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COMISSÃO EXAMINADORA:
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
SUMÁRIO Página
1- INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 1
3- METODOLOGIA...................................................................................................................... 8
4- RESULTADOS E DISCUSSÕES............................................................................................. 9
4.1- REGIME ATUAL DE VENTOS............................................................................................ 9
4.2- O POTENCIAL DE DERIVA DE AREIA PELO VENTO...................................................... 14
4.3- TAXA DE MIGRAÇÃO DAS DUNAS EÓLICAS................................................................. 23
4.4- CLASSIFICAÇÃO DAS FEIÇÕES EÓLICAS NA ÁREA DE ESTUDO............................... 30
5- CONCLUSÕES.......................................................................................................................... 38
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
The wind regime and its associated sand drift potential was determined for a
220-km long coastal segment extending from the Cassino Beach to Hermenegildo
Beach in southerm Rio Grande do Sul.
Based on the analysis of 21 years of meteorological data a formula used by
several authors was chosen to estimate the potential amount of sand transported by
the wind in a unit of time. Additionaly, field data were used to determine the wind
regime and the rate of coastal dunes migration along the southerm coast of the
state.
Values of sand drift potential (DP) of 61.5 uv and 63.0 uv were obtained for
Rio Grande and Santa Vitória do Palmar stations respectively. According to these
values the wind regime was classified as low energy (DP<200) having dominance of
winds from NE, SW and SE. The northeasterm winds are dominant mainly during
spring and summer time, and are responsible for the dunes interiorization. The
southwesterly wind is importante during fall and winter time, while the southeasterly
wind is a strong agent of sand transport during winter and spring time. The field data
demonstrated that the average sand migration during the 10-month period was 14m,
17,3m and 19m to SW, for the Cassino, Sarita and Albardão stations respectively.
The more important development of foredunes in the study area seems to
occur under conditions of relative low wave energy, in a dissipative morphodynamic
state of the beach.
1
1 - INTRODUÇÃO E OBJETIVOS
No litoral sul do Rio Grande do Sul, encontramos parte do mais novo sistema
deposicional do tipo “laguna-barreira” (sistema IV, segundo Villwock, 1984) da planicíe
costeira que se estende da desembocadura da Lagoa dos Patos, Barra do Rio Grande, até o
Chuí (Figura 1). Implantada nos estágios finais da Última Grande Transgressão marinha, há
cerca de 5 ka, a Barreira IV, na área de estudo, apresenta-se em uma faixa litorânea de 220
Km de extensão e uma largura média de 7 Km. Seus depósitos praiais e eólicos são
dominados por areias quartzosas, de granulação fina a muito fina (Siegle, 1996). O campo de
dunas eólicas da barreira é bem desenvolvido, com largura variável entre 2 e 6 Km (Villwock
& Tomazelli, 1995).
Em seu trabalho pioneiro sobre o litoral do Rio Grande do Sul, Tomazelli (1990)
descreve os sistemas deposicionais holocênicos do nordeste da Província Costeira do Rio
Grande do Sul, dando ênfase ao sistema eólico. Posteriormente, o autor acrescenta
informações mais detalhadas sobre o regime de ventos e a taxa de migração das dunas
( Tomazelli, 1993), e sobre a morfologia, organização e evolução do campo eólico costeiro do
litoral norte do Rio Grande do Sul (Tomazelli, 1994).
Em 1996, iniciou-se um levantamento de dados meteorológicos históricos, que
envolveram um período de 21 anos de informações contínuas de direção e velocidade de
ventos para a porção sul do Rio Grande do Sul, contemplando a região compreendida entre a
Praia do Cassino (município de Rio Grande) e a Praia do Hermenegildo (município de Santa
Vitória do Palmar), possibilitando um estudo mais detalhado relativo ao seu sistema eólico.
Neste trabalho, buscou-se analisar e caracterizar o regime de ventos da área de
estudo, bem como determinar o potencial de deriva da areia submetida à ação eólica. Através
do monitoramento das dunas costeiras, com medidas realizadas diretamente no terreno,
procurou-se caracterizar seu processo migratório.
Objetivou-se também a descrição das feições eólicas existentes na Barreira IV,
através de observações diretas no campo de dunas.
A compreensão sistêmica do comportamento migratório dos campos de dunas
apresenta-se como uma premente necessidade, face à existência de sérios riscos ambientais
relacionados a numerosos usos conflitivos do espaço físico.
2
FIGURA 2 - Perfil transversal esquemático (E-W) da parte norte da Província Costeira do Rio
Grande do Sul, mostrando a justaposição lateral de 4 sistemas deposicionais do tipo
laguna/barreira (segundo Villwock et al., 1986).
2.2 - CLIMA
Na área de estudo, as marés astronômicas são do tipo diurno, com uma amplitude
média de 0,47 metros devido à proximidade de um ponto anfidrômico regional (Herz, 1977), e
também a uma configuração da linha de costa praticamente retilínea, aberta, sem
reentrâncias e irregularidades que poderiam amplificar, por efeitos de ressonância ou
convergência, a amplitude dessas marés (Tomazelli & Villwock, 1992).
Desta forma, as principais variações do nível de água na costa são determinadas
por agentes meteorológicos como ventos e pressão atmosférica. Estas variações são
conhecidas como “ maré de tempestade” (Villwock & Tomazelli, 1995; Calliari et al., 1996).
De acordo com os estudos de Calliari et al. (1996), Calliari & Klein, (1995) e Tozzi
(1995), a ocorrência de marés meteorológicas associadas aos equinócios (maré de equinócio)
são responsáveis pelas maiores variações morfológicas no perfil praial na costa sul do Brasil,
entre o Cassino e o Chuí. Tozzi (1995) salienta que a posição do ciclone extratropical sobre o
mar é determinante na geração de ondulações ou vagas, como também no empilhamento de
água sobre a costa.
O agente hidrodinâmico mais relevante na costa do Rio Grande do Sul são as
ondas (Tomazelli & Villwock, 1992). As praias da área de estudo ficam mais expostas à ação
das ondas devido ao seu caráter aberto, sendo por elas diretamente influenciadas.
Dados de ondas registrados por Wainer (1963) e posteriormente aplicados por
Motta (1967) para a região da desembocadura da Laguna de Tramandaí, e por Motta (1969)
7
3 - METODOLOGIA
4 - RESULTADOS E DISCUSSÕES
A
Direção dos ventos superficiais, 1976-1996,
Estação Rio Grande
dezembro
novembro
60 outubro
50 setembro
40 agosto
julho
% 30 junho
20 maio
10 abril
março
0 fevereiro
N NE E SE S SW W NW
janeiro
B
Direção dos ventos superficiais, 1976-1996 Estação
Santa Vitória do Palmar
dezembro
60 novembro
outubro
50 setembro
40 agosto
julho
% 30 junho
20 maio
abril
10 março
fevereiro
0
N NE E SE S SW W NW janeiro
DIREÇÃO N NE E SE S SW W NW
0-5 3,6 39,6 2,4 6,8 3,2 8,4 2,8 1,0
5.1 – 8 2,8 16,8 0,4 2,8 1,2 8,0 0,4 0,0
>8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Total 6,4 56,4 2,8 9,6 4,4 16,4 3,2 1,0
MESES Jan Fev Mar abr Mai Jun Jul ago Set Out nov dez
0–5 76,2 66,7 81,0 81,0 85,7 85,7 76,2 81,0 52,4 71,4 66,7 57,1
5.1 – 8 23,8 33,3 19,0 19,0 14,3 14,3 23,8 19,0 47,6 28,6 33,3 42,9
>8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Dir. Predom. NE NE NE NE NE SW SW NE NE NE NE NE
DIREÇÃO N NE E SE S SW W NW
0–5 0,4 44,4 2,8 11,9 4,4 18,7 1,6 1,6
5.1 – 8 0,0 7,9 0,8 4,0 0,4 1,2 0,0 0,0
>8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Total 0,4 52,4 3,6 15,9 4,8 19,8 1,6 1,6
MESES Jan Fev Mar abr Mai Jun Jul ago Set Out Nov dez
0–5 23,8 33,3 52,4 61,9 71,4 57,1 52,4 47,6 9,5 4,8 9,5 28,6
5.1 – 8 71,4 66,7 47,6 38,1 28,6 42,9 47,6 52,4 90,5 85,7 71,4 61,9
>8 4,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 9,5 19,0 9,5
Dir. Predom. NE NE NE NE SW SW SW NE NE SE NE NE
12
N NE E SE S SW W NW
Janeiro 0,0 8,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Fevereiro 1,2 6,1 0,0 2,4 1,2 0,0 0,0 1,2
Março 1,2 3,7 1,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Abril 1,2 3,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Maio 0,0 2,4 0,0 0,0 0,0 2,4 0,0 0,0
Junho 1,2 0,0 4,8 0,0 0,0 1,2 2,4 0,0
Julho 1,2 1,2 0,0 0,0 2,4 1,2 0,0 0,0
Agosto 1,2 1,2 0,0 1,2 0,0 2,4 0,0 0,0
Setembro 0,0 7,3 0,0 3,7 1,2 0,0 0,0 0,0
Outubro 0,0 6,1 0,0 2,4 0,0 0,0 0,0 0,0
Novembro 1,2 8,5 0,0 1,2 0,0 0,0 0,0 0,0
Dezembro 0,0 11,0 0,0 1,2 0,0 0,0 0,0 0,0
Somatório 8,5 59,8 6,2 12,2 4,9 7,3 2,4 1,2
15 9,0
10
7,0 m/s
%
0 5,0
junho
julho
outubro
abril
fevereiro
novembro
janeiro
agosto
maio
setembro
março
dezembro
N NE E SE S SW W NW
Janeiro 0,0 7,7 0,0 2,6 0,0 0,0 0,0 0,0
Fevereiro 0,0 7,7 0,0 5,1 0,0 0,0 0,0 0,0
Março 0,0 2,6 0,0 2,6 0,0 2,6 0,0 0,0
Abril 0,0 2,6 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Maio 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Junho 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Julho 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2,6 0,0 0,0
Agosto 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Setembro 0,0 5,1 0,0 2,6 2,6 0,0 0,0 0,0
Outubro 0,0 2,6 5,1 7,7 0,0 0,0 0,0 0,0
Novembro 0,0 7,7 0,0 7,7 0,0 5,1 0,0 0,0
Dezembro 0,0 15,4 0,0 2,6 0,0 0,0 0,0 0,0
Somatório 0,0 51,3 5,1 30,8 2,6 10,3 0,0 0,0
15 9,0
10
7,0 m/s
%
0 5,0
outubro
junho
fevereiro
julho
novembro
abril
janeiro
agosto
setembro
maio
dezembro
março
inerentes à superfície do terreno sobre o qual o vento sopra podem afetar significativamente a
quantidade de areia transportada (variações topográficas da superfície, grau de umidade,
tamanho de grãos, presença de vegetação, etc...).
Os resultados representam o grau de energia disponível dos ventos na área de
estudo, podendo apresentar uma maior ou menor competência no transporte de areia em
função das características da superfície do terreno citadas acima.
Buscou-se aplicar a metodologia descrita por Fryberger & Dean (1979) de maneira
adequada à realidade deste trabalho, para que não houvessem distorções nos valores
encontrados. Isto se deve ao fato de que a metodologia originalmente proposta foi utilizada
numa região onde os ventos sopram com velocidades mais altas.
As diversas etapas metodológicas, para obtenção do cálculo do potencial de
deriva de cada estação, serão descritas de maneira detalhada a seguir.
Desenvolveu-se uma tabela que apresenta três classes de velocidade e oito
setores direcionais de vento com valores percentuais da ocorrência da direção do vento para
cada classe (Tabela 1, pg. 11).
Com o resultado obtido, foram criadas duas novas tabelas que apresentam
valores percentuais da ocorrência dos ventos (direção) com velocidade acima de 5m/s para
os oito setores direcionais dos ventos das estações (Tabelas 2 e 3, pg. 12). Com base na
fórmula para o cálculo do potencial de deriva de areia, Fryberger & Dean (1979) estabelece
que o valor atribuído à velocidade, para base de cálculo na fórmula, é retirado do ponto médio
de cada classe, (limite inferior + limite superior da classe dividido por dois). Com isso, o autor
não utiliza valores reais para o cálculo do potencial de deriva de areia, mas um valor
ponderado de um intervalo representativo de uma classe de velocidade. A partir daí, foi
necessário estabelecer um critério para aplicar a metodologia do autor, visto que os valores
fornecidos por ambas as estações, na sua maioria, ficaram abaixo da velocidade limite
registrada a 10m de altura, necessária para manter a areia em saltação (Bagnold, 1941).
Baseado nas características granulométricas da área de estudo, utilizou-se o valor de 5m/s
como valor mínimo da velocidade para manter os grãos em movimento. Na fórmula utilizada,
este valor é representado por Vt.
Através do critério estabelecido, apenas uma classe dos intervalos de velocidade
pôde ser considerada (5,1 – 8,0 m/s), sendo o valor de V estabelecido como 6,5 m/s. Os
outros dois intervalos, se considerados, apresentariam valores negativos (não seriam
representativos no cálculo do potencial de deriva de areia pelo vento). Com o valor do ponto
médio da classe calculado (V) foi possível determinar o Fator ponderado (Tabela 7), através
do qual pode-se calcular o valor de Q para cada estação.
17
pouco significativa. Por sua vez, o gráfico da Figura 9 mostra uma alta variabilidade em Santa
Vitória do Palmar.
Na estação Rio Grande, observa-se um PD baixo nos meses de outono (9,3 uv) e
inverno (15,3 uv). Contudo, estes valores são mais altos nos meses de primavera (20,0 uv) e
verão (16,9 uv). A resolução vetorial destes valores mostra uma DDR para SW (Figura 7A).
Na estação Santa Vitória do Palmar, os valores de PD apresentam o mesmo
padrão da estação Rio Grande. O PD é mais baixo nos meses de outono (1,6 uv) e inverno
(8,0 uv), e mais alto na primavera (33,9 uv) e verão (19,4uv). A resultante vetorial indica uma
DDR também para SW (Figura 7B).
A maior diferença observada entre as DDR de Rio Grande e Santa Vitoria do
Palmar deve-se a maior importância relativa do vento SE na primavera (ver Tabela 8).
As mesmas DDR (direção) foram obtidas para as estações Torres e Imbé, no
litoral norte do estado, e para a estação Rio Grande por Tomazelli (1993).
Os valores nas razões PDR/PD de 0,71 para Rio Grande e 0,69 para Santa
Vitória do Palmar, representam índices elevados em função da pequena variabilidade
direcional do vento ( Figura 7).
Com base nos resultados do potencial de deriva de areia encontrados neste
trabalho (Rio Grande = 61,5 uv e Santa Vitória do Palmar = 63,0 uv) e na classificação
proposta por Fryberger & Dean (1979) caracterizou-se o regime de ventos, no extremo
meridional do Rio Grande do Sul, como de baixa energia (PD < 200UV). Esta interpretação
diverge daquela apresentada por Tomazelli (1993), onde o autor interpreta um regime de
ventos de alta energia para a costa do Rio Grande do Sul. Esta divergência está sendo
atribuida a um diferente tratamento estatístico de dados e a diferenças entre as séries
históricas de dados de ventos utilizadas.
19
N A- RIO GRANDE
0 20 UV
DDR
PD = 61,5 UV
PDR = 43,7 UV
PDR/PD = 0,71
DDR
PD = 63,0 UV
PDR = 44,0 UV
PDR/PD = 0,69
RIO GRANDE PD(uv) DP PDR(uv) DDR SANTA VITÓRIA PD(uv) DP PDR(uv) DDR
DO PALMAR
Mês Mês
Janeiro 5,4 NE 3,1 SW Janeiro 6,5 NE 4,5 SW
*(PD) Potencial de deriva de areia, (DP) Direção predominante, (PDR) Potencial da deriva
resultante, (DDR) Direção da deriva resultante, (uv) Unidade vetorial.
21
NW
SW 8,0 - 10,0
S 6,0 - 8,0
SE 4,0 - 6,0
E 2,0 - 4,0
NE
PD
N
Fevereiro
Junho
Outubro
Julho
Janeiro
Maio
Abril
Agosto
Novembro
Março
Setembro
Dezembro
FIGURA 8 - Potencial eólico de deriva de areia pelo vento em Rio Grande.
NW
W
8,0-10,0
SW 6,0-8,0
S 4,0-6,0
2,0-4,0
SE
E
PD
NE
N
Fevereiro
Junho
Julho
Outubro
Janeiro
Maio
Abril
Março
Agosto
Novembro
Setembro
Dezembro
FIGURA 9 - Potencial eólico de deriva de areia pelo vento em Santa Vitória do
Palmar
inverno. Não foi observado um movimento contrário à migração normal da duna pela ação
dos ventos de SW e W. A duna voltou a migrar com maior velocidade, na primavera, pela
ação dos ventos NE e SE. Os valores registrados em campo mostraram, ao final do
monitoramento, uma migração total de 14m para SW, em razão da ação dominante dos
ventos provenientes de NE, correspondendo a uma média de 1,4m/mês. Este comportamento
migratório da duna, ainda que restrito a uma observação de apenas 10 meses, é concordante
com a direção de deriva resultante (DDR) determinada para a estação Rio Grande, com base
em 21 anos de dados de vento (ver cap. 4.2).
A Estação II localiza-se próximo ao Farol Sarita e corresponde a um campo
eólico de pequenas dunas barcanóides, das quais uma foi monitorada.
Segundo Calliari & Klein (1993), as praias desta região possuem características
morfodinâmicas intermediárias, com altos índices de mobilidade da linha de praia e do pós-
praia e grande variação sazonal no volume de sedimentos.
Esta estação de trabalho está livre de qualquer obstáculo que possa vir a
influenciar os processos naturais de alimentação de areia e ação do vento sobre a duna em
observação.
Quando iniciou-se o trabalho, a duna apresentava a seguintes caracteristicas:
Localização: 32o 37’ 83”S 52o 25’ 49”W
Distância em relação à linha de praia : 1000 m
Sentido de migração : SW
apresenta os sedimentos mais grossos da área de estudo, expressos pelo elevado percentual
da fração areia média (0,250mm) (Tabela 6). Próximo ao Farol do Albardão, junto a um
campo de dunas transversais, foi selecionada uma duna, livre de qualquer interferência. As
variações ocorridas pela movimentação de areia nesta estação foram acompanhadas por um
período de dez meses.
A
PERFIL - ALBARDÃO - DEZEMBRO - 1996 -
25
13/12/96
20
E 15
L
E
V
A 10
Ç
Ã
m
5
0
1 51 101 151 201 251 301
DISTÂNCIA (m)
B
PERFIL ALBARDÃO - ABRIL - 1997 -
20
23/04/97
18
16
14
E
L 12
E
V 10
A
Ç 8
Ã
O 6
m
4
0
1 51 101 151 201 251 301
DISTÂNCIA (m)
28
C
PERFIL ALBARDÃO - AGOSTO - 1997 -
18
15/08/97
16
14
12
E
L
E 10
V
A 8
Ç
Ã
6
O
m 4
0
1 51 101 151 201 251
DISTÂNCIA (m)
D
PERFIL AL BARDÃO - OUTUBRO - 1997 -
25
21/10/97
20
E
15
L
E
V
A 10
Ç
Ã
O
5
m
0
1 51 101 151 201 251 301
DIS TÂNCIA (m)
13/12/96
20
23/04/97
15/08/97
E 21/10/97
L
E 15
V
A
Ç
Ã
O
m 10
5
1 51 101 151 201 251
DISTÂNCIA (m)
Após uma revisão das principais classificações existentes para feições eólicas
(Bagnold, 1941; Bigarella, et al. 1971; Short & Hesp, 1982; Goldsmith, 1985; Arens &
Wieresma, 1994; Tomazelli, 1994), optou-se pela classificação de Tomazelli (1994), pois esta
abrange todas as feições encontradas na área de estudo.
O quadro de classificação proposto pelo autor foi construído a partir das diversas
classificações já existentes, mesclando critérios genéticos e descritivos.
Dunas Vegetadas
transporte (Bernardi et al.1987). Além disso, o sistema radicular e foliar desta vegetação
consolida a estrutura física do substrato, compactando e umidificando o sedimento arenoso
que, na sua ausência, seria remobilizado. Uma das espécies que contribuem para formar as
dunas é o Panicum racemosum, uma gramínea perene, principal colonizadora das dunas
primárias. Outra espécie colonizadora é a Blutaparon portulacoides (Figura 13). As duas
espécies ocorrem na área de estudo. O comportamento dessas espécies, nas dunas
costeiras do sul do Brasil foi estudo por Bernardi et al. (1987).
Pode-se ressaltar que, em locais onde não ocorrem dunas frontais, seja pela
destruição da cobertura vegetal, ou pela retirada de areia por ação natural ou antrópica, as
ondas de tempestade vêm causando inúmeras destruições de casas, ruas, etc. Estes efeitos
catastróficos podem ser observados no Balneário de Hermenegildo, Município de Santa
Vitória do Palmar, durante os eventos de tempestade.
FIGURA 14- Fotografia da vista lateral de uma duna frontal estendendo-se ao longo da
costa, coberta por vegetação rasteira. Localidade do Farolete do Verga
Numa síntese organizada com base em vários autores, Angulo (1993) descreve as
variáveis condicionantes da formação das dunas frontais:
a) Tipo de sedimento da área-fonte (praia), principalmente o tamanho das partículas e a
seleção.
b) Suprimento de sedimento na área fonte que, por sua vez, depende do regime de
ondas e marés, da morfologia da costa, do gradiente da plataforma, das variações
relativas do nível do mar, da composição da plataforma e do aporte fluvial.
c) Regime de vento, principalmente velocidade, direção e freqüência.
d) Regime de precipitações.
e) Tipo de vegetação.
f) Morfologia da praia, principalmente topografia e largura.
TABELA 12 - Correlação das variáveis que condicionam a formação de dunas frontais nas
regiões do Farolete do Verga e Farol do Albardão.
Vento
(velocidade/direção/freqüência) 3,5 m/s, NE, 46,4% 4,0 m/s, NE, 47,1%
Precipitação 1250mm 1250mm
Vegetação (dunas costeiras) Spartina ciliata Spartina ciliata
Blutaparom portulacoides Blutaparom portulacoides
Panicum racemosum Panicum racemosum
Hydrocotyle bonariensis Hydrocotyle bonariensis
Paspalum vaginatum
Estado morfodinâmico da
praia/Largura da faixa de praia Intermediária / 63 m Intermediária-reflectiva / 170 m
Dunas Livres
Lençóis de Areia
Estes mantos de areia não apresentam feições morfológicas como crista ou face
de deslizamento. Sua formação pode se dar próximo às margens do campo de dunas livres,
junto aos corpos lagunares, onde muitas vezes observa-se uma tendência de dissipação das
dunas com a formação de lençóis arenosos (Figura 16).
5 - CONCLUSÕES
6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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