Você está na página 1de 11

LEI ANTICORRUPÇÃO – INTRODUÇÃO

Esta lei é aplicada em âmbito nacional e seu objeto é a responsabilização OBJETIVA


de pessoas jurídicas de pessoa jurídicas – envolvidas em prática de atos contra a
Administração, nacional ou estrangeira. A responsabilização é CIVIL e ADMINISTRATIVA
pelos atos lesivos praticados em seu interesse ou benefício, exclusivo ou não. Não há, dessa
forma, perquirir sobre culpa in eligendo (em escolher o agente) ou in vigilando (em fiscalizar),
já que a responsabilidade é – repita-se – objetiva.

Obs.: ao final do processo administrativo de responsabilização, sanções poderão ser


aplicadas tanto na via administrativa como na esfera judicial.

A finalidade da lei consiste na tutela da Administração Pública, nacional e estrangeira.

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a responsabilização OBJETIVA


administrativa e civil (judicial) de PESSOAS JURÍDICAS pela prática
de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira.

Obs.: embora a responsabilidade da pessoa jurídica seja objetiva, três requisitos sempre se
provados, isto é, que houve um tipo de (i) conduta da pessoa jurídica, que houve um (ii) dano
e que houve também essa relação de (iii) nexo causal entre a conduta e o dano causado.

DOS SUJEITOS ATINGIDOS

Os sujeitos primeiramente atingidos são as pessoas jurídicas, mas alguns dispositivos


da lei anticorrupção faz referência à responsabilização de pessoas físicas (dirigentes e
administradores, por exemplo).

 Da amplitude em relação às pessoas jurídicas – a lei nessa parte apresentou


um conceito bastante abrangente, afirmando que, em tese, qualquer pessoa
jurídica, constituídas de fato ou de direito, ainda que temporariamente, com ou
sem fins lucrativos.
 Sociedades empresárias estrangeiras – também serão atingidas, desde que
tenham sede, filial ou com representação no Brasil.

Obs.: as fundações e associações (no Direito Civil) são pessoas jurídicas que não possuem
finalidade lucrativa, mas independentemente disso, se causarem dano à Administração
Pública, também poderão responder nos termos desta lei.

O fundamento de aplicação da norma é prática de “atos lesivos”, mas dois requisitos


devem estar presentes para que seja possível aplicação da lei anticorrupção:

 A ocorrência de um ato lesivo à Administração Pública (não necessariamente


um prejuízo financeiro);
 Que o ato tenha sido praticado em interesse ou em benefício da pessoa jurídica.
Segundo o que dispõe o art. 3º, a responsabilização da pessoa jurídica não exclui
a responsabilidade individual de seus dirigentes ou administradores ou de qualquer pessoa
natural (pessoa física), autora, coautora ou partícipe (participou de alguma forma) do ato ilícito.
Bem como a responsabilização da pessoa jurídica será feita independentemente da
responsabilização individual das pessoas naturais referidas no caput. Ao contrário da
responsabilização das pessoas jurídicas que é objetiva, os dirigentes ou administradores
somente serão responsabilizados por atos ilícitos na medida da sua culpabilidade, ou seja, a
responsabilidade é subjetiva.

O fato de alteração contratual, transformação, incorporação, fusão ou cisão societária


não faz cessar a responsabilidade da pessoa jurídica (art. 4º). Nas hipóteses de fusão e
incorporação, a responsabilidade da sucessora será restrita à obrigação de pagamento de
multa e reparação integral do dano causado, até o limite do patrimônio transferido.

Assim, no caso de fusão e incorporação, a sanção se limita ao pagamento de multa e


à reparação integral do dano apenas, não lhe sendo aplicáveis as demais sanções previstas
nesta Lei decorrentes de atos e fatos ocorridos antes da data da fusão ou incorporação,
exceto no caso de simulação ou evidente intuito de fraude, devidamente comprovados.

Da responsabilidade solidária de controladoras, controladas, coligadas e consorciadas

As sociedades controladoras, controladas, coligadas ou, no âmbito do respectivo


contrato, as consorciadas serão solidariamente responsáveis pela prática dos atos previstos
nesta Lei, contudo, assim como ocorre no caso de fusão e incorporação, a responsabilidade
se restringe à obrigação de pagamento de multa e reparação integral do dano causado.

1. CONDUTAS TIPÍCAS

DOS ATOS LESIVOS À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NACIONAL OU ESTRANGEIRA

Art. 5º. Constituem atos lesivos à administração pública, nacional ou


estrangeira, para os fins desta Lei, todos aqueles praticados pelas
pessoas jurídicas mencionadas no parágrafo único do art. 1º, que
atentem contra o patrimônio público nacional ou estrangeiro, contra
princípios da administração pública ou contra os compromissos
internacionais assumidos pelo Brasil, assim definidos:

I – Prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem


indevida a agente público, ou a terceira pessoa a ele relacionada;

II – Comprovadamente, financiar, custear, patrocinar ou de qualquer


modo subvencionar (prestar auxílio) a prática dos atos ilícitos previstos
nesta Lei;

III – comprovadamente, utilizar-se de interposta pessoa física ou jurídica


para ocultar ou dissimular seus reais interesses ou a identidade dos
beneficiários dos atos praticados;
IV – No tocante a licitações e contratos:

Obs.: Para o caso de as empresas praticarem atos lesivos durante a licitação, na hora de
contratar ou no curso da contratação.

a. frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro


expediente, o caráter competitivo de procedimento licitatório público

b. impedir, perturbar ou fraudar a realização de qualquer ato de


procedimento licitatório público;

c. afastar ou procurar afastar licitante, por meio de fraude ou


oferecimento de vantagem de qualquer tipo;

d. fraudar licitação pública ou contrato dela decorrente;

e. criar, de modo fraudulento ou irregular, pessoa jurídica para participar


de licitação pública ou celebrar contrato administrativo.

Aquela PJ está sofrendo a sanção (declaração de inidoneidade), com prazo


indeterminado sem poder contratar. Os sócios criam uma nova PJ para que esta possa
participar de licitações e contratos com o Estado e, em tese, ela pode participar, mas a lei diz
que, se fizer isso, é um ato lesivo, estando a nova PJ e a anterior sujeitas à responsabilização.

f. obter vantagem ou benefício indevido, de modo fraudulento, de


modificações ou prorrogações de contratos celebrados com a
administração pública, sem autorização em lei, no ato convocatório da
licitação pública ou nos respectivos instrumentos contratuais (conduta
ilícita na prorrogação contratual, tanto na alteração de um contrato,
quanto aditivos fraudulentos); ou

g. manipular ou fraudar o equilíbrio econômico-financeiro dos


contratos celebrados com a administração pública.

Obs.: Quando se faz o contrato inicial, existe um equilíbrio econômico-financeiro da relação.


Se, durante a execução contratual, esse equilíbrio for quebrado por um fato superveniente
(uma crise internacional de matéria-prima ou de petróleo, por exemplo), algo que aconteceu
e quebrou o equilíbrio financeiro do contrato, o contratado tem direito a uma revisão contratual,
mas, se o fato for fraudulento, a PJ está sujeita à responsabilização.

V – Dificultar atividade de investigação ou fiscalização de órgãos,


entidades ou agentes públicos, ou intervir em sua atuação, inclusive no
âmbito das agências reguladoras e dos órgãos de fiscalização do
sistema financeiro nacional.

As condutas típicas estão listadas no art. 5º da Lei. Segundo a maioria da doutrina, o


rol de fatos típicos é taxativo. A tipicidade exigida, contudo, é menos fechada que no direito
penal.

§ 1º Considera-se administração pública estrangeira os órgãos e


entidades estatais ou representações diplomáticas de país
estrangeiro, de qualquer nível ou esfera de governo, bem como as
pessoas jurídicas controladas, direta ou indiretamente, pelo poder
público de país estrangeiro.

§ 2º Para os efeitos desta Lei, equiparam-se à administração pública


estrangeira as organizações públicas internacionais.

§ 3º Considera-se agente público estrangeiro, para os fins desta Lei,


quem, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, exerça
cargo, emprego ou função pública em órgãos, entidades estatais ou em
representações diplomáticas de país estrangeiro, assim como em
pessoas jurídicas controladas, direta ou indiretamente, pelo poder
público de país estrangeiro ou em organizações públicas internacionais.

Resumindo, consideram-se “Administração Pública Estrangeira”:

 Órgãos e entidades estatais de outros países;


 Representações diplomáticas;
 Pessoas jurídicas controladas (direta ou indiretamente) por país estrangeiro; e
 Organizações públicas internacionais (ONU, OEA etc.).

PENALIDADES

As penalidades previstas na Lei n. 12.846/2013 podem ser classificadas em dois


grupos:

 Punições administrativas; e
 Punições decorrentes de ordem judicial.

Logicamente, as PUNIÇÕES JUDICIAIS TÊM NATUREZA MAIS GRAVASO, por isso


submetem-se à reserva de jurisdição. As esferas, ademais, são independentes entre si (art.
18).

As penalidades prescrevem em cinco anos, contados da data da ciência da


infração (regra geral) ou da data da cessação da permanência ou continuidade, no caso
de infração continuada ou permanente (art. 25).

Os prazos prescricionais são SUSPENSOS pela apresentação de proposta de acordo


de LENIÊNCIA.

Já a CELEBRAÇÃO efetiva do acordo INTERROMPE (ou seja, zera) esses prazos


(art. 16, § 9º, na redação da MP n. 703, de 18 de dezembro de 2015).

2. SANÇÕES ADMINISTRATIVAS (Multa e Publicação da Decisão)


Administrativamente, podem ser aplicadas as sanções de multa (de 0,1% até 20% do
faturamento BRUTO do último exercício anterior ao da instauração do procedimento,
excetuados apenas os tributos) e a obrigação de publicar a decisão administrativa
condenatória (art. 6º).

Na definição das sanções aplicáveis e de sua quantidade, serão levados em conta


os critérios de dosimetria previstos no art. 7º, dentre os quais destacam-se a consumação ou
não da infração; a situação econômica da pessoa jurídica infratora; a cooperação da
pessoa com as investigações; a gravidade da infração; e a existência ou não de
mecanismos e procedimentos internos de integridade (compliance).

Art. 6º Na esfera administrativa, serão aplicadas às pessoas jurídicas


consideradas responsáveis pelos atos lesivos previstos nesta Lei as
seguintes sanções:

I – Multa, no valor de 0,1% (um décimo por cento) a 20% (vinte por
cento) do faturamento bruto do último exercício anterior ao da
instauração do processo administrativo, excluídos os tributos, a qual
nunca será inferior à vantagem auferida, quando for possível sua
estimação; e

II – Publicação extraordinária da decisão condenatória.

§ 1º As sanções serão aplicadas fundamentadamente, isolada ou


cumulativamente, de acordo com as peculiaridades do caso concreto e
com a gravidade e natureza das infrações.

§ 2º A aplicação das sanções previstas neste artigo será precedida


da manifestação jurídica elaborada pela ADVOCACIA PÚBLICA ou
pelo ÓRGÃO DE ASSISTÊNCIA JURÍDICA, ou equivalente, do ente
público.

§ 3º A aplicação das sanções previstas neste artigo não exclui, em


qualquer hipótese, a obrigação da reparação integral do dano causado.

Hipótese de não ser possível definir o faturamento

§ 4º Na hipótese do inciso I do caput, caso não seja possível utilizar o


critério do valor do faturamento bruto da pessoa jurídica, a multa será
de R$ 6.000,00 (seis mil reais) a R$ 60.000.000,00 (sessenta milhões
de reais).

Da publicação extraordinária da decisão


§ 5º A publicação extraordinária da decisão condenatória ocorrerá na
forma de extrato de sentença, a expensas da pessoa jurídica, em
meios de comunicação de grande circulação na área da prática da
infração e de atuação da pessoa jurídica ou, na sua falta, em publicação
de circulação nacional, bem como por meio de afixação de edital, pelo
prazo mínimo de 30 (trinta) dias, no próprio estabelecimento ou no
local de exercício da atividade, de modo visível ao público, e no sítio
eletrônico na rede mundial de computadores.

Para memorizar!!!!

Art. 7º Serão levados em consideração na aplicação das sanções:

I – A gravidade da infração;

II – A vantagem auferida ou pretendida pelo infrator;

III – A consumação ou não da infração;

IV – O grau de lesão ou perigo de lesão;

V – O efeito negativo produzido pela infração;

VI – A situação econômica do infrator;

VII – A cooperação da pessoa jurídica para a apuração das infrações;

VIII – A existência de mecanismos e procedimentos internos de


integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e a
aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa
jurídica – COMPLIANCE;

IX – O valor dos contratos mantidos pela pessoa jurídica com o órgão


ou entidade pública lesados.

3. Sanções Judiciais

As sanções que podem ser aplicadas judicialmente (e que podem ser impostas de
forma cumulativa) são (art. 19):

 Perdimento de bens;
 Suspensão ou interdição parcial das atividades;
 Proibição de receber incentivos, subsídios, subvenções, doações ou empréstimos
de órgãos ou entidades públicas e de instituições financeiras públicas ou
controladas pelo Poder Público, pelo prazo de um a cinco anos; e
 Dissolução compulsória da pessoa jurídica.
Essa última pena – dissolução compulsória da pessoa jurídica – logicamente deve ser
reservada a situações gravíssimas, uma vez que equivale a uma verdadeira “pena de morte”
da pessoa. Justamente por isso, a Lei prevê sua aplicação apenas se ocorrer uma das
seguintes hipóteses:

 Ter sido a pessoa jurídica utilizada de forma habitual para facilitar ou promover a
prática de atos ilícitos; ou
 Ter sido constituída para ocultar ou dissimular interesses ilícitos ou a identidade
dos beneficiários dos atos praticados.

4. Procedimento de Responsabilização

4.1. Administrativo

Para a aplicação de sanções administrativas (art. 6º), procede-se por decisão da


autoridade máxima de cada órgão ou entidade, que pode agir de ofício ou por provocação.
Na esfera do Executivo Federal, essa responsabilidade cabe à CGU (Controladoria-Geral da
União).

O processo administrativo será conduzido por uma comissão formada por dois
servidores estáveis, no prazo total de 180 dias, sendo 30 dias para a defesa. Pode-se
proceder à desconsideração da personalidade jurídica, na forma do art. 14, quando então
serão “estendidos todos os efeitos das sanções aplicadas à pessoa jurídica aos seus
administradores e sócios com poderes de administração, observados o contraditório e a ampla
defesa”.

A redação do art. 15 da Lei prevê que as conclusões devem ser encaminhadas ao


Ministério Público. Ou seja, após todo o trâmite do processo administrativo as conclusões
devem ser encaminhadas ao Ministério Público a fim de apurar eventuais delitos.

4.2. Judicial

De acordo com os arts. 19 a 21 da Lei Anticorrupção, a aplicação das sanções pela


via judicial será feita por meio de ação própria, chamada “ação de responsabilização
judicial”.

A legitimidade para o ajuizamento da ação é do MP ou da Administração Direta


(mesmo que a entidade lesada pertença à Administração Indireta): União, estados, DF ou
municípios, por intermédio de suas advocacias públicas ou órgãos de representação judicial.

A ação segue o rito da ação civil pública (Lei n. 7.347/1985) – exceto, obviamente, em
relação à legitimidade ativa. Como a Lei silencia sobre outros aspectos processuais, a Lei de
Ação Civil Pública incidirá em relação à competência, efeitos da decisão, requisitos da inicial,
procedimento, recursos etc.

A Lei Anticorrupção ainda prevê a possibilidade de obtenção de medida cautelar de


indisponibilidade de bens.

5. Programa de Compliance

A partir da entrada em vigor da Lei n. 12.846/2013, as pessoas jurídicas passaram a


ser responsabilizadas objetivamente pelos atos corruptos de seus agentes ou representantes,
quando praticados no interesse da pessoa jurídica ou em benefício dela. Para excluir essa
responsabilidade, ou pelo menos para a atenuar, devem estabelecer “mecanismos e
procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e
a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica” (art. 7º,
VIII).

Trata-se dos chamados programas de compliance, compostos por um código de ética,


além de mecanismos, órgãos e procedimentos destinados a receber e apurar denúncias de
desvios éticos dentro da organização. Pela literalidade da Lei, a existência desse tipo de
programa atenua as penalidades administrativas.

A doutrina tem sustentado, porém, que a existência de um programa efetivo de


compliance tem o condão de excluir a própria responsabilidade da pessoa jurídica, por romper
o nexo de causalidade.

Para provas objetivas de concursos, recomendamos adotar a “letra” da Lei, embora


nos pareça razoável (e possível de ser adotada em provas discursivas) a tese da exclusão do
nexo de causalidade, caso exista um efetivo programa de compliance no âmbito da
organização.

6. Acordo de Leniência

Assim como ocorre no âmbito do direito econômico, especialmente na área de


antitruste, a Lei Anticorrupção previu a mitigação da responsabilidade administrativa da
pessoa jurídica que celebrar com o Poder Público acordo de leniência (art. 16).
Esquematicamente, sobre o acordo de leniência, temos:

 Quem celebra: a autoridade máxima de cada órgão ou entidade pública poderá


celebrar acordo de leniência com as pessoas jurídicas que colaborem efetivamente
com as investigações e o processo administrativo.

 Finalidades: identificar os demais envolvidos na infração (se cometida em concurso


de agentes) e obter de forma célere informações e documentos que comprovem o
ilícito sob apuração (uma espécie de colaboração com as investigações).
 Condições: a celebração do acordo de leniência exige o preenchimento cumulativo
das seguintes condições:
o A completa cessação de qualquer atividade ilícita, desde o momento da
propositura do acordo;
o A cooperação da entidade celebrante até o final do procedimento
apuratório;
o A pessoa jurídica admita sua participação no ilícito e coopere plena e
permanentemente com as investigações e o processo administrativo,
comparecendo, sob suas expensas, sempre que solicitada, a todos os atos
processuais, até seu encerramento.

 Efeitos do acordo aceito pela administração:


o Exclui a pena de publicar a decisão administrativa condenatória;
o Exclui a pena judicial de receber incentivos ou subsídios do Poder
Público; e
o Reduz em até 2/3 o valor da multa.

 Efeitos do acordo rejeitado: não importa admissão de culpa.

 Efeito do descumprimento do acordo já celebrado: impede a mesma pessoa


jurídica de celebrar novo acordo, pelo prazo de três anos, a contar do
descumprimento.

Art. 16. A autoridade máxima de cada órgão ou entidade pública poderá


celebrar acordo de leniência com as pessoas jurídicas responsáveis
pela prática dos atos previstos nesta Lei que colaborem efetivamente
com as investigações e o processo administrativo, sendo que dessa
colaboração resulte:

I – A identificação dos demais envolvidos na infração, quando


couber; e

II – A obtenção célere de informações e documentos que comprovem o


ilícito sob apuração.

§ 1º O acordo de que trata o caput somente poderá ser celebrado se


preenchidos, cumulativamente, os seguintes requisitos:

I – A pessoa jurídica seja a primeira a se manifestar sobre seu


interesse em cooperar para a apuração do ato ilícito;
II – A pessoa jurídica cesse completamente seu envolvimento na
infração investigada a partir da data de propositura do acordo;

III – a pessoa jurídica admita sua participação no ilícito e coopere plena


e permanentemente com as investigações e o processo administrativo,
comparecendo, sob suas expensas, sempre que solicitada, a todos os
atos processuais, até seu encerramento.

2º A celebração do acordo de leniência isentará a pessoa jurídica das


sanções previstas no inciso II do art. 6º e no inciso IV do art. 19 e
reduzirá em até 2/3 (dois terços) o valor da multa aplicável.

§ 3º O acordo de leniência não exime a pessoa jurídica da obrigação de


reparar integralmente o dano causado.

§ 4º O acordo de leniência estipulará as condições necessárias para


assegurar a efetividade da colaboração e o resultado útil do processo.

§ 5º Os efeitos do acordo de leniência serão estendidos às pessoas


jurídicas que integram o mesmo grupo econômico, de fato e de
direito, desde que firmem o acordo em conjunto, respeitadas as
condições nele estabelecidas.

§ 6º A proposta de acordo de leniência somente se tornará pública após


a efetivação do respectivo acordo, salvo no interesse das investigações
e do processo administrativo.

Dessa forma, é correto afirmar que é possível tornar o acordo de leniência público,
antes da efetivação do respectivo, desde que no interesse das investigações e do processo
administrativo.

§ 7º Não importará em reconhecimento da prática do ato ilícito


investigado a proposta de acordo de leniência rejeitada.

§ 8º Em caso de descumprimento do acordo de leniência, a pessoa


jurídica ficará impedida de celebrar novo acordo pelo prazo de 3
(três) anos contados do conhecimento pela administração pública do
referido descumprimento.

§ 9º A celebração do acordo de leniência interrompe o prazo


prescricional dos atos ilícitos previstos nesta Lei.

§ 10. A Controladoria-Geral da União - CGU é o órgão competente para


celebrar os acordos de leniência no âmbito do Poder Executivo federal,
bem como no caso de atos lesivos praticados contra a administração
pública estrangeira.

Art. 17. A administração pública poderá também celebrar acordo de


leniência com a pessoa jurídica responsável pela prática de ilícitos
previstos na Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993, com vistas à isenção
ou atenuação das sanções administrativas estabelecidas em seus arts.
86 a 88.

Você também pode gostar