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1. O que é gleba?
Gleba é a área de terreno que ainda não foi objeto de loteamento ou desmembramento regular, isto
é, aprovado e registrado. Após o registro do parcelamento, o imóvel deixa de existir juridicamente como
gleba e passa a existir como coisa loteada ou desmembrada, composta de lotes e áreas públicas.
2. O que é um lote?
Entenda-se por lote o terreno servido de infraestrutura básica, cujas dimensões atendam aos índices
urbanísticos definidos pelo plano diretor ou lei municipal para a zona em que se situe. O tamanho legal
mínimo do lote deverá conter área de, pelo menos, cento e vinte e cinco metros quadrados (125,00m²) e
frente de cinco metros, salvo maior restrição da legislação estadual ou municipal, ou o loteamento se destinar
à urbanização específica ou edificação de conjuntos habitacionais de interesse social, previamente
aprovados.
3. Quais as modalidades de parcelamento do solo?
O parcelamento de solo urbano, segundo a Lei n. 6.766/79, poderá ocorrer mediante duas
modalidades: loteamento ou desmembramento.
O parcelamento de solo, para fins urbanos, em zonas urbanas, de expansão urbana ou de urbanização
específica, deverá encontrar previsão no plano diretor ou em lei municipal. Se previsto em lei municipal, esta
não poderá estar em desacordo com o plano diretor, posto que este é instrumento básico da política de
desenvolvimento e expansão urbanos.
4. O que é loteamento?
O loteamento ocorre pela subdivisão de gleba em lotes destinados à edificação, exigindo
prolongamento, modificação ou ampliação das vias existentes ou a abertura de novas vias e de novos
logradouros públicos.
5. O que é desmembramento?
Segundo redação do § 2º do art. 2º da Lei n. 6.766/79, é “a subdivisão de gleba em lotes destinados
à edificação, com aproveitamento do sistema viário existente, desde que não implique a abertura de novas
vias e logradouros públicos nem prolongamento, modificação ou ampliação dos já existentes.”
Percebe-se, pois, que a caracterização do parcelamento do solo, na modalidade desmembramento,
pressupõe – ou deveria pressupor - um estado de coisas mais avançado que o loteamento, dispensando-se o
parcelador exclusivamente da execução de obras, infraestruturas e equipamentos já pré-existentes à
aprovação do empreendimento.
Infere-se, a partir destes conceitos, que o desmembramento é uma forma de parcelamento do solo,
em tese, mais simplificada e conveniente ao empreendedor do que o loteamento, já que o ônus referente à
abertura de novas vias ou ampliação de vias existentes e instalação da respectiva infraestrutura é de
responsabilidade do requerente, dando margem a burlas e, no mais das vezes, gerando déficits de áreas de
uso comum (destinadas à implantação de áreas verdes e de uso comunitário, ex.: parques, praças, creches,
postos de saúde, escolas, ..).
Observa-se que o parcelamento do solo no território urbano brasileiro tem ocorrido de forma
fragmentada. Normalmente uma grande gleba é desmembrada, resultando em grandes áreas remanescentes.
Posteriormente, estas áreas são desmembradas, novamente, de acordo com o interesse privado. Neste
processo, o planejamento urbano local é desconsiderado, resultando em prejuízos para o desenvolvimento
adequado das cidades.
Ressalta-se que o órgão municipal, quando da análise de projetos de desmembramento, deveria
verificar a caracterização do entorno, das vias existentes, bem como a harmonização do projeto de
desmembramento com o sistema viário atual e futuro.
Um exemplo comum do problema ocorre nos desmembramentos incidentes em glebas
remanescentes de glebas maiores onde já tenham ocorrido loteamentos previamente aprovados, em relação
às quais ocorrem prolongamentos fraudulentos de ruas ilicitamente doadas ao município, de regras
destinadas a lugar algum, e sem que haja um prévio resguardo de áreas proporcionais de uso comum.
O objetivo destas doações é o de fraudar a ordem urbanística mediante o aproveitamento econômico,
com a conivência do Poder Público, (por conluio ou ignorância) da área total desmembrada, enquanto que
para os loteamentos exige-se destinação de áreas (pelo menos 35%) para implantação de equipamento
urbano e comunitário, sistemas de circulação e espaços livres de uso público.
Compete ao Promotor de Justiça fiscalizar a prévia existência ou exigir, nos projetos de
desmembramentos, a constituição das áreas de uso comum eventualmente não disponibilizadas à sociedade,
proporcionais às áreas a serem desmembradas. Em tais casos, entretanto, recomenda-se uma análise com
razoabilidade nos casos concretos, quanto à possibilidade e necessidade de tais exigências, considerando as
múltiplas variáveis urbanas que envolvem tais áreas remanescentes, e as situações fáticas que poderão
dificultar ou impossibilitar o seu cumprimento, como é o caso de glebas de pequena extensão e exíguo
número de lotes a serem constituídos, dos desmembramentos sem intenção de venda (ex.: decorrentes de
partilhas, adjudicações), dentre outros, situações que poderão exigir, do Poder Público Municipal,
compensações de áreas pelo resultado prático equivalente.
8. Qual o percentual da gleba que deve ser destinado para as áreas de uso
comum pelo empreendedor?
O art. 8º, I da Lei 6.063/82, que trata do parcelamento do solo urbano em Santa Catarina, previu a
exigência do percentual mínimo de 35% da gleba a ser destinada às áreas de uso comum:
Art.8º - Os projetos de loteamento de que trata a presente Lei deverão atender aos seguintes
requisitos:
I - as áreas destinadas a sistema de circulação, a implantação de equipamento urbano e
comunitário e espaços livres de uso público, não poderão ser inferiores a 35% (trinta e
cinco por cento) da gleba;
A interpretação literal da lei estadual n.6.063/82 leva-nos, num primeiro momento, à compreensão
do cálculo da porcentagem sobre a gleba, ou seja, sobre a totalidade da área. Conforme o conceito de José
Afonso da Silva: “Gleba é a área de terra que não foi ainda objeto de arruamento ou de
loteamento” (2006. p.329).
Nesse sentido, decisão do Tribunal de Justiça de Santa Catarina esclarece o dever de ser “[...]
resguardado o percentual de 35% da área ao Poder Público, no caso de loteamento, porém, levando-se em
conta a área como um todo, e não como lotes autônomos.”19
A gleba é a área total do terreno, logo, compreende as áreas de preservação permanente e áreas
remanescentes, que poderão ser objeto de parcelamento do solo no futuro.
Entretanto, a compreensão que vem sendo dada a esta exigência pelo Órgão Licenciador Estadual
(FATMA) é a de que os 35% deverão recair sobre a área útil passível de parcelamento do solo, excluindo-se
deste montante a área de preservação permanente eventualmente existente na gleba. Ex. Imóvel com 110
hectares, sendo 10 hectares de área de preservação permanente, a área de uso comum deverá ser de, no
mínimo, 35 hectares ou 35% da área útil do imóvel para fins de parcelamento.
Esta interpretação parece-nos a mais justa, não apenas para assegurar a correlação percentual de área
comum em relação à área útil do empreendimento, afastando o excesso de limitação do direito de
propriedade, como também, sentido de proteger a área de preservação permanente do seu uso indevido, por
exemplo como área verde ou institucional.
9. Nas áreas de uso comum, quais os percentuais que deverão ser resguardados
para as áreas institucional, de arruamento e área verde?
O Município estabelecerá os usos permitidos e os índices urbanísticos de parcelamento e ocupação,
o qual, em tese, poderá deixar de atender a contento as exigências urbanísticas, especialmente com a
possibilidade de redução dos equipamentos urbanos e espaços de lazer, razão pela qual, neste aspecto, é
sugerida uma atenção especial.
Conforme ensinamento doutrinário, e não apenas legislativo, o conjunto das áreas de uso comum
devem alcançar o mínimo de 35% da gleba a ser arruada, distribuídas da seguinte maneira: “As regras, mais
ou menos, são do seguinte teor: da área total do plano de arruamento e loteamento serão destinados, no
mínimo: I – 20% para vias de circulação; II – 15% para áreas verdes; III – 5% para áreas institucionais.”
Com relação às demais exigências, o legislador deixou consignados limites mínimos de área do lote
(125m²), de distanciamento de águas correntes e dormentes (15m de cada lado) e de articulação das vias
adjacentes oficiais.
13. Quais são as hipóteses em que o Poder Público não pode autorizar a
realização de loteamentos (Parágrafo único do art. 3º da Lei n. 6.766/79)?
✗ em terrenos alagadiços e sujeitos à inundação sem as devidas providências para assegurar o
escoamento das águas;
✗ em terrenos que tenham sido aterrados com material nocivo à saúde pública, sem que sejam
saneados;
✗ em terreno com declividade igual ou superior a 30%, salvo se atendidas às exigências específicas
das autoridades competentes;
✗ em terrenos cujas condições geológicas não aconselhem a edificação;
✗ em áreas de preservação ecológicas (envolve aqui a proteção de mananciais, de patrimônio cultural,
histórico, paisagístico e arqueológico, definidas por legislação estadual ou federal, ainda, as florestas
de preservação permanente, os parques nacionais, estaduais e municipais, as reservas biológicas,
reservas de caça, as estações ecológicas e as áreas de proteção ambiental) ou com condições de
poluição que impeçam as condições sanitárias suportáveis à habitação (verificar os padrões de
emissão fixados pelas autoridades federais, estaduais e municipais em todas as formas de poluição,
além das as normas da ABNT).