Pâ nico Nos Himalaias

NÃO QUERO FICAR CARECA!!!

Nessa noite, estava tranquilamente a olhar

para a televisão, distraída a fazer zapping de uma

estação para a outra, quando parei num canal de

televendas.

Uma apresentadora guinchava a mais não

poder:

- Estás a ficar careca??? Ou já estás

careca??? Estou a falar contigo, sim, contigo

mesmo, híbrido de meia-leca, contigo que estás

para aí pasmado em frente da TV, esparramado no

sofá... É a ti que digo que toques na cabeça e vejas

se já tens entradas... Estás careca e ainda não

tinhas dado conta??? A culpa é tua!!! E é muito

bem feito!!!

Institivamente, levei a mão à cabeça e tive um

sobressalto. Estaria realmente a ficar com

entradas???

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A apresentadora continuava a guinchar, cada

vez mais desenfreada, cuspindo no microfone:

- É mesmo contigo que estou a falar, orelha

peluda! Aposto que estás a perder o cabelo, hem?

Finalmente deste por isso! E aposto que estás

preocupado, não? A culpa é tua!!! E é muito bem

feito!!!

Empalideci! Pois não que não estava

preocupada! Não queria perder o cabelo!

E lá continuou ela, guinchando cada vez mais

alto:

- Ó orelha peluda, porque é que não fazes nada

para dar força ao cabelo? Hum? Porque é que não

reforças as raízes dos cabelos? Hum? Porquê?

Sente-te culpado, focinho peludo, que é muito bem

feito!!!

E atacou de novo, aos gritos:

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- Mas por sorte estou aqui eu, que te proponho

uma cura excepcional, fantástica, mi-ra-cu-lo-sa!!!

Toma nota, ó subespécie de híbrido, subproduto de

híbrido, sub-raça de híbrido, hoje é o teu dia da

sorte!!! Mas não esperes nem sequer um minuto

para encomendar, olha que os capacetes são

poucos, compra já ou nicles, e depois, já sabes, o

pior é para ti, hã??? E se te digo isto é p’ra teu

bem. Com certeza não queres ficar sem cabelo e

ficar como uma bola de bilhar, senão depois para

olhar para ti só com óculos de sol! Orelha peluda!

Focinho peludo, é por ti que o digo, p’ra te fazer

um favor, mesmo que não mereças... Encomenda já,

carecão, que, além do mais, é um grande negócio!!!

Deitei a mão à caneta e ao papel para tomar

nota.

Ela indicou um capacete e um grande frasco

de loção verde, e depois gritou:

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- Eis um capacete especial que funciona com o

sistema de ondas bio-electro-micro-macro-hiper-

ciber-tecno-magnéticas... Primeiro, espalhas no

cabelo a loção milagrosa, depois pões o capacete e

deixa-lo ficar na tola durante pelo menos duas a

três horas... ou mesmo mais, talvez!!! O capacete

comprime-te o crânio e estimula a raiz do cabelo...

de maneira que o cabelo fica mais forte e volta a

crescer saudável. Então, percebeste??? Tomaste

nota??? Encomenda já, carecão, antes que seja

tarde de mais!!! Agarra já no telefone, antes que

se esgotem os capacetes!!! Levanta-te do sofá,

estende a mãozinha, levanta o auscultador, leva-o

ao ouvido e diz a frase mágica: Eu-preciso-de-um-

capacete-e-da-loção-especial-para-não-perder-o-

cabelo! Percebeste???

E eu, como se estivesse hipnotizada, estendi a

mão e marquei o número do telefone.

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Agora estava preocupada, mas mesmo

preocupada, com o meu cabelo. Disse:

- Âââ, queria encomendar um capacete...

Do outro lado da linha, uma telefonista chiou:

- Ah, a jovem quer certamente referir-se à

Supertelevenda «Em socorro dos carecas».

Embaraçada, murmurei:

- Bom, sim, quer dizer, em certo sentido, direi

eu, é, é mesmo isso...

Ela trinou:

- Então enviamos-lhe de imediato o capacete!

Também quer a loção milagrosa, não é assim?

Quantos frascos? O quê? Quantos??? Olhe que

estão em promoção...

Murmurei:

- Olhe, digamos... fiquemos em dois?

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Ela baixou a voz e murmurou, em tom

confidencial:

- Oiça, só por ser a jovem, porque simpatizei

consigo, vou revelar-lhe um segredo... Sabe que já

quase acabaram?

Fiquei parva.

- Como é isso de quase acabaram?

E ela, finória, murmurou:

- Ora, se soubesse quantos híbridos

telefonaram... Tiveram uma procura que eu sei lá!!!

Eu, se fosse a si, encomendava mais, só digo isto

por si, não quero que fique sem loção e depois

volte a ligar e eu tenha de lhe dizer olhe, já não há

mais, ai que pena que ia ter por sua casa!!!

Ansiosa, guinchei:

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- Então, quero 3, não, 4, não, 5, olhe, já agora

8, ou melhor, 10, sim, isso, fico com 10... não,

mande-me 12!

Satisfeita, ela murmurou ainda:

- Doze, não é? Ótimo, ótimo, fez muitíssimo

bem... a entrega é imediata... prepare o cheque!!!

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EM SOCORRO DOS CARECAS!!!

Dez minutos depois, alguém bateu à minha

porta. Fui abrir.

Era um jovem, ou melhor, um híbrido de cão

com patins em linha e um espesso cabelo

encaracolado. Trazia uma encomenda com a

menção «Em socorro dos carecas».

Meu deus, aquilo, sim, é que era uma entrega

rápida!

Ele perguntou:

- A jovem Stilton?

- Hmmm, sim, sou Stilton, Nero Stilton!

Ele abriu um sorriso de trinta e dois dentes,

entregou-me a embalagem e, ao mesmo tempo,

enfiou-me uma fatura na mão.

- Em cheque ou em dinheiro?

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- Humm, cheque... – murmurei. Depois li a

quantia com seis zeros que figurava na fatura e

empalideci, berrando:

- Como é que é? Com seiscentos euros!!!

Rápido, ele voltou a pegar no embrulho.

- O que foi, não paga? Mudou de ideias?

Apressei-me a dizer:

- Não, não é isso, bom, só queria dizer que...

bem, que me parece um bocado carote...

Ele andou à minha volta como se quisesse

observar-me melhor. Depois murmurou, em tom

confidencial:

- Diacho! Sabe que já está a perder cabelo?

Tem de tratar já disso! Não vê como tem o cabelo

a cair?

Depois puxou dum espelho com três faces e

mostrou-me a minha nuca. Mirei-me, preocupada.

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Rapidíssimo, ou antes, rápido como um cão,

estendeu uma mão e arrancou-me uma madeixa de

pêlo da orelha.

- Cá está! Eu não dizia? O cabelo já lhe cai às

madeixas... O seu caso é grave, sabia???

- Mas o capacete... funciona mesmo? –

perguntei desconfiada.

Voltou a abrir um sorriso de trinta e dois

dentes.

Depois alisou o cabelo encaracolado.

- Já viu? Pois imagine que eu estava já

pratiacmente calvo, antes de começar a usá-lo...

Com um suspiro de inveja, paguei.

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FRRRRRRRRRR... FRRRR...ZZZZZZZZ...

ZZZ...

Plantei-me toda contente em frente da

televisão, encharquei o cabelo (e o crânio) com a

loção milagrosa e pus o capacete na cabeça.

Meti a ficha na tomada e o capacete começou

a massajar-me o crânio.

Frrrrrrrrrrr... frrrr... zzzzzzz... zzz...

Nesse momento retiniu o telefone.

- Estou?

Ouvi uma voz ao longe, muito ao longe:

- Queria falar com a jovem Stilton, Nero Stilton, a diretora do Bestsellers...

- Daqui é Stilton, Nero Stilton!!!

- Sou o professor Alexander Volt! Nero, preciso da sua ajuda!

Eu guinchei, preocupada:

- Professor Volt, onde é que está?

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A voz prosseguiu, cada vez mais fraca e

longínqua:

- Nero, estou a falar-lhe do meu laboratório secreto nos cumes dos

Himalaias. Preciso da sua ajuda! Só confio em si! Você é uma verdadeira amiga, uma

verdadeira gentil-woman...

A sua voz tornou-se mais longínqua que nunca.

Com as orelhas a vibrar de emoção, gritei:

- Professor! Professor! Já não o oiço!

Professor!

Ouvi a voz, sempre mais longínqua:

- Nero, vá a minha casa, encontrará a chave debaixo do tapete, traga o meu

diário secreto, está em cima da mesa-de-cabeceira... traga-mo, peço-lhe, é

importantíssimo!

Guinchei:

- Professor! Fale mais alto! Não o oiço!

E ele repetiu:

- O diário... é importantíssimo...

Depois, acrescentou:

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- ... diário... encontrei as pegadas do yeti... perigo de vida...

A chamada caiu definitivamente

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