Como e quanto gratificar a um pregador convidado? Esta parece ser uma
questão de pouca relevância, por isso ninguém escreva sobre isso. Mas não é. É um assunto sério. Este assunto é mais importante do que se imagina. Ao escrever sobre ele corro alguns riscos, principalmente o de ser mal interpretado. Mas vou arriscar, crendo que estou sendo bíblico (I Tim. 5.17-18) e dando uma contribuição para ajudar igrejas e pastores a lidar com esse assunto. Tenho acompanhado e registrado há alguns anos o relato de muitos colegas pastores ou preletores no que se refere à gratificação para pregadores ou preletores. Há relatos de surpreendentes ações de generosidade e do contrário disso. Há líderes de igrejas que incentivam a generosidade. Há outros que, por falta de experiência ou de consciência, não ajudam suas igrejas a tratarem adequadamente os pregadores convidados. Gratificação ao pregador não é pagamento. Pregar em outro lugar, fora de sua igreja, não é fazer “bico” ou ir para ganhar um “extra”. A igreja que cede seu pregador é honrada e a igreja que recebe é abençoada. Gratificar o pregador é um ato de respeito e gratidão a quem foi convidado, se esforçou por vir, gastou tempo preparando a mensagem e teve despesas com sua locomoção. Li alhures que uma pregação de 30 minutos equivale ao gasto de energia física e emocional de 8 horas de trabalho diário. Só quem prega pela manhã e à noite, no domingo, sabe como se fica exausto, precisando da segunda-feira para se recuperar. Devemos reconhecer, também, que há pregadores, preletores ou conferencistas que têm a pregação itinerante como seu ministério. Alguns deles chegam a depender muito dessas ofertas. Não há problema nisso. Nesse caso, o líder que convida deve acertar previamente o valor necessário para que o preletor venha e abençoe a igreja. Há alguns critérios que devem ser considerados no trato desta questão. Mas, os quatro princípios que devem prevalecer são: gratidão, generosidade, respeito e bom senso. Enfim, tratar o outro como gostaria de ser tratado. Eis algumas orientações a serem consideradas pelas igrejas e seus líderes: 1) Gratifique a todos os pregadores convidados de acordo com as possibilidades da igreja. Ninguém de bom senso espera receber uma grande oferta de uma pequena igreja, apenas uma ajuda em suas despesas, embora muitos colegas já tenham sido surpreendidos com ofertas generosas de igrejas com poucos recursos, como também com nenhuma gratificação de igrejas abastadas. O costume, pelo que pesquisei, tem sido gratificar em torno 10% do salário mínimo por pregação nas igrejas menores e cerca de 20% nas maiores, quando o pregador é da mesma cidade. Isso não é tabela é bom senso. 2) Não há necessidade de pedir ao pregador que assine o recibo. O pastor da igreja e o tesoureiro podem assinar juntos confirmando a entrega da oferta. Também deve-se evitar dar a oferta em cheque. É mais um trabalho para o pregador ter que depositar, além de não poder dispor de imediato do recurso para uma refeição, uso imediato para combustível ou passagem ou compra de uma lembrança. 3) Gratifique a todos os pregadores, independentemente de serem pastores de igrejas grandes ou pequenas, de serem mais ou menos aquinhoados, de serem missionários representantes de juntas missionárias ou executivos de entidades denominacionais (Rom. 13.7). Gratifique até o pregador que não tenha sido muito feliz com seu sermão naquele dia. Foi convidado, gratifique! Diga-lhe que é uma decisão e praxe da igreja. Insista. Caso algum deles não queira realmente receber, peça-lhe que designe para onde deve ser direcionada a oferta. Se você é o pregador, mesmo não “precisando” receba, pois, ao fazer isso, está reforçando um comportamento bonito da igreja. 4) O conselho de líderes da igreja deve definir a oferta mínima para qualquer pregador convidado da cidade e fora dela, para um domingo, seja no culto da manhã ou no da noite e para os dois cultos. Não deve ser algo que o tesoureiro deva definir sozinho, pois ele pode agir de maneira diferente do desejado pela igreja. Esse valor mínimo deve considerar custo da gasolina ou taxi (independentemente se ele vier de ônibus), e algo mais que possibilite um lanche com a família depois do culto em algum lugar e adquirir um livro , por exemplo. Um amigo pastor contou-me que foi convidado para pregar numa igreja. Foi com seu carro e levou seu irmão para cantar, também convidado. Como estava sem recursos para a gasolina, pediu emprestado ao irmão cantor, informando que devolveria assim que recebesse o reembolso das despesas e que, depois do culto, sairiam para lanchar juntos. O irmão cantou lindamente, o pregador pregou com o coração e ajudou a levar quatro pessoas a receberem a Jesus como Salvador naquela noite. Mas o pregador voltou para casa devendo ao irmão e com seus acompanhantes com fome, tudo por falta de bom senso do líder da igreja que os convidou. 5) Em caso de pregadores convidados para séries de mensagens de dois ou três dias, outros cuidados devem ser vistos. Hospedagem adequada (de preferência em hotel), transporte o mais confortável (de preferência avião, quando for de outro estado) e uma gratificação que leve em conta todo o esforço e preparo do pregador. É possível, também, acertar previamente com o pregador a redução dos custos de transporte e hospedagem para que a gratificação possa abençoá-lo mais. 6) Pregadores convidados para uma série de mensagens, mesmo que sejam da mesma cidade, devem merecer os mesmos cuidados que os de fora da cidade, seja com a gratificação, seja com suas necessidades básicas supridas. Um pastor conhecido meu foi pregar uma série de conferências numa determinada igreja. Foi três vezes com seu carro. Gastou combustível, um terno para cada dia, tempo de preparação de mensagem e preparou e distribuiu cópias dos esboços de suas mensagens. Os cultos foram abençoados. Cerca de 20 pessoas se decidiram por Cristo. Em nenhum dia foi oferecido sequer um lanche a ele. Ao final foi lhe dado um livro que ele já tinha, de um valor três vezes menor do que ele gastou de gasolina. 7) Não dê (somente) presente (roupa, livro ou algum objeto de uso pessoal). A igreja costuma não acertar. Dê a oferta para que ele compre o presente de que necessita. A este valor, repito, acresça despesas com transporte e com eventual lanche com a família. 8) Se um pregador é convidado para uma ocasião especial é sinal de que ele é alguém que tem se destacado e que a igreja deseja ouvi-lo. Seu destaque normalmente está no fato de que investiu mais tempo, recursos e esforço no seu preparo. A igreja deve levar isso em conta. 9) Não supervalorize a sua igreja ou instituição. Algumas creem que é um privilégio para qualquer pregador pregar em seu púlpito ou participar de seus eventos. Por isso, só o fato de participar já é uma prêmio para o preletor. O privilégio é sempre de ambos. Um amigo foi pregar num evento de uma organização num acampamento. Solicitaram que ele pregasse sobre determinado tema. Pediram que enviasse o texto com antecedência para que fosse impresso. Ele foi com seu carro. Teve despesas pessoais no local. Abençoou centenas de pessoas com sua palavra e, depois, voltou quilômetros para casa com as mãos e o tanque de gasolina vazios. 10) Não superestime a necessidade do pregador. Mesmo que pareça que ele tenha recursos, dê a gratificação estabelecida. Um amigo me contou que recebeu do “anfitrião” um envelope com uma oferta, mas, logo em seguida, o anfitrião o informou do desafio da igreja com a construção e sugeriu que ele destinasse aquela oferta para a campanha. Foi o que o pregador fez, constrangido. Talvez o pastor daquela igreja tenha achado que por ele estar com um carro novo não precisasse da ajuda. 11) Coloque a oferta num envelope e entregue ao pregador de forma discreta e num local reservado, de preferência por alguém diferente do pastor que convidou. Um pastor, ao final do culto, colocou a mão no bolso, amassou na mão uma nota de R$ 20,00 e a colocou na mão do pregador convidado. Além de deselegante a oferta mal deu para o combustível que ele gastou. 12) Na dúvida, seja generoso. Há exemplos de prodigalidade. Fui fazer uma série de pregações na igreja de um bom amigo. Fui bem tratado.Tive as minhas necessidades supridas. Recebi uma gratificação que julguei suficiente. Mesmo assim, durante vários meses aquele colega sentiu-se incomodado, achando que a igreja tinha sido pouco generosa. Algum tempo depois ele enviou inesperadamente um complemento da oferta. Coisas de um coração sensível. Noutra ocasião fui pregar na posse de um pastor amigo numa cidade não muito longe da que eu morava. Esse amigo encarregou um querido membro da igreja para dar-me assistência. Este irmão levou-me para almoçar e jantar, hospedou-me num bom hotel, comprou minha passagem de volta, levou-me para conhecer a cidade. Cerca de 20 pastores estiveram presentes na posse. Creio que foi um bom sermão, pois os colegas disseram terem sido abençoados. Depois de tudo, aquele irmão ainda entregou-me uma gratificação magnânima de R$ 500,00 que provocou em mim constrangimento (pois era muito acima do que se precisava ofertar). Tentei devolver, mas ele não me permitiu. Impressionou-me a alegria com que ele entregou. Aquele irmão ou aquela igreja eram pródigos. Recentemente fui pregar nos cultos de aniversário de uma pequena igreja, há cerca de 40km de minha residência. Ela estava sem pastor e era dirigida por um seminarista quase formando que, tudo indicava e merecidamente, será seu pastor. Preguei no sábado, fiz um estudo com toda a igreja no domingo pela manhã, realizei 12 batismos e preguei à noite. Ao final, aquele irmão dirigente entregou-me um envelope com uma oferta. Parabenizei-o pela ação e preocupação com as despesas do pregador. No carro, ao abrir o envelope para ver se dava para comer uma pizza com a família vi que lá estavam R$ 300,00. Fiquei constrangido. Era muito para uma igreja pequena e com tantos desafios. Minha vontade foi voltar e devolver pelo menos a metade. No dia seguinte alguém fez chegar a minha mão outro envelope daquela igreja. Mais R$ 100,00. Eles acharam que o que tinham me dado havia sido pouco. Imediatamente encaminhei aquela oferta a mais para o seminarista para que ele a usasse na compra de livros (dava para uns três) para sua biblioteca. 13) Trate as pregadoras da mesma maneira que trata os pregadores. Nesse assunto de gratificação, as mulheres pregadoras, geralmente, são as mais “prejudicadas” ou menos reconhecidas. As igrejas costumam dar flores. Flores até que sim, mas com um cartãozinho num envelope acompanhado de uma oferta. 14) Portanto, ao estabelecer a gratificação leve em conta tanto as possibilidades da igreja quanto os seguintes esforços do pregador: a) o tempo de elaboração ou organização dos sermões ou estudos; b) a privação do convívio familiar; c) seu custo com um transporte confortável; d) suas necessidades básicas (alimentação etc.); e) seu empenho com a formação. Suas despesas com aquisição de vestiário e de livros; e, f) a necessidade de todo ser humano de saber que seu trabalho foi valorizado e reconhecido. G) Considere, também, que o pregador convidado economizou do pastor da igreja de 10 a 20 horas de preparação de sermão naquela semana que ele pode usar em outra atividade. 15) Reforçando. No que se refere a gratificação do pregador ou pregadora, tudo o que disse acima se resume em adotar quatro princípios e abraçar a regra de ouro da boa convivência: demonstremos sempre generosidade, gratidão, respeito e bom senso. Tratemos todos como gostaríamos de ser tratados. Se você tem uma história inusitada sobre o assunto “gratificação ao pregador” ou quer repercutir este artigo, faça isto pelo e-mail clicwv@hotmail.com
Walmir Vieira Pastor e Diretor da ANEB Pesquisador do CLIC – Centro de Liderança criativa e do Centro de Altos Estudos da CBB