Você está na página 1de 10

Blog do Alexandre Milhoranza

Escatologia de Mateus – Análise teológica

Análise teológica
O capítulo 24 de Mateus é paralelo ao relato de Marcos
capítulo 13. Este capítulo relata a parousia do Filho do
Homem, que será precedida por sinais vindos do céu.
Apesar de todas as indicações dadas por Jesus,
a parousia será imprevisível e inesperada, por isso tantas
advertências em forma de parábolas para que os discípulos
estivessem atentos a este acontecimento, caso contrário
estarão sujeitos ao julgamento que a parousia traz.
(MARSHALL, 2007, p. 101).
Conforme dito acima os acontecimentos narrados neste
capítulo são a resposta dos questionamentos feitos pelos
discípulos a Jesus quando eles mostraram todo o esplendor
do templo. Num primeiro momento, nos parece que os
discípulos entenderam que a queda do templo e de
Jerusalém estava intimamente associada com o fim do
mundo, e, conforme o pensamento do judaísmo da época,
estudado no item 3 deste material, este seria um
julgamento sobre o velho Israel, onde deixariam de ser o
povo exclusivo de Deus.
Jesus porém, conhecendo tais crenças, adverte os
discípulos que, quando os eventos catastróficos começarem
a acontecer não significa necessariamente o fim, mas
apenas o princípio das dores de parto de uma nova era,
que começaria a partir do fim desta era presente, marcado
pela evangelização mundial, conforme explicita o v. 14. O
período de perseguição faria com que o evangelho se
propagasse de forma extraordinária, ao mesmo tempo que
geraria uma forte oposição.
Comparando a perícope compreendida entre os versos 28 a
37 com o padrão geral da apocalíptica judaica tardia, pode
haver pouca dúvida quanto ao significado que Mateus quis
transmitir aos seus leitores, ou seja, as catástrofes que
atingiriam Jerusalém estavam próximas, e o messiânico
Filho do Homem a quem os discípulos haviam aprendido a
identificar era o seu Mestre, que veio inaugurar o Reino
escatológico de Deus (DEWICK, 1912, p. 174).
O capítulo 24 trata também sobre o aparecimento do
abominável da desolação e a queda de Jerusalém, de onde
seus habitantes deveriam fugir tão rápido quanto possível.
Jesus menciona que os aspectos mais rigorosos da lei
seriam um empecilho para a fuga. O exército romano
causará um sofrimento tão grande como nunca houvera
antes, mas este sofrimento, ainda assim, seria limitado
pela misericórdia de Deus para com seus escolhidos.
A expressão “Abominável da desolação” era usada no
Antigo Testamento para designar algo relacionado à
idolatria, e podemos encontrá-la em Daniel 11:31 para
referir-se à profanação do templo por Antíoco Epifânio em
167 a.C. Em Daniel 12:11 provavelmente o texto refere-se
ao anticristo escatológico, da mesma forma que o uso no
discurso do Monte das Oliveiras. Da mesma maneira que
Antíoco Epifânio, o exército romano invadiria os recintos
sagrados dos judeus, com seus símbolos pagãos. (LADD,
2003, p. 262).
A crença de que o Messias viria para resgatar seu povo da
tribulação daria margem para alguns acreditarem que,
naqueles dias, o Messias tivesse voltado. Porém Jesus diz
que os escolhidos não seriam enganados pelos falsos
messias que surgiriam naqueles dias. Entretanto os
discípulos deveriam enfrentar este período de tribulação
sozinhos.
Em contrapartida na parousia de Jesus não haveria nenhum
tipo de sinal prévio, pois seria tão rápida e instantânea
como um relâmpago. A expressão usada no v. 29
“Imediatamente após a tribulação daqueles dias“, nos dá a
conotação de que os eventos mencionados em relação
à parousia aconteceriam no mesmo período histórico
daqueles dias. Mas sabemos que nenhum destes sinais
aconteceram após a queda de Jerusalém no ano 70 d.C.
Devemos ponderar também que, se a parousia tivesse
acontecido aqueles dias haveria uma clara contradição do
v. 27, onde se descreve a absoluta falta de sinais
antecedendo a volta de Jesus. A explicação, do ponto de
vista ortodoxo mais plausível, é que Jesus se utilizara de
uma linguagem figurada para descrever os horrores do
estava para acontecer, tal qual os profetas do Antigo
Testamento.
Uma coisa é certa, Jesus falou tanto do evento histórico da
queda de Jerusalém, quanto do evento escatológico de sua
parousia. Esta é uma maneira de considerar o futuro
escatológico expresso nas crises clíclicas da história (LADD,
2003, p. 263). Alguns acreditam que o discurso
escatológico não se refere à parousia, assim como os sinais
cataclísmicos não se aplicam aos eventos futuros.
Entretanto todos estes sinais tem se cumprido em muitos
estágios da história da igreja, porém se intensificarão no
fim dos tempos. (GUTHRIE, 1981, p. 793)
Infere-se que os sinais descritos neste capítulo se referem
à queda de Jerusalém e não à parousia, conforme os vs. 27
e 36. Por outro lado, enquanto as pessoas estiverem
ocupadas em suas tarefas rotineiras, é que a parousia
acontecerá, de acordo com a descrição dos vs. 38-41
(TASKER, 2008, pg. 177-180).
DENUNCIAR ESTE ANÚNCIO
Escatologia de Mateus – Os títulos de Jesus em relação à
sua obra futura
Os títulos de Jesus em relação à sua obra futura
Antes de prosseguirmos em nosso estudo sobre a
escatologia de Mateus, é necessário depreendermos dois
títulos atribuídos a Jesus com relação a sua obra futura, ou
escatológica: Messias e Filho do Homem.
O termo Messias, do hebraico mešîaḥ, significa “ungido”,
que no contexto monárquico de Israel, significava o
escolhido de YAHWEH para reinar sobre o povo e, que este
escolhido, tinha um relacionamento mais íntimo com ele.
Então, no contexto intertestamentário, o Messias passou a
indicar a figura escatológica daquele que tinha uma
associação íntima com YAHWEH (FOHRER, 2008, p. 453).
A figura do Messias ocupava um lugar de destaque no
judaísmo tardio, por causa da esperança escatológica
surgida após o período intertestamentário. Nesse período,
sob o domínio grego, a esperança messiânica vinda da
família de Davi, alcançou seu desenvolvimento máximo
(CULLMANN, 2008, p. 153). Um dos aspectos dessa
esperança messiância escatológica era o caráter não
definitivo do reino do Messias, algo que somente o
próprio YAHWEH consolidaria. Outra teoria escatológica era
a de um rei humano, indicado pelo próprio YAHWEH,
reinaria como representante e soberano dele. A este rei
passou-se a chamá-lo Messias (FOHRER, 2008, p. 450).
Na literatura apocalíptica do período intertestamentário e
nos documentos de Cunrã, temos a figura do Messias-rei-
político com associação de outras idéias sobre este
Redentor esperado, conforme encontrado nos Testamentos
dos Doze Patriarcas. Os pontos essenciais da concepção
messiânica são: 1) o Messias cumpre sua função apenas no
plano terreno; 2) de acordo com os Salmos de Salomão  o
Messias inaugura o fim dos tempos; 3) a obra do Messias é
política; 4) o Messias vem da linhagem de Davi
(CULLMANN, 2008, p. 156).
Porém Jesus, como Mateus coloca no início do seu
evangelho (Mt. 4), rejeita todas as ofertas feitas pelo diabo,
que são exatamente os itens que se esperava do Messias,
de acordo com o judaísmo oficial. Em outro episódio Jesus
repreende a Satanás, que usava Pedro, tentando dissuadí-
lo de sua missão. (CULLMANN, 2008, p. 163). Portanto, a
conclusão que chegamos é Jesus via por trás da idéia
judaica tardia do Messias um artifício de Satanás
(CULLMANN, 2008, p. 165).
O outro título cristológico mencionado neste trecho
apocalíptico de Mateus é o de “Filho do Homem“. Este título
foi aplicado na literatura judaica tardia para designar um
salvador escatológico. Encontramos este termo pela
primeira vez em Daniel 7:13, onde este termo aparece em
opocição aos animais representando quatro grandes reinos
(CULLMANN, 2008, p. 184). Este “Filho do Homem” vindo
nas nuvens é a representação que todo ser humano deveria
ser, isto é, feito à imagem de Deus, pois a maioria das
representações de nuvens no Antigo Testamento
representavam o próprio Deus (BALDWIN, 2008, p. 151).
A idéia de “Filho do Homem”, é encontrada também, além
do livro de Daniel, nos livros extra-bíblicos de Enoque e 4º
Esdras, onde é representado sob a forma de um ser
celestial que aparece no fim dos tempos, nas nuvens, para
julgar o mundo.
Jesus ao utilizar para si mesmo a expressão “Filho do
Homem” expressão sua convicção de haver realizado a obra
do homem celestial de duas maneiras:
           1) na concepção escatológica, conforme a
esperança de alguns círculos judaicos da época;
2) em sua humilhação sob a forma humana (CULLMANN,
2008, p. 215).
Escatologia de Mateus – Contexto histórico-literário

Contexto histórico-literário
Antes de estudarmos o trecho de Mateus capítulo 24 é
importante investigarmos o pano de fundo histórico e
consultarmos, mesmo que brevemente, a literatura
classificada como apocalíptica, que foi produzida no período
intertestamentário.
A literatura apocalíptica é considerada filha da profecia,
pois contém muitos traços em comum. Porém ambos os
tipos de literatura pertenciam a uma minoria em sua
própria época, mas gozaram de grande popularidade nas
gerações seguintes, muitas vezes para influenciar a
população a respeito do fim do mundo, do que
propriamente para informar sobre (DEWICK, 1912, p. 51).
Os profetas, especialmente os literários, provocaram a ira
dos religiosos de sua época, assim como a literatura
apocalíptica foi considerada com grande desgosto pelos
rabis. Tanto a literatura profética, como a apocalíptica
sempre surgiram em períodos de tribulação e crise na
história judaica, e cresceu muito diante das perseguições
dos impérios conquistadores; ademais o escritor
apocalíptico se assemelhava muito com os profetas em sua
fé na Providência Divina. Porém, as diferenças entre estes
dois estilos também devem ser mencionadas. Em primeiro
lugar, a religião do Profeta era do Espírito, e seus escritos
traziam grandes princípios morais. Já a apocalíptica era
uma religião autoritária, com seus escritos contendo visões
de terceiros, ou seja, uma mensagem reproduzida. Mas,
acima de todas as diferenças, está a forma literária que os
escritores apocalípticos usavam, pois, para dar crédito à
sua produção, geralmente anônima, se utilizavam dos
nomes dos grandes patriarcas hebreus (DEWICK, 1912, p.
54).
Diante deste pequeno quadro histórico, passemos a estudar
o capítulo 24 de Mateus, que faz parte do último discurso
de Jesus. É interessante notar que Mateus usa uma
estrutura de texto bastante conhecida na literatura
hebriaca, o quiasmo. Isso fica claro quando vemos que o
primeiro discurso de Jesus (Mt. 5-7) foi em um monte, e
seu último discurso também foi em um monte (Mt. 23-25).
O contraste entre os dois grandes discursos fica por conta
das bem-aventuranças do primeiro com as advertências
proféticas desse último (GUNDRY, 2008, p. 252).
Jesus estava em sua viagem final para Jerusalém e usou a
própria paisagem ao longo do caminho para ensinar aos
discípulos acerca de sua rejeição pelos líderes judeus e as
condições envolvidas no discipulado após sua morte.
Como sua morte era iminente, Jesus fala profeticamente
para preparar seus discípulos sobre o que esperar do
futuro, inclusive sobre a reabilitação de Israel (PINTO,
2008, p. 55).
Este trecho do discurso foi dito logo após Jesus sair do
templo pela última vez, e aborda a destruição de
Jerusalém, o seu retorno à terra e o fim do mundo
(HALLEY, 2001, p. 483). Todo esse discurso foi a resposta
para as questões feitas pelos discípulos em relação à
destruição de Jerusalém e o tempo do acontecimento
dessas coisas relatadas acima(PINTO, 2008, p. 57).
A primeira parte do texto (Mt. 24:4-28) diz que a
destruição de Jerusalém não será o fim, ainda.  Será um
tempo de extrema perseguição sobre os discípulos, com o
advento de muitos falsos messias. Porém, Jesus adverte
que estes sinais, além dos terremotos, guerras e fome, não
são os sinais da sua vinda (GUNDRY, 2008, p. 254).
Contudo não será possível ignorar a sua segunda vinda,
pois os sinais externos serão fantásticos em comparação
com os falsos messias. Mateus, neste último discurso,
registra a preocupação de Jesus com seus discípulos
permanecerem alertas durante sua segunda vinda, e isso
fica evidente com as cinco parábolas, que indicam uma
aparente demora na vinda do Reino (PINTO, 2008, p. 57).
Além disso, em meio à perseguição e o abandono da fé por
muitos que se diziam discípulos, haverá a pregação
massiva do evangelho em todas as nações.
Jesus ainda faz menção do profeta Daniel (Dn. 9:24-27) e a
pressão para Israel aceitar um falso messias até que Jesus
venha definitivamente como Rei (Mt. 24:15-28).
Escatologia de Mateus – Introdução

Introdução
Esta monografia tem como finalidade estudar a escatologia
contida no evangelho de Mateus, especificamente abordada
no capítulo 24.
É um assunto que traz grandes desafios, pois une tanto
aspectos simbólicos como literais em sua linguagem, além
de unir em um mesmo texto eventos históricos
relativamente próximos, como a destruição de Jerusalém,
como os eventos que ainda não se cumpriram, como a
volta de Jesus.
Na composição deste estudo estamos considerando Mateus
como o autor do evangelho que leva seu nome, por isso, as
questões sobre a legitimidade da autoria mateana não
serão abordadas neste material.
Entretanto, com a finalidade de nos auxiliar no
entendimento e interpretação deste capítulo, se faz
necessário o estudo do propósito do autor quando relatou
estes acontecimentos preditos por Jesus. Além disso, o
estudo do contexto histórico-literário é de fundamental
importância neste estudo, pois certamente o autor foi
influenciado pelas concepções judaicas sobre o Messias
durante o período chamado interbíblico, além da influência
da cultura judaica em seus escritos.
O evangelho de Mateus, segundo uma perspectiva mais
conservadora, foi escrito em data ligeiramente posterior ao
evangelho de Marcos, escrito provavelmente entre os anos
45-60 (PINTO, 2008, p. 34).
Mateus é o único evangelista que cita o termo igreja, e o
faz por duas vezes, e isso é importante pois, neste período
o rompimento entre a Igreja e o judaísmo estava muito
pronunciado, e era importante mostrar para os judeus, que
haviam abraçado a causa cristã, que eles não
abandonaram YAHWEH só porque a nação de Israel
rejeitara a Jesus. Então Mateus, para encorajar estes
judeus, mostra a messianidade de Jesus, e como ele
cumprira, até aquele momento, todas as profecias feitas
sobre ele no Antigo Testamento (PINTO, 2008, p. 35). Do
mesmo modo, o evangelho foi escrito para fortalecer os
judeus que passavam por perseguição e a oportunidade
que isso gerava para o evangelismo das nações (GUNDRY,
2008, p. 217).
Logo, uma vez provada a messianidade de Jesus, Mateus,
no fim do seu evangelho, trata sobre o retorno do Messias,
e os sinais que antecederão a sua volta, além das
dificuldades e perseguições que esse povo sofrerá conforme
veremos adiante.
Portanto, o evangelho de Mateus tem um caráter tanto
didático, relacionado com a recém-nascida Igreja, quanto
um caráter apologético, mostrando a messianidade de
Jesus, enfatizada também em seu último discurso, o qual é
o objeto do nosso estudo nessa monografia (PINTO, 2008,
p. 37).
Compartilhe:

Você também pode gostar