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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS

ANÁLISE DO REGIME DE VENTOS E DETERMINAÇÃO DO POTENCIAL DE


DERIVA DE AREIA NO EXTREMO SUL DO LITORAL
DO RIO GRANDE DO SUL-BRASIL

TADEU BRAGA AREJANO

ORIENTADOR: Prof. Dr. Sergio Rebello Dillenburg

COMISSÃO EXAMINADORA:

Prof Dr. Elírio Ernestino Toldo Júnior

Prof Dr. Luiz José Tomazelli

Prof Dr. Ulrich Seeliger

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em


Geociências 1999
ii

SUMÁRIO Página

LISTA DE FIGURAS...................................................................................................................... Iii


LISTA DE TABELAS ..................................................................................................................... V
AGRADECIMENTOS..................................................................................................................... Vi
RESUMO....................................................................................................................................... Vii
ABSTRACT.................................................................................................................................... Viii

1- INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 1

2- FATORES AMBIENTAIS CONDICIONANTES........................................................................ 3


2.1- CONTEXTO GEOLÓGICO DA ÁREA DE ESTUDO.......................................................... 3
2.2- CLIMA ............................................................................................................................... 4
2.3- MARÉS,ONDAS E CORRENTES..................................................................................... 6

3- METODOLOGIA...................................................................................................................... 8

4- RESULTADOS E DISCUSSÕES............................................................................................. 9
4.1- REGIME ATUAL DE VENTOS............................................................................................ 9
4.2- O POTENCIAL DE DERIVA DE AREIA PELO VENTO...................................................... 14
4.3- TAXA DE MIGRAÇÃO DAS DUNAS EÓLICAS................................................................. 23
4.4- CLASSIFICAÇÃO DAS FEIÇÕES EÓLICAS NA ÁREA DE ESTUDO............................... 30

5- CONCLUSÕES.......................................................................................................................... 38

6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................... 39


iii

Lista de Figuras Páginas

Figura 1 Mapa de localização da área de estudo. A linha vermelha marca


o limite oeste da Barreira IV..........................................................
2

Figura 2 Perfil transversal esquemático (E-W) da parte norte da Província


Costeira do Rio Grande do Sul, mostrando a justaposição lateral
de 4 sistemas deposicionais do tipo laguna/barreira (segundo
Villwock et al., 1986)...................................................................... 4

Figura 3 Principais Centros Controladores do clima no Rio Grande Sul..... 5

Figura 4 Histogramas das freqüências de ocorrência dos ventos, para as


diferentes direções de proveniência, nas estações de Rio
Grande (A) e Santa Vitória do Palmar (B)..................................... 10

Figura 5 Curvas representativas das variações de freqüência e


velocidade dos ventos favoráveis à migração das dunas (NW
+N +NE) e dos ventos opostos a esta migração (SE +S +SW),
ao longo dos meses do ano.......................................................... 12

Figura 6 Curvas representativas das variações de freqüência e


velocidade dos ventos favoráveis à migração das dunas (NW
+N +NE) e dos ventos opostos a esta migração (SE +S +SW),
ao longo dos meses do ano.......................................................... 13

Figura 7 Diagrama “rosa de areia” do potencial de deriva anual,


calculados a partir dos dados da estação Rio Grande e Santa
Vitória do Palmar. Período 1976-1996.......................................... 19

Figura 8 Potencial eólico de deriva de areia pelo vento em Rio Grande.... 21

Figura 9 Potencial eólico de deriva de areia pelo vento em Santa Vitória


do Palmar...................................................................................... 22

Figura 10 Fotografia ilustrando o posicionamento de estacas de madeira


na face lateral da duna, com intervalo de 10m. Localidade do
Farol do Albardão.......................................................................... 25

Figura 11 Perfis topográficos que registram a variação de altura da duna


transversal, monitorada na localidade do Farol do Albardão,
realizados nos meses de dezembro/96 (A), abril/97 (B), agosto/97
(C) e outubro/97 (D). ...................................................................... 28
iv

Figura 12 Composição dos quatro perfis topográficos apresentados na


figura 11.......................................................................................... 29

Figura 13 Dunas embrionárias colonizadas por vegetação rasteira da


espécie fixadora Blutaparon portulacoides, na localidade da
praia do Cassino............................................................................. 31

Figura 14 Fotografia da vista lateral de uma duna frontal estendendo-se ao


longo da costa, coberta por vegetação rasteira. Localidade do
Farolete do Verga........................................................................... 32

Figura 15 Duna do tipo “nebka”, na localidade do Farol do Albardão............ 34

Figura 16 Fotografia mostrando lençol de areia recobrindo um campo com


vegetação pioneira próximo à praia. Localidade do Farol do
Albardão......................................................................................... 36

Figura 17 Bacias de deflação “ blow-outs” formadas atrás das dunas


frontais, na localidade do Farolete do Verga.................................. 37

Figura 18 Bacias de deflação “blow-outs” na localidade do Cassino............. 37


v

Lista de Tabelas Páginas

Tabela 1 Freqüência percentual dos ventos (direção e velocidade),


registrados nas estações meteorológicas de Rio Grande e
Santa Vitória do Palmar, no período de 1976-1996................ 11

Tabela 2 Freqüência percentual, ao longo dos meses do ano, das


direções dos ventos superficiais da classe de velocidades
(>5) na estação de Rio Grande. Período 1976-1996.............. 12

Tabela 3 Freqüência percentual, ao longo dos meses do ano, das


direções dos ventos superficiais da classe de velocidades
(>5) na estação de Santa Vitória do Palmar. Período 1976-
1996........................................................................................ 13

Tabela 4 Análise granulométrica dos sedimentos superficiais da


localidade do Cassino – Estação I........................................... 14

Tabela 5 Análise granulométrica dos sedimentos superficiais da


localidade do Farol do Sarita – Estação II............................... 14

Tabela 6 Análise granulométrica dos sedimentos superficiais da


localidade do Farol do Albardão – Estação III........................ 14

Tabela 7 Determinação do Fator Ponderado.......................................... 16

Tabela 8 Potencial de deriva mensal e anual, direção predominante,


potencial de deriva resultante e direção da deriva resultante
nas estações Rio Grande e Santa Vitória do Palmar, período
1976-1996. .............................................................................. 20

Tabela 9 Potencial de deriva de areia mensal na estação de Rio


Grande, período 1976-1996.................................................... 21

Tabela 10 Potencial de deriva de areia mensal na estação de Santa


Vitória do Palmar, período 1976-1996..................................... 22

Tabela 11 Classificação das principais feições eólicas da área de


estudo.(segundo classificação apresentada por Tomazellii
,1994 )....................................................................................... 30

Tabela 12 Correlação das variáveis que condicionam a formação de


dunas frontais nas regiões do Farolete do Verga e Farol do
Albardão................................................................................... 33
vi

AGRADECIMENTOS

Apresento meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que de alguma


forma colaboraram para a realização deste trabalho.
Ao Prof. Dr. Sergio R. Dillenburg pela oportunidade e sua orientação.
Ao Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica (CECO), pela
acolhida.
À Universidade do Rio Grande, em especial ao Laboratório de
Oceanografia Geológica (LOG), pela oportunidade e apoio logístico para a realização
deste trabalho e ao laboratório de Oceanografia Física.
À coordenação do curso de pós-graduação em Geociências, UFRGS,
pelo apoio recebido.
Ao CNpq pelo auxílio financeiro concedido através de bolsa de estudo.
Finalmente meus agradecimentos à todos os colegas que participaram nos
trabalhos de campo.
vii

RESUMO

Na tentativa de determinar o regime de ventos e o potencial de deriva de


areia, foi selecionada uma faixa litorânea de 220 Km, que se estende entre a praia
do Cassino e a praia de Hermenegildo, extremo sul do Rio Grande do Sul.
A análise de 21 anos de dados meteorológicos e a aplicação de uma
equação matemática utilizada por diversos autores permitiu determinar um valor
numérico que representa a quantidade de areia potencialmente transportada pelo
vento em uma unidade de tempo. Tais dados, somados a medidas diretas de
movimentação de areia possibilitaram analisar o regime de ventos e estabelecer as
taxas de migração das dunas eólicas costeiras no litoral sul do Rio Grande do Sul.
O cálculo do potencial de deriva de areia (PD) apresentou valores de 61,5
uv (Estação Rio Grande) e 63,0 uv (Estação Santa Vitória do Palmar), e permitiu
definir o regime de ventos como sendo de baixa energia (PD<200), com predomínio
de ventos provenientes de NE, SW e SE. O vento NE, predominante ao longo dos
meses do ano, é o responsável maior pela interiorização das dunas, sendo mais
significativo nas estações de primavera e verão. A ação do vento SW está
relacionada aos meses de outono e inverno. O vento SE torna-se um forte agente
transportador no inverno e na primavera. As medidas registradas em campo, num
intervalo de 10 (dez) meses, nas estações de trabalho Cassino, Sarita e Albardão,
indicam uma migração média das dunas, respectivamente de 14m, 17,3m e 19m
para SW.
Um desenvolvimento mais expressivo das dunas frontais, na área de
estudo, parece ser favorecido por condições de baixa energia relativa de ondas, em
um estado morfodinâmico dissipativo da praia.
viii

ABSTRACT

The wind regime and its associated sand drift potential was determined for a
220-km long coastal segment extending from the Cassino Beach to Hermenegildo
Beach in southerm Rio Grande do Sul.
Based on the analysis of 21 years of meteorological data a formula used by
several authors was chosen to estimate the potential amount of sand transported by
the wind in a unit of time. Additionaly, field data were used to determine the wind
regime and the rate of coastal dunes migration along the southerm coast of the
state.
Values of sand drift potential (DP) of 61.5 uv and 63.0 uv were obtained for
Rio Grande and Santa Vitória do Palmar stations respectively. According to these
values the wind regime was classified as low energy (DP<200) having dominance of
winds from NE, SW and SE. The northeasterm winds are dominant mainly during
spring and summer time, and are responsible for the dunes interiorization. The
southwesterly wind is importante during fall and winter time, while the southeasterly
wind is a strong agent of sand transport during winter and spring time. The field data
demonstrated that the average sand migration during the 10-month period was 14m,
17,3m and 19m to SW, for the Cassino, Sarita and Albardão stations respectively.
The more important development of foredunes in the study area seems to
occur under conditions of relative low wave energy, in a dissipative morphodynamic
state of the beach.
1

1 - INTRODUÇÃO E OBJETIVOS

No litoral sul do Rio Grande do Sul, encontramos parte do mais novo sistema
deposicional do tipo “laguna-barreira” (sistema IV, segundo Villwock, 1984) da planicíe
costeira que se estende da desembocadura da Lagoa dos Patos, Barra do Rio Grande, até o
Chuí (Figura 1). Implantada nos estágios finais da Última Grande Transgressão marinha, há
cerca de 5 ka, a Barreira IV, na área de estudo, apresenta-se em uma faixa litorânea de 220
Km de extensão e uma largura média de 7 Km. Seus depósitos praiais e eólicos são
dominados por areias quartzosas, de granulação fina a muito fina (Siegle, 1996). O campo de
dunas eólicas da barreira é bem desenvolvido, com largura variável entre 2 e 6 Km (Villwock
& Tomazelli, 1995).
Em seu trabalho pioneiro sobre o litoral do Rio Grande do Sul, Tomazelli (1990)
descreve os sistemas deposicionais holocênicos do nordeste da Província Costeira do Rio
Grande do Sul, dando ênfase ao sistema eólico. Posteriormente, o autor acrescenta
informações mais detalhadas sobre o regime de ventos e a taxa de migração das dunas
( Tomazelli, 1993), e sobre a morfologia, organização e evolução do campo eólico costeiro do
litoral norte do Rio Grande do Sul (Tomazelli, 1994).
Em 1996, iniciou-se um levantamento de dados meteorológicos históricos, que
envolveram um período de 21 anos de informações contínuas de direção e velocidade de
ventos para a porção sul do Rio Grande do Sul, contemplando a região compreendida entre a
Praia do Cassino (município de Rio Grande) e a Praia do Hermenegildo (município de Santa
Vitória do Palmar), possibilitando um estudo mais detalhado relativo ao seu sistema eólico.
Neste trabalho, buscou-se analisar e caracterizar o regime de ventos da área de
estudo, bem como determinar o potencial de deriva da areia submetida à ação eólica. Através
do monitoramento das dunas costeiras, com medidas realizadas diretamente no terreno,
procurou-se caracterizar seu processo migratório.
Objetivou-se também a descrição das feições eólicas existentes na Barreira IV,
através de observações diretas no campo de dunas.
A compreensão sistêmica do comportamento migratório dos campos de dunas
apresenta-se como uma premente necessidade, face à existência de sérios riscos ambientais
relacionados a numerosos usos conflitivos do espaço físico.
2

FIGURA 1 – Mapa de localização da área de estudo.


A linha vermelha marca o limite oeste da Barreira IV.
3

2 - FATORES AMBIENTAIS CONDICIONANTES

2.1 – CONTEXTO GEOLÓGICO DA ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo está inserida na região sul da planície costeira do estado do


Rio Grande do Sul. Esta planície costeira corresponde à expressão geomorfológica da
porção superficial emersa da Bacia de Pelotas, estando delimitada pelo embasamento
cristalino, a oeste, e pelo Oceano Atlântico a leste. Sua largura média, na área de estudo. é
de 70 Km. A plataforma continental adjacente, porção superficial atualmente imersa da Bacia
de Pelotas, apresenta-se com uma largura média de 160 Km.
O modelo evolutivo apresentado por Villwock et al. (1986), para a formação
da planície costeira do estado do Rio Grande do Sul, considera que o seu crescimento deu-se
durante o Quaternário, através do desenvolvimento e justaposição de quatro sistemas
deposicionais do tipo laguna/barreira, relacionados a quatro eventos transgressivos-
regressivos do nível do mar. Segundo os autores, os sistemas laguna/barreira I, II e III
formaram-se durante o Pleistoceno, sendo o sistema I o mais antigo; enquanto que o sistema
IV iniciou seu desenvolvimento durante o Holoceno (Figura 2).
A evolução paleogeográfica holocênica da área de estudo foi
apresentada por Villwock & Tomazelli (1995). Segundo os autores, ao final da Última Grande
Transgressão marinha, ocorrida há cerca de 5 ka , o nível do mar atingiu a sua elevação
máxima na região, aproximadamente 5 metros acima do nível atual.
Durante os últimos 5 ka, a zona costeira da região foi submetida a um evento
dominantemente regressivo, interrompido por pequenos períodos de estabilização, ou mesmo
por eventos transgressivos menores. Como consequência deste evento regressivo
desenvolveu-se, a leste da barreira transgressiva, a fase de barreira regressiva, através da
justaposição lateral de cordões litorâneos de origem dominantemente eólica.
Neste contexto, a origem e desenvolvimento dos campos de dunas da área
de estudo vinculam-se aos processos geológicos associados aos eventos holocênicos de
transgressão e regressão do nível do mar, responsáveis pelo desenvolvimento do sistema
deposicional laguna/barreira IV.
4

FIGURA 2 - Perfil transversal esquemático (E-W) da parte norte da Província Costeira do Rio
Grande do Sul, mostrando a justaposição lateral de 4 sistemas deposicionais do tipo
laguna/barreira (segundo Villwock et al., 1986).

2.2 - CLIMA

A região costeira do sul do País é freqüentemente atingida por sistemas


meteorológicos que se deslocam de S-SW, causando precipitação e, algumas vezes,
destruição devido aos fortes ventos que os acompanham (Nimer,1977). A proximidade da
convergência subtropical e a influência estabilizadora do complexo lagunar Patos-Mirim
imprimem características temperadas-quentes sobre a costa e o mar adjacente. A migração
latitudinal (3°) e longitudinal (10°) do centro de alta pressão e a passagem de sistemas
frontais polares a intervalos de seis a dez dias são responsáveis pelas modificações sazonais
no clima ( Fortune & Kousky, 1983; Paz, 1985; Vieira & Rangel, 1988; Nimer, 1977 e 1996).
O regime de ventos e massas de ar no sul do Brasil está vinculado às altas
pressões tropicais e polares. O Anticiclone do Atlântico representa as altas pressões tropicais
e possui um movimento zonal, permitindo a alternância com o Anticiclone Polar Móvel (Figura
3). Isto determina a circulação de ventos e massas de ar, e a sazonalidade do deslocamento
de sistemas frontais e linhas de instabilidade (Nimer, 1996). A marcada influência do
anticiclone do Atlântico causa uma dominância de ventos NE através do ano, seguido de
ventos de SW durante a passagem de frentes frias (Malaval, 1923) os quais são mais comuns
no inverno do que no verão (Delaney, 1965; Godolphim, 1976; Tomazelli, 1990 e 1993).
5

Figura 3 - Principais Centros Controladores do Clima no


Rio Grande do Sul (extraído de Tomazelli, 1990).

O regime de temperatura regional é uma função sazonal do número e da


intensidade da passagem de frentes frias (Nobre et al., 1986). A temperatura média anual
varia entre 17°C e 19°C; enquanto as médias mensais mais baixas e mais altas variam entre
13°C e 24°C, em Julho e Janeiro respectivamente (IBGE,1986). A precipitação total anual
média (1200 -1500mm) pode variar fortemente entre anos consecutivos e está principalmente
relacionada ao padrão e à freqüência da passagem de frentes frias (Paz, 1985).
Delaney (1965) estudou as médias anuais e sazonais do vento em diferentes
posições geográficas no Rio Grande do Sul, verificando o predomínio de ventos com direção
NE, principalmente para a região norte do Rio Grande do Sul.
De acordo com os estudos de Bicalho (1883, apud Calliari, 1980), os ventos da
região podem ser classificados em quatro grupos. O primeiro grupo é formado pelos ventos
de NE, NNE, ENE e constituem o grupo dos ventos predominantes, sendo o NE o principal;
os ventos de E - S formam o segundo grupo, sendo o SE o vento predominante deste grupo.
O terceiro grupo é formado pelos ventos de SSW, SW e WSW. Estes ventos são causadores
de tempestades e, juntamente com os ventos de SE e S, provocam o empilhamento de água
junto à costa elevando o nível do mar. O último grupo é formado pelos ventos de N a W,
especialmente o NW e são de menor importância devido à sua fraca intensidade.
6

Analisando dados de intensidade e direção de ventos da região entre Rio Grande


e Torres, Tomazelli (1993) também verifica que a direção predominante dos ventos é NE,
existindo algumas diferenças significativas entre as estações estudadas. Apesar da direção
mais freqüente ser de NE, os ventos com maior intensidade são os ventos provenientes de S-
SW-W. A maior variabilidade direcional dos ventos foi registrada em Rio Grande, causada
provavelmente por sua posição bem mais meridional em relação às outras estações ( Imbé e
Torres no litoral norte) e sua situação em território plano, aberto, longe de qualquer efeito
relacionado à topografia (Tomazelli, 1993).
De forma semelhante, na região sul entre Rio Grande e Chuí, que abrange a área
do presente estudo, existe uma predominância de ventos provindos do quadrante NE nos
meses de setembro a fevereiro, e dos provenientes de SW de abril a agosto (Godolphim,
1976). Para esta região, ventos do setor SW-S-SE estão associados a eventos de
tempestade, principalmente nos meses de inverno, e são importantes por sua intensidade
(Delaney, 1965; Herz, 1977; Calliari, 1980).

2.3 - MARÉS, ONDAS E CORRENTES

Na área de estudo, as marés astronômicas são do tipo diurno, com uma amplitude
média de 0,47 metros devido à proximidade de um ponto anfidrômico regional (Herz, 1977), e
também a uma configuração da linha de costa praticamente retilínea, aberta, sem
reentrâncias e irregularidades que poderiam amplificar, por efeitos de ressonância ou
convergência, a amplitude dessas marés (Tomazelli & Villwock, 1992).
Desta forma, as principais variações do nível de água na costa são determinadas
por agentes meteorológicos como ventos e pressão atmosférica. Estas variações são
conhecidas como “ maré de tempestade” (Villwock & Tomazelli, 1995; Calliari et al., 1996).
De acordo com os estudos de Calliari et al. (1996), Calliari & Klein, (1995) e Tozzi
(1995), a ocorrência de marés meteorológicas associadas aos equinócios (maré de equinócio)
são responsáveis pelas maiores variações morfológicas no perfil praial na costa sul do Brasil,
entre o Cassino e o Chuí. Tozzi (1995) salienta que a posição do ciclone extratropical sobre o
mar é determinante na geração de ondulações ou vagas, como também no empilhamento de
água sobre a costa.
O agente hidrodinâmico mais relevante na costa do Rio Grande do Sul são as
ondas (Tomazelli & Villwock, 1992). As praias da área de estudo ficam mais expostas à ação
das ondas devido ao seu caráter aberto, sendo por elas diretamente influenciadas.
Dados de ondas registrados por Wainer (1963) e posteriormente aplicados por
Motta (1967) para a região da desembocadura da Laguna de Tramandaí, e por Motta (1969)
7

para a desembocadura da Lagoa dos Patos, a uma profundidade de 20 m, no intervalo de um


ano (1962-1963), foram aplicados para diferentes regiões da costa do Rio Grande do Sul.
Segundo as “Sea and Swell Charts” U.S. Hidrographic Office (1943, apud Motta, 1969), o
clima de ondas para águas profundas é semelhante para toda a costa do Rio Grande do Sul.
Os resultados demonstraram que as ondas de maior energia provêm do quadrante sul. As
ondulações provêm de SE, enquanto as vagas provêm do quadrante E-NE. As ondas de
maior altura, maior energia, menor esbeltez e, consequentemente, de maior poder de
transporte são de SE; o período significativo de maior freqüência é de 9 segundos; a altura
significativa mais freqüente é de 1,5m; a altura máxima de recorrência anual é de 3,5m; a
altura máxima de 7m tem um período de recorrência de 30 anos; não existem variações
sazonais apreciáveis nas características significativas das ondas; as ressacas ocorrem no
período do outono e inverno e são constituídas por ondulações; as ondas mais altas são
também, em geral mais longas; contudo a ocorrência de períodos significativos superiores a
15 segundos é rara e a ausência simultânea de vagas e ondulações, ou seja, calmaria, é
muito rara (Motta,1969).
Coli (1994), analisando dados das alturas de ondas, ao largo da Plataforma
Continental do Rio Grande do Sul, registrou as maiores médias de altura de onda durante o
inverno; no outono e primavera, os valores apresentam um padrão transicional e, no verão,
foram registradas as menores alturas de ondas. Os valores de altura média mais expressivos
ao longo do ano foram registrados para a direção SW, decrescendo para as direções S, W e
N.
Para a região entre Rio Grande e Chuí, Calliari & Klein (1993) registraram dados
de altura e período de onda em nove pontos de amostragem, através de observação visual,
por um período de um ano. As medidas anuais de altura variaram entre 0,64m e 1,02m,
registradas para a localidade da Querência e Farol do Albardão, respectivamente. Os
períodos médios variaram entre 7,5 s e 10,5 s, registrados na praia do Hermenegildo.
O principal tipo de corrente atuante na dinâmica costeira da área de estudo são as
correntes de deriva litorânea (Motta, 1969; Alvarez et al., 1981; Tomazelli & Villwock, 1992;
Villwock & Tomazelli, 1995). Os estudos efetuados por estes autores demonstram que a
deriva litorânea de sedimentos predominante ocorre de sul para norte, com um transporte
secundário em direção ao sul.
8

3 - METODOLOGIA

Na busca dos objetivos propostos, desenvolveu-se o roteiro metodológico


apresentado abaixo.
Foram escolhidas para monitoramento as três áreas mais representativas dos
diferentes estágios de ação antrópica da área em estudo: estações I,II,III (Figura 1).
Estação I - Terminal turístico da praia do Cassino (32o 12’ 00’’S / 52o 10’ 00’’ W).
Esta estação caracteriza-se pela presença de um campo de dunas livres em estágio
avançado de interferência antrópica (florestamento de Acácia, pastoreio e retirada de areia).
Estação II - Farol Sarita (33° 12’ 28” S / 52° 42’ 15”W). Nesta estação, é também
marcante a presença de um campo de dunas livres com interferência antrópica (florestamento
de Pinnus) .
Estação III - Farol do Albardão (33o 21’ 43” S / 52o 52’ 72’’W). Nesta estação, o
campo de dunas livres apresenta o mais baixo grau de interferência antrópica.
No monitoramento das dunas foram avaliados os seguintes parâmetros: tipos de
dunas, distância em relação à linha de praia, sentido de migração e altura média.
Para a detecção tridimensional da variabilidade da forma e volume das dunas
estudadas, confeccionou-se uma malha topo/altimétrica através de uma série de perfis
longitudinais, em uma mesma duna, utilizando régua, estádia, nível, bússola e trena.
Nas Estações I ,II e III, foram coletadas amostras de areia das superfícies da
praia, berma, e da duna, seguindo a orientação de um perfil transversal à praia, sendo
reservadas quotas de 50g para a determinação da granulometria média dos sedimentos.
Na Estação III, procurou-se rastrear a tendência de crescimento e deslocamento
das dunas pela fixação de uma série de marcos de madeira, segundo uma linha perpendicular
à crista da duna, acompanhando a direção predominante de migração eólica na região (NE-
SW).
As informações meteorológicas foram cedidas pelo 8o Distrito de Meteorologia de
Porto Alegre (8o DISME) com dados referentes às estações de Rio Grande e Santa Vitória do
Palmar, no período 1976-1996. As informações foram fornecidas como dados agrupados em
médias diárias e mensais.
No processamento estatístico, relacionado à aplicação da fórmula empírica
utilizada por Fryberger & Dean (1979), para o cálculo do potencial de deriva de areia, foi
utilizado o programa Excel .
O cálculo do potencial de deriva de areia foi efetuado utilizando-se a metodologia
desenvolvida por Fryberger & Dean (1979), descrita em detalhe no capítulo 4.2.
9

4 - RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1- REGIME ATUAL DE VENTOS

Tentando buscar maiores informações sobre o regime atual de ventos, na área de


estudo, foram analisados dados de duas estações meteorológicas, as quais fazem parte da
rede internacional de estações de coleta de dados de superfície da OMM (Organização
Meteorológica Mundial), em convênio firmado entre o Distrito de Meteorologia (8o DISME), a
Fundação Universidade do Rio Grande e a Prefeitura de Santa Vitória do Palmar. Os dados
superficiais de ventos registrados, não estão sujeitos a interferências, visto que ambas
estações encontram-se localizadas sobre uma planície arenosa aberta e livres de qualquer
obstáculo. Os dados foram registrados a 15 km da praia e as estações encontram-se
separadas geograficamente por 220km.
Os dados disponíveis possibilitaram estabelecer uma série confiável de 21 anos
de informação, que compreende o período de janeiro de 1976 a dezembro de 1996. Foram
analisados os dados de velocidade (m/s) e direção de proveniência (8 setores direcionais) dos
ventos superficiais. Para obter-se uma resposta consistente do registro de ventos foi
necessário agrupar os dados em médias mensais, em razão dos baixos valores encontrados
nos registros e a um número relativo de dados incompletos. Os valores encontrados para a
região de estudo ficaram, na sua maioria, abaixo do valor significativo de 5m/s, velocidade
mínima convencionalmente aceita para manter a areia em movimento.
Assim, foi possível confeccionar uma tabela que apresenta, de forma resumida, os
dados de freqüência percentual da direção dos ventos e velocidade média. Os valores de
direção e velocidade foram agrupados em três classes, (0 - 5; 5,1 - 8; > 8) chamadas de
intervalos de velocidade. Para uma melhor interpretação, os dados referentes à freqüência
total para cada direção foram representados sob a forma de histogramas ( Figura 4 ).
Os dados apresentados na Tabela 1 mostram que, em ambas as estações
meteorológicas, o vento que provém da direção NE é o de maior freqüência e também o mais
intenso, sendo mais importante nos meses de primavera e verão. Secundariamente são
também importantes, na ordem, os ventos de SW, nos meses de outono e inverno e SE nos
meses de inverno e primavera. Os ventos de N mostram-se raros em Sta. Vitória do Palmar
(0.4%), enquanto que em Rio Grande são mais freqüentes (6.4%). O percentual de ocorrência
de vento na direção NE na estação Rio grande é de (56,4%) sendo superior ao registrado
para a estação Santa Vitória do Palmar (52,4%). Os percentuais de SW e SE (19,8% e
15,9%), na estação de Sta. Vitória do Palmar, são bem mais elevados do que na estação de
Rio Grande (16,4% e 7,6%).
10

A
Direção dos ventos superficiais, 1976-1996,
Estação Rio Grande
dezembro
novembro
60 outubro
50 setembro
40 agosto
julho
% 30 junho
20 maio
10 abril
março
0 fevereiro
N NE E SE S SW W NW
janeiro

B
Direção dos ventos superficiais, 1976-1996 Estação
Santa Vitória do Palmar

dezembro
60 novembro
outubro
50 setembro
40 agosto
julho
% 30 junho
20 maio
abril
10 março
fevereiro
0
N NE E SE S SW W NW janeiro

FIGURA 4 - Histogramas das freqüências de ocorrência dos ventos,


para as diferentes direções de proveniência, nas estações de Rio
Grande (A) e Santa Vitória do Palmar (B).

As diferenças encontradas nos percentuais de vento, entre as estações, foram


relacionadas com os percentuais de velocidade, calculados para as diferentes classes e
diferentes meses do ano. Com isso foi possível verificar que os ventos provenientes da
direção NE, na estação Rio Grande, são mais freqüentes, mas apresentam um percentual
baixo de velocidade para o transporte de areia. Na Estação Santa Vitória do Palmar, os
resultados encontrados apresentaram o contrário. Ocorre um percentual baixo de freqüência,
mas um elevado valor percentual de velocidade para transporte de areia.
11

As variações sazonais identificadas nas tabelas (Tabela 2 e 3) podem ser melhor


observadas através dos resultados encontrados pelo somatório dos ventos favoráveis à
migração normal das dunas (NW, N e NE), e o somatório dos ventos contrários à migração
(SE, S e SW). Em se considerando o comportamento da curva de variação da velocidade
média dos ventos mensais, observa-se que estas aproximam-se nos meses de outono-
inverno e afastam-se durante a primavera-verão (Figuras 5 e 6). A análise das figuras
permite constatar que a velocidade média dos ventos favoráveis à migração é menor que a
dos ventos contrários, ao longo do ano. Todavia, a migração resultante para SW ocorre pela
maior freqüência dos ventos favoráveis à migração. Observa-se também que ocorrem
períodos de estabilidade (sem migração) no final do Outono e inicio do Inverno. Esta
estabilidade no ambiente ocorre no momento em que as curvas representativas dos
somatórios dos ventos favoráveis e contrários se cruzam.

TABELA 1 - Freqüência percentual dos ventos (direção e velocidade),


registrados nas estações meteorológicas de Rio Grande e Santa Vitória do
Palmar, no período de 1976-1996.

DIREÇÃO N NE E SE S SW W NW
0-5 3,6 39,6 2,4 6,8 3,2 8,4 2,8 1,0
5.1 – 8 2,8 16,8 0,4 2,8 1,2 8,0 0,4 0,0
>8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Total 6,4 56,4 2,8 9,6 4,4 16,4 3,2 1,0

MESES Jan Fev Mar abr Mai Jun Jul ago Set Out nov dez
0–5 76,2 66,7 81,0 81,0 85,7 85,7 76,2 81,0 52,4 71,4 66,7 57,1
5.1 – 8 23,8 33,3 19,0 19,0 14,3 14,3 23,8 19,0 47,6 28,6 33,3 42,9
>8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Dir. Predom. NE NE NE NE NE SW SW NE NE NE NE NE

DIREÇÃO N NE E SE S SW W NW
0–5 0,4 44,4 2,8 11,9 4,4 18,7 1,6 1,6
5.1 – 8 0,0 7,9 0,8 4,0 0,4 1,2 0,0 0,0
>8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Total 0,4 52,4 3,6 15,9 4,8 19,8 1,6 1,6

MESES Jan Fev Mar abr Mai Jun Jul ago Set Out Nov dez
0–5 23,8 33,3 52,4 61,9 71,4 57,1 52,4 47,6 9,5 4,8 9,5 28,6
5.1 – 8 71,4 66,7 47,6 38,1 28,6 42,9 47,6 52,4 90,5 85,7 71,4 61,9
>8 4,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 9,5 19,0 9,5
Dir. Predom. NE NE NE NE SW SW SW NE NE SE NE NE
12

TABELA 2 - Freqüência percentual, ao longo dos meses do ano, das


direções dos ventos superficiais da classe de velocidades (>5) na
estação de Rio Grande. Período 1976-1996.

N NE E SE S SW W NW
Janeiro 0,0 8,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Fevereiro 1,2 6,1 0,0 2,4 1,2 0,0 0,0 1,2
Março 1,2 3,7 1,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Abril 1,2 3,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Maio 0,0 2,4 0,0 0,0 0,0 2,4 0,0 0,0
Junho 1,2 0,0 4,8 0,0 0,0 1,2 2,4 0,0
Julho 1,2 1,2 0,0 0,0 2,4 1,2 0,0 0,0
Agosto 1,2 1,2 0,0 1,2 0,0 2,4 0,0 0,0
Setembro 0,0 7,3 0,0 3,7 1,2 0,0 0,0 0,0
Outubro 0,0 6,1 0,0 2,4 0,0 0,0 0,0 0,0
Novembro 1,2 8,5 0,0 1,2 0,0 0,0 0,0 0,0
Dezembro 0,0 11,0 0,0 1,2 0,0 0,0 0,0 0,0
Somatório 8,5 59,8 6,2 12,2 4,9 7,3 2,4 1,2

Frequências e Velocidade dos Ventos Favoráveis e Opostos a Migração


de Dunas, de 1976 a 1996
Rio Grande

15 9,0

10
7,0 m/s
%

0 5,0
junho

julho

outubro
abril
fevereiro

novembro
janeiro

agosto
maio

setembro
março

dezembro

Velocidade Média Favoraáveis (NW+N+NE) Opostos (SE+S+SW)

FIGURA 5 - Curvas representativas das variações de freqüência e velocidade


dos ventos favoráveis à migração das dunas (NW +N +NE) e dos ventos
opostos a esta migração (SE +S +SW), ao longo dos meses do ano.
13

TABELA 3 - Freqüência percentual, ao longo dos meses do ano, das


direções dos ventos superficiais da classe de velocidades (>5) na estação
de Santa Vitória do Palmar. Período 1976-1996.

N NE E SE S SW W NW
Janeiro 0,0 7,7 0,0 2,6 0,0 0,0 0,0 0,0
Fevereiro 0,0 7,7 0,0 5,1 0,0 0,0 0,0 0,0
Março 0,0 2,6 0,0 2,6 0,0 2,6 0,0 0,0
Abril 0,0 2,6 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Maio 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Junho 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Julho 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2,6 0,0 0,0
Agosto 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Setembro 0,0 5,1 0,0 2,6 2,6 0,0 0,0 0,0
Outubro 0,0 2,6 5,1 7,7 0,0 0,0 0,0 0,0
Novembro 0,0 7,7 0,0 7,7 0,0 5,1 0,0 0,0
Dezembro 0,0 15,4 0,0 2,6 0,0 0,0 0,0 0,0
Somatório 0,0 51,3 5,1 30,8 2,6 10,3 0,0 0,0

Frequência e velocidade dos Ventos Favoráveis e Opostos à


Migração de Dunas, Santa Vitória do Palmar 1976-1996.

15 9,0

10
7,0 m/s
%

0 5,0
outubro
junho
fevereiro

julho

novembro
abril
janeiro

agosto

setembro
maio

dezembro
março

Velocidade Favoráveis (NW+N+NE) Opostos (SW+S+SE)

FIGURA 6 - Curvas representativas das variações de freqüência e velocidade


dos ventos favoráveis à migração das dunas (NW +N +NE) e dos ventos
opostos a esta migração (SE +S +SW), ao longo dos meses do ano.
14

4.2 - O POTENCIAL DE DERIVA DE AREIA PELO VENTO

Neste capítulo, será avaliada a quantidade de areia que o vento potencialmente


pode transportar. Como o transporte de areia aumenta em relação cúbica com a velocidade
do vento, os ventos mais fortes apresentam uma maior capacidade de transporte (Fryberger &
Dean,1979).
Relacionando transporte de areia e velocidade do vento Bagnold (1941),
Fryberger & Dean (1979) e Tomazelli (1990) correlacionaram a velocidade necessária para
iniciar o movimento de areia, ao nível do solo (velocidade limiar), com a velocidade a 10m de
altura, que corresponde à velocidade do vento medida nas estações meteorológicas.
Segundo estes autores, a velocidade mínima para o início do transporte de areia
pelo vento está relacionada ao tamanho médio do grão. Para uma areia média na face de
praia e fina no pós-praia, constituída de grãos de quartzo, os autores recomendam o uso de
uma velocidade de 5m/s. Uma vez que o tamanho médio dos grãos e a composição
mineralógica das areias de praia e dunas da área de estudo são similares, optou-se pelo uso
desta mesma velocidade ( Tabelas 4,5 e 6).

Tabela 4 - Análise granulométrica dos sedimentos superficiais da localidade do Cassino –


Estação I.
Percentual % Tamanho de Grão
0,250 mm 0,125 mm 0,062 mm
Praia 19,53 63,07 17,34
Berma 16,72 67,56 15,70
Pós- praia 6,63 64,22 29,13
Duna 2,92 78,91 18,16

Tabela 5 - Análise granulométrica dos sedimentos superficiais da localidade do Farol do Sarita


– Estação II
Percentual % Tamanho de Grão
0,250 mm 0,125 mm 0,062 mm
Praia 14,09 81,89 3,99
Berma 6,57 83,95 9,47
Pós- praia 1,30 82,68 16,01
Duna 0,90 76,25 23,74
15

Tabela 6 - Análise granulométrica dos sedimentos superficiais da localidade do Farol do


Albardão – Estação III.
Percentual % Tamanho de Grão
2,00mm 1,00mm 0,500mm 0,250mm 0,125mm 0,062mm
Praia 0,19 2,14 38,70 57,79 0,98
Berma 0,63 1,07 3,11 27,07 67,96 0,14
Pós-praia 36,90 62,53 0,56
Duna 30,37 68,32 1,30

Ao desenvolver um método para o cálculo do potencial de deriva de areia pelo


vento, Fryberger & Dean (1979) optou pela equação (1) atribuída a Kawamura e Lettau (apud
Fryberger & Dean,1979), que transformada e simplificada pode ser expressa da seguinte
forma:
Q α v ( v - vt) • t (1)
Onde:
Q = quantidade proporcional de areia transportada pelo vento em um determinado tempo t.
Seu resultado é expresso em unidades vetoriais (UV). É equivalente ao potencial de deriva de
areia (PD).
V = velocidade média do vento a 10 m de altura (altura padrão de registro nas estações
meteorológicas).
Vt = velocidade limite de impacto medida a 10 m de altura (velocidade mínima para manter a
areia em saltação).
t = tempo em que o vento soprou na direção considerada (valor percentual dos registros das
freqüências de direção dos ventos, registradas nas estações meteorológicas).

O resultado numérico obtido através da equação (1) expressa a quantidade


relativa de areia potencialmente transportada pelo vento durante um tempo ( t ) em que o
vento soprou (Fryberger & Dean, 1979). Este autor denominou de potencial de deriva de
areia (PD), o valor encontrado.
Tomazelli (1990) descreve que as unidades de PD são consideradas como
unidades vetoriais (UV), visto que a velocidade do vento é tratada como um vetor. O PD de
uma estação meteorológica corresponde à soma dos potenciais de deriva para cada direção
de proveniência do vento.
Segundo Fryberger & Dean (1979), os valores encontrados na equação acima não
são necessariamente proporcionais à deriva real, uma vez que as características locais
16

inerentes à superfície do terreno sobre o qual o vento sopra podem afetar significativamente a
quantidade de areia transportada (variações topográficas da superfície, grau de umidade,
tamanho de grãos, presença de vegetação, etc...).
Os resultados representam o grau de energia disponível dos ventos na área de
estudo, podendo apresentar uma maior ou menor competência no transporte de areia em
função das características da superfície do terreno citadas acima.
Buscou-se aplicar a metodologia descrita por Fryberger & Dean (1979) de maneira
adequada à realidade deste trabalho, para que não houvessem distorções nos valores
encontrados. Isto se deve ao fato de que a metodologia originalmente proposta foi utilizada
numa região onde os ventos sopram com velocidades mais altas.
As diversas etapas metodológicas, para obtenção do cálculo do potencial de
deriva de cada estação, serão descritas de maneira detalhada a seguir.
Desenvolveu-se uma tabela que apresenta três classes de velocidade e oito
setores direcionais de vento com valores percentuais da ocorrência da direção do vento para
cada classe (Tabela 1, pg. 11).
Com o resultado obtido, foram criadas duas novas tabelas que apresentam
valores percentuais da ocorrência dos ventos (direção) com velocidade acima de 5m/s para
os oito setores direcionais dos ventos das estações (Tabelas 2 e 3, pg. 12). Com base na
fórmula para o cálculo do potencial de deriva de areia, Fryberger & Dean (1979) estabelece
que o valor atribuído à velocidade, para base de cálculo na fórmula, é retirado do ponto médio
de cada classe, (limite inferior + limite superior da classe dividido por dois). Com isso, o autor
não utiliza valores reais para o cálculo do potencial de deriva de areia, mas um valor
ponderado de um intervalo representativo de uma classe de velocidade. A partir daí, foi
necessário estabelecer um critério para aplicar a metodologia do autor, visto que os valores
fornecidos por ambas as estações, na sua maioria, ficaram abaixo da velocidade limite
registrada a 10m de altura, necessária para manter a areia em saltação (Bagnold, 1941).
Baseado nas características granulométricas da área de estudo, utilizou-se o valor de 5m/s
como valor mínimo da velocidade para manter os grãos em movimento. Na fórmula utilizada,
este valor é representado por Vt.
Através do critério estabelecido, apenas uma classe dos intervalos de velocidade
pôde ser considerada (5,1 – 8,0 m/s), sendo o valor de V estabelecido como 6,5 m/s. Os
outros dois intervalos, se considerados, apresentariam valores negativos (não seriam
representativos no cálculo do potencial de deriva de areia pelo vento). Com o valor do ponto
médio da classe calculado (V) foi possível determinar o Fator ponderado (Tabela 7), através
do qual pode-se calcular o valor de Q para cada estação.
17

Tabela 7 - Determinação do fator ponderado.


Classes Ponto Médio da Classe Fator ponderado
Velocidade M/s Velocidade M/S V² (V – VT) V². (V – VT)/100
5,1 – 8,0 6,5 42,9 1,5 0,63

Este Q expressa a quantidade relativa de areia potencialmente transportada pelo


vento durante um intervalo de tempo t ; o tempo aí referido pode ser retirado das Tabelas 2 e
3, usando-se o valor total encontrado, apresentado em percentual para cada direção. O valor
de cada direção multiplicado pelo fator ponderado determinará o resultado do potencial
apenas da direção em que o vento soprou; a soma das mesmas fornecerá o resultado total do
potencial de deriva de cada estação.
O valor mensal e anual, do potencial de deriva de areia e sua resultante, estão
representados na Tabela 8, indicando as direções predominantes dos ventos e a direção da
deriva resultante.
Segundo Tomazelli (1990), pode-se determinar um vetor resultante a partir dos
valores obtidos em unidades vetoriais do cálculo do potencial de deriva de areia e da soma de
diferentes direções calculadas vetorialmente. A direção deste vetor é chamada de direção de
deriva resultante (DDR). Ela expressa a direção segundo a qual a areia tende a derivar sob a
influência de ventos provenientes de várias direções. A magnitude deste vetor, designada de
potencial de deriva resultante (PDR), expressa em unidades vetoriais o potencial de
transporte de areia resultante quando ventos de várias direções interagem. A razão entre o
potencial de deriva resultante (PDR) e o potencial de deriva (PD) de uma estação é, portanto,
um índice da variabilidade direcional do vento. Onde o vento provém normalmente da mesma
direção, a razão PDR/PD se aproxima da unidade. Ao contrário, onde o vento provém de
várias direções, a razão PDR/PD se aproxima de zero, pois o potencial de deriva resultante é
baixo. A Figura 7 de uma “rosa de areia” representa graficamente os dados do potencial de
deriva de areia anual para as Estações Rio Grande e Santa Vitória o Palmar.
A análise dos dados, como resultado da metodologia aplicada, permitiu
caracterizar o regime de ventos do extremo sul do Rio Grande do Sul, como agente
transportador de areia.
Os dados obtidos do potencial de deriva de areia estão representados de forma
simples e resumida nas Tabelas 9 e 10, que representam as estações de Rio Grande e Santa
Vitória do Palmar. Ambas apresentam valor mensal e anual do potencial para os oitos setores
direcionais dos ventos, compreendendo um período de observação de vinte e um anos. A
análise do gráfico da Figura 8 demonstra que em Rio Grande a variação mensal do PD é
18

pouco significativa. Por sua vez, o gráfico da Figura 9 mostra uma alta variabilidade em Santa
Vitória do Palmar.
Na estação Rio Grande, observa-se um PD baixo nos meses de outono (9,3 uv) e
inverno (15,3 uv). Contudo, estes valores são mais altos nos meses de primavera (20,0 uv) e
verão (16,9 uv). A resolução vetorial destes valores mostra uma DDR para SW (Figura 7A).
Na estação Santa Vitória do Palmar, os valores de PD apresentam o mesmo
padrão da estação Rio Grande. O PD é mais baixo nos meses de outono (1,6 uv) e inverno
(8,0 uv), e mais alto na primavera (33,9 uv) e verão (19,4uv). A resultante vetorial indica uma
DDR também para SW (Figura 7B).
A maior diferença observada entre as DDR de Rio Grande e Santa Vitoria do
Palmar deve-se a maior importância relativa do vento SE na primavera (ver Tabela 8).
As mesmas DDR (direção) foram obtidas para as estações Torres e Imbé, no
litoral norte do estado, e para a estação Rio Grande por Tomazelli (1993).
Os valores nas razões PDR/PD de 0,71 para Rio Grande e 0,69 para Santa
Vitória do Palmar, representam índices elevados em função da pequena variabilidade
direcional do vento ( Figura 7).
Com base nos resultados do potencial de deriva de areia encontrados neste
trabalho (Rio Grande = 61,5 uv e Santa Vitória do Palmar = 63,0 uv) e na classificação
proposta por Fryberger & Dean (1979) caracterizou-se o regime de ventos, no extremo
meridional do Rio Grande do Sul, como de baixa energia (PD < 200UV). Esta interpretação
diverge daquela apresentada por Tomazelli (1993), onde o autor interpreta um regime de
ventos de alta energia para a costa do Rio Grande do Sul. Esta divergência está sendo
atribuida a um diferente tratamento estatístico de dados e a diferenças entre as séries
históricas de dados de ventos utilizadas.
19

N A- RIO GRANDE

0 20 UV

DDR

PD = 61,5 UV
PDR = 43,7 UV
PDR/PD = 0,71

B - SANTA VITÓRIA DO PALMAR

DDR

PD = 63,0 UV
PDR = 44,0 UV
PDR/PD = 0,69

FIGURA 7 – Diagrama “rosa de areia” do potencial de deriva anual, calculados a partir


dos dados da estação Rio Grande e Santa Vitória do Palmar. Período 1976-1996.
20

TABELA 8 - Potencial de deriva mensal e anual, direção predominante, potencial de deriva


resultante e direção da deriva resultante nas estações Rio Grande e Santa Vitória do Palmar,
período 1976-1996.

RIO GRANDE PD(uv) DP PDR(uv) DDR SANTA VITÓRIA PD(uv) DP PDR(uv) DDR
DO PALMAR
Mês Mês
Janeiro 5,4 NE 3,1 SW Janeiro 6,5 NE 4,5 SW

Fevereiro 7,7 NE 5,7 SW Fevereiro 8,1 NE 5,7 SW

Março 3,8 NE 2,9 SW Março 4,8 SE 3,3 NW

Abril 3,1 NE 2,2 SW Abril 1,6 NE 1,1 SW

Maio 3,1 NE 2,2 SW Maio 0 ---- 0 ----

Junho 3,1 NE 2,2 SW Junho 0 ---- 0 ----

Julho 3,8 S 2,9 N Julho 1,6 SW 1,1 NE

Agosto 3,8 SW 2,9 NE Agosto 0 ---- 0 ----

Setembro 7,7 NE 5,7 SW Setembro 6,4 NE 4,4 SW

Outubro 5,4 NE 3,1 SW Outubro 9,7 SE 6,8 NW

Novembro 6,9 NE 5,1 SW Novembro 12,9 SE 9,1 NW

Dezembro 7,7 NE 5,7 SW Dezembro 11,3 NE 8,0 SW

Potencial Anual 61,5 NE 43,7 SW Potencial Anual 63,0 NE 44,0 SW

Razão PDR/PD 0,71 uv Razão PDR/PD 0,69 uv

*(PD) Potencial de deriva de areia, (DP) Direção predominante, (PDR) Potencial da deriva
resultante, (DDR) Direção da deriva resultante, (uv) Unidade vetorial.
21

Variação Mensal do Potencial de Deriva de Areia, de 1976 a 1996


Rio Grande

NW

SW 8,0 - 10,0
S 6,0 - 8,0
SE 4,0 - 6,0

E 2,0 - 4,0

NE
PD
N
Fevereiro

Junho

Outubro
Julho
Janeiro

Maio
Abril

Agosto

Novembro
Março

Setembro

Dezembro
FIGURA 8 - Potencial eólico de deriva de areia pelo vento em Rio Grande.

TABELA 9 - Potencial de deriva de areia mensal na estação de Rio Grande, período


1976-1996.
Rio Grande
Somatório
N NE E SE S SW W NW
Mensal
Janeiro 0,0 5,4 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 5,4
Fevereiro 0,8 3,8 0,0 1,5 0,8 0,0 0,0 0,8 7,7
Março 0,8 2,3 0,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 3,8
Abril 0,8 2,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 3,1
Maio 0,0 1,5 0,0 0,0 0,0 1,5 0,0 0,0 3,1
Junho 0,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,8 1,5 0,0 3,1
Julho 0,8 0,8 0,0 0,0 1,5 0,8 0,0 0,0 3,8
Agosto 0,8 0,8 0,0 0,8 0,0 1,5 0,0 0,0 3,8
Setembro 0,0 4,6 0,0 2,3 0,8 0,0 0,0 0,0 7,7
Outubro 0,0 3,8 0,0 1,5 0,0 0,0 0,0 0,0 5,4
Novembro 0,8 5,4 0,0 0,8 0,0 0,0 0,0 0,0 6,9
Dezembro 0,0 6,9 0,0 0,8 0,0 0,0 0,0 0,0 7,7
Somatório 5,4 37,6 0,8 7,7 3,1 4,6 1,5 0,8 61,5
22

Variação Mensal do Potencial de Deriva de Areia, de 1976 a 1996


Santa Vitória do Palmar

NW

W
8,0-10,0
SW 6,0-8,0

S 4,0-6,0
2,0-4,0
SE

E
PD
NE

N
Fevereiro

Junho

Julho

Outubro
Janeiro

Maio
Abril
Março

Agosto

Novembro
Setembro

Dezembro
FIGURA 9 - Potencial eólico de deriva de areia pelo vento em Santa Vitória do
Palmar

TABELA 10 - Potencial de deriva de areia mensal na estação Santa Vitória do Palmar,


período 1976-1996.

Santa Vitória do Palmar


N NE E SE S SW W NW Somatório
Mensal
Janeiro 0,0 4,8 0,0 1,6 0,0 0,0 0,0 0,0 6,5
Fevereiro 0,0 4,8 0,0 3,2 0,0 0,0 0,0 0,0 8,1
Março 0,0 1,6 0,0 1,6 0,0 1,6 0,0 0,0 4,8
Abril 0,0 1,6 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,6
Maio 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Junho 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Julho 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,6 0,0 0,0 1,6
Agosto 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Setembro 0,0 3,2 0,0 1,6 1,6 0,0 0,0 0,0 6,4
Outubro 0,0 1,6 3,2 4,8 0,0 0,0 0,0 0,0 9,7
Novembro 0,0 4,8 0,0 4,8 0,0 3,2 0,0 0,0 12,9
Dezembro 0,0 9,7 0,0 1,6 0,0 0,0 0,0 0,0 11,3
Somatório 0,0 32,3 3,2 19,4 1,6 6,4 0,0 0,0 63,0
23

4.3 - TAXA DE MIGRAÇÃO DAS DUNAS EÓLICAS

Para quantificar a taxa de migração das dunas costeira fixaram-se estacas de


madeira no terreno, e foram monitoradas as dunas selecionadas nas três estações de
trabalho, durante um período de dez meses (janeiro – outubro/ 1997). Na estação III, foram
realizados quatro perfis topográficos transversais à crista da duna monitorada.
O estudo foi realizado nas localidades do Balneário Cassino (Estação I), Farol do
Sarita (Estação II) e Farol do Albardão (Estação III) (Figura 1). A metodologia foi adaptada de
Tomazelli (1990).
A praia que representa a Estação I apresenta baixa declividade (1o a 2o),
mobilidades marcantes no pós-praia, dunas embrionárias e características morfodinâmicas
dissipativas (Calliari & Klein, 1993; Tozzi, 1995). As mudanças morfológicas registradas no
pós-praia e a formação de dunas embrionárias são induzidas principalmente pela ação eólica
(Siegle, 1996).
A granulometria desta praia apresenta influência lagunar, com sedimentos finos
aportados pela desembocadura da Barra do Rio Grande e depositados na plataforma interna
(Villwock & Martins, 1972; Calliari & Fachin, 1993) (ver Tabela 4).
Durante o tempo de observação, nesta estação, foi possível acompanhar o
avanço do campo de dunas sobre um campo de pastoreio. Esta região, por ser parte
integrante do balneário, está sob a influência das atividades humanas.
As dunas presentes nesta região estão limitadas, ao norte, pela Barra do Rio
Grande e, ao sul, pelo Balneário Cassino.
Os dados de campo envolveram o monitoramento de uma duna barcana com as
seguintes características:
Localização: 32º 10’ 05’’S 52º 10’ 00’’ W
Distância em relação à linha de praia: 200m
Sentido de migração: SW

Os parâmetros descritos não apresentaram mudanças significativas ao longo de


10 meses de monitoramento da duna. A partir de um marco fixado no primeiro segmento de
uma cerca de arame, orientada no sentido de migração da duna e estendendo-se
perpendicularmente à linha de praia, foi possível acompanhar o avanço da duna sobre a
cerca de arame.
Foram observados e registrados avanços mais significativos nos meses de verão,
(dezembro a fevereiro), onde a duna alcançou seus maiores valores de migração, decorrentes
da ação do vento NE. Um período de estabilidade foi observado no final do outono e início do
24

inverno. Não foi observado um movimento contrário à migração normal da duna pela ação
dos ventos de SW e W. A duna voltou a migrar com maior velocidade, na primavera, pela
ação dos ventos NE e SE. Os valores registrados em campo mostraram, ao final do
monitoramento, uma migração total de 14m para SW, em razão da ação dominante dos
ventos provenientes de NE, correspondendo a uma média de 1,4m/mês. Este comportamento
migratório da duna, ainda que restrito a uma observação de apenas 10 meses, é concordante
com a direção de deriva resultante (DDR) determinada para a estação Rio Grande, com base
em 21 anos de dados de vento (ver cap. 4.2).
A Estação II localiza-se próximo ao Farol Sarita e corresponde a um campo
eólico de pequenas dunas barcanóides, das quais uma foi monitorada.
Segundo Calliari & Klein (1993), as praias desta região possuem características
morfodinâmicas intermediárias, com altos índices de mobilidade da linha de praia e do pós-
praia e grande variação sazonal no volume de sedimentos.
Esta estação de trabalho está livre de qualquer obstáculo que possa vir a
influenciar os processos naturais de alimentação de areia e ação do vento sobre a duna em
observação.
Quando iniciou-se o trabalho, a duna apresentava a seguintes caracteristicas:
Localização: 32o 37’ 83”S 52o 25’ 49”W
Distância em relação à linha de praia : 1000 m
Sentido de migração : SW

Foram realizadas medidas mensais no avanço da duna sobre as estacas ao longo


do perfil. A análise dos resultados de campo mostra que, o monitoramento direto no terreno,
feito em uma duna barcanóide com uma altura média de 1m, durante um intervalo de tempo
de 10 meses, mostrou que a mesma migrou cerca de 17,30 m no sentido SW,
correspondendo a uma taxa média de 1,7m/mês.
A Estação III localiza-se 20 Km ao sul do Farol do Albardão, e está inserida em
uma região costeira composta por sedimentos bimodais, caracterizados por uma mistura de
areia fina quartzosa mais cascalho e areia biodetríticos (Calliari & Klein, 1993). As maiores
declividades do perfil de praia, registradas por estes autores, são da ordem de ≥5o. Nestas
praias, de caráter morfodinâmico intermediário a reflectivo, um aumento do nível de energia
durante tempestades causa erosão no perfil praial, com a formação de escarpas quase
contínuas de altura variável (0,5 a 1,2 m), localizadas a aproximadamente 50 metros da linha
d’ água (Calliari & Klein, 1993; Klein, 1997).
Calliari et al. (1996), verificaram variações de volume de até 60m3/m nas praias
localizadas ao sul do Farol do Albardão, após um evento de tempestade. Esta região
25

apresenta os sedimentos mais grossos da área de estudo, expressos pelo elevado percentual
da fração areia média (0,250mm) (Tabela 6). Próximo ao Farol do Albardão, junto a um
campo de dunas transversais, foi selecionada uma duna, livre de qualquer interferência. As
variações ocorridas pela movimentação de areia nesta estação foram acompanhadas por um
período de dez meses.

A duna selecionada apresentava as seguintes caracteristicas:


Latitude 33o 21’ 43” S Longitude 52o 52’ 72
Distância em relação à linha de praia: 500 m
Sentido de Migração: SW

Para a realização do monitoramento foi fixada uma série de estacas de madeira


de 1,5 m (Figura 10) próximo à base da duna (onde a presença do lençol freático é
significativa), com um intervalo de 50 m entre cada estaca. Com isso foi possível avaliar o
deslocamento do corpo da duna em todas as direções. Para uma melhor avaliação, foram
também posicionadas estacas de madeira espaçadas de 10 m uma da outra, segundo uma
linha perpendicular à crista da duna, na direção do vento predominante (NE). Com base na
observação do sentido de migração da duna, novas estacas foram colocadas no segmento
final da duna com um intervalo de 2 m.

FIGURA 10 - Fotografia ilustrando o posicionamento de estacas de madeira na face


lateral da duna, com intervalo de 10m. Localidade do Farol do Albardão.
26

Medidas mensais do avanço de areia sobre as estacas foram registradas ao longo


dos 10 meses de observação.
Além dos valores obtidos pelo avanço do lençol de areia sobre as estacas, foi
realizada uma série de perfis transversais à crista da duna, que permitiu a visualização da
duna ao longo do tempo, em relação à retirada e deposição de areia (Figura 11).
No mês de dezembro de 1996, foi realizado o primeiro perfil. Neste, a duna
apresentou sua maior altura (20m) ao longo dos 10 meses de estudo. No inicio do outono
(mês de abril), a realização de um segundo perfil mostrou uma redução de cerca de 2 metros
na altura da duna. No fim do inverno, um terceiro perfil mostrou a duna com sua menor
elevação, pouco mais de 15 m. Durante a primavera foi realizado o último perfil. Este mostrou
que a volta do vento NE resultou em um crescimento significativo da duna.
O monitoramento que acompanhou o avanço da duna, sobre as estacas
orientadas transversalmente a sua crista, mostrou uma migração de 31m para SW, entre os
meses de dezembro/96 e abril/97. Entre os meses de maio/97 a agosto/97, foi observada
uma migração inversa, ou seja a duna foi deslocada para NE em cerca de 12m.
O controle sobre uma série de estacas na extremidade NW da duna, só
apresentou resultados no mês de setembro, quando a presença do vento SE produziu uma
migração de 6m para NW.
O monitoramento direto no terreno mostrou que ao longo de 10 meses a duna
variou sua altura em 5 m e apresentou uma migração total de 19m para SW. Os dados
obtidos em campo confirmam a sazonalidade apresentada nas Tabela 8, com relação ao
potencial de deriva da estação de Santa Vitória do Palmar. O vento SE, presente no final do
inverno/início da primavera, se mostrou responsável pelo avanço da duna em direção a Lagoa
Mangueira. O valor encontrado pelo monitoramento direto no terreno, entre os meses de
maio/97 e agosto/97, estão de acordo com os resultados da direção de deriva resultante
(DDR), calculada para NE a partir dos dados da estação metereológica de Santa Vitória do
Palmar.
27

A
PERFIL - ALBARDÃO - DEZEMBRO - 1996 -

25
13/12/96

20

E 15
L
E
V
A 10
Ç
Ã
m
5

0
1 51 101 151 201 251 301
DISTÂNCIA (m)

B
PERFIL ALBARDÃO - ABRIL - 1997 -

20

23/04/97
18

16

14

E
L 12
E
V 10
A
Ç 8
Ã
O 6

m
4

0
1 51 101 151 201 251 301
DISTÂNCIA (m)
28

C
PERFIL ALBARDÃO - AGOSTO - 1997 -

18

15/08/97
16

14

12
E
L
E 10

V
A 8
Ç
Ã
6
O

m 4

0
1 51 101 151 201 251
DISTÂNCIA (m)

D
PERFIL AL BARDÃO - OUTUBRO - 1997 -

25

21/10/97
20

E
15
L
E
V
A 10
Ç
Ã
O
5
m

0
1 51 101 151 201 251 301
DIS TÂNCIA (m)

FIGURA 11 – Perfis topográficos que registram a variação de altura da duna transversal,


monitorada na localidade do Farol do Albardão, realizados nos meses de dezembro/96 (A),
abril/97 (B), agosto/97 (C) e outubro/97 (D).
29

PERFIS TOPOGRÁFICOS - DUNA TRANSVERSAL -

13/12/96
20
23/04/97
15/08/97
E 21/10/97
L
E 15
V
A
Ç
Ã
O

m 10

5
1 51 101 151 201 251
DISTÂNCIA (m)

FIGURA 12 – Composição dos quatro perfis topográficos apresentados na Figura 11.


30

4.4 - CLASSIFICAÇÃO DAS FEIÇÕES EÓLICAS NA ÁREA DE ESTUDO

Após uma revisão das principais classificações existentes para feições eólicas
(Bagnold, 1941; Bigarella, et al. 1971; Short & Hesp, 1982; Goldsmith, 1985; Arens &
Wieresma, 1994; Tomazelli, 1994), optou-se pela classificação de Tomazelli (1994), pois esta
abrange todas as feições encontradas na área de estudo.
O quadro de classificação proposto pelo autor foi construído a partir das diversas
classificações já existentes, mesclando critérios genéticos e descritivos.

Tabela 11 - Classificação das principais feições eólicas da área de estudo.


(segundo classificação apresentada por Tomazelli ,1994 ).
Dunas Embrionárias
DUNAS VEGETADAS Dunas Frontais
Dunas do Tipo "Nebka"
Barcanas
DUNAS LIVRES Cadeias Barcanoides
Dunas Transversais
LENÇÒIS DE AREIA
FEIÇÕES ASSOCIADAS À
Bacias de Deflação (blow-outs)
DEFLAÇÃO EÓLICA

Dunas Vegetadas

As dunas vegetadas, presentes na área de estudo, são o resultado da interação


entre a carga arenosa disponível na praia, que é carregada pelo vento em direção ao
continente, e a atuação de obstáculos ao transporte eólico relacionados à vegetação costeira.
Muitas vezes, estas dunas, em função da cobertura vegetal ser muito densa,
tornam-se fixas. Estas dunas podem ser subdivididas em três tipos: dunas embrionárias,
frontais e do tipo “Nebka”.
As dunas embrionárias estão presentes no pós-praia, na base das dunas frontais,
e formaram-se pela presença da vegetação que retêm a areia transportada pelo vento. Sua
altura oscila entre 60 e 90 cm.
Estas dunas são importantes no papel de barreira natural contra a ação de
eventos episódicos de tempestade. Portanto, a presença da vegetação fixadora é o aspecto
mais importante ao se considerar a necessidade de preservação das dunas costeiras. A
função da cobertura vegetal, na gênese e estabilidade das dunas costeiras, reside na sua
capacidade de aumentar a rugosidade do terreno, neutralizando assim localmente o
31

transporte (Bernardi et al.1987). Além disso, o sistema radicular e foliar desta vegetação
consolida a estrutura física do substrato, compactando e umidificando o sedimento arenoso
que, na sua ausência, seria remobilizado. Uma das espécies que contribuem para formar as
dunas é o Panicum racemosum, uma gramínea perene, principal colonizadora das dunas
primárias. Outra espécie colonizadora é a Blutaparon portulacoides (Figura 13). As duas
espécies ocorrem na área de estudo. O comportamento dessas espécies, nas dunas
costeiras do sul do Brasil foi estudo por Bernardi et al. (1987).

FIGURA 13 - Dunas embrionárias colonizadas por vegetação rasteira da


espécie fixadora Blutaparon portulacoides, na localidade da praia do Cassino.

As dunas frontais, presentes em alguns setores ao longo da praia, mostram-se


como o primeiro cordão de areia situado em frente à praia e orientado paralelamente à linha
de costa (Figura 14). Junto à área de estudo, estas dunas apresentam-se melhor
caracterizadas na altura do Farolete do Verga, sendo interrompidas pela presença de
sangradouros efêmeros e pela presença de pequenas bacias de deflação. As dunas frontais,
nesta localidade, não ultrapassam a altura de 7m, sendo mais freqüentes alturas médias de
4m.
Muitas vezes, marés de tempestade atingem estas dunas, retirando parte da
carga arenosa e expondo a parte sub-aérea desta vegetação, fragmentando-as e causando
alta mortalidade de folhas, possibilitando assim uma movimentação temporária de areia e
uma elevação da duna (Bernardi et al. 1987). Segundo estes autores, o processo de erosão
ou retirada de areia por ação de marés de tempestades, erodindo parte da face da duna
voltada para a praia, ocasionará temporariamente uma modificação no perfil de estabilidade
desta duna. O volume de areia retirado durante a tempestade é exposto na praia, e parte é
novamente incorporado à duna pela ação dos ventos.
32

Pode-se ressaltar que, em locais onde não ocorrem dunas frontais, seja pela
destruição da cobertura vegetal, ou pela retirada de areia por ação natural ou antrópica, as
ondas de tempestade vêm causando inúmeras destruições de casas, ruas, etc. Estes efeitos
catastróficos podem ser observados no Balneário de Hermenegildo, Município de Santa
Vitória do Palmar, durante os eventos de tempestade.

FIGURA 14- Fotografia da vista lateral de uma duna frontal estendendo-se ao longo da
costa, coberta por vegetação rasteira. Localidade do Farolete do Verga

Numa síntese organizada com base em vários autores, Angulo (1993) descreve as
variáveis condicionantes da formação das dunas frontais:
a) Tipo de sedimento da área-fonte (praia), principalmente o tamanho das partículas e a
seleção.
b) Suprimento de sedimento na área fonte que, por sua vez, depende do regime de
ondas e marés, da morfologia da costa, do gradiente da plataforma, das variações
relativas do nível do mar, da composição da plataforma e do aporte fluvial.
c) Regime de vento, principalmente velocidade, direção e freqüência.
d) Regime de precipitações.
e) Tipo de vegetação.
f) Morfologia da praia, principalmente topografia e largura.

Com base nesta síntese, foram agrupadas as variáveis condicionantes para a


formação das dunas frontais na localidade do Farolete do Verga, por estas apresentarem-se
melhor caracterizadas.
33

Ao mesmo tempo determinou-se os valores representativos dessas


condicionantes para outra localidade da costa onde não ocorrem dunas frontais (localidade do
Farol do Albardão). Assim, tornou-se possível comparar as condicionantes para a formação
das dunas frontais ao longo da costa sul do Rio Grande do Sul ( Tabela 12).

TABELA 12 - Correlação das variáveis que condicionam a formação de dunas frontais nas
regiões do Farolete do Verga e Farol do Albardão.

CARACTERÍSTICAS FAROLETE DO VERGA FAROL DO ALBARDÃO


Dunas Frontais Ocorre formação Não ocorre formação
Grão O,125mm 0,125mm
Altura de onda 0,77m 1,02m
Amplitude de Maré 0,22 m (mista, diurna) 0,22 m (mista, diurna)
Morfologia da plataforma homogênea sem irregularidades Presença de bancos arenosos
topográficas, gradiente suave lineares com orientação NE-SW,
gradiente suave
Composição textural da praia Areia fina a muito fina Areia fina a média

Vento
(velocidade/direção/freqüência) 3,5 m/s, NE, 46,4% 4,0 m/s, NE, 47,1%
Precipitação 1250mm 1250mm
Vegetação (dunas costeiras) Spartina ciliata Spartina ciliata
Blutaparom portulacoides Blutaparom portulacoides
Panicum racemosum Panicum racemosum
Hydrocotyle bonariensis Hydrocotyle bonariensis
Paspalum vaginatum
Estado morfodinâmico da
praia/Largura da faixa de praia Intermediária / 63 m Intermediária-reflectiva / 170 m

Os dados da tabela evidenciam diferenças importantes na altura de ondas,


morfologia da plataforma continental e no estado morfodinâmico da praia.
No que se refere à altura de ondas, esta é 30% maior nas praias do Farol do
Albardão. Esta maior energia de ondas em Albardão é amplificada durante eventos de
tempestade (Calliari & Klein, 1993; Klein, 1997). Assim, é possível que o desenvolvimento das
dunas frontais, na região, seja inibido pela erosão costeira imposta por estes eventos.
34

A morfologia da plataforma continental interfere diretamente na energia de onda


através do fenômeno da refração em feições morfológicas submersas. Assim, considera-se
que este fator interfere indiretamente na formação das dunas frontais.
Quanto ao estado morfodinâmico da praia, o caráter de praia intermediária a
reflectiva, da região do Farol do Albardão, não favorece a transferência de areia da praia para
o campo de dunas, resultando num desenvolvimento pouco expressivo das dunas frontais
(Short & Hesp, 1982).
Dunas do tipo “Nebka” ou “hummock dunes” estão presentes mais ao sul do Farol
do Albardão, e foram descritas anteriormente por Martins et al.(1967) e Seeliger (1992).
No formato de pequenos montes de areia, estas dunas com tufos de vegetação no
topo, espalham-se ao longo dos primeiros 500m do campo de dunas (Figura 15). Esta faixa
de terreno ocupada pelas dunas do tipo “nebka” apresenta-se com o substrato estabilizado,
maior cobertura e diversidade vegetal, a qual é influenciada pelas oscilações sazonais no
nível do lençol freático próximo à superfície. As plantas que ocupam estas áreas são em parte
espécies anuais (Cordazzo & Seeliger 1996).
A distribuição irregular da cobertura vegetal favorece o aparecimento de
corredores de alimentação que permitem o deslocamento da areia desde a praia até o campo
de dunas livres, situado na retaguarda da faixa de ocorrência das dunas do tipo “nebka”.

FIGURA 15 – Dunas do tipo ”nebka”, na localidade do Farol do Albardão.


35

Dunas Livres

O campo de dunas livres está melhor representado 15 km ao sul do Farol do


Albardão, onde encontramos uma faixa de aproximadamente 6 km de largura, desde a zona
de praia até a margem da Lagoa Mangueira, sem a presença de dunas frontais.
Em relação a outros setores da costa, esta região apresenta o mais expressivo
campo de dunas, alimentado com areia transportada da praia pelo vento NE. A presença de
uma série de dunas transversais é significativa nesta localidade.
Em outro setor da costa, na localidade do Farol do Sarita, a presença de um
campo de dunas livres é bem marcada, também com transporte de areia da praia pelo vento
NE .
Apresentando uma das maiores taxas de migração de areia, o campo de dunas
livres na localidade do Farol do Sarita, é formado por pequenas cadeias barcanóides que
migram no sentido SW.
Estes dois setores da costa são áreas naturais livres de qualquer influência, no
que se refere aos processos de urbanização, e apresentam uma reduzida cobertura vegetal.
Baseado na classificação de Tomazelli (1990) foram identificadas dunas dos tipos:
barcanas, transversais e cadeias barcanóides.
As variações direcionais impostas pelo regime de ventos e a disponibilidade de
areia na área fonte são as principais responsáveis por modificações morfológicas no campo
de dunas livres. O aporte de areia, durante a primavera-verão, quando coincide com um
período de seca, acelera o desenvolvimento e a migração deste tipo de dunas.
Na estação chuvosa (meses de inverno) onde ocorre uma maior precipitação e
uma redução na quantidade de areia disponível, a morfologia das dunas é suavizada pela
presença mais rasa do lençol freático e pelo desaparecimento de dunas menores, ocorrendo
uma redução na velocidade de migração das dunas.

Lençóis de Areia

Os lençóis de areia são encontrados principalmente na região do Farol do


Albardão, e são o resultado de acumulações de areia transportada pelo vento e depositada
sem que ocorra a formação de dunas.
36

Estes mantos de areia não apresentam feições morfológicas como crista ou face
de deslizamento. Sua formação pode se dar próximo às margens do campo de dunas livres,
junto aos corpos lagunares, onde muitas vezes observa-se uma tendência de dissipação das
dunas com a formação de lençóis arenosos (Figura 16).

Figura 16 - Fotografia mostrando lençol de areia recobrindo um campo com


vegetação pioneira próximo à praia. Localidade do Farol do Albardão.

Bigarella et al., (1965) propôs a gênese dos lençóis de areia associada ao


processo de dissipação. O autor estabelece que este processo ocorre em função de
mudanças climáticas (do úmido para o semi-árido), provocando a diminuição da cobertura
vegetal e favorecendo (sob o efeito de chuvas concentradas) o colapso ou a dissipação de
dunas, restando apenas um perfil ondulado, morfologicamente indefinido.

Feições Associadas à Deflação Eólica

As feições de deflação eólica identificadas na área de estudo compreendem:


bacias de deflação (“blow-outs”).
Bacias de deflação são encontradas atrás das dunas frontais e são originárias do
retrabalhamento da areia pelo vento. Estas feições muitas vezes servem de corredor de
alimentação de areia para o campo de dunas livres.
Na maioria das vezes este processo é natural, mas pode ser inserido
artificialmente no sistema pela destruição da cobertura vegetal decorrente da ação antrópica
(Tomazelli, 1990).
37

As observações feitas em campo sugerem que as bacias de deflação, ao longo da


costa, estão relacionadas a regiões protegidas por dunas frontais, próximas a sangradouros
e onde a vegetação é esparsa (Figuras 17 e 18).

FIGURA 17- Bacias de deflação “ blow-outs” formadas atrás das dunas


frontais, na localidade do Farolete do Verga.

FIGURA 18 - Bacias de deflação “blow-outs” na localidade do Cassino.


38

5 - CONCLUSÕES

A análise do regime de ventos, com base em uma série temporal de 21 anos


(1976 a 1996), mostrou um predomínio de ventos de NE na maioria dos meses do ano.
Observou-se também que, embora menos freqüentes, são também importantes os ventos
de SW e SE.
A avaliação do potencial de deriva de areia pelo vento (PD), com base nos
dados das estações meteorológicas de Rio Grande e Santa Vitória do Palmar, revelou
valores de 61,5 uv e 63,0 uv, respectivamente. Estes valores classificam o regime de ventos
da área de estudo como de baixa energia (PD<200 uv). A discrepância destes valores com
os obtidos por Tomazelli (1993) foram atribuidas a um diferente tratamento estatístico dos
dados e a diferenças entre as séries históricas de dados utilizadas.
As taxas de migração média de dunas, determinadas para um período de 10
meses, nas estações de trabalho Cassino, Sarita e Albardão apresentaram valores de 14m,
17,3m e 19m para SW, respectivamente. Este sentido de migração (SW) é concordante com
os resultados do cálculo de direção de deriva resultante (DDR) obtidos para as estações
meteorológicas de Rio Grande e Santa Vitória do Palmar, com base nos dados de ventos do
período de 1976 a 1996.
Quatro grandes grupos de feições eólicas foram identificadas na área de estudo:
dunas vegetadas, dunas livres, lençóis de areia e feições de deflação eólica. As dunas
vegetadas incluem as dunas embrionárias, dunas frontais e do tipo “nebka”; as dunas livres
são representadas por dunas barcanas, cadeias barcanóides e dunas transversais.
Em particular no que se refere às dunas vegetadas do tipo dunas frontais
sugere-se que, na área de estudo, o seu desenvolvimento possa ser favorecido por
condições de baixa energia relativa de ondas, em um estado morfodinâmico da praia de
carácter dissipativo.
39

6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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de Rio Grande, RS. Pesquisas, 14, 131-147.

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Blutaparon portulacoides (St. Hill.) Mears. Nas dunas costeiras do sul do Brasil. Ciência
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BIGARELLA, J. J., MOUSINHO, M. R., SILVA, J. X. 1965. Processs and environments of


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