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1ª edição
LiberArs
São Paulo – 2018
I Simpósio de Direitos Sociais: Reflexões sobre o Mínimo Existencial e a Reserva do Possível
ISBN 978-85-9459-139-5
Editores
Fransmar Costa Lima
Lauro Fabiano de Souza Carvalho
Revisão técnica
Cesar Lima
Editoração e diagramação
Editora LiberArs
Nathalie Chiari
Capa
Fabio Costa
CDD 300
2018-1721 CDU 3
Esta obra foi financiada pela CAPES, através do Programa de Apoio a Eventos no País - PAEP
APRESENTAÇÃO ............................................................................................. 13
CONSTITUCIONALIDADE QUANTO AO
TRANSPORTE GRATUITO PARA TRATAMENTO
DE SAÚDE REMETIDO AO PACIENTE IDOSO
Carolini Vaz Soares Matias ................................................................................121
INCONSTITUCIONALIDADE DO CRITÉRIO
DE MISERABILIDADE DO BPC E LIMITES DO
ATIVISMO JUDICIAL FRENTE À ORGANIZAÇÃO DO DIREITO
À ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL
Ancilla Caetano Galera Fuzishima
Melina Ferracini de Moraes ..............................................................................142
A INSALUBRIDADE DOS
ESTABELECIMENTOS PENITENCIÁRIOS
Larissa Kimie Higa ................................................................................................175
A IMPENHORABILIDADE DO SALÁRIO E A
PROTEÇÃO DO MÍNIMO EXISTENCIAL
Aline Cavalcante de Souza Sanches ...............................................................213
A INTERSETORIALIDADE E A GARANTIA DO
MÍNIMO EXISTENCIAL DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA
Renata Maria Ferreira .........................................................................................218
“CIDADÃO-CLIENTE”:
CONCEITOS QUE NÃO DEVERIAM SE APROXIMAR
Larissa Dias Puerta dos Santos
Carolina de Gioia Paoli ........................................................................................282
APRESENTAÇÃO
13
- A definição multidimensional do ativismo judicial:
princípios da reserva do possível e mínimo existen-
cial e
- Previsões para o Neoconstitucionalismo e Ativis-
mo judicial: impasses e soluções.
14
A (IN)APLICABILIDADE DA RESERVA DO
POSSÍVEL ANTE O MÍNIMO EXISTENCIAL DO
DIREITO À SAÚDE
PROBLEMA
HIPÓTESE:
1
Graduanda em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
15
englobando concessões e recusas, dependendo do caso apresentado. Entre-
tanto, tendo em vista a supremacia do Direito à Saúde, acredito que não deva
haver aplicabilidade de qualquer argumento, como Reserva do Possível, que
vise reduzir ou limitar a matéria deste direito.
MARCO TEÓRICO:
METODOLOGIA:
16
CONCLUSÃO:
17
Na esteira desse pensamento, conclui-se que o argumento de escassez
de recursos financeiros, denominado de Reserva do Possível, configura-se
como um obstáculo a efetivação do Mínimo Existencial à saúde e não deve ser
acolhido.
Conclui-se, ainda, que deverá ser garantido ao cidadão o mínimo necessário
para a sobrevivência digna, respeitando o Princípio da Dignidade Humana,
mesmo que para isso se faça necessário uso de verba não prevista em plano
orçamentário já definido, pois a saúde é condição básica para a existência com
dignidade humana, não podendo se submeter a uma reserva que já é destina-
da a ela.
REFERÊNCIAS
LOPES, Ana Maria D'Ávila. A garantia do conteúdo essencial dos direitos fundamentais.
Revista de Informação Legislativa. Brasília, ano 41, n. 164, out/dez 2004.
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constituci-
onal. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
18
http://portalms.saude.gov.br/index.php/sistema-unico-de-saude/principios-do-sus
NASCIMENTO, FB. O mínimo existencial e o direito à saúde no Brasil. 2013. 111p. Dis-
sertação (Mestrado em Direito Político e Econômico) - Universidade Presbiteriana
Mackenzie, São Paulo, 2013. [Orientador: Prof. Dr. José Carlos Francisco].
OLSEAN, Ana Carolina Lopes. Direitos Fundamentais Sociais: efetividade frente à re-
serva do possível. 1 ed. Curitiba: Juruá, 2011.
SGARBOSSA, Luís Fernando. Crítica à teoria dos custos dos direitos. V. 1 – Reserva do
Possível. Porto Alegre: S.A. Fabris, 2011.
SOUZA, “Judicialização” dos direitos sociais e o direito fundamental à saúde: por uma
reconstrução do objeto do direito à saúde no direito brasileiro. Ingo Wolfgang 2011.
19
O ATIVISMO JUDICIAL DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL NA SAÚDE:
OS IMPACTOS DA INTROJECÃO DAS DECISÕES
JUDICIAIS NO ORÇAMENTO ADMINSTRATIVO
DO ESTADO DE SÃO PAULO
2
Mestre em Direito Político e Econômico na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Advogada e
bacharel em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa
Estado e Economia no Brasil, ligado ao programa de Pós-graduação em Direito Político e Econômico e
do Projeto de Pesquisa “A aparente colisão entre os direitos fundamentais e econômicos”. Professora
convidada do curso de Pós-Graduação EAD da Universidade Presbiteriana Mackenzie em Processo
Civil e Professora convidada de Direito Constitucional do curso EAD da BN2 Inteligência Educacional.
Advogada com ênfase em Direito Empresarial.
3
Doutoranda em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Mestre em
Direito Político e Econômico pela mesma universidade. Professora do Curso de Pós-graduação do
Direito do Trabalho e Processo do Trabalho do Ensino à Distância da Universidade Presbiteriana Mac-
kenzie. Foi professora da Universidade Anhanguera, tendo ministrado as matérias de Direito Constitu-
cional, Direito Empresarial, Psicologia Jurídica e História do Direito. Professora convidada do curso de
Pós-Graduação de Direito Digital e das Telecomunicações da Universidade Presbiteriana Mackenzie e
do Curso de Pós-Graduação de Propriedade Intelectual da Escola Superior da Advocacia. Pesquisadora
do Grupo de Estado e Economia no Brasil da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Foi Assessora
Jurídica da Diretoria de Regulação Técnica e Fiscalização dos Serviços de Distribuição do Gás Canali-
zado da Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo. É membro efetivo da
Comissão de Ciência e Tecnologia e da Comissão para Liberdade de Imprensa, ambas da OAB – SP e
consultora do Escritório Vieira Ceneviva Advogados Associados. Autora do livro “Liberdade de ex-
pressão e o regime jurídico da televisão e do rádio”.
20
método de efetivação dos direitos sociais através da implementação de políti-
cas públicas pela via judicial.
Palavras chaves: ativismo judicial; política pública; Supremo Tribunal Federal
INTRODUÇÃO:
4
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 27 ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007, p.
142
5
VERISSIMO, Marcos Paulo. A constituição de 1988, vinte anos depois: suprema corte e ativismo
judicial "à brasileira". Ver. Direito GV, dez 2008, vol. 4, n. 2, p407-440. (Scielo).
6
BARROSO, Luís Roberto. Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática. 2012.
Disponível em http://www.plataformademocratica.org/Publicacoes/12685_Cached.pdf; acesso em 02 de
Jan de 2016.
21
nificativo alcance político, moral ou social e, até mesmo, implementando polí-
ticas públicas, não se tratando, portanto, de uma atividade exclusivamente
brasileira.
O que merece guarida no âmbito do debate jurídico é a imposição de
políticas públicas pelo Supremo Tribunal Federal no tocante à eficácia de tal
medida para a solução das omissões estatais, levando-se em consideração o
alcance macrossocial da medida; a busca para a solução da escassez de aten-
dimento no serviço público e o eventual impacto nos recursos orçamentários
disponíveis para a satisfação do acesso à saúde pública pelo Estado.
Questionar-se-á portanto, no presente estudo a eficácia e os eventuais
impactos orçamentários das decisões judiciais emanadas pelo Supremo Tri-
bunal Federal que determinam o fornecimento compulsório pela administra-
ção pública de prestações médicas (tratamentos compulsórios de saúde,
viagens ao exterior para tratamento médico, hospedagem do paciente, conces-
são de remédios de alto custo, dentre outros), para então ser possível retor-
quir se o Judiciário está promovendo medidas que visam salvaguardar direitos
e diminuir as disparidades sociais quanto ao acesso à saúde pública ou se está
reproduzindo uma ideologia individualista da tutela de direitos, impactando
no orçamento público de forma significativa. A sentença é um ato de respon-
sabilidade política.7 Aquele que decide e depois fundamenta, faz, na verdade,
uma teleologia, colocando-se fora do paradigma da intersubjetividade e fora
da democracia.8
Através da metodologia de pesquisa a ser desenvolvida no tocante ao
estudo empírico acerca dos dados orçamentários da administração pública no
Estado de São Paulo e dados divulgados pelo Conselho Nacional de Justiça, a
fim de delimitar os problemas propostos, verificar-se-á a existência ou não de
desvio no orçamento público para o cumprimento de decisões judiciais em
detrimento da coletividade. Estima-se que o Estado de São Paulo9 somente no
ano de 2008, gastou R$ 400.000.000,00 (quatrocentos milhões de reais) no
atendimento às demandas judiciais de saúde. Esse gasto é 567% maior do que
o gasto realizado nesta área no ano de 2006, que foi de R$ 60.000.000,00 (ses-
senta milhões de reais). Já no ano de 2010, os gastos chegaram a quase
R$ 700.000.000,00 (setecentos milhões de reais)10.
Dessa forma, após o estudo empírico dos dados orçamentários, será
possível verificar se a implementação de política pública pelo Supremo Tribu-
nal Federal está traduzindo um diálogo racional e coletivo que passe a ratificar
7
DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p.5
8
STRECK, Lênio Luiz. O que é isto – decido conforme minha consciência? Porto Alegre: Livraria
do Advogado Editora, 2012, p. 107
9
UNIÃO, Advocacia Geral da. Intervenção Judicial na saúde pública: Panorama no âmbito da
Justiça Federal e Apontamentos na seara das Justiças Estaduais. Ago. 2012. Disponível
em http://u.saude.gov.br/images/pdf/2014/maio/29/ Panorama-da-judicializa----o---2012---modificado-
em-junho-de-2013.pdf, acesso em 03.abr.16
10
Idem
22
os interesses públicos, reconhecidos pelo Direito e resultante de um processo
ou do conjunto deles11 ou se está perpetrando medidas que desviam amontas
financeiras sem, contudo, solucionar a questão da escassez do acesso à saúde
pública.
Em outras palavras, partindo da premissa de que é necessário buscar a
construção da interlocução coletiva como encaminhamento adequado das
políticas públicas, trazendo novos elementos aos debates 12, propõe-se verifi-
car uma das hipóteses propostas, qual seja, se o Supremo Tribunal Federal
está implementando a construção coletiva, trazendo novos elementos ao de-
bate e implementando, assim, uma política pública eficaz ou se está incorren-
do em individualismo e subjetivismo, não promovendo um novo projeto de
construção de políticas públicas e esvaziando o orçamento público para aten-
dimento do particular.
Nada mais oportuno, portanto, do que um estudo a ser desenvolvido
justamente sobre o cerne desse processo de implementação de políticas públi-
cas e seu eventual impacto sobre a configuração na ordem orçamentária ad-
ministrativa para poder construir um lastro argumentativo empírico e real
sobre os valores que são realocados e se esses valores são realmente signifi-
cantes para o Estado de São Paulo.
Essa análise empírica irá demostrar os reais números orçamentários,
extrapolando os limites teóricos da "reserva do possível" e "mínimo existen-
cial" a fim de se verificar o que de fato está ocorrendo no orçamento do Estado
de São Paulo quando da imposição de determinada prestação médica pelo
Supremo Tribunal Federal.
Nesses termos, a relevância científica encontrar-se-á no estudo do fato
de o Supremo Tribunal Federal lançar mão de um esforço para organizar e
mobilizar forças administrativas e sociais, valendo-se de recursos administra-
tivos, de maneira a direcionar a ação estatal enquanto instrumento político no
tocante à imposição de medidas administrativas para solucionar conflitos
individuais de acesso à saúde pública.
PROBLEMATIZAÇÃO DO TEMA:
11
BUCCI, Maria Paula Dallari (org.). Políticas Públicas – reflexões sobre o conceito jurídico. São
Paulo: Saraiva, p.39.
12
DUARTE, Clarice Seixas. Para Além da Judicialização: a necessidade de uma nova forma de
abordagem das Políticas Públicas. In: SMANIO, Gianpaolo Poggio; BERTOLIN, Patrícia Tuma;
BRASIL, Patrícia Cristina (org.). O direito na fronteira das políticas públicas. São Paulo: Páginas &
Letras Editora e Gráfica, 2015, p.11
23
Problema(s) de Pesquisa. I) O ativismo judicial perpetrado pelo Supremo
Tribunal Federal no âmbito da saúde pública no Estado de São Paulo está
transformando a realidade social sem, contudo, impactar de forma relevante
no orçamento administrativo? ou II) O Judiciário, quando da implementação
de política pública, está impactando no orçamento público de forma relevante,
esvaziando o orçamento destinado ao atendimento da coletividade em detri-
mento do atendimento ao particular sem, contudo, promover uma mudança
sob o aspecto do macrocosmo social?
OBJETIVOS DA PESQUISA:
Objetivos específicos:
24
corte constitucional americana e a configuração atual do Estado de Coi-
sa Inconstitucional na Colômbia.
vi) Reunir dados acerca dos valores que são realocados da adminis-
tração pública do Estado de São Paulo para atendimento de decisões
judiciais impostas pelo Supremo Tribunal Federal para atendimento de
particulares no tocante ao fornecimento de determino serviço de saúde.
METODOLOGIA:
25
CNJ; relatórios emitidos pelo “Fórum Nacional do Judiciário para monitora-
mento e resolução das demandas de assistência à Saúde - Fórum da Saúde”,
instituído a partir dos resultados da Audiência Pública n.º 4, realizada pelo
Supremo Tribunal Federal em maio e abril de 2009; relatórios apresentados
pela “Jornada Nacional da Saúde” proposta pelo CNJ para debater os proble-
mas inerentes à judicialização da saúde e apresentar enunciados interpretati-
vos sobre o direito à saúde; pareceres emitidos pela Advocacia Geral da União
- Consultoria Jurídica do Ministério da Saúde e “relatórios de prestação de
contas” e “relatórios anuais de gestão” emitidos pela Secretaria Estadual de
Saúde de São Paulo e Prefeitura de São Paulo para verificar o orçamento pú-
blico destinado à saúde e, dentre estes, verificar se são realocados recursos
para o cumprimento de decisões judiciais impositivas que visam o atendimen-
to de determinada prestação médica.
MARCO TEÓRICO:
13
STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica jurídica e(m) crise: uma exploração hermenêutica da
construção do Direito. 8. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009.
14
STRECK, Lenio Luiz. Ao contrário do ministro, devemos nos importar (muito) com o que a
doutrina diz. 2005. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2006-jan-
05/devemos_importar_sim_doutrina?pagina=3. Acesso em: maio de 2016.
26
pois fundamenta, faz, na verdade, uma teleologia, colocando-se fora do para-
digma da intersubjetividade e fora da democracia15.
Destas premissas, tem-se o presente como marco teórico como essenci-
al ao estudo do ativismo judicial e demais desdobramentos propostos na pre-
sente pesquisa.
Na sequência, passa-se a utilizar como respaldo teórico a professora
Maria Paula Dallari Bucci e o estudo desenvolvido acerca do conceito e forma-
ção de uma política pública, a fim de se retorquir a eventual possibilidade de
uma política pública ser implementada pelo Supremo Tribunal Federal, esta-
belecendo-se premissas através do ciclo de formação de uma política pública,
visando a obtenção de uma demarcação clara dos limites, agentes, atos norma-
tivos, organização interna, aspectos políticos, sociais e econômicos que las-
treiam uma política pública.
REFERÊNCIAS
BOBBIO, N. O Positivismo Jurídico - Lições de Filosofia do Direito. 1ª. ed. São Paulo:
Icone, 2006.
15
STRECK, Lenio Luiz. O que é isto – decido conforme minha consciência? Porto Alegre: Livraria
do Advogado Editora, 2012.
27
HABERMAS, J. Direito e Democracia: entre faticidade e validade, Rio de Janeiro, Tempo
Brasileiro, 2 vol., 1997.
JÚNIOR, D. D. C. Controle Judicial das Omissões do Poder Público. 2ª. ed. São Paulo:
Saraiva, 2008.
LASSALE, F. O que é uma Constituição. São Paulo: Edições e Publicações Brasil, 2000.
ROCHA, M. O. Ativismo Judicial e Direito à Saúde. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013.
SOARES, R. M. F. Elementos de teoria geral do direito. 1ª. ed. São Paulo: Saraiva,
2012.
BIENENBOJM, G. Vinte Anos da Constituição Federal de 1988. 1ª. ed. São Paulo:
Lumen Juris, 2009.
COMPARATO, F. K. A afirmação histórica dos direitos humanos. 5ª. ed. São Paulo:
Saraiva, 2007.
28
SARLET, I. W.; TIMM, L. B. Direitos Fundamentais: orçamento e "reserva do
possível". Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. Cap. 5, p. 111-147.
SANTOS, B. de S., Marques, Maria Manuel Leitão, Pedroso, J. e Ferreira, Pedro Lopes.
Os Tribunais nas Sociedades Contemporâneas, Porto, Afrontamento, 1996.
______O que é isto – decido conforme minha consciência? 4ª ed. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2012.
29
IGUALDADE E EFETIVIDADE: A
DESCONFORMIDADE ENTRE OS CARACTERES
FORMAL E MATERIAL NO DIREITO SOCIAL À
EDUCAÇÃO PARA CRIANÇAS COM
DEFICIÊNCIA
PROBLEMA:
HIPÓTESES:
De acordo com o Censo 2010, promovido pelo IBGE, 81,7% das pessoas
com pelo menos uma deficiência é alfabetizada. Ainda pelo mesmo, considera-
se alfabetizada a pessoa de quinze anos de idade ou mais que consegue escre-
ver e ler, em seu idioma, um bilhete simples. Conforme os dados, 61,1% da
população portadora de deficiência não possui instrução ou fundamental
completo.
Pode-se entender o direito à educação como parte do chamado mínimo
existencial. Tal conceito pode ser entendido como condições fundamentais
para que a pessoa viva com o mínimo de dignidade, exigindo função ativa do
Estado. Como mínimo existencial podem ser compreendidos os direitos à
saúde, educação, previdência, assistência social, moradia, dentre tantos ou-
tros.
Com base nesses dados, parte-se da hipótese de que apesar de haver, no
ordenamento jurídico brasileiro, ampla segurança do direito à educação para
16
Graduanda em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
30
a criança com deficiência (vide Constituição Federal, Estatuto da Pessoa com
Deficiência, Estatuto da Criança e do Adolescente, Protocolo de San Salvador
aderido pelo país, entre outros), o Direito material é defectivo, não sendo sufi-
ciente para que as leis sejam de fato aplicadas e para que haja aproximação
dos caracteres formal e material. Haja vista tais situações:
MARCO TEÓRICO:
31
interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e
efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas”.
Nesse sentido, é possível classificar a pessoa com deficiência e explorar
os institutos normativos – decorrentes tanto do ordenamento interno, quanto
de Pactos e Tratados ratificados pelo Brasil – de modo a compreender o alcan-
ce de seus direitos, sendo aqui o foco ao direito à educação.
É importante também classificar o direito social à educação como um
direito pertencente ao mínimo existencial, uma vez que esse é essencial para a
promoção de uma vida digna a qualquer pessoa. (VOLPE, 2012)
A Constituição Federal de 1988 declara a educação como direito de to-
dos em seu artigo 205. Nesse viés, Rocha (2016) explica que a propositura do
atendimento especial na rede regular de ensino tem como fim alcançar as
condições de igualdade dentro da sala de aula.
Kassar (2012) especifica: a legislação brasileira não exclui o aluno com
deficiência, pelo contrário, tende a privilegiar a matrícula dos alunos em rede
regular de ensino e investir na implantação de recursos multifuncionais para a
acessibilidade dos estudantes.
É claro também que a inclusão não é somente a inserção da criança com
deficiência na educação, mas também a representação e a convivência entre
todos, para que a deficiência não seja motivo de inferiorização, mas apenas
uma diferença, uma característica. (JUNQUEIRA, 2017)
Porém, além do escrito no Direito formal, é preciso lembrar-se da práti-
ca, como aborda Rocha (2016). De acordo com o autor, a inclusão social é um
princípio claro da igualdade material, e segundo os especialistas, a educação e
a inscrição em rede regular de ensino sempre será o melhor caminho e lugar
para as pessoas com deficiência, e para tal, devem estar preparadas para a
recepção dos alunos. Porém, não é suficiente que as portas estejam apenas
abertas, sem condição alguma de inclusão, já que assim promoveria desigual-
dade e diferenças.
Portanto, há de fato no ordenamento jurídico brasileiro, condições para
que direito à educação para a criança com de deficiência seja efetivado. No
entanto, não é aplicado como deve, falhando dessa forma na aproximação dos
caracteres material e formal.
METODOLOGIA:
32
Resultados esperados: Com o intuito de aprofundamento acerca da distância
entre a legislação que aborda o direito à educação para crianças com deficiên-
cia e sua aplicação e eficiência, busca-se na pesquisa descrever as maiores
dificuldades na prática do previsto em lei.
Em decorrência da coleta de dados, é esperado que se atinja as maiores
insuficiências na execução do direito social fundamental à educação. Busca-se
alcançar os déficits nos meios educativos para crianças portadoras de defici-
ências de natureza física, mental, intelectual ou sensorial.
REFERÊNCIAS:
VOLPE, Karina Rocha Martins. Efetivação dos Direitos Sociais na ótica do Mínimo Exis-
tencial e da Reserva do Possível. Revista Brasileira de Planejamento e Orçamento,
[s. L.], p.48-67, maio 2012.
33
O DIREITO À SAÚDE E SUA EFETIVAÇÃO EM
CONFLITO COM O PRINCÍPIO DA RESERVA DO
POSSÍVEL: OBSTÁCULOS À SUA EFETIVAÇÃO
AO CONFLITAR COM LIMITAÇÕES
ORÇAMENTÁRIAS E PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS
INTRODUÇÃO
17
Graduando em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
18
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-
lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.” (Artigo 225 Constituição Federal/88)
34
uma solução pacífica entre os operadores do direito. Exemplo este, ligado ao
proferimento de decisões que obrigam o Estado a garantir o custeio de medi-
camentos/tratamentos com valores elevadíssimos, e que não fazem parte da
lista de medicamentos do governo (Relação Nacional de Medicamentos Es-
senciais - RENAME), à pessoas com doenças raras.
Esse problema envolve inúmeros temas que demandariam páginas e
páginas de texto, não sendo passível de discussões mais aprofundadas neste
resumo expandido, tais como, federalismo, separação de poderes, ativismo
judicial, judicialização da saúde, princípio do mínimo existencial, e da reserva
do possível. Portanto analisaremos somente alguns deles com base no exem-
plo mencionado, de forma sumária, a fim de tirar conclusões e possíveis solu-
ções acerca da problemática apresentada.
Palavras-chave: Saúde; mínimo existencial; reserva do possível; judicialização
da saúde
35
te do Estado. Tem se tornado recorrente os juízes ordenarem os Estados,
municípios, ou a União custearem o tratamento, todavia este é um problema
muito mais complexo do que analisar friamente e singularmente a constitui-
ção. É necessário analisar o ordenamento jurídico como um todo, todos os
princípios, consequências e efeitos dessa decisão, etc.
Em um primeiro momento tendemos a concordar com tal decisão dos
juízes, no entanto ao analisarmos os impactos dessa decisão para a sociedade,
a certeza dá lugar à incerteza. Vejamos: o juiz, ao conceder essa liminar orde-
nando que o Estado forneça o medicamento, produzirá um déficit orçamentá-
rio muito grande na área da saúde do governo, de modo que milhares de
pessoas sairão prejudicadas. Muitas vezes os juízes ainda ordenam que a ver-
ba destinada ao pagamento do referido medicamento/tratamento saia de um
setor específico, por exemplo, do orçamento da União destinado a investi-
mentos das estatais, de modo que os juízes fazem por vezes o papel do Poder
Executivo de decidir sobre a distribuição de verbas, e o papel do Poder Legis-
lativo ao conceder medicamento não previsto no RENAME, invadindo com-
pletamente o consagrado princípio da separação dos poderes garantidos pela
constituição em seu artigo 2º19. Essa questão gera intensa discussão, tornan-
do necessário um outro trabalho mais alongado a respeito do tema, que en-
volve os conceitos da judicialização da saúde e do ativismo judicial, de modo
que explicarei de forma extremamente simplista os dois conceitos somente
para um entendimento básico. A judicialização da saúde e o ativismo judicial
são conceitos extremamente semelhantes, de modo que são correlatos, no
entanto os operadores do direito utilizam do termo “judicialização” como
caráter pejorativo, no sentido de que o Poder Judiciário estaria invadindo a
seara do outro poder, ultrapassando os limites estabelecidos constitucional-
mente. Já o ativismo judicial possui um caráter positivo, no sentido de que os
operadores do direito afirmam que é necessário fazer-se uma interpretação
extensiva da Constituição Federal, de modo a garantir efetivamente tais direi-
tos. Portanto saber esse limite da separação de poderes torna-se extrema-
mente complexo e envolve muitas discussões que não serão abordadas a
fundo neste resumo expandido.
Visto o problema mencionado, faz-se importante destacar o princípio
da reserva do possível, que visa esclarecer situações como esta. Tendo em
vista que o orçamento do Estado é limitado, é necessário analisar alguns as-
pectos importantes para decidir casos semelhantes, tais como, a distributivi-
dade dos recursos, o número de cidadãos atingidos e a efetividade do
serviço20, de modo que a limitação econômica impede que o Estado atenda à
toda população sem observar esses três aspectos mencionados.
19
São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
(Artigo 2º Constituição Federal/88.)
20
Fonte: https://www.conjur.com.br/2017-fev-12/ana-franco-direito-saude-visto-face-reserva-possivel
36
Por outro lado, contrário ao princípio da reserva do possível está,
como dito anteriormente, o próprio direito à saúde elencado por nossa Cons-
tituição Federal, que para ser garantido faz-se necessário mais do que uma
simples positivação, é necessário tornar esse direito efetivo através de políti-
cas públicas realizadas pelo Poder Público. E em consonância com este direi-
to, está o princípio do mínimo existencial, que prevê condições mínimas e
essenciais para a garantia da vida humana, entre elas o próprio direito à saú-
de, que é indissociável do direito à vida. Sob essa perspectiva disserta o Mi-
nistro Celso de Mello:
3. CONCLUSÃO
21
EMENTA: paciente com HIV/aids - pessoa destituída de recursos financeiros - direito à vida e à
saúde - fornecimento gratuito de medicamentos - dever constitucional do poder público (CF, arts. 5º,
caput, e 196) - precedentes (STF) - recurso de agravo improvido. o direito à saúde representa conse-
quência constitucional indissociável do direito à vida.
37
BIBLIOGRAFIA:
38
O DIREITO AO MEIO AMBIENTE
ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO E O
MÍNIMO EXISTENCIAL DO AGRONEGÓCIO
FAMILIAR
INTRODUÇÃO:
MARCO TEÓRICO:
22
Graduando do sexto semestre do Curso de Direito da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,
Campus Três Lagoas
39
METODOLOGIA:
40
do, é decorrente da própria natureza jurídica do meio ambiente enquanto
tutelado pelo Direito.
Segundo a lição do professor Édis Milaré, o meio ambiente se consubs-
tancia em um bem jurídico de interesse público, sendo a sua tutela oriunda da
proteção aos interesses difusos pelo ordenamento jurídico, não sendo reduzí-
vel a classificação de sua natureza jurídica dentro da clássica dicotomia direi-
to público vs. direito privado, pois a obediência aos regulamentos e a sua
proteção não é competência exclusiva do Poder Público ou de particulares,
mas sim competência de ambos (MILARÉ, 2015).
No contexto histórico do ordenamento jurídico constitucional brasilei-
ro a tutela do meio-ambiente consagra-se com a promulgação da Constituição
da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/88), pioneira em proteção
ambiental e ao equilíbrio ecológico ao dedicar um capítulo próprio para o
Meio-Ambiente, dentro do título da ordem social (Capítulo V, do Título VIII da
CF/88) (BRASIL, 1988). Constitucionalmente assegurado, então, direito fun-
damental ao meio-ambiente ecologicamente equilibrado é preconizado no
artigo 225 da CF/88.
Muito embora não esteja previsto dentre o vasto rol exemplificativo
dos direitos fundamentais expressos do art. 5º (CF/88), o direito ao meio-
ambiente ecologicamente equilibrado e a sadia qualidade de vida são classifi-
cados como direitos fundamentais em razão da cláusula de abertura material
do cânon de direitos fundamentais positivada no art. 5º, §2º da CF/88. Isto é,
trata-se de questão de conteúdo constitucional de direitos fundamentais es-
parsos na Constituição resultantes de uma justificativa de posições subjetivas
fundamentais (SARLET, 2016).
A partir da positivação da tutela ao meio-ambiente equilibrado com fi-
to na sadia qualidade de vida na ordem constitucional como direito funda-
mental, evidencia-se uma estreita conexão com o metaprincípio da dignidade
da pessoa humana. O relacionamento entre o direito ambiental e a dignidade
da pessoa humana é orientado por ser ela uma diretriz hermenêutica, condu-
tora jurisprudencial na aplicação dos direitos constitucionais e infraconstitu-
cionais, concretização, proteção e promoção dos direitos fundamentais
(SARLET, 2016).
A dignidade humana na seara ambiental se clarifica na defesa feita por
Häberle e trazida por Ingo Sarlet, (SARLET, 2016) da necessidade de regula-
mentação jurídica da interação entre homem e natureza, constituindo-se
direitos e deveres, decorrentes do reforço do princípio da dignidade humana
ao definir dever de desenvolvimento sustentável (art. 170, caput e inciso IV,
CF/88).
Ainda se transparece na proteção ao futuro humano digno, principal-
mente no âmbito comunitário e ecológico, pois é nele que se insere a explora-
ção dos recursos naturais para garantir aos cidadãos a estabilidade social e a
segurança de uma vida saudável, com qualidade ambiental, bem como a pro-
41
teção aos direitos individuais, econômicos, e de segurança alimentar
(SARLET, 2016), com destaque para os dois últimos na questão transversal
entre os direitos fundamentais e o agronegócio familiar.
42
embora ainda seja necessário a elaboração de políticas públicas para a conti-
nuidade da preservação do meio ambiente e da produção alimentar em regi-
me de desenvolvimento sustentável. Sobretudo, é preciso gerar o
conhecimento necessário para integração comunitária, culminando em uma
progressão racional que atenda às necessidades humanas para uma vida dig-
na, com o meio ambiente equilibrado, segurança alimentar e econômica, asse-
gurando às gerações futuras (MILARÉ, 2015).
Por fim, resta salientar que a segurança alimentar e a proteção ao meio
ambiente
são pontos nevrálgicos da dignidade da pessoa humana, atinentes, en-
tão, a toda coletividade. Dessa forma, na dimensão cultural, é peremptória a
avaliação dos hábitos culturais de consumo em massa da sociedade global,
conjugados numa reflexão acerca da produção sustentável e do consumo
sustentável (MILARÉ, 2015).
Isto é, que aos agricultores familiares sejam garantidos os recursos ma-
teriais mínimos ante sua fragilidade financeira, resultando em um critério de
justiça social na ordem econômica (SARLET, 2016), bem como um meio am-
biente equilibrado para sua produção, enquanto dependentes dela para seu
sustento e dignidade.
Conjuga-se, também, no interregno entre a produção e o consumo, o in-
teresse social em ter alimento de qualidade, procedência e que respeite a
sustentabilidade na relação com o meio ambiente para atender ao seu con-
sumo. Com efeito, culminar-se-á em um capitalismo ambiental (SARLET,
2016), onde há um equilíbrio entre a ordem econômica e ambiental, segundo
o paradigma do desenvolvimento sustentável, consubstanciando a sadia qua-
lidade de vida da comunidade como um todo.
CONCLUSÃO:
43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
44
A POLÍTICA PÚBLICA DE EDUCAÇÃO NO
SISTEMA PRISIONAL DO PARANÁ: CONEXÕES
ENTRE DIREITOS SOCIAIS E POLÍTICAS
PÚBLICAS
PROBLEMA
23
Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Especialista em Direito Consti-
tucional pelo IDCC. Mestrando em Direito do Estado pela Faculdade de Direito da Universidade de São
Paulo
45
sa-nos, pois, a busca por caminhos que se mostrem eficientes e capazes para a
concretização desses direitos - a construção de uma ponte que possa diminuir
a distância entre o mundo do ser e do dever ser dos direitos fundamentais. É
nessa perspectiva que Norberto Bobbio 24, com maestria e precisão, aponta
que: “o problema fundamental em relação aos direitos do homem, hoje, não é
tanto o de justificá-lo, mas o de protegê-los. Trata-se de um problema não
filosófico, mas político”.
Diante desse plano de fundo, a presente pesquisa debruça-se sobre a
problemática relativa à efetivação do direito fundamental à educação, anali-
sando as políticas públicas no sistema prisional no Estado do Paraná desen-
volvidas com o fim de concretizar tal garantia constitucional. Isto posto,
parece-nos encontrar nas políticas públicas o instrumento capaz de realizar
parte da tão almejada efetivação dos direitos fundamentais, ao passo que
aquela é utilizada como forma de atuação do Estado para concretizar as abs-
trações normativas e superar o caráter meramente declaratório dos direitos
fundamentais.25
METODOLOGIA
HIPÓTESES
24
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos; tradução Carlos Nelson Coutinho. Nova Ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2004 – 7ª reimpressão
25
“Pode-se partir de uma definição provisória de políticas públicas como programas de ação governa-
mental voltados à concretização de direitos” BUCCI, Maria Paula Dallari. Direitos humanos e políticas
públicas. Cadernos Pólis, 2001
46
Hesse, preenche o texto constitucional de conteúdo normativo e confere uma
vontade ativa de transformação da realidade à Constituição. Desse modo,
quanto maior a crença na inviolabilidade da Carta Magna maior será a intensi-
dade de sua força de mudança político-social.
Vale sublinhar, ainda, os apontamentos feitos por Norberto Bobbio em
sua obra Da estrutura à função: novos estudos de teoria do direito 26, em que o
jurista italiano chama atenção para a função promocional do Direito e suas
técnicas de encorajamento contrapondo-as a clássica visão do Direito como
aparato protetor-repressivo com as tradicionais técnicas de desencorajamen-
to27.
Nesse sentido, como ponta pé intelectivo, diferencia-se as sanções ne-
gativas das sanções positivas. As primeiras, que sempre tiveram maior aten-
ção dos estudos jurídicos, são instrumentos usados como técnica
desencorajadora do Direito, e almejam coibir a prática de determinada ação a
partir da estipulação de uma consequência desagradável na hipótese da ação
desestimulada ser praticada. Já a segunda é encontrada enquanto técnica de
encorajamento do Direito e visa a promover a prática de determinada ação
por meio da atribuição de uma consequência positiva (um prêmio) para a
pessoa que realize tal conduta. Para descrevê-las em duas fórmulas, é possível
dizer que a técnica desencorajadora se expressa na lógica: “Se não queres A,
deves B”, enquanto a técnica de encorajamento se define em: “Se queres A,
deves B”.28
Como efeito, observa-se que o referido caráter promocional do Direito
pode ser encontrado na Lei de Execução Penal, ao passo que esta determina
um prêmio para os apenados que realizarem determinada conduta. É o insti-
tuto conhecido como remissão e descrito no art. 126 da LEP. Tal instituto es-
tabelece que os apenados que cumprirem doze horas de estudo (conduta
encorajada) terão direito a um dia a menos de pena (sanção positiva), ou em
outras palavras, um dia a mais de liberdade.
Como se vê, o Estado não se limita mais a atuar tão somente de forma
protetora-repressiva, coibindo as condutas que considere socialmente repro-
váveis, mas dá um passo além, ao engendrar sua função promocional e difun-
dir técnicas de encorajamento que levem as pessoas à prática das condutas
que considera socialmente vantajosas. Extrai-se, dessa síntese intelectiva, que
enquanto o sistema estatal protetor-repressivo tem uma finalidade conserva-
dora, de manter o status quo, o sistema promocional possui uma função de
transformação e mudança.29
26
BOBBIO, Norberto. Da estrutura à função: novos estudos da teoria do direito; tradução Daniela
Beccaccia Versiani. Barueri, São Paulo: Manoele, 2007
27
“BOBBIO, Norberto. Op. cit. 2007. p.25
28
BOBBIO, Norberto. Op. cit. 2007. p.19
47
CONCLUSÃO
30
GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ. Plano Estadual de Educação do Sistema Prisional do
Paraná. Curitiba, 2014.
48
Nessa oportunidade, desvelou-se a existência do Fundo Penitenciário
Nacional – FUNPEN – destinado à modernização e humanização do sistema
penitenciário brasileiro, o qual mantinha congestionado, em 2014, aproxima-
damente R$ 2,2 bilhões (dois bilhões e duzentos milhões de reais) que não
eram repassados da União aos Estados em virtude do excesso de rigidez e
burocracia. Para exemplificar a falta de repasses, aponta-se que em 2013 me-
nos de 20% dos valores do FUNPEN foram repassados aos entes federativos, a
despeito dos diversos pedidos realizados com tal finalidade.
Nesse sentido, ressalta-se que o STF julgou parcialmente procedente a
ADPF 347 e determinou à União a liberação das verbas do Fundo Penitenciá-
rio Nacional, e ainda, apontou que esta abstenha-se de fazer novos contingen-
ciamentos.
REFERÊNCIAS
49
O TRABALHO DIGNO COMO AFIRMAÇÃO DO
DIREITO AO MINÍMO EXISTENCIAL
I. PROBLEMA DE PESQUISA
31
Graduanda em Direito pela Universidade Federal de Uberlândia. Pesquisadora pelo Programa Institu-
cional Voluntário de Iniciação Científica na área de Direito do Trabalho. Participante do Grupo de
Estudos e Pesquisa “A 'Reforma' Trabalhista em Perspectiva: Análise Crítica” (UFU/CNPq). E-mail:
catharina.scodro@gmail.com
32
Professora Adjunta na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Uberlândia. Coordenadora do
Grupo de Estudos e Pesquisa “A 'Reforma' Trabalhista em Perspectiva: Análise Crítica” (UFU/CNPq).
Doutora em Direito Político e Econômico na Universidade Presbiteriana Mackenzie, Doutora em Ciên-
cias da Integração da América Latina pela Universidade de São Paulo (USP). E-mail: jcaravieri@ufu.br
50
Trabalho. Para tanto, respalda-se nas obras de Jorge Luiz Souto Maior, Maurí-
cio Godinho Delgado e Gabriela Neves Delgado.
III. INTRODUÇÃO
51
trabalho, neutralizando-a ao máximo a partir da regulação estatal e possibili-
tando a humanização destas relações (SOUTO MAIOR, 2000, p. 267-289).
Pela latente desigualdade do contrato de trabalho, é imperioso que a
regulamentação estatal obste a supressão e a mitigação de direitos, sobretudo
se a motivação para esta retração consagrar os interesses econômicos do em-
presariado. Assim, assegurar a indisponibilidade dos direitos fundamentais
sociais para garantir a dignidade do trabalhador e da atividade exercida, cons-
titui o conteúdo do mínimo existencial (TOLEDO, 2017, p. 103).
Ainda que o rol de direitos auferidos como mínimo seja reduzido, ma-
joritariamente, às questões de saúde e educação, é imprescindível que o traba-
lho esteja incluído nesta matriz. A justificativa pauta-se, sobretudo, na
importância da atividade laboral para o indivíduo na sociedade contemporâ-
nea.
Em relação ao caráter libertador individual e da noção de coletivida-
de, é essencial que o trabalho seja realizado em condições dignas, que não
suprimam as liberdades do indivíduo em face do contrato de trabalho subor-
dinativo e que não reduzam sua humanidade à lógica de produção e de lucros
incessantes. Assim, o trabalho digno é aquele que, ainda com as nuances de
desigualdade inerentes à relação, pauta-se na valorização do trabalhador e na
busca pela concretização da justiça social, apartada da exploração excessiva
da força de trabalho e de um padrão de gestão empresarial agressivo.
Além disto, a partir da percepção de um salário adequado, o indivíduo
pode concretizar os demais direitos fundamentais e sociais, estabelecidos
constitucionalmente, já que o Estado não é capaz de implementar com exce-
lência aqueles que não são considerados direitos mínimos, apesar de serem
basilares para uma vida digna, como v.g. a moradia satisfatória, o transporte e
o lazer.
Neste sentido, cabe ao Estado, a partir da garantia das normas prote-
tivas do trabalho e da institucionalização de princípios, certificar a realização
do trabalho digno. Entretanto, com fulcro no discurso neoliberal de consagra-
ção aos interesses econômicos relacionados, sobremaneira, à globalização, a
atual conjuntura de proteção ao trabalho no Brasil sofreu bruscas alterações.
A Reforma Trabalhista, decorrente da aprovação da Lei 13.467/2017,
fortaleceu o desmonte generalizado de direitos ao prever, por exemplo, moda-
lidades flexibilizadas de contratos de trabalho, reduzir o rol de normas de
saúde, higiene e segurança do trabalho, instituir um trabalhador “hipersufici-
ente” e ampliar a possibilidade da realização de acordos, mesmo em sede de
contratos notavelmente desiguais.
52
V. CONCLUSÃO
VI. REFERÊNCIAS
53
RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de Direito do Trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr,
2000.
SARLET, Ingo Wolfgang. Os Direitos Sociais como Direitos Fundamentais: contributo
para um balanço aos vinte anos da Constituição Federal de 1988. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/processoAudienciaPublicaSaude/anexo/artigo_I
ngo_DF_sociais_PETROPOLIS_final_01_09_08.pdf>. Acesso em: 19 abr. 2018.
SILVA, Homero Batista Mateus da. Comentários à Reforma Trabalhista. São Paulo: Edi-
tora Revista dos Tribunais, 2017.
SILVA, Virgílio Afonso da. Direitos fundamentais: conteúdo essencial, restrições e eficá-
cia.
SOUTO MAIOR, Jorge Luiz. O direito do trabalho como instrumento de justiça social. São
Paulo: LTr, 2000.
STABILE, Eduardo. A aplicação do princípio do mínimo existencial nas relações de
trabalho. Revista Direitos Humanos e Democracia, v. 3, n. 6, p. 4-24, jun. 2015. Dispo-
nível em:
<https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/direitoshumanosedemocracia/article/
view/3040>. Acesso em: 19 abr. 2018.
TOLEDO, Cláudia. Mínimo existencial: a construção de um conceito e seu tratamento
pela jurisprudência constitucional brasileira e alemã. PIDCC, Aracaju, ano VI, volume
11, n. 01, fev./2017. p. 102-119.
54
TECNOLOGIAS EM SAÚDE, JUDICIALIZAÇÃO E
OS NÚCLEOS DE APOIO TÉCNICO DO PODER
JUDICIÁRIO
Abstract: The research has as scope the analysis of health technologies, and, if
there is relation with the increase of the judicialization of the right to health in
Brazil. Considering the implementation of the Nuclei of Technical Support to
the Judiciary. To do so, we will use an exploratory and descriptive study,
based on clipping bibliographical and legislative, with an analysis of works by
national authors, as well as some international references on the subject.
Keywords: right to health, judicialization, Judiciary.
INTRODUÇÃO:
33
Mestre em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie – UPM. Cursan-
do disciplina eletiva do Doutorado vinculado ao Programa de Pós-graduação stricto sensu em Socieda-
de, Cultura e Fronteiras da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste. Advogada e
professora do Curso de Direito da Faculdade Educacional de Medianeira, vinculada ao Centro Universi-
tário Dinâmica das Cataratas – UDC, unidades Foz do Iguaçu e Medianeira/PR. E-mail para contato:
lucelainewandscheer@gmail.com
55
13h40min01seg, do dia 13 de abril de 2018, o país contava com uma popula-
ção de 208.874.507 (duzentos e oito milhões oitocentos e setenta e quatro mil
quinhentos e sete), conforme demonstra fonte pesquisada “Projeções e esti-
mativas do Brasil e das Unidades da Federação”.
Para cerca de 156 milhões de brasileiros, o acesso à saúde dá-se exclu-
sivamente pelo atendimento ofertado pela rede pública. Atualmente o Sistema
Único de Saúde (SUS), criado pela Lei nº 8.080/1990, é responsável pelo bem-
estar físico e mental, em termos percentuais, de 75% da população, os outros
25%, além do direito ao SUS, têm plano ou seguro de saúde, segundo divulga-
do pelo Conselho Federal de Medicina, baseado na pesquisa Demografia Médi-
ca do Brasil 2015. (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2018).
Diante da estimativa apresentada, e, da relevância temática pautada no
aumento da judicialização do direito à saúde nos últimos anos, apresenta-se as
seguintes problemáticas: Como garantir efetividade ao direito social à saúde
para um contingente dessa magnitude? O avanço das tecnologias em saúde nas
últimas décadas tem contribuído para o aumento da judicialização?
56
Judiciário, mas, sim, de uma plêiade de ações que envolvem um comprometi-
mento de todos os poderes constituídos.
Traçado as distinções necessárias, parte-se para o desenvolvimento da
hipótese do último problema de pesquisa. Para a Organização Mundial da
Saúde (OMS), a crescente demanda por tecnologias em saúde decorre do au-
mento da carga global de doenças, e tem contribuído para elevação dos custos
em gerais. Para o Office of Technology Assessment, U.S. Congress as despesas
com saúde, devido à incorporação de novas tecnologias sem estudo prévio,
causam inúmeros problemas à gestão pública, tais como: uso de tecnologias
que não dispõem de eficácia comprovada; outras sem efeito, ou com resulta-
dos deletérios, que continuam sendo utilizadas; e tecnologias eficazes que
apresentam baixa utilização. (U.S.
CONGRESS, 1994, apud MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).
O termo tecnologia em saúde abrange intervenções utilizadas para
promover a saúde, prevenir, diagnosticar, tratar, reabilitar ou cuidar de doen-
ças, usualmente por um longo prazo, isto inclui uso de medicamentos, disposi-
tivos, procedimentos, entre outros, além de sistemas de organização e suporte
de atendimento aos pacientes. (SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DE SÃO
PAULO, 2018).
Nesse sentido, a Lei nº 12.401/2011, alterou a Lei Orgânica da Saúde,
para criar a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS
(CONITEC), que tem por objetivo a racionalização e modernização do fluxo de
incorporação de novas tecnologias no Sistema Único de Saúde, e também na
Saúde Suplementar. (BARBANO, 2013, p. 37-38).
Como resultado da pesquisa, verifica-se que a judicialização do direito à
saúde têm causas múltiplas, algumas de tendência mundial, e outras relacio-
nadas ao modelo institucional adotado. (BARROSO, 2012, p. 24). Mais especifi-
camente no caso brasileiro decorre do nosso modelo constitucional,
influenciado por uma tendência global: avanço das tecnologias em saúde.
Já, em relação ao primeiro problema (desafio), vincula-se a ideia de efe-
tividade, ou seja, concretização dos direitos sociais, particularmente o direito à
saúde, objeto de pesquisa. Na prática, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ),
tem assumido certo protagonismo em resposta às demandas versando sobre a
judicialização do direito à saúde no Brasil.
As inúmeras medidas adotadas pelo CNJ, inclusive debates públicos en-
volvimento sociedade civil, administração pública, além de uma gama de pro-
fissionais da área da saúde, culminou com a publicação da resolução nº
238/2016, que dentre outras atribuições estabeleceu a instituição de Comitês
Estaduais da Saúde e a criação de Núcleos de Apoio Técnico do Poder Judiciá-
rio (NAT-JUS), constituído por profissionais da saúde, para elaborar pareceres
acerca da medicina baseada em evidências.
No âmbito do Judiciário são relativamente comuns demandas que bus-
cam fornecimento de medicamentos não registrados na Agência Nacional de
57
Vigilância Sanitária (ANVISA), ou mesmo em fase experimental, e nesses casos
necessário um controle tecnicamente mais rigoroso em relação à prestação
pleiteada em juízo. Para tanto, os Núcleos de Apoio Técnico do Poder Judiciá-
rio servem de subsídio para auxiliar os magistrados nos casos mencionados,
ou mesmo, em situações em que um pedido de medicamento de referência
pode ser substituído, por exemplo, por medicamentos genéricos, contribuindo
com a redução dos custos e dos efeitos deletérios às políticas públicas instituí-
das.
Recentemente, em novembro de 2017, foi criado o e-natjus uma plata-
forma digital no endereço eletrônico do CNJ, que disponibiliza aos juízes fun-
damentos científicos para concessão ou não de determinado medicamento ou
tratamento médico. O cadastro nacional possui pareceres, notas e informações
técnicas, que servirão de fonte de pesquisa, especialmente em comarcas que
não contam com os NAT-JUS.
CONCLUSÕES
58
intitulada The cost of rights: Why liberty depends on taxes, tanto os direitos a
prestações positivas como, por exemplo, o direito à saúde, e mesmo os de
prestações negativas (direito à liberdade), invariavelmente têm custos que são
suportados em maior ou menor grau (direta ou indiretamente) pelo Estado.
REFERÊNCIAS
HOLMES, Stephen; SUNSTEIN, Cass R. The cost of rights: Why liberty depends on taxes.
New York: W.W. Norton &Company, 1999.
59
U.S. CONGRESS, Office of Technology Assessment. Identifying health technologies that
work: searching for evidence, apud Avaliação de Tecnologias em Saúde. Ministério da
Saúde. Informes Técnicos Institucionais. Rev. Saúde Pública 2006. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rsp/v40n4/29.pdf> Acesso em: 14 abr. 2018.
60
PROCEDIMENTOS EXTRAJUDICIAIS QUE
INSTRUMENTALIZAM A REALIZAÇÃO DO
MÍNIMO EXISTENCIAL NA PERSPECTIVA DA
DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO
1. PROBLEMA
34
Registradora Civil no Estado de Minas Gerais, Pós-Graduada lato sensu em Direito Notarial e Regis-
tral e pós-graduanda lato sensu em Direito Civil pela UNIDERP-Anhanguera. E-mail: laismtoledone-
ves@gmail.com
35
Doutorando em Direito Econômico pela PUC/SP. Professor titular da graduação da Universidade do
Estado de Minas Gerais – UEMG nas disciplinas de Direito Empresarial e Tributário. Professor convi-
dado da especialização em Processo Civil Empresarial da Faculdade de Direito de Franca e de Direito
Civil da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, campus Poços de Caldas/MG. Professor
Voluntário do EaD da Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR, na disciplina de Legislação e
Direito Ambiental da graduação em Engenharia Ambiental. Membro do Grupo de Pesquisas do Acordo
de Cooperação e Convênio firmado com a Universitté De Paris 1 Panthéon-Sorbonne (Paris - França);
Institut du Monde et du Développement pour la Bonne Gouvemance Publique (IMODEV) e Instituto
Capitalismo Humanista (ICH), para o desenvolvimento de pesquisa sobre: Transparência Pública e
Participação Cidadã; Políticas Públicas; Direitos Humanos; Capitalismo Humanista. E-mail: masopre-
vide@gmail.com
61
Sem qualquer dúvida, este fenômeno que apesar de transparecer uma
série de exceções ao tratamento uno da tutela jurisdicional no Brasil, vem
ocorrendo já há longo tempo no resto do mundo e, a partir do momento em
que estudos do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) 36 apontam pela existência
de um grande volume de processos represados no Judiciário, sem com que
este consiga dar vazão aos mesmos de forma adequada ao que pretendido
pelo jurisdicionado, abre-se uma nova frente de trabalho pelos ofícios extra-
judiciais, que terão papel fundamental na readequação do tempo com que os
pleitos dos jurisdicionados são decididos (CENEVIVA, 2009).
Interessante ponto é que no Brasil existe tão apenas a dupla tutela ju-
risdicional naqueles temas econômicos de competência do Conselho Adminis-
trativo de Desenvolvimento Econômico (CADE), que possui a tutela
administrativa para decidir sob os casos submetidos à sua apreciação, mas
que não possui instância de trânsito em julgado de suas decisões, esta conferi-
da tão apenas ao Poder Judiciário, que desempenha, portanto, uma segunda
possibilidade de decisão quanto ao que já apreciado pelo CADE.
Enquanto outros países já possuem essa divisão quanto a decisões
administrativas e judiciais há um longo tempo como, por exemplo, quando da
definição de trabalho degradante frente ao princípio da dignidade da pessoa
humana, que foi estabelecido pela decisão do Tribunal Administrativo de Ver-
sailles, em caso relativo ao tipo de trabalho oferecido em determinado bar de
Paris, se degradante ou não, chamado de Caso Tyer, como também pelo fato de
que em Portugal, títulos de crédito poderem ser executados em ofícios extra-
judiciais, verifica-se o quão tardou esse início de despertar para que algumas
decisões sejam determinadas por tais serventias.
Não é de outra forma, que no Brasil, o Estatuto da Pessoa com Defici-
ência; a possibilidade de alteração de gênero da pessoa; a retificação de área
de imóveis e a usucapião extrajudicial já apontam pela abertura de uma nova
frente de tutela jurisdicional apta e célere ao cidadão, sendo o que se pretende
demonstrar em razão da indagação sobre a natureza jurídica da atividade do
titular de serventias extrajudiciais, se decisória ou meramente declaratória
(BALBINO FILHO, 2012).
A perspectiva é o aprofundamento desta discussão e a abordagem dos
pontos em que se verifique a desjudicialização e se, realmente, seria caso de
surgimento de uma dupla tutela jurisdicional no Brasil com a desjudicialização
operada em relação as serventias extrajudiciais.
Ademais, o momento é de transição e demandará o surgimento de no-
vos temas para a desjudicialização em serviços notariais e registrais, sendo
que o espectro para tal acontecimento é enorme como já exemplificado em
36
Desde 2004 o CNJ disponibiliza anualmente relatórios de produtividade que apontam a realidade dos
tribunais brasileiros com detalhamento da estrutura e litigiosidade apontando soluções que
viabilizem a gestão judiciária brasileira no sitio: http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/pj-
justica-em-numeros/relatorios. Acesso em 24 de maio de 2018.
62
relação a Portugal, o que também redundará em pesquisas em legislações
estrangeiras para servir como um esboço teórico frente à alterações que acon-
tecerão no decorrer dos anos, tendo em vista a notória avalanche de processos
judiciais que tomam o Poder Judiciário com o incremento da noção de cidadão
que cada um passa a usufruir.
2. HIPÓTESES
3. MARCO TEÓRICO
37
Disponível em http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/pj-justica-em-numeros/relatorios. Acesso em
24 de maio de 2018.
63
Estes conflitos merecem a essencial reflexão sobre como têm se resol-
vido, de forma a demonstrar a necessidade de se alterar a forma como o sis-
tema de resolução de conflitos está configurado, gerando ganhos tanto para o
próprio jurisdicional quanto para o Estado que entregará a propalada eficiên-
cia constante da Constituição Federal e seu artigo 5º, destinando ao cidadão os
direitos constantes de um Mínimo Existencial.
4. METODOLOGIA
5. RESULTADOS ESPERADOS
64
Demonstrar se em nosso País se abre uma possibilidade de dupla
tutela jurisdicional pela desjudicialização ocorrida nos últimos tempos ou se
tais serventias extrajudiciais se caracterizam tão somente como prestadoras
de atos declaratórios e não decisórios, sendo tema ainda não decidido pelo
Supremo Tribunal Federal.
6. REFERÊNCIAS
AGUIAR JÚNIOR. Ruy Rosado de. Comentários ao novo código civil, volume VI, tomo II:
da extinção do contrato. Rio de Janeiro: Forense, 2011.
BALBINO FILHO, Nicolau. Direito imobiliário registral. São Paulo: Saraiva, 2012
CENEVIVA, Walter. Lei dos registros públicos comentada. 19ª Ed. São Paulo: Saraiva,
2009.
GOMES, Orlando. Contratos. Ed. 26. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
PELUSO, Cezar. Código civil comentado. Doutrina e jurisprudência. Ed. 03. Barueri:
Manole, 2009.
SCAVONE JUNIOR, Luiz Antonio. Direito imobiliário: teoria e pratica. 6. ed. Rio de Janei-
ro: Forense, 2013.
SOUZA, Eduardo Pacheco Ribeiro de. Noções fundamentais de direito registral e nota-
rial. São Paulo: Saraiva, 2011.
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
TUTIKIAN, Claudia Fonseca. Moderno direito imobiliário, notarial e registral. São Pau-
lo: Quartier Latin, 2011.
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil. Teoria geral das obrigações e teoria geral dos
contratos. Ed. 06. Vol. 02. São Paulo: Atlas, 2006.
65
O PRINCÍPIO DO MÍNIMO EXISTENCIAL
NO FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS
PARA PESSOAS EM CONDIÇÃO DE
HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA
E A RESERVA DO POSSÍVEL
PROBLEMA DE PESQUISA:
HIPÓTESE
38
Discente do terceiro semestre do Curso de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie;
66
solução poderia envolver o aumento da arrecadação ou até mesmo cortes de
gastos excessivos para garantir uma vida digna da sua população, asseguran-
do o mínimo para a sua existência.
MARCO TEÓRICO
METODOLOGIA
67
dados econômicos do Brasil e até que ponto o Poder Público pode fornecer
auxílio medicamentoso para a população.
Há, ainda, necessidade em se analisar quantas pessoas perderam suas
vidas esperando pelo julgamento e tantas outras ainda dependem da máquina
pública para saberem se irão, ou não, ter o seu direito constitucional à saúde
efetivado.
REFERÊNCIAS
68
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=2407 > Aces-
so em 24.04.2018
SCHULZE, Clenio Jair. Hipossuficiência financeira nas ações de saúde: nova pers-
pectiva no TRF da 4ª Região. Disponível em:
<http://www.revistadoutrina.trf4.jus.br/index.htm?http://www.revistadoutrina.trf4.j
us.br/artigos/edicao075/Clenio_Schulze.html >Acesso em 23.04.2018
69
MÍNIMO EXISTENCIAL AFETIVO: A
CONCRETIZAÇÃO DE UMA VIDA DIGNA ÀS
CRIANÇAS ADOTIVAS NO BRASIL
PROBLEMA
HIPÓTESE
39
Graduanda em Direito, estudante do 4º semestre da Universidade Presbiteriana Mackenzie
70
pios da igualdade e nos direitos humanos, por exemplo (PORTELLA, 2007).
Portanto, indissociável do conceito de mínimo existencial encontra-se a prote-
ção e promoção da dignidade da pessoa humana, que será alcançada com a
realização efetiva dos direitos sociais elencados na Constituição Federal.
(WEBER, 2013)
John Rawls é sempre citado no que tange ao mínimo existencial, pois foi
um dos primeiros teóricos a abordar tal assunto em sua obra “Liberalismo
Político”, ao traçar os dois princípios de justiça (princípio da igualdade e prin-
cípio da diferença) e afirmar que o pleno exercício dos direitos fundamentais
só seria alcançado se outro princípio, anterior a estes, que prescrevesse a
satisfação das necessidades básicas dos cidadãos fosse assegurado.
Assim, este terceiro princípio que ficou denominado de mínimo social,
representa um pressuposto para a efetivação dos outros dois princípios da
justiça; o mínimo social é necessário para assegurar e proteger os direitos
fundamentais, assim como o seu fundamento: a dignidade da pessoa humana
(WEBER, 2013).
Desta forma, retomando o pensamento de Rawls, conclui-se que reduzir
o conceito de mínimo existencial à satisfação das necessidades básicas da vida,
fazendo-se um paralelo à pirâmide de Maslow que define como necessidades
básicas as questões fisiológicas e de segurança, é restrito demais, pois não há
de se confundir o viver com o sobreviver (WEBER, 2013).
Essa distinção (mínimo vital x mínimo existencial) se torna clara princi-
palmente quando se trata do direito de família, tendo em vista que o liame
entre os indivíduos que constituem uma família não se dá apenas por laços
materiais, mas sim, e principalmente, por laços de afeto.
A insuficiência da aplicação do mínimo existencial na seara do direito de
família ocorre, pois, o objetivo precípuo dela deixou de ser a manutenção de
um status quo sobre os papéis do homem e da mulher e passou a ser encarado
como o locus de realização da afetividade e construção da personalidade social
e política dos seres humanos (TOSIN, ZANOTELLI, 2013).
Isso significa que a atuação do Estado no que concerne à proteção da
família não pode mais se restringir, apenas, à sua manutenção no aspecto
material. Será preciso que a atuação estatal garanta, também, o direito à afeti-
vidade e felicidade, núcleos do direito de família.
Assim, propõe-se o desenvolvimento do que se denomina de mínimo
existencial afetivo, entendido como as condições mínimas que o Estado deve
oferecer às famílias para que estas consigam fixar laços afetivos entre si. Já de
antemão é relevante ressaltar que aqui não se discute uma obrigação do Esta-
do em forçar estes laços (por óbvio que isto é impossível), mas sim, em pres-
tações positivas deste para assegurar um ambiente propício ao fortalecimento
destas ligações.
O mínimo existencial afetivo encontrará, portanto, respaldo no princípio
da afetividade. O afeto, no âmbito familiar é tão importante quanto às condi-
71
ções mínimas de vida material dos indivíduos; configura um elemento impor-
tantíssimo, assim como as questões fisiológicas, para proteger e promover a
dignidade da pessoa humana.
Diversos estudos no âmbito da psicologia sobre a institucionalização na
infância apontam que a privação afetiva acarreta uma série de problemas ao
desenvolvimento físico, cognitivo e emocional da criança, sobretudo daquelas
que permaneceram por longos períodos sobre o cuidado institucional, como
nos casos de adoção tardia (CAVALCANTE; MAGALHÃES, 2012).
Como observa o Ministro Roberto Barroso, quanto maior é o tempo de
institucionalização de uma criança, mais difícil costuma ser sua adaptação à
família adotiva. Ao mesmo tempo, pesquisas indicam que é a presença, a dis-
ponibilidade e a afetividade dos pais adotivos, no início de seu convívio com
essas crianças, que se conseguirá a recuperação e a superação de tais dificul-
dades (BRASIL, 2016).
Assim, os esforços estatais no que concerne ao direito de família e, mais
especificamente, ao processo de adoção, objeto de estudo deste resumo, de-
vem se pautar no mínimo existencial afetivo, pois se compreende que para
assegurar uma vida digna às crianças adotivas não é suficiente a satisfação de
suas necessidades básicas; é preciso investir num processo eficiente que bus-
que maximizar a potencialidade dos laços afetivos entre pais e crianças adoti-
vas.
Um dos mecanismos que concretiza o mínimo existencial afetivo é a
concessão de licença maternidade para mães adotivas, pois a função essencial
desta licença é a proteção do interesse do menor que precisa adaptar-se à
família e estabelecer laços de afeto que são fundamentais para o seu desen-
volvimento pessoal.
Este direito já foi objeto de grande debate, tendo em vista as grandes
divergências de matérias infraconstitucionais sobre o período da licença ma-
ternidade para mães adotivas (as crianças adotadas por trabalhadoras do
Poder Público eram beneficiadas por uma licença maternidade de 120 dias,
prorrogáveis por até 60 dias, independentemente da idade, ao passo que as
crianças adotadas por servidoras públicas, beneficiavam-se de licença de 90
dias, prorrogáveis por 45 dias, se tivessem até um 1 ano; ou por licença de 30
dias, prorrogáveis por 15 dias, se fossem mais velhas).
Desta forma, em 2016, decidiu o STF que os prazos da licença adotante
não podem ser inferiores aos prazos da licença gestante, o mesmo valendo
para as respectivas prorrogações, pois se trataria de uma violação ao direito
de igualdade entre filhos. Em relação à licença adotante, conclui-se que não é
possível fixar prazos diversos em função da idade da criança adotada, tendo
em vista que é ilógico defender que crianças adotadas tardiamente necessitam
de menos convívio com seus pais adotivos do que aquelas adotadas em tenra
idade.
72
Indo neste sentido, está em tramitação no Senado Federal a PEC
01/2018 que visa ampliar a duração da licença-maternidade de 120 para 180
dias e a licença-paternidade de 5 para 20 dias. Além disso, busca reforçar a
igualdade de tratamento entre a licença para mães biológicas e mães adotivas,
reconhecendo ser imprescindível para o pleno desenvolvimento da criança a
convivência, pelo tempo necessário, com sua nova família. Pois, como pontu-
am Maia e Lima (2011), o ser humano só se tornará, de fato, uma pessoa,
quando estiver inserido no calor de uma família.
MARCO TEÓRICO
METODOLOGIA
73
jurisprudências e iv) teses e dissertações. Busca-se analisar e estudar um con-
ceito do direito material, assim como, sua aplicabilidade e pertinência num
instituto particular do direito.
REFERÊNCIAS
CAVALCANTE, Lília Iêda Chaves; MAGALHÃES, Celina Maria Colino. Relações de apego
no contexto da institucionalização na infância e da adoção tardia. Psicologia Argu-
mento, Curitiba, v. 30, n. 68, p.75-85, Jan/Mar; 2012. Disponível em:
<https://periodicos.pucpr.br/index.php/psicologiaargumento/article/view/20015/1
9301>. Acesso em: 19 abr. 2018.
MAIA, Renato; LIMA, Ricardo Alves de. Adoção e Direitos Fundamentais: a Adoção
como Efetivação da Convivência Familiar. Rev. Fac. Direito Ufmg, Belo Horizonte, v. 50,
n. 4, p.261-289, Não é um mês valido! 2011. Disponível em:
74
<https://www.direito.ufmg.br/revista/index.php/revista/article/view/162>. Acesso
em: 21 abr. 2018.
RAWLS, John. Os Princípios de Justiça. In: RAWLS, John. Uma Teoria da Justiça. São
Paulo: Martins Fontes, 2008. p. 65-137.
75
O DIREITO SOCIAL À EDUCAÇÃO INFANTIL
E A INSUFICIÊNCIA DO ESTADO BRASILEIRO
À LUZ DOS 30 ANOS DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL
PROBLEMA:
HIPÓTESES:
40
Graduanda em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e-mail: alineprandini@gmail.com
41
Graduanda em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e-mail: yasminjmusta-
fa@gmail.com
76
O direito à educação detém conteúdo eminentemente prestacional, re-
querendo a atuação positiva do Poder Público para sua concretização. Dessa
forma, as políticas públicas devem garantir primeiro o ensino, estando obriga-
da a priorizar a educação infantil, proporcionando a oferta de vagas em cre-
ches e pré-escolas, conforme o do art. 208, IV, da CF, tendo em vista o marco
legal da primeira infância, norteado pelo princípio da prioridade absoluta e
proteção integral da criança presente no artigo 227 do texto constitucional e
nos artigos 4° e 6° do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Visando a necessidade de maior proteção do direito à educação dos ti-
tulares de tenra idade, a CF reuniu diversas normas destinadas a garantir este
direito, porém sua real efetividade não é alcançada segundo os dados estatísti-
cos. O último censo feito pelo IBGE foi em 2015, demonstrando que das 10,3
milhões de crianças de menos de 4 anos de idade investigadas na pesquisa,
74,4% (7,7 milhões), não era matriculada em creche ou escola. Desse contin-
gente, os responsáveis por elas demonstravam interesse em fazê-lo em 61,8%
(4,7 milhões) dos casos42.
2. Além disso, o art. 212 e incisos da CF/1988, prevê que a vinculação de recei-
ta resultante dos impostos na manutenção e desenvolvimento do ensino,
constitui um dos mais importantes mecanismos de efetividade do direito à
educação, e confere tratamento prioritário à educação básica e obrigatória
na destinação destes recursos, conforme preceituado no § 3.º do art. 212 da
CF/1988, obrigando o Executivo a redirecionar seus planos e verbas para a
educação infantil.
42
Disponível em:
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv100137.pdf Acesso
em: 22 abr. 2018.
77
MARCO TEÓRICO:
43
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/secretaria-de-educacao-basica/apresentacao Acesso em: 22
abr. 2018
44
Disponível em: <http://www.fmcsv.org.br/pt-br/Paginas/marcolegal.aspx>. Acesso em: 22 abr. 2018
78
atuação judicial, pois a CF estabelece as políticas públicas como instrumentos
adequados de realização dos direitos fundamentais, e simultaneamente maté-
ria constitucional sujeita ao controle do Judiciário (BARBOZA; KOZICKI, 2012).
Portanto, o judiciário passa a ter papel determinante na concretização
das políticas públicas, devendo ceder ao mínimo existencial, apesar da escas-
sez orçamentária, direcionando tais recursos ao plano educacional infantil,
uma vez que tal princípio juntamente com o marco legal da primeira infância,
não podem ser negligenciados, pois constituem núcleo essencial de direitos
fundamentais a serem tutelados pelo Estado.
METODOLOGIA:
RESULTADOS ESPERADOS:
REFERÊNCIAS:
AUGUSTO, Marcela Vaz; ANDRÉA, Gianfranco Faggin Mastro. Ações coletivas como
instrumento de concretização de políticas públicas: o caso do ativismo judicial dialógi-
co no TJSP. Revista dos Tribunais Online: revista de direito constitucional e interna-
cional, São Paulo, v. 97, p.179-209, set./out. 2016. Disponível em:
<http://www.rtonline.com.br/>. Acesso em: 17 abr. 2018.
45
Disponível em: https://www.todospelaeducacao.org.br/indicadores-da-educacao/5-metas Acesso em:
24 abr. 2018
79
BARBOZA, Estefânia Maria de Queiroz; KOZICKI, Katya. Judicialização da política e
controle judicial de políticas públicas. Revista Direito GV, São Paulo, v. 8, n. 1, jan./jun.
2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=
S180824322012000100003>. Acesso em: 23 abr. 2018.
BARCELLOS, Ana Paula de. Neoconstitucionalismo, Direitos fundamentais e controle
das políticas públicas. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v. 240, p.
83-105, abr. 2005. ISSN 2238-5177. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/
ojs/index.php/rda/article/view/43620>. Acesso em: 23 abr. 2018.
80
O DIREITO À INFORMAÇÃO E O DIREITO À
SEGURANÇA: UMA ANÁLISE DA ANTINOMIA
FUNDAMENTAL NO CASO CHACINA DA
CANDELÁRIA
Palavras-chave
Direito à informação; Direito à segurança; Princípio da dignidade humana;
Direitos fundamentais; Direitos sociais.
PROBLEMA
HIPÓTESES
A informação por mais que seja parte fundamental para o bom exercí-
cio da democracia não prevalece sobre o direito à segurança pois a dignidade
humana, fundamento constitucional, abrange este direito e por ser assegurado
na Constituição Federal (CF) e no Código Civil (CC) por defender os direitos da
personalidade. Além disso, o direito à informação pode ser negado em alguns
46
Graduando (3º semestre) em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
47
Graduando (3º semestre) em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
81
casos que envolvem os direitos da personalidade desde que haja interesse
público no caso. Portanto, quando há o confronto entre os dois direitos, deve
prevalecer sempre a segurança, a dignidade do indivíduo assim como sua
intimidade.
A tutela da segurança encontra sua fundamentação no preâmbulo da
CF, assim como em seus arts. 5º, caput (visto como direito fundamental), 6º
(visto como direito social) e 144. Além disso, a tutela da segurança visa garan-
tir a proteção aos direitos da personalidade presentes nos arts. 11 ao 21 do
CC.
O direito à informação, presente no art. 5°, inciso XXXIII da CF e na Lei
de Acesso à Informação nº 12527/11, embora em casos ofensivos aos direitos
da personalidade e que sejam de interesse público pode ser negado, isso não é
suficiente para garantir a dignidade humana dos envolvidos, pois em muitos
casos, a decisão entre a tutela da informação ou da segurança acaba se tor-
nando uma decisão baseada em uma opinião prévia do magistrado, onde
mesmo com uma ofensa à dignidade humana dos envolvidos, o magistrado
não aplicou o direito à segurança.
MARCO TEÓRICO
82
direitos individuais fundamentais (direito a intimidade, incolumidade física ou
pessoal, entre outros). Portanto, o Estado ao fornecer este conjunto de garan-
tias para o bom exercício dos direitos fundamentais coloca sob sua égide
qualquer cidadão que tenha sofrido atos ofensivos aos seus direitos funda-
mentais ou aos seus direitos personalíssimos independentemente de quem
seja o indivíduo ou o que este tenha feito (SILVA, 2006, p. 72).
O direito à segurança, no sentido de direito social no art. 6º da CF, visa a
manutenção da ordem pública, o convívio em sociedade para que todos pos-
sam exercer os seus direitos de forma livre, sem que alguém ou algo o impeça.
Com isso, o Texto Constitucional teve como objetivo estabelecer a segurança
pública (SILVA, 2006, p. 187), que é dever do Estado assim como responsabi-
lidade dos cidadãos pois, como dito anteriormente, a segurança pública é al-
cançada por meio do bom convívio social (BUONAMICI, 2011, pp. 8-9).
O princípio da dignidade humana é ponto fundamental para a decisão
entre dois direitos tão fundamentais e, portanto, se faz necessário conceituá-
lo. Consiste na ideia de que cada pessoa deve ser respeitada e valorizada como
indivíduo, independentemente de suas características e condições, pelo fato
de ser uma pessoa. Por ser um princípio fundamental, a dignidade humana
exige e pressupõe o reconhecimento e proteção dos direitos fundamentais de
todas as dimensões, como os direitos da personalidade. O princípio engloba os
direitos da personalidade, principalmente, no que envolve o direito ao nome, à
privacidade e à imagem (BARROS, MIYASHIRO e BOTELHO, 2016, p. 134).
Para a melhor compreensão do tema, é fundamental citar um caso em-
blemático do choque entre o Direito à segurança e o Direito à informação: A
Chacina da Candelária.
No caso, oito meninos de rua que dormiam em frente à igreja da Cande-
lária, no Rio de Janeiro, foram mortos a tiros disparados por policiais, pois,
anteriormente, apedrejaram suas viaturas.
Um dos acusados na época foi inocentado pelo Tribunal do Júri e, poste-
riormente, recusou o convite feito pelo programa “Linha Direta”, que desejava
retratar os fatos. Apesar da recusa, o programa mencionou seu nome verda-
deiro o que trouxe riscos à segurança do acusado. Baseado nisso, entrou com
uma ação indenizatória contra a emissora por danos morais sofridos.
Entendeu-se que houve a invasão do anonimato de homem esquecido,
contrariando sua vontade de permanecer assim, com a intenção de lucrar com
um episódio, que poderia ter sido contado sem a revelação de seu nome ver-
dadeiro. Além disso, embora o direito à informação seja fundamental, este não
é amplo e irrestrito, encontrado limitações no princípio fundamental da digni-
dade humana e nos direitos da personalidade, principalmente no tocante à
intimidade. É válido ressaltar que, como dito anteriormente, a Constituição
resguarda a todos os cidadãos, independentemente de quem seja ou o que
tenha feito, o Direito à segurança. Portanto, por mais que os atos relacionados
ao policial sejam criticáveis, o fato de ter sido julgado inocente perante o Tri-
83
bunal do Júri e que o Texto Constitucional lhe fornece a garantia de proteção
independentemente de quem seja, deve prevalecer a sua dignidade humana,
ou seja, deve ser protegido da mesma maneira que qualquer cidadão. Então, é
possível entender que a tutela do esquecimento foi aplicada no caso como
forma de garantir sua segurança, sua integridade física e patrimonial e, assim,
sendo respeitada sua dignidade como pessoa (MOREIRA, 2015, pp. 307-310).
METODOLOGIA
RESULTADOS ESPERADOS
REFERÊNCIAS
BARROS, Sergue Alberto Marques; MIYASHIRO, Marcia dos Santos Gomes; BOTELHO,
Tiago Resende. Direito ao Esquecimento: Análise dos Casos Aída Curi e Chacina da
Candelária. UNOPAR CIENTÍFICA. CIÊNCIAS JURÍDICAS E EMPRESARIAIS, Londrina,
v.17, n.2, p.132-136, mar. 2016. Disponível em:
<http://www.pgsskroton.com.br/seer/index.php/juridicas/article/view/4406>. Aces-
so em: 17 abr. 2018 às 9h.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília:
Subsecretaria de Edições Técnicas do Senado Federal., 2012. 136 p. Disponível em:
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al_35ed.pdf?sequence=9>. Acesso em: 14 abr. 2018 às 8h.
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84
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&uact=8&ved=0ahUKEwifkc-V2ZjXAhWC4CYKHfvuA-
0QFgg4MAM&url=http%3A%2F%2Fwww.exattacondominios.com.br%2Fdownload%
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BUONAMICI, Sergio Claro. DIREITO FUNDAMENTAL SOCIAL À SEGURANÇA PÚBLICA.
Revista de Estudos Jurídicos UNESP, Franca, v. 15, n. 21, p. 1-17, ago. 2011. Disponível
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JARDIM, José Maria. A LEI DE ACESSO À INFORMAÇÃO PÚBLICA: DIMENSÕES
POLÍTICO-INFORMACIONAIS. Tendências da Pesquisa Brasileira em Ciência da Infor-
mação, [S.l.], v.5, n.1, p. 1-21, jan. 2012. Disponível em:
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LONGO, Monique Demétrio et al. O DIREITO SOCIAL À SEGURANÇA PÚBLICA: ANÁLISE
SOBRE A POSSIBILIDADE DE JUDICIALIZAÇÃO. Periódicos UNIBAVE, Orleans-SC, p. 1-
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>. Acesso em: 17 abr. 2018
MARTINS, Ricardo Marcondes. Direito fundamental de acesso à informação. Revista de
Direito ADMINISTRATIVO & CONSTITUCIONAL, Belo Horizonte, v.14, n.56, p.127-146,
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<http://www.revistaaec.com/index.php/revistaaec/article/view/96/318>. Acesso
em: 14 abr. 2018 às 12:30.
MORAES, Marco Tulio Braga de. MARCO CIVIL DA INTERNET NO BRASIL: das origens
dos Direitos Fundamentais aos propósitos do Direito de Acesso à Informação. Revista
Democracia Digital e Governo Eletrônico, [S.l.], v.2, n.9, p.138-157, nov.2013. Disponí-
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<http://buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/observatoriodoegov/article/view/342
78/33162>. Acesso em: 15 abr. 2018 às 13h.
MOREIRA, Poliana Bozégia. DIREITO AO ESQUECIMENTO. REVISTA DE DIREITO
(VIÇOSA), [S.l.], v.7, n.2, p. 293-317, jul. 2015. Disponível em:
<http://www.seer.ufv.br/seer/revdireito/index.php/RevistaDireito-
UFV/article/view/146/50>. Acesso em: 16 abr. 2018 às 10:30h.
SILVA, José Alfredo da. Comentário contextual à constituição. São Paulo: Malheiros,
2006.
85
TUBERCULOSE FATAL:
COMO A EPIDEMIA DE TUBERCULOSE NOS
PRESÍDIOS BRASILEIROS TEM
COMPROMETIDO O DESENVOLVIMENTO DO
PAÍS, RECAINDO SOBRE OS DIREITOS
HUMANOS.
MARCO TEÓRICO:
PROBLEMA:
48
Graduanda em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
86
HIPÓTESES:
87
ça pode infectar de quatro a dez pessoas, e mesmo que se alcance a cura,
pode deixar sequelas pulmonares.
Infelizmente a epidemia de tuberculose nas penitenciárias também
tem repercussão no universo jurídico, caracterizando ofensas à vários seto-
res, dentre eles os direitos sociais, humanos e fundamentais.
88
Artigo 4º, II, “Prevalência dos direitos humanos”.
Mínimo Existencial:
Mesmo quando algumas ações não estão previstas em lei como presta-
ções devidas pelo Estado para a garantia do direito à saúde, pode-se aplicá-lo
diretamente quando estiver em risco a continuidade da vida humana, que só
possa ser garantida com a intervenção estatal. Nesses casos, o fundamento se
encontra na obrigação de o próprio Estado garantir um nível de vida para
seus cidadãos que seja compatível com o princípio da dignidade da pessoa
humana, cabendo ao Judiciário determinar o cumprimento dessa obrigação.
Segundo a lição de Ingo Wolfgang Sarlet., Doutor e Juiz de Direito de
Entrância Final (RS) “Em relação aos habituais argumentos da ausência de
89
recursos e da incompetência dos órgãos judiciários para decidirem sobre a
alocação e destinação de recursos públicos, não nos parece que esta solução
possa prevalecer, ainda mais nas hipóteses em que está em jogo a preserva-
ção da vida humana.”
É o caso do cenário prisional brasileiro, os presidiários, como antes ci-
tado, vivem em condições desumanas, em um ambiente superlotado, com má
higiene e péssimas condições de nutrição e convívio, situações afrontosas à
dignidade do ser humano, por se tratarem de princípios básicos para a vida e
sua manutenção. Portanto o poder judiciário tem a posse do direito de agir
contra essa epidemia, apesar de haverem leis que defendem as políticas pú-
blicas da saúde é necessário que haja um comando de ação, para que essas
normas funcionem não só na esfera formal mas também na prática material.
SOLUÇÕES HIPOTÉTICAS:
90
atendimento à saúde da população, podendo, quando as suas disponibilida-
des forem escassas, partir para a iniciativa privada.
METODOLOGIA:
REFERENCIAL TEÓRICO:
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos Direitos Fundamentais. 2. ed. Porto Alegre: Liv.
do Advogado, 2001.
BOBBIO, Norberto. A era dos Direitos. Trad. Carlos Nelson Coutinho. 14. ed. Rio de
Janeiro: Campus, 1992
ROCHA, Cármen Lúcia Antunes (coordenadora). O Direito à vida digna. Editora
Fórum Ltda, 2004.
Tuberculose nos presídios brasileiros é emergência de saúde e de direitos humanos,
dizem especialistas. (Acesso em 24/04/2018 às 15h23) Disponível em:
https://nacoesunidas.org/tuberculose-nos-presidios-brasileiros-e-emergencia-de-
saude-e-dedireitos-humanos-dizem-especialistas/
91
A INTERVENÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO
COMO FORMA DE GARANTIR OS DIREITOS
FUNDAMENTAIS EM FACE DA TEORIA DA
RESERVA DO POSSÍVEL
JULIA PASSALACQUA49
PROBLEMA
49
Graduanda em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
92
O Estado possui uma obrigação constitucional referente ao rol de direi-
tos individuais, previstos no artigo 5º, e os direitos sociais no artigo 6º da CF.
No artigo 96 CF, que trata da saúde, que é um direito de todos e deve o Estado
prestar assistência. Assim, uma norma relacionada com a matéria dos direitos
fundamentais sociais mesmo sendo infraconstitucional (como a lei de orça-
mento), deve ser interpretada com o objetivo de atribuir uma grande efetivi-
dade.
No que diz respeito ao princípio da separação de poderes, argumento
utilizado pelo Poder Legislativo e Executivo, contra a intervenção do Poder
Judiciário para realizar a concretização de determinado direito social é legíti-
mo tal intervenção, pois como assegura Fernando Facuryscaff por certo o
papel do Poder Judiciário não é o de substituir o Poder Legislativo transfor-
mando o que é discricionariedade legislativa em discricionariedade judicial,
mas o de dirimir conflitos nos termos da lei.
No entanto, o Judiciário passou a realizar outra função, o papel de legis-
lador negativo, em que controla a constitucionalidade das leis, e também a
legalidade de ações administrativas de concretização. O poder também pode
atuar como legislador positivo, que pode transcender seu papel original, exer-
cendo legítimo papel político.
A grande questão é se as cortes estão adotando este papel de legislador
extraordinário (positivo). Se for extremamente legítimo tais ultrapassados
limites. Afinal a finalidade do Poder Judiciário é não permitir a restrição à
efetivação dos direitos fundamentais sociais, propostos pela teoria da reserva
do possível?
Um tema que é muito discutido atualmente é a educação. Visto que, este
direito social fundamental é alvo de vários conflitos, pois o Estado alega falta
de recursos financeiros, todavia não demonstra a sua exaustão financeira,
portanto seu argumento é falho. O outro argumento falho é que o direito à
educação faz parte das despesas obrigatórias do Estado, em que não estão
sujeitas à discricionariedade do governo, pois são encargos sociais.
HIPÓTESE
93
que muitas vezes não atende aos limites de sua competência, violando a or-
dem jurídica.
Uma outra opinião, sobre este papel do judiciário é de Barroso (1996),
dizendo que o “padrão mínimo” no cumprimento das tarefas estatais, sem
grande prejuízo, ser ordenado por parte do Judiciário, o que infelizmente dei-
xa de acontecer devido apenas a motivos ideológicos e não jurídicos racionais.
(BARROSO,1996, p.155). Sarlet (2001), também argumenta que o Estado não
pode alegar a falta de verbas e da ausência da competência do Judiciário para
executar a aplicação de recursos públicos, como por exemplo, na área da saú-
de. Não se pode privar o cidadão de recursos materiais mínimos.
(SARLET,2001, p.323)
É deste modo, que o Judiciário assumi um papel extraordinário, que fis-
caliza o Poder Legislativo e Executivo.
MARCO TEÓRICO
METODOLOGIA
94
sentença que obriga o município de São Paulo a matricular crianças em unida-
des de ensino infantil próximas de sua residência ou do endereço de trabalho
de seus responsáveis legais, sob pena de multa diária por criança não atendi-
da. Obrigação estatal de respeitar os direitos das crianças. Legitimidade cons-
titucional da intervenção do Poder Judiciário em caso de omissão estatal na
implementação de políticas públicas previstas na CF Inocorrência de trans-
gressão ao postulado de separação de poderes, tendo a proteção judicial de
direitos sociais, escassez de recursos e a questão das “escolhas trágicas.” Re-
serva do Possível, Mínimo existencial, dignidade da pessoa humana, e vedação
do retrocesso social.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
95
São Paulo, 2009.doi: 10.11606/T.2.2009.tde-03062011-114104. Acesso em :2018-04-
29.
SANTANA, Izaias José de. O poder judiciário e o controle do conteúdo das políticas públi-
cas de saúde. 2011. Tese (Doutorado em Direito do Estado) - Faculdade de Direito,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.doi:10.11606/T.2.2012.tde- 22042013-
135442. Acesso em :2018-04-29.
LIMA, Andréia Maura Bertoline Rezende de. O direito fundamental e social à saúde e a
dignidade da pessoa humana na sociedade de risco. Revista de direito privado, V.12,
n.47, p. 173-198, jul./set. 2011.
96
LEGITIMIDADE DO PODER JUDICIÁRIO PARA
INTERVIR NA CONCRETIZAÇÃO DE POLÍTICAS
PÚBLICAS APLICADAS AO MÍNIMO
EXISTENCIAL FACE À INEFICIÊNCIA DO
EXECUTIVO
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
50
Graduando em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
97
pela constituição federal de 1988, quando estabelecido o Estado Social de
Direito e o que isso significou para nossa nação.
Serão demonstrados então, alguns entendimentos trazidos pela dou-
trina brasileira acerca dos conceitos de mínimo existencial e reserva do possí-
vel, bem como uma análise da atuação do judiciário frente às omissões do
poder executivo.
O Estado social, no contexto em que foi introduzido pela Constituição
de 1988, debutou uma fase inédita no constitucionalismo brasileiro. Seja com
a inserção de muitos direitos sociais e de dispositivos para a proteção da or-
dem social, seja com a reorganização da separação de poderes. Tornou o Exe-
cutivo, o fomentador de políticas públicas; o Legislativo, como criador de leis
e, mais que isso, como organizador das normas brasileiras; e o Judiciário como
guardião da Constituição, protetor os direitos sociais e fiscalizador dos demais
poderes.
Contudo, além de reconhecer direitos e reorganizar os poderes, essa
nova fase também se preocupou em tratar dos direitos sociais, econômicos e
culturais e tudo o que se relacionava com a dignidade da pessoa humana,
igualdade e cidadania. Esse Estado Social, tornou obrigações de prestação
governamental direitos que antes eram ignorados, por exemplo, direito à edu-
cação, saúde e moradia. Essa prestação estatal, como vimos, deve ser efetivada
via políticas públicas, competência do Poder Executivo (Torres, 2001).
É impossível falar de direito sociais sem abranger a questão do mínimo
existencial. Esse conceito, previsto na constituição federal, é expresso tanto
como um dos fundamentos da República, no artigo 1o, inciso III, quanto no
artigo 170, "caput", que trata dos objetivos da ordem econômica e está inti-
mamente relacionado ao princípio da dignidade da pessoa humana.
Delimitar o conceito de mínimo existencial é, uma tarefa árdua e ousa-
da, visto que não é fácil determinar o que um indivíduo necessita para viver.
Segundo Sarlet e Figueiredo (2008, P. 22), a noção de mínimo existencial não
pode ser confundida com "mínimo vital", pois para manutenção da vida hu-
mana, não é necessário a dignidade ou qualidade, mas somente o básico para
satisfazer as necessidades fisiológicas do corpo, no entanto, para se ter um
parâmetro é possível considerar as conquistas sociais até aqui alcançadas e
medir pelo que a maioria tem acesso, sem deixar de ponderar as necessidades
particulares de cada indivíduo.
Outros autores também se empenharam para conceituar o "mínimo
existencial". Barcellos (2002, P. 126) ensina que mínimo existencial compre-
ende o conjunto de necessidades básicas do indivíduo, ligando-o diretamente
ao princípio da dignidade da pessoa humana, que segunda a autora, elenca a
educação fundamental, a saúde básica, a assistência aos desamparados e o
acesso à justiça, como elementos fundamentais de prestação governamental.
Por seu turno, Torres (1995, P. 126) assinalava a problemática de con-
fundir o mínimo existencial com a própria questão da pobreza, pois a pobreza
absoluta deve ser, obrigatoriamente, combatida pelo Estado, enquanto a po-
98
breza relativa está, na verdade, ligada a redistribuição de riquezas que é com-
batida em acordo com as possibilidades sociais e orçamentárias.
O último conceito trazido, deslinda o conceito de reserva legal, que
também deve ser considerado nessa discussão. Formulado pelo Tribunal Fe-
deral Alemão, tem como objetivo limitar a atuação do Estado da efetivação dos
direitos sociais e fundamentais, prezando pelo interesse da maioria em detri-
mento do particular. É necessário esclarecer que não se trata nem de discrici-
onariedade do Estado em prestar ou não assistência ou mesmo criar ou não
uma política pública, tampouco se trata da falta de recursos financeiros para
realizar a prestação, o que o Tribunal Federal Alemão alegou foi a razoabilida-
de do pedido.
A corte alemã entendeu que o pleito individual não deve prevalecer
sobre o interesse da coletividade, uma vez que, ao se falar de prestação finan-
ceira estatal, estamos falando também de prestação financeira da sociedade
como um todo, tendo em vista que a sociedade é quem alimenta a máquina
estatal.
O grande problema desse conceito ter sido aplicado à realidade brasi-
leira é ele ser repetidamente utilizado como óbice ao cumprimento do dever
estatal na prestação e concretização de suas obrigações. É certo que cabe ao
poder executivo a liberdade de estabelecer onde serão aplicados os recursos
orçamentários, no entanto, quando falamos de mínimo existencial não é per-
mitida essa discricionariedade.
E é nesse contexto que nasce o debate sobre a atuação do poder judiciá-
rio interferindo na esfera dos outros poderes na tentativa de efetivar os valo-
res e preceitos fundamentais constitucionais.
Existem inúmeras críticas ao famoso "ativismo judicial", a maioria se
pauta na questão de que a intervenção do judiciário no espaço político ocasio-
na grave desequilíbrio em detrimento da democracia, isso porque, o poder
executivo é composto por indivíduos escolhidos via voto para representar as
parcelas da população, constituindo o pluralismo político. Não se pode igno-
rar, também, argumentos acerca da lesão ao princípio da separação de pode-
res, onde se alega que ao intervir, seja para obrigar o cumprimento de uma
demanda individual, seja para impor a execução de uma política pública, o
judiciário deixa de agir na esfera de sua jurisdição, ultrapassando a linha e
invadindo a jurisdição do poder executivo .
Contudo, é de grande importância salientar que garantir a concretiza-
ção de políticas públicas que abrangem o mínimo existencial é uma função do
judiciário, assim como a proteção da constituição federal e é nesse sentido que
a parte da doutrina brasileira se pauta. Barcellos (2008, P. 118-125), condensa
a maioria dos fundamentos que legitimam a atuação do judiciário nessas ques-
tões. Inicialmente, a autora ensina a que para o funcionamento regular da
democracia é indispensável o exercício de um conjunto básico de direitos
fundamentais, pois, de outro modo, aos indivíduos é impossibilitado a efetiva-
99
ção da liberdade individual em participar do processo político, facilitando a
corrupção, ineficiência e clientelismo na gestão das políticas públicas.
A autora ainda defende que não há que se falar em incapacidade dos ju-
ízes em analisar as questões sociais com uma visão da "macro-justiça", poden-
do analisar somente as questões englobadas na "micro-justiça", pois a
primeira é formada por múltiplos casos da segunda e, portanto, se não respei-
tados os direitos e questões individuais indispensáveis para a dignidade hu-
mana, incorrerá uma injuridicidade em sua concepção.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARCELLOS, Ana Paula de. A Eficácia Jurídica dos Princípios Constitucionais. O princí-
pio da dignidade da pessoa humana. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 126.
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direitos fundamentais: o controle político-social e o controle jurídico no espaço demo-
crático. In: SARLET, Ingo Wolfgang. TIMM, Luciano Benetti (Org.). Direitos fundamen-
tais, orçamento e reserva do possível. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008, p.
118-128.
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ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Consulta em 29 de abril de 2018.
SARLET, Ingo Wolfgang. FIGUEIREDO, Mariana Filchtiner. Reserva do possível, mínimo
existencial e direito à saúde: algumas aproximações. In: SARLET, Ingo Wolfgang. TIMM,
Luciano Benetti (Org.). Direitos fundamentais, orçamento e reserva do possível. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2008, p. 22.
TORRES, Ricardo Lobo. O Orçamento na Constituição. Rio de Janeiro: Renovar, 1995, p.
126.
TORRES, Ricardo Lobo. A cidadania multidimensional na era dos direitos. In: LOBO
TORRES, Ricardo Lobo. Teoria dos direitos fundamentais. 2 ed. Rio de Janeiro: Renovar,
2001, p. 243-342.
100
DIREITO A ÁGUA É DIREITO À VIDA
PROBLEMA E HIPÓTESE
51
Graduando em Direito pela Universidade Federal De Mato Grosso Do Sul – UFMS - Campus De Três
Lagoas/MS.
52
Graduando em Direito pela Universidade Federal De Mato Grosso Do Sul – UFMS - Campus De Três
Lagoas/MS.
101
Sendo uma lei que veio para nos garantir uma tutela jurídica ambiental
dos recursos hídricos, como uma real positivação jurídico-ambiental. (BELLO
FILHO, 2009, P. 28).
A água é um bem de domínio público, considerado um recurso natural
limitado, de valor econômico e, ainda, um bem de matriz constitucional. Ape-
sar da Constituição Federal não elencar o direito a água como fundamental, ele
pode ser tratado como tal por decorrer do direito ao meio ambiente ecologi-
camente equilibrado, estando ligada diretamente a dignidade da vida humana
no que diz respeito ao acesso à água potável, pois sem ela não há vida, ou ain-
da, pode levar a doenças de tal modo que a saúde pode ser prejudica, ocasio-
nando doenças graves.
Nesse sentido, existe uma proposta de Emenda Constitucional que obje-
tiva incluir a água dentro do rol dos direitos sociais previstos no 6°artigo fi-
cando da seguinte maneira:
“Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia,
a água, o lazer, a segurança, a previdência, a assistência aos desamparados, na
forma desta Constituição”.
Ressalva-se que implicaria ao Estado uma responsabilidade de provi-
mento para todos, não a tratando como um bem econômico, mas como um
bem social que está disponível para todas as pessoas, sem distinção de renda,
devendo ser usufruída por todos os indivíduos.
Não há dúvidas sobre a necessidade de uma ação conjunta de sociedade
com Estado para diminuir os desperdícios e, é preciso uma proteção jurídica
desse bem precioso. Além disso, passar a ter uma educação ambiental ade-
quada para evidenciar o quão importante é para a manutenção da vida, de-
vendo preservá-la. É de grande necessidade adotar a água potável como uma
prerrogativa humana fundamental, para que os Estados e seus órgãos desen-
volvam e executem políticas, programas ou ações voltadas para todos terem
acesso a água de qualidade, protegendo uma sobrevivência digna para todas
as gerações.
METODOLOGIA
102
MARCO TEÓRICO
103
ameaça a vida e destrói os meios de subsistência a uma escala arrasadora, algo
difícil de mensurar (RDH, 2006, p.1).
No ano de 1992 as Nações Unidas dispuseram na Agenda 21: “18.2 A
água é necessária em todos os aspectos da vida. O objetivo geral é assegurar
que se mantenha uma oferta adequada de água de boa qualidade para toda a
população do planeta, ao mesmo tempo em que se preserve as funções hidro-
lógicas, biológicas e químicas dos ecossistemas, adaptando as atividades rela-
cionadas com a água. Tecnologias inovadoras, inclusivo o aperfeiçoamento de
tecnologias nativas, são necessárias para aproveitar plenamente os recursos
hídricos limitados e protegê-los da poluição.” (AGENDA 21, capítulo 18).
Ademais, devido ao crescente desperdício e a contaminação indiscrimi-
nada da água, o Comitê da ONU, em 2002, adotou o seu comentário geral N° 15
que defende o direito humano à todos ter acesso água suficiente, segura, acei-
tável, fisicamente acessível e a preços razoáveis para usos pessoais e domésti-
cos sem nenhum tipo de distinção (Comitê da ONU para os Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais).
No Brasil, como dito acima, apesar da Constituição não dizer expressa-
mente sobre direito água, há a política Nacional de Recursos Hídricos e Sane-
amento Básico que trata diretamente do princípio da universalidade, o qual
diz respeito sobre o amplo acesso ao abastecimento e ao saneamento básico e,
além disso, ao princípio da modicidade das tarifas que é garantir que o preço
não se torne obstáculo para a não utilização da água.
Enfim, a água deve ser considerada, antes de tudo, um bem social o qual
todos têm acesso, não restando dúvida que é um pré-requisito para efetivar os
outros direitos fundamentais pois, sem esse elemento a vida se torna mais
desumana e degradante, violando um dos mais importantes direitos funda-
mentais que é a dignidade da pessoa humana. Além disso, é importante ressal-
tar que, a preservação da água é de grande importância para a manutenção da
vida na terra e que pensar em algo inesgotável é retroceder, é preciso ter um
comprometimento de toda a sociedade para as gerações presentes e futuras.
CONCLUSÃO
Pode-se concluir que a água é o bem mais precioso e não há vida sem
esse elemento, tornando-a essencial em quase todas as atividades humanas. É
considerada um recurso natural que exerce um papel fundamental na manu-
tenção da vida da terra.
Apesar disso, o seu acesso ainda é difícil para algumas sociedades e isso
afeta diretamente a dignidade de qualquer ser humano, colocando em risco
sua vida e sua saúde, atingindo diretamente um direito fundamental de suma
importância, o qual deve ser protegido.
É preciso formar uma educação ambiental adequada que leve as pesso-
as a se conscientizarem sobre a grande necessidade de preservação do meio
104
ambiente para a existência humana, visto que sobreviver na terra sem o aces-
so a água potável é impossível. A conscientização para a não poluição dos rios
e a criação de políticas públicas para que o fornecimento seja feito de forma
igualitária, estabelecendo metas mundiais e nacionais voltadas para a viabili-
zação do acesso a água de qualidade para toda a população. No Brasil é preciso
se desfazer da premissa que temos água em abundância, o que acaba por con-
trariar os programas e a gestão sustentável dos recursos hídricos.
REFERÊNCIAS
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 24. ed. São Paulo:
Malheiros, 2005
CASTRO, Liliane Socorro de. Direito fundamental de acesso a água potável e a dig-
nidade da pessoa humana. 2009. 05 p. Artigo Cientifico (Direito)- UFMS, [S.l.], 2009.
Disponível em: <http://www.ambito juridi-
co.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13202>. Acesso em: 19 abr.
2018.
NÓBREGA, Guilherme Pupe da. O acesso à água como direito fundamental à vida.
Disponível em: <http://www.osconstitucionalistas.com.br/o-acesso-a-agua-como-
direitofundamental-a-vida>. Acesso em: 19 abr. 2018.
SIRVINSKAS, Luis Paulo. Manual de direito ambiental. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
105
RESERVA DO POSSÍVEL VERSUS DEMANDAS
DE PACIENTES COM CÂNCER TERMINAL POR
NOVOS TRATAMENTOS: COMO A PRIMEIRA
INSTÂNCIA PAULISTANA DECIDE?
Palavras-chave:
Câncer. Paciente terminal. ANVISA. Medicamento novo. Direito à saúde.
PROBLEMA
53
Graduando em Direito na Universidade Presbiteriana Mackenzie e Médico Intensivista Pediátrico.
106
Vigilância Sanitária) e depois serem incluídas na lista de medicações do minis-
tério da saúde para poderem ser oferecidas de forma regular pela rede públi-
ca. Então, na impossibilidade da espera, os pacientes terminais recorrem à
justiça para que o Estado adquira o tratamento. Nessa situação específica das
demandas do paciente terminal por novos tratamentos/medicações como
procedem os tribunais? Os juízes costumam utilizar consultores ou peritos na
área médica para ajudar em suas decisões?
HIPÓTESES
MARCO TEÓRICO
107
direitos fundamentais estão previstos constitucionalmente e entre eles estão o
direito a vida e direito a saúde.
Porém, esses direitos contemplados na Carta Magna não são necessariamente
efetivados na prática. Além de necessitarem de uma série de leis para regula-
rem sua aplicação, a sua efetivação depende necessariamente de um fator
fundamental: a questão dos recursos disponíveis.
Segundo a teoria geral das dimensões ou gerações, de 1977, existem
três gerações ou dimensões de Direitos Humanos, que têm relações estreitas
com os ideais da Revolução Francesa. Assim, os Direitos de primeira dimensão
correspondem aos ideais de liberdade, os de segunda dimensão aos ideais de
igualdade e os de terceira geração aos ideais de fraternidade.
A vida, sendo um direito de primeira dimensão requer uma atuação
negativa do Estado. Ou seja, requer o respeito e vigilância do Estado a esse
bem fundamental. Já a saúde, direito de segunda dimensão, necessita uma
prestação positiva por parte do Estado, isto é, uma intervenção do mesmo
para sua concretização. E isso significa que o Estado deve dispor de recursos
financeiros para aplicação em saúde. Aí reside o problema: a disponibilidade
de recursos estatais disponíveis para a aplicação na área de saúde.
A Organização Mundial de saúde conceitua o termo saúde como um
estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência
de afecções e enfermidades. Portanto, é um conceito bem amplo.
O Art.196, CF/88 estabelece que a saúde é direito de todos e dever do
Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redu-
ção do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário
às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Daí conclui-se
que nossa constituição garante em tese acesso universal à saúde. Outro ponto
ainda a se considerar é a incorporação de novas tecnologias à saúde e o au-
mento da expectativa de vida da população, o que torna a área da saúde cada
vez mais e mais onerosa ao Estado e o montante de recursos financeiros para
a real efetivação desse anseio se torna gigantesco.
É nesse contexto que entra a teoria da reserva do possível, com ori-
gem na doutrina Alemã, que resumidamente expõe que o Estado deve atender
as demandas sociais individuais de acordo com a razoabilidade, contrapondo
os direitos sociais individuais aos direitos sociais coletivos e privilegiando o
direito da coletividade. Essa teoria tem muitos críticos. Parte deles sustentam
que houve uma deturpação do seu conceito no Brasil, visto que na Alemanha
ela foi usada não para justificar dificuldade orçamentária, mas para estabele-
cer um limite da razoabilidade na prestação de direitos individuais.
Sustentam também que os direitos sociais estão acima dos limites
econômicos e que o Estado não pode usar essa teoria como álibi para fugir de
suas responsabilidades. Outros doutrinadores afirmam mesmo que essa teoria
não seria aplicável no Brasil, pois ela surgiu em um país central, com uma
108
realidade econômica, social e cultural bem diferente da nossa e não pode sim-
plesmente ser importada e aplicada aqui. (ROMANO; DEMARCHI,2015).
Especialmente na área da oncologia, os progressos tecnológicos têm
aumentado exponencialmente as possibilidades de cura dos pacientes ou
mesmo quando incuráveis as doenças, o aumento de sua sobrevida. Porém,
quando o paciente atinge a esgotabilidade dos recursos técnicos para a cura e
não se observa resposta positiva ele é considerado incurável ou “fora de pos-
sibilidade terapêutica”. A partir desse ponto o objetivo terapêutico não é mais
a cura, mas o alívio da dor e do sofrimento do paciente, proporcionando a ele
um término de vida digno.
A conceituação do termo “Paciente terminal” é difícil e imprecisa, pois
envolve aspectos clínicos e emocionais do paciente, de sua família e até mes-
mo dos profissionais de saúde envolvidos no seu tratamento. A linha entre a
viabilidade ou não de um paciente é tênue. Mas, via de regra, considera-se
terminal aquele paciente em que a possibilidade de cura não mais existe e ele
fatalmente caminha para a morte, sendo que a partir desse momento todas as
tentativas de tratamento curativo apenas prolongarão o seu sofrimento.
(PIVA; CARVALHO,1993).
METODOLOGIA
RESULTADOS ESPERADOS
109
uma droga ou tratamento inédito, desconhecido que traz consigo a promessa
de uma nova chance ao paciente já “desenganado”.
Um fator muito importante a ser analisado é a segurança e eficácia
desse novo tratamento. E para isso o juiz deverá se valer de análises de peri-
tos, especialistas na área, assim como da observação da experiência nos países
em que ela já está em uso. Portanto, torna-se fundamental um apoio técnico de
profissionais da área de saúde para auxiliarem na decisão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBUQUERQUE, Ana Paula Martins; MATIAS, João Luis Nogueira. O custo da vida. In:
Congresso Nacional do CONPEDI, 2008, Belo Horizonte. Anais do XVI Congresso Nacio-
nal do CONPEDI. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2007.
COSTA, Anabelle Carrilho; BORGES, Maíra Selva. A judicialização como acesso ao direi-
to à saúde: considerações ao debate brasileiro. Sociedade em Debate, Pelotas, 16(1):
77-89, jan.-jun./2010.
PIVA, Jefferson Pedro; CARVALHO, Paulo R. Antonacci. Considerações éticas nos cuida-
dos do paciente terminal. Revista Bioetica.v.1, n.2,1993. p. 129-138.
ROMANO, Ana Luiza; DEMARCHI, Clovis. Análise do direito a saúde e em especial dos
direitos da pessoa portadora de neoplasia maligna (câncer). Ponto de Vista Jurídico,
Caçador, v.4, n.1, p. 5-34, jan/jun. 2015.
SILVA, Airton Ribeiro da; WEIBLEN, Fabricio Pinto. A Reserva do possível e o papel do
judiciário na efetividade dos direitos sociais. Revista Eletrônica do Curso de Direito Da
UFSM jul./2007 – Vol. 2, N.2, p 42-53.
110
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE, ORÇAMENTO
PÚBLICO E RESERVA DO POSSÍVEL
PROBLEMA
HIPÓTESE
MARCO TEÓRICO
METODOLOGIA
54
Mestranda em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pós-
graduada em Direito Empresarial pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Bacharel em Direito e em
Administração de Empresas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Advogada em São Paulo/SP.
111
Para a elaboração do trabalho será adotado o método hipotético-
dedutivo, desenvolvido por Karl Popper. Nesse contexto, serão analisadas
hipóteses viáveis para a solução do problema proposto. Para tal finalidade, a
pesquisa será desenvolvida mediante pesquisa bibliográfica, com consulta a
doutrina nacional e estrangeira, livros, revistas técnicas, trabalhos acadêmi-
cos, periódicos e pareceres, das áreas econômica e jurídica, além de análise de
dados orçamentários e estatísticos.
RESULTADOS ESPERADOS
Afirma Ingo Wolfgang Sarlet que a efetivação dos direitos sociais pres-
tacionais, ao requerer atuação estatal para a destinação, distribuição, redistri-
buição e criação de bens materiais, implica em custos financeiros com
repercussão econômica muitas vezes relevante55.
Argumenta ainda Sarlet que, diante da limitação de recursos, a reserva
do possível se constitui, de um lado, em limite jurídico e fático à efetivação dos
direitos fundamentais, e de outro lado, em garantia dos direitos fundamentais,
na hipótese de conflitos de direitos, quando serão aplicados os critérios da
proporcionalidade e da garantia do mínimo possível. Daí advém a necessidade
de se decidir quanto à aplicação dos recursos limitados à efetivação dos direi-
tos fundamentais, levando-se em conta, ademais, a conjuntura socioeconômi-
ca56.
Como ponderam Stephen Holmes e Cass R. Sunstein, há um tabu cultu-
ral que permeia a discussão dos custos decorrentes da exigibilidade dos direi-
tos57.
No tocante à saúde, a sua previsão como direito social está no artigo 6º
da Constituição Federal, sendo que o artigo 196, desse mesmo diploma, disci-
plina que a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de
outros agravos, oferecendo-se acesso universal e igualitário às ações e servi-
ços para sua promoção, proteção e recuperação.
Não obstante à atuação estatal, tem-se verificado, ao longo dos anos, um
expressivo crescimento no nível de judicialização da saúde, pois enquanto no
ano de 2006, as demandas judiciais relacionadas à saúde representaram um
dispêndio do Estado no montante de R$ 9,17 milhões, no ano 2015, tal dis-
55
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos
fundamentais na perspectiva constitucional. 12. ed. rev. atual. ampl. Porto Alegre: Livraria do Advoga-
do, 2015. p. 293.
56
SARLET, op. cit., p. 296-297.
57
HOLMES, Stephen; SUNSTEIN, Cass R. El costo de los derechos: por qué la libertad depende de
los impuestos. Buenos Aires: Siglo Veintiuno, 2012. p. 44.
112
pêndio alcançou a cifra de R$ 1,15 bilhão58, conforme se atesta pelo gráfico
abaixo.
58
BRASIL. Advocacia Geral da União. Judicialização da saúde no Brasil: principais projetos desen-
volvidos pela coordenação de assuntos judiciais. Brasília, DF, mai. 2017. p. 3.
59
Ibid., p. 6.
60
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Processo TC 009.253/2015-7. Acórdão nº 1787. Relator
Ministro Bruno Dantas. 16 ago. 2017. p. 35.
61
SCHULZE, Clenio Jair; CHIARELLI, Graciella. O princípio da integralidade na saúde e sua compa-
tibilidade com a escassez de recursos. Revista CEJ, Brasília, n. 64, p. 20-25, set./dez. 2014. p. 22.
113
Tem-se que tal cenário, dada à limitação orçamentária e de recursos,
traduz uma situação de quebra da equidade, na medida em que o deferimento
das demandas judiciais beneficia a poucos pacientes em detrimento da totali-
dade dos cidadãos que dependem do atendimento público de saúde.
Dessa forma, o presente estudo se propõe a refletir sobre propostas e
políticas que permitam compatibilizar a efetivação do direito à saúde, como
direito fundamental, e a limitação de recursos orçamentários públicos, dentro
do contexto da reserva do possível.
Nessa senda, serão objeto de análise propostas atinentes à compra de
medicamentos e à prestação de serviços médico-hospitalares, decorrentes de
decisões judiciais, de forma mais econômica e eficiente, ao combate a eventu-
ais fraudes no âmbito da judicialização da saúde, à avaliação quanto à possibi-
lidade de concessão, de ofício, de licença compulsória para a exploração da
patente, nos casos de emergência nacional ou interesse público, nos termos do
art. 71 da Lei 9.279/9662, dentre outras medidas propostas pelo Tribunal de
Contas da União63.
REFERÊNCIAS
62
Art. 71. Nos casos de emergência nacional ou interesse público, declarados em ato do Poder Executi-
vo Federal, desde que o titular da patente ou seu licenciado não atenda a essa necessidade, poderá ser
concedida, de ofício, licença compulsória, temporária e não exclusiva, para a exploração da patente,
sem prejuízo dos direitos do respectivo titular.
63
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Processo TC 009.253/2015-7. Acórdão nº 1787. Relator
Ministro Bruno Dantas. 16 ago. 2017. p. 64-66.
114
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<http://www.cjf.jus.br/ojs2/index.php/revcej/article/view/1935/1859>. Acesso em:
27 abr. 2018.
115
MÍNIMO EXISTENCIAL E A RESERVA DO
POSSÍVEL: UM PANORAMA ACERCA DA
EFETIVAÇÃO DO DIREITO SOCIAL À
EDUCAÇÃO INFANTIL.
METODOLOGIA
INTRODUÇÃO
64
Graduando em Direito – 4º Período Integral pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Cam-
pus Três Lagoas) – E-mail: murilo.muniz0698@gmail.com
65
Graduanda em Direito – 4º Período Integral pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Cam-
pus Três Lagoas) – E-mail: pyetracarol@hotmail.com
66
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 36. ed. São Paulo: Malheiros, 2013.
p. 288-289.
116
Fundados na Constituição de 1937 sobre influência da Constituição
Alemã de Weimar (1919), os direitos sociais vêm ganhando força em todo o
cenário mundial, inclusive no Brasil através do texto constitucional de 1988,
em que, ganhou um capítulo próprio dos Direitos Sociais, diferentemente de
seu passado, em que se misturava os direitos sociais com os de ordem econô-
mica.67
Apesar dessa diferenciação, os Direitos Sociais ainda continuam estri-
tamente interligados aos Direitos de Ordem Econômica, no tocante que, para
sua devida prestação fática e, consequentemente, sua efetivação, dependem
dos recursos orçamentários obtidos por meio do Estado. No plano material, há
uma disparidade entre as necessidades humanas e os tributos, de modo que,
os recursos orçamentários obtidos por meio de tributação são escassos, e as
necessidades humanas são ilimitadas.68
Os Direitos Fundamentais Sociais apresentam duas facetas, sendo uma
delas os direitos negativos, que são aqueles atinentes à abstenção do Estado
na esfera privada69, ou seja, aquilo que ora fora conquistado, não poderá ser
suprimido do indivíduo por parte deste grande poder; já a segunda faceta,
refere-se aos direitos positivos ou prestacionais 70, onde os direitos sociais são
indispensáveis para atender o indivíduo dando-lhe dignidade.
Por meio de sua face positiva ou prestacional, é inegável o fato de que, a
Constituição Federal de 1988 obriga que sejam instituídos pelo Estado direi-
tos sociais de natureza fundamental ao indivíduo, como por exemplo, o direito
à saúde, à educação, ao assistencialismo social 71, entre outros estipulados no
art. 6º da lei maior72, impondo ao legislador a obrigação de concretizá-los, não
tendo este o poder discricionário de não efetivá-los em virtude da dimensão
prestacional dos direitos sociais.73
Uma questão a ser levada em conta é que, as prestações fáticas possu-
em uma grande relevância para àquelas sociedades que apresentam carências
sociais múltiplas, porém, a efetivação destas prestações são limitadas, fazendo
surgir a chamada reserva do possível, instituto este que trata do reconheci-
mento da limitação fática, imposta pela insuficiência dos recursos. 74A reserva
do possível não serve como escusa para a inércia do legislador, mas como um
67
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 36. ed. São Paulo: Malheiros,
2013. p. 287.
68
SARLET, Ingo Wolfgang. In TIMM, Luciano Benetti. Direitos Fundamentais orçamento e “reserva
do possível”. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010. p.52.
69
SARLET, Ingo Wolfgang. In TIMM, Luciano Benetti. Direitos Fundamentais orçamento e “reserva
do possível”. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010. p.51.
70
Idem
71
SARLET, Ingo Wolfgang. In TIMM, Luciano Benetti. Direitos Fundamentais orçamento e “reserva
do possível”. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010. p.56.
72
BRASIL. Código Civil. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
73
BITENCOURT NETO, Eurico. O direito ao mínimo para uma existência digna. 24. ed. Porto Alegre:
Livraria do Advogado Editora, 2010. p. 145.
74
BITENCOURT NETO, Eurico. O direito ao mínimo para uma existência digna. 24. ed. Porto Alegre:
Livraria do Advogado Editora, 2010. p. 146.
117
instrumento de ponderação, de modo a ser utilizado com a devida fundamen-
tação.75 É importante ainda salientar que a materialização dos direitos sociais
devem ser interpretadas exclusivamente através de um enfoque econômico. 76
É dever do legislador democrático, definir de modo geral, as priorida-
des e políticas públicas, não cabendo, à priori, ao Poder Judiciário pontuar
sobre esses assuntos, sobre o risco de proporcionar direitos relevantes, e
através destes, inviabilizar direitos imprescindíveis.77 Além deste risco, temos
o desprestígio do princípio do pluralismo político (art. 1º, V, CF)78, fundamen-
to da República Federativa do Brasil que deve ser levado em conta, dado atra-
vés do ativismo judicial.79 Porém, a decisão do Poder Judiciário se mostra
imprescindível em alguns casos, ainda mais levando-se em conta o atual con-
texto em que o legislador se mostra omisso em relação a prestação material,
desfavorecendo portanto o chamado mínimo existencial.
O mínimo existencial comporta um conceito amplo e outro estrito, o
primeiro relaciona-se com a efetivação de direitos sociais do indivíduo, pro-
porcionando-lhes dignidade, já o segundo, diz respeito ao mínimo vital, ou
seja, é a realização de direitos sociais atinentes somente à sobrevivência, não
se dando total importância à dignidade. É denominado como mínimo pelo fato
de abranger conteúdos essenciais dos direitos fundamentais e por ser garan-
tido a todos os homens, independentemente de seus status sociais. Nesse sen-
tido, ilustra-se como exemplo os direitos sociais à saúde e à educação.
Tratando-se do direito social à educação, pode-se dizer que o art. 205
da Constituição Federal tem em seu conteúdo a declaração fundamental que,
somado com o art. 6º, coloca a educação em um patamar de direitos funda-
mentais do homem, afirmando que esta é um direito de todos, fundamentado
no princípio da universalidade. 80 Consoante a prerrogativa de que todos pos-
suem o direito à educação, deve o Estado atuar em seu dever prestacional,
concretizando este direito social ao número máximo de pessoas.
O ensino deve ser fornecido pelo Estado de acordo com os princípios
instituídos no art. 206 da Constituição Federal 81, fornecendo a todos possibili-
dades iguais de aprendizado. O problema em questão, é o fato de que este
direito não beneficia a todos, como é o exemplo do caso apresentado no RE
nº410.715-5/SP, onde o município de Santo André, no ABC paulista, alega que
não é de sua competência a manutenção do sistema de ensino infantil, devido
75
BITENCOURT NETO, Eurico. O direito ao mínimo para uma existência digna. 24. ed. Porto Alegre:
Livraria do Advogado Editora, 2010. p. 147.
76
Idem.
77
BITENCOURT NETO, Eurico. O direito ao mínimo para uma existência digna. 24. ed. Porto Alegre:
Livraria do Advogado Editora, 2010. p. 148.
78
BRASIL. Constituição Federal. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
79
BITENCOURT NETO, Eurico. O direito ao mínimo para uma existência digna. 24. ed. Porto Alegre:
Livraria do Advogado Editora, 2010. p. 150.
80
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 36. ed. São Paulo: Malheiros,
2013. p. 315.
81
BRASIL. Constituição Federal. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
118
a ausência de novos recursos capazes de financiar a educação infantil, consi-
derando a enorme demanda de crianças carentes pertencentes a creches e
pré-escolas.82
Todavia, o que não fora levado em consideração pelo município, é que,
há um dever constitucional de sua atuação, que deve ser prioritária, quanto ao
ensino infantil e a educação fundamental e médio (art. 211, § 3º, CF) 83. Deste
modo, não poderá o município abster-se do mandato constitucional outorgado.
Embora seja dever prioritário dos poderes Legislativos e Executivos a
prerrogativa de executar políticas públicas, é possível, no entanto, que o Poder
Judiciário determine, excepcionalmente, hipótese de concretização de políti-
cas públicas quando os órgãos que deveriam cumprir o dever a que lhes foi
imposto permanecem omissos. Essas medidas extraordinárias definidas pelo
Judiciário foram utilizadas no caso em questão, no qual, o município de Santo
André alegava a chamada reserva do possível, mas o Supremo Tribunal Fede-
ral deliberou o cumprimento da prestação educacional às crianças de 0 a 6
anos, a fim de que se efetive o integral desenvolvimento da primeira etapa do
processo de aprendizado.
Porém, levanta-se a questão de como os problemas ligados às presta-
ções fáticas de direitos sociais, incluindo o direito à educação, podem ser solu-
cionados por outra via, que não a judicial.
Dentre os meios pesquisados nesse estudo quanto a efetivação dos di-
reitos sociais concernentes à esfera legislativa, evitando-se a via judicial, fo-
ram encontrados alguns argumentos. O primeiro destes preleciona a
necessidade de implementação dos direitos fundamentais e seus mecanismos
no âmbito das relações privadas, sendo este o remédio necessário para com-
bater a injustiça social e promover a dignidade da pessoa humana. Em suma,
trata-se de um mecanismo de efetivação de justiça redistributiva mediante a
transmutação de riquezas entre privados, no entanto, não é o meio mais efici-
ente de implementação de direitos sociais84.
Outra teoria encontrada, diz que a melhor maneira de se distribuir a
renda é através da tributação, onde desconstitucionaliza o direito privado
afim de que o mercado funcione com maior liberdade e, com isso, gere mais
renda. A tributação atinge a todos, diferentemente da redistribuição do direito
privado, que abrange pequenas parcelas dos indivíduos, e também, é nítido
perceber que a redistribuição de riquezas entre particulares pode ser renego-
ciada segundo os termos do contrato, não trazendo assim os efeitos desejados,
além de que, a transação dessas riquezas gera custos, já a tributação só gera
lucros. Concernente as soluções de conflitos, a tributação passa a ser mais
82
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 410.715-5. Relator Ministro Celso de
Melo, Brasília, 22 de novembro de 2005. p. 1531-1532
83
BRASIL. Constituição Federal. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
84
SARLET, Ingo Wolfgang. In TIMM, Luciano Benetti. Direitos Fundamentais orçamento e “reserva do
possível”. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010. p.58.
119
eficiente, já que é conduzida pelo Poder Executivo e seus conflitos podem ser
solucionados pela via administrativa, diferentemente da redistribuição de
renda, que exige sempre uma ação judicial (coletiva ou privada) para acessar a
lide em questão.85
CONCLUSÃO
Deste modo, fica nítido concluir que, a tributação de renda seria o me-
lhor meio para a efetivação dos direitos sociais, pois atingiria o maior número
de pessoas, ao contrário do direito privado, que atinge pequena parcela dos
indivíduos. Sustentamos ainda que, a criação de políticas públicas sociais e
assistenciais juntamente com planejadas práticas administrativas e econômi-
cas seria a melhor forma do Estado cumprir a sua função.86
REFERÊNCIA
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 36. ed. São Paulo: Ma-
lheiros, 2013.
SARLET, Ingo Wolfgang. In TIMM, Luciano Benetti. Direitos Fundamentais orçamento e
“reserva do possível”. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010.
BRASIL. Código Civil. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
BITENCOURT NETO, Eurico. O direito ao mínimo para uma existência digna. 24. ed.
Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010.
BRASIL. Constituição Federal. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 410.715-5. Relator Minis-
tro Celso de Melo, Brasília, 22 de novembro de 2005. p. 1531-1532.
85
SARLET, Ingo Wolfgang. In TIMM, Luciano Benetti. Direitos Fundamentais orçamento e “reserva
do possível”. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010. p.58-59.
86
SARLET, Ingo Wolfgang. In TIMM, Luciano Benetti. Direitos Fundamentais orçamento e “reserva
do possível”. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010. p.62.
120
CONSTITUCIONALIDADE QUANTO AO
TRANSPORTE GRATUITO PARA
TRATAMENTO DE SAÚDE REMETIDO AO
PACIENTE IDOSO
INTRODUÇÃO
PROBLEMA
87
121
que, seja responsabilidade atribuída ao Estado a execução de mecanismos que
possibilitem uma velhice digna e saudável. Ainda no mesmo Estatuto, no capí-
tulo sobre a saúde, encontramos proteção em aspecto integral no que tange a
vitalidade do idoso, dispondo de todos os meios necessários para promover
prevenção e manutenção da saúde. Nesse sentido, a Constituição desenvolve
ao idoso o aspecto de igualdade em meio a sociedade quando declara no artigo
5º que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”,
tornando inviolável o “direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade”.
Mesmo diante de variados amparos legais é notório observar a falha na
execução legislativa em diversos aspectos, principalmente, no que diz respeito
ao direito do idoso, sendo o alvo dessa atrocidade, sobretudo, os idosos menos
favorecidos economicamente.
A velhice, por si só, torna o indivíduo fisicamente limitado e quando a
saúde se encontra excessivamente lesada se torna ainda mais difícil o acesso
ao hospital para tratamento médico. É nesse aspecto que é imprescindível o
uso de automóvel ou veículo designado para locomoção de pacientes idosos
com idade demasiadamente avançada, ou com enfermidade que possa gerar
impossibilidade física de locomoção, não se confundindo essa questão, com o
socorro prestado pela ambulância em caso de emergência, trata-se de presen-
ça periódica em hospital para determinado tratamento médico.
Como dever do Estado, este é um serviço que precisa ser prestado in-
dispensavelmente em que sua omissão pode gerar graves consequências não
só aos pacientes, mas que também, impõe um lapso constitucional que denota
a ideia de que o suprir das necessidades sociais vai muito além da criação de
leis, mas também se trata de seu pleno exercício de forma efetiva.
O Estado em seu âmbito, responsável por manter o mínimo existencial
acaba por não abranger a mínima base de zelo para uma vida digna, não ha-
vendo ou fornecendo mecanismos de maior necessidade e imprescindíveis
para a existência da vida humana, trata-se de não suprir todas as demandas no
que tange a procura por meios de transportes individuais para executar tal
direito social, em que muitas vezes os pacientes idosos se encontram em situ-
ação bastante delicada e até mesmo em risco, havendo por alegação a falta de
recursos financeiros.
HIPÓTESES
122
social e obrigação do Estado em impor serviço de saúde destinada de forma
igualitária para todos:
123
Existe todo um contexto jurídico destinado à proteção da saúde forma-
lizando bases para desenvolvimento de mecanismos que promovam saúde e
bem-estar social.
O Estado, por sua vez, responsável não só por fazer cumprir ordena-
mento constitucional, mas antes de tudo e principalmente, manter edificadas
as bases que constituem o mínimo existencial, torna inadmissível que a reser-
va do possível não disponha de recursos necessários para manter uma socie-
dade com aquilo que é mais preciso e essencial para seu bem estar, ainda que
para isso seja necessário reduzir custos que não estejam, obviamente, direta-
mente ligados à sociedade, mas custos que possam ser considerados excessi-
vos aos próprios detentores do poder ou no Congresso Nacional.
MARCO TEÓRICO
"O problema reside na falta de afetividade das aferidas normas, pois nem o
Poder Público, nem a sociedade, em geral, possuem sensibilidade suficiente
para lidar com a questão dos portadores de deficiência. Com efeito, a eficá-
cia de uma Constituição depende do modo como ela é cumprida, do grau de
introjeção do chamado "sentimento constitucional". A Constituição, por si
própria, é tão somente um instrumento, não tendo condições de conformar
a realidade social a seu modelo. Para tanto, faz-se fundamental a efetiva im-
plementação de sua força normativa, pelos diversos atores sociais, o que
compreende uma cultura vigilante e praticante da Constituição, por meio de
uma cidadania popular ativa e combativa, bem como, da atuação dos Pode-
res Legislativo, Executivo e Judiciário, um dos principais responsáveis pelo
124
cumprimento da Lei Maior." (PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos Huma-
nos, 1998, p. 302-303)
"O atendimento aos usuários deve seguir uma cadeia progressiva, garantin-
do o acesso aos cuidados e às tecnologias necessárias e adequadas à pre-
venção e ao enfrentamento das doenças para prolongamento da vida."
(MENEZES, Vitor. Direito à Saúde e
Reserva do Possível, 2015, p. 124.)
"Mostra-se desejável que a aplicação dos recursos públicos, por sua direta
implicação orçamentária incumbe, precipuamente ao Executivo e ao Legis-
lador, devendo ao Judiciário o acompanhamento e a eventual correção de
rumos, e, sempre, justificando, fundamentando, com base no coletivo, tal en-
tendimento ao prestar a tutela imediata, de tal sorte que as posições jurídi-
cas fundamentais na esfera social possam ser asseguradas com
responsabilidade, com vistas a garantir a harmonia e a paz social."
(MENEZES, Vitor. Direito à Saúde e
Reserva do Possível, 2015, p. 234.)
METODOLOGIA
125
manutenção de recursos de reserva do possível para que haja o mínimo exis-
tencial.
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
AITH, Fernando. Curso de direito sanitário: a proteção do direito à saúde no Brasil. São
Paulo: Quartier Latin, 2007. p. 59.
126
COMO A REDUÇÃO DA FROTA DE ÔNIBUS EM
SÃO PAULO FERE A MATERIALIZAÇÃO DO
DIREITO SOCIAL AO TRANSPORTE
PROBLEMA
88
Graduanda em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
127
to à diminuição de veículos públicos que atendam à população, como parte da
reforma no sistema do serviço de ônibus da capital.
HIPÓTESE
MARCO TEÓRICO
128
gera a segurança de requerer a um poder normativo de força vinculante a
ação do Estado, objetivando fazeres que gerassem ao menos a atenuação de
desigualdades materiais decorrentes dos sistemas de governo e economia
vigentes. Dentre os direitos sociais elencados pela Constituição Federal, o
mais recente deles, adicionado ao rol em 2015, reforça a noção de que o direi-
to social ao transporte é essencial para a sociedade atual, visando o acesso
igualitário a outros direitos fundamentais como educação, saúde, trabalho,
lazer, etc.
Tal assunto é sensível a toda cidade que comporta milhões de habi-
tantes e que lida com o crescimento urbano e a gestão da infraestrutura ne-
cessária para comportar tal crescimento sem que a população perca em
qualidade de vida e bem estar. É por isso que tanto o Estatuto da Cidade (Lei
N. 10.257/2001), quanto o Plano Diretor da cidade de São Paulo (Lei N.
16.050/2014) buscam oficializar o trabalho municipal em busca de garantir
direitos a todos, sem que para isso a qualidade do procedimento tenha que ser
reduzida. Aliás, tal redução em qualidade implicaria diretamente na redução
da eficácia do direito ao transporte, tratamento que, embora não expresso na
constituição federal, é vetado em decorrência do entendimento que se faz
dela.
METODOLOGIA
RESULTADOS ESPERADOS
Seria difícil não se concluir que a garantia do bem estar dos habitan-
tes da cidade, principalmente dos mais vulneráveis, confronta com a redução
de custos com veículos de transporte público. Além disso, o dispositivo corre o
risco de se afastar do que diz o estatuto da cidade, que deixa claro que deve
haver a oferta de [...] transportes e serviços públicos adequados aos interesses
e necessidades da população e às características locais (Estatuto da Cidade,
129
art.2°, inciso V). Com isso, também contrariaria o Plano Diretor da cidade de
São Paulo, que preza pela qualidade de vida dos paulistanos, pela redução de
tempo despendido no trânsito, pela correção de distorções advindas do cres-
cimento horizontal da cidade, enfim, pelo planejamento adequado de mobili-
dade urbana que esteja de acordo com a realidade cotidiana da população.
REFERÊNCIAS
130
DIREITOS SOCIAIS DE MULHERES GRÁVIDAS
OU EM COMPANHIA DE SEUS FILHOS NO
SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO
PROBLEMA:
HIPÓTESE:
89
Graduanda em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
90
Graduanda em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
131
MARCO TEÓRICO
132
desenvolvimento, os quais podem ser atribuídos ao rompimento na interação
com a figura materna. (1988)
Em fevereiro de 2018, o STF acordou que mulheres grávidas e mães de
crianças de até 12 anos que estejam em situação de prisão provisória cum-
pram esse período de prisão em seu domicilio. Estima-se que, com essa deci-
são, 14 mil mulheres sejam liberadas, de acordo com o Coletivo de Advocacia
em Direitos Humanos (CADH). O ministro Gilmar Mendes determinou que
essa decisão também abrangerá mães de filhos com deficiência física ou men-
tal, de qualquer idade. No entanto, essa decisão não abarca mulheres que
cometeram crimes de grave ameaça ou contra seu(s) próprio(s) filho(s).
(CASADO; CANCIAN, 2018)
De acordo com MATSUDA, PEREIRA e DE SOUZA: “A reserva do possí-
vel é um argumento ocasionalmente utilizado nas respostas do Estado às de-
mandas judiciais cujo objeto é o adimplemento de prestações previstas em
normas que conferem aos cidadãos algum direito fundamental social.” (2010;
p. 4) O Estado passou a utilizar o princípio da reserva do possível como argu-
mento para não cumprir com o papel instituído pelo Constituição que é o de
provedor das necessidades da sociedade, representada pelos direitos funda-
mentais e sociais ali descritos como o direito a saúde, a educação, ao transpor-
te (...) (KRELL apud SARMENTO, 200., p. 570)
O princípio do mínimo existencial surge como uma resposta à reserva
do possível, estabelecendo que existem certos direitos que não podem ser
violados pelo princípio da reserva do possível. É um direito que visa garantir
condições mínimas de existência humana digna, e se refere aos direitos posi-
tivos, pois exige que o Estado ofereça condições o desenvolva programas
que promova a eficácia plena na aplicabilidade destes direitos. (SARLET,
2015. p. 93)
Conclui – se, portanto, que o mínimo existencial relaciona – se com a
problemática em questão uma vez que a situação das mulheres grávidas e com
filhos no cárcere envolve direitos relacionados a saúde tanto da mãe quanto
do filho, da educação da criança e da dignidade humana de ambas as partes. E
não seria cabível o uso do princípio da reserva do possível sob a alegação de
insuficiência orçamentária. Dessa forma, surge a necessidade da implementa-
ção de intervenções preventivas, políticas públicas, e de uma juridicidade mais
justa, na qual possa - se substituir a pena privativa de liberdade violenta por
alternativas que não violem os direitos humanos e que não sejam mais um
aparelho de reprodução de violência.
Os espaços prisionais reservados para mães e bebês são denominados
de unidade (ou ainda ala) materno-infantil, sendo que cada unidade tem ca-
racterísticas próprias. (SANTA RITA, 2006)
Este período além de gerar o afastamento da mãe do cotidiano prisio-
nal, no qual provoca o isolamento e a sensação de solidão, ocorre também o
fim do exercício de atividades laborais e a impossibilidade de remissão da
133
pena e de continuidade das tarefas escolares. Portanto, de acordo com
SANTOS ainda que os espaços materno-infantis ofereçam melhores condições
espaciais e físicas, constituem espaços de disciplina, no qual a mulher e o filho
costumam passar todo o tempo. (2011, p. 60)
A prisão apresenta uma série de riscos para o menor. Segundo
CAZAMARO as reclusas acabam influenciando os filhos com sentimentos nega-
tivos, e muitas vezes, atribuem a este o papel de suporte emocional e figura
contentora. Além disso, quanto mais tempo mãe e filho permanecerem na
prisão, a tendência é que se crie uma relação de dependência mútua, o que
prejudicará no desenvolvimento psicossocial da criança. (CANAZARO, 2014. p.
15)
Apesar da Lei nº 12.962/14 (BRASIL, 2014) ter assegurado a convivên-
cia de crianças e adolescentes com mães e pais privados de liberdade, preven-
do que criança ou o adolescente será mantido em sua família de origem,
diversas mães relataram angustiadas não ter conhecimento do destino de sua
criança abrigada, e o medo de perdê-los para uma família adotiva.
(CANAZARO, 2014. p. 17).
METODOLOGIA
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KRELL. A. J. TIMM. L. B. (org). Direitos fundamentais, orçamento e reserva do pos-
sível. Porto Alegre: Livraria do advogado, 2008.
MATSUDA. J. T. M.; PEREIRA. H. M.; DE SOUZA. L. M. O Mínimo Existencial Como
Limite à Aplicação da Reserva do Possível aos Direitos Fundamentais Sociais.
2010.
SANTA RITA. R. P. Mães e crianças atrás das grades: em questão o princípio da
dignidade da pessoa humana. Mestrado em Política Social. Universidade de Brasília.
2006
SANTOS. R. C.S. “Maternidade no cárcere: reflexões sobre o sistema penitenciário
feminino”. Mestrado em Política Social, Universidade Federal Fluminense. 2011.
SARLET, I. Dignidade da Pessoa Humana e os Direitos Fundamentais. 2015
135
A REALIZAÇÃO DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS, NA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL DE 1988, E OS FENÔMENOS DELA
DECORRENTES
RESUMO
INTRODUÇÃO
91
Advogada, mestranda em Direito Político e Econômico na Universidade Presbite-
riana Mackenzie (UPM), São Paulo/SP. <dandara_adv@yahoo.com.br>.
136
fazendo forçoso o estudo de fenômenos, tais como, o ativismo judicial, a reser-
va do possível e o mínimo existencial, os quais, por sua vez, constituem no
objetivo deste trabalho.
PROBLEMA
HIPÓTESE
MARCO TEÓRICO
METODOLOGIA
137
DISCUSSÃO
Tendo por base a Constituição de 1988, a qual, foi promulgada com ob-
jetivo de assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a
segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valo-
res supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fun-
dada na harmonia social e comprometida (...) com a solução pacífica das
controvérsias; entendemos que a prestação de direitos sociais ocupa um locus
privilegiado em nosso ordenamento jurídico.
Tais direitos se consubstanciam e se concretizam com a prestação ma-
terial, ativa e positiva, de bens e serviços pelo Estado, de modo a garantir e
prover a subsistência de todos os seus membros.
O problema, contudo, reside no fato de que, em que pese a força consti-
tucional de tal preceito, na prática, o Estado se mostra insuficiente para dar, a
todos, de modo satisfatório, as parcelas mínimas e dignas de prestação dos
direitos sociais. E isto ocorre por diversos motivos, que vão desde a real exi-
guidade de finanças, para movimentar a engrenagem da máquina pública, até
a insipiência e falta de preparo das lideranças políticas, ausência de planeja-
mento, corrupção, malversação e desperdício de recursos públicos...
Importa tecer, todavia, que tal insuficiência fez deslanchar, no Brasil, o
fenômeno da judicialização das políticas públicas, o qual se expressa no au-
mento das demandas judiciais, em face dos entes federados, com o objetivo de
deles exigir, a concreta prestação dos direitos sociais, previstos no texto cons-
titucional.
Este é um tema bastante polêmico, mas sua abordagem se faz imperio-
sa, principalmente em razão dos recentes e acalorados debates, na sociedade
brasileira, acerca dos limites de atuação de cada esfera do poder. Porém, vol-
tando para o aspecto jurídico, é certo que alguns pontos concernentes ao ati-
vismo judicial estão pacificados, como por exemplo, afirma Bucci (2006), a
possibilidade de submissão, de uma determinada política pública, ao controle
jurisdicional, sem que isso configure violação ao Princípio da Separação dos
Poderes.
Ora, a Constituição é clara ao aludir que a lei não excluirá da apreciação
do Judiciário lesão ou ameaça a direito. Se a função precípua das políticas
públicas é garantir a sólida prática dos direitos salvaguardados pela Constitui-
ção, não há que se falar em afronta ao Princípio da Separação dos Poderes, a
atividade de controle, pelo Judiciário, quanto a prestação ou não destes direi-
tos. Até mesmo porque, é esta fiscalização capaz de combater a atuação abusi-
va e garantir o pleno e legítimo funcionamento do sistema de freios e
contrapesos.
O que não implica dizer, todavia, que os excessos não devam ser coibi-
dos, pois, uma coisa é garantir, mediante processo judicial, a efetivação do
138
direito violado por ação ou omissão do Estado, enquanto outra é fazer o juízo
valorativo acerca da qualidade e adequação de determinada política, conforme
Bucci (2006). Pois, o Judiciário não constitui (e não deve constituir) o lugar de
formação das políticas públicas, as quais, para o seu desenvolvimento, depen-
dem do emprego de tarefas próprias dos poderes Executivo e Legislativo, tais
como, a realização de audiências públicas e estudos preliminares, definição
sobre as metas, a alocação de recursos humanos e financeiros, a legitimação
da política em instrumentos normativos próprios, dentre outros.
Além do mais, eventuais excessos possivelmente contribuirão para que
haja um desbalanceamento no processo de execução e controle da política, na
medida em que os juízes não estão adstritos aos procedimentos administrati-
vos a ela atinentes. Ou seja, é possível que a decisão judicial, dado seu caráter
imediato e executório, instrumentalize e potencialize o desequilíbrio na oferta
de serviços e bens sociais, podendo ser utilizada como meio de obter posição
mais vantajosa na ordem de suas prestações.
É comum ouvir do Estado, em sua defesa, que a oferta de bens e servi-
ços sociais não deve ser entendida como uma prestação desarrazoada, sem
que haja uma ponderação entre as circunstâncias mínimas presentes em cada
caso concreto e a real disponibilidade orçamentária/ financeira para prestá-
las. Para Matsuda, Pereira e Souza (2011), este é o fundamento básico do prin-
cípio da Reserva do Possível, conceito nascido na jurisprudência alemã, na
década de 70. Por tal preceito, em cada situação específica, o peso dado a cada
princípio ou garantia juridicamente defensável, deve ser analisado com base
na ponderação, de modo que, desta forma, se torne possível descobrir qual
dos direitos, em jogo, deve ser sacrificado, com observância à proporcionali-
dade, adequação e necessidade. Esta também é a opinião de Alexy (2008). No
entanto, a reserva do possível deve ser entendida como aquilo que o indivíduo
pode requerer, de modo razoável, da sociedade, não se tratando apenas de um
fator, puramente matemático, de disponibilidade de recursos ou não.
A preocupação aqui apresentada não deixa de exprimir uma realidade,
correspondente ao fato de que os recursos financeiros do Estado, serem sim,
limitados e finitos; e de fato, proporciona às decisões judiciais, em matéria de
políticas públicas, mais qualidade e profundidade argumentativa. Mas, se ad-
mitirmos taxativamente este conceito, corremos o risco de incorrer no retro-
cesso social, ou seja, na situação de banalização do valor atribuído aos direitos
sociais, cujo status atual, não podemos nos esquecer, é fruto de um longo pro-
cesso de desenvolvimento histórico, civilizatório e social, não pacífico, na mai-
oria das vezes.
Como solução a esta colisão de interesses, se apresenta o conceito de
mínimo existencial, o qual consiste numa criação doutrinária, que visa pacifi-
car o embate jurídico entre necessidade de garantia de direitos sociais versus
possibilidade orçamentária de sua prestação, pelo Estado. Para Sarlet e Fi-
gueiredo (2010), trata-se do núcleo essencial, ou seja, o conteúdo mínimo dos
139
direitos sociais que não poderia ser restringido, em nenhuma hipótese, nem
mesmo sob a justificativa de indisponibilidade financeira.
Para Torres (2008), no entanto, a dificuldade existe em determinar
precisamente qual a substância do mínimo existencial, o qual carece de um
conteúdo específico, podendo abranger qualquer direito, seja ele fundamental
ou não, visto possuir dimensão inalienável e essencial. Além, de ter relação
mais próxima com os aspectos qualitativos que com os quantitativos dos direi-
tos.
Esta noção assume grande relevância nos processos judiciais, que ver-
sam sobre a prestação dos direitos sociais, principalmente quando o Estado se
utiliza da alegação da reserva do possível, para se furtar de sua obrigação de
promovê-los. Pois, o mínimo existencial é capaz de limitar a porção mínima
inatingível pela reserva do possível, sob pena de inviabilizar a sobrevivência
digna do titular do direito.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Trad. Virgílio Afonso da Silva. São
Paulo: Malheiros Editores, 2008.
140
BUCCI, Maria Paula Dallari; Políticas Públicas Reflexões Sobre O Conceito Jurídico. São
Paulo:
Saraiva, 2006.
MATSUDA, Juliana Tiemi Maruyama; PEREIRA, Helida Maria; SOUZA, Luciana Camila
de; O Mínimo Existencial Como Limite À Aplicação Da Reserva Do Possível Aos Direitos
Fundamentais Sociais. Disponível em<file:/minimo_existencial_juliana_tiemi>. Acesso
em 16 abr. 2018.
TORRES, Ricardo Lobo, O Mínimo existencial como conteúdo essencial dos direitos
fundamentais. In: C. De Souza Neto e D. Sarmento (org). Direitos Sociais. Fundamentos,
judicialização e direitos sociais em espécie. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 313-
339.
141
INCONSTITUCIONALIDADE DO CRITÉRIO DE
MISERABILIDADE DO BPC E LIMITES DO
ATIVISMO JUDICIAL FRENTE À
ORGANIZAÇÃO DO DIREITO À ASSISTÊNCIA
SOCIAL NO BRASIL
PROBLEMA E HIPÓTESE
92
Doutoranda em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie; Professora
Adjunta da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (CPTL/UFMS). e mail: ancilla-
mack2018@hotmail.com.
93
Doutoranda em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestre em
Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Especialista em Direito
Público com ênfase em Direito Constitucional aplicado pela Faculdade Damásio de Jesus. Advogada. e
mail: melina_ferracini@hotmail.com
142
necessariamente, ter contribuído com a Seguridade Social, pois a assistência
aos desamparados integra o núcleo de direitos essenciais relativos ao mínimo
existencial.
O auxílio aos desamparados significa o último recurso na preservação
da dignidade humana. O seu conteúdo é dado pelas condições mais elementa-
res que se exige para a subsistência humana: alimentação, vestuário e abrigo.
A dificuldade nesse particular não está propriamente no conteúdo da assis-
tência, mas na forma mais eficiente e adequada de prestá-la, bem como em
suas repercussões sociais. (BARCELLOS,2011, p. 337)
Pois bem, os beneficiários do BPC são, dessa forma, idosos a partir de
65 anos e pessoas com deficiência que não tenham como manter suas necessi-
dades básicas, e nem contem com família apta para tal. Para que possam usu-
fruir do benefício, no entanto, essas pessoas precisam obedecer a um critério
de miserabilidade: a comprovação de renda per capita inferior a ¼ do salário
mínimo.
O critério, no entanto, sempre foi alvo de discussões. Na Ação Direta de
Inconstitucionalidade 1232-1/DF, de 1998, por exemplo, foi questionado
quanto à sua constitucionalidade, na oportunidade, mantida pelo Supremo
Tribunal Federal. Mais tarde, de 2004 a 2006, vigoraria a Súmula 11, editada
pela Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais, que
dizia: “a renda mensal, per capita, familiar, superior a ¼ (um quarto) do salá-
rio mínimo não impede a concessão do benefício assistencial previsto no art.
20, § 3º da Lei nº. 8.742 de 1993, desde que comprovada, por outros meios, a
miserabilidade do postulante”.
Porém, a mais recente decisão a respeito do critério de miserabilidade
para concessão do BPC veio do Supremo Tribunal Federal, por meio da Re-
clamação 4374. A Corte Suprema, ao declarar o artigo 20, § 3º, da Lei
8.742/1993 como parcialmente inconstitucional, jogou luz na já polêmica
questão dos limites do ativismo judicial, na medida em que os fundamentos da
decisão são questionáveis por óticas plausíveis.
Em primeiro lugar, o ponto de ancoragem das questões que envolvem a
assistência aos desamparados é o dever inafastável do Estado de assegurar à
pessoa idosa e à pessoa com deficiência o direito ao percebimento do BPC, na
tentativa de superar o quadro atual de imensas desigualdades sociais.
No entanto, diante do decidido na Reclamação Constitucional 4374,
surge um problema a ser debatido: cabe ao Judiciário a interferência no crité-
rio de miserabilidade, considerando a atribuição do legislador para, democra-
ticamente, decidir a organização da assistência aos desamparados?
Consequentemente, a hipótese levantada é a de que o flagrante ativismo judi-
cial, na tentativa de garantir o mínimo existencial, estaria ferindo princípio
democrático.
143
MARCO TEÓRICO
144
ciário tem, em verdade, decidido, em substituição ao processo democrático à
maneira pela qual a assistência aos desamparados deveria ser prestada.
Não fosse assim, Alexy (2008, p. 208) não teria afirmado a relação triá-
dica dos direitos que exigem prestação positiva do Estado: “relação [...] entre
um titular (a), um destinatário (b) e um objeto (c)”.
Nesse sentido, Sarlet (2013, p. 36) reconhece que “[...] no que diz res-
peito ao conteúdo do assim designado mínimo existencial, bem como no que
concerne a sua proteção e implementação, existe uma gama variada de posici-
onamentos sobre as possibilidades e limites de atuação do poder judiciário
nessa seara [...]”. Afinal de contas, quando o Judiciário adota uma postura que
interfere significativamente nas alternativas democráticas de um dos outros
poderes, limitando a atuação deles, deslegitima a participação popular e judi-
cializa em excesso a política.
Dessa forma, como alertam Sarlet e Zockun (2016, p. 135), o Supremo
Tribunal Federal, no caso da referida Reclamação, entende por ofensivo ao
mínimo existencial o dispositivo em tela, e, além disso, dá prazo para o legis-
lador, “no âmbito do processo político e democrático [...] providenciar os ajus-
tes necessários, corrigindo sua própria obra e adequando-a aos parâmetros
constitucionais”.
O problema, no entanto, é que o fez sem deixar transparentes os parâ-
metros constitucionais, em verdade, único objeto real de ocupação da Supre-
ma Corte no caso apresentado, como se o processo democrático pudesse ser,
então, orquestrado por um maestro ausente de sua essência. Nesse caso, o
legislador está obrigado a avaliar de modo responsável e transparente, medi-
ante um procedimento controlável e baseado em dados confiáveis de cálculo
claros, a extensão concreta das prestações vinculadas ao mínimo existencial.
(SARLET, 2013, p. 41).
A expansão do Supremo Tribunal Federal, interferência direta no prin-
cípio democrático de separação dos poderes, a despeito das pretensões da
sociedade e da vontade política do Legislativo, abriria, então, uma lacuna ino-
minável no que toca aos critérios de concessão do BPC, na medida em que, ao
considerar a defasagem do critério já estabelecido, expande uma margem de
possibilidades insustentável aos cofres públicos, quando deixa em aberto um
“conceito de miserabilidade”, que, em tese, nem é de sua competência definir,
outrossim, quando essa margem ameaçaria, também, a reserva do possível.
METODOLOGIA
145
RESULTADOS ESPERADOS
REFERÊNCIAS
BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Reclamação 4374/PE, Relator Min. Gilmar Men-
des, Brasília, DF, j. 18. Abr. 2013.
______. ADI 1232-1/DF, Rel. Min. Ilmar Galvão, Relator do acórdão Min. Nelson Jobim,
d.j. 1º. Jun. 2001.
FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio. O Judiciário frente à divisão dos poderes: um princí-
pio em decadência? Revista USP, n. 21, p. 12-21, 1994.
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade (da pessoa) humana, mínimo existencial e justiça
constitucional: algumas aproximações e alguns desafios. Revista do CEJUR/TJSC:
Prestação jurisdicional, v. 1, n. 01, p. 29-44, dez. 2013.
______; ZOCKUN, Carolina Zancaner. Notas sobre o mínimo existencial e sua interpreta-
ção pelo STF no âmbito do controle judicial das políticas públicas com base nos direitos
sociais. Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 3, n. 2, p. 115-141,
maio/ago. 2016.
146
JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL
E ATIVISMO JUDICIAL
INTRODUÇÃO
94
Mestrando em Direito pelo Centro Universitário Eurípedes de Marília – UNIVEM. Integrante do
grupo de pesquisa Constitucionalização do Direito Processual (CODIP). Formado em Direito pelo
Centro Universitário Toledo de Araçatuba. Advogado. E-mail: araimb@hotmail.com
.
147
O trabalho faz uma reflexão acerca da jurisdição constitucional e o ati-
vismo judicial, numa tentativa de demonstrar que a expressão não possui
somente conotação pejorativa, mas antes de tudo, concretiza uma nova era do
pensamento jurídico. Para tanto é aplicado o método hipotético-dedutivo, com
pesquisas bibliográficas e jurisprudenciais.
Palavras chaves: Constituição. Eficácia Normativa. Decisões Judiciais.
148
dignidade da pessoa humana; o ser humano no centro do direito, portador de
um mínimo existencial intangível, e concretizável por instrumentos contidos
na própria Constituição Federal.
Diz-se isso porque, ao se criticar o Judiciário por adotar essa postura,
com teses sobre a inexistência de autorização constitucional para que este se
comporte como legislador positivo, deve o exegeta mais atento observar que
ao Judiciário está adstrito ao princípio da inafastabilidade do controle jurisdi-
cional (CF, art. 5º, XXXV).
E mais, o sistema de controle de constitucionalidade, que adotou a for-
ma difusa e também a concentrada, permitiu que no caso de controvérsia
sobre diretrizes públicas ou a omissão do poder público, é passível solução
utilizando precipuamente os direitos e garantias constitucionais.
No caso concreto, cabe ao Judiciário dar a resposta adequada ao jurisdi-
cionado, buscando mecanismos que a própria Constituição Federal dispõe.
Mesmo porque, há a vedação ao non liquet.
A ideia de ativismo judicial, portanto, está associada a uma participação
mais ampla e intensa do Judiciário na concretização dos valores e fins consti-
tucionais, com a aplicação direta da Constituição a situações não expressa-
mente contempladas em seu texto e independente da manifestação do
legislador ordinário, a declaração de inconstitucionalidade de atos normativos
emanados do legislador, no caso de violação da Constituição, e imposição de
condutas ou abstenções ao Poder Público, notadamente em matéria de políti-
cas públicas.
Neste caminho, não se mostra pejorativo a denominação de ativismo
para os novos rumos interpretativos seguidos pelo Judiciário brasileiro, e em
grande parte do mundo.
A omissão legislativa e sua crise de legitimidade no contexto nacional,
atrelada a inércia do executivo na promoção de políticas públicas adequadas
permitem, legitimamente, o incursionamento nesta seara, sem que isso abale a
separação de poderes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
149
O ativismo, visto pelo ângulo da maior eficácia dos direitos fundamen-
tais e controle dos atos legislativos flagrantemente inconstitucionais, em nos-
so entender, não tem conotação negativa.
A ressalva que se faz, diz respeito a intromissão do Judiciário nas op-
ções feitas pelo legislador, ou até mesmo do administrador público nas políti-
cas públicas. Nesse caso, forçoso o entendimento de que não é correto ao
Judiciário interceder apontando escolha diversa. Falta a ele legitimidade de-
mocrática para tanto.
REFERÊCIAS
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 16 ed. São Paulo:
Malheiros Editores, 2000.
RAMOS, Elival da Silva. Ativismo judicial: parâmetros dogmáticos. São Paulo: Sarai-
va, 2010.
150
A COLISÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS
NA REFORMA PREVIDENCIÁRIA BRASILEIRA
PROBLEMA
A PEC 287/2016 que altera os artigos 37, 40,109, 149, 167,195, 201 e
203 da Constituição Federal, para dispor sobre seguridade social, estabelecer
regras de transição e dar outras providências está com sua tramitação sus-
pensa no Congresso Nacional, desde o mês de fevereiro do presente ano, en-
tretanto, os problemas que ensejaram a necessidade de reforma do sistema de
seguridade social brasileiro continuam latentes, pois a gestão dos recursos
públicos para o custeio dos direitos sociais garantidos na CF/88, tais como
saúde, previdência e assistência social, destinados às gerações atuais e futuras,
ainda não se mostrou adequada. Quais princípios jurídicos podem orientar a
pretendida reforma previdenciária? A escolha de critérios para nortearem as
mudanças legislativas propostas merecem aprofundamento acadêmico, inclu-
sive para elucidar a colisão de direitos fundamentais.
HIPÓTESE
95
Doutoranda do Programa de Direito Político e Econômico
151
gênero, que, por sua vez, se subdividem em duas espécies: os princípios e as
regras.
Desse modo, buscando harmonizar as colisões de princípios é que se
deve analisá-los em diferentes graus e conforme as possibilidades fáticas e
jurídicas, por meio da ponderação96.
MARCO TEÓRICO
METODOLOGIA
CONCLUSÃO
96
ALEXY, Robert. 1999, p.74-75.
97
Ibid., p. 73.
98
Disponível em
https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/conhecimento/noticias/noticia/envel
hecimentotransicao-demográfica . Acesso em 19 Abr. 2018.
99
ALEXY, Robert . 1999, p. 73. 5 ARE 875958 RG.
152
ceiro e atuarial, da vedação ao confisco, da razoabilidade, da capacidade con-
tributiva, da proporcionalidade e da isonomia são princípios orientadores da
matéria previdenciária.
A aparente colisão entre os princípios orientadores da reforma previ-
denciária: a) reserva do possível e mínimo existencial; b) equilíbrio financeiro
e atuarial do sistema de seguridade social e proibição do retrocesso social; e
por fim, c) justiça intergeracional e direito adquirido exige o aprofundamento
acadêmico para que se encontrem os limites constitucionais traçados pelo
poder constituinte originário em 1988, garantidores dos direitos fundamen-
tais e formas de recuperar a higidez financeira e atuarial capaz de preservar o
próprio sistema que está correndo o risco de entrar em colapso.
A ponderação dos princípios já mencionados permite avaliar a realida-
de brasileira e estabelecer critérios jurídicos balizadores para a futura refor-
ma previdenciária.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ARE 875958 RG/ Relator(a): Min. ROBERTO
BARROSO, j. em 16/02/2017. Disponível em:
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=12485328.
Acesso em 01 Mai. 2018.
REIS, Carla; BARBOSA, Larissa Maria de Lima Horta; PIMENTEL, Vitor Paiva. O desafio
do envelhecimento populacional na perspectiva sistêmica da saúde. BNDES Setorial,
Rio de Janeiro, n.44, p. 87-124, set 2016. Disponível em:
https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/conhecimento/noticias/noticia/e
nvelhecimento-transicao-demográfica. Acesso em 19 Abr. 2018.
153
MARCO LEGAL DA PRIMEIRA INFÂNCIA E
PROTAGONISMO CIDADÃO: O FIRMAMENTO
DA EDUCAÇÃO PARTICIPATIVA COMO
DIREITO SOCIAL.
PROBLEMA
100
Professora Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pós-Doutora em Direitos
Humanos e Trabalho pelo Centro de Estudos Avançados da Universidade Nacional de Córdoba, Argen-
tina. Pós-Doutoranda em Novas Narrativas na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São
Paulo (ECA/USP). Pós Doutoranda em Direitos Humanos e Democracia pelo Instituto Ius Gentium,
Universidade de Coimbra, Portugal. Doutora e Mestre pela PUC/SP. Graduada em Jornalismo pela
Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero e em Direito pela UPM. Professora do Curso de
Graduação da Faculdade de Direito da UPM. Professora do Curso de Graduação em Direito da Univer-
sidade São Judas Tadeu. Professora Convidada do Curso de Pós Graduação Lato Sensu da ECA/USP.
Líder do Grupo de Pesquisa Emergente – CriaDirMack- Direitos da Criança do Adolescente no Século
XXI da Faculdade de Direito da UPM. E-mail: anatorezan@mackenzie.br
101
Professora Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Doutora e Mestre em
Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Especialista em Direito
Constitucional com Extensão em Didática do Ensino Superior. Professora nos Cursos de Graduação e
Pós-Graduação “Lato Sensu” da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Vice- líder do Grupo de Pes-
quisa Emergente – CriaDirMack- Direitos da Criança do Adolescente no Século XXI da Faculdade de
Direito da UPM Vice-líder do Grupo de Pesquisa CNPq “Políticas Públicas como Instrumento de
Efetivação da Cidadania” e do Grupo de Estados “Criança e Adolescente no Século XXI”. Pesquisadora
no Grupo de Pesquisa “Estado e Economia no Brasil”. Avaliadora de diversos periódicos nacionais e
autora de diversos artigos e livros jurídicos. E-mail: michelle.junqueira@mackenzie.br
154
tionamento, no Direito à Comunicação, Direito à voz, todos entrelaçados para
o diálogo e transformação cidadã, conjugando aspirações ideais do dogmatis-
mo e múltiplas disposições para sua concretização por meio de atores sociais
coordenados por pragmáticas políticas públicas.
HIPÓTESE
MARCO TEÓRICO
155
que lhe digam respeito, em conformidade com suas características etárias e de
desenvolvimento”.
Salientando, ainda, conforme previsão do parágrafo único: “A participa-
ção da criança na formulação das políticas e das ações que lhe dizem respeito
tem o objetivo de promover sua inclusão social como cidadã e dar-se-á de
acordo com a especificidade de sua idade, devendo ser realizada por profissi-
onais qualificados em processos de escuta adequados às diferentes formas de
expressão infantil”.
Cumprindo este papel merece destaque a 10ª Conferência Nacional dos
Direitos da Criança e do Adolescente (CNDCA) ocorrida em abril de 2016 com
uma das maiores representatividades de crianças até então, sendo de 1400
participantes, um terço composto por crianças e adolescentes. A CNDCA foi
convocada pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
(Conanda) integra as Conferências Conjuntas de Direitos Humanos. O objetivo
é implementar a Política e o Plano Decenal dos Direitos Humanos de Crianças
e Adolescentes, a partir do fortalecimento dos Conselhos de Direitos da Crian-
ça e do Adolescente (DCA) – órgãos formados por representantes da socieda-
de civil e dos governos, previstos no ECA e responsáveis por discutir, fiscalizar
e decidir sobre as políticas públicas voltadas a esse público e articular outras
iniciativas para efetivar os direitos de crianças e adolescentes.
Para tanto, a educação deve promover mais enfaticamente em uma cul-
tura associativa e participativa do que na mera comunicação unilateral de
princípios morais e o núcleo do processo educacional não estaria focado ape-
nas no repasse de diretivas individuais para ações corretas 102 ou mesmo na
produção de qualificações profissionais, mas no aprendizado de “condutas que
permitam a atuação moralmente autoconfiante numa comunidade operante”
103.
METODOLOGIA
RESULTADOS ESPERADOS
103
HONNETH, Axel. Educação e esfera pública democrática: um capítulo negligenciado da filoso-
fia política. Civitas, v. 13, n. 3, p. 544-562, 2013.
156
conceito de criança está em franco desenvolvimento, e o Brasil, de maneira
inédita na América Latina, trouxe para o Estatuto da Primeira Infância a
importância da abordagem participativa e do direito à voz, como direitos
humanos fundamentais e que já passam a nortear dogmaticamente o
ordenamento jurídico bem como passa a agir como bússola na produção
efetiva de políticas públicas a partir das escutas infantis.
Mais do que uma lei, o Marco Legal está vocacionado e comprometido
para transformar o hoje e impactar o amanhã a partir das crianças e da infân-
cia brasileira com vistas à formação de cidadãos, engajados e protagonistas. E
que assim seja....
REFERÊNCIAS
157
EDUCAÇÃO DIGITAL E MÍNIMO EXISTENCIAL:
A EFETIVAÇÃO DO DIREITO A EDUCAÇÃO NA
SOCIEDADE DE INFORMAÇÃO
PROBLEMA DE PESQUISA:
104
Doutoranda em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestre em
Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Especialista em Direito
Público com ênfase em Direito Constitucional aplicado pela Faculdade Damásio de Jesus. Advogada. e-
mail:melina_ferracini@hotmail.com
105
Doutorando em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestre em
Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Especialista em Direito
Tributário também pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atualmente é Advogado e Professor da
faculdade de Direito do Centro Universitário Adventista de São Paulo, nas disciplinas de Direito Eco-
nômico, Direito Constitucional - Ordem Tributária, Econômica e Social, Direito Eleitoral. Tem experi-
ência na área Direito Público, com ênfase no Direito Tributário, Direito Econômico e Direito
Financeiro. e-mail: filipe_piazzi@hotmail.com
158
Vale lembrar que a educação, enquanto direito social constitucional-
mente previsto funciona como instrumento para desenvolvimento pleno do
indivíduo e contribui para que o mesmo efetivamente exercite sua cidadania.
A educação tem o condão de capacitar o sujeito para exercitar seus direitos e
deveres perante a sociedade e de também qualificá-lo para exercício de sua
profissão e por consequência incluí-lo no mercado de trabalho.
Assim, o direito a educação integra um núcleo essencial de direitos pre-
vistos na Constituição brasileira que necessita ser concretizado pelo Estado de
forma eficiente, de maneira que cada indivíduo tenha garantido um mínimo
necessário para viver com dignidade sob uma ótica pessoal e social.
A partir dessa compreensão pode-se afirmar que o direito à educação
integra um valor intrínseco inestimável ao indivíduo e deve ser efetivado em
toda sua abrangência; desde o ensino fundamental, superior como também no
seu aspecto digital. Nesse sentido, a falta de acesso à educação digital implica-
ria em violação ao princípio da dignidade da pessoa, pois a exclusão digital
significa reflexamente exclusão social, já que a sociedade tecnológica concen-
tra a maioria de suas relações econômicas e interpessoais no ambiente virtual.
Convém destacar, ainda nesta quadra, que a dignidade implica uma dimensão
sociocultural e que é igualmente considerada como carente de respeito e
promoção pelos órgãos estatais, razão pela qual, prestações básicas em maté-
ria de direitos e deveres culturais (notadamente no caso da educação funda-
mental e destinada a assegurar uma efetiva possibilidade de integração social,
econômica, cultural e política ao indivíduo), mas também o acesso a alguma
forma de lazer, estariam sempre incluídas no mínimo existencial, o que tam-
bém corresponde, em termos gerais, ao entendimento consolidado na esfera
da doutrina brasileira sobre o tema.106
Na tentativa de compatibilizar o direito a educação com os avanços
tecnológicos, foi promulgado o Marco Civil da Internet que, especificamente,
em seus artigos 26 e 27 traduz as ideias do uso seguro da Internet como ins-
trumento para exercício da cidadania e promoção da inclusão digital. 107
No entanto, apesar de todo aparato jurídico aqui apresentado, o mí-
nimo existencial, no que diz respeito à educação não é de fato assegurado a
106
SARLET, Ingo Wolfgang. Notas sobre o mínimo existencial e sua interpretação pelo STF no âmbito
do controle judicial das políticas públicas com base nos direitos sociais. Revista de Investigações Cons-
titucionais Curitiba, vol. 3, n. 2, p. 115-141, maio/ago. 2016. Disponível em:
<https://revistas.ufpr.br/rinc/article/view/46594/28767.>Acesso em 25 abr. 2018.
107
BRASIL. Lei 12.965, de 13 de abril de 2014. Marco Civil da Internet. Estabelece princípios, garanti-
as, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil. Presidência da República. Art. 26. O cumprimen-
to do dever constitucional do Estado na prestação da educação, em todos os níveis de ensino, inclui a
capacitação, integrada a outras práticas educacionais, para o uso seguro, consciente e responsável da
internet como ferramenta para o exercício da cidadania, a promoção da cultura e o desenvolvimento
tecnológico. (grifo nosso) Art. 27. As iniciativas públicas de fomento à cultura digital e de promoção
da internet como ferramenta social devem: I - promover a inclusão digital; II - buscar reduzir as desi-
gualdades, sobretudo entre as diferentes regiões do País, no acesso às tecnologias da informação e
comunicação e no seu uso; e
III - fomentar a produção e circulação de conteúdo nacional. (grifo nosso). Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm.> Acesso em 24
abr.2018.
159
parcelas expressivas da população brasileira, seja pela falta de políticas públi-
cas que garantam o ensino fundamental e superior ou pela falta de infraestru-
tura dos entes federativos em disponibilizar tal acesso aos indivíduos. E como
decorrência a educação digital fica prejudicada representando verdadeira
violação ao princípio da dignidade da pessoa humana.
A problemática parte do pressuposto de que a educação digital, den-
tro do contexto social contemporâneo constitui valor essencial ao ser humano,
na medida que amplia sua capacidade de autodeterminação e de exercício da
cidadania diante dos avanços tecnológicos. Nesse contexto, diante da previsão
legal existente, como os entes federativos tem se articulado para concretizar o
direito à educação digital e consequentemente diminuir a disparidade de
oportunidades entre os indivíduos? As políticas públicas focadas na difusão do
ensino digital têm se aplicado efetivamente?
HIPÓTESE:
MARCO TEÓRICO:
METODOLOGIA:
160
CONCLUSÃO DOS RESULTADOS ESPERADOS:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ABRUSIO, Juliana; FLORÊNCIO FILHO, Marco Aurélio; MASSO, Fabiano Del. Marco Civil
da Internet - Lei 12.965/2014. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.
BRASIL. Lei 12.965, de 13 de abril de 2014. Marco Civil da Internet. Estabelece princí-
pios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil. Presidência da Re-
pública. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2014/lei/l12965.htm.> Acesso em 24 abr.2018.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em 22
abr.2018.
BAUMAN, Zygmunt. Danos colaterais: desigualdades sociais numa era global. Tradu-
ção de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação Histórica dos Direitos Humanos. 7. ed. São
Paulo: Saraiva, 2010.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. 2ª. ed. São Paulo: Ed. 34, 2000.
SARLET. Ingo Wolfgang. Notas sobre o mínimo existencial e sua interpretação pelo
STF no âmbito do controle judicial das políticas públicas com base nos direitos
sociais. Revista de Investigações Constitucionais Curitiba, vol. 3, n. 2, p. 115-141,
maio/ago. 2016.Disponível em:
<https://revistas.ufpr.br/rinc/article/view/46594/28767.> Acesso em 25 abr. 2018.
161
REFLEXÕES SOBRE A RESERVA DO POSSÍVEL:
DA NECESSÁRIA RELEITURA SOB AS LUZES
DO ORDENAMENTO BRASILEIRO
INTRODUÇÃO
108
Advogado graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ. E-mail: vrodri-
guess@gmail.com
109
BARCELLOS, Ana Paula. Constitucionalização das políticas públicas em matéria de direitos funda-
mentais: o controle político-social e o controle jurídico no espaço democrático. In: SARLET, Ingo
Wolfgang; TIMM, Luciano Benetti (org.). Direitos fundamentais: orçamento e “reserva do possível”. 2.
ed. rev. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010. p. 104.
110
Imperioso destacar a advertência formulada por Maria Paula Dallari Bucci quanto a um conceito
jurídico de políticas públicas: “Embora estejamos raciocinando há algum tempo sobre a hipótese de um
conceito de políticas públicas em direito, é plausível considerar que não haja um conceito jurídico de
políticas públicas” BUCCI, Maria Paula Dallari . O conceito de política pública em direito. In: BUCCI,
Maria Paula Dallari (Org.). Políticas públicas: reflexões sobre o conceito jurídico. 1 ed. São Paulo:
Saraiva, 2006. p. 47
162
Ainda que a alocação dos escassos recursos disponíveis seja, por exce-
lência, de competência do administrador público, a crescente insatisfação
popular com as medidas intentadas pelos representantes do Executivo eleitos
nos mais variados níveis da federação, bem como o destaque exacerbado as-
sumido pelo Poder Judiciário como órgão de controle e confiança popular têm,
cada vez mais, deslocado o palco de discussão e efetivação destes direitos do
seio democrático à atividade jurisdicional, num claro exemplo do fenômeno da
judicialização da vida111.
Neste aspecto, mesmo na hipótese de determinado indivíduo ou cole-
tividade buscarem apoio da atividade jurisdicional para a efetivação de dado
direito subjetivo constitucionalmente previsto, tal fato não é capaz de alterar a
situação de escassez econômica vivenciada pelo Estado, sobretudo em mo-
mentos de crise econômica. Por conseguinte, a ideia de reserva do possível
surge como óbice apresentado pelos representantes do Poder Público no cur-
so das demandas judiciais eventualmente propostas para a concretização de
direitos fundamentais.
Contudo, a ideia de reserva do possível vem sendo utilizada no direito
brasileiro praticamente como sinônimo de “orçamento limitado”, se afastando
de suas raízes históricas advindas do direito germânico no caso conhecido
como “numerus clausus”. Nesta situação, o referido conceito foi talhado em
uma ideia mais próxima à proporcionalidade daquilo que o particular pode –
ou não – exigir do Estado, e não apenas relacionada ao mote orçamentário,
proveniente da escassez de recursos públicos.
Assim, o pretende-se analisar o distanciamento do conceito de reser-
va do possível no direito pátrio à ideia formulada pelo Tribunal Constitucional
da Alemanha, propondo uma releitura da referida teoria, a partir de seu con-
fronto com outros institutos e/ou ideias, como o postulado da proporcionali-
dade, o mínimo existencial, a separação dos poderes e a capacidade
institucional dos atores políticos envolvidos em sede judicial.
PROBLEMA
111
Os motivos para o crescimento deste fenômeno são variados, perpassando por uma justificada des-
confiança no próprio Poder Executivo após cerca de vinte anos de regime autoritário e da ineficácia das
medidas adotadas pela Administração Pública até motivos relacionados ao próprio jogo democrático,
como a separação dos poderes e o exercício dos direitos políticos. Neste sentido, ver BAPTISTA,
Patrícia; CAPECCHI, Daniel. Se o Direito Administrativo fica, o Direito Constitucional não passa:
perspectivas do direito público contemporâneo sobre uma velha questão. Revista de Direito da Cidade,
Rio de Janeiro, v. 8, n. 4, p. 1950, 2016. Disponível em http://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/rdc/article/view/25461/19165.
163
rio – dificulta, inclusive a defesa do Poder Público em juízo, uma vez que des-
loca o ônus argumentativo do particular para o próprio Estado, que deve
comprovar a ausência de recursos112.
Além da discussão inerente à própria reserva do possível, também se-
rão trabalhadas questões tangenciais ao tema, como a efetivação de direitos
fundamentais pelo Estado, a judicialização da política, a separação dos pode-
res e a caracterização do mínimo existencial.
HIPÓTESE
MARCO TEÓRICO
112
Diversas são as recentes decisões do Supremo Tribunal Federal que impõe ao Poder Público o ônus
de comprovar a escassez de seus recursos como forma de aceitar o argumento da reserva do possível.
Neste sentido, ver RE 592.581/RS, AgRE 796.347/RS, EDcl no ARE 875.333/RS, dentre outros.
113
KRELL, Andreas Joachim. Direitos sociais e controle judicial no Brasil e na Alemanha: os
(des)caminhos de um direito constitucional “comparado”. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor,
2002. p. 52.
114
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 6. ed. rev. atual. e ampl. Porto
Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2006. p. 301-302.
115
MÂNICA, Fernando Borges. Teoria da Reserva do Possível: Direitos Fundamentais a Prestações e a
Intervenção do Poder Judiciário na Implementação de Políticas Públicas. Revista Brasileira de Direito
Público, Belo Horizonte, ano 5, n. 18, p. 169-186, jul./set. 2007.
116
BARRETTO, Vicente de Paulo. O fetiche dos direitos humanos e outros temas. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2010. p. 204-206.
164
A posição proposta nesse trabalho, ao mesmo tempo em que inicial-
mente almeja afastar as noções distintas da reserva do possível – especial-
mente no tocante a ser uma mera defesa orçamentária –, também propõe uma
revitalização daquele conceito tríplice formulado por Ingo Wolfgang Sarlet,
ampliando o debate e acrescentando novos elementos que já foram, inclusive,
elencados por parte da doutrina nacional117.
METODOLOGIA
CONCLUSÃO
117
Apenas a título de exemplo, podemos citar os trabalhos de Daniel Sarmento, Gustavo Amaral, Dani-
elle Melo e Alinie da Matta Moreira que trazem novos elementos e/ou ampliam aqueles já expostos
anteriormente. SARMENTO, Daniel. Dignidade da pessoa humana: conteúdo, trajetória e metodologia.
2. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2016. AMARAL, Gustavo. MELO, Danielle. Há direitos acima dos
orçamentos? In: SARLET, Ingo Wolfgang; TIMM, Luciano Benetti (org.). Direitos fundamentais:
orçamento e “reserva do possível”. 2. ed. rev. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010.
MOREIRA, Alinie da Matta. As restrições em torno da reserva do possível: uma análise crítica. Belo
Horizonte: Fórum, 2011.
165
ca e jurídica do Brasil, como forma de melhor compreender o instituto e suge-
rir uma releitura, ampliando os alicerces do debate.
BIBLIOGRAFIA
AMARAL, Gustavo. MELO, Danielle. Há direitos acima dos orçamentos? In: SARLET,
Ingo Wolfgang; TIMM, Luciano Benetti (org.). Direitos fundamentais: orçamento e “re-
serva do possível”. 2. ed. rev. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010;
BARRETTO, Vicente de Paulo. O fetiche dos direitos humanos e outros temas. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2010;
BUCCI, Maria Paula Dallari. O conceito de política pública em direito. In: BUCCI, Maria
Paula Dallari (Org.). Políticas públicas: reflexões sobre o conceito jurídico. 1 ed. São
Paulo: Saraiva, 2006;
166
COMPLIANCE E JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE:
O GRANDE DESAFIO DAS
“ESCOLHAS TRÁGICAS”
MAYKEL PONÇONI118
SANDRO BERNROIDER BACOLI119
RESUMO
PROBLEMA
118
Doutoranda e mestre em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie,
especialista em Direito Público pela Universidade Gama Filho/RJ, servidora do Governo do Estado de
Mato Grosso na Unidade Setorial de Correição e presidente da Segunda Junta de Julgamento do Conse-
lho Estadual do Meio Ambiente de Mato Grosso, diretora de estudos jurídicos da Rede Internacional de
Excelência Jurídica seção São Paulo e pesquisadora da Academics Stand Against Poverty (ASAP). E-
mail: maykel.p@hotmail.com.
119
Mestrando do Programa de Direito Político e Econômico da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
E-mail: atcsandrobacoli@yahoo.com.br.
167
inserido o direito à saúde, e a efetividade das normas programáticas, de forma
que o Estado acaba tendo que fazer “escolhas trágicas” 120 fundado na dignida-
de da pessoa humana e no mínimo existencial, muitas vezes, o direito é alcan-
çado por meio da intervenção do Poder Judiciário.
Nesse sentido, dada as grandes demandas e finitos recursos, a judiciali-
zação excessiva na área da saúde pode comprometer as políticas públicas
gestadas pelo Estado com o intuito de o Poder Executivo as coloca em prática
para abranger a população com os recursos financeiros disponíveis?
HIPÓTESE
MARCO TEÓRICO
120
“A expressão escolhas trágicas não deve ser entendida apenas como expressão bastante representati-
va e impactante do tamanho do desafio. Ela tem como fundamento uma das premissas fundamentais da
economia: os recursos são escassos e as demandas infinitas.” (SARAIVA, André Luis L. R.. Políticas
sociais: focalização versus universalização. Revista do Serviço Público. Ano 55 Número 3 Jul-Set
2004).
168
No que tange ao Compliance aplicado na área da saúde será utilizado
principalmente a obra de Marcelo de Aguiar Coimbra e Vanessa Alessi Manzi,
pela abordagem atual e contextualizada do compliance na área da saúde.
METODOLOGIA
RESULTADOS ESPERADOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARAL, Gustavo. Saúde direito de todos, saúde direito de cada um: reflexões para a
transição da práxis judiciária. In: NOBRE, Milton Augusto de Brito; SILVA, Ricardo
Augusto Dias da (Coord.). O CNJ e os desafios da efetivação do direito à saúde. Belo
Horizonte: Fórum, 2011. p. 81-115.
BOTELHO, Catarina Santos. Os direitos sociais em tempos de crise. Lisboa: Almedi-
na, 2017.
________________________. A tutela dos direitos fundamentais – Avanços e recuos na
dinâmica garantística das justiças constitucional, administrativa e internacional.
Lisboa: Almedina, 2010.
BUCCI, Maria Paula Dallari; DUARTE, Clarice Seixas. Judicialização da saúde – A visão
do Poder Executivo. São Paulo: Saraiva, 2017.
COIMBRA; Marcelo de Aguiar; MANZI, Vanessa Alessi. Manual de compliance: preser-
vando a boa governança e a integridade das organizações. São Paulo: Atlas, 2010.
HOLMES, Stephen; SUSTEIN, Cass R. The cost of rights: why liberty depends on
taxes. New York: W.W. Norton & Company, Inc., 2000.
169
LOPES, José Reinaldo de Lima. Direito subjetivo e direitos sociais: o dilema do Judiciá-
rio no Estado Social de Direito. In: FARIA, José Eduardo (Org.). Direitos humanos,
direitos sociais e justiça. São Paulo: Malheiros, 1994.
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 12. ed. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2015.
SARLET, Ingo Wolfgang. TIMM, Luciano Benetti (Org.). Direitos fundamentais, orça-
mento e “reserva do possível”. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008.
SARMENTO, Daniel. A proteção judicial dos direitos sociais: alguns parâmetros ético-
jurídicos. In: SOUZA NETO, Claudio Pereira; SARMENTO, Daniel (Coord.). Direitos
Sociais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.
VASCONCELOS, Cipriano Maria de; PASCHE, Dário Frederico. O sistema único de saúde.
In: CAMPOS, Gastão Wagner de Souza; MINAYO, Maria Cecília de Souza; AKERMAN,
Marco; JÚNIOR, Marcos Drumond; CARVALHO, Yara Maria de (Org.). Tratado de Saú-
de Coletiva. 2 ed. São Paulo: Hucitec, 2012.
170
A LIMITAÇÃO DO DIREITO À PROPRIEDADE
PRIVADA PARA ATENDER O DIREITO À
MORADIA: UMA EXPRESSÃO DA
EFETIVIDADE DO DIREITO À VIDA E À SAÚDE.
PROBLEMÁTICA
HIPÓTESE
121
Graduandas em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo
122
Graduandas em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo
171
vista como uma questão de saúde pública, vendo que sua carência implica em
situações de risco e privação de condições mínimas de higiene, gerando con-
tração e disseminação de doenças, comprometendo a integridade física e psí-
quica do indivíduo e dos demais.
O direito à moradia também tem relação direta com o princípio da dig-
nidade humana, o qual, segundo André de Carvalho Ramos, consiste na quali-
dade inerente e distintiva de cada ser humano, que o protege contra todo
tratamento degradante e discriminatório, presente no artigo 1º, inciso III, do
preâmbulo da Constituição.
Assim, configura-se indigna a situação daqueles que não possuem uma
moradia e, portanto, vivem nas ruas. Neste ponto, ainda que não redigido ex-
plicitamente na definição do Estado brasileiro, o ideal do Estado prestacional
correlaciona-se com os objetivos fundamentais da República Federativa do
Brasil e, portanto, deve o Estado promover políticas públicas para certificar-se
que os direitos fundamentais não sejam diminuídos conforme o orçamento
público, tornando infundamentada a alegação do Estado de ausência de recur-
sos financeiros para a providência de moradia a todos os indivíduos, argumen-
tando sua justificativa com base na reserva do possível, que visa limitar as
pretensões sob o Estado no que diz respeito à efetivação dos direitos sociais e
fundamentais, principalmente em épocas de crise econômica.
Num outro espectro, é observado pela constituição a proteção do direi-
to à propriedade privada. Vale ressaltar que a abrangência desse direito so-
freu diversas mutações em razão do tempo, e atualmente encontra-se limitada
pela atribuição de uma função social à propriedade. Entretanto, apenas a limi-
tação do direito à propriedade não é capaz de surtir efeito significativo quanto
ao volume populacional que se encontra sem moradia e em condições precá-
rias de vida.
MARCO TEÓRICO
172
proposta de expropriação com vista à função social da propriedade mediante
indenização justa, de acordo com a situação socioeconômica do proprietário e
atendendo aos interesses da comunidade, ao invés do valor de mercado da
propriedade, usa-se como modelo a vigente Constituição Alemã, artigo 14, o
qual esclarece a garantia e o limite ao direito de propriedade, legalizando a
expropriação efetuada em nome do bem comum e da socialização, podendo
esta ser uma solução proposta à falta de recursos líquidos do Estado para
conceber o fornecimento de moradia a todos os indivíduos, fazendo uso, en-
tão, da propriedade privada infrutífera e que não atende função social.
Já no aspecto doutrinário e científico, o artigo “Habitação e Saúde”, da
professora da faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Suzana Paster-
nak, publicado no Scielo em 25 de Fevereiro de 2016, faz um levantamento
qualitativo e quantitativo da relação entre habitação e saúde, defendendo
que condições mínimas de moradia, principalmente o saneamento básico, que
ainda é ausente para grande parte da população brasileira, são vetores decisi-
vos no combate a doenças transmissíveis, diretamente relacionadas com o
índice de mortalidade, bem como suprimento de necessidade fisiológicas co-
mo alimentação, excreção (higiênica e digna), descanso, exposição moderada
ao sol, respiração de ar atóxico (ou menos poluído), etc., além de influenciar
também os índices de patologias mentais que podem se desenvolver quando
não se tem acesso ao suprimento de necessidades que envolvem privacidade,
vida familiar, vida comunitária, facilidade de manutenção e de execução das
atividades domésticas, concordância com os padrões locais, enfim, as caracte-
rísticas observadas no indivíduo integrado socialmente e não marginalização.
METODOLOGIA
CONCLUSÃO
173
tanto, para enrijecer ainda mais a ideia de que direito à moradia pode ser
compreendido como uma expressão de efetivação do direito à vida e do direi-
to à saúde, ambos tidos como prioridade no orçamento público, e que, portan-
to, a moradia, ainda que haja imposição do conceito de reserva do possível,
deve ser promovida pelo Estado, tendo como proposta, por exemplo, a aplica-
ção da lógica alemã de redistribuição indireta a partir da expropriação da
propriedade privada para atender fins comunitários, possibilitando, assim,
uma ocupação mais justa e igualitária de propriedades infrutíferas e inutiliza-
das e uma vida mais digna à todos, para que os princípios e direitos positiva-
dos na Constituição Brasileira não sejam meramente formais, mas sim,
efetivados no plano material.
REFERÊNCIAS
RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 4. ed. São Paulo: Saraiva,
2017. 975 p. Disponível em: <http://noosfero.ucsal.br/articles/0012/4487/ramos-
andr-de-carvalho-curso-de-direitos-humanos-2017-.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2018.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de
1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 25
abr. 2018.
174
A INSALUBRIDADE DOS
ESTABELECIMENTOS PENITENCIÁRIOS
PROBLEMA
123
Graduanda em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
175
Fundamentais, artigo 1º, inciso III, a dignidade da pessoa humana, vale ressal-
tar duas características dos direitos fundamentais:
HIPÓTESE
176
Além das verbas para o Fundo Penitenciário Nacional, é necessária uma
maior intersetorialidade nas políticas públicas.
Visto que o cenário retratado no tópico acima decorre de falhas estru-
turais em políticas públicas. Portanto, a solução do problema exemplificado
depende principalmente da comunicação entre áreas para que cada uma con-
siga exercer seu papel de maneira correta e melhor sem sobrecarregar outra.
MARCO TEÓRICO
O conjunto de ideias que foi usada como guia para este trabalho e aju-
dou na organização de tal resumo foi a arguição de descumprimento de pre-
ceito fundamental – ADPF 347 MC, tendo como relator o ministro Marco
Aurélio.
METODOLOGIA
177
existencial. Além disso, também permitiu a discussão entre a liberação de
verbas do fundo penitenciário nacional com o conceito da reserva do possível.
De um modo geral, foi observado que o aumento da população carce-
rária é resultado da política de prisões provisórias – 40% dos casos, e consiste
em prender a população jovem, negra de residência periférica.
Portanto para reversão deste quadro apresentado, é necessário que
haja comunicação entre os órgãos públicos a fim de que juntos formulem poli-
ticas publicas efetivas – através de HC para os detentos em situação provisó-
ria, o uso das verbas para melhorias nas celas.
REFERÊNCIAS E PALAVRAS-CHAVES
AMORIM, Felipe; COSTA, Flávio; BIANCHI, Paula. BRASIL TEM 726 MIL PRESOS, O
DOBRO DO NPUMERO DE VAGAS NAS CADEIAS. 2017. Disponível em:
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2017/12/08/brasil-tem-duas-
vezes-mais-presos-do-que-numero-de-vagas-nas-cadeias.htm Acesso em: 27 de abril
de 2018
Há 726.712 pessoas presas no Brasil. Disponível em: <
http://www.justica.gov.br/news/ha-726-712-pessoas-presas-no-brasil> Acesso em:
25 de abril de 2018
178
EDUCAÇÃO ESPECIAL INCLUSIVA NA
QUALIDADE DE MÍNIMO EXISTENCIAL
PROBLEMA
124
Graduanda em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
179
pois o direito a educação é inerente a pessoa humana, ou seja, é um direito
fundamental e configura-se como mínimo existencial não cabendo à escola
privá-lo, mas sim, se adaptar às peculiaridades de cada aluno de modo a for-
necer a estrutura e profissionais aptos a garantir tal educação.
Diante do exposto, é evidente a gravidade do problema, de escala na-
cional, acerca da insuficiência de instituições escolares públicas, e suas respec-
tivas estruturas, tendo-se em vista o acolhimento de cidadãos portadores de
deficiência.
HIPÓTESE
MARCO TEÓRICO
180
entre as pessoas, como consta na Constituição Federal, documento este sob o
qual o poder do Estado é subalterno. Adicionado a isto, para se estabelecer
uma análise mais profunda, tem-se por objetivo identificar as possíveis falhas
nas políticas públicas adotadas hodiernamente.
METODOLOGIA
RESULTADOS
181
inclusiva, adota um caráter determinante nessa questão considerando-se que,
sem o mínimo de educação, nenhuma pessoa poderá exercer seus direitos e
deveres plenamente, além de ter a dignidade fortemente ferida, o tão cobiçado
objetivo de inclusão social torna-se inatingível e a perspectiva de um futuro
para suas vidas fica fortemente abalada haja vista a dificuldade de encontrar
um emprego e trabalhar, por exemplo.
CONCLUSÃO
É preciso que o estado atue à luz da ideia de que educação especial in-
clusiva é um mínimo essencial e que, portanto, deve ser prioridade orçamen-
taria dentro das finanças de políticas públicas. Ter acesso a uma educação que
esteja preparada para lidar com a infinidade de diferentes limitações que nós,
seres humanos, criaturas tão complexas, possuímos, é uma necessidade ime-
diata e já tardia, lamentavelmente, tendo em vista que se lida com a dignidade
humana, fundamento máximo e básico de qualquer Estado Democrático de
Direitos.
REFERÊNCIAS
182
DESENVOLVIMENTO E PROGRAMA BOLSA
FAMÍLIA: UMA ANÁLISE SOB A PERSPECTIVA
DO DIREITO AO MÍNIMO EXISTENCIAL
PROBLEMA
HIPÓTESE
125
Mestranda em Direito Político e Econômico na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
126
Mestrando em Direito Político e Econômico na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
183
A Constituição Federal de 1988 tem expressamente em seu texto uma
Constituição Econômica direcionada à transformação das estruturas sociais
existentes do Brasil, na busca por alterar a ordem econômica existente, rejei-
tando o motor da autorregulação do mercado (BERCOVICI, 2005, p.33). É,
também, uma Constituição dita dirigente. Nesse sentido, seu artigo 3º é consi-
derado uma verdadeira “cláusula transformadora” que, estabelecendo os obje-
tivos da República – cuja síntese é a superação do subdesenvolvimento –,
evidencia o abismo existente entre a realidade social injusta e a necessidade
de modificá-la. Assim, clara é a ligação existente entre a Constituição, a política
e as estruturas sociais e econômicas.
Infere-se de tal dispositivo que, na construção de uma sociedade justa, a
garantia do desenvolvimento nacional está diretamente ligada à erradicação
da pobreza e da marginalização, bem como à redução das desigualdades soci-
ais e regionais e à promoção do bem de todos. Dentro dessa perspectiva, a
erradicação da pobreza tornou-se tema bastante caro aos que pensam o de-
senvolvimento. Nesse contexto, as políticas redistributivas por meio da tribu-
tação e da transferência de renda aos mais pobres através de programas
sociais podem ser consideradas essenciais na luta por uma sociedade mais
homogênea, na qual, conforme infere-se das lições de Celso Furtado (1992,
p.38), sejam satisfeitas de forma apropriada as necessidades de alimentação,
vestuário, moradia, educação, lazer e cultura da população.
Durante muito tempo, o combate à pobreza e a melhoria do padrão de
vida da população brasileira foram entregues ao setor privado com medidas
neoliberais de privatização e liberalização do mercado, sendo este o respon-
sável pelo desenvolvimento. De acordo com dados do IPEA 127, em 1993, o
número de pessoas pobres e extremamente pobres somava mais de 89 mi-
lhões de pessoas. Em 2002, esse número era de quase 82 milhões. É somente a
partir de 2002 que se percebe uma diminuição considerável da pobreza e da
desigualdade social, sendo que, em 2012, referido número era inferior a 40
milhões. Relacionados a esses números estão os resultados positivos do Pro-
grama Bolsa Família (PBF), criado em outubro de 2003, com a Medida Provi-
sória nº 132, convertida na Lei nº 10.836 em 09 de janeiro de 2004. O PBF é
uma importante política pública, que, através da transferência direta de renda,
objetiva a redução da pobreza e a emancipação das famílias beneficiárias.
Tendo em vista que os fins do programa são a garantia de direitos fun-
damentais a pessoas em grave estado de vulnerabilidade, o Bolsa Família
adentra a discussão sobre a ponderação entre o mínimo existencial e a reserva
do possível. Isso porque, a efetividade dos direitos fundamentais, em especial
os sociais, representa dispêndio de valores por parte do Estado e está condici-
onada às possibilidades financeiras do poder público. Dessa forma, fica a cargo
dos governantes e parlamentares, numa expressão do poder discricionário, a
127
Dados obtidos através do endereço: <http://www.ipeadata.gov.br/>. Acesso em: 28.04.2018.
184
decisão sobre a disponibilidade dos recursos financeiros do Estado, por meio
da escolha das políticas públicas a serem implementadas na sociedade.
Ainda, a ideia de mínimo existencial baseia-se naquilo que o ser huma-
no necessita minimamente para sobreviver em uma sociedade de forma digna.
Desse modo, como veremos, há quem afirme que se vincula ao conceito de
dignidade da pessoa humana. No bojo de um estado democrático de direito,
falar de mínimo existencial é falar de respeito aos direitos individuais e efeti-
vação e preservação dos direitos sociais por parte do Estado, principalmente
naqueles que, como o Brasil, são dotados de Constituições dirigentes.
É preciso também apontar que tanto o conceito de dignidade da pessoa
humana como o de mínimo existencial possuem um grau de indeterminação e,
dessa forma, a indefinição sobre a medida concreta dos termos pode gerar o
esvaziamento ou até bloqueio da execução da política pública.
MARCO TEÓRICO
METODOLOGIA
CONCLUSÃO
185
mo em direitos sociais a ser reconhecido. Ou seja, Sarlet assinala a necessida-
de de reconhecimento de alguns direitos subjetivos a determinadas presta-
ções ligadas aos recursos materiais mínimos para a existência dos indivíduos,
estando, a existência digna, estreitamente relacionada à prestação de tais
recursos materiais essenciais.
Contudo, adverte o autor (2015, p.331-332) que, apesar do mínimo
existencial se relacionar intimamente aos direitos sociais individualmente
considerados, cujo rol, no caso brasileiro, encontra-se no artigo 6º da Consti-
tuição de 1988, e de existirem zonas de convergência no que se refere aos
conteúdos, não é possível afirmar que o mínimo existencial equivale ou se
confunde com os núcleos essenciais dos direitos sociais.
Isso posto, torna-se difícil pensar que um indivíduo terá uma vida digna
se não tiver à sua disposição as condições mínimas de sustento físico e parti-
cipação na vida social e política. Nesse sentido, Sarlet e Figueiredo (2007,
p.184) ensinam que a garantia do mínimo existencial é independente de ex-
pressa previsão constitucional para que seja reconhecida, já que decorrente
da proteção da vida e da dignidade da pessoa humana.
No Brasil, a garantia de um mínimo existencial pode ser extraída dos
princípios e regras que regem a ordem social e econômica, bem como dos
próprios direitos sociais previstos individualmente, que vinculam o legislador
e a própria coletividade (cf., por exemplo, artigos 1º, 3º, 7º, 170, 219 da Cons-
tituição de 1988). Ainda, não existe uma linha oficial para medir a miséria,
sendo que o que mais se aproxima disso são os critérios do PBF, que veremos
adiante. Dessa forma, pode-se afirmar que o PBF representa, no Brasil, a ga-
rantia, por parte do Estado, ao mínimo existencial para uma população em
situação de miserabilidade e vulnerabilidade, que dificilmente tem acesso aos
direitos fundamentais garantidos na constitucionalmente.
O PBF constituiu-se a partir da fusão e da ampliação do Programa Naci-
onal de Renda Mínima Vinculada à Educação (Bolsa Escola), do Programa
Nacional de Acesso à Alimentação, do Programa Nacional de Renda Mínima
Vinculada à Saúde (Bolsa Alimentação) e do Programa Auxílio-Gás, com o
objetivo de beneficiar famílias em situação de pobreza, extrema pobreza e em
situação de vulnerabilidade social, integrando o Plano Brasil Sem Miséria.
As condições de elegibilidade para participação no PBF, reajustáveis
por decreto, variam conforme a renda domiciliar per capita da família, o nú-
mero e a idade dos filhos. Atualmente, com a promulgação do Decreto nº
8.794, de 29 de junho de 2016, é considerada em situação de pobreza a família
com renda familiar mensal per capita de até R$ 170,00 (cento e setenta reais)
e, em extrema pobreza, a com renda familiar mensal per capita de até R$ 85,00
(oitenta e cinco reais). O PBF possui diversos tipos de benefícios, que variam
em valores e são somados para compor o montante total que cada família
receberá mensalmente.
A concessão desses benefícios do PBF tem caráter temporário e não ge-
ra direito adquirido, devendo a elegibilidade das famílias ser obrigatoriamen-
te revista a cada dois anos. Além disso, cabe salientar que o recebimento dos
benefícios está atrelado ao cumprimento de algumas condicionalidades nas
186
áreas de saúde e educação, cuja presença se constitui em elemento necessário
para que o programa promova a emancipação dos beneficiários, interrompen-
do o ciclo de perpetuação da pobreza.
Muitos estudos dedicaram-se à análise da contribuição do PBF para a
queda da desigualdade de renda. Em um deles, identificou-se que em 2006, ou
seja, 3 anos após a implementação do PBF, aproximadamente um terço da
redução da desigualdade havida no período resultou das transferências públi-
cas de renda, que incluem aposentadorias, pensões e programas sociais
(CAMARGO; REIS, 2007, p.251). Outro estudo, analisando o período ente 1999
e 2009, mostrou que quase dois terços da queda da desigualdade deveu-se a
um mercado de trabalho que remunerava as pessoas de modo progressiva-
mente mais igualitário, respondendo por 75% da renda das famílias. O PBF,
por sua vez, respondia por 16% da queda global da desigualdade, ainda que o
programa não chegasse a 0,8% da renda das famílias. A explicação desse fe-
nômeno, para os autores, seria a focalização característica do PBF (SOARES et
al, 2010, p.41).
REFERÊNCIAS
BUCCI, M. P. D.. O Conceito de Política Pública em Direito. In: Políticas Públicas – Refle-
xões sobre o conceito jurídico. BUCCI, M. P. D. (Org.). São Paulo: Saraiva, 2006. p.1-48.
CAMARGO, J. M.; REIS, M. C.. Transferências e Incentivos. In: CAMARGO, J. M.; FOGUEL,
M. N.; ULYSSEA, G. (Org.). Desigualdade de renda no Brasil: uma análise da queda recen-
te. Brasília: IPEA, 2007. p. 251-260.
FURTADO, C.. Brasil: a construção interrompida. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
SARLET, I. W.. A eficácia dos Direitos Fundamentais: uma teoria geral dos direitos fun-
damentais na perspectiva constitucional. 12º ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado
Editora, 2015.
___. Os Direitos Fundamentais na Constituição de 1988. In: Revista Diálogo Jurídico. Vol.
1, n. 1, abr./2001. Disponível em: <https://bit.ly/2HE5Ohb>. Acesso em 27.04.2018.
___; FIGUEIREDO, M. F.. Reserva do possível, mínimo existencial e direito à saúde: al-
gumas aproximações. Direitos Fundamentais e Justiça. Porto Alegre, ano 1, n. 1, p. 171-
231, out./dez., 2007.
187
INTERVENÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO NO
DIREITO DA CONCORRÊNCIA: EFETIVIDADE
DE SEGURANÇA JURÍDICA OU EXCESSO DE
ATIVISMO JUDICIAL?
MAYKEL PONÇONI128
SANDRO BERNROIDER BACOLI129
RESUMO
A pesquisa pretende analisar a intervenção do Poder Judiciário no Di-
reito Concorrencial, a fim de problematizar os efeitos da judicialização do
Direito da Concorrência, no sentido da busca pela efetividade da segurança
jurídica que uma decisão judicial acarreta. Embora a ordem jurídico-
econômica brasileira permita que as decisões do âmbito administrativo sejam
objeto de análise pelo Poder Judiciário, essa intervenção pode comprometer o
princípio da livre concorrência previsto no art. 170, IV na Constituição Fede-
ral, considerando que as decisões do âmbito administrativo têm um caráter
técnico e especializado no que tange os direitos concorrencial.
Palavras-Chave: Intervenção. Poder Judiciário. Direito Concorrencial.
PROBLEMA
128
Doutoranda e mestre em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie,
especialista em Direito Público pela Universidade Gama Filho/RJ, servidora do Governo do Estado de
Mato Grosso na Unidade Setorial de Correição e presidente da Segunda Junta de Julgamento do Conse-
lho Estadual do Meio Ambiente de Mato Grosso, diretora de estudos jurídicos da Rede Internacional de
Excelência Jurídica seção São Paulo e pesquisadora da Academics Stand Against Poverty (ASAP). E-
mail: maykel.p@hotmail.com.
129
Mestrando do Programa de Direito Político e Econômico da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
E-mail: atcsandrobacoli@yahoo.com.br.
188
co, não têm o condão de produzir coisa julgada, e mesmo que não caiba recur-
so nas decisões do CADE em âmbito administrativo, sua revisão é permitida
pelo Poder Judiciário, pelo princípio da inafastabilidade do controle jurisdici-
onal.
Nesse sentido, o excesso de ativismo judicial na seara do Direito Con-
correncial pode comprometer questões de natureza econômica que demanda-
riam apenas a participação de pessoal técnico especializado?
HIPÓTESES
MARCO TEÓRICO
METODOLOGIA
189
análise de dados, estatísticas e políticas públicas na área supracitada. A abor-
dagem do trabalho também visa a construção de abordagens e ferramentas de
pesquisa empírica e interdisciplinaridade.
RESULTADOS ESPERADOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COSTA NETO. José Wellington Bezerra da. Protagonismo Judicial - Novo Ativismo e
Teoria Geral da Função Jurisdicional. São Paulo: LEUD, 2017.
HART, Herbert L. A. O conceito de direito, trad., 2ª ed. 1994, Lisboa: Calouste Gulben-
kian, 2007.
190
LUSTOZA, Helton Kramer. Eficiência Administrativa e Ativismo Judicial: Escolhas
Orçamentárias, Políticas Públicas e Mínimo Existencial. Curitiba: Editora Íthala,
2017.
NETO, Caio Mario da Silva Pereira; CASAGRANDE, Paulo Leonardo. Direito Concor-
rencial: Doutrina, Jurisprudência e Legislação – Coleção Direito Econômico. São
Paulo: Saraiva, 2016.
RAMOS, Elival da Silva. Ativismo Judicial: Parâmetros Dogmáticos. São Paulo: Sarai-
va, 2015.
191
COMO O STF DECIDE A RESERVA DO
POSSÍVEL E O MÍNIMO EXISTENCIAL:
ANÁLISE DO RE N. 587.970/SP
NATÁLIA MOLINA130
PROBLEMA
HIPÓTESE
130
Graduanda em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
192
Além dos critérios da razoabilidade e da proporcionalidade – que de-
vem ser levados em consideração pelos julgadores –, pode-se se ressaltar a
necessidade de observância da atuação do Estado às diversas decorrências do
princípio da dignidade humana.
MARCO TEÓRICO
METODOLOGIA
131
SILVA, José Afonso da. A dignidade da pessoa humana como valor supremo da democracia. Revis-
ta de Direito Administrativo, Vol. 212. Rio de Janeiro, 1998. Pág. 93.
193
CONCLUSÕES
132
“Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribui-
ção à seguridade social, e tem por objetivos: (...) V - a garantia de um salário mínimo de benefício
mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à
própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.”
194
necessidades especiais, é desconsiderar o valor intrínseco da dignidade hu-
mana – valor esse que independe das escolhas ou origem pessoal. Além disso,
o próprio voto do Ministro relator evidencia que, “para que determinada pes-
soa seja capaz de mobilizar a própria razão em busca da construção de um ideal
de vida boa – que, no final das contas, nos motiva a existir -, é fundamental que
lhe sejam fornecidas condições materiais mínimas” 133. Nesse sentido, o artigo
203, inciso V, da Constituição também opera em suporte da concepção de
mínimo vital.
A despeito disso, também sobrevém, na argumentação do Supremo, a
ideia de solidariedade social como princípio insculpido pela Constituição Fe-
deral, à leitura de que o estrangeiro residente no país também participa do
esforço mútuo e está inserido na sociedade – sociedade essa que, inclusive, se
forma da conjunção de imigrantes e povos indígenas –, não restando motivos
para restringir a prestação da assistência social somente aos brasileiros natos
ou naturalizados.
Em suma, o que se pode extrair da decisão do Supremo é que “no con-
fronto de visões, deve prevalecer aquela que melhor concretiza o princípio cons-
titucional da dignidade humana
– cuja observância surge prioritária no ordenamento jurídico” 134.
Outrossim, o impacto orçamentário e a doutrina da reserva do possível
não desempenham valor absoluto no ordenamento jurídico brasileiro, princi-
palmente face à atividade assistencial, que desempenha tamanha relevância
no texto da Constituição Federal. Pode se concluir se tratar de argumento que
se apequena, para o Poder Judiciário, na efetivação dos direitos fundamentais
sociais – embora seja tema de importante pesquisa, ainda em desenvolvimento.
REFERÊNCIAS
OLSEN, Ana Carolina Lopes. Direitos fundamentais sociais. Efetividade frente à reserva
do possível. Curitiba: Juruá, 2008.
SILVA, José Afonso da. A dignidade da pessoa humana como valor supremo da democra-
cia. Revista de Direito Administrativo, Vol. 212. Rio de Janeiro, 1998.
133
Trecho extraído do voto condutor do aresto (Recurso Extraordinário 587970 SP. Rel. Min. Marco
Aurélio. Brasília, DF. Abril. 2017. Partes: Instituto Nacional do Seguro Social – INSS X Felícia Mazzi-
tello Albanese).
134
Trecho extraído do voto condutor do aresto (Recurso Extraordinário 587970 SP. Rel. Min. Marco
Aurélio. Brasília, DF. Abril. 2017. Partes: Instituto Nacional do Seguro Social – INSS X Felícia Mazzi-
tello Albanese).
195
A OBRIGATORIEDADE DE ASSISTÊNCIA
PSICOLÓGICA EM ESCOLAS COMO MÍNIMO
EXISTENCIAL: AFASTAMENTO DOS JOVENS
DO RISCO DE SUICÍDIO.
PROBLEMA
HIPÓTESE:
135
Graduanda em Direito na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
136
Graduanda em Direito na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
196
A fase vivida por jovens no período escolar carrega uma série de con-
flitos, como o bullying, e responsabilidades como escolher a profissão e passar
no vestibular, que criam uma pressão educacional forte. Tais questões são
influências para o suicídio cujos índices são alarmantes: Em 2012 um estudo
da OMS (Organização Mundial da Saúde) e Wolfram Alpha apontou o Brasil
como oitavo país com maiores números de suicídios: 11.821 no ano estudado;
O Boletim Epidemiológico divulgado pelo Ministério da saúde mostra que
41.864 casos de lesões autoprovocadas que foram notificadas entre 2011 e
2016 no Brasil envolviam jovens entre 10 e 19 anos; e, de acordo com o Sis-
tema de Informações sobre Mortalidade, realizado em 2017, o suicídio é a
quarta maior causa de morte de jovens brasileiros entre 15 e 29 anos.
À luz da exposição de tais índices, são explícitos os motivos pelos
quais devem ser encontradas formas de prevenir e, consequentemente, dimi-
nuir o número de suicídios dos jovens, sendo um dos recursos a implementa-
ção de assistência feita por psicólogos em escolas de modo obrigatório às
instituições. Ademais, tal medida deve ser adotada seguindo o princípio de
fornecer o mínimo existencial, que é um Direito Fundamental, assim como
atinge outro Direito Fundamental: a vida.
A preservação dos Direitos Sociais e Fundamentais e do princípio do
Mínimo Existencial poderá ser alcançada com a obrigatoriedade, pois um
acompanhamento psicológico concede um amparo que o grupo docente e
coordenadoria não são competentes para fornecer. A falta de competência não
significa que não estão cumprindo para com os seus papéis corretamente, mas
somente que cuidar de questões psicológicas precisa ser feito por profissio-
nais especializados, pois é uma ciência complexa, e não providenciar isto im-
plica nos números crescentes de suicídios dos jovens.
Concomitantemente, a OMS em seu relatório “Prevenção do Suicídio
Um Recurso para Conselheiros” constatou que somente 25% dos estudantes
contam para um adulto se descobrem que um amigo possui indícios de suicí-
dio, ou seja, os jovens muitas vezes não sentem abertura para falar com seus
pais ou professores sobre o problema, o que pode ser trabalhado com um
psicólogo que fornece justamente um espaço para a fala sobre os problemas
pelos quais passam. O mesmo relatório ainda frisa que mais pessoas cometem
suicídio anualmente do que mortes ocorrem em conflitos mundiais, mas que o
aconselhamento é um método que demonstra boa eficácia porque o aconse-
lhado consegue identificar seus sentimentos de melhor forma e trabalha-los,
aprendendo a mediar seus conflitos nas relações, o que melhora a autoestima
e, por consequência, sua saúde psicológica, ressaltando, por fim, que os conse-
lheiros devem ser profissionais na área de prevenção ao suicídio. (Publicação
de dados catalogados da biblioteca da OMS. Prevenção do Suicídio Um Recur-
so para Conselheiros. 29/04/2018).
197
Portanto, a própria OMS afirma que o aconselhamento é uma preven-
ção e pode-se então assegurar que a assistência psicológica consegue afastar
os jovens da linha de risco de suicídio.
A relação entre pais e filhos é, também, fundamental para o combate
ao suicídio de jovens. São diversas as causas – originadas dentro do próprio
lar - que podem agravar o pensamento suicida, como por exemplo, a desorga-
nização familiar, o sentimento de abandono e a pressão exercida sobre o jo-
vem que muitas vezes se vê obrigado a escolher determinada profissão pela
felicidade dos pais e não de si próprio. Deixa-se de lado, portanto, a saúde
mental e intelectual desses jovens, que se tornam, assim, suscetíveis e vulne-
ráveis a pensamentos suicidas.
Diante dessas dificuldades enfrentadas nessa época da vida, o diálogo
e uma maior compreensão entre pais e filhos e entre pais e escola se faz fun-
damental. O papel dos pais em parceria com as escolas e profissionais especia-
lizados é uma das principais formas de prevenção de suicídios entre jovens.
MARCO TEÓRICO:
198
Direitos Sociais: Os direitos sociais são especificados como, além da
saúde – tópico principal no presente debate -, a educação, a alimentação, o
trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados. (Caput
do artigo 6° da Constituição Federal/88).
Saúde psicológica: É a capacidade de apresentar um equilíbrio estável
entre as aquisições interiores e as experiências ou pressões exercidas pelo
mundo exterior e, dessa forma, viver a própria vida com plenitude.
Saúde pública: Envolve uma série de medidas adotadas pelo Poder
Público para o desenvolvimento de uma estrutura social capaz de proporcio-
nar a todos os indivíduos as condições de saúde necessárias e básicas.
Direitos Fundamentais: Os Direitos Fundamentais são os enunciados
constitucionais de cunho declaratório dispostos na Constituição, que tem co-
mo objetivo reconhecer, no plano jurídico, a existência de uma prerrogativa
fundamental do cidadão. Como exemplo importante para o desenvolvimento
do trabalho observamos o Direito Fundamental à Vida que é observado no
artigo 5º da CF/88 garantindo a igualdade de todos perante a lei e garantindo
aos brasileiros e estrangeiros residentes a inviolabilidade do direito à vida
(Constituição Federal de 1988).
METODOLOGIA:
A partir do que foi exposto, nota-se como a escola exerce papel fun-
damental na vida e no crescimento dos jovens adolescentes. Diante dessa
importância, é necessário favorecer o convívio entre pais, alunos e escola
através do diálogo franco sobre assuntos que muitas vezes são considerados
tabus, como é o caso do suicídio. Para isso, a implementação de psicólogos
profissionais que saibam se comunicar com todos esses públicos se faz neces-
sária e é de extrema importância para diminuir os riscos de suicídio entre
jovens no Brasil, sendo uma questão de Mínimo Existencial por colocar como
foco uma proposta que fará ser cumprido o direito social básico e vital da
saúde.
199
REFERÊNCIAS
Gazeta do Povo online. Suicídio vira epidemia de extensão global, diz OMS.
04/09/2014. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-
cidadania/suicidio-vira-epidemia-de-extensao-global-diz-oms-
ed22rk3jixa24qo1hxpsueij2>. Acesso em: 28 Abr. 2018
MundoPsicologos – Suicídio entre jovens: “Os pais não dialogam com seus filhos”. Dis-
ponível em: <https://br.mundopsicologos.com/artigos/suicidio-entre-jovens-os-pais-
nao-dialogam-com-seus-filhos>. Acesso em: 30 de Abr. 2018.
200
A SAÚDE LIMITADA
PELO PRÓPRIO PROVEDOR
PROBLEMA
HIPÓTESE
137
Ensino médio, Liceu Santa Cruz (2014-2016). Graduanda em Direito, na Universidade Presbiteriana
Mackenzie (2017- 2021)
201
vez que o Estado comprasse o remédio para um paciente, teria de comprar aos
outros na mesma situação.
Gera-se então, um problema de grande escala. A igualdade entra em
conflito ao disponibilizar um medicamento a uma pessoa, mas não a todos que
estão com o mesmo problema. A saúde está em conflito com seu acesso, pois o
Estado, responsável para conceder a saúde, muitas vezes a nega por falta de
recursos. Portanto, não é um simples problema.
Por um lado, se tem a injustiça de não poder se tratar, prolongar a vida,
visto que, em grande parte dos casos, esses remédios são para adiar a morte
em casos de doenças graves, e não tem disponível no país, ou mesmo não é
garantida a sua eficácia. Soma-se isso ao fato da saúde pertencer ao mínimo
existencial, sendo fundamental a saúde para ter uma vida digna. De outro lado,
o Estado, que deve garantir a saúde a todos, e deixará de fazê-lo para ter a vida
de uma única pessoa melhorada, e diversos outros processos do mesmo medi-
camento, causando o conflito “se cedeu para um, deverá ceder para todos na
mesma situação”. Esta última posição, mesmo que contrarie a primeira, parece
razoável pela situação do Brasil, que merece atenção do Estado para a ampli-
tude, para depois passar aos problemas particulares.
MARCO TEÓRICO
METODOLOGIA
202
Para obter o resultado desejado, serão utilizadas pesquisas já existentes
sobre o assunto, além de doutrinas, livros e trabalhos que tratem do assunto,
documentos, casos precedentes (autos já averiguados) e jurisprudências so-
bre casos desse tema, para que se possa obter uma conclusão concreta, pró-
xima a atualidade. Fundamenta-se assim, na qualidade para melhor
entendimento sobre o assunto, isto é, uma análise quantitativa.
RESULTADOS ESPERADOS
REFERÊNCIAS
203
BULOS, Uadi Lammêgo. Ordem social. In: BULOS, Uadi Lammêgo. Direito Constitucio-
nal ao alcance de todos. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 685-694
204
MÍNIMO EXISTENCIAL E RESERVA DO
POSSÍVEL SOB O RECURSO ESPECIAL Nº
1.185.474 RELATIVO AO DIREITO DE ACESSO
A CRECHE
PROBLEMA
HIPÓTESE
A ementa traz e cita o acesso à creche aos menores de zero a seis anos,
ou seja, o que está sendo discutido e sustentado pelo recorrido é para que haja
o acesso à educação e o ingresso de crianças à creches, e aqui vale fazer uma
analogia ao recurso especial Nº 575.280 - SP (2003/0143232-9), onde o Rela-
tor Ministro Luiz Fux coloca que a ação civil pública é sim permitida, uma vez
que inexiste discricionariedade do administrador e que não se trata apenas de
uma norma programática, mas sim de uma norma definidora de direito, além
de elencar em seu voto o direito subjetivo da criança.
Deveras, nos dois recursos especiais mencionados, há fundamentação
nas mais diversas hipóteses previstas em lei, e mais, nas mais diversas dispo-
sições normativas que estão hierarquizadas, onde nos remetemos ao modelo
205
piramidal de Hans Kelsen. Vale ressaltar e exemplificar alguns, como o Pacto
de San José da Costa Rica, onde a criança passa a ter o olhar da família, da
sociedade e do Estado. O artigo 208º da Constituição Federal, onde o Estado
tem dever de garantir e efetivar a educação, e como disposto em seu inciso IV
“O atendimento em creche e pré-escola ás crianças de zero a seis anos de ida-
de”. Também em nossa lei maior, há o artigo 227º, que em seu parágrafo se-
gundo diz que o município tem o dever jurídico de atuar prioritariamente na
educação infantil, a ementa traz próprio artigo 54º do Estatuto da Criança e do
Adolescente ( ECA ) “É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:
(...) V - Atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
idade”; Ademais, o tema Acesso à Educação possui base legal em tratados e
convenções, na Constituição Federal, no ECA, na lei de diretrizes e bases e em
planos de educação municipal, estadual e federal.
Tratando de direito, nós brasileiros somos romano-germânicos, o que
significa que temos um apego as leis, outrossim, nosso sistema jurídico adota-
do é o positivismo, e vale aqui lembrar do aforismo jurídico “Gesetz ist gesetz”
(Lei é lei), portanto, as palavras da lei tem de serem cumpridas e obedecidas,
exprimindo toda sua obrigatoriedade, não obstante, para Norberto Bobbio,
uma das características do juspositivismo é definir o direito em função do
elemento da coação, podendo ser visto como um ponto ou como um problema.
Para aqueles que fazem uma valorização do sistema positivista, junto a
Miguel Reale, há os princípios envolvidos no caso de Criciúma. O caso aprecia
o princípio da prioridade absoluta em relação a educação aos menores de zero
a seis anos, os quais, por parte do recorrido tem a garantia do direito funda-
mental a educação, que é obrigação do Estado dispor. O princípio da condição
peculiar da pessoa em desenvolvimento também é abordado no caso ao tratar
da criança, pessoa em desenvolvimento, como indivíduo tutelado ao acesso à
educação.
Os princípios da reserva do possível e do mínimo existencial são susci-
tados no caso. O primeiro traz o entendimento de que o Estado não pode rea-
lizar ação impossível, senão houver recursos para tal, porém, não foi
observado no caso. O segundo princípio alega que deve ser assegurado condi-
ções socioculturais para garantir o mínimo de dignidade humana e a inserção
na vida social, não se limitando a questão de mera sobrevivência.
MARCO TEÓRICO
206
O mínimo existencial não se resume ao mínimo vital, ou seja, o mínimo para
se viver. O conteúdo daquilo que seja o mínimo existencial abrange também
as condições socioculturais, que, para além da questão da mera sobrevivên-
cia, asseguram ao indivíduo um mínimo de inserção na “vida” social
METODOLOGIA
207
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
BARCELLO, Ana Paula de. (2011). A Eficácia Jurídica dos Princípios Constitucionais. São
Paulo: Renovar.
ISHIDA, Válter Kenji. (2018). Estatuto da Criança e do Adolescente. São Paulo: Atlas.
208
O EMPREGADO “HIPERSUFICIENTE” (ART.
444) E A MINORAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
PROTEÇÃO NA LEI 13.467/2017138
RESUMO
PROPOSTA DE PESQUISA
138
Este trabalho é oriundo da pesquisa PIVIC/UFU nº 469/2017 e do Grupo de Pesquisa A 'Reforma'
Trabalhista em Perspectiva: Análise Crítica, cadastrado no Diretório de Pesquisas do CNPq,
sob coordenação da Prof.ª Dr.ª Juliane Caravieri Martins.
139
Graduando na Faculdade de Direito Prof. Jacy de Assis da Universidade Federal de Uberlândia
140
Essa expressão, empregado “hipersuficiente”, foi utilizada pelo Relator da Reforma Trabalhista na
Câmara dos Deputados, Rogério Marinho, e vem sendo utilizada pela doutrina especializada em
Direito do Trabalho.
209
além de, consequentemente, ofender a preceitos do trabalho digno, ao ferir o
princípio da liberdade sindical (art. 8° III e VI da CF/88, e a Convenção 87 da
OIT) e o princípio da não discriminação na seara trabalhista (art. 3° da CLT e
Convenção 111 da OIT). Pela redação atécnica e contraditória da norma em
análise, é possível observar que as modificações feitas na CLT não encontram
respaldo nem entre si, muito menos com a base do Direito do Trabalho (pro-
teção ao trabalhador), o que inviabiliza sua própria existência. Assim, para tal
demonstração, utilizou-se como março teórico as obras de Américo Plá Rodri-
guez, Princípios do Direito do Trabalho, e de Karl Marx, Manuscritos Econômi-
cos e Filosóficos.
OBJETIVOS
METODOLOGIA
210
tantes ao dar superioridade jurídica ao empregado frente a superioridade
econômica do empregado.
Por meio de uma lógica avessa a explanada, o legislador permitiu que
o empregado “hipersuficiente” possa negociar livremente com o empregador
as hipóteses previstas no art. 611-A, sem necessidade de acordo ou convenção
coletiva com a participação sindical, tendo a mesma eficácia e preponderância
dos instrumentos coletivos. Isso, além de mitigar princípios como da irrenun-
ciabilidade e da indisponibilidade dos direitos trabalhistas, afronta a não dis-
tinção relativa a emprego e a condição do trabalhador, que independe de seu
nível de escolaridade e o valor de seu salário141.
Nesse sentido, nos dias 09 e 10 de outubro de 2017, foi realizada a 2ª
Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho, para se discutir a Lei
13.467/2017, com participação de vários juristas representando os mais di-
versos segmentos da área jurídica, como o MPT e a ANAMATRA, no qual foram
emitidos pareceres técnicos sobre a Reforma Trabalhista. No que diz respeito
ao tema desta pesquisa, afirmou-se que o art. 444, parágrafo único, contraria
os princípios do direito do trabalho, afronta a Constituição e o sistema inter-
nacional de proteção ao trabalho, em especial a Convenção 111 da OIT. Ade-
mais, disse que a negociação individual somente pode prevalecer sobre
instrumento coletivo se mais favorável ao trabalhador e desde que não con-
travenha as disposições fundamentais de proteção ao trabalho, sob pena de
nulidade e de afronta ao princípio da proteção.
CONCLUSÃO
141
Além disso, em relação a participação ativa do sindicato nas relações de trabalho, a OIT, em seu
Relatório Mundial Sobre Salários, prelecionou que ela é um dos fatores que impede o aumento da
desigualdade social, estando intimamente ligada as relações trabalhistas.
211
pretação da legislação por meio do princípio da proteção de uma forma não-
mercantil, ou seja, que não trate o empregado como mercadoria de fácil subs-
tituição, e sim como sujeito de direitos, sendo não só função do Estado, mas de
toda sociedade a persecução deste tratamento humanitário.
Sem essa observação, a Lei 13.467/2017 padece de validade por sua
inconstitucionalidade, ficando evidente seu mote: a desregulamentação, a
desestruturação e a precarização das relações de trabalho.
REFERÊNCIAS
212
A IMPENHORABILIDADE DO SALÁRIO E A
PROTEÇÃO DO MÍNIMO EXISTENCIAL
PROBLEMA
HIPÓTESE
MARCO TEÓRICO
142
Graduanda em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
213
dina143, e que teve como coordenadores científicos do J. J. Gomes Canotilho,
Lenio Luiz Streck, Gilmar Ferreira Mendes e Ingo Wolfgang Sarlet, serviu como
ponto de partida para elaboração da presente pesquisa. Em suas contribuições
para a referida obra, o professor Ingo Wolfgang Sarlet analisa aos principais
aspectos da teoria dos direitos fundamentais no direito constitucional brasi-
leiro, remetendo o leitor, para aprofundamento do estudo às suas obras espe-
cíficas sobre a eficácia dos direitos fundamentais e sobre a dignidade da
pessoa humana, indispensáveis para o estudo dessa temática.
Segundo Sarlet, a noção do direito ao mínimo existencial tem origem no
direito constitucional alemão com Otto Bachof, o qual entedia que o princípio
da dignidade da pessoa humana não se restringiria à garantia da liberdade,
mas também demandaria um mínimo de segurança social. Segundo o autor, a
própria dignidade é tolhida, na ausência de um mínimo de recursos materiais
para fomentar uma existência digna 144. Nessa linha de argumentação, ensina
Sarlet, a garantia do mínimo existencial tem sido acolhida no direito constitu-
cional brasileiro, vinculada à realização dos direitos fundamentais sociais. 145
O jurista Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal e
autor de várias obras sobre hermenêutica e teoria da constituição, enfatiza a
importância da técnica denominada interpretação conforme à constituição, a
qual determina que o intérprete, ao analisar a legislação infraconstitucional,
adote a interpretação da norma que mais se compatibiliza com a Constituição,
evitando-se sua declaração de inconstitucionalidade146.
Na seara do direito processual civil, abordamos as lições de Fredie Di-
dier Jr., que atuou como assessor parlamentar e ajudou a redigir do Código de
Processo Civil de 2015. Segundo o autor, a constitucionalização do processo
civil é própria do direito contemporâneo, de modo que as normas processuais
infraconstitucionais passam a ser analisadas como concretizadoras dos pre-
ceitos da Constituição147.
Em relação ao caso específico, verifica-se que o Código de Processo Civil
de 1973 (CPC-1973), considerava absolutamente impenhoráveis os vencimen-
tos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria,
pensões, pecúlios, montepios, os ganhos de trabalhador autônomo, os honorá-
143
CANOTILHO, J. J. Gomes; MENDES, Gilmar F., SARLET, Ingo W.; STRECK, Lenio L. (Co-
ords.). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013.
144
SARLET, Ingo Wolfgang. Comentário ao artigo 6º. In: CANOTILHO, J. J. Gomes; MENDES,
Gilmar F., SARLET, Ingo W.; STRECK, Lenio L. (Coords.). Comentários à Constituição do Brasil.
São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013. p. 545.
145
SARLET, Ingo Wolfgang. Comentário ao artigo 6º. In: CANOTILHO, J. J. Gomes; MENDES,
Gilmar F., SARLET, Ingo W.; STRECK, Lenio L. (Coords.). Comentários à Constituição do Brasil.
São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013. p. 546.
146
BARROSO, Luís Roberto. Interpretação constitucional como interpretação específica. In:
CANOTILHO, J. J. Gomes; MENDES, Gilmar F., SARLET, Ingo W.; STRECK, Lenio L. (Coords.).
Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013.
147
DIDIER JR. Fredie. Curso de Direito Processual Civil: introdução ao direito processual civil,
parte geral e processo de conhecimento. 18.ed. Salvador: Ed. JusPodivm, 2016. p. 47-49.
214
rios de profissional liberal, bem como as quantias recebidas por liberalidade
de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família (art. 649, IV).
Havia apenas uma única ressalva, constante no art. 649, §2º, do CPC-1973, que
não aplicava a impenhorabilidade do salário e rendimentos análogos no caso
de penhora para pagamento de prestação alimentícia.
Com o advento do Código de Processo Civil de 2015 (CPC-2015) houve
uma mitigação da regra da impenhorabilidade do salário. Nos termos do art.
833, IV, do CPC-2015, são impenhoráveis os vencimentos, os subsídios, os
soldos, os salários, as remunerações, os proventos de aposentadoria, as pen-
sões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por liberali-
dade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os
ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal. Ob-
serva-se que foi suprimida a palavra “absolutamente” constante no caput do
art. 659 do CPC-1973. Além disso, nos termos do §2º do art. 833, essa regra
não se aplica à hipótese de penhora para pagamento de prestação alimentícia,
bem como às importâncias excedentes a 50 cinquenta salários-mínimos mensais.
Bruno Garcia Redondo e Lúcio Delfino, em artigo publicado na revista
brasileira de direito processual, analisam especificamente a mitigação da im-
penhorabilidade dos salários promovida pelo CPC-2015. Segundo os autores,
o §2º do art. 833, do CPC-2015, passou a permitir pela primeira vez a penhora
de parte do salário do executado em sede de execução não alimentar. 148 Ainda,
os autores elogiam a medida, que visa combater a crise de inadimplemento
que aflige as execuções.149
Ocorre que a penhora dos rendimentos do executado, ainda que autori-
zada pelo CPC-2015, não deve ser realizada de forma automática. No contexto
da constitucionalização do processo civil, deve ser feita uma interpretação do
art. 833, §2º, do CPC-2015, conforme à Constituição, à luz do princípio da dig-
nidade da pessoa humana, e do direito ao mínimo existencial. Se hoje, a quan-
tia de 50 salários mínimos é considerada suficiente para se garantir uma
existência digna, no futuro, em vista dos nefastos efeitos da inflação na eco-
nomia, pode ser que já não o sejam. Além disso, uma pessoa que sofre de uma
doença grave, poderá precisar de mais de 50 salários mínimos mensais para
custear seu tratamento.
Verifica-se, portanto, que os critérios objetivos previstos no §2º do art.
833 do CPC-2015, são insuficientes para se autorizar a penhora do salário e
demais rendimentos congêneres. Desse modo, o juiz da execução, antes de
decretar a penhora sobre as importâncias excedentes a 50 cinquenta salários-
148
REDONDO, Bruno Garcia; DELFINO, Lúcio. Impenhorabilidade de bens no CPC/2015 e as hipóte-
ses da remuneração do executado e do imóvel residencial. Revista Brasileira de Direito Processual –
RBDPro, Belo Horizonte, ano 23, n. 91, p. 11-23, jul./set. 2015. p. 20.
149
REDONDO, Bruno Garcia; DELFINO, Lúcio. Impenhorabilidade de bens no CPC/2015 e as hipóte-
ses da remuneração do executado e do imóvel residencial. Revista Brasileira de Direito Processual –
RBDPro, Belo Horizonte, ano 23, n. 91, p. 11-23, jul./set. 2015. p. 20.
215
mínimos mensais, deverá analisar se, no caso concreto, essa medida não viola
o direito do executado ao mínimo existencial.
A pesquisa, ainda, pretende observar como as teorias são aplicadas em
casos práticos, de modo que serão consultados os acervos de jurisprudência
dos tribunais, para verificar como se tem aplicado – ou deixado de aplicar – a
regra da impenhorabilidade do salário sob égide do CPC-2015.
No âmbito do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo a discussão da
questão cinge-se a verificação dos pressupostos objetivos para autorização da
penhora sobre os rendimentos do executado, não abordando a temática da
garantia ao mínimo existencial, conforme se depreende no Agravo de Instru-
mento n. 2024021-79.2018.8.26.0000, j. em 09/05/2018. Alguns acórdãos,
como o proferido no Agravo de Instrumento n. 2150985-54.2017.8.26.0000, j.
em 21/03/2018, ainda baseiam no CPC-1973, o que fica evidenciado pelo
emprego da expressão “impenhorabilidade absoluta”, abandonada pelo Códi-
go vigente.
METODOLOGIA
CONCLUSÃO
216
REFERÊNCIAS
217
A INTERSETORIALIDADE E A GARANTIA DO
MÍNIMO EXISTENCIAL DA POPULAÇÃO EM
SITUAÇÃO DE RUA
PROBLEMA
HIPÓTESES
150
Graduanda em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
218
Mesmo que garantir uma vida digna seja um dos objetivos do Estado,
dados do Ipea de 2015 estimam que há mais de 101 mil pessoas em situação
de rua. Existe uma grande dificuldade em mensurar o tamanho real desta
população, posto que o IBGE realiza seu censo demográfico apenas em domicí-
lios, empresas e estabelecimentos, não realizando pesquisas junto à população
em situação de rua. O Instituto afirma que o responsável por essa contagem
seria o MDS, porém essa não ocorre, mostrando a falta de comunicação entre
os setores, resultando na impossibilidade de se ter um número oficial dessa
população (FREITAS, 2016).
Políticas públicas são o conjunto de metas, planos e ações realizadas pe-
los governos para alcançar o bem-estar da sociedade e suprir as necessidades
humanas, destarte, possivelmente o melhor instrumento para a garantia do
mínimo existencial. A elaboração das políticas públicas depende da prioriza-
ção de atendimento dos mais necessitados de acesso e garantia de serviços
públicos. Para que essas necessidades humanas sejam alcançadas, surge a
necessidade da intersetorialidade, uma articulação de saberes e experiências
na elaboração e aplicação de ações, com o objetivo de atingir resultados posi-
tivos em situações que são consideradas complexas (CUSTÓDIO e SILVA,
2015, p.7)
A assistência às pessoas em situação de rua pode ser muito complexa,
tendo em vista que engloba aspectos sociais, políticos e econômicos. Grande
parcela dessa população vive em situações extremamente precárias, afastan-
do-se da vida digna que deveria ser inerente a todos e do mínimo existencial.
Entende-se que nenhum setor ou política pública seja capaz, de maneira isola-
da, de lidar com essa complexidade do atendimento à população em situação
de rua (FREITAS, 2016).
O impacto da intersetorialidade pôde ser observado, por exemplo, em
julho de 2017, quando a Defensoria Pública da União publicou a Portaria da
DPGU 666 divulgando o atendimento jurídico à população em situação de rua.
Seu primeiro artigo menciona que a atuação ocorre mediante parcerias com
órgãos e entidades públicas, Poder Judiciário, Ministério Público, Defensorias
Públicas, e com a participação nos Comitês Municipais, Estaduais, Federais e
Intersetoriais e articulação com órgãos governamentais da administração.
Ocorre que, devido à falta de recursos materiais e pessoais, o atendimento não
vem sendo realizado, mostrando que a falta de articulação efetiva entre a De-
fensoria e os órgãos e entidades públicas influenciam diretamente na efetiva-
ção das prestações estatais, dificultando a população em situação de rua de ter
acesso à justiça, um direito fundamental (FREITAS, 2016, p. 11).
Cabe discorrer também, como que a setorialização também afeta as po-
líticas públicas, tanto em relação às suas criações, quanto ao seu conhecimen-
to e o acesso. O Cadastro Único para Programas Sociais é um instrumento
usado pelo Estado para incluir pessoas de baixa renda em programas federais
e, desta forma, ter acesso a diversas políticas públicas. Ocorre que a forma de
219
lidar com as populações em situação de rua mudam em cada município e,
consequentemente, o número de cadastrados no programa pela gestão muni-
cipal. Em 2015, entre mais de 200 mil municípios, 97 mil não havia informado
um levantamento sobre as pessoas cadastradas. A falta de um número oficial
dessa população e as condições reais em que elas se encontram prejudicam a
implementação de prestações estatais eficientes (NATALINO, 2016).
Não se pretende extinguir a setorialização, e sim, considerar que cada
setor produza conhecimentos densos e, superando a fragmentação, constitu-
am uma totalidade, adensando-os em busca de um objetivo comum de garan-
tir o mínimo existencial a essa população (FREITAS, 2016).
Vale ressaltar que não se espera que a intersetorialidade das políticas
públicas, por si só, seja suficiente para garantir que a população em situação
de rua tenha acesso, ao menos, ao mínimo existencial, mas considera-se que
esse é um instrumento de reordenamento, para o surgimento de novas formas
de se gerir e planejar políticas públicas eficientes (CUSTÓDIO e SILVA, 2015,
p.7).
Outrossim, apenas a intersetorialidade não seria suficiente, conside-
rando o cenário atual, onde há um Estado em que os governantes implemen-
tam políticas públicas visando apenas o interesse do capital financeiro,
resultando em uma alocação de recursos seriamente restrita, refletindo, dire-
tamente, nos serviços e políticas públicas de má qualidade (COSTA, 2007).
MARCO TEÓRICO
METODOLOGIA
220
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
221
DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO. Portaria GABDPGF DPGU n° 666, 31 mai. 2017.
http://www.dpu.def.br/portarias/gabdpgf/2017/37599-portaria-gabdpgf-dpgu-n-
666-de-31-de-maio-de-2017-dispoe-sobre-diretrizes-de-atendimento-a-populacao-
em-situacao-de-rua-em-todas-as-unidades-da-dpu. Data de acesso: 26 abr. 2018.
IPEA. Pesquisa estima que o Brasil tem 101 mil moradores de rua, 26 jan. 2017.
www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=29303.
Data de acesso: 18 abr. 2018
222
INVESTIMENTO NA PRIMEIRA INFÂNCIA:
O RETORNO GARANTIDO E O EQUILÍBRIO
PERFEITO ENTRE OS DIREITOS SOCIAIS E
ECONÔMICOS
PROBLEMA
151
Professora Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Doutora e Mestre em
Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Especialista em Direito
Constitucional com Extensão em Didática do Ensino Superior. Professora nos Cursos de Graduação e
Pós-Graduação “Lato Sensu” da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Vice- líder do Grupo de Pes-
quisa Emergente – CriaDirMack- Direitos da Criança do Adolescente no Século XXI da Faculdade de
Direito da UPM Vice-líder do Grupo de Pesquisa CNPq “Políticas Públicas como Instrumento de
Efetivação da Cidadania” e do Grupo de Estados “Criança e Adolescente no Século XXI”. Pesquisadora
no Grupo de Pesquisa “Estado e Economia no Brasil”. Avaliadora de diversos periódicos nacionais e
autora de diversos artigos e livros jurídicos. E-mail: michelle.junqueira@mackenzie.br
152
Professora Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pós-Doutora em Direitos
Humanos e Trabalho pelo Centro de Estudos Avançados da Universidade Nacional de Córdoba, Argen-
tina. Pós-Doutoranda em Novas Narrativas na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São
Paulo (ECA/USP). Pós Doutoranda em Direitos Humanos e Democracia pelo Instituto Ius Gentium,
Universidade de Coimbra, Portugal. Doutora e Mestre pela PUC/SP. Graduada em Jornalismo pela
Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero e em Direito pela UPM. Professora do Curso de
Graduação da Faculdade de Direito da UPM. Professora do Curso de Graduação em Direito da Univer-
sidade São Judas Tadeu. Professora Convidada do Curso de Pós Graduação Lato Sensu da ECA/USP.
Líder do Grupo de Pesquisa Emergente – CriaDirMack- Direitos da Criança do Adolescente no Século
XXI da Faculdade de Direito da UPM. E-mail: anatorezan@mackenzie.br
223
HIPÓTESES
MARCO TEÓRICO
224
cas destinadas às idades posteriores mais eficazes e, neste sentido, menos
custosas153.
As pesquisas de Heckman apontam que países que investem na primei-
ra infância apresentam índices elevados de criminalidade, maiores taxas de
gravidez na adolescência e de evasão no ensino médio, incluindo também,
níveis menores de produtividade no mercado de trabalho.
A cada um dólar gasto com uma criança pequena, o retorno é de U$
0,14 por ano durante toda a vida.
Nesta toada, as políticas públicas voltadas à primeira infância deixam
de ser apenas moralmente justificáveis, como também economicamente com-
pensatórias, mostrando-se eficiente do ponto de vista da gestão pública.
A equação é simples: uma infância bem cuidada vai dar suporte a adul-
tos mais sadios, física e emocionalmente, a profissionais competentes, a pais
comprometidos, a cidadãos participativos e a uma sociedade mais digna e
justa154.
METODOLOGIA
RESULTADOS ESPERADOS
BIBLIOGRAFIA
153
Disponível em: http://terracoeconomico.com.br/james-heckman-e-importancia-da-primeira-infancia-
v1. Acesso em 01 mai. 2018.
154
Disponível em: http://www.fmcsv.org.br/pt-br/noticias-e-eventos/Paginas/INVESTIR-na-
PRIMEIRA-INFANCIA--Promovendo-uma-sociedade-mais-justa.aspx. Acesso em 01 mai. 2018.
225
ANDREUCCI, Ana Claudia Pompeu Torezan; CARACIOLA, Andrea Boari; JUNQUEIRA,
Michelle Asato. Estatuto da Criança e do Adolescente, 25 anos. São Paulo: LTr, 2010.
CARVALHO, Rodrigo Saballa de. O INVESTIMENTO NA FORMAÇÃO DO CIDADÃO DO
FUTURO: A ALIANÇA ENTRE ECONOMIA E EDUCAÇÃO INFANTIL COMO ESTRATÉGIA
DA GOVERNAMENTALIDADE CONTEMPORÂNEA. Educ. rev., Belo Horizonte, v. 32, n.
2, p. 229-253, junho 2016. Available from <http://www.scielo.br/scielo. php? script=
sci_arttext&pid=S0102-46982016000200229&lng=en&nrm=iso>. Acessado em 01/
05/2018. http://dx.doi.org/10.1590/0102-4698144920.
REFERÊNCIAS DIGITAIS:
http://terracoeconomico.com.br/james-heckman-e-importancia-da-primeira-infancia-
v1. Acesso em 01 mai. 2018.
http://www.fmcsv.org.br/pt-br/noticias-e-eventos/Paginas/INVESTIR-na-PRIMEIRA-
INFANCIA--Promovendo-uma-sociedade-mais-justa.aspx. Acesso em 01 mai. 2018.
226
O PROBLEMA DA EFETIVIDADE DO
GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS,
FRENTE À TUTELA AMBIENTAL
CONSTITUCIONAL
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
155
Graduanda do Curso de Direito, Universidade Federal de Mato Grosso Do Sul/CPTL. Bolsista
PIBIC/CNPQ. E-mail: annajulysouza07101998@gmail.com.
156
Professora Adjunta na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul –UFMS/CPTL. Doutora em
Direito Político e Econômico . E-mail: lene_ortolan@hotmail.com.
227
trabalho de pesquisa descritiva, visando expor determinados problemas na
aplicação da tutela ambiental e como isso pode afetar a existência digna e o
meio em que vivemos. Buscando, inicialmente, percorrer sobre a relevância do
tema frente a seara constitucional, em outro momento salientando as preocu-
pações referentes a efetividade da tutela ambiental, e por fim o destaque é da
Política Nacional de resíduos sólidos e sua problemática O estudo em questão
servirá também como material de apoio a um artigo de finalização de projeto
de pesquisa, intitulado “O meio ambiente e a responsabilidade pós-consumo: a
efetividade da lei Nº12.305/2010 na cidade de Três Lagoas –MS”.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
228
Evidencia-se, deste modo, que essa preocupação do Poder Público e so-
ciedade em relação ao tema e sua característica de Direito Fundamental é
recente, pois foi consagrada a constitucionalização da preservação do Meio
Ambiente somente em 1988. Fato este que de certa maneira justifica a demora
na elaboração e na efetividade das políticas públicas, visto que todos os res-
ponsáveis pela implementação, não são conscientizados a ponto de dar a aten-
ção devida a esta problemática, dificultando muito este cenário.
Neste ponto, a reflexão lançada, perfazendo um parâmetro com a cons-
tituição e o mínimo existencial na perspectiva de preservação dos meios de
existência do homem, é o da difícil situação relacionada aos resíduos sólidos
no Brasil, reconhecendo as políticas existentes, mas também a sua delonga em
ter ampla efetividade, prejudicando o ponto chave da questão, o da preserva-
ção e a redução das externalidade negativas advindas do alto consumo e da
industrialização.
A Lei 12.305/2010 introduziu no Brasil a política nacional de resíduos
sólidos, regulamentando e ordenando os setores da sociedade, voltando-os
para a gestão integrada e manejo dos resíduos. Latorre (2013) evidencia que
esta política vai mudar a maneira pela qual o Brasil maneja o lixo, instituindo
um processo participativo, tomando como base o que se necessita urgente-
mente e as metas a partir de estudos sobre essas necessidades, com o fim de
efetivar definitivamente o gerenciamento dos resíduos no país.
É notável que essa Lei tem o intuito de organizar e engajar todos os se-
tores nesta tarefa, estabelecendo como importante instrumento a responsabi-
lidade compartilhada, instituto novo, que visa fortalecer a reciclagem e
métodos de sustentabilidade, pois indústria, governo e sociedade têm seus
papéis definidos e suas responsabilidades fixadas. Ainda, destacam-se outros
instrumentos como a logística reversa, a meta da extinção dos lixões, os acor-
dos setoriais, e vários outros mecanismos possibilitando que os objetivos da
lei sejam alcançados.
Contata-se que houveram mudanças desde a implantação da lei em
2010, porém há muitos entraves nessa efetivação, entraves estes que prejudi-
cam o objetivo da Política. Por exemplo: não se identifica no Brasil uma educa-
ção da população a respeito do consumo desenfreado e consequentemente o
descarte, sendo este incompatível com os objetivos da política.
Como aponta Lemos, é indispensável ser reconhecida a educação ambi-
ental como ponto crucial nesta mudança de hábitos e comportamentos da
sociedade, enfatizando ainda que devem ser reconhecida as relações de inter-
dependência do homem, pois é essa a relação geradora de uma espécie de
ética que nos força a preservar nossa espécie e as espécies ao redor contra
danos cumulativos a curto e a longo prazo.
Nota-se a importância de uma sociedade voltada para a sustentabilida-
de e a preservação, com novos padrões de consumo e produção, existe sim um
relação de dependência entre o meio e os seres que nele habitam, sendo preci-
229
so que estes se relacionem de maneira harmoniosa para ser assegurada a
existência digna, longe de catástrofes, poluição, escassez e outros fatores pre-
judiciais ao existir do ser humano.
No Brasil, desde 1999 tem-se a Política Nacional de Educação Ambien-
tal, porém pouco é feito a respeito, sendo este tema tratado de maneira muito
superficial nas escolas em sua maioria, não sendo assim suficiente para ter a
construção de uma consciência voltada para a sustentabilidade e os proble-
mas gerados pela irresponsabilidade tanto da população quanto da omissão
do poder público, faltando conhecimento da população deste modo até para
fazer a fiscalização.
De um lado a normatização, com fins resolutivos ao problema do volu-
me de resíduos, de outro a realidade nos municípios e Estados brasileiros é
mais problemática do que aparenta ser, principalmente para os pequenos
municípios, que tem dificuldade financeira em arcar com os custos da instala-
ção de aterro e manutenção. Outro ponto em destaque em relação aos municí-
pios é a dificuldade em elaborar os Planos municipais, visto que menos da
metade dos municípios conseguiram cumprir esta etapa.
Nota-se que há quase 8 anos após a instituição da Política Nacional de
resíduos sólidos, há muito ainda a ser feito, e o fator principal deste contexto é
a sociedade, pois a responsabilidade é compartilhada. Lemos , em seu capítulo
intitulado responsabilidade pós consumo- do berço ao túmulo: a importância
dos gestores, traz exatamente esta perspectiva, o da importância dos atores na
gestão dos resíduos, ressaltando a responsabilidade destes na cadeia produti-
va e a relevância de sua atuação preventiva para uma melhor efetivação da
tutela ambiental, o dever e o agir esperado destes atores é o da utilização de
padrões de consumo e produção sustentável sempre visando a manutenção do
meio ambiente equilibrado, possibilitando uma qualidade de vida e a manu-
tenção deste meio para as futuras gerações, ofertando-lhes um mínimo exis-
tencial.
A atuação da sociedade é fundamental, representando a maior parcela
dos setores, e sem essa conscientização todos as outras ações tornam-se invi-
áveis, desde a coleta seletiva, logística reversa, a uma fiscalização sobre as
indústrias e municípios para verificar se todos estão cumprindo seu papel.
Ainda é frágil e superficial o estabelecimento das ações da PNRS no
Brasil, de tal forma que ainda não há a garantia total de efetiva preservação,
da garantia de qualidade de vida e do mínimo existencial para as futuras gera-
ções. O consumo exacerbado e a ausência de responsabilidade pós consumo
ainda são hábitos reais na sociedade brasileira.
Garcia (2017) alude que o direito ao meio ambiente equilibrado é pres-
suposto para uma existência digna e mesmo não sendo de forma explícita
taxado como direito fundamental, deve ser interpretado como tal, pois é tão
relevante quanto os outros já explicitados no rol dos Fundamentais. Tal é a
importância que, segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF),
os direitos fundamentais sociais se sobressaem até sobre a reserva do possí-
vel.
230
A discussão sobre a efetividade da política em âmbito nacional ainda
está no seu início, são esperados muitos resultados e boas consequências. Ao
ferir o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, direito este do-
tado de revestimento constitucional e de terceira geração de direitos funda-
mentais, fere-se o direito de uma existência digna, sendo passível de
responsabilização de forma subjetiva e também objetiva, e nas três esferas de
responsabilidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional positivo. 33. ed. rev. e atual.
São Paulo: Malheiros editores, 2010.
231
O DIREITO AO BRINCAR COMO
GARANTIA DA DIGNIDADE DA CRIANÇA E A
EFETIVAÇÃO DO DIREITO SOCIAL DE
PROTEÇÃO À INFÂNCIA
PROBLEMA:
HIPÓTESES:
157
Pós-graduanda strictu sensu em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mac-
kenzie
e-mail: bruna.azzari@hotmail.com
232
Entretanto, no contexto político em que tal diploma foi editado, ainda não
possibilitou a plena efetivação da doutrina da proteção integral, existindo
ainda hoje grandes fragilidades no sistema brasileiro de garantias de direitos à
criança e ao adolescente. Com o objetivo de superar tais vulnerabilidades, foi
publicada no Brasil em 08 de março de 2016 a Lei nº 13.257/2016, o Marco
Legal da Primeira Infância, voltado aos primeiros 6 anos da vida do indivíduo.
Essa nova legislação prevê medidas baseadas no princípio de que as crianças
na primeira infância necessitam de um ambiente seguro para se desenvolve-
rem, marcado por interações estáveis e responsivas, que permitam que elas se
beneficiem ao máximo das etapas de seu desenvolvimento. Uma de suas im-
portantes inovações foi a previsão, em seu artigo 17, de que deverá o Estado
organizar e estimular a criação de espaços que propiciem o bem-estar, o brin-
car, em locais públicos e privados
Assim, vê-se que o direito ao brincar é garantido pela legislação brasi-
leira, entretanto, na prática ele vem sendo preterido em relação a outros direi-
tos considerados urgentes e hierarquicamente mais importantes para a
criança, como se dá com o direito à saúde, boa alimentação, educação de qua-
lidade, entre outros. Entretanto, o brincar precisa ser visto como direito es-
sencial ao desenvolvimento infantil, e não apenas como um momento de
intervalo das obrigações escolares ou como meio de aprendizado, mas como
uma oportunidade única para que a criança exerça a sua individualidade de
forma livre, permitindo assim, a sua cidadania de forma plena. Trata-se de um
direito primordial para o desenvolvimento infantil, é a partir deste que se
determina como a criança se vê no mundo, como ela irá interagir com as pes-
soas à sua volta. Contudo, a sociedade não lhe dá o devido mérito, e o brincar
acaba prejudicado em tempos de uma sociedade capitalista e imediatista.
A estruturação de políticas públicas pelo Poder Público que privilegi-
em o brincar são um meio de garantia do mínimo existencial social, uma vez
que este não pode ser limitado à simples sobrevivência ou à garantia da vida
humana, mas deve almejar a realização da vida em condições dignas. Assim,
verifica-se a clara necessidade de implementação de políticas públicas volta-
das para a garantia deste direito, não apenas que prevejam a sua obrigatorie-
dade, mas também que conscientizem a sociedade, para que famílias e
educadores possam efetivamente proporcionar um brincar puro e sem pre-
tensões para suas crianças.
MARCO TEÓRICO:
233
zado diversas pesquisas quanto à importância do brincar para o desenvolvi-
mento da criança, através das quais será demonstrado em que medida o brin-
car é um direito social de mínimo existencial para a infância.
A instituição do brincar enquanto direito revela uma necessidade im-
posta pela sociedade para uma dimensão que foi ignorada ao longo da história,
e hoje é reconhecida como essencial à criança nas suas mais diversas funções
(SANTA CLARA; CAMARGO; PEROZA, 2017).
Atualmente, se aceita que brincar não é apenas entretenimento ou
passatempo, mas inestimável recurso para a construção de conhecimentos e
para o desenvolvimento integral da criança (NUNES, 2016). Entretanto, por
mais que diversas pesquisas atestem a importância do brincar para o desen-
volvimento infantil, este é visto essencialmente como instrumento para o
ensino, quando hoje sabe-se que se estende para além das práticas escolares: o
brincar é hoje entendido como manifestação da liberdade da criança, reconhe-
cida como pessoa com interesses desejos e vontades singulares (FRANCO;
BATISTA, 2007).
Trata-se de importante elemento de formação da cidadania, sendo as-
sim, indispensável para o desenvolvimento social. É com a garantia de um
brincar livre e espontâneo, que se torna possível um processo de transforma-
ção política e social, no qual as crianças são vistas pelos educadores e pela
sociedade como cidadãs, sujeitos que participam e transformam a realidade
em que vivem (CARVALHO; ALVES; GOMES, 2005).
É preciso, para tanto, entender que a cidadania compreende tanto os
direitos como os deveres inerentes à condição humana, competindo a todos a
construção e efetivação desses direitos que se busca resguardar. Trata-se de
um dever de solidariedade para se garantir a efetivação dos direitos funda-
mentais (SMANIO, 2008).
E o brincar na infância constitui a criança na sua mais profunda es-
sência, posto que integra o núcleo de sua dignidade e cidadania, e a criança,
indivíduo a quem deve ser dada absoluta prioridade e proteção integral. Não
obstante, os direitos das crianças, especialmente aqueles considerados secun-
dários como se dá com o direito ao brincar, são muitas vezes depreciados em
meio a tantos ramos urgentes no campo do direito, existindo uma legislação,
mas pouco eficaz.
Assim, é essencial que, para além da simples declaração constitucional desse
direito, seja ele integralmente respeitado e plenamente garantido. Assim, o
Estado deve criar mecanismos jurídicos que alinhem a sua atuação à da socie-
dade, no sentido de fazer do brincar não só um direito tutelado, mas pensado
por toda a sociedade e de fato garantido à todas as crianças.
METODOLOGIA:
234
A pesquisa será desenvolvida sob o método hipotético-dedutivo através da
análise qualitativa de dados. Utilizar-se-á, para tanto, bibliografia pertinente
dos campos jurídico e psicopedagógico, em âmbito nacional e internacional,
recorrendo-se, ainda, a análises atuariais de órgãos oficiais a fim de mapear os
investimentos públicos na infância e, sobretudo, os seus impactos no desen-
volvimento econômico e social do país. Ao final, será analisada a efetivação do
direito social à infância através da garantia do direito ao brincar.
RESULTADOS ESPERADOS:
REFERÊNCIAS:
235
FRANCO Raquel Rodrigues; BATISTA Cleide Vitor Mussini. A criança e o brincar co-
mo um direito de liberdade. In Anais eletrônicos VII Congresso nacional de educação
–
EDUCERE e V Encontro Nacional sobre ATENDIMENTO Escolar Hospitalar. Curitiba:
Champagnat, 2007, p. 1446-1458. Disponível em: <http://www.pucpr.br/eventos/
educere/educere2007/anaisEvento/arquivos/CI-200-12.pdf>. Acesso em 28.abr.2018.
KRAMER, Sonia. As crianças de 0 a 6 anos nas políticas educacionais no Brasil:
educação infantil e/é fundamental. In: Educ. Soc., v. 27, n. 96 – Especial, out. 2006. p.
797-818. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-7330200600
0300009&script=sci_abstract&tlng=pt> Acesso em 28.abr.2018
NUNES, Antonio Carlos Ozório. A Primeira Infância no Contexto do Sistema de Ga-
rantia de Direitos. In. Primeira Infância – avanços do Marco Legal da Primeira
Infância. Brasília, 2016. p. 273. Disponível em: http://primeirainfancia.org.br/ wpcon-
tent/uploads/2016/07/Avancos-do-Marco-Legal-da-Primeira-Infancia-1.pdf>. Acesso
em 28.abr.2018.
RANGEL, Tauã Lima Verdan. O Sistema Nacional de Seguridade Social como ins-
trumento de concretização dos Direitos Fundamentais Sociais: Reflexões à luz do
Mínimo Existencial Social. Conteúdo Jurídico, Brasília - DF: 07 ago. 2017. Disponível
em:<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.589578&seo=1>. Acesso
em 28.abr.2018.
SANTA CLARA, Cristiane; CAMARGO, Daiana; PEROZA, Marilúcia. O brincar como
expressão de liberdade: entre a dignidade e o direito da criança. In: Ensino &
Pesquisa, v.15, n. 2. 2017. p. 168-191. Disponível em: < http://periodicos. unespar.edu
.br/index.php/ensinoepesquisa/article/view/1777> Acesso em 28.abr.2018.
SILVA, Silvana Maria Moura da; PÉREZ-RAMOS, Aidyl Macedo de Queiroz; FONSECA,
Eneida Simões da. Direito De Brincar Da Criança Brasileira: subsídios das políticas
públicas. In: Revista de Políticas Públicas, vol. 10, n. 2, jul./dez. 2006. Disponível em: <
http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/rppublica/article/view/3804>
Acesso em 28.abr.2018.
SMANIO, Gianpaolo Poggio. A conceituação da cidadania brasileira e a Constituição
Federal de 1988. In Os 20 anos da Constituição da República Federativa do Brasil.
Editora Atlas, Organizador: Alexandre de Moraes.
_____; BERTOLIN, Patrícia Tuma Martins. A doutrina da proteção integral e seus
ainda restritos efeitos sobre as políticas públicas voltadas à criança e ao adoles-
cente. In:
ANDREUCCI, Ana Claudia Pompeu Torezan; CARACIOLA, Andrea Boari; JUNQUEIRA,
Michele Asato (org.). Estatuto da criança e do adolescente: 25 anos. São Paulo: Ltr,
2015
UJIIE, Nájela Tavares. O lúdico como direito e manifestação cultural da infância:
apontamentos e interlocuções. In: PELOSO, F. C.; SILVA, S. S. de C. (Org.). Infância e
inclusão social: cenas da experiência humana. Curitiba: Ithala, 2014, p. 81-110.
236
FRATERNIDADE E
SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL
INTRODUÇÃO
158
Professora Adjunta da UFMS. Doutora em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbite-
riana Mackenzie. Mestre e Graduada em Direito pelo Centro Universitário Eurípides de Marília-
UNIVEM. Líder do Grupo de Pesquisa cadastrado no CNPQ “Direito, Cidadania e Desenvolvimento
Sustentável”. E-mail: lene_ortolan@hotmail.com.
159 159159
Mestranda em Teoria do Direito e do Estado pelo Centro Universitário Eurípides de Marília -
UNIVEM. Bolsista CNPq sob orientação do Prof. Dr. Lafayette Pozzoli. Integrante do grupo de estudo
e pesquisa Direito e Fraternidade, vinculado ao CNPq-UNIVEM. Graduada em Direito pelo Centro
Universitário Toledo de Presidente Prudente. Presidente da Comissão das Mulheres Advogadas da
subseção de Osvaldo Cruz/Sp. Advogada: larissa.francozo@hotmail.com
237
PROBLEMA
HIPÓTESE
MARCO TEÓRICO
238
dade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gera-
ções”.
A proposta do constitucionalismo fraternal implica um despertar para
que condições existenciais mínimas sejam garantidas, enquadrando-se nestas
o “mínimo existencial ecológico”, imprescindível à sadia qualidade de vida e,
consequentemente, intrínseco à dignidade da pessoa humana. Assim, é possí-
vel afirmar que, como categoria jurídica, a fraternidade corrobora com os
preceitos do desenvolvimento sustentável.
Importante registrar que a preocupação com a tutela do meio ambiente
não esteve dentre as prioridades internacionais até 1950. Cançado Trindade
(1993, p. 39) discorre sobre a aproximação da questão ambiental e a proteção
dos direitos humanos, explicando que a proteção dos direitos humanos teve
seu marco com a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, en-
quanto a tutela ambiental só ganhou destaque com a Declaração das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente Humano de 1972, documento produzido pela da
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, realizada em
Estocolmo, que sinalizou propostas para solucionar o problema do crescimen-
to econômico face à escassez dos recursos naturais. José Afonso da Silva
(2003, p. 61) enuncia os princípios da Declaração como prolongamento da
Declaração de 1948.
Guido Soares (2003, p. 173) enuncia que as normas voltadas à tutela in-
ternacional do meio ambiente “têm sido consideradas como um complemento
aos direitos do homem, em particular o direito à vida e à saude humana”. O
núcleo do desenvolvimento sustentável visa compatibilizar o desenvolvimen-
to e o crescimento econômico com o direito de todos de viver em um meio
ambiente equilibrado e ainda salvaguardá-lo para as gerações vindouras, o
que só se viabiliza com o comprometimento de toda sociedade, o que implica
no reconhecimento da incidência do princípio da fraternidade.
Hodiernamente, observa-se que as diversas alterações ambientais,
que marcam a atual sociedade são justificadas em prol do desenvolvimento
econômico e das necessidades sociais. Estas alterações são identificadas de
forma aceleradas e individuais e acentuadas pela falta de valores éticos. Devi-
do a isto, tem-se a necessidade de falar-se em preservação ao meio ambiente
equilibrado através de um princípio ético, onde todos possam compreender a
sua responsabilidade e consequentemente colaborar para a concretização, ou
seja, a fraternidade.
O meio ambiente equilibrado representa a possibilidade de efetivar os
direitos humanos que concretiza os direitos mínimos a cada cidadão, incluído
a qualidade de vida. Enquanto direito fundamental, trata-se de um direito de
fraternidade que requer a cooperação na preservação ambiental. Percebe-se
que o princípio da fraternidade conjugado ao direito ao meio ambiente ecolo-
gicamente equilibrado é uma equação eficiente na salvaguarda da vida em
todas as suas formas.
239
Assim, a fraternidade é o que norteia e origina transformações sociais e
ambientais, além de ser o princípio que deveria ser base para originar outros
princípios e elaboração de políticas públicas em prol do desenvolvimento
sustentável, uma vez que orienta no sentido de caber a cada indivíduo, princi-
palmente de forma coletiva, lutar por um meio ambiente equilibrado e susten-
tável, retirando a figura do sujeito como sendo exclusivamente o titular de um
direito ou dever e destina-se essa proteção e responsabilidade a todos.
É o princípio da fraternidade que leva ao despertar para a conscientiza-
ção do homem em construir um meio ambiente equilibrado e consequente-
mente a (re)ver e (re)pensar nas escolhas da melhor técnica de produção,
porque ensina a necessidade de cooperação mútua entre todos os membros
da sociedade em busca do bem-estar social.
Deve-se, portanto desmistificar a ideia de que a fraternidade está
ligada apenas a esfera religiosa e que é conceituada e utilizada apenas como
amor ao próximo. A fraternidade vai muito além desta questão, porque é um
princípio norteador, ao lado da igualdade e liberdade, apta a construir uma
sociedade melhor e consequentemente mais justa.
METODOLOGIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
240
fraternidade, devem ser privilegiados sobre qualquer legislação infraconstitu-
cional, em prol da dignidade da pessoa humana.
REFERÊNCIAS
AQUINI, Marco. Fraternidade e direitos humanos. In. Antônio Maria Baggio (org.). O
princípio esquecido: a fraternidade na reflexão atual das ciências políticas. Tra-
dução de Durval Cordas, Iolanda Gaspar, José Maria de Almeida. Vargem Grande Paulis-
ta: Editora Cidade Nova, 2008.
BAGGIO, Antonio Maria (org.). O princípio esquecido. São Paulo: Cidade Nova, 2008.
BRITTO, Carlos Ayres. O Humanismo como Categoria Constitucional. Belo Horizon-
te: Fórum, 2007.
OLIVEIRA FILHO, Ari Alves de; PADILHA, Norma Sueli. Limites da Regulamentação
Ambiental do Agrotóxico e a Vulnerabilidade do Consumidor. In Direito ambiental e
socioambientalismo I [Recurso eletrônico on-line] organização CONPEDI/UdelaR/
Unisinos/ URI/UFSM /Univali/UPF/FURG; Coordenadores: Marcelo Jose Cousillas,
Maria Claudia da Silva Antunes De Souza, Norma Sueli Padilha – Florianópolis:
CONPEDI, 2016.
241
A INEFICÁCIA DOS DIREITOS SOCIAIS
PERANTE O MÍNIMO EXISTENCIAL E A
RESERVA DO POSSÍVEL.
PROBLEMA
HIPÓTESES
Hipótese principal
Hipóteses secundarias
160
Estudante de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie
161
Estudante de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie
242
desde os primórdios da colonização. A política do Brasil foi marcada por uma
grande turbulência. Inúmeros golpes, alternância de poder e fraldes eleitorais
são alguns dos exemplos mais marcantes, os quais propiciaram uma
incredibilidade nos ideais democráticos e órgãos públicos.
Ademais, desde a sua redemocratização, após a Ditadura de 1964, o Brasil
só concretizou o mandato integral de dois presidentes (Fernando Henrique
Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva). Diante dos fatos elucidados acima, os
Direitos Sociais encontraram inúmeras barreiras para a sua efetivação.
MARCO TEÓRICO
André Ramos Tavares conceitua direitos sociais como direitos “que exigem do
Poder Público uma atuação positiva, uma forma atuante de Estado na
implementação da igualdade social dos hipossuficientes. São, por esse exato
motivo, conhecidos também como direitos a prestação, ou direitos
prestacionais”.
Uadi Lammêgo Bulos esclarece que tais “prestações qualificam-se como
positivas porque revelam um fazer por parte dos órgãos do Estado, que têm a
incumbência de realizar serviços para concretizar os direitos sociais”, e
acrescenta que sua finalidade “é beneficiar os hipossuficientes, assegurando-
lhes situação de vantagem, direta ou indireta, a partir da realização da
igualdade real”.
Para Ricardo Lobo Torres “O Mínimo existencial é condição de liberdade, confira
proteção do indivíduo contra ingerência indevida do legislador em ações e bens
que possibilitem a sobrevivência digna (status negativus), bem como consiste
no Direito a prestações estatais, básicas para o alcance dessa sobrevivência
digna (status positivus libertatis)”.
Segundo Ingo Wolfgang Sarlet “Todas as prestações indispensáveis à promoção,
proteção e fruição de uma vida digna (que podem variar de acordo com as
circunstâncias) necessariamente compõe o mínimo existencial”.
De acordo com Paulo Caliendo “A reserva do possível (Vorbehalt des Möglichen)
é entendida como limite ao poder do Estado de concretizar efetivamente
direitos fundamentais a prestações, tendo por origem a doutrina
constitucionalista alemã da limitação de acesso ao ensino universitário de um
estudante (Numerus-clausus Entscheidung). Nesse caso, a Corte Constitucional
alemã (Bundesverfassungsgericht) entendeu existirem limitações fáticas para o
atendimento de todas as demandas de acesso a um direito”.
O palavra efetividade, segundo Antônio Houaiss significa “caráter, virtude ou
qualidade do que é efetivo, faculdade de produzir um efeito real, capacidade de
produzir o seu efeito habitual, de funcionar normalmente”.
METODOLOGIA
243
Durante a pesquisa foi utilizado o método indutivo, que partiu de uma ideia
particular, a jurisprudência supracitada. Dessa ideia foram extraídas
premissas até chegar as devidas conclusões.
REFERÊNCIAS
BULOS, U. L. Curso de Direito Constitucional. 10. Ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
244
DIREITO FUNDAMENTAL Á SAÚDE E A
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO PELA
PERDA DA CHANCE DE CURA OU SOBREVIDA
DOS PACIENTES COM CÂNCER.
162
Graduanda em Direito pela Faculdade Dr. Francisco Maeda – FRAFRAM – Ituverava/SP. Endereço
eletrônico: tati.maia@ymail.com
163
Doutoranda em Processo Constitucional pela Faculdade Autônoma de Direito – FADISP – São
Paulo/SP. Professora titular da disciplina de Direitos Coletivos na Faculdade Dr. Francisco Maeda –
FRAFRAM – Ituverava/SP. Endereço eletrônico: renata_romani@hotmail.com
245
Frente toda essa precariedade das infraestruturas da rede pública de
saúde brasileira, o cidadão doente, em especial o portador de câncer, para
alcançar seus direitos, na maioria das vezes tem que provocar o Poder Judiciá-
rio. Em resposta a estas ações judiciais o Poder Público justifica suas restri-
ções de atendimento a todas as necessidades da população e, por conseguinte,
os denominados direitos sociais prestacionais têm limites na capacidade eco-
nômica do Estado, a denominada “reserva do possível” 164.
Questões orçamentárias e normas administrativas não podem se so-
brepor aos bens maiores da vida e da saúde (art. 5º, caput, 196 ao 200 da CF),
ou seja, impedirem que se salve uma pessoa doente, até mesmo porque não
acolhe a jurisprudência pátria a simples alegação do princípio da reserva do
possível em sua conotação jurídica. A previsão orçamentária está sendo inter-
pretada de forma singular, como se os casos individualizados tivessem que
constar dessa previsão, posto que como é de sabença o orçamento do Poder
Público é feito de maneira abstrata. Assim, a gestão administrativa deve ser
realizada para garantir a recuperação da saúde, fundamentado nos artigos
196, 197 e seguintes da Constituição Federal. Contudo, invocar a má gestão
administrativa, como no presente recurso, visa elidir a obrigação que foi im-
posta pela Carta Magna.
No que tange a responsabilidade em proporcionar saúde a todos os ci-
dadãos, o legislador não foi omisso em regular esta situação, concedendo a
todos os entes federativos (União, Estados e Municípios) solidariamente pro-
mover, prevenir e a precaver de todas as necessidades básicas.
E por ser câncer - nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças
que têm em comum o crescimento desordenado (maligno) de células que
invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se (metástase) para outras
regiões do corpo165 - computado como a segunda maior causa de morte nas
Américas, ficando em primeiro as doenças cardiovasculares, conforme estu-
dos realizados na Universidade Federal do Espírito Santo166. Objetivando um
cuidado especial aqueles acometidos pela citada doença houve a promulgação
da Lei n. 12.732/2012 que dispõe sobre o primeiro tratamento de paciente
com neoplasia maligna comprovada e estabelece prazo para seu início 167. O
legislador ainda promoveu um vasto rol de direitos sociais em uma cartilha
(direito ao fundo de garantia por tempo de serviço; sacar o PIS/PASEP; com-
prar veículos adaptados ou especiais; isenção do IPI; isenção do ICMS; isenção
do IPVA, entre outros).
Este trabalho visa estudar a Lei n. 12.732/2012 com enfoque no artigo
2º, que assim aduz: O paciente com neoplasia maligna tem direito de se subme-
164
TJ/SP. APELAÇÃO nº 1003626-84.2016.8.26.0281. 1ª Câmara de Direito Público do Tribunal de
Justiça de São Paulo. Relator Desembargador Luís Francisco Aguilar Cortez. DJU 18/05/2018.
165
http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=322.
166
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232012000400016
167
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12732.htm
246
ter ao primeiro tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS), no prazo de até 60
(sessenta) dias contados a partir do dia em que for firmado o diagnóstico em
laudo patológico ou em prazo menor, conforme a necessidade terapêutica do
caso registrada em prontuário único168.
Determinados tipos de patologias o tempo de início do tratamento é um
fator fundamental para que a cura ou maior sobrevida seja alcançada. Todavia,
observamos que esse prazo ideal para início do tratamento, ou para realização
dos procedimentos médicos nem sempre tem sido possível no Brasil, com
base na pesquisa realizada pelo jornal Folha de São Paulo, constatou-se que os
paulistanos aguardam cerca de 284 (duzentos e oitenta e quatro) dias na fila
de espera para terem uma primeira consulta com um médico-cirurgião geral
na rede pública. Nessa primeira consulta é realizada uma avaliação acerca da
necessidade de procedimento cirúrgico. Somente após isso são marcados
exames pré-operatórios e será agendada a data do procedimento (ESPERA...,
2014)169.
Lembrando que a responsabilidade civil do Estado está tipificada no §
6º do artigo 37 da Constituição, adotando-se a responsabilidade objetiva, on-
de, basta demonstrar o nexo causal entre o dano sofrido pela vítima e a condu-
ta da pessoa jurídica de direito público – ou da pessoa jurídica de direito
privado que presta serviço público, mesmo em casos de omissão/inercia. Po-
sicionamento defendido por Hely Lopes Meirelles (2007, p. 657) 170, que o
Estado deve responder objetivamente por sua omissão. Isso porque é inapli-
cável os princípios subjetivos da culpa civil para a responsabilização do Esta-
do, que detém poder e privilégios, enquanto que o particular é despido de
autoridade e prerrogativas públicas.
Registra-se que a construção doutrinária civilista sobre a teoria
da perda de uma chance envolve a ideia de que quando um ato ilícito resultar
na perda de uma oportunidade de alcance de situação futura melhor, tem
direito à reparação, por meio do recebimento de indenização, conforme ensi-
na Sérgio Cavalieri Filho (2008, p. 85) 171.
Logo, o Estado, por obrigação constitucional tem o dever de interrom-
per o processo de evolução da doença, utilizando-se de ações e serviços de
saúde de qualidade e em tempo hábil, realizados através do Sistema Único de
Saúde. Então, ao omitir-se dessa obrigação constitucional, o ente público tam-
bém poderia ser responsabilizado civilmente pela perda da chance de cura ou
prolongamento da vida da vítima?
168
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12732.htm
169
ESPERA por consultas médicas para cirurgia aumenta em São Paulo. Folha de São Paulo. São Paulo,
4 ago. 2014. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/08/1495292-espera-por-
consultas-medicaspara- cirurgias-aumenta-em-sao-paulo.shtml>.
170
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo brasileiro. 34ª ed. São Paulo: Malheiros Edito-
res, 2007.
171
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
p. 75.
247
A pesquisa propõe-se, então, a verificar se, quando a pessoa com câncer
não conseguir acessar a terapêutica prescrita no prazo adequado na lei – neste
caso, 60 dias - e o doente tiver uma piora em seu estado de saúde, ou até
mesmo falecer, não seria o Estado responsável pela perda da chance de cura
ou sobrevivência da vítima?
Para tentar responder esse questionamento, pois a pesquisa ainda en-
contra-se em andamento, está sendo utilizado o método dedutivo, sendo a
premissa maior o direito à saúde como um dever constitucional do Estado.
Empregando-se também o método dialético, pois o tema em questão merece
constante debate, tornando-se necessário o confronto de opiniões e correntes
doutrinárias. A técnica de pesquisa é a bibliográfico-documental, especialmen-
te de fontes doutrinárias jurídicas, pesquisas estatísticas realizadas por orga-
nizações de saúde e legislação relativa ao tema.
248
MELHORIA DE GESTÃO DE HOSPITAIS
PÚBLICOS DO SUS ATRAVÉS DE CONTRATOS
ADMINISTRATIVOS E POLÍTICAS PÚBLICAS
HUMANITÁRIAS DE SAÚDE
172
Professora Adjunta na UFMS, Campus de Três Lagoas, Curso de Direito, Doutoranda na Universidade
Presbiteriana Mackenzie. Graduada em Direito pela UNESP/Franca. Mestre em pela UniToledo Araça-
tuba/SP. E-mail: ancilla@clickrede.com.br.
173
Graduada em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campus Três
Lagoas/MS (CPTL). Integrante do grupo de pesquisa de Teoria Geral do Processo, Sistemas de Justiça,
Cidadania e Direitos Fundamentais, do Curso de Direito, da UFMS/CPTL. Currículo Lattes disponível
em http://lattes.cnpq.br/0820929585338796. E-mail: rhairamouramartins@gmail.com.
249
Utilizou-se como métodos de pesquisa, quanto a abordagem, natureza, objeti-
vos e procedimentos, respectivamente, as metodologias: qualitativa, básica,
descritiva e bibliográfica.
O presente trabalho, trouxe como marco teórico a definição de Ingo
Sarlet sobre a dignidade da pessoa humana e subsequente conceito de mínimo
existencial, forjado por Robert Alexy. A partir do viés jurídico considera-se
algo intrinsecamente ligado à efetivação prática dos direitos fundamentais,
que representam a própria concretização do princípio da dignidade da pessoa
humana, à partir da ideia de que o mínimo existencial parte do que se refere à
preservação e garantia das condições minimamente dignas de vida ao ser
humano, estando incluso neste mínimo existencial a vida e consequentemente,
a saúde.
A teoria do mínimo existencial pode ser considerada como um subsis-
tema da teoria dos direitos fundamentais que demanda respaldar, juridica-
mente, as lutas sociais contra a exclusão social e a miséria, bem como fornecer
argumentação teórica suficiente para amparar os pleitos processuais em face
do poder público e elementos para fundamentação das decisões judiciais e das
escolhas políticas
O presente trabalho objetivou-se à partir da notória e desumana situa-
ção de crise no setor hospitalar público em que se encontra o Sistema Único
de Saúde brasileiro, como dentre outras repercussões, diversos estudos e
relatórios do próprio Ministério da Saúde, à partir da desvalorização do sis-
tema, má utilização de recursos e seu consequente subfinanciamento, con-
quanto com a contraversão de prioridades, sendo a dignidade da pessoa
humana desconsiderada e os usuários do sistema tratados como estatísticas,
somente, contrariamente ao preceituado pela Carta Magna, que tem em seu
viés substancial, o princípio da dignidade da pessoa humana, trazido em seu
Art. 1º, III.
A pesquisa fundamenta-se à partir das possibilidades de parcerias en-
tre o setor público e o privado e entidades do terceiro setor, à partir da Lei
8.666/93, propiciando a contratação regular de maior contingente de pessoas
especializadas, para atender a grande demanda dos hospitais do SUS e ofere-
cer tratamentos de qualidade e com atenção ao paciente, bem como, pela con-
tratação de serviços e aparelhos hospitalares, afastando a situação atual onde
necessitam priorizar os pacientes e nem todos são atendidos por falta de re-
curso humano e de equipamentos.
À partir do princípio da dignidade da pessoa humana, presente no Art.
1º, III, da Constituição Cidadã extrai-se que para que seja efetivada, haja o
mínimo existencial. Abrangido pelo mínimo existencial, temos o direito ao
acesso à saúde, como preceitua o Art. 6º da Constituição Federal, seguido pelo
Art. 196 da Carta Magna e pelo Art. 197, que diz respeito à relevância do servi-
ço de saúde e de sua respectiva administração por parte do Poder Público.
Igualmente relevante analisar formas contratuais que possam resultar na
250
maior eficiência dos hospitais públicos, nos moldes do princípio basilar dis-
posto no art. 37, caput, da Constituição Federal.
Neste quadro de crise relativamente profundo e extenso em que estão
envolvidas as organizações hospitalares públicas brasileiras, faz-se crucial que
novas formas de gestão sejam buscadas, para uma melhor performance orga-
nizacional da administração pública e principalmente, acesso e fornecimento
de serviços de saúde dignos.
O trabalho dá ênfase à humanização das gestões hospitalares, individu-
alização do paciente, o que propicia um atendimento mais humanizado, po-
dendo unificar e direcionar atenção específica ao paciente e seu respectivo
tratamento, atendendo a demanda existente e de forma que respeite o mínimo
existencial de cada indivíduo, propiciando ao mesmo, atenção integral, basea-
da na empatia e na comunicação eficaz, através das contratações de profissio-
nais aptos, hábeis e humanizados.
Com o advento da promulgação da Constituição Federal de 1988, a
Constituição Cidadã, legitimou em seu artigo 6º, a saúde como política social e
como um dever de todos.
Consoante ao que se constata da redação constitucional, a saúde, bem
como um direito, constitui também, um dever do Estado que, associadamente
ao direito à vida, integra a própria noção de dignidade humana e mínimo exis-
tencial. Esse caráter prestacional pressupõe a efetivação de uma atividade
pela qual se viabilize a consumação do aludido direito. Em sentido amplo,
abrange a execução de medidas para salvo-conduto da saúde, bem como a
organização de ações que viabilizem a sua efetivação.
O princípio da universalidade está expresso em dispositivo constitu-
cional, e é facilmente extraído do Art. 196 da Constituição Federal de 1988,
que prevê o acesso universal às ações e serviços de saúde, o que possibilita o
ingresso de qualquer pessoa no Sistema Único de Saúde (SUS).
Além de universal, o acesso deve ser igualitário, não devendo haver dis-
tinção em relação a grupo de pessoas, nem de serviços prestados. Para que o
acesso seja universal e igualitário, impõe-se a gratuidade dos serviços, por-
quanto não se pode considerar universal, serviço público que exija contrapar-
tida pecuniária.
A Lei Federal 8.080/90, em seu Art. 2º, portanto, reconhece a saúde
como direito fundamental do ser humano, sendo do Estado o dever de prover
as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.
A Dignidade da Pessoa Humana é princípio inerente à Constituição Fe-
deral Brasileira de 1988, sendo um de seus pilares e podendo ser considerada
como fundamento dos princípios fundamentais.
Considerada como qualidade inerente à todo ser humano, a dignidade
da pessoa humana, classifica-se como atributo, e não como um direito imposto
pela norma.
251
Ingo Wolfgang Sarlet (2007, p. 35) traz a como marco teórico a própria
definição de dignidade da pessoa humana, como sendo uma qualidade intrín-
seca de cada ser humano que, simplesmente ao existir o faz merecedor do
mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, impli-
cando, assim, em um conjunto de direito e deveres fundamentais que assegu-
rem a pessoa tanto contra o todo e qualquer ato de cunho degradante e
desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais para uma
vida saudável, além de propiciar e também promover a sua participação de
forma ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em
comunhão com todos os demais seres humanos.
Pode-se entender como atendimento hospitalar, como toda aquela
prestação de assistência oferecida dentro da unidade hospitalar, pelos profis-
sionais das equipes que ali exercem as suas funções, incluindo todos os que
realizam contato direto com o paciente.
Utiliza-se a definição de “humanização” para a forma de assistência e
gestão que valorize a qualidade do cuidado do ponto de vista técnico, associa-
da ao reconhecimento dos direitos do paciente, de sua subjetividade e refe-
rências culturais e pessoais. Implica ainda a valorização do profissional e do
diálogo intra e interequipes e valorização dos recursos humanos dentro do
ambiente coorporativo hospitalar.
Assim sendo, torna-se inarredável e insociável um atendimento hospi-
talar que não seja pautado pela valorização à dignidade da pessoa humana,
pela empatia e pelo cuidado unificado e individualizado com cada paciente
que acima de tudo, é uma pessoa passível de direitos e de respeito.
A Constituição Federal de 1988, tornou-se conhecida como a Constitui-
ção Cidadã e tem como uma de suas características principais o reconheci-
mento de muitos direitos de cidadania. A saúde, reconhecida como direito de
todos, e como um dever do Estado e conforme o texto constitucional, deve
caber ao Estado a tarefa de garantir a saúde para todos, através de políti-
cas sociais e econômicas voltadas tanto para a "redução do risco de
doença e de outros agravos", quanto "ao acesso universal e igualitário às
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação".
É a partir desse interim que a Constituição reconhece a relevância pú-
blica das ações e serviços de saúde, e delineia um sistema único (o Sistema
Único de Saúde), integrado pelas ações e serviços públicos de saúde, mas do
qual também podem participar, em caráter complementar, instituições priva-
das. O que caracteriza esse Sistema Único é seu financiamento público. Tal
sistema único de saúde deve pautar-se em torno de três diretrizes: a descen-
tralização, com direção única em cada esfera de governo; o atendimento inte-
gral; e a participação da comunidade.
À partir dessas diretrizes, destacam-se como princípios relevantes e
de extrema importância para a resolução ou abrandamento da crise hospitalar
brasileira, a atenção aos princípios da eficiência e da integralidade, como for-
252
ma de tornar as gestões mais eficazes, com mais qualidade e respeitando o
princípio da dignidade da pessoa humana.
A humanização das relações no ambiente de saúde, é a grande espe-
rança para as melhorias dos problemas de gestão, a humanização é uma polí-
tica transversal, que atravessa as diferentes ações e instâncias gestoras do
SUS, devendo ser aplicada como política pública, traduzindo os princípios do
SUS em modos de operar dos diferentes equipamentos e sujeitos da rede de
saúde; construindo trocas solidárias e comprometidas com a dupla tarefa de
produção de saúde e produção de sujeitos; oferecendo um eixo articulador e
norteador das práticas em saúde, destacando o aspecto subjetivo nelas pre-
sente; complementando o sistema por atitudes e ações humanizadoras na
rede do SUS, incluindo gestores, trabalhadores da saúde e usuários, e tornan-
do como solução imediata, a implementação de políticas públicas humanitá-
rias de saúde, baseadas na performance comunicacional, entre profissionais e
usuários e entre profissionais e gestores, repercutindo de forma positiva no
cuidado prestado, valorizando o ser humano que ali se encontra, com o máxi-
mo de dignidade e respeito.
REFERÊNCIAS
253
A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E O ATIVISMO
JUDICIAL, IMPACTOS DESTE NO ÂMBITO
SOCIAL E ECONÔMICO
PROBLEMA
HIPÓTESES
MARCO TEÓRICO
174
Graduando no curso de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Higienópolis.
175
Graduando no curso de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Higienópolis.
254
também, a discussão a respeito dos efeitos provenientes de tais decisões,
confrontando as possíveis causas e motivações e suas diferentes vertentes e
entendimentos.
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
255
contrapesos através do controle de constitucionalidade e outras funções, bem
como na concretização dos direitos e garantias fundamentais, sendo essencial
para o Estado Democrático de Direito.
Recentemente o Supremo Tribunal Federal ganhou maior notoriedade em
relação às suas atividades jurisdicionais em casos polêmicos, que foram
amplamente divulgados pela mídia, exigindo, portanto, que seus membros
assumissem um posicionamento concreto quanto a matéria discutida. Essa
notoriedade adveio, principalmente, pela atuação da Suprema Corte no
processo do Mensalão, escândalo de corrupção que ocorreu entre 2005 e 2006,
até então, a Suprema Corte não era tão conhecida das massas. Diante dessa
notabilidade, as decisões prolatadas pelo STF passaram a ser acompanhadas por
todos, sendo analisadas criticamente por juristas e doutrinadores.
Nota-se que com o ganho dessa popularidade a responsabilidade do órgão
julgador ao emitir suas decisões aumentou e, na ânsia de assegurar a efetividade
dos direitos e garantias fundamentais e acompanhar a evolução social, o STF,
muitas vezes, assumiu uma posição ativista e extrapolou os limites de sua
competência invadindo função própria do Poder Legislativo.
O Ativismo Judicial é um tema amplo e multidimensional, e está diretamente
atrelado ao princípio da separação dos poderes, que é de suma importância
dentro do nosso sistema político, já que tal separação é um dos pressupostos
para a manutenção da democracia. Por outro lado, o Ativismo Judicial não é
necessariamente uma prática ilegítima, ele pode ser conceituado como o
exercício expansivo de poderes político-normativos por parte de juízes e cortes,
frente a inércia dos Poderes Executivo e Legislativo na edição e execução das
políticas públicas e a consequente garantia dos direitos fundamentais.
Levando em consideração a citada visibilidade e popularidade adquiridas pela
Suprema Corte, e sendo o Supremo Tribunal Federal, a Corte maior de nosso
país, guardião da Constituição, garantidor dos direitos fundamentais em última
instância, deve agir com cautela e muita parcimônia em suas decisões, uma vez
que elas têm repercussão em toda sociedade, cuidando para que decisões
ativistas, não se proliferem e se tornem regra em nosso sistema político, já que
constituem um risco ao Estado Democrático de Direito e uma afronta ao
Princípio da Separação de Poderes.
As Supremas Cortes não podem se furtar da responsabilidade de dirimir os
conflitos jurisprudências que são a eles levados, devendo consolidar
entendimentos acerca de tais matérias, fazendo com que a aplicação normativa
seja una em todo o território nacional, preenchendo as lacunas existentes entre
as leis federais e a própria Constituição Federal, criando assim jurisprudência
que será utilizada posteriormente por outras instâncias de jurisdição.
Desta forma, ressalta-se que toda e qualquer decisão que venha a ser proferida,
principalmente no âmbito dos direitos civis, traz consigo um reflexo importante
nos aspectos basilares da economia pátria.
256
Pode-se citar como exemplo, as implicações econômicas provenientes das
decisões judiciais relativas às questões imobiliárias. Recorrentemente são
levadas às Cortes conflitos relativos à rescisão contratual de contratos de
promessas de compra e venda de imóveis adquiridos na planta. É de pacífico
entendimento que, nas rescisões contratuais a que deu causa o promitente
comprador, seja por qual motivo for, a construtora pode reter o pagamento de
10% do valor efetivamente pago até a data da rescisão, conforme Súmula 543
do STJ176. Ainda segundo esta Súmula, caso a resolução contratual advenha de
atos do promitente vendedor, terá o promitente comprador que ser restituído
integralmente.
Este entendimento hegemônico, que privilegia o promitente vendedor em casos
de rescisão contratual a que não deu causa, legitimando a construtora a se furtar
de ressarcir integralmente o promitente comprador, gera, na micro economia -
no âmbito financeiro da parte mais frágil da relação estabelecida - um impacto
profundo, acarretando muitas vezes no prejuízo do sustento do indivíduo.
O tratamento desigual das partes em relação à responsabilidade da resilição
contratual não condiz com a desproporção econômica que há entre eles, sendo o
promitente comprador hipossuficiente em relação ao promitente vendedor, que
após finda a rescisão contratual, poderá por a venda a unidade objeto da
referida demanda e obter o seu lucro esperado.
As consequências de tais decisões podem não ser relevantes quando analisadas
de forma pontual, mas trazem um impacto significativo na economia de
determinada localidade quando observadas em conjunto.
A Súmula 263 do STJ177, que posteriormente veio a ser revogada, mas que em
seu período de vigência norteou as decisões do país inteiro em relação aos
contratos de arrendamento mercantil, o leasing. Nesta oportunidade a Súmula
supra considerou a descaracterização do contrato de leasing através da
cobrança antecipada do VRG, valor residual garantido, por parte das
arrendadoras, transformando-os em meros contratos de compra e venda a
prazo.
Isso por que o VRG serviria como manobra financeira utilizada pelas
arrendadoras para viabilizar esta modalidade contratual, vez que aplicando-se a
cobrança antecipada do valor residual, o risco de deficit financeiro ao final da
operação chegaria a zero, pois caso o arrendatário, ao final do leasing, optasse
por exercer a faculdade de devolução do bem arrendado, não haveria a
176
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula nº 543. Na hipótese de resolução de contrato de
promessa de compra e venda de imóvel submetido ao Código de Defesa do Consumidor, deve ocorrer a
imediata restituição das parcelas pagas pelo promitente comprador - integralmente, em caso de culpa
exclusiva do promitente vendedor/construtor, ou parcialmente, caso tenha sido o comprador quem deu
causa ao desfazimento. 543, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 26/08/2015, DJe 31/08/2015). In:
<http://www.stj.jus.br/SCON/sumanot/toc.jsp?livre=(sumula%20adj1%20%27543%27).sub.> Acessa-
do em: 26/04/2018.
177
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula nº263. A cobrança antecipada do valor residual
(VRG) descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil, transformando-o em compra e venda a
prestação.
257
possibilidade da arrendadora não reaver o investimento feito para aquisição do
bem em caso de não revendê-lo.
A vigência da Súmula 178 traria então prejuízos valorosos para as empresas que
se utilizavam do arrendamento mercantil, por não mais poderem garantir o
retorno financeiro esperado a partir da celebração dos contratos de leasing.
Contudo esta Súmula veio a ser revogada tempos depois, anulando seus efeitos
vinculantes, ao passo que a abolição da prática de cobrança antecipada do VRG
inviabilizaria às arrendadoras trabalhar com a modalidade de arrendamento
mercantil, pois não poderiam garantir o retorno financeiro, e também pela
escassez desta espécie de contrato no mercado, pela instabilidade jurídica e
monetária que esta trariam às empresas.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
178
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 08/05/2002, DJ 20/05/2002, p. 188). In:
< http://www.stj.jus.br/SCON/sumanot/toc.jsp> Acessado em: 21/04/2018.
258
SEÇÃO, julgado em 08/05/2002, DJ 20/05/2002, p. 188). In: <
http://www.stj.jus.br/SCON/sumanot/toc.jsp> Acessado em: 21/04/2018.
259
MÃE, ESPOSA, TRABALHADORA:
UMA ANÁLISE AO MÍNIMO EXISTENCIAL
SOCIOCULTURAL DA MULHER PERANTE SUA
MULTIFACE NAS RELAÇÕES SOCIAIS
PROBLEMA
HIPÓTESE
179
Graduanda em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
260
sociedade atual, que tem em si uma cultura de dominação masculina, acaba
por ser “natural” a mulher essa postura, que é cobrada desde a sua infância,
mesmo que de modo sutil, a partir de brinquedos ou brincadeiras dadas como
propriamente femininas, como brincar de “casinha”, com bonecas semelhan-
tes a recém-nascidos ou itens de cozinha, atividades que raramente os meni-
nos são incentivados, estes, ao contrário, costumam ganhar carros de
brinquedo, ou mesmos bonecos, mas que trazem consigo alguma história he-
roica e inspiradora. Assim, é possível perceber que desde o nascimento da
mulher, ela é inserida em um plano social deficiente, que prevalece o sexo
masculino em detrimento do feminino, e que tem como consequência deste,
ou vice e versa, um plano cultural, que acaba por se divergir em outras diver-
sas outras consequências que vão de encontro com as mulheres, seja em assé-
dios e violência recorrente, em cargos predominantemente baixos em
empresas ou salários menores.
MARCO TEÓRICO
A mulher, então, como já dito, é posta muitas vezes em uma função so-
mente doméstica ou maternal, mas, não é como se ela simplesmente aceita-se
isso. Como explica Rago (2004), ser mulher, até o final dos anos 1960, era ser
atrelada a maternidade e a esfera privada do lar, e comprometer-se apenas
com as atividades leves e delicadas, com pouco esforço mental e físico, porém,
na década de 1970, ocorreu no Brasil uma acelerada modernização socioeco-
nômica, levando milhares de mulheres ao mercado de trabalho, e assim, o
feminismo emergente começou a pressionar para uma redefinição do lugar na
mulher na sociedade. A partir daí, e desta pressão feminista, é claro que há
algumas melhoras no lugar da mulher, porém, ainda é presente a hegemonia
masculina nas relações e há diversos embates a serem resolvidos.
Sobre a dominação masculina nas relações sociais, é importante passar
por Bourdieu (2010) mesmo que de modo sucinto a uma abrangente obra
sobre o tema, quando este traz a questão relevante da feminilidade da mulher,
medida na arte de “se fazer pequena”. O autor explica que tal feminilidade
incumbe a deixar a mulher encerrada em uma espécie de cerco invisível, limi-
tando o território até mesmo aos movimentos de seu corpo, enquanto o ho-
mem deveria tomar maior lugar com seu corpo, principalmente nos lugares
públicos.
A divisão do âmbito privado e do âmbito público também é relevante ao
presente problema, pois esta divisão, que também marca os sexos, como já
explicado, incumbe em diversas consequências a mulher, que já nasce vista
como objeto, marcada por estigmas ligados diretamente ao seu corpo, a res-
tringindo, desde cedo a diversas atividades que deveriam ser básicas, a incen-
tivando, simples e somente, as atividades ligadas a esfera doméstica, ligada ao
lar. Assim, posteriormente, na vida adulta, chega a parecer natural, tanto aos
homens quanto as próprias mulheres, uma dicotomia, em que o sexo masculi-
261
no deve se concentrar e prevalecer no espaço público, não só no âmbito políti-
co, mas até mesmo no trabalho, sendo este talvez, o maior marco desta dico-
tomia. Quando há uma dissolução nestas fronteiras simbólicas construídas
entre público/doméstico, através dos movimentos feministas e da maior inci-
dência das mulheres no mercado de trabalho e no espaço público, vê-se logo
que não é reciproco, isto é, não há na mesma proporção uma incidência dos
homens no trabalho doméstico, ou no espaço em que este se concentra, como
mostra levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-
tica (2018): enquanto os homens gastam 10,5 horas por semana com tarefas
domesticas, as mulheres dispendem 18,1 horas semanais para tais tarefas.
Assim então, se coloca no presente texto o problema da dupla jornada
de trabalho que é posta a mulher, como expõe Kergoat (1996), ao tratar da
jornada de trabalho no âmbito privado como uma enorme massa de trabalho
realizada gratuitamente pelas mulheres, não reconhecida, feita para os outros
e não para si, e vista a elas como algo natural, que deveria ser feito em nome
do amor e dever fraternal. O problema se torna mais dramático quando, ainda,
além de a mulher ter de lidar com uma segunda jornada de trabalho, sendo
aqui no caso a que é travada no espaço público, esta também não é devida-
mente valorizada, pelo simples fato da mulher ser mulher, como mostra pes-
quisa também realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(2016) as mulheres recebem em média 76,5% do salário dos homens.
Percebe-se então, que além de ser “naturalmente” inacessível o espaço
público as mulheres, quando estas decidem tentar imergi-lo, encontram diver-
sos tipos de resistências, como as já citadas, no trabalho, e ainda, as culturais,
que podem ser vistas nos assédios, que também são marcantes, como aponta
estudo realizado pelo Instituto Maria da Penha (2017): a cada 1,5 segundo,
uma brasileira é vítima de assédio na rua. A mulher é assim, cada vez mais
segregada e posta somente no âmbito privado, o que a prejudica em sua apti-
dão geral, e faz questionar mínimo existencial sociocultural da mulher perante
estas multifaces que ela deve assumir. Como explica Arendt (1981), para o
indivíduo viver uma vida inteiramente privada significa, acima de tudo ser
destituído de coisas essenciais a vida verdadeiramente humana, isso por que,
o indivíduo se torna invisível, e assim, é como se ele não existisse, é privado de
realizar algo mais permanente que a própria vida e o que quer que ele faça
permanece sem importância aos outros.
METODOLOGIA
262
RESULTADOS ESPERADOS
REFERENCIAS
263
RESERVA DO POSSÍVEL NA EDUCAÇÃO:
A FALTA DE CRECHES E VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA
180
Graduanda em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
264
pesquisa, busca-se relacionar essa deficiência de creches com a violência
doméstica como uma de suas sequelas.
A violência doméstica é um fator ainda presente na realidade de muitas
famílias no Brasil, resultado principalmente da estrutura patriarcal
historicamente implantada na sociedade brasileira181. Todavia, a pesquisa aqui
apresentada através do resumo expandido teria como objetivo relacionar as
origens dessa violência com a educação, ou melhor, sua escassez no ensino
infantil e como o princípio da reserva do possível se faz presente nessa situação.
A pesquisa em si seria desenvolvida a partir da ideia de que: uma vez não
havendo creches no municípios (frequentemente por alegação do princípio da
reserva do possível), muitas crianças seriam obrigadas a ficar em casa, o que
implicaria na necessidade de ter alguém para cuidar dessas crianças,
geralmente mulheres. A consequência disso seria a dificuldade dessas mulheres
de encontrar emprego e, dessa forma, se empoderarem financeiramente –
grande passo para o empoderamento feminino como um todo -, se tornando
mais propensas a serem vítimas desse tipo de violência, assim como seus filhos
(mesmo que de maneira indireta). Para se comprovar tal pressuposto inicial
apresentado, há a necessidade de se desenvolverem algumas hipóteses, bem
como estabelecer um marco teórico e metodologia, que serão explicados
adiante.
HIPÓTESES
MARCO TEÓRICO
181
GUIMARÃES, Maisa Campos; PEDROZA, Regina Lucia Sucupira. Violência contra a mulher:
problematizando definições teóricas, filosóficas e jurídicas. Abc, Brasília, v. , n. , p.1-2, 2015. Disponí-
vel em: <http://www.scielo.br/pdf/psoc/v27n2/1807-0310-psoc-27-02-00256.pdf>. Acesso em: 30 abr.
2018.
265
considerada grande marco pois visa criar mecanismos para a prevenção e
repressão dessa violência, além de diretrizes para o atendimento, por exemplo.
Já no âmbito da educação, será feita análise através das perspectivas da
educação infantil abordadas por Lenira Haddad e sua principal obra “Creche em
busca de identidade: perspectivas e conflitos na construção de um projeto
educativo”182. Lenira Haddad é especialista em educação infantil, participando
de diversos projetos de políticas integradas de cuidado e representação infantil
e pesquisa com crianças. Além disso, possui Pós-doutorado em Psicologia Social
no Laboratório de Psicologia Social da Universidade Aix-Marseille, França
(2011), Doutorado em
Educação pela Faculdade de Educação da USP (1997), Mestrado em
Psicologia Escolar pelo Instituto de Psicologia da USP (1989), tendo se tornado
autoridade no assunto da educação infantil e líder do grupo de pesquisa
“Educação Infantil e Desenvolvimento Humano”. Dessa forma, a análise dos
conteúdos desenvolvidos pela especialista, seria de extrema importância para o
desenvolvimento da pesquisa.
METODOLOGIA
RESULTADOS ESPERADOS
182
HADDAD, Lenira. A creche em busca de identidade: perspectivas e conflitos na construção de um
projeto educativo. 2. ed. São Paulo: Loyola, 1993. 246 p.
183
CURY, Carlos Roberto Jamil; FERREIRA, Luiz Antonio Miguel. A judicialização da educação. Cej,
Brasília, n. 45, p.32-45, jun. 2009.
266
estabelecerem parâmetros de mudança da realidade brasileira nesses quesitos
para um futuro não tão distante.
Dessa forma, após a realização da pesquisa conforme objetivos e
metodologias anteriormente mencionados, os resultados esperados devem
implicar na confirmação de que a educação básica, em especial a infantil, tem
relação direta com a violência doméstica. Assim, uma vez estabelecida a relação
entre as duas situações, seria possível a implantação de políticas públicas mais
efetivas que tratassem de ambos ao mesmo tempo, com o objetivo tanto de
efetivação dos direitos sociais positivados como da prevenção de situações
indesejáveis como consequência disso.
REFERÊNCIAS
Creches atendem apenas 25% das crianças até 4 anos, aponta IBGE. Rio de Janeiro,
29 mar. 2017. Disponível em: <http://www.valor.com.br/brasil/4919102/creches-
atendemapenas-25-das-criancas-ate-4-anos-aponta-ibge>. Acesso em: 30 abr. 2018.
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 33. Rio de Janeiro Atlas 2017.
267
CONCEITUAÇÃO DO ATIVISMO JUDICIAL:
PRINCÍPIO DA RESERVA DO POSSÍVEL E
MÍNIMO EXISTENCIAL FRENTE A
EFETIVAÇÃO DAS GARANTIAS
CONSTITUCIONAIS
PROBLEMA
HIPÓTESES
MARCO TEÓRICO
184
Graduando no curso de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Higienópolis.
185
Graduando no curso de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Higienópolis.
268
provenientes de tais decisões, confrontando as possíveis causas e motivações e
suas diferentes vertentes e entendimentos.
O trabalho abordará a problemática proveniente de tal fenômeno,
apresentando uma discussão acerca do embate entre a reserva do possível e o
mínimo existencial, relacionando ambas a ineficiência do Estado diante da
implementação e execução das políticas públicas.
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
186
CAMBI, Eduardo. Função Social do Processo Civil. Tutela Jurisdicional Coletiva. Coordenadores
Fredie Didier Jr. e José Henrique Mouta, editora JusPodivm, Salvador, 2009.
269
nestas políticas públicas através da implementação normativa de determinadas
ações de cunho social.
Ao Poder Judiciário cabe averiguar a compatibilidade das medidas
tomadas pelo Poder Executivo e Legislativo, em consonância com a Constituição
Federal. Não se inclui na atividade judicial a determinação e a implementação de
políticas públicas. Permitir tal ingerência de um poder contra majoritário fere o
princípio da separação dos poderes previsto no art. 2º da Constituição Federal.
Por outro lado, há quem defenda que o ativismo judicial afasta o juiz do
posicionamento de escravo do texto literal da lei, conferindo uma característica
positiva a esse fenômeno, desde que esse poder não exacerbe o poder
discricionário que é conferido ao magistrado, o que feriria diretamente o artigo
2º da Constituição Federal.187
Desta feita, esbarramos então em uma problemática que confronta a
atuação dos três poderes no que se refere à efetivação dos direitos sociais,
constitucionalmente assegurados aos cidadãos, ao passo que temos limites
orçamentários a serem obedecidos pelo Poder Público e, em contrapartida,
temos estas necessidades prementes da população.
Esse equilíbrio entre as verbas públicas e as políticas públicas é a base
teórica do princípio da reserva do possível, que preceitua que o reconhecimento
dos direitos sociais depende da disponibilidade dos respectivos recursos
públicos necessários para satisfação das prestações materiais que constituem
seu objeto.
Tais ideias casam com a Teoria dos Custos dos Direitos, elaborada por
Holmes e Sunstein188, para esses autores, direitos são serviços públicos que os
governos prestam em troca de tributo. Assim, caso não haja recursos, o Estado
será incapaz de proteger direitos, tornando impossível a efetivação de direitos
fundamentais. Todo direito possui um custo, sem disponibilidade orçamentária
não há direitos. A Fazenda Pública sempre levanta tais argumentos nas
discussões a respeito deste tema.
Portanto, temos que os direitos sociais devem ser observados e
conferidos à população através de políticas públicas, na mesma medida em que
os recursos para tanto são arrecadados pelo Poder Público. Contudo, a questão
orçamentária não pode ser, de forma alguma, óbice para a efetivação dos
direitos sociais. Isso por que há, segundo entendimento majoritário do Supremo
Tribunal Federal, a imposição da concessão mínima necessária para a não
violação do princípio da dignidade de pessoa humana e dos direitos
fundamentais. Trata-se do princípio do mínimo existencial, que deve ser
187
DELGADO, José Augusto. Ativismo Judicial. O papel político do poder judiciário na sociedade
contemporânea, in Processo Civil Novas Tendências: estudos em homenagem ao Professor Humberto
Theodoro Júnior. Belo Horizonte, Del Rey, 2008.
188
HOLMES, Stephen e SUNSTEIN, Cass, “The Cost of Rights - Why Liberty Depends on Taxes”,
New York and London: W. M. Norton, 1999.
270
aplicado, pelo Estado, aos cidadãos, de modo que as condições essenciais para a
vida digna sejam atendidas.
O STF entende que, quando há a violação do princípio do mínimo
existencial, por parte do Poder Executivo, é possível que as tutelas de tais
preceitos fundamentais de existência sejam oriundas do Poder Judiciário, pela
via do ativismo judicial, que se estabiliza através das decisões proferidas.
É a ilustração fiel do que aqui se debate a decisão prolatada nos autos do
Recurso Extraordinário n° 607582/RS, de Relatoria da então Ministra Ellen
Gracie, em 13 de agosto de 2010. Na ocasião o recorrente sustentou que não
seria possível o bloqueio das contas públicas para o custeio de medicamentos à
população, e que tal medida causaria um desequilíbrio orçamentário para o
estado do Rio Grande do Sul. Foi negado provimento ao Recurso Extraordinário
em questão, aplicando-se o entendimento pacificado na Suprema Corte, no
sentido de ser possível o bloqueio judicial de verbas públicas para que se
efetivem os direitos dos cidadãos de receber os medicamentos.
Podemos depreender então que o direito fundamental à saúde e à vida é
preponderante em relação aos limites econômicos estabelecidos pelos Estados,
e que as tutelas essenciais à existência humana podem ser provenientes do
Poder Judiciário, quando há a inobservância destes por parte dos demais
Poderes.
Portanto, é de suma relevância a atuação do Poder Judiciário no âmbito
dos direitos sociais, de forma suplementar, para a efetivação das garantias
constitucionais dos direitos à saúde, à vida, à educação, ao trabalho e à moradia,
sempre pautados nos princípios do mínimo existencial, e muitas vezes indo
além do princípio da reserva do possível.
CONCLUSÃO
271
questões relativas aos direitos fundamentais, ou seja, da reserva do mínimo. Isto
porque, diante da falta de empenho do Poder Executivo em sanar essas
questões, recai sobre o Poder Judiciário a responsabilidade de garantir, através
de decisões judiciais, aquilo que a Constituição Federal considera como
fundamento: a dignidade da pessoa humana.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
272
DIREITO À MORADIA E O CONTROLE
JUDICIAL DE GARANTIAS FUNDAMENTAIS:
CONTROVÉRSIAS CONSTITUCIONAIS
RESUMO
189
Acadêmica do curso de Direito bacharelado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS/
CPTL).
273
Entendido como a posse de um lugar que ampare e resguarde a intimidade,
com condições para que se desenvolvam práticas substanciais da vida e dado
caráter elementar, é instrumento de conjunção de acesso aos demais direitos.
Como preleciona Flavia Piovesan, não se pode pensar em direitos fundamen-
tais sem que, antes, os direitos sociais sejam respeitados.
Verifica-se, na esteira do cumprimento do direito social supramencio-
nado, oportuna discussão se institucionaliza na doutrina e nos tribunais brasi-
leiros. A dualidade dos debates consiste em, por um lado, a efetivação desse
direito que é imprescindível para manutenção da integridade e da vida huma-
na deve ser observado de forma obrigatória e imediata, ou, se por outro lado,
tocante a seara econômica, cabe a Administração Pública analisar e arbitrar
sobre os custos relativos para execução e cumprimento de tais direitos.
Nesta segunda possibilidade, o ente público poderá se valer da chama-
da reserva do possível para eximir-se de sua obrigação prestacional. Pondera-
se que um dos papéis fundamentais do Estado é buscar o cumprimento dos
direitos consagrados pelo legislação, independentemente da natureza admi-
nistrativa, se ortodoxa ou heterodoxa e de sua política econômica. A Constitui-
ção Federal de 1988, em seus Títulos VI (Da tributação e do orçamento), VII
(da Ordem Econômica e Financeira) e VIII (Da Ordem Social), preconiza o
afastamento do caráter programático das normas sociais, uma vez que existe
respaldo formal sobre as atribuição de direitos e competências instituídos no
próprio texto constitucional.
O Direito à Moradia encontra amparo na teoria do mínimo existencial,
que institucionaliza uma malha de proteção aos direitos fundamentais e soci-
ais. A noção de mínimo existencial é intrinsicamente correlacionada à concep-
ção de dignidade da pessoa humana.
A reserva do possível é um instituto originário da experiência da corte
constitucional alemã, datado nos anos 1970, e versou sobre a pretensão dos
estudantes em aumentar da quantidade de vagas ofertadas nas universidades
públicas daquele país.
Conforme o entendimento de Luís Fernando Sgarbossa, a reserva do
possível pode ser compreendida como uma limitação fática e jurídica oponí-
vel, ainda que de forma relativa, à realização de direitos fundamentais, sobre-
tudo os de cunho prestacional.
No Brasil, a tese em questão foi incorporada na celeuma jurídica pá-
tria com o adicional do fator financeiro, na experiência original não percebi-
do, sendo, aqui, comumente invocado pela Administração Pública, em
diversos níveis políticos, o instituto de reserva do possível, apoiada na falta
de recursos disponíveis para a não realização das obrigações prestacionais.
A natureza jurídica da reserva do possível ainda é incerta, não há con-
senso doutrinário ou jurisprudencial sobre, e pode ser visualizada ora como
princípio, ora como cláusula e, pode vezes, por condição de realidade.
Nessa toada, quando, o Estado não atende uma determinada demanda,
274
o Poder Judiciário é provocado e, se utiliza de remédios próprios buscando
que a Administração pública cumpra determinada ordem. Entende-se neces-
sário remediar -dialogicamente-essas remissões políticas, sendo o poder judi-
ciário o catalisador deliberativo na promoção de diálogo institucional.
Essas políticas públicas voltadas à habitação, que, à priori, devem ser
realizadas pelo Poder Executivo, mediante programas de governo, quando
omissas, encontram no poder Judiciário a possibilidade de concretização des-
ses direitos
A ADPF nº 45 confere legitimidade constitucional do controle e da in-
tervenção do poder judiciário em tema de implementação de políticas públi-
cas, quando configurada hipótese de abusividade governamental; dimensão
política da jurisdição constitucional atribuída ao supremo tribunal federal e
oponibilidade do arbítrio estatal à efetivação dos direitos sociais, econômicos
e culturais. Por consequência, o Direito à Moradia se insere nesse rol.
No entanto, ao refletir se a atuação do Poder Judiciário viabiliza ins-
trumentos adequados para concretização de direitos fundamentais e sociais,
através de remédios estruturais, verifica-se situação controversa para o Esta-
do Democrático de Direito, haja vista que o poder judiciário muitas vezes é o
protagonista do processo político parlamentar em nítido processo de Judicia-
lização da política.
Na observação prática da questão do Direito à Moradia, o Supremo Tri-
bunal Federal vem, em suas decisões, afastando a recepção da reserva do pos-
sível como um argumento válido.
Conclui-se que a limitação da reserva do possível é consequência das
opções políticas realizadas pelos poderes públicos. O que impede a efetividade
do direito à moradia não é a exaustão da capacidade orçamentária e recursos
econômicos, mas a opção política de não se destinar verbas a determinado
direito social.
Verifica-se, ainda que apesar de toda conjuntura que obrigada, conduz e
oferece parâmetros pela implementação de políticas habitacionais, o Brasil
registrou em 2015, segundo os Dados estatísticos sobre o Déficit Habitacional
Brasileiro realizados pela Fundação João Pinheiro em parceria com o Ministé-
rio das Cidades, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) um déficit habitacional de
6.186.503 em total absoluto de moradias.
Assim, verifica-se o insucesso da prática da ADPF nº 45 sobre imple-
mentação de políticas públicas para os direitos sociais, refletindo, na prática,
notável ineficácia jurídica e inaplicabilidade da decisão ao contexto fático no
que diz respeito ao Direito à Moradia, haja vista inércia e remissão do poder
público na consecução de tal direito.
O Brasil ratificou acordos internacionais sobre o Estado de Direito e,
por isso, tem compromissos e obrigações de preservá-lo. Em um país de estru-
turas emergentes, não é benéfico pensar em um Poder Judiciário como dina-
275
mizador das mazelas sociais, sob o risco de possível vício dos demais poderes
e perpetuação da inércia no processo de controle das garantias fundamentais.
No desenvolvimento desse trabalho, utilizou-se quanto a abordagem a
pesquisa qualitativa, de natureza exploratória com procedimento bibliográfico
na legislação constitucional pátria Declaração Universal dos Direitos Huma-
nos; Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos; Pacto Internacional de
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
REFERÊNCIAS
276
A CANETA NAS MÃOS DOS INVISÍVEIS:
O RECONHECIMENTO DA CAPACIDADE PLENA
COMO GARANTIA DO MINÍMO EXISTENCIAL À
PESSOA COM DEFICIÊNCIA
INTRODUÇÃO
PROBLEMA DE PESQUISA
HIPÓTESE
190
Graduanda em direito na Universidade Presbiteriana.
191
FERRAZ, Carolina Valença. LEITE, Glauber Salomão. A presunção de capacidade civil da pessoa
com deficiência na lei brasileira de inclusão. 2016.
192
MENEZES, Joyceane Bezerra de. O direito protetivo no Brasil após a convenção sobre a proteção da
pessoa com deficiência: impactos do novo CPC e do estatuto da pessoa com deficiência. Civilisti-
ca.com. Rio de Janeiro, a. 4, n. 1, jan.-jun./2015.
193
Ver nota 1.
277
a dignidade da pessoa com deficiência seja respeitada, consequentemente,
garantindo a portadores de deficiência um aspecto do mínimo existencial.194
MARCO TEÓRICO
194
GUERRA, Sidney. EMERIQUE, Lilian Márcia Balmant. O princípio da dignidade da pessoa huma-
na e o mínimo existencial. Revista da Faculdade de Direito de Campos, Ano VII, Nº 9 - Dezembro de
2006; p.479-397.
195
Cartilha do Censo 2010 – Pessoas com Deficiência / Luiza Maria Borges Oliveira / Secretaria de
Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) / Secretaria Nacional de Promoção dos
Direitos da Pessoa com Deficiência (SNPD) / Coordenação-Geral do Sistema de Informações sobre a
Pessoa com Deficiência; Brasília : SDH-PR/SNPD, 2012.
196
Ver nota 5.
197
ALVES, Rainer Grigolo de Oliveira; ÁVILA, Ana Paula de Oliveira; BRUST-RENCK, Priscila
Goergen. Os direitos humanos e o direito civil: diretivas da convenção da ONU sobre os direitos das
pessoas com deficiência para um regime incluso da capacidade civil. Revista da Ajuris. V.43, n.141,
2016.
198
Ver nota 2.
278
paz é representado em todos os seus atos civis; e a relativa; em que o incapaz
é assistido em alguns atos civis.
A partir da convenção e do estatuto, a pessoa com deficiência não só é
vista como titular tanto de sua capacidade de direitos, mas também a sua ca-
pacidade de exercício. Caso a pessoa com deficiência tenha alguma dificuldade
em exercer a sua capacidade de exercício, esta não terá a sua vontade substi-
tuída por um terceiro, mas terá um apoio deste terceiro para a sua tomada de
decisão199.
Pode-se dizer que se tem uma relação intrínseca entre a dignidade da
pessoa humana e a capacidade plena da pessoa com deficiência, pois a digni-
dade da pessoa humana é conceituada como a autonomia pessoal 200, e a mu-
dança legislativa dos artigos 3° e 4° do Código Civil 201 ao garantir a capacidade
de exercício a portadores de deficiência, garantiram a estes a dignidade da
pessoa humana, a propriedade que justifica a proteção de direitos fundamen-
tais, o mínimo existencial.202
É importante salientar que o mínimo existencial, não tem como base a
garantia de um mínimo vital, mas de uma melhor qualidade de vida 203. Joyce-
anne Bezerra de Menezes, ao discutir os impactos do Estatuto nos atos das
pessoas com deficiência, explicita esta garantia de qualidade de vida e mínimo
existencial, pelo Estatuto supracitado objetivar, por exemplo, a constituição e
proteção da família, bem como, a inclusão na comunidade. 204
Portanto, o estatuto da pessoa com deficiência em seu cerne, promove o
reconhecimento da dignidade da pessoa humana e o reconhecimento da ga-
rantia do mínimo existencial à portadores de deficiência diretamente, pelo
reconhecimento de sua capacidade e autonomia e indiretamente com o reco-
nhecimento dos seus demais direitos fundamentais como saúde, inclusão so-
cial e educação.
MÉTODO
199
MENEZES, Joyceane Bezerra de. TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado. Desvendando o conteúdo da
capacidade civil a partir do Estatuto da Pessoa com Deficiência. Revista Pensar, Fortaleza, v. 21, n. 2, p.
568-599, maio/ago. 2016.
200
FRIAS, Lincoln. LOPES, Nairo. Considerações sobre o conceito de dignidade humana. Revista
Direito GV, São Paulo, 11 (2). P.649-670. Jul-dez 2015.
201
BRASIL. Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui Código Civil.
202
Ver nota 4.
203
FILHO, Salomão Ismail. Mínimo existencial: um conceito dinâmico em prol da dignidade humana.
Conjur.
204
BRASIL. Lei n° 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
279
contrada uma verdade. A biografia documental foi o procedimento de pesqui-
sa adotado para este trabalho, que, possuiu como fonte de conhecimento e
pesquisa a leitura de artigos e leis. Portanto, o método utilizado neste trabalho
foi o indutivo, e o procedimento adotado foi a pesquisa biográfica documental.
Primeiramente, foi feita uma breve análise histórica, analisando quan-
do, como e de que maneira o direito da pessoa com deficiência o direito da
pessoa com deficiência veio a ser incluso ao rol de direito da humanidade.
Após, para a elaboração do texto, foi efetuada uma pesquisa para que fosse
possível a conceituação tanto do termo “mínimo existencial” e a análise da
teoria das incapacidades e suas mudanças no âmbito legislativo brasileiro. A
correlação entre os dois temas, foi analisada e buscada neste período da pes-
quisa.
Por fim, após uma leitura extensa sobre o tema, foi redigido este resu-
mo expandido, uma síntese de tudo aquilo que foi pesquisado a respeito da
convergência do mínimo existencial e o reconhecimento da capacidade à pes-
soa com deficiência. Para o aprimoramento desta pesquisa o necessário seria
uma maior análise da teoria das incapacidades, bem como, o aprofundamento
da relação entre o mínimo existencial e a mudança legislativa, como também,
o estudo das repercussões no direito, como as mudanças em relação a curatela
e a interdição.
CONCLUSÃO
205
ALVES, Rainer Grigolo de Oliveira. ÁVILA, Ana Paula de Oliveira. BRUST-RENCK, Priscila
Goergen. Os direitos humanos e o direito civil: diretivas da convenção da ONU sobre os direitos das
pessoas com deficiência para um regime incluso da capacidade civil. Revista da Ajuris. V.43, n.141,
2016.
206
Ver nota 1.
280
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Rainer Grigolo de Oliveira. ÁVILA, Ana Paula de Oliveira. BRUST-RENCK, Prisci-
la Goergen. Os direitos humanos e o direito civil: diretivas da convenção da ONU sobre
os direitos das pessoas com deficiência para um regime incluso da capacidade civil.
Revista da Ajuris. V.43, n.141, 2016.
MENEZES, Joyceane Bezerra de. O direito protetivo no Brasil após a convenção sobre a
proteção da pessoa com deficiência: impactos do novo CPC e do estatuto da pessoa com
deficiência. Civilistica.com. Rio de Janeiro, a. 4, n. 1, jan.-jun./2015. Disponível em:
http://www.civel.mppr.mp.br/arquivos/File/Artigo_Joyceane_Bezerra_de_Menezes.pd
f. Acesso em 30/04/18.
281
“CIDADÃO-CLIENTE”:
CONCEITOS QUE NÃO DEVERIAM
SE APROXIMAR
PROBLEMA
HIPÓTESE
207
Mestre em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2015/2017),
Especialização em Direito Público pela Escola Superior do Ministério Público do Estado de São Paulo
(2012/2015) e Bacharel em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2007/2011). É membro
do Grupo de Pesquisa Estado e Economia no Brasil ligado ao Programa de Pós-Graduação em Direito
Político e Econômico. Advogada em São Paulo.
208
Mestre (2017) em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Aluna
Erasmus pela Universidade do Minho em Direito Comunitário, Negociação Internacional e Instituições
e Políticas da União Europeia. Membro do Conselho Consultivo da Academia Brasileira de Direito
Tributário. Membro do Instituto Ibero Americano de Estudos Jurídicos. Pesquisadora do Grupo de
Pesquisa: O monitoramento dos recursos mínimos constitucionais para a educação à luz da EC 95/16.
282
Em síntese cidadão e cliente são conceitos que não deveriam absoluta-
mente ser equiparados, isso porque cidadania é participação, é ser sujeito, é
muito mais do que ser dotado de algum direito porque se pagou por isso, co-
mo geralmente acontece no setor privado. Em um Estado que se propõe a ser
democrático, o cidadão deve ser tratado como aquele que possui voz, atitude,
poder e raciocínio capazes de permitirem o debate das estratégias de preen-
chimento das necessidades coletivas e os rumos do desenvolvimento do país.
Já o cliente é aquele sujeito sem voz, sem poder de argumentação, a
quem o mercado impõe determinado produto ou serviço pronto e acabado,
sem que ele tenha participado do processo de construção daquilo que lhe é
destinado. A noção de cliente é algo associado às relações da esfera privada,
isto é, aquelas relações nas quais se associa o fato de alguém pagar e, por isso,
ter direito a uma contraprestação, em serviços e produtos. Na prática, o mer-
cado acaba tendo estratégias lucrativas que objetivam incutir falsas necessi-
dades no público-alvo consumidor de seus produtos ou serviços.
MARCO TEÓRICO
Irene Patrícia Nohara nos aponta que os objetivos do Estado são essen-
cialmente diversos dos objetivos de uma empresa do setor privado, que visa,
primordialmente, o lucro.
O Estado tem diversos objetivos, logo, fica inviável utilizar-se de uma
concepção privada de eficiência, que normalmente se foca no lucro e na satis-
fação do cliente, para que este continue a consumir os produtos e serviços.
Num Estado Democrático, por outro lado, o cidadão não pode ser visto tão
somente da perspectiva de destinatário da prestação dos serviços, mas ele
deve ser tido como protagonista da transformação social, daí a problemática
da superficialidade do discurso do “cidadão-cliente” (NOHARA, 2013b, p. 39).
Uma das tarefas postas ao Estado com essas diretrizes foi a busca pela
satisfação dos “cidadãos-clientes”, o que de antemão já denota a falha estrutu-
ral do sistema, isso porque do ponto de vista crítico não se pode deixar de
considerar que nem sempre o foco principal dos programas de qualidade da
iniciativa privada é efetivamente a qualidade do produto. “Não se pode deixar
de considerar que existe um planejamento da produção de mercadorias que
são criadas para durarem pouco, isto é, para terem uma obsolescência prema-
tura, o que seria algo paradoxal com o escopo de qualidade” (NOHARA, 2014,
p. 181).
Pondera-se, sob essa ótica, a diferença de sentido e objetivos existente
entre as políticas públicas e as políticas de mercado praticadas pela iniciativa
privada, consistentes na sedução e na aplicação de técnicas de estímulo ao
consumo. A prestação do serviço público, por sua vez, deverá se pautar no
atendimento das necessidades do cidadão, com eficiência.
283
Irene Nohara nos aponta que as políticas públicas que se orientam à sa-
tisfação das necessidades sociais são mais complexas, pois envolvem metas e
programas que são cumpridos por meio de serviços públicos. O Poder Público,
quando presta serviços públicos, deve buscar o efetivo preenchimento das
necessidades dos cidadãos, não sendo nem viável que estimule, a partir de um
discurso de sedução, tal qual a iniciativa privada, a criação de “novas” necessi-
dades, para fidelizar o potencial-cliente. Ainda, o excesso de padronização
decorrente da adoção das técnicas de uma produção com qualidade total tem
potencial de enveredar para um neotaylorismo provocador de desumanização
da Administração Pública. O Poder Público presta, em geral, serviços cuja afe-
rição de desempenho deve ser diferenciada daquela empregada em “linhas de
produção (NOHARA, 2014, p.181).
A noção de “cidadão-cliente” se apresenta, portanto, falaciosa tendo em
vista que ela permite uma equivocada percepção de que ele teria “sempre
razão”, já que, pagando pelo serviço, a ele é dado o direito de ser escutado. O
que não se percebe, na verdade é que a cidadania vai muito além disso: cida-
dão deve ser ouvido antes mesmo de usufruir de algo que se oferta, ou seja, ele
deveria estar envolvido na estruturação da estratégia de fornecimento e dis-
tribuição dos benefícios e oportunidades coletivas. Isso é ser emancipado,
tratado como sujeito com dignidade e não objeto das estratégias alheias
(NOHARA, 2013a).
O movimento por trás dessas ideias é que deve ser identificado e com-
batido, ou seja, essa compreensão de que o Estado é um incompetente e que a
maioria de suas atividades devem ser publicizadas ou privatizadas sob o dis-
curso da eficiência quando na verdade trata-se apenas de ajuste fiscal para o
enxugamento de gastos. Defender a qualquer custo a participação do setor
privado nas atividades entregues ao Estado por nossa Constituição Federal de
forma irrefletida e sem que o setor privado compreenda que as parcerias com
o setor público devem acontecer de maneira diversa da forma pela qual ele
toca seus próprios interesses é irresponsável, na medida em que dá ensejo ao
tolhimento de diversos direitos inerentes à condição de cidadãos.
Alguns sociólogos, inclusive, identificam esse movimento como algo
próprio da pós-modernidade, “no qual há o enfraquecimento dos metadiscur-
sos, isto é, da crença na possibilidade de construção de um projeto coletivo de
sociedade melhor, e sua substituição por um individualismo hedonista, volta-
do ao consumo”. (NOHARA, 2013a).
É evidente que esse cenário pode ser revertido com a reconstrução da
noção de espaço público, recriando a ideia de que indivíduos só são indivíduos
melhores, amparados e mais seguros se houver a legítima preocupação com a
coletividade. Entende-se, aqui, como evidência da preocupação com a coletivi-
dade a busca e a tutela de uma maior eficiência estatal, afinal é preciso perse-
guir os preceitos e objetivos constitucionais traçados.
284
Ora, por vezes, é necessário relembrar que a Constituição Federal de
1988 prevê um modelo de Estado Democrático de Direito, objetivando um
projeto de desenvolvimento do País orientado para a construção de uma soci-
edade livre, justa e solidária, a garantia do desenvolvimento nacional, a erra-
dicação da pobreza e da marginalização e redução das desigualdades sociais e
regionais e a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, não somente
daqueles que puderem pagar por isso.
Clara, portanto, a inadequação da aplicação da lógica do mercado, den-
tro da qual o serviço e a qualidade são assegurados ao cliente em virtude de
uma contraprestação de cunho monetário.
PLANO DE TRABALHO
METODOLOGIA
CONCLUSÃO PRELIMINAR
285
consolidação de empresas e constante exigência de resultados lucrativos à
Administração Pública.
Essa é a lógica utilizada na tentativa de aplicação do Modelo Gerencial
ao Setor Público e considerada uma das propostas que mais suscita debate no
New Public Management, ou seja, no debates de medidas possíveis para me-
lhoria da atuação do setor público.
A importação do modelo gerencial implica em determinar que o Estado
divisa suas atividades entre aquelas que fazem parte de seu núcleo estratégico
e as demais, que seriam de interesse público, mas passiveis de delegação.
Com tal divisão seria possível ao Estado, estabelecer e atuar com prio-
ridade dentro das atividades que lhe seriam estratégicas, reconhecendo a
impossibilidade fática de o Estado ser responsável pela tutela de todos os
interesses que lhes sejam atribuídos, com eficácia e igual tratamento, inde-
pendente do seguimento.
Esse raciocínio teórico traz reflexos práticos na ação concreta do Esta-
do, quais sejam, a publicização e a privatização dos serviços públicos. O que se
vê é a delegação por parte do Estado de muitas de suas atividades ao setor
privado que deverá fazê-lo segundo critérios e princípios regentes do direito
público.
É exatamente nesse limiar que se encontrará o presente trabalho, com
o enfoque no cidadão que receberá aquele serviço cuja prestação é uma obri-
gação do Estado, mas sua execução se dá por uma empresa privada, em razão
de alguma das modalidades de descentralização administrativa.
Nesse caso, é possível adotar-se o conceito de cidadão-cliente, aplican-
do-se a lógica de mercado a esse consumidor que é acima de tudo um cidadão,
titular de direitos?
Ora, inicialmente, tal colocação demonstra-se benéfica ao consumidor e
ao ganho de efetividade para o serviço público uma vez que o cidadão poderá
analisar com seus critérios de cliente a qualidade do serviço prestado e exigir,
como se consumidor fosse, a adequada prestação.
Ocorre que se atendo a análise sob a ótica dos elementos que estão
constituindo essa relação, desponta-se, facilmente, o desvirtuamento causado
pela lógica. Isso porque, ao cliente é dada a opção de exigir e analisar a quali-
dade do atendimento e do serviço prestado porque ele paga uma prestação
por isso, qual seja, o preço da mercadoria que ensejará e garantirá o lucro
daquela empresa privada.
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