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INTRODUÇÃO
O presente curso terá como foco as alterações legislativas no corrente Código Civil,
em decorrência da aprovação da Medida Provisória de número 881, agora denominada Lei de
Liberdade Econômica.
O presente curso será dividido da seguinte maneira: A primeira aula terá como
objetivo trazer à lume as alterações acerca do conteúdo das hipóteses de desconsideração da
Personalidade Jurídica. A Segunda tratará da Interpretação dos negócios jurídicos. A terceira
abordará a Função Social dos Contratos. Sendo a quarta sobre ERELI e Sociedade Limitada
unipessoal. Ao passo que a quinta e ultima aula terá como objetivo a inserção dos Fundos de
Investimentos.
Levando em consideração o fato de ser o Brasil um país que ocupa uma das 10
maiores economias globais, nossa posição nos rankings supracitados não era tão vantajosa ao
ponto de encorajar investidores, o que afeta o desenvolvimento econômico e social de nossa
pátria.
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Isto posto, é imperioso destacar a posição do Brasil nos principais rankings globais
mais recentes, que seguem:
✓ Fraser Institute–144º/162
✓ HeritageFoundation –153º/180
✓ DoingBusiness –109º/190
Portanto, em decorrência destas avaliações, o Brasil tem enfrentado uma forte crise
econômica, com um número alarmante de desemprego, além dos grandiosos casos de
corrupção mundialmente conhecidos, tivemos, na corrida presidencial de 2018, um forte apelo
social no sentido de se combater à corrupção, bem como, por um maior liberalismo econômico,
neste ultimo sentido, fora editada a MP 881.
Contudo, parece-nos, em princípio, que tais alegações não merecem guarida tendo
em vista que as consequências trazidas em curto e/ou médio prazo à sociedade gozam, sim, de
urgência e de inconteste relevância, uma vez que todos seriam beneficiários dos frutos de
melhorias econômicas e sociais.
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Outrossim, quanto à possibilidade edição de Medidas Provisórias por parte do
Presidente da República, não cabe a vinculação dos critérios de urgência e de relevância, sendo,
portanto, ato discricionário pertinente ao Presidente. Neste sentido se mantém firme o
entendimento da Suprema Corte consoante trecho que segue:
De toda sorte e de igual monta, tais argumentos são amplamente refutados por ter
a Constituição Federal como um dos fundamentos da república a livre iniciativa, que, alem disto,
é um dos fundamentos da Ordem Econômica, consoante dispositivos que destaco a seguir:
LEI Nº 13.874/19
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TÍTULO VII
CAPÍTULO I
[...]
IV - livre concorrência;
Logo, por ser a Livre Iniciativa tanto um Princípio da ordem econômica quanto um
dos fundamentos da República Federativa do Brasil, tem sua legitimidade para ser um dos
valores a ser reforçado infraconstitucionalmente pela já descrita MP881.
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III - a intervenção subsidiária e excepcional do Estado sobre o
exercício de atividades econômicas; e
V. Presunção de boa-fé.
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X. Digitalização de documentos.
DESCONSIDERAÇÃO DA PJ
Em se falando de desconsideração da Personalidade jurídica, tendo-a como um fator,
cuja finalidade é reprimir o uso abusivo da personalidade jurídica, preliminarmente, devemos
entender o que é a pessoa jurídica e qual a sua importância, singularmente ao mercado e ao
direito empresarial.
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Paulo: Método, 2019).
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operam é, dessa forma, de importância central para os
resultados econômicos em geral” (OCDE).
Logo, não devemos ter a segregação patrimonial das pessoas jurídicas como
sinônimo de impunidade aos mal-intencionados que por ventura possam surgir por detrás das
diversas formas de personalidades jurídicas. Pois, em quaisquer países que defendam a
liberdade econômica, têm-se regras sérias acerca das proteções de investimentos com a
finalidade de permitir aos empresários a segregação patrimonial de forma segura, permitindo
uma melhor avaliação dos riscos de um empreendimento.
Bruno Salama
Isto posto, merece relevo a inclusão do Artigo 49-A no Código Civil, vejamos, pois:
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Art. 49-A. A pessoa jurídica não se confunde com os seus sócios,
associados, instituidores ou administradores.
Quanto ao que dispõe o Parágrafo Único, tem-se uma regra clara e devidamente
legalista, segundo a qual, a autonomia patrimonial tem o objetivo de se encorajar o
empreendedorismo e de garantir a não afetação patrimonial, via de regra, dos sócios,
instituidores e/ou administradores.
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que dela se beneficiaram, ainda que se trate de sócio
majoritário ou controlador” (REsp 1.325.663/SP).
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O texto legal não mais possui o termo “dolosa”, que fora alvo de diversas críticas por parte da doutrina, contudo o
termo fora retirado por ter sido considerado redundante tendo em vista a finalidade específica imposto pelo termo
“propósito” no mesmo dispositivo. Logo, ainda se faz a comprovação do elemento subjetivo da conduta ilícita.
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(STOLZE, Pablo. https://jus.com.br/artigos/73648/a-medida-
provisoria-da-liberdade-economica-e-a-desconsideracao-da-
personalidade-juridica-art-50-cc).
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sentido, que já havia caracterizado o desvio de finalidade como
o ‘ato intencional dos sócios em fraudar terceiros com o uso
abusivo da personalidade jurídica’, de modo a confirmar o
modelo subjetivo e agravado adotado pelos tribunais brasileiros,
que exige comprovação de dolo no caso concreto”
Art. 50 [...]
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separação de fato entre os patrimônios, caracterizada por:
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https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI301612,41046-
A+MP+88119+liberdade+economica+e+as+alteracoes+do+Codi
go+Civil ).
Art. 50 [...]
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‘considerando-se que a finalidade da disregard doctrine é
combater a utilização indevida do ente societário por seus
sócios, o que pode ocorrer também nos casos em que o sócio
controlador esvazia o seu patrimônio pessoal e o integraliza na
pessoa jurídica, conclui-se, de uma interpretação teleológica do
art. 50 do CC/2002, ser possível a desconsideração inversa da
personalidade jurídica, de modo a atingir bens da sociedade em
razão de dívidas contraídas pelo sócio controlador, conquanto
preenchidos os requisitos previstos na norma (REsp
948.117/MS)’”.
O tratamento que se deu aos grupos econômicos que pela alteração legislativa é de
suma importância devido ao fato de que, a simples existência de um Grupo Econômico, sem que
se comprove o desvio de finalidade e/ou a confusão patrimonial, não é hábil para justificar a
desconsideração da personalidade jurídica. Vejamos:
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Art. 50, §4º. A mera existência de grupo econômico sem a
presença dos requisitos de que trata o caput deste artigo não
autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica.
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Os dois julgados que seguem demonstram o entendimento que consolidado de que
se faz necessária a devida comprovação da ocorrência do que dispõe o parágrafo 1º e 2º do
Artigo 50, ou seja, a Confusão Patrimonial e/ou o Desvio de Finalidade.
Idêntica alteração que fora alvo de críticas doutrinárias foi a que se evidencia:
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§ 5º. Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a
alteração da finalidade original da atividade econômica
específica da pessoa jurídica.
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“O esforço legislativo para restringir a desconsideração da
personalidade jurídica às situações de abuso é positivo. Um
movimento doutrinário e legislativo, iniciado na década de
1990, fragilizou excessivamente a separação patrimonial.
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acentua pelo contraste decorrente da não manutenção do
artigo 20 do Código Civil de 1916 (“As pessoas jurídicas têm
existência distinta da dos seus membros”) no texto do código
em vigor.
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MP deixou de combater a principal raiz do problema quando
se fala em limitação da responsabilidade: a existência de
múltiplos parâmetros de aplicação da teoria menor da
desconsideração nos diversos microssistemas jurídicos e a
inconsistência de interpretação das cortes sobre os limites da
desconsideração” (SPERCEL, Thiago e LAZARINI, Victor Goulart.
https://www.machadomeyer.com.br/pt/imprensa-ij/mp-da-
liberdade-economica-e-mudancas-ao-art-50-do-codigo-civil).
Tínhamos, na redação original da MP 881, três regras sobre esse assunto, sendo a
primeira como regra geral prevista no art. 423, caput, no qual se estendeu a regra da
interpretação contra proferentem a todos os demais contratos, não somente limitados aos de
adesão. As outras duas são regras específicas, acrescentando no Código Civil os artigos 480-A e
480-B. Estas duas ultimas regras eram específica por tratarem de resolução contratual por
onerosidade excessiva e, principalmente, por estar relacionadas à relação empresarial,
puramente. Destaco, portanto, o texto original constante na MP nº 881.
Sendo o Artigo acima uma reprodução do texto legal constante no Enunciado 23 das
Jornadas de Direito Comercial.
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eles definida.
Sendo, nos mesmos moldes, o texto acima uma reprodução do Enunciado 25 das
Jornadas de Direito Comercial.
Com a passagem do texto da MP 881 pelo congresso nacional, não mais subsistem as
referidas alterações legais, porém, mantiveram-se as ideias globais destas, de forma concentrada
no Artigo 113 do Código Civil, que versa sobre a interpretação dos negócios jurídicos, que segue
abaixo:
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I – for confirmado pelo comportamento das partes posterior à
celebração do negócio;
Na mesma esteira, vejamos o dispositivo que segue, incluído no Código Civil, trazendo no
inciso I que contem, não mais de forma restrita, o que estava contido no 480-A da MP, e, no
inciso II, o que era previsto no 480-B, também no texto original da MP 881.
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que:
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sido redundante, no caso dos incisos II e III, ao contemplar
critérios que já se encontravam e permaneceram no caput do
dispositivo. De qualquer modo, antes disso, somente no Código
Comercial de 1850, o legislador havia se detido sobre o tema
(arts. 130 e 131)”. (COELHO, Fábio Ulhoa. A interpretação dos
negócios jurídicos após a Lei das Liberdades Econômicas)
Com fins de esclarecer o que disse o texto acima, relativo à previsão no Código Comercial
de 1850, trago o texto que segue:
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o contrato deva ter execução, prevalecerá a qualquer
inteligência em contrário que se pretenda dar às palavras;
Vale, ainda, destacar que a AED não se aplica apenas ao direito empresarial, mas a todos
os ramos do Direito. Porém é indubitável que, uma das áreas em que a análise econômica é mais
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Trecho do Código Comercial de 1850.
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importante, é o direito contratual.
Isto posto, ao se fazer uma análise econômica dos contratos, percebe-se que se trata de
um instituto imprescindível ao desenvolvimento da civilização, tendo em vista ser o contrato a
base das trocas entre os homens, indo desde o escambo ao comércio eletrônico, naquele caso,
quando o homem produz em excesso com fins de instrumentalizar as trocas. Servindo ainda o
contrato como principal instrumento de mobilidade social e econômica, consoante afirma a “Lei
de Maine”, que afirma que o movimento das sociedades progressistas passou do Status ao
Contrato, sendo este o que possibilita a ascensão do indivíduo sem que seja levado em conta o
critério consanguíneo para tais fins, como se deu em determinados momentos na evolução
histórica da sociedade.
Portanto, vejamos:
Em suma, a par das alterações textuais entre o que se tinha como original na elaboração
da MP e o que se resultou quando em trâmite pelo congresso nacional, e na consequente
sanção presidencial e promulgação da Lei de Liberdade Econômica, e, tendo sido explanado o
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cuidado do texto final ao tratar da interpretação dos negócios jurídicos, bem como, tendo se
esclarecido sua influência na Análise Econômica do Direito, é imprescindível uma melhor análise
dos incisos do Artigo 113. Vejamos, portanto:
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após a Lei das Liberdades Econômicas)
O inciso em destaque firma a regra de observância do que se tem como regra no tipo de
negócio, ainda que não expressamente prevista em lei. Nesta esteira, destaca-se com
importância a regra que segue acerca da competência para se estabelecer o que se tem como
norma do tipo de negócio, que é da Junta Comercial local. Vejamos a regulamentação dada
pelos artigos 87 e 88 do Decreto 1.800/1996 à LEI Nº 8.934/94:
(...)
Prosseguindo:
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previsão da ‘boa-fé’ como critério de interpretação de negócio
jurídico (previsto no caput do art. 113 do CC) tinha se mostrado
um elemento de instabilização da vontade contratada, a partir
de socorro a paradigmas muito abstratos e extremamente
subjetivos do que esse padrão significaria, agora, deve-se
corrigir o prumo, de modo a se aplicar esse mesmo critério
exegético (inserido no inciso III do § 1º) para o fortalecimento
da autonomia privada, do contrato e da vinculação das partes
às declarações exaradas”. (COELHO, Fábio Ulhoa. A
interpretação dos negócios jurídicos após a Lei das Liberdades
Econômicas)
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“If contract terms supplied by one party are unclear, an
interpretation against that party is preferred” (Artigo 4.6 dos
princípios do Unidroit).
É importante atentar ao fato de que tal regra já existia há tempos no Brasil, contudo
somente aplicável aos contratos de adesão. Porém, com o advento da Lei de Liberdade
Econômica, estendeu-se sua aplicação a todos os contratos, mas apenas quando for possível
identificar quem redigiu a cláusula controvertida. Cuja finalidade é a de criar incentivos à
melhoria dos contratos, evitando, com isto, grandiosa mitigação dos litígios.
Embora seja pertinente a supratranscrita crítica, acreditamos ser cedo para se afirmar
que tal fato ocorrerá, embora não se descarte a possibilidade. O que merece destaque, contudo,
é a criação de incentivo na elaboração das cláusulas contratuais.
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sobre a questão discutida, inferida das demais disposições do
negócio e da racionalidade econômica das partes,
consideradas as informações disponíveis no momento de sua
celebração.
Esta regra é a que tem sido denominada como regra da vontade presumível, segundo a
qual, deverá se ter, por força das demais cláusulas contratuais, uma presunção da vontade das
partes à época dos fatos, ou seja, quando da celebração contratual, com fins de se solucionar
uma eventual omissão de celebração de determinada clausula não celebrada ou objeto de
discussão. Neste sentido, vejamos o que segue:
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normas/regras expressamente prevista, como o da contra preferentem, por exemplo.
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determinados pontos de sua redação, tendo em vista que a previsão do termo “liberdade de
contratar”, que se distingue da “Liberdade Contratual”, derivando da liberdade da vontade e/ou
privada, ao ponto que havia quem defendia que devesse constar “autonomia privada” ou
“autonomia da vontade”, onde se contava “Liberdade de contratar”. Ainda assim, há quem
entendesse que, por fim, estaria mais adequado constar “liberdade contratual”.
Outra crítica que se fazia ao dispositivo acima exposto era quanto à previsão do
termo “em razão”, o que poderia ser suprimido por ter sido seu enunciado satisfeito pela presença
do termo “nos moldes da...”, que afirma que a função social dos contratos funcionariam de norte à
liberdade contratual.
Redação dada pela Lei nº 13.874/19 teve como texto final o que segue:
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prevalecerão o princípio da intervenção mínima e a
excepcionalidade da revisão contratual.
Item, com o texto final, restou evidente que a ideia central pretendida pelo
legislador quando da aprovação da Lei em análise, foi combater a exacerbação que se tinha do
Estado na esfera contratual, ampliando a liberdade das partes e, ratificando a primazia do princípio
da Pacta Sunt Servanda. Neste sentido, destacamos os seguintes enunciados das Jornadas de
Direito Civil, que comprovam a existência do denominado Dirigismo Contratual, que se caracteriza,
em especial pela ingerência Estatal na esfera contratual.
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REGULAÇÃO CONTRATUAL, uma vez que ambos são
incorporadores de uma nova teoria geral dos contratos.
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contratos empresariais, o dirigismo contratual deve ser
mitigado, tendo em vista a simetria natural das relações
interempresariais’”.
No mesmo sentido, o STJ já decidiu que “contratos empresariais não devem ser
tratados da mesma forma que contratos cíveis em geral ou contratos de consumo. Nestes admite-
se o dirigismo contratual. Naqueles devem prevalecer os princípios da autonomia da vontade e da
força obrigatória das avenças. Direito Civil e Direito Empresarial, ainda que ramos do Direito
Privado, submetem-se a regras e princípios próprios. O fato de o Código Civil de 2002 ter
submetido os contratos cíveis e empresariais às mesmas regras gerais não significa que estes
contratos sejam essencialmente iguais” (REsp 936.741/GO).
Relembrando a redação dada pela LLE ao artigo 421, espera-se que, com essa nova
regra legal, diminua-se o dirigismo contratual nos contratos privados, especialmente nos contratos
empresariais (mas também nos contratos cíveis), sem prejuízo de um maior dirigismo em relações
contratuais específicas que possuem regramento protetivo próprio.
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objetivos para a interpretação das cláusulas negociais e de seus
pressupostos de revisão ou de resolução;
Vale ainda destacar que o dispositivo acima guarda verossimilhança com o que
prevê o artigo 113 do Código Civil, com nova redação dada pela lei em análise, com o intuito de
corroborar o que fora dito na aula II anteriormente.
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dos negócios jurídicos diversas daquelas previstas em lei.
Isto posto, é mister recordar o que for visto nas aulas passadas acerca da implicação
da Análise Econômica do Direito. Vejamos:
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base das trocas entre os homens, indo desde o escambo ao
comércio eletrônico, naquele caso, quando o homem produz
em excesso com fins de instrumentalizar as trocas. Servindo
ainda o contrato como principal instrumento de mobilidade
social e econômica, consoante afirma a “Lei de Maine”, que
afirma que o movimento das sociedades progressistas passou
do Status ao Contrato, sendo este o que possibilita a ascensão
do indivíduo sem que seja levado em conta o critério
consanguíneo para tais fins, como se deu em determinados
momentos na evolução histórica da sociedade.
Voltando especificamente ao art. 421-A, ele se coaduna com outro dispositivo da Lei,
qual seja, o Artigo 3º, Inciso VIII, o qual prevê a Prevalência do pactuado sobre o legislado.
Vejamos:
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partes pactuantes, de forma a aplicar todas as regras de direito
empresarial apenas de maneira subsidiária ao avençado, exceto
normas de ordem pública.
Regra que se coaduna com o art. 113, § 2º, segundo o qual “as partes poderão
livremente pactuar regras de interpretação, de preenchimento de lacunas e de integração dos
negócios jurídicos diversas daquelas previstas em lei”.
Regra que se coaduna com o art. 113, § 1º, inciso V, segundo o qual “a interpretação
do negócio jurídico deve lhe atribuir o sentido que corresponder a qual seria a razoável negociação
das partes sobre a questão discutida, inferida das demais disposições do negócio e da
racionalidade econômica das partes, consideradas as informações disponíveis no momento de sua
celebração”.
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Com fins didáticos, destacamos o texto que segue:
Regra que se coaduna com o art. 421, parágrafo único, segundo o qual “nas relações
contratuais privadas, prevalecerão os princípios da intervenção mínima e o da excepcionalidade da
revisão contratual”.
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EIRELI e SOCIEDADE LIMITADA UNIPESSOAL
No presente módulo, trataremos da EIRELI, de acordo com o Código Civil, passando
à análise da alteração que tivemos em virtude da entrada em vigor da Lei de Liberdade Econômica.
EMPRESÁRIO INDIVIDUAL
SOCIEDADE EMPRESÁRIA
Exercido pela pessoa jurídica, constituída sob a forma de sociedade, cujo objeto
social é o exercício de empresa, que assegura aos seus sócios responsabilidade subsidiária e,
dependendo do tipo societário, limitada.
EIRELI
Sendo, esta, uma nova modalidade de pessoa jurídica de direito privado, criada
pela Lei 12.441/2011, que tem um único titular, o qual possui responsabilidade subsidiária e
limitada.
Logo, criou-se a EIRELI para solucionar este problema quanto aos tipos societários,
bem como quanto à responsabilização de seu titular, que responde subsidiaria e limitadamente.
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Artigo 980-A do Código Civil, cujo teor é o que segue:
Neste contexto, o que pretendeu com a criação da EIRELI foi o de, simplesmente,
sanar a crise que se tinha quando a pessoa natural queria empreender, porém não pretendia fazê-
lo em sociedade e, principalmente, não gostaria de responder diretamente com seu patrimônio
pelo exercício da atividade empresarial.
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§1º. O nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da
expressão “EIRELI” após a firma ou a denominação social da
empresa individual de responsabilidade limitada.
A EIRELI pode adotar tanto FIRMA, que terá como o núcleo do nome empresarial, o
nome civil do titular da EIRELI, quanto DENOMINAÇÃO, sendo o núcleo do nome empresarial, uma
expressão linguística qualquer. Devendo, em ambos os casos, o nome empresarial deve incluir a
expressão EIRELI no final.
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serviços de qualquer natureza a remuneração decorrente da
cessão de direitos patrimoniais de autor ou de imagem, nome,
marca ou voz de que seja detentor o titular da pessoa jurídica,
vinculados à atividade profissional.
A regra supratranscrita veio para facilitar a chamada “pejotização”, algo que já era
muito comum no mercado, mas normalmente feito com sociedades limitadas “99% + 1%”.
A exigência de capital mínimo foi questionada por meio da ADI nº 4.637 de relatoria
do Exmo. Min. Gilmar Mendes. Vele nota que tal exigência se deu pelo fato de que, em
contrapartida a tal exigência, tentou-se estabelecer a previsão de vedação à desconsideração da
Personalidade jurídica, cujo texto segue abaixo, porém, tendo sido vetado por força da expressão
“em qualquer situação”.
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pessoa natural que a constitui, conforme descrito em sua
declaração anual de bens entregue ao órgão competente.
RESUMINDO:
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transformando-as em Sociedades Limitadas. Vejamos, portanto o texto aprovado na Comissão
Mista:
A regra imposta pelo dispositivo acima, embora possa trazer uma maior segurança
aos titulares quanto à não afetação de seus patrimônios pessoais, corre o risco de ter sua exceção
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– “ressalvados os casos de fraude” - entendida pelos nossos tribunais como sinônimo de
desconsideração da personalidade jurídica, o que descaracterizaria a proteção que se pretendia
dar aos titulares das EIRELI’s, regressando ao status quo, quando do veto ao parágrafo 4º
anteriormente exposto.
Quanto a esta ultima espécie de empresário, devemos salientar que a sua criação se
deu com fins de sanar o problema que se tinha quando da vontade de um particular de
empreender, contudo, havia uma resistência em se constituir uma sociedade, tendo em vista a
necessária pluralidade de sócios exigida para tal, e, em especial, o risco que se tinha em
decorrência de responsabilidade patrimonial de seu titular, que, em regra, responderia
ilimitadamente, ou seja, podendo sofrer afetação de seu patrimônio pessoal.
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constituição do sócio único, no que couber, as disposições
sobre o contrato social.
Com as devidas inclusões, destaca-se não ter sido criada uma nova espécie
societária, mas, tão somente, ter-se permitida a constituição de uma “sociedade” por uma única
pessoa, com todas as implicações de uma sociedade, como, por exemplo, quanto à
responsabilidade societária.
Logo, por ser uma sociedade, mantiveram-se a regra quanto ao nome empresarial,
que pode ser firma ou denominação, bem como ter sua constituição por PJ, impedido ou incapaz,
nestes últimos casos, sendo vedado que a administração seja pelo sócio impedido ou incapaz, que
deverá nomear um terceiro não sócio para tal finalidade.
FUNDOS DE INVESTIMENTO
No presente módulo, trataremos de uma das principais regras trazidas pela vigência
da Lei de Liberdade Econômica, qual seja, os fundos de investimento, status este devido ao fato de
serem, os fundos de investimento responsáveis pela gestão de aproximadamente R$ 5 trilhões, o
que corresponde a mais de 70% do PIB nacional. Embora dada a importância da matéria à
economia nacional, antes da entrada em vigor da Lei de Liberdade Econômica, encontrava-se
respaldo nas Leis de nº 6.385/1976 e nº 4.728/1965, em seu Artigos 49 e 50, porém de forma vaga,
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se que se conceituasse devidamente o que seriam os fundos de investimento, o que deixava a
cargo da jurisprudência e da própria CVM, Comissão de Valores Mobiliários.
Portanto, com a entrada em vigor da referida lei, que assegurou aos investidores
maior segurança jurídica, bem como tratou de definir o que, de fato seriam os fundos de
investimento. Ao passo que, quando da promulgação da lei, tratou a CVM de emitir o comunicado
que segue:
(http://www.cvm.gov.br/noticias/arquivos/2019/20190923-
3.html)
53
CONDOMÍNIO, vejamos:
ICVM 555/2014
Contudo, este é o que se tinha antes das alterações decorrentes da edição da Lei de
Liberdade Econômica, que deu o seguinte tratamento aos Fundos de Investimentos. Logo:
Código Civil
• Doutrina
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(SATIRO, Francisco. Constrição judicial sobre ativos de fundos de
investimento em participações).
• Legislação
55
Quanto à previsão de limitação de responsabilidade dos cotistas,destacamos que,
de acordo com o art. 1.368-D, inciso I, do Código Civil, “o regulamento do fundo de investimento
(...) poderá estabelecer a limitação de responsabilidade de cada investidor (cotistas) ao valor de
suas cotas”, que implica em inovação importante, tendo em vista que, em linha com a legislação
civil (artigos 1.315 a 1.317 do CC), a ICVM 555/2014 prevê que “os cotistas respondem por
eventual patrimônio líquido negativo do fundo, sem prejuízo da responsabilidade do administrador
e do gestor em caso de inobservância da política de investimento ou dos limites de concentração
previstos no regulamento e nesta Instrução”.
3
Trecho incluído pelo professor.
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análise. Vejamos que há, portanto, a possibilidade de “limitação da responsabilidade, bem como
parâmetros de sua aferição, dos prestadores de serviços do fundo de investimento, perante o
condomínio e entre si, ao cumprimento dos deveres particulares de cada um, sem solidariedade”,
conforme prevê o artigo 1.368-D, II do Código Civil.
Logo, outra novidade foi a menção expressa de que a obrigação desses prestadores
de serviço é uma obrigação de meio, e não de resultado. Essa regra é importante porque, caso
contrário, com certeza os custos de eventual responsabilização dos prestadores de serviços do
fundo seriam repassados para os investidores.
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vigente até a lei, em que havia responsabilidade do investidor
pelo patrimônio líquido negativo, para o novo regime, em que
credor do fundo poderá não acessar os bens do investidor, nem
do prestador de serviço que não tiver agido com dolo e má-fé”
(https://www.demarest.com.br/lei-da-liberdade-economica-e-
o-mercado-de-capitais/).
Nesse ponto, tem sido feitas duas críticas ao texto retro: (i) previsão de que a
responsabilidade dos prestadores de serviços se dará apenas em caso de dolo ou má-fé, mas não
em casos de culpa; e (ii) submissão dos fundos com limitação de responsabilidade ao regime da
insolvência civil, e não ao regime da liquidação extrajudicial da Lei 9.514/1997.
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(iii) aplicar um regime jurídico superprotetor aos investidores
para impor aos administradores e gestores as perdas geradas
pela atividade de risco assumida pelo investidor não parece
razoável, dentre outros motivos que não vêm ao caso”.
(https://www.jota.info/paywall?redirect_to=//www.jota.info/opin
iao-e-analise/artigos/fundos-de-investimento-e-a-mp-da-
liberdade-economica-o-que-muda-na-pratica-31082019)
Porém, no caso Marka, o STJ decidiu que “por estar caracterizada relação de
consumo, incidem as regras do CDC aos contratos relativos a aplicações em fundos de
investimento celebrados entre instituições financeiras e seus clientes. Enunciado n. 297 da
Súmula do STJ”.
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