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Em contrapartida à desumanização do africano desencadeada pelo

contexto de colonização e escravidão negra, nasce o que futuramente viria a ser


chamado de Movimento Negro. Essa comunidade se originou da junção de negros de
várias partes do continente africano trazidos como objetos comerciais para as colônias
europeias, todos com um interesse em comum, a busca por liberdade, por serem
considerados humanos completamente capazes de continuar vivendo segundo seus
próprios valores e crenças regionais, sem precisar da “civilização” implantada por
outro povo, opondo-se à visão de seres atrasados, bárbaros e animalescos. Deixando
de ser assim, apenas e somente a mão de obra que impulsiona a consolidação da
Europa como o continente modelo de avanço “civilizacional”, tecnológico, científico,
econômico e político. E criando em oposição a isso uma identidade enquanto povo
negro, filhos da África e descendentes dos mesmos ancestrais.

Essas comunidades se organizavam de várias maneiras a fim de resistir á


escravidão. Uma forma de representação dessas comunidades pode ser percebida na
figura dos quilombos, muito presentes no Brasil colônia. com ênfase na figura do
Quilombo dos Palmares, entendido como maior quilombo da história do Brasil,
chegando a reunir cerca de 20 mil habitantes na Serra da Barriga. Os quilombos
foram agentes indispensáveis para reinvindicação dos direitos dos africanos no Brasil.
Eles aturam de várias maneiras na busca de direitos. E mesmo no meio dessa luta, se
desenvolveram enquanto sociedade à parte da estrutura colonial, criando sua própria
economia e se expandindo ao longo das terras enquanto promoviam uma série de
movimentos e eventos que salientavam sua busca por liberdade.

Após uma mudança no tempo histórico inicia-se assim uma modificação


nos interesses dominantes, acentuando a necessidade de industrialização por parte
das nações. Reconfigurando assim, a mão de obra, já que, agora eles precisavam de
uma força de trabalho assalariada para que esses trabalhadores pudessem além de
produzir, consumir os produtos frutos de sua força de trabalho nas fabricas. Gerando
assim, um ciclo de produção e consumo totalmente característico do capitalismo.
Essa nova ressignificação do trabalho somada a todas as ações de resistência do
Movimento Negro foram direcionando o futuro para a abolição da escravatura. Até que
em 13 de maio de 1888 a Lei Áurea (Lei nº 3.353), foi sanciona. Libertando assim,
cerca de 700 mil escravos e abolindo a escravidão do país.

Entretanto, mesmo com a grande conquista da abolição da escravatura, o


trabalho do Movimento negro não estava nem perto de acabar, pois, o fim da
escravidão os libertou de um processo físico, mas não os libertou da imagem de
subalterno e bárbaro impregnado pela memória social predeterminada pela classe
dominante. Imagem essa que deixou o negro à margem da sociedade, sem direito a
espaço em todas as áreas sociais, sem voz e sem visibilidade, sendo vitima constante
de todas as violências possíveis. Em consequência disso, a configuração da luta
muda, passando a buscar espaço social, lugar de fala, representatividade e acima de
tudo igualdade entre as cores.

Ao longo dos anos o Movimento Negro obteve muitas conquistas, desde a


própria a abolição da escravidão, até a criminalização do racismo. E pode contar com
muitos personagens que mudaram a História carregando os interesses dessa
comunidade. Entre todos esses grandes nomes, está Nelson Mandela, primeiro
presidente negro do período republicano da África do Sul, líder do movimento contra o
Apartheid e ganhador do “Prêmio Nobel da Paz” no ano 1993. Mandela, assim como
muitos outros homens e mulheres que lutaram pela causa negra, foi capaz de abrir
mão de sua vida pessoal para prosseguir lutando por uma possibilidade de um futuro
melhor, mesmo sem ter a certeza que ele se concretizaria. Abdicando totalmente de
seu presente em prol de uma grande causa social, arriscando seu status,
relacionamentos, profissão e vida. Essa atitude honrosa também pode ser vista nas
figuras de zumbi, Milton Santos, Martin Luther King, Rosa Parks, Malcon X e
recentemente Marielle Franco.

No presente a luta dos novos ativistas do Movimento negro não é mais


contra o colonialismo, e sim contra a colonialidade, que atua como herança do mesmo
e ultrapassa o período de ação das nações europeias. Essa luta é contra a ideologia
presente implicitamente em todos os lugares da sociedade ocidental atual que define o
negro como alguém inferior, incapaz, próximo da barbárie e distante da civilização
conceituada no modelo ocidental, o deixando sem ao menos oportunidades de tentar
mostrar que é totalmente capaz. Devido a isso, os que fazem parte da identidade
negra precisam lutar a favor de um ideal descolonizador. No que diz respeito a essa
descolonização, é preciso reivindicar o lugar do preto em todas as instancias, a
começar pela educação, já que, a mesma age diretamente na formação do cidadão e
consequentemente na sociedade.

No que se refere á descolonização na escola e inclusão dos ideais das


buscas do Movimento Negro e demais interesses sociais, é indispensável citar a Lei nº
10.639/03, que em potencial visa à inclusão das temáticas "História e Cultura Afro-
Brasileira", no currículo oficial da rede de ensino de maneira obrigatória. A lei traz em
sua proposta o ideal de buscar entender a África e sua influência no Brasil em sua
própria realidade. Deixando assim, sua História ser conhecida em função dela mesma.
Introduzindo conteúdos relacionados á sua história, cultura, tradição, religião e
costumes desvestidos do paradigma de verdadeiro e científico ocidental. Sem
comparação com os modelos de certo, errado, positivo, negativo, vencedor e perdedor
pregados pela visão da Europa.

Tendo visto isso, fica evidente que a lei em potencial pretende muito mais
que a inclusão da História Africana na grade curricular das instituições de ensino, mas
uma reforma geral na sociedade, começando a transformação nas escolas, a fim de
modificar seres sociais através da educação e garantir que os mesmo modifiquem
seus meios e consequentemente atuem como reflexo dessa aprendizagem na
formação de uma nova sociedade. Fazendo assim valer na prática o significado do
termo apresentado como “saber descolonizador”.

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