfil dos usuários Renda familiar maior que 2 salários mínimos entre os
de 41 perguntas divididas em quatro partes: do SUS é importante destacar que entre 30% 47%
que declararam
atenção básica; atenção odontológica; os 26.692 ouvidos pela pesquisa, 70%
urgência e emergência; perfil. Para quem (18.673) mencionaram a utilização do Renda familiar maior que 10 salários mínimos entre os
1,3% 4,7%
não possuía histórico de utilização do SUS SUS, em contrapartida a 30% (7.989) que que declararam
no período citado (7.989 usuários), além do não utilizaram os serviços em busca de Fonte: Relatório de Pesquisa de Satisfação com Cidadãos Usuários e não Usuários do SUS quanto aos aspectos
de acesso e qualidade percebida na atenção a saúde-Departamento de Ouvidoria Geral do SUS (DOGES, 2012).
perfil, os demais questionamentos visaram consultas, exames, vacinação, atendimento
identificar a opinião quanto ao SUS e acesso de urgência, internação ou medicamentos,
a outras formas de assistência à saúde. no recorte temporal de 12 meses. Eixo 2- A Atenção Básica como referência de cuidado
As análises expressas nesse Seguido desse primeiro recorte, Não passa de uma década, o discurso e, consequentemente as ações em saúde, apontam
manuscrito foram geradas após leitura podem-se constatar algumas diferenças para o entendimento de uma AB acessível, responsável pelo acolhimento e primeiro contato
do relatório de pesquisa. Com essa etapa entre os dois grupos (Tabela 1). Em relação dos usuários, com amplo leque de ofertas de ações de saúde, resolutiva e com capacidade
concluída, os dados relacionados ao perfil ao perfil dos entrevistados, evidencia-se no de agregar as tecnologias necessárias para atender à maior parte possível das necessidades
dos entrevistados e satisfação com o SUS grupo que referiu ter utilizado nos últimos de saúde dos usuários perto de onde eles vivem.7 Portanto, entender como a população
foram recortados, agrupadosiii3e agregados 12 meses o serviço de AB ou de urgência compreende o SUS é importante. A proposta de trabalhar a Ouvidoria em Saúde, como espaço
em dois grupos: usuários e não usuários do do SUS que 77% das pessoas entrevistadas potencial de avaliação dos serviços na perspectiva do usuário é fundamental para atingir este
SUS. Os dados referentes à avaliação da AB, não possuem plano de saúde. Observa-se objetivo.
gerados pelos entrevistados que referiram também neste grupo, um maior percentual Dentre os entrevistados que responderam ter utilizado algum serviço do SUS (70%),
utilizar os serviços do SUS, também sofreram de mulheres e pessoas de cor parda. Além 85% deles haviam sido atendidos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Para esses usuários
recortes e foram agrupados de acordo da maior utilização dos serviços por parte questionou-se também o nível de satisfação com os profissionais de enfermagem, médicos,
com os questionamentos. Após essa etapa das mulheres, é possível observar fatores ACS e cirurgiões dentistas.
elencou-se três eixos de apresentação: 1) que marcam diferenças socioeconômicas Com relação à satisfação, entendida como expressão do “contentamento de um
quem são os usuários do SUS?; 2) Atenção importantes nesses dois grupos. Já no grupo indivíduo com uma situação, serviço ou até outros indivíduos”6 pode-se evidenciar que 63%
Básica-referência de Cuidado; e 3) Satisfação que referiu não utilizar o SUS, evidencia- dos entrevistados avaliaram o atendimento de enfermagem como muito bom ou bom, e 72%
com o SUS. se os dados referentes à renda familiar, verbalizaram esta percepção para os profissionais médicos. Sobre os Agentes Comunitários
Com relação aos aspectos éticos, a pois neste grupo 47% recebe mais de dois de Saúde, o questionamento foi realizado para 42% dos usuários, que disseram ter recebido
discussão apresentada integra o projeto de salários mínimos, a escolaridade, tendo em a visita destes profissionais, sendo o percentual de satisfação em torno de 73%. A avaliação
pesquisa “Avaliação da atenção básica no vista que 19% possuem nível superior de dos cirurgiões dentistas foi realizada por 18% dos usuários que disseram ter buscado atenção
Brasil: estudos multicêntricos integrados escolaridade completo. odontológica nos últimos 12 meses, e as respostas satisfatórias foram mencionadas por 80%
sobre acesso, qualidade e satisfação dos
dos entrevistados. Assim, considerando que as avaliações positivas variaram de 63% a 80%
usuários”, no que se refere ao objetivo de
para os quatro profissionais avaliados e os números de ruim e muito ruim não passaram de
pdf>. Acesso em: 15 jan 2016. 10%, pode-se afirmar, com estes e com os achados que seguem que o grau de satisfação
iii
3No relatório os dados encontram-se separados por
regiões. com os profissionais de AB é muito bom e inferir que as Unidades de Básicas de Saúde têm
conseguido acolher os usuários e na medida do possível lhes ofertar certa resolubilidade. A Tabela 3- Recomendação, avaliação e atendimento das demandas na UBS
tabela 2 apresenta os dados referentes à satisfação dos usuários, quanto à satisfação com o
cuidado ofertado por estes profissionais.
Entrevistados UBS
Tabela 2- Satisfação dos usuários com os profissionais Recomendaria 74%
Não Recomendaria 25%
Profissionais Muito Bom + Bom Regular Ruim + Muito Ruim Avalia o serviço como Muito bom/Bom 38%
Enfermeiros 63% 26% 10% Avalia como Regular 35%
Médicos 72% 17% 10% Avalia como Ruim/Muito Ruim 28%
Agentes Com. Saúde 73% 20% 6%
Teve demanda atendida 60%
Cirurgiões Dentistas 80% 12% 8%
Parcialmente atendida 25%
Nota: Os percentuais acima não totalizam 100% devido ao fato de uma parcela dos usuários não ter respondido
à pergunta. Não teve demanda atendida 14%
Fonte: Relatório de Pesquisa de Satisfação com Cidadãos Usuários e não Usuários do SUS quanto aos aspectos Nota: Os percentuais acima que não totalizam 100% devem-se ao fato de uma parcela dos usuários não ter
de acesso e qualidade percebida na atenção a saúde- Departamento de Ouvidoria Geral do SUS (DOGES, 2012). respondido à pergunta.
O vínculo com Equipe Saúde da Família (ESF) foi mencionado por 55% dos usuários Fonte: Relatório de Pesquisa de Satisfação com Cidadãos Usuários e não Usuários do SUS quanto aos aspectos
de acesso e qualidade percebida na atenção a saúde- Departamento de Ouvidoria Geral do SUS (DOGES, 2012).
que referiram ter buscado cuidado em Unidades Básicas de Saúde, sendo que 42% destes
receberam algum profissional de saúde em domicilio, pelo menos uma vez nos últimos seis
meses. Importante destacar que os percentuais mencionados convergem para a estimativa de Os encaminhamentos para outros procedimentos no SUS, também foram elencados,
cobertura populacional pela ESF (54%), gerados pelo Departamento de Atenção Básica do MS, sendo que 49% dos usuários das UBS informaram terem sido encaminhados. Destes, 60%
no período pesquisado. conseguiram realizar exames, 56% consultaram com especialista, 76% tiveram que ser
Com relação à distribuição das unidades básicas no território, o estudo apontou que internados e 73% acessaram o serviço de urgência.
87% dos entrevistados responderam que demoram menos de 30 minutos para chegar a UBS Quanto ao acesso aos medicamentos prescritos, 57% dos entrevistados os obteve na
mais próxima de casa. Esse dado, do ponto de vista da acessibilidade e das dimensões do própria UBS, para 7% foram disponibilizados gratuitamente em outros serviços no SUS, para
território de referência, está de acordo com a nova Política Nacional da Atenção Básica (PNAB), outros 7% os medicamentos foram disponibilizados pela farmácia popular, 19% comprou na
publicada em 2011, que recomenda 3 mil pessoas para cada ESF e o máximo de 12 mil pessoas rede privada e 10% não conseguiu a medicação, o que merece três considerações: é expressivo
por UBS orientada por esta estratégia. Para UBS que não são orientadas pela ESF e que estão o número de usuários que conseguem a medicação necessária na própria UBS sem precisar se
em áreas de grande concentração populacional recomenda-se o teto de até 18 mil pessoas.2 deslocar; também é importante o número de usuários (71%) que adquirem os medicamentos
Perguntados se para serem atendidos precisaram agendar suas consultas previamente, gratuitos ou subsidiados; mas não é desprezível o percentual (29%) de usuários que ficaram
51% dos usuários responderam que conseguem agendamento no mesmo dia, 34% referiu sem o medicamento prescrito ou tiveram que comprá-lo.
um período de uma semana a um mês e 13% mencionou mais de um mês. Já com relação ao
tempo de espera na UBS, os dados apontam que 54% dos usuários aguardam menos de uma
Eixo 3- Avaliação geral do SUS
hora, em contrapartida, a 23% que mencionaram obter atendimento entre uma e quatro horas
e 13% que referiram ter aguardado mais de quatro horas ou não ter conseguido atendimento. Para compor esse último eixo, agregaram-se os dados dos que utilizaram os serviços do
Ainda os entrevistados que utilizaram UBS responderam questões sobre demandas SUS nos últimos 12 meses e os que referiam não ter buscado. Entre aqueles que buscaram
levadas, recomendação e avaliação do serviço (Tabela 3). Interessante notar que, embora a algum serviço, 36% atribuíram o conceito de muito bom ou bom, 34% de regular, seguido de
pesquisa tivesse como premissa associar satisfação com atendimento da demanda do usuário, 29% que consideraram como ruim ou muito ruim. No segundo, composto por entrevistados
os números revelam que ter a demanda atendida não significa necessariamente avaliar que não acessaram nenhum serviço do SUS nos últimos 12 meses os percentuais ficaram em
positivamente o serviço. O número de pessoas que tiveram a demanda atendida é de 60% e o 25% com avaliação muito boa ou boa, 30% como regular e 45% como ruim ou muito ruim.
número de pessoas que avaliam os serviços como bom e muito bom é de 38%. Os dados expressam uma diferenciação na avaliação entre os dois grupos, à medida
que a proporção de opiniões de que os serviços do SUS são muito bons ou bons foi maior
(36%) entre os que utilizaram, do que entre o outro grupo (25%). Outro achado interessante
é de que a proporção de opiniões de que os serviços prestados pelo SUS são ruins ou muito
ruins foi maior entre os entrevistados que não tiveram experiência com algum dos serviços
pesquisados (45%), em comparação com aqueles que tiveram (29%).
Algumas reflexões saúde que buscaram o atendimento no SUS. Com relação à satisfação com os necessidades de saúde. Todavia, assinala-
Tal achado permite presumir que muitos profissionais da AB faz-se necessário se que, muitas vezes, o usuário pode
usuários, inclusive de planos de saúde, alguns apontamentos, como por exemplo, não ter acesso ao que “foi buscar”, seja
Um primeiro efeito da pesquisa é estão encontrando no SUS serviços capazes que é incorreto deduzir que a qualidade por ter mudado a compreensão sobre
colocar interrogações sobre quem são os de lhes ofertar cuidado de qualidade e que do atendimento dos ACS é melhor que essa necessidade, seja por não haver
usuários do SUS. Mais que uma provocação, por isso os acionam. a dos enfermeiros, embora esteja claro disponibilidade no serviço naquela ocasião
a forma de agrupar quem utilizou algum Outro ponto que merece ser discutido que as pessoas estão mais satisfeitas e, mesmo assim, sair satisfeito com os
serviço de saúde do SUS, no recorte de 12 no eixo “quem são os usuários do SUS?” é o com os primeiros do que com os últimos. profissionais por ter se sentido acolhido e
meses, vem problematizar que o imaginário maior percentual de mulheres que referiram Neste contexto, é preciso considerar que cuidado.3
coletivo reconhece “inadequadamente” utilizar os serviços de saúde. Ao investigar talvez a satisfação esteja mais relacionada Ao comentar os achados referentes
como usuários do sistema, apenas aqueles as razões para a não procura masculina, com o acesso àquilo que se buscou, e ao agendamento de consulta e tempo de
que não possuem plano de saúde privado. estudos evidenciaram justificativas com a realização ou não de algumas das espera na unidade é importante enfatizar
Considerando o escopo de ações e serviços que estão implicadas com a forma de expectativas que o usuário levou para que não se quer estabelecer parâmetros
ofertados pelo SUS, pode-se afirmar que organização dos serviços, por exemplo, esse atendimento, do que com a própria únicos para realidades diferentes e
todas as pessoas são usuárias do sistema, horário de atendimento coincidir com o qualidade de cuidado ofertado. complexas. Pode-se dizer que de um modo
pois suas ações vão além das assistenciais, trabalho, e com as barreiras socioculturais Parece razoável supor que pesou na geral, é expressivo o número de usuários
abarcam entre outras, oferta de que atribuem ao homem à falsa premissa avaliação da enfermagem a impossibilidade que conseguem atendimento em tempo
medicamentos, ações de vigilância à saúde, que “são invulneráveis.”9,10,11 de ofertar certos procedimentos que oportuno, o que mostra as unidades de
normatização e fiscalização das condições Pode-se acrescentar que o SUS motivaram a maioria das buscas pelos saúde mais preparadas para ser de fato uma
sanitárias de produção, armazenamento vem investindo fortemente em políticas serviços. Por exemplo, 79% dos usuários porta de entrada que se molda em função
e distribuição dos alimentos e dos direcionadas a grupos específicos, disseram ter buscado no SUS uma consulta da necessidade dos usuários. De outro
estabelecimentos comerciais e produtivos. considerando as particularidades e médica, 53% medicamentos e 49% exames, lado, aguardar três ou quatro semanas
Sobre isso, um estudo8, ao fazer um especificidades de cada um. Como ações que dependem, na maioria dos para marcar uma consulta, independente
balanço dos 20 anos da Reforma Sanitária, exemplos, podem-se citar a Política Nacional casos, diretamente do profissional médico. da necessidade de saúde em questão, é
reflete que houve, durante um período, um de Atenção Integral a Saúde do Homem11 e Outro grupo representado por 45% dos um tempo muito grande. Também não
deslocamento dos temas das produções a previsão das Unidades Básicas de Saúde entrevistados buscou vacinações, curativos é razoável esperar mais do que 2 horas
técnicas e acadêmicas, visto que no início Fluviais, Equipes de Saúde Ribeirinha e e orientações. Talvez um estudo que numa UBS para um atendimento. Nesse
eram mais voltadas para questões mais Consultórios na Rua na PNAB2 como Equipes identificasse a existência de diferenças sentido, os dados reforçam que a AB ainda
abrangentes como democracia e papel do de Atenção Básica que devem buscar e entre esses grupos quanto à avaliação de apresenta aspectos importantes a serem
estado. Neste deslocamento, houve muitas ofertar atenção integral a estas populações enfermagem traria mais subsídios para a melhorados, além disso, apontam lacunas
confusões entre termos e significados e que reconhecem o potencial da AB no discussão, pois é preciso considerar que a nas redes de atenção com relação ao fluxo
por outro lado, a criação de termos novos, cuidado e reforçam a ideia de um sistema enfermagem teve mais governabilidade de de encaminhamentos. Cabe destacar que
muitos deles para contrapor o ideário da de saúde público e de qualidade para todos ofertar ações que atenderam à demanda este tempo de espera pode ser reduzido
Reforma Sanitária, a exemplo do termo SUS os brasileiros. para o segundo grupo do que para o com o uso de dispositivos de organização de
- dependente. Nesse sentido, concorda-se Os dados apresentados no eixo “A primeiro. agenda como marcação por hora e poderia
com a autora de que este termo “remete Atenção Básica como referência de cuidado” Obter acesso (entrar nos serviços de ser aproveitado para ações de orientação,
exatamente à exclusão social, uma vez que confirmam que as Unidades Básicas de saúde) não garante que as necessidades educação em saúde e intersetoriais, o que
se refere àqueles sujeitos sociais que não Saúde são, com larga vantagem, os serviços serão satisfeitas, e mais, acessibilidade raramente acontece.
tem acesso à atenção a saúde que não seja mais acessíveis e acessados do SUS. A refere-se às facilidades e dificuldades em As ofertas de cuidados programados
por meio dos serviços públicos de saúde.”8 pesquisa mostra que as pessoas usam o buscar/receber cuidado (interação entre e prioritários na AB, como gestantes,
Os dados revelaram que existem serviço, que ele está localizado próximo de quem busca e quem oferece cuidado).3 crianças até dois anos, pessoas em
desigualdades socioeconômicas suas casas e que os profissionais chegam Assim, define acessibilidade como uma condições crônicas, muitas vezes, são
importantes entre os dois grupos, sendo até a população em seu próprio domicílio. prática não normativa, de inter-relação e questionamentos realizados pelos usuários
os que referiram utilizar os serviços do Também permitem inferir que quem é intersubjetividades, portanto uma prática e acabam gerando desconforto nas equipes,
SUS, menos favorecidos. No entanto, é coberto de fato está usando o serviço e que que significa não apenas no acesso dos pois aqueles que nesses grupos se encaixam
preciso considerar que existe uma parcela as pessoas sabem cada vez mais identificar usuários aos serviços de saúde, mas conseguem acesso relativamente fácil. Em
significativa de usuários com planos de quando uma UBS se organiza pela ESF. também a resolução das suas demandas e contrapartida, outros que não se “encaixam”
em nenhum “grupo”, mesmo estando em colocados no campo do debate e disputa levando-se em conta as condições que já todo? Não seria interessante questionar
situações de sofrimento e apresentando um do público e do privado, do mercado da estão dadas, como o tempo de espera para o que leva estes usuários que não usaram
problema agudo, podem encontrar muita saúde no Brasil e das relações entre saúde agendamento de consultas, de espera na o SUS a avaliarem-no como ruim ou muito
dificuldade para serem atendidos, exigindo e sociedade. unidade e o percentual de usuários que ruim? Questões como essas merecem
incursões de madrugada em busca de uma não conseguiu obter medicação gratuita na ser exploradas, assim como, abordagens
das poucas fichas disponibilizadas “para o unidade ou na rede. qualitativas são bem vindas, na medida em
dia”. Algumas considerações Outra questão abordada no estudo que poderiam contribuir para a melhoria
De outro lado, sabe-se que uma que merece um destaque é a diferença dos processos avaliativos.
UBS pouco acessível e que não acolhe as de avaliação do SUS entre quem utilizou e Por fim, cabe destacar a potência da
pessoas nas situações agudas e de urgência, quem não o utilizou. Será que as pesquisas Ouvidoria ativa no fortalecimento do SUS
justamente na hora que se sentem mais Os estudos constroem-se de avaliação ao não separarem estes dois e na operacionalização dos seus princípios,
aflitas e desamparadas, não é legitimada sobre outros estudos, não no grupos não estão produzindo fenômenos diretrizes e serviços.
pela população e faz com que muitas sentido de que retornam onde diferentes e apresentando-o como um
pessoas busquem serviços de pronto outros deixaram, mas porque
atendimento com necessidades de saúde melhor informados e melhor
conceituados, eles mergulham
que seriam melhor acolhidas, cuidadas e mais profundamente nas mesmas
acompanhadas nas UBS. Contudo, essa Referências
coisas.12
pressão pode exigir de uma UBS um volume
de ações que extrapole a capacidade de Com as considerações de Geertz12,
oferta frente a uma demanda comprimida
1
. Silva Junior AG, Mascarenhas MTM. Avaliação da Atenção Básica em Saúde sob a ótica da
pontua-se que os dados compartilhados são Integralidade: aspectos conceituais e metodológicos. In: Pinheiro R, Mattos RA. Cuidado: as
no tempo por diversos motivos que vão resultantes de uma primeira aproximação
desde a insegurança do usuário (que se fronteiras da integralidade. Rio de Janeiro: CEPESC-IMS/UERJ/ABRASCO. 2008; p.243-260.
e que novos inquéritos mostram-se
traduz num “não deixar pra amanhã, pois, necessários para qualificação do cuidado e 2
. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria GM nº 1.654, de 21 de outubro de 2011. Aprova a
amanhã não sei se terei oportunidade”) à fortalecimento da participação social. Desse Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para
reprodução mais geral do consumismo e modo, entende-se que a pesquisa não se a organização da Atenção Básica, para a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Programa de
da instantaneidade da sociedade atual no esgota aqui. Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Brasília, 2011.
conjunto das relações. O panorama elucidado mostra
No que corresponde o eixo “Avaliação avanços significativos em relação ao SUS, e
3
. Gerhardt TE et al. Determinantes sociais e práticas avaliativas de integralidade em saúde:
geral do SUS” reforça-se a ideia de que as em especial, ao que corresponde a AB. Os pensando a situação de adoecimento crônico em um contexto rural. In: Pinheiro R, Martins
pessoas que usam o SUS o avaliam a partir de dados mostram que o perfil dos usuários que PH (Orgs). Avaliação em saúde na perspectiva do usuário: abordagem multicêntrica. Rio de
suas vivências e experiências com os serviços buscam o SUS está se modificando, à medida Janeiro: CEPESC / IMS-UERJ; Recife: Editora Universitária UFPE; São Paulo: ABRASCO; 2009;
do Sistema, ao passo que as pessoas que que mais da metade dos entrevistados com p.287-98.
não usam tendem a reproduzir uma opinião plano de saúde referiu buscar atendimento 4
. Esperidião MA, Trad LAB. Avaliação de satisfação de usuários: considerações teórico-
muito influenciada pela representação no SUS. Nesse sentido, pode-se apostar conceituais. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 2006; 22(6):1267-1276.
social dominante, continuamente reiterada na desconstrução do ideário do SUS como
pelos meios de comunicação comerciais e alternativa para pobres, tendo em vista a
5
. Bolzan LC et al. Ouvidoria ativa: a inovação das pesquisas de satisfação na ouvidoria-geral do
de massa. maior divulgação do escopo de ações e de SUS. In: Congresso Consad de Gestão Pública (5: Brasília: 2012) [Anais.] Brasília: 2012.
Tem-se notado que os elementos experiências positivas no Sistema. Talvez um
negativos sobre o SUS é que ganham . Brasil. Ministério da Saúde. Relatório Preliminar da Pesquisa de Satisfação com Cidadãos
6
caminho seja trabalhar mais o lema “todos
visibilidade na grande imprensa comercial. Usuários e não Usuários do SUS. Brasília, 2012.
usam o SUS”.
De fato, matérias que relatam os sofrimentos Partindo para avaliação na perspectiva 7
. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 648, de 28 de março de 2006. Aprova a Política
dos cidadãos no uso do SUS são mais dos usuários, elencam-se como pontos Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização
atrativas e tem mais audiência, elemento positivos a utilização da AB, a satisfação da Atenção Básica para o Programa Saúde da Família (PSF) e o Programa Agentes Comunitários
central para uma mídia comercial que além com os profissionais que ali atuam e a de Saúde (PACS). Brasília, 2006.
de vender anúncios muitas vezes funciona distribuição das unidades no território. De
como caixa de reverberação de interesses outro lado, há pontos a serem considerados
8
. Cohn A. A Reforma Sanitária Brasileira Após 20 anos do SUS: reflexões. Cadernos de Saúde
comerciais, econômicos e políticos como passíveis de melhoria, inclusive Pública, Rio de Janeiro, 2009; 25(7): 1614-1619.
saúde do que as mulheres? As explicações de homens com baixa escolaridade e homens com
ensino superior. Cadernos de Saúde Pública, 2007: 23(3): 565-74.
‘NEM DO BEM, NEM DO MAL’: INFÂNCIA, MORAL
11
. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Atenção E SOCIALIZAÇÃO
Integral à saúde do homem. Brasília, 2008.
12
. Geertz C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989.
‘NEITHER THE GOOD OR THE EVIL’: CHILDHOOD, MORAL AND
SOCIALIZATION
Administrativo 13 (38,2%)
A amostra foi constituída de 34 de servidores em saúde como mostra a (Tabela 1), sendo
que o previsto era de 46, o que que não foi possível devido ao absenteísmo de 08 pessoas e de Habitantes por casa
04 pessoas que se recusaram a participar da pesquisa declarando que não tinham estresse ou
não tinham interesse pela pesquisa. Média ±DP 3,2 ± 1,1
Masculino 03 (8%) As unidades de saúde participantes foram as: Cachoeirinha, Jóquei Clube, Vila Rosa
e Seleta (Flórida I). Na unidade de saúde do bairro Cachoerinha, foram entrevistados 08
Idade (anos) servidores em saúde, 02 servidores encontravam-se em afastamento do trabalho (férias e
licença médica) e uma servidora se recusou a participar da pesquisa. Unidade da SELETA
Média ± DP 41,4 ± 9,9 foram entrevistadas 07 pessoas, 01 encontrava-se de férias e 02 se recusaram a participar.
Na Unidade de Saúde do Jóquei Clube, foram entrevistadas 07 pessoas e 02 se recusaram à
Cor/raça (N/ %)
participação. Já na Vila Rosa, foram entrevistadas 12 pessoas, 02 encontravam-se de férias e
Branco 15 (44,1%) 02 duas recusaram à participação.
A análise dos dados sociodemográficos revelou que a amostra se constitui em sua
Pardo 17 (50 %) maioria do sexo feminino com 92% e apenas 8% do sexo masculino, com a média de idade de
41 anos. Quanto a cor, 44,1% se declararam brancos, 50 % pardos e 5,8% negros.
Negro 2 (5,8%) No que se refere ao estado civil, no momento da entrevista, 52,9% estão com parceiro
(casados, união estável, entre outros) e 47,1% sem parceiro (solteiros, divorciados ou viúvos).
Psicofármacos 06 (17,6%) O resultado obtido de que a maioria dos participantes era do sexo feminino, vai ao
encontro do identificado por Curado29, que, em sua pesquisa com trabalhadores em saúde,
Anti-hipertensivos/Hipoglicemiantes 03 (8,8%) observou que 86,5% dos participantes também eram do sexo feminino. Esse dado pode sugerir
Internação Hospitalar/Cirúrgica 20 (58,8%) que o trabalho em serviços de saúde é caracterizado pela grande presença do sexo feminino.
A reflexão sobre as diferentes exigências socioculturais entre homens e mulheres, construídas
socialmente desde a infância, é uma das possíveis considerações sobre essa maior quantidade
de mulheres nos serviços de saúde, trabalhos esses considerados como função de cuidado e
Câncer de Mama 05 (14,7%) ajuda.
Ainda que nossos dados indiquem que a maioria convive com parceiros afetivos e
Apendicite 03 (8,8%)
apresentam filhos em suas configurações familiares, reforçando também o papel das mulheres
Vesícula 03 (8,8%) em busca de igualdade de gênero no trabalho, nossos instrumentos não pesquisaram as
condições socioculturais que podem levar as mulheres a despender um esforço maior ou
Outras Causas 09 (26,4%) sua escolha pessoal para lidarem com as exigências da vida diária, como exercer além das
Afastamento do Trabalho 15 (44,1%) atividades no trabalho a responsabilidade pela casa, marido e filhos, ainda que no Brasil, o
modelo social seja conservador e considere as atividades da casa e do cuidado das crianças
Atividades para o bem-estar** 22 (64,7%) como obrigação das mulheres. Assim, essa é uma possível hipótese levantada que deve ser
* Depressão, hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, entre outras. verificada em pesquisas futuras, sobretudo para garantir políticas públicas que assegurem a
** Academia, caminhada, bicicleta e outros. igualdade de gênero e a diminuição da violência contra a mulher.
Fonte: Dados da pesquisa. Através deste estudo pôde se perceber que a área de saúde, por contemplar doenças
e a possiblidade de morte, pode ser considerada um setor propício para o desenvolvimento
do quadro de estresse, e isso se torna mais significativo para os cargos que necessitam estar
Psicologia ou uma possível parceria com as clínicas de Psicologia das faculdades de Dourados, Mestrado). São Paulo: Pontifícia Universidade Católica; 2006.
para fins de oferecer atendimento a esses servidores de forma gratuita e de qualidade. . Bauer ME. Estresse – Como ele abala as defesas do organismo? Ciência hoje. 2002;
11
O alívio e redução dos sintomas do estresse pode ser obtido por meio de exercício físico 30(179):20-25.
ou de qualquer tipo de atividade de bem-estar. Algumas vezes, a mudança de ambiente ou de
modo de vida produz boa resposta terapêutica. Somente com o conhecimento e conscientização . Capitao CG.; Scortegagna AS, Baptista MN. A importância da avaliação psicológica na saúde.
12
dos fatores de risco de adoecimento no trabalho é possível estabelecer medidas corretas para Aval. psicol., Porto Alegre, jun. 2005; 4(1). Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.
a redução do estresse e prevenção de doenças que nele têm sua origem. php?script=sci_arttext&pid=S1677-04712005000100009&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 10
Propõe-se que novas pesquisas ampliem o estudo do estresse ocupacional em mai 2015.
trabalhadores em saúde pública e até mesmo privada, para continuar explorando a influência . Mendonça MB, Solano AF. A pragmática do stress: conceitos e releituras no ambiente
13
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SAÚDE: ENSAIO SOBRE O TRABALHO COMO
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PRODUÇÃO INVENTIVA
27
Para concluir: pensar o trabalho assim como a prática sem teoria, vira que todos tenham oportunidades idênticas valorização da vida, principalmente em
como uma manhã chuvosa com ativismo. No entanto, quando se une a para argumentar, refutar ou interpretar. tempos de exclusão e violência.
prática com a teoria tem-se a práxis, a ação Supõe ainda que só serão admitidos aqueles Merhy21 descreve que a diferença do
vento criadora e modificadora da realidade.”17:23 participantes que se disponham a agir de outro na prática do cuidado enriquece o
Onde não há o estar só (nem no lugar do acordo com normas que lhes pareçam trabalho, mas que, infelizmente, na nossa
saber, nem no lugar do poder), mas o justificáveis. Compreender o trabalho sociedade a diferença é vista de forma ruim
compartilhar de experiências de “lugares”. também como ação comunicativa provoca e perigosa. Independente da forma com
Vale aqui o destaque para o atravessamento a participação de cada um, mas também o que determinados indivíduos são rotulados,
da teoria e da prática, mas vale também o reconhecimento do espaço coletivo como como diferentes, anormais ou anormais do
movimento que muda teoria e prática. Essa espaço compartilhado de poder para a desejo, muitas vezes este indivíduo tem
dupla perspectiva nos permite retomar gestão do trabalho. Há necessidade de práticas desejastes que a sociedade rejeita
a ideia da integralidade para pensar nos produção de alteridade para que isso seja e criminaliza. Esta segregação faz com que
desafios do encontro educação e trabalho possível. a prática do cuidado se torne punitiva,
na saúde. Outro grande desafio para o trabalho que coiba todos aqueles que apostam em
Segundo Cortella a “integralidade mobilizado pela integralidade é a inclusão outras práticas do viver, sendo necessário
é um fundamento ético que deve ser de todos e todas que precisam de cuidado. o encontro onde se possa constituir um
internalizado e praticado - concepção e O desafio da prática do cuidado está em novo sentido para a vida deste e também
prática”18:26. É preciso que a prática e a cuidar da vida de todos e todas, pois todas para o trabalhado em saúde. Muitos
teoria andem juntas.17 Inclusive por se as vidas valem a pena.20 As sociedades profissionais praticam o cuidado através
tratar, em ambos os casos, de práticas: parecem ter naturalizado uma hierarquia de ações punitivas, exercendo ações como
práticas de trabalho e práticas de saber. de valor para as vidas, separadas por a internação compulsória, a violência
Entretanto, no cotidiano do trabalho, gênero, por raça, por etnia, por profissão, obstétrica, entre outras situações, não
muitas vezes é difícil perceber que há muito pela renda, pelo padrão de consumo, por existindo a prática do dialogo no processo
a ser feito. Sobrecarga de trabalho, pressão estilos de vida, por diagnósticos ... A análise do cuidado para outros sentidos da vida.21
por respostas rápidas, diferentes graus de do trabalho requer uma perspectiva ética Atravessar o trabalho com práticas
envolvimento dos trabalhadores com o sobre quais ofertas estão sendo feitas para de educação permanente significa assumir
trabalho ...: há muitas razões para deixar o cada pessoa e coletivo, já que o trabalho é o compromisso de reinventar o trabalho
Fonte: Quino. Quinoterapia. São Paulo: Martins trabalho ser guiado por forças externas, mas vivo e construído em ato, portanto sujeito para que possa produzir integralidade.
fontes, 2004. essas mesmas razões podem, justamente, a atravessamentos que podem torna-lo não Pensamos aqui a integralidade como obra
descrever a importância da reflexão e apenas aprisionado pela impessoalidade de arte, singular e resultado do trabalho.
da análise (também da auto-análise) da técnica, mas também por valores que O trabalhador, nesse caso, precisa tornar-
Considerar o trabalho como produtor sobre o cotidiano do trabalho. É preciso não respondem à construção ética em que se artista. Um artista que se constitua em
de conhecimentos, traz à cena a educação pôr o trabalho em movimento: deixa-lo está inserido. O trabalho em saúde precisa movimento.
permanente em saúde, que no caso do atravessar-se pelo híbrido produzido no ter um efeito pedagógico de inclusão e de
sistema de saúde brasileiro, é uma política. encontro teoria e prática e mobilizá-lo pelo
A EPS propõe um olhar hibrido sobre o desafio da integralidade. As iniciativas de
cotidiano do trabalho, movimentado por educação permanente no nosso cotidiano Referências
se permitir questionar, se constituir como têm desafios importantes, considerando
integrante do território, e assim fomentar essas conexões.
a alteridade de cada um daqueles que Para isso é necessário pôr em
1
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voltadas para o cotidiano. Nos aproximamos tornando-o também ação comunicativa. A 41-65.
aqui do conceito de práxis para seguir na ação comunicativa19 pressupõe que todos os
reflexão sobre a relação formação e trabalho: interessados possam participar do discurso,
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As informações devem ser passadas comportamento e respeitando a capacidade Programáticas Estratégicas. Direitos sexuais, direitos reprodutivos e métodos anticoncepcionais.
de maneira clara, objetiva e verdadeira. individual em receber e processar as Brasília (DF); 2006.
Portanto, é importante ressaltar que apenas informações para utilizá-las corretamente.
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CONHECIMENTOS E PRÁTICAS DE
TRABALHADORES DA CONSTRUÇÃO CIVIL SOBRE
PRÁTICAS DE PROMOÇÃO DA SAÚDE E ATENÇÃO
À SAÚDE
Variáveis n %
Variáveis n %
Faixa etária Uso de cigarro
20 a 29 14 19,4% Sim 21 29,2%
30 a 39 22 30,6% Não 51 70,8%
40 a 49 19 26,4% 1 a 20 cigarros 15 20,8%
50 a 59 17 23,6% 30 a 40 cigarros 6 4%
Estado civil Bebida alcoólica na última semana
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