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BRASÍLIA 2018
URIELMA LIMA FERREIRA
BRASÍLIA 2018
DEDICATÓRIA
Nota: _______
BANCA EXAMINADORA
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RESUMO
ABSTRACT
Cognitive-behavioral therapy-CBT has been used for the treatment of social anxiety disorder-
SAD. Regarding child and adolescent care, CBT is an issue of great importance for parental
involvement in work. However, there are some grounded studies on CBT on a thematic, a
majority are of behavioral approach. This article, in summary form, was carried out with the
objective of evaluating the problem of the teaching of parents in the high school of CBT in an
adolescent with SAD. The study method was restricted to a descriptive analysis. In addition, a
review of the exploratory literature of empirical articles, dissertations and theses between the
years of 2013 and 2018 was made. In relation to the results, this study demonstrated that the
involvement of the parents contributed to the success of the work. In addition, the TP made it
possible to flexibilize conflicts and dysfunctional schemes that influenced negative parental
practices. It should be emphasized that a case study has the advantage of having a complex in
detail, there is a difficulty of generalization of the results. In this way, quantitative research
with a larger message becomes weak, in order to confirm or not the findings of this study.
* Psychologist, student of the specialization course in Cognitive-Behavioral Therapy at the Centro de Terapia
Cognitiva Veda. Email: uririi@gmail.com
** Psychologist, specialist in Cognitive-Behavioral Therapy and teacher at the Centro de Terapia Cognitiva Veda
I. INTRODUÇÃO..................................................................................................................................6
II. DESENVOLVIMENTO (RELATO DO CASO) .........................................................................10
HISTÓRIA DE CASO .......................................................................................................................10
A. Informações de identificação ..........................................................................................................10
B. Queixa principal ..............................................................................................................................10
C. Histórico da doença atual ................................................................................................................10
D. História psiquiátrica pregressa ........................................................................................................10
E. História pessoal e social ..................................................................................................................11
F. Histórico médico .............................................................................................................................11
G. Observações do estado mental........................................................................................................ 11
H. Diagnósticos segundo o DSM-V .....................................................................................................11
III. FORMULAÇÃO DE CASO .......................................................................................................11
A. Precipitantes .....................................................................................................................................11
B. Visão transversal ..............................................................................................................................12
C. Visão longitudinal ............................................................................................................................13
D. Pontos fortes e recursos ....................................................................................................................13
D. Hipótese de trabalho .........................................................................................................................14
PLANO DE TRATAMENTO .................................................................................................... 14
A. Lista de problemas ...........................................................................................................................14
B. Objetivos do tratamento ...................................................................................................................14
C. Plano de tratamento ..........................................................................................................................14
CURSO DO TRATAMENTO ..........................................................................................................15
A. Aliança terapêutica .......................................................................................................................... 15
B. Intervenções e procedimentos ......................................................................................................... 16
C. Obstáculos ........................................................................................................................................17
D. Resultados ........................................................................................................................................17
IV. DISCUSSÃO .................................................................................................................................18
V. CONCLUSÃO ................................................................................................................................20
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................21
ANEXOS ..............................................................................................................................................24
I. INTRODUÇÃO
Emoções como medo e ansiedade são necessárias para a evolução e sobrevivência da
humanidade. Contudo, ambos se distinguem, tendo em vista que o medo é um processo
cognitivo básico que prepara o corpo para ação frente a ameaça. Por outro lado, a ansiedade é
uma resposta ocasionada pelo medo, é um estado de preocupação antecipada, subjetiva e mais
duradoura. Neste sentido, é evidente que nem toda ansiedade deve ser considerada patológica,
isto só ocorre quando o medo é mal adaptativo e distorcido (CLARK e BECK, 2010)
O aumento dos transtornos de ansiedade em crianças e adolescentes é um fenômeno
cada vez mais frequente (PETERSEN; WAINER e COLS 2011). Em geral, tendem a ser mais
prevalentes em meninas, bem como em crianças mais velhas e costuma persistir na idade
adulta. O que preocupa são os impactos causados pelo transtorno de ansiedade. Tendo em
vista que envolvem prejuízos na aprendizagem, relacionamento social, familiar e nas
atividades diárias, além de comprometer a qualidade de vida das crianças e adolescentes
(CLARK e BECK, 2010).
A causa dos transtornos de ansiedade pode resultar da combinação de vários fatores,
tais como variáveis biológicas, ambientais e distorções cognitivas (STALLARD, 2010;
PETERSEN; WAINER e COLS, 2011). Além disso, as circunstâncias da vida moderna como
as pressões do cotidiano (FRIEDBERG e MCCLURE, 2004) e alguns estilos parentais podem
contribuir para o surgimento dos transtornos mentais (PETERSEN; WAINER e COLS, 2011).
A adolescência também é um período crítico e propenso ao desenvolvimento de
transtornos de ansiedade (FRIEDBERG e MCCLURE, 2004). Isto porque, consiste em uma
etapa do desenvolvimento marcada por inúmeras transformações biopsicossociais. Além de
tudo, a adolescência corresponde a um período de transição da infância a vida adulta. Esta
etapa é marcada por questões relacionadas à formação da identidade e outros temas, tais como
medo de falhar, receber crítica, sexualidade, aparência física e comparações sociais
(PAPALIA; OLDS, e FELDMAN, 2010).
Um dos transtornos de ansiedade mais comum na adolescência diz respeito, ao
transtorno de ansiedade social (TAS). Também é considerado o terceiro mais predominante
entre todos os transtornos (CLARK e BECK, 2010). A característica essencial das pessoas
com TAS, corresponde a um medo exorbitante e constante, em uma ou mais situações sociais
e/ou de desempenho. Em consequência disso, os temores dos indivíduos com TAS giram em
torno do julgamento das pessoas em relação ao seu comportamento, temem ser humilhados e
envergonhados. Além disso, costuma apresentar comportamento de esquiva e antecipação
ansiosa frente a situações temidas. Tais sintomas ocasionam prejuízos diários (DSM 5).
Quanto ao tratamento para pessoas com o diagnóstico do transtorno de ansiedade
social, estudos anteriores e uma recente revisão da literatura demonstrou a efetividade da
terapia cognitivo-comportamental (HOFF, 2017; DAHAN, 2013; LEIGH e CLARK, 2016;
GOLDIN et al, 2016; LEBOWITZ et al, 2014). Contudo, há evidências de que a medicação é
uma opção em alguns casos mais graves, inclusive para facilitar adesão do paciente à terapia
(FRIEDBERG e MCCLURE, 2004).
Dentro desta temática, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) consiste em
flexibilizar crenças e pensamentos distorcidos. A TCC considera que a causa do sofrimento e
adoecimento mental não estão nas situações vivenciadas, mas na forma como se interpreta a
realidade (CLARK e BECK, 2010). Além disso, é possível caracterizar a TCC como sendo
uma terapia breve, estruturada com o foco nos problemas atuais e voltada para o
estabelecimento de metas. Nesse sentido, o paciente deve ser estimulado a desenvolver
posturas colaborativas e ativas no tratamento (BECK, 2007).
A TCC postula três fases vivenciadas pelas pessoas com TAS. A fase antecipatória,
condiz com a percepção distorcida da ameaça e vulnerabilidade, que é ativada quando
indivíduos se deparam com situações que remetem aos seus temores. A fase de exposição
situacional, se trata da imersão em situações de exposição inevitáveis. Assim, os esquemas
mal adaptativos do indivíduo são ativados, aumentando a hipervigilância, viés atencional para
a ameaça e vulnerabilidade. Por fim, a fase pós-evento, que são as lembranças do desempenho
do indivíduo em alguma situação social. A reavaliação do seu desempenho costuma ser
coerente com seus esquemas mal adaptativos.
Quando se trata do atendimento a crianças e adolescentes com TAS, o envolvimento
parental no tratamento é fundamental (CLARK e BECK, 2010). De fato, existe uma lacuna na
literatura sobre intervenções cognitivas nos treinamentos parentais (TP), isto porque a maioria
dos estudos têm enfoque comportamental. Obviamente, a TCC se utiliza de aspectos
comportamentais no TP, contudo, as intervenções cognitivas são fundamentais. Tendo em
vista que, o comportamento disfuncional dos pais está relacionado aos seus esquemas e
crenças (CAMINHA, 2011).
Na revisão da literatura foi possível encontrar estudos demonstrando que o
envolvimento parental na intervenção da TCC está associado a um nível mais elevado de
melhorias clínicas nas crianças ansiosas (DAHAN, 2013; HOFF, 2017; LEBOWITZ et al,
2014). Corrobora com a pesquisa de Santos (2013) sobre o envolvimento parental no
programa amigos para a vida, fundamentado na abordagem da TCC para crianças com
transtorno de ansiedade. O estudo revelou que cerca de 85,5% das crianças apresentam
melhora clínica no momento imediatamente após o término da intervenção.
Santos (2013) constatou que o envolvimento parental na terapia foi maior nas
atividades que envolviam a comunicação com o terapeuta e menor em relação à participação
de tarefas. Neste sentido, o envolvimento parental também foi menor quando havia baixa
expectativa de eficácia em relação ao programa, alta percepção de impacto da patologia do
filho na vida familiar e o maior número de barreiras enfrentadas no tratamento.
Uma alternativa para a adesão efetiva no TP foi sugerida por Lebowitz et al. (2014).
Os autores constataram que o envolvimento parental aumenta quando o programa tem sessões
mais flexíveis, com possibilidade de adaptar as individualidades de cada caso. O programa
SPACE tem uma estrutura definida nas primeiras oito sessões e nas últimas quatro o terapeuta
conduz de acordo com cada caso. Por se tratar de um programa para pais de crianças ansiosas,
sua finalidade consiste em modificar o comportamento dos pais, ajudando-os a assumir um
papel menos protetor.
Nesta perspectiva, o estudo de Sakuramoto, Squassoni e Matsukura (2014) concluiu
que quanto maior o apoio social e mais positivo o estilo parental, menor é o risco de a criança
apresentar algum problema de saúde mental. Teixeira e Alvarenga (2016) contataram que a
estimulação aversiva e exigências elevadas da mãe, estavam relacionadas aos transtornos de
ansiedade nos filhos. Carneiro e Oliveira (2014) constataram em sua pesquisa que quando os
filhos percebem os estilos parentais como controladores, apresentam maiores déficits de
habilidades sociais. Por outro lado, os filhos que percebiam os pais autoritativos tinham as
habilidades sociais mais desenvolvidas.
Por esta razão, tem particular relevância o manejo parental na TCC. A melhor maneira
de intervir neste contexto atribui-se ao treinamento e orientação de pais. Sua finalidade
consiste em melhorar as relações familiares. Nesse sentido, o terapeuta estimula e orienta os
pais a resolver conflitos e problemas comportamentais dos filhos. Assim, é possível atuar de
forma preventiva nos problemas psíquicos das crianças e adolescentes, além tornar o ambiente
familiar mais agradável (CAMINHA, 2011).
De acordo com Stallard (2010), quando se trata de crianças pequenas, maior deve ser a
participação dos pais na terapia, com adolescentes, a presença é menos frequente. Contudo, se
os pais têm um estilo parental que mantém os sintomas do transtorno de ansiedade nos filhos,
provavelmente demandará maior participação no tratamento. Nesta perspectiva, Lebowitz et
al, (2014) argumentam que a maioria dos programas para pais são destinados quase
exclusivamente para crianças pequenas. Deste modo, modificar padrões de interação de pais
com filhos mais velhos consiste em um desafio para o terapeuta.
Os estilos e práticas parentais desempenham um papel essencial no desenvolvimento
biopsicossocial dos filhos. Pode-se afirmar que os estilos parentais são padrões de
comportamentos e práticas direcionados aos filhos com intuito de educá-los. Nesse aspecto,
há quatro tipos de estilos parentais, o autoritativo, autoritário, indulgente e o negligente. O
autoritativo costuma utilizar o diálogo, ser afetivo e impor limites sem restringir os filhos. Os
pais indulgentes são muito afetivos, poucos exigentes e não impõem regras e limites. Os
autoritários são muito exigentes, porém são pouco afetivos. Os pais negligentes apresentam
pouco interesse pelas atividades dos filhos, são distantes e respondem somente as
necessidades básicas das crianças (WEBER et al, 2004).
A partir deste ponto de vista, a escolha das estratégias terapêuticas, dependerá do perfil
apresentado pelos pais na terapia. O envolvimento dos pais pode ser classificado em três
tipos, os facilitadores, coterapeutas e coclientes. Os facilitadores são aqueles que participam
de forma limitada em algumas sessões com o objetivo de aprender sobre a TCC. Os pais
coterapeutas estão envolvidos mais ativamente e participam da maioria ou de todas as sessões,
junto ou em paralelo aos filhos. Os pais coclientes necessitam de intervenção do terapeuta
cognitivo comportamental, pois contribuem para a manutenção da ansiedade nos filhos
(STALLARD, 2010).
Em virtude dos fatos mencionados, e a necessidade de produção científica na área, este
estudo de caso teve o objetivo de abordar sobre a importância do treinamento de pais para a
eficácia no tratamento da ansiedade social com base na terapia cognitivo-comportamental.
Quanto ao método, foi feita a análise descritiva de um estudo de caso em uma adolescente
com TAS com ênfase na sua relação com os pais, bem como as práticas e manejo parental
utilizada pelo terapeuta no tratamento.
II. DESENVOLVIMENTO (RELATO DO CASO)
HISTÓRIA DE CASO
A. Informações de identificação
Sara tem 17 anos, filha única, mora com o pai e a mãe.
B. Queixa principal
A mãe de Sara queixou-se que a filha fica muito preocupada com situações sociais, com isto
acaba exibindo comportamentos inadequados como falas desconexas, excessos de sorrisos e
tremores. Sara também declarou sentir intenso sofrimento e ansiedade quando precisa falar
em público, teme que seja um fracasso e que seja ridicularizada pelas pessoas. Ainda relatou
que está insatisfeita com sua aparência física. O pai alegou que a filha tem demonstrado um
comportamento agressivo em casa e que está cada vez mais distante dele.
F. Histórico médico
A paciente não tem histórico médico que possa influenciar nos sintomas apresentados.
G. Observações do estado mental
A paciente estava com as faculdades mentais preservadas e boa aparência. Contudo,
demonstrou humor deprimido nas primeiras sessões e muita ansiedade.
H. Diagnósticos segundo o DSM-V
Hipótese diagnóstica de Transtorno de Ansiedade social
III. FORMULAÇÃO DE CASO
A. Precipitantes
Pelas declarações da paciente, foi possível constatar que a sua ansiedade começou
depois que sofreu bullying na escola. A partir deste momento começou a se preocupar
excessivamente com sua a aparência e comportamento, para evitar constrangimentos e
humilhações por parte das pessoas. A ausência da mãe também foi um precipitante, pois a
paciente alegou que lutou muito para conquistar o amor dela, afirmou ser prestativa e fazer
tudo que a mãe mandava. A partir do momento que ela e mãe ficaram mais próximas, a
paciente explicou que é como se o comportamento de agradar e dificuldade de dizer não se
generalizasse para outras situações (pai, professores, pastor, amigas...).
B. Visão transversal
A paciente descreveu que uma das situações sociais que lhe provocou ansiedade,
ocorreu no dia que precisou cantar na igreja, embora gostasse de cantar frequentemente, nas
últimas vezes sentiu mais ansiedade do que sentia normalmente. Os pensamentos mais
frequentes nesta situação foram: “acho que todos estão me olhando, vão perceber que estou
nervosa e vão rir de mim”, “minha mãe já está me olhando com aquela cara”. A paciente
relatou que sentiu medo e que os sintomas fisiológicos mais comuns no corpo foram: mãos
trêmulas, coração palpitante, rubor na face e respiração curta e acelerada. De modo que na
hora da apresentação, Sara começou a pigarrear constantemente para testar a garganta, se
recuou no canto do púlpito da igreja e evitou olhar para as pessoas, mas ficava
insistentemente olhando para mãe a fim de obter seu feedback (na maioria das vezes
negativo).
Sara também relatou que quando precisou fazer a prova do vestibular da UNB ficou
muito ansiosa. Os principais pensamentos ao longo do trajeto para a prova foram: “não
adianta tentar ir, sei que não vou passar, pois não estudei o suficiente, melhor ir para uma
faculdade particular, se não passar todos vão rir de mim, minha mãe vai brigar muito”. Sara
explicou que sentiu medo e que seu coração e respiração começaram a acelerar e as mãos
ficaram trêmulas. Na hora da prova, relatou que não conseguiu se concentrar e deixou muitas
questões em branco. Para evitar confrontos com a mãe, mentiu que saiu cedo da sala porque
achou a prova fácil.
Outra situação relatada por Sara, que lhe deixou muito ansiosa, foi quando a mãe
tomou seu celular e excluiu todas as suas redes sociais. A mãe fez isto porque descobriu que
Sara estava se correspondendo com um rapaz pela internet e enviou uma foto nua para ele. Os
pensamentos mais frequentes relatados foram: “ela quer me controlar, tudo ela se intromete,
não posso fazer nada, eu sou a única da escola que não tenho namorado e a culpa é dela”, “e
se ele achar que não quero falar com ele”, “ele vai achar outra namorada e me esquecer”. Sara
relatou que sentiu muita raiva da mãe. Acrescentou que a dermatite no couro cabeludo e pele
voltaram a ficar intensos e que sentiu falta de apetite e insônia. A partir deste episódio, Sara
fez outras contas nas redes sociais escondida da mãe e voltou a conversar com o rapaz que
conheceu na internet. Além disso, declarou que passou a não contar mais nada para a mãe e
que se afastou dela.
C. Visão longitudinal
Um dos fatores que contribuiu para o esquema de desamor e crença de incapacidade de
Sara, pode ser atribuído a ocorrência do bullying ao longo dos primeiros anos escolares. A
partir deste episódio, começou a temer situações de exposição, tinha medo de ser inadequada
e consequentemente ridicularizada pelas pessoas. Desse modo, Sara começou a se esquivar de
situações de exposição, quando não conseguia evitar tais situações, sua ansiedade e os
sintomas fisiológicos atrapalhavam seu desempenho. De modo que Sara mantinha sua crença
de incapacidade e de desamor. Os pensamentos mais frequentes da paciente nesta situação
eram: “se eu parecer nervosa e desajeitada todos vão rir e me achar ridícula”, “todos me
acham feia”, “sou muito magra e esquisita”.
Além disso, a mãe de Sara foi ausente e distante até seus 12 anos de idade e depois
passou a ter um comportamento controlador e extremamente crítico. Revelou temer que a
filha fizesse escolhas erradas como ela fez na adolescência (gravidez precoce). Neste período,
Sara sentia que a mãe não gostava dela e fazia de tudo para agradá-la. De modo que a
mudança de comportamento da mãe, inicialmente foi visto como positiva pela paciente. A
partir de então, Sara começou a considerar a mãe como seu suporte, pedia sua opinião para
tudo que desejava fazer, quando se sentia insegura em situações que precisaria se expor, pedia
que a mãe a acompanhasse. Quando a mãe de Sara não podia acompanhá-la, começava a ter
tais pensamentos: “eu não vou conseguir”, “sou um fracasso”, “me sinto mais segura com
minha mãe, se não souber o que falar ela me ajuda”. A opinião de Sara sobre o
comportamento da mãe começou a mudar, quando ela bloqueou suas redes sociais, e a proibiu
de se comunicar com um rapaz que conheceu na internet. O controle da mãe passou a ser visto
por Sara como excessivo e sufocante.
O comportamento da mãe pode ser considerado um mantenedor dos sintomas de Sara,
visto que aumenta sua crença de incapacidade e de desamor. Isto porque Sara não tem
oportunidade de desenvolver estratégias de enfrentamento para as situações de exposição, pois
sempre se apoiou na mãe. Além disto, passou a acreditar que para ser amada, precisaria
agradar as pessoas de forma excessiva, pois, segundo ela, foi assim que conseguiu o amor de
sua mãe. Os pensamentos mais frequentes de Sara nesta situação eram: “as pessoas não
gostam de mim”, “eu sou um fracasso”, “se eu disser não, as pessoas vão deixar de gostar de
mim”. A omissão e distanciamento do pai de Sara também é um fator de manutenção da
crença da sua crença de desamor.
D. Pontos fortes e recursos
Paciente colaborativa, engajada e motivada para terapia, as funções cognitivas estão
preservadas.
E. Hipótese de trabalho
Os julgamentos antecipados de Sara a respeito do que as pessoas iriam pensar sobre
seu comportamento em situações de exposição social e as lembranças de situações
malsucedidas, ativavam seu estado ansioso. Deste modo, Sara frequentemente planejava
formas de se esquivar. Quando Sara não conseguia se esquivar destas situações, sempre pedia
a companhia da mãe para se sentir mais segura. Normalmente, a mãe costumava tomar
iniciativa nas conversas e apresentações. Assim, sara não tinha oportunidades de desenvolver
estratégias de enfrentamento para as situações temidas. Além disso, o viés atencional de Sara
no momento de exposição focava apenas em aspectos negativos como críticas da mãe e
ignorava aspectos positivos como elogios das pessoas.
Nesse sentido, as estratégias terapêuticas consistiram inicialmente em estabilizar o
humor da paciente, por meio da resolução de metas mais urgentes e fáceis de trabalhar, a fim
de motivá-la a continuar com a terapia. Também foi trabalhado a regulação emocional, para
que Sara conseguisse reconhecer os sintomas da ansiedade e desenvolver estratégias para
amenizá-los. Outro componente importante na intervenção, diz respeito, à identificação de
pensamentos distorcidos e a reestruturação cognitiva, isto porque a atenção de Sara em
situações de exposições estava voltada para aspectos seletivos que aumentavam sua
ansiedade. Depois desta etapa, foi feito experimentos comportamentais, exposição imaginária
e ao vivo, para que a paciente conseguisse trabalhar comportamentos de habilidades sociais,
tais como assertividade e habilidades de comunicação. Contudo, a etapa mais frequente em
todas as fases do tratamento correspondeu ao treino e orientação de pais. Esta escolha se
justifica, porque o transtorno de ansiedade social da paciente estava sendo mantido pelos pais.
IV. PLANO DE TRATAMENTO
A. Lista de problemas
1-Agressividade em casa com os pais; 2-Desorganização e falta de concentração para estudar;
3-Ansiedade para lidar com situações de exposições e de desempenho (eventos, conhecer
pessoas, apresentações...); 4-Sofrimento com o fim do namoro; 5-Insatisfação com estética.
B. Objetivos do tratamento
1- Reduzir comportamento agressivo em casa com os pais; 2- Organizar e desenvolver
formas de otimizar o tempo e qualidade do estudo; 3- Diminuir ansiedade em situações de
desempenho; 4- Conseguir superar o fim do namoro; 5- Melhorar satisfação com minha
estética.
C. Plano de tratamento
A fase inicial do tratamento consistiu na psicoeducação do modelo cognitivo para a
paciente e seus pais. Posteriormente, foi trabalhado metas mais fáceis e urgentes, com o
objetivo de melhorar humor e motivação da paciente no tratamento. As metas consideradas
fáceis e urgentes trabalhadas foram: aceitar o fim do relacionamento, ficar mais satisfeita com
a estética e diminuir a agressividade com os pais. Além disso, foi importante trabalhar a
relação entre a paciente e seus pais, pois facilitou a adesão dos pais ao treinamento parental.
Para a psicoeducação foi utilizada vivências recentes do paciente e dos pais para exemplificar
o modelo cognitivo e exercícios de registro de pensamento e sentimento. Nas metas urgentes
e fáceis, o ensino de auto regulação das emoções e resolução de problemas, foram
amplamente utilizados, tais como, se afastar até a raiva passar, role play para treinar
assertividade da paciente para se comunicar com os pais. Além disto, foi feito o treino de pais
que envolveu a psicoeducação do modelo cognitivo, dos estilos parentais, da ansiedade e
modelação comportamental.
Na fase intermediária, os objetivos trabalhados foram a organização e otimização dos
estudos e diminuir a ansiedade frente a situações de exposições. Nesta etapa, era esperado
que os pais demonstrassem comportamentos mais consistentes e assertivos. Deste modo, foi
possível estabelecer regras e cronograma em família para os estudos de Sara, pois para que a
paciente tivesse êxito nesta meta, toda família precisaria estar engajada. Para a diminuição da
ansiedade de Sara frente a situações de exposições, os pais fizeram a reestruturação cognitiva
por meio do questionaria de evidências e da identificação de erros cognitivos, além disto
foram treinados para fazer o manejo comportamental nos momentos de ansiedade da filha.
Com a paciente também foi feita a reestruturação cognitiva por meio de questionário de
evidências, seta descendente, psicoeducação sobre armadilhas do pensamento e o ciclo da
ansiedade e identificação de erros cognitivos. Para diminuir resposta de esquiva e sensação
de vulnerabilidade, a paciente foi estimulada a fazer a exposição imaginária e ao vivo e role
play para desenvolver assertividade.
Na fase final, é fundamental que a paciente aprenda a ser sua própria terapeuta e
utilize as estratégias aprendidas em situações futuras que ativem suas crenças. No caso dos
pais, os objetivos é que eles sejam coterapeutas dos filhos em situação de recaída. Para tal, as
estratégias foram focadas na prevenção da recaída frente a situações de exposições e de
desempenho. Foi retomado técnicas trabalhadas ao longo da sessão, para desenvolver
estratégias de forma preventiva para futuros problemas que possam ativar suas crenças.
Também foi retomado com os pais, os conceitos de modelação, ciclo da ansiedade e estilos
parentais.
V. CURSO DO TRATAMENTO
A. Relação terapêutica
Inicialmente os pais se mostraram resistentes em participar de forma colaborativa e
ativa no tratamento da filha. Nesse sentido, a boa aliança terapêutica com a paciente foi
fundamental para a melhora dos seus sintomas, bem como no seu relacionamento com os pais.
Este fato, facilitou posteriormente a adesão dos pais ao tratamento. O principal fator que
contribuiu para a aliança terapêutica com a paciente pode ser atribuído as técnicas que
possibilitaram mudanças positivas logo no início do tratamento, aumentando a motivação e
engajamento de Sara na terapia.
B. Intervenções e procedimentos
No treinamento de pais, uma intervenção bastante utilizada, consistiu no ensino da
modelagem comportamental. Os pais prestavam atenção especialmente ao comportamento
ansioso da filha e ignoravam seu comportamento não ansioso. Deste modo, foi ensinado
formas de reforçar os comportamentos desejáveis, tais como reforçar por meio de elogios,
passeios, recompensas e fichas de economia. Nesse sentido, foi trabalhado com os pais o
manejo da ansiedade da filha no momento das situações de exposição, tais como, ouvir e
responder empaticamente às suas queixas, porém, se a queixa continuar, deveriam direcionar
a filha para uma estratégia alternativa, e desviar a atenção da queixa.
Na fase inicial do tratamento, surgiu um obstáculo relacionado à falta de pontualidade
e inconstância da mãe nas sessões. Nesse aspecto, foi trabalhado com a mãe a retomada do
contrato terapêutico e a psicoeducação sobre como os pais podem ser modelos para os filhos.
A partir de então as faltas diminuíram e a mãe passou a ser mais pontual nas sessões.
Ademais, o pai demonstrou resistência em participar do treinamento, aceitou fazer
apenas a avaliação inicial e não aceitou fazer o TP. Isto porque, tinha pensamentos
disfuncionais a respeito da terapia, tais como, “eu não preciso de terapia, não tenho nenhum
problema, o problema é a mãe”. Neste caso, foi feita a psicoeducação do modelo cognitivo,
bem como os erros cognitivos. Depois foi utilizada para a flexibilização de pensamentos
distorcidos com a técnica de evidências contra e a favor. Assim, o pai aceitou participar do
TP. Contudo, não de forma constante, a maioria as tarefas de casa foram feitas em sessão, a
tarefa de casa que teve maior êxito, consistiu no diário terapêutico de pais.
O diário terapêutico de pais (CARTAXO, 2016), teve a finalidade de trabalhar a
expressão emocional dos pais e propiciar reflexão sobre suas práticas para com a filha. Outro
objetivo consistiu em ensinar aos pais a desenvolverem formas positivas de se relacionar com
a filha, tais como, afetividade e empatia. Este instrumento foi extremamente útil para a
flexibilização das crenças parentais. A cada atividade executada, os pais traziam para a sessão
alguns pontos para serem discutidos.
Além disto, os pais tinham crenças relacionadas ao tratamento psiquiátrico e
medicamentoso para a filha, tais como, “minha filha não é louca para ir ao psiquiatra”, “ela
vai ficar dopada se tomar medicamentos”. Por meio do registro de pensamento e sentimento e
a técnica das evidências contra e a favor, os pais identificaram os erros cognitivos. Deste
modo, os pais aderiram o tratamento psiquiátrico e a medicação. A partir deste momento a
paciente demonstrou estabilidade do humor e da ansiedade, além de conseguir usufruir melhor
dos benefícios da terapia.
No decorrer do tratamento, foi observado que a família estava com problemas de
desenvolver comportamentos acordados em sessão quando estavam em casa. Assim, foi
utilizado fichas de economia para toda a família. Os pais e a paciente estabeleceram em
sessão os comportamentos que deveriam ser apresentados em casa. Foi sugerido um sistema
de pontuação para cada comportamento. Assim aqueles que alcançarem a pontuação
estabelecida poderiam receber uma recompensa acordada nas sessões. Com o sistema de
fichas de economia familiar, houve mais motivação e constância nos comportamentos
acordados pela família em sessão.
C. Obstáculos
No início da terapia os pais demonstraram resistência em participar de forma ativa e
colaborativa. Além disto, a paciente faltou muitas vezes e chegou atrasada em várias sessões.
Isto ocorreu porque a paciente dependia do transporte da mãe que tinha um comportamento
inconstante e sem pontualidade na terapia. Além disso, os pais eram coclientes. Outro fator
relevante, diz respeito a resistência dos pais em relação ao atendimento psiquiátrico.
D. Resultados
Gráfico 1: Verificação do humor com uso das Escalas Beck
GOLDIN, Philippe R. et al. Group CBT versus MBSR for social anxiety
disorder: A randomized controlled trial. Journal of consulting and clinical
psychology, v. 84, n. 5, p. 427, 2016. Disponível em:
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