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DIREITO EMPRESARIAL

DIREITO EMPRESARIAL

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DIREITO EMPRESARIAL

SUMÁRIO
■ 1. ORIGEM ................................................................................................................................................................................... 6
1.1 Conceito ............................................................................................................................................................................... 6
1.2 Nomenclatura ...................................................................................................................................................................... 6
1.2 Autonomia ........................................................................................................................................................................... 6
1.3 Evolução histórica ................................................................................................................................................................ 6
1.3.1 No Brasil ............................................................................................................................................................................ 7
1.4 Características ...................................................................................................................................................................... 7
■ 2. FONTES .................................................................................................................................................................................... 8
2.1 Conceito ............................................................................................................................................................................... 8
2.1.1 Primárias ........................................................................................................................................................................... 8
2.1.2 Secundárias ....................................................................................................................................................................... 8
3.1 Introdução............................................................................................................................................................................ 9
3.2 Princípios ............................................................................................................................................................................ 10
3.2.1 Soberania nacional .......................................................................................................................................................... 10
3.2.2 Propriedade privada ....................................................................................................................................................... 10
3.2.3 Função social da propriedade ......................................................................................................................................... 10
3.2.4 Livre concorrência e iniciativa ......................................................................................................................................... 10
3.2.5 Defesa do consumidor .................................................................................................................................................... 11
3.2.6 Defesa do meio-ambiente............................................................................................................................................... 11
3.2.7 Preservação da empresa ................................................................................................................................................. 11
■ 5. EMPRESA E EMPRESÁRIO ...................................................................................................................................................... 11
5.1 Empresa ............................................................................................................................................................................. 11
5.1.1 Perfil ................................................................................................................................................................................ 12
5.2 Empresário ......................................................................................................................................................................... 12
5.2.1 Requisitos ........................................................................................................................................................................ 12
5.2.3 Espécies ........................................................................................................................................................................... 13
5.2.4 Excluídos do conceito...................................................................................................................................................... 13
5.2.4.1 Profissionais intelectuais e artistas .............................................................................................................................. 13
5.2.4.2 Sociedades de advogados ............................................................................................................................................ 14
5.2.4.3 Atividade rural ............................................................................................................................................................. 15
5.2.4.4 Cooperativas ................................................................................................................................................................ 15
5.2.4.5 Síntese .......................................................................................................................................................................... 15
■ 6. CAPACIDADE DO EMPRESÁRIO ............................................................................................................................................. 16
6.1 Introdução.......................................................................................................................................................................... 16

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6.2 Incapacidade superveniente .............................................................................................................................................. 16
6.3 Cônjuges ............................................................................................................................................................................. 17
6.4 Empresa de responsabilidade limitada .............................................................................................................................. 17
6.4.1 Desconsideração da personalidade jurídica ................................................................................................................... 18
■ 7. OBRIGAÇÕES DO EMPRESÁRIO ............................................................................................................................................. 19
7.1 Introdução.......................................................................................................................................................................... 19
7.2 Empresário e sociedade empresária .................................................................................................................................. 19
7.3 Prepostos do empresário ................................................................................................................................................... 20
7.4 Registro da empresa .......................................................................................................................................................... 20
7.4.1 Atos do registro de empresa ........................................................................................................................................... 21
7.4.2 Inatividade ...................................................................................................................................................................... 21
7.4.3 Regimes de registro ........................................................................................................................................................ 22
7.4.4 Empresário irregular ....................................................................................................................................................... 22
7.4.5 Sociedade irregular ......................................................................................................................................................... 22
7.5 Escrituração e levantamento anual ................................................................................................................................... 23
7.5.1 Espécies de livros comerciais .......................................................................................................................................... 23
7.5.2 Livros ............................................................................................................................................................................... 23
7.5.2.1 Sigilo empresarial ......................................................................................................................................................... 25
7.5.3 Escrituração irregular ...................................................................................................................................................... 25
■ 8. ESTABELECIMENTO COMERCIAL ........................................................................................................................................... 25
8.1 Conceito ............................................................................................................................................................................. 25
8.2 Natureza ............................................................................................................................................................................. 26
8.3 Aviamento .......................................................................................................................................................................... 26
8.4 Alienação ............................................................................................................................................................................ 26
8.5 Sucessão empresarial ......................................................................................................................................................... 27
8.6 Cláusula de não-restabelecimento .................................................................................................................................... 28
8.7 Sub-rogação do adquirente ............................................................................................................................................... 28
8.8 Ponto empresarial .............................................................................................................................................................. 28
8.9 Exceção de retomada ......................................................................................................................................................... 30
8.9.1 Ação renovatória em shopping center............................................................................................................................ 30
8.10 Clientela ........................................................................................................................................................................... 31
8.11 Título do estabelecimento ............................................................................................................................................... 31
8.12 Comércio eletrônico (internet) ........................................................................................................................................ 32
■ 9. NOME EMPRESARIAL ............................................................................................................................................................ 32
9.1 Conceito ............................................................................................................................................................................. 32
9.2 Natureza ............................................................................................................................................................................. 33
9.2 Princípios ............................................................................................................................................................................ 33
9.3 Tipos ................................................................................................................................................................................... 34
9.4 Alienação ............................................................................................................................................................................ 35

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9.4 Assinatura em contratos .................................................................................................................................................... 35
9.5 Forma de utilização ............................................................................................................................................................ 35
9.6 Proteção ............................................................................................................................................................................. 37
9.7 Alteração ............................................................................................................................................................................ 37
■ 10. PREPOSTOS ......................................................................................................................................................................... 38
10.1 Introdução........................................................................................................................................................................ 38
10.2 Conceito ........................................................................................................................................................................... 38
10.2.1 Disposições legais ......................................................................................................................................................... 38
10.3 Gerente ............................................................................................................................................................................ 38
10.4 Contabilista ...................................................................................................................................................................... 39
10.5 Terceirizado...................................................................................................................................................................... 39
10.6 Representante comercial ................................................................................................................................................. 39
10.6.1 Base legal ...................................................................................................................................................................... 39
10.6.2 Cláusula de exclusividade ............................................................................................................................................. 39
10.6.3 Obrigações do representante comercial ....................................................................................................................... 40
10.6.4 Obrigações do representado ........................................................................................................................................ 40
10.6.5 Rescisão do contrato..................................................................................................................................................... 40
10.6.6 Relação de emprego ..................................................................................................................................................... 40
10.6.7 Falência ......................................................................................................................................................................... 40
10.7 Responsabilidade ............................................................................................................................................................. 40
10.8 Conclusão ......................................................................................................................................................................... 40
■ 11. PROPRIEDADE INDUSTRIAL ................................................................................................................................................. 41
11.1 Introdução........................................................................................................................................................................ 41
11.2 Dos bens protegidos ........................................................................................................................................................ 41
11.2.1 Invenção ........................................................................................................................................................................ 41
11.2.2 Modelo de utilidade ...................................................................................................................................................... 42
11.2.3 Desenho industrial ........................................................................................................................................................ 42
11.2.4 Marca ............................................................................................................................................................................ 42
11.3 Proteção ........................................................................................................................................................................... 43
11.3.1 Patente .......................................................................................................................................................................... 43
11.3.2 Registro ......................................................................................................................................................................... 44
■ 12. DIREITO SOCIETÁRIO ........................................................................................................................................................... 44
12.1 Conceitos ......................................................................................................................................................................... 44
12.2 Empresa pública e sociedade de econ. mista .................................................................................................................. 46
12.2.1 Empresa Pública ............................................................................................................................................................ 46
12.2.2 Sociedade de economia mista ...................................................................................................................................... 46
12.2.3 Semelhanças e distinções ............................................................................................................................................. 47
12.2.4 Conclusão ...................................................................................................................................................................... 47
12.3 Sociedades dependentes de autorização ........................................................................................................................ 48

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12.3 Sociedade nacional e estrangeira .................................................................................................................................... 48
12.4 Sociedade entre cônjuges ................................................................................................................................................ 49
12.5 Desconsideração da personalidade jurídica .................................................................................................................... 49
12.5 Sociedade unipessoal ....................................................................................................................................................... 50
12.6 Empresa Individual de Responsabilidade Limitada .......................................................................................................... 50
12.7 Classificação ..................................................................................................................................................................... 52
12.7.1 Sociedades não personificadas ..................................................................................................................................... 53
12.7.1.1 Sociedade comum ...................................................................................................................................................... 53
12.7.1.2 Sociedade em conta de participação ......................................................................................................................... 54

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■ 1. ORIGEM separação entre Direito Público e Direito Privado, somente


pode ser imaginada sob o ponto de vista didático.
1.1 Conceito É que a simples existência de codificação própria (o
O Direito Empresarial, antigo Direito Comercial, é o ramo Código Comercial, no caso) não basta para caracterizar a
do Direito que estuda as relações privatistas que envolvem autonomia de um ramo do Direito. Tanto é assim que não
a empresa e o empresário. Nessas relações estão o estudo apenas o Direito Empresarial, mas o Direito Civil e o Direito
da empresa, os direitos societários, as relações de títulos de Penal entre outros, dispõem de farta legislação esparsa.
créditos, as relações de direitos concorrenciais, as relações Para ter autonomia o Direito precisa ter normas próprias,
de direitos intelectuais e industriais e os contratos mercantis. princípios próprios, simplicidade das normas,
internacionalidade e institutos próprios. O Direito
1.2 Nomenclatura Empresarial os têm!
A atividade precursora do ramo do Direito que estamos De qualquer forma, o que se deve ter em mente é que
estudando foi o comércio, e por isso a nomenclatura “Direito essa divisão, essa autonomia, é meramente didática. Em
Comercial” é consagrada e tradicionalmente aceita no meio outras palavras, o Direito é um só! A divisão em Direito
acadêmico e profissional. Hoje, porém, há outras atividades Empresarial, Direito Civil, Direito Constitucional e etc. é
negociais que vão além do comércio e que também devem somente para o intuito de aprendizado.
ser disciplinadas, como a indústria, os bancos, a prestação de
serviços, entre outras. 1.3 Evolução histórica
O tradicional Direito Comercial, portanto, passou a não se O comércio é muito mais antigo que o próprio Direito
ocupar apenas do comércio, mas de praticamente qualquer Empresarial. A atividade mercantil surgiu na antiguidade, e
atividade econômica exercida com profissionalismo, intuito fez parte da realidade de inúmeras civilizações ao longo da
lucrativo e finalidade de produzir ou fazer circular bens ou história da humanidade. Na Idade Antiga, porém, apesar de
serviços. Por isso muitos sustentam que, diante dessa nova até termos notícia de normas esparsas aplicáveis à atividade
realidade, seria mais adequado utilizar a expressão “Direito mercantil, não podemos dizer que existia um Direito
Empresarial”. Empresarial, ao menos não no sentido de regime jurídico
Este caminho já vem sendo há alguns anos acolhido pela sistematizado com regras e princípios próprios.
doutrina, de forma que boa parte das obras hoje já tratam do Em Roma havia normas aplicáveis à mercancia, mas estas
Direito Empresarial, assim como as faculdades de Direito, faziam parte do Direito Privado comum, ou seja, do Direito
que, em muitos lugares, promoveram alterações na Civil. Por outro lado, durante a Idade Média o comércio
nomenclatura de suas disciplinas. Não se pode dizer, porém, atingiu um estágio mais avançado, e até podemos apontar a
que a adoção da nova nomenclatura é unânime, tanto que origem de um regime jurídico próprio das relações
autores importantes, a exemplo de Fábio Ulhôa Coelho e mercantis, em especial a partir do ressurgimento das cidades
Waldo Fazzio Jr., até hoje atualizam seus manuais utilizando (burgos) e do chamado “renascimento mercantil”.
a nomenclatura “Direito Comercial”. A realidade, porém, era bastante peculiar, pois a Idade
No mundo dos concursos públicos a nomenclatura Média, como sabemos, foi marcada pela descentralização
“Direito Empresarial” já é adotada quase unanimamente. É política, e por isso não era viável o surgimento de um regime
muito raro que apareçam editais de concurso cobrando a jurídico aplicável em muitas localidades ao mesmo tempo, já
disciplina chamando-a de “Direito Comercial”. que cada local contava com seu próprio poder político. Tal
De modo esquematizado: fenômeno levou ao surgimento de regramentos derivados
dos usos e costumes mercantis, preenchendo assim o vácuo
normativo diante da efervescência da atividade comercial. É
Nomenclatura
nesse período inicial que surgem institutos próprios do
Direito Empresarial, como os títulos de crédito (letras de
Direito Comercial (possuía esse nome câmbio), as sociedades (comendas), os contratos mercantis
Antiga devido a atividade percursora, o (contratos de seguro) e os bancos.
comércio).
O Direito Empresarial surgiu, portanto, com caráter
marcadamente subjetivista. Era o direito dos membros das
Direito Empresarial (possui atualmente corporações sempre à serviço do comerciante, ou em outras
Moderna
esse nome devido a caracterização de palavras, como um arcabouço jurídico que se aplicada aos
novas atividades, como as industriais, as mercadores filiados a determinada corporação. Como você
bancárias e etc.).
pode perceber, era um Direito feito pelos comerciantes para
os comerciantes.
1.2 Autonomia Cada corporação elegia seus cônsules, responsáveis pela
Modernamente, entende-se que o sistema jurídico é uno. aplicação do regime adotado. Após o renascimento
Qualquer divisão do Direito, inclusive em relação à clássica mercantil, o comércio foi se intensificando e esse sistema de

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jurisdição especial se difundiu das cidades italianas para toda adotando o da empresarialidade para fundamentar suas
a Europa, chegando à França, Inglaterra, Espanha e decisões.
Alemanha. Esse fenômeno levou também à ampliação da Uma outra prova de que o Direito brasileiro já vinha
competência dos tribunais consulares, alcançando negócios aproximando-se dos ideais da Teoria da Empresa pode ser
realizados entre comerciantes matriculados e não encontrada na análise da legislação esparsa editada nas
comerciantes, por exemplo. últimas décadas. O Código de Defesa do Consumidor é um
Na medida em que a Idade Média ia chegando ao fim, exemplo claro. Nele, o conceito de “fornecedor” é bem
foram surgindo os grandes Estados nacionais monárquicos, amplo, englobando todo e qualquer exercente de atividade
cada um sob o poder de um monarca absoluto, que econômica no âmbito da cadeia produtiva. Aproxima-se
centralizava em si toda a ordem jurídica a qual estavam mais, portanto, do conceito de “empresário” do que conceito
submetidos seus súditos, fossem eles comerciantes ou não. de “comerciante”.
As corporações de ofício foram, pouco a pouco, perdendo De modo esquematizado:
o monopólio da jurisdição mercantil, que foi sendo
reivindicada pelos Estados. Os tribunais de comércio,
portanto, passaram, ao longo do tempo, a ser atribuição do Teorias
poder estatal.
Em 1804 foi editado na França o Código Civil francês, e,
logo em seguida, em 1808, o Código Comercial. Podemos É de origem francesa. Considera
Teoria dos Atos de comerciante quem pratica algum
dizer que, a partir daí o Direito Comercial (atualmente Comércio dos atos de comércio estabelecidos
“Empresarial”) passou a ser definitivamente considerado em lei.
um sistema jurídico estatal, substituindo o antigo Direito
Comercial de caráter profissional e corporativista.
É de origem italiana. Considera
empresário quem pratica
1.3.1 No Brasil Teoria da Empresa profissionalmente atividade
A adoção da Teoria dos Atos de Comércio francesa pelo econômica organizada.
Direito Empresarial (por isso antigamente era chamado de
Direito “Comercial”) brasileiro fez com que ele merecesse as
mesmas críticas já apontadas acima. Com efeito, não se 1.4 Características
conseguia justificar a não incidência das normas do regime Algumas características identificam o ramo do Direito
jurídico comercial a algumas atividades tipicamente Empresarial:
econômicas e de suma importância para a atividade de
• Informalismo: como esse ramo surge para disciplinar a
“negociar”, como a prestação de serviços, a negociação
atividade dos empresários, uma atividade dinâmica e célere
imobiliária e a pecuária. Ou seja, eram atividades tipicamente
no mercado, as normas do Direito Empresarial devem
comerciais, mas que não estavam enquadradas no rol dos
evitar impor formas solenes e rígidas ou exigências
atos de comércio elencados.
excessivas para a realização dos negócios jurídicos;
Diante disso, e da divulgação das ideias da Teoria da
Empresa, após a edição do Código Civil italiano de 1942, • Cosmopolitismo: é decorrente da necessidade de
pode-se perceber uma nítida aproximação do Direito contratar, independentemente das fronteiras nacionais. O
brasileiro ao sistema italiano. A doutrina, na década de 1960, Direito Empresarial não se restringe a trocas internas de
já começa a apontar com maior ênfase as mudanças da uma nação, mas permite a contratação entre agentes
Teoria dos Atos de Comércio e a destacar os benefícios da situados em diversos países. A regulamentação dessas
Teoria da Empresa. trocas é realizada, em diversos desses casos, por
Por outro lado, a jurisprudência pátria também já convenções internacionais, as quais, de modo a garantir
demonstrava sua insatisfação com a Teoria dos Atos de uma abordagem universalista ao Direito Empresarial, foram
Comércio e sua simpatia com a Teoria da Empresa. Isto fez reproduzidas em parte na legislação nacional, como as leis
com que vários juízes concedessem concordata a pecuaristas uniformes da letra de câmbio, a nota promissória e etc.;
e garantissem a renovação compulsória de contrato de
• Onerosidade: a característica mais importante. Definida
aluguel a sociedades prestadoras de serviços, por exemplo.
como disciplina econômica, organizada e profissional
Ora, concordata e renovação compulsória de contrato de
voltada à produção e circulação de bens e serviços,
aluguel são institutos típicos do regime jurídico comercial, e
pressupõe-se que os atos sejam praticados com a finalidade
estavam sendo aplicados a negociantes que não se
lucrativa. Como realizada a atividade profissionalmente, o
enquadravam, perfeitamente, no conceito de comerciante
empresário aufere rendimentos em razão desta, de modo
adotado pelo Direito positivo brasileiro daquela época.
que se presume que os diversos atos e contratos celebrados
Tratava-se de um grande avanço, a jurisprudência estava
são onerosos.
afastando o ultrapassado critério da mercantilidade e

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DIREITO EMPRESARIAL
De modo esquematizado: comerciais, no caso de haver lacunas legislativas, as primeiras
normas a serem recorridas seriam as de Direito Civil. Porém
outros discordam completamente dizendo que não há lugar
Características para leis civis no Direto Empresarial.
Como fontes secundárias citam-se também os usos
Suas normas devem evitar impor comerciais, amplamente utilizados atualmente, fundados
Informalismo formas solenes e rígidas ou aos olhares dos comerciantes da Idade Média,
exigências excessivas para a
realização dos negócios jurídicos. tradicionalmente utilizados pelo Direito Empresarial como
subsídio de suas normas. Nossa legislação deu preferência ao
uso das leis civis sobre os usos e costumes, então, no caso
de lacuna ou omissão da lei comercial, será utilizada
Não se restringe a trocas internas de
Cosmopolitismo primeiramente a lei civil, e na ausência desta, os usos e
um país.
costumes. No entanto, consta no regulamento nº 737/1850:

Disciplina econômica, organizada e Art. 22. Os usos comerciais preferem às leis civis nas
Onerosidade profissional voltada à produção e questões sociais e nos casos expressos no código.
circulação de bens e serviços.

A legislação é omissa quanto à diferenciação entre usos e


costumes. Assim é que, por exemplo, o Código Comercial usa
■ 2. FONTES indistintamente os vocábulos “uso” e “costume”, quando não
se socorre de outras expressões, como “uso” e “prática
2.1 Conceito mercantil”, “estilo” e “uso do comércio”, “usos do comércio”,
O vocábulo “fontes” advém do latim “fons”, que significa “usos comerciais” e etc. Entretanto essa distinção se faz
“vertente” ou “nascedouro”. As principais fontes jurídicas em tendo em conta que o uso é a simples repetição de fato da
geral são as leis, os costumes, a jurisprudência, os princípios mesma espécie. Mas, se esse uso tem por objeto estabelecer
gerais do Direito e a doutrina. Porém não existe uma relações jurídicas entre pessoas, transforma-se em costume.
convergência de opiniões dos autores sobre tal matéria, Os usos e costumes são comumente definidos como
alguns consideram apenas as leis e os costumes, excluindo as sendo as normas/regras observadas uniforme, pública e
demais fontes apontadas. constantemente pelos comerciantes de uma praça e por
No Direito Empresarial brasileiro, a maioria dos autores estes consideradas como juridicamente obrigatórias para, na
costuma dividir as fontes do Direito Empresarial em dois falta de lei, regularem determinados negócios. Ou seja, são
tipos. Observe: comportamentos que as pessoas têm no âmbito das
• Primárias: são as leis comerciais (aqui se inclui os tratados relações comerciais que são tidos como obrigatórios, assim,
e os regulamentos comerciais); na falta de uma lei regulamentadora, eles regulam
determinado fato. Por exemplo, o cheque pré-datado.
• Secundárias: são as leis civis, os usos e os costumes (civis e O costume necessita, para existir, de dois elementos. O
comerciais). primeiro é a prática constante de seu fim por todos os
membros de uma sociedade e o segundo é que tal prática
2.1.1 Primárias seja uma obrigação, como se ocupasse o papel de uma
Têm-se então como principal fonte as leis comerciais. No norma jurídica. Porém, para que os usos e costumes sejam
Brasil, o Código Comercial foi dado pela lei nº 556/1850, que legítimos, devem possuir os seguintes requisitos como
é considerada um monumento de nossa cultura jurídica. prescreve o regulamento nº 737/1850:
Além do código citado existe também o regulamento nº
737/1850 que estabeleceu as regras do processo comercial. Art. 25. Serem conforme aos princípios da boa-fé e das
A legislação comercial compreende não apenas o Código máximas comerciais; não serem contrários às disposições
Comercial, mas também as leis extravagantes, os do Código Comercial ou de lei comercial subsequente.
regulamentos e tratados comerciais que o modificaram ou o
acresceram.
Tal requisito se faz necessário, pois deve ser levado em
2.1.2 Secundárias conta um elemento de ordem moral, pois não serão
admitidos usos e costumes que, mesmo sendo lícitos, não
A utilização de leis civis como fonte do Direito
forem honestos. Tanto que em nosso Direito se faz menção
Empresarial é um tanto quanto discutida. Para uns as leis civis
a não possibilidade de uso de costumes “contra legem”, ou
servem como complementação direta em relação às regras
seja, contra a lei, mas somente dos costumes “secundum

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DIREITO EMPRESARIAL
legem” e “praeter legem”.
Existe também uma diferença quanto aos usos. Que se
■ 3. PRINCÍPIOS
diferenciam em: usos propriamente ditos (também 3.1 Introdução
chamados “usos legislativos” ou de “usos de direito”), que No Brasil a ordem econômica é disciplinada por um
são os a que alude o art. 22 do regulamento nº 737/1850 e conjunto de princípios expressos no art. 170 da Constituição
usos interpretativos (também chamados de “usos de fato” Federal e também outros pressupostos pela doutrina. Acerca
ou “usos convencionais”), que são os originados da prática daqueles, o art. 170 dispõe:
espontânea dos comerciantes em suas relações, decorrendo
a sua eficácia da vontade presumida das partes que, por meio Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização
deles, manifestam-se. A distinção é de grande importância, do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
pois o uso comercial propriamente dito, equivalendo à lei, assegurar a todos existência digna, conforme os ditames
obriga as partes, o uso interpretativo não prevalecerá se da justiça social, observados os seguintes princípios:
provar que outra era a intenção dos contratantes.
I - soberania nacional;
O juiz pode aplicar os usos comerciais caso as partes não
o tenham alegado. Caso o juiz não alegue tais usos, cabe a II - propriedade privada;
quem os invoca provar sua existência. Como determina o III - função social da propriedade;
Código de Processo Civil. Observe: IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
Art. 337. A parte que alegar Direito municipal, estadual, VI - defesa do meio ambiente;
estrangeiro ou consuetudinário provar-lhe-á o teor e a VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
vigência, se assim determinar o juiz. VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas de
Quem regulamenta os usos e costumes comerciais no pequeno porte constituídas, sob as leis brasileiras e que
Brasil são as Juntas Comerciais. tenham sua sede e administração no país.
Quanto ao assunto estudado, de modo resumido:
Assim, o Estado tem como objetivo impor normas e
regular as atividades econômicas por meio da fiscalização, de
Fontes
incentivo e planejamento (sendo o Brasil caracterizado como
uma economia de mercado), em conjunto com as normas
que regem o sistema econômico nacional. Nesse sentido, o
Primárias Leis, regulamentos e tratados comerciais. Estado atua sob a premissa de que o mesmo atua de forma
indireta ou indiretamente nas situações de relevância, nas
quais impera a segurança do Estado e os interesses coletivos,
ou seja, a intervenção do Poder Público é fundamental para
Secundárias Leis civis. resolver questões que possam comprometer a ordem
econômica do país.
Vale ressaltar que a ordem econômica se fundamenta na
Usos e costumes. valoração do trabalho humano e na livre iniciativa,
garantindo a todos uma existência digna e direcionando
através dos princípios, a ordem econômica, tendo como base
Analogia. a função social.
A Constituição Federal de 1988 foi promulgada
apresentando uma estrutura sólida no que concerne à ordem
Jurisprudência. econômica do país e comparando com as Constituições
anteriores. Assim sendo, suprimiu o caráter
intervencionista, vigente até então, adotando um modelo
Princípios gerais do Direito. liberal, no qual se aderiu ao sistema capitalista
descentralizado baseado na economia de mercado.
O que sustenta e regula o sistema econômico brasileiro
Doutrina. são os arts.170 a 192 da Constituição Federal, trazendo os
fundamentos da ordem econômica, informadores de toda
atividade econômica.
Embora o sistema econômico adotado no Brasil seja o
modo de produção capitalista e neoliberal, a Constituição

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DIREITO EMPRESARIAL
Federal permite que o Estado intervenha para que os Assim, a ordem econômica resguarda especificamente a
agentes que atuam no mercado cumpram os elementos propriedade dos fatores de produção, que sustenta o
sócio-ideológicos expressos na Constituição Federal. sistema capitalista.
Verifica-se que existe uma distinção entre a propriedade
3.2 Princípios e os fatores de produção e que no Brasil não se observa um
Observe a seguir os princípios norteadores da atividade controle absoluto da propriedade, uma vez que a
comercial listados na Constituição Federal. propriedade privada existe com o objetivo de atingir um fim
mais amplo, qual seja a função social da propriedade.
3.2.1 Soberania nacional
A soberania nacional é um requisito essencial para a 3.2.3 Função social da propriedade
constituição do Estado, e está expressa na Constituição A função social da propriedade, prevista no inc. III do art.
Federal, como um dos principais fundamentos da república. 170 da Constituição Federal, caracteriza-se como uma
Nesse contexto, Clóvis Beviláqua enfatiza que por soberania restrição ao princípio da propriedade privada, abordado
nacional entende-se o que representa a autoridade superior, anteriormente, permitindo a intervenção do Estado sobre a
que sintetiza, politicamente, e segundo os preceitos de propriedade que deixa de cumprir sua função social. Através
Direito, a energia coativa do agregado nacional. desse princípio, a propriedade deve exercer sua função
O princípio da soberania nacional apresenta econômica, ou seja, deve ser utilizada para geração de
particularidade específica da soberania econômica do riqueza, garantia de trabalho, recolhimento de tributos ao
Estado, caracterizando-se como o poder do Estado, para Estado, e principalmente, para promover o desenvolvimento
interferir e dirigir a ordem econômica, nos aspectos em que econômico.
for de seu interesse ou da coletividade. O proprietário tem o direito de uso e gozo de sua
A soberania deve ordenar a busca pela efetivação dos propriedade, mas em compensação, essa propriedade deve
objetivos do Estado, ou seja, pelo desenvolvimento, e exercer a função social, estabelecida pela lei.
atingindo a finalidade das atividades econômicas, bem como José Afonso da Silva assevera que o art. 170, em seu inc.
propiciar meios para que se desenvolva políticas públicas III, ao elencar a função social da propriedade como princípio
com o objetivo de colocar o Brasil em condições iguais da ordem econômica, possui como caráter principal, uma
perante outras nações no contexto econômico global. ferramenta destinada à realização da existência digna de
todos e da justiça social.
3.2.2 Propriedade privada
A Constituição Federal em seu art. 5º, XXII, contempla o 3.2.4 Livre concorrência e iniciativa
princípio da propriedade privada, garantindo aos indivíduos A livre concorrência é garantida pela Constituição Federal
nacionais que sua propriedade é de responsabilidade de e se estrutura na economia nacional. O constituinte observou
cada um, ou seja, o Estado não tem poderes para interferir, a importância de esforços no sentido de estimular a presença
sem motivos justos, na atividade econômica do país. contínua das empresas particulares, além da vontade de
Entretanto, o art. 170 da Constituição Federal aborda de participar conjuntamente com o país, do desenvolvimento,
forma mais específica este princípio, sob o aspecto dos meios do progresso, oferecendo condições para garantir força para
de produção, inseridos na ordem econômica e financeira. De atuar, sem esquecer a livre concorrência, representada pelas
acordo com a orientação capitalista seguida pelo micro e pequenas empresas.
constituinte, o princípio do respeito à propriedade privada, A livre iniciativa se relaciona com o ideal de liberdade
especialmente dos bens de produção, propriedade sobre a econômica, e seu reconhecimento pela ordem jurídica visa
qual se funda o capitalismo, temperado, contudo, de acordo assegurar aos indivíduos a livre escolha da atividade que
com o inc. IV, pela necessária observância à função social, a queiram desenvolver para seu sustento e limitar a atuação
ser igualmente aplicada à propriedade dos bens de produção. do Estado no campo das opções econômicas dos agentes.
Dessa forma, a propriedade mencionada no art. 170 da O princípio da livre iniciativa prevê que a todos se
Constituição Federal, refere-se a um conjunto de bens assegura o livre exercício de qualquer atividade econômica,
componentes do estabelecimento empresarial, que de independentemente de autorização dos órgãos públicos,
acordo com o Código Civil, é todo o complexo de bens salvo nos casos previstos em lei.
organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou A liberdade de iniciativa compreende tanto o direito de
por sociedade empresária. Observe: acesso ao mercado, como o direito de cessação da atividade
econômica. Os agentes econômicos devem ser livres para
produzir e colocar seus produtos no mercado, ações que
Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo conseguem desenvolver graças ao princípio da livre
complexo de bens organizado, para exercício da empresa, concorrência, que a todos assegura a liberdade dos
por empresário, ou por sociedade empresária. mercados.

10
DIREITO EMPRESARIAL
3.2.5 Defesa do consumidor nº 11.101/2005, a famosa “Lei de Falência e Recuperação de
O princípio da defesa do consumidor assevera que nas Empresas”.
relações de consumo, a atividade econômica deve proteger Basicamente tal princípio se fundamenta na função social
o consumidor. Assim, o Estado dita as leis, atos e sentenças, da empresa, considerando que há interesse social em sua
e os agentes econômicos são regulados por princípios e preservação. A circulação de bens e serviços é interessante
regras estatais. para a sociedade como um todo, pois movimenta a economia
O aumento das relações de consumo gerou a necessidade do país, gerando empregos e rendas e, por isso, mesmo
de se aperfeiçoar o regime jurídico que tratava desse diante de situações de crise, como a falência, deve-se buscar
aspecto, estabelecendo normas de proteção e defesa do ao máximo preservar a empresa. É por isso que a lei nº
indivíduo, constituindo um importante instrumento de 11.101/2005 dá preferência, por exemplo, a alienação do
cidadania. estabelecimento empresarial por completo, de forma a
Em 1990, um importante passo foi dado para a proteção possibilitar a continuidade do negócio sob nova
do consumidor no Brasil. A lei nº 8.078/1990 instituiu o administração.
Código de Defesa do Consumidor, que demonstrou o Estado Quanto ao assunto estudado, de modo resumido:
preocupado com os direitos do consumidor, que passaram a
ser assegurados constitucionalmente. O Código de Defesa do
Princípios
Consumidor objetiva constituir um equilíbrio entre os atores
econômicos, na medida em que atestam a vulnerabilidade e
fragilidade do consumidor. O Brasil é uma autoridade superior. O
Soberania
Estado tem o poder de interferir e dirigir
Nacional
a economia.
3.2.6 Defesa do meio-ambiente
O crescimento econômico, consequência de esforços pelo
A propriedade é de responsabilidade de
desenvolvimento das nações é um aspecto atual, contudo, os Propriedade
cada um. O Estado não pode interferir
meios utilizados para o alcance das metas de crescimento privada
sem motivo justo.
vêm degradando o meio-ambiente, indispensável para a
sobrevivência dos seres humanos e um direito da
A propriedade deve exercer sua função
coletividade. social (ser fonte de geração de riqueza,
Função social
É de grande importância o crescimento de uma nação, trabalho, tributos e etc.).
desde que se realize de maneira sustentável e consciente,
aliando o desenvolvimento socioeconômico com a
preservação do meio-ambiente. Iniciativa e O indivíduo é livre para escolher a
concorrência atividade econômica que deseja exercer.
Sob esse aspecto, as políticas públicas voltadas para o
meio-ambiente devem ser observadas como ferramentas
para gestão consciente dos recursos naturais, e não como
Na realização da atividade econômica, o
inibidoras de desenvolvimento. Consumidor
consumidor deve ser protegido.
Com isso, torna-se necessário analisar a eficácia da
proteção do Direito brasileiro ao meio-ambiente, no que
concernem as ações lesivas, do dano e do nexo com a fonte A atividade econômica deve ser exercida
Meio
poluidora do meio-ambiente, tendo como base o que ambiente
de modo sustentável, protegendo o meio-
assegura o art. 225 da Constituição Federal, no qual todos ambiente.
têm direito ao meio-ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de Deve-se buscar, a todo momento,
vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever Preservação preservar (manter funcionando) a
empresa.
de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.
A defesa do meio-ambiente é de suma importância, e
como princípio, caracteriza o que se pode chamar de ■ 5. EMPRESA E EMPRESÁRIO
“desenvolvimento sustentável”. 5.1 Empresa
O Código Civil de 2002, a partir da ideia de unificação do
3.2.7 Preservação da empresa Direito Privado, adotou a moderna Teoria da Empresa, em
O princípio da preservação da empresa, por sua vez, é um substituição a antiga Teoria dos Atos de Comércio, e por isso
dos mais alardeados pela doutrina especializada na em seus dispositivos percebemos claramente o uso das
atualidade. A difusão desse princípio levou a relevantes expressões “empresa” e “empresário”, em vez de “atos de
alterações legislativas nos últimos anos, como é o caso da lei comércio” e “comerciante”, como ocorria na legislação

11
DIREITO EMPRESARIAL
anterior. bens ou de serviços.
Caso esse conteúdo ainda esteja meio “nebuloso”, Quanto ao assunto estudado, de modo resumido:
relembro que, segundo a Teoria dos Atos de Comércio,
estariam submetidas as regras do Código Comercial todos os Objetivo (a empresa é o
que praticassem atividades que o ordenamento jurídico estabelecimento).
classificasse como atos de comércio. Em outras palavras,
podemos dizer que o antigo Código Comercial trazia uma
lista de atividades que eram consideradas comércio. Subjetivo (a empresa é o
empresário).
A partir do novo Código Civil, porém, nosso ordenamento
Teoria Perfis
adotou a Teoria da Empresa, segundo a qual a empresa seria
um fenômeno econômico poliédrico, correspondendo a Corporativo (a empresa é a
atividade econômica organizada para a produção ou para a comunidade laboral).
circulação de bens ou de serviços.
O art. 966 do Código Civil define o conceito de Funcional (a empresa é uma
“empresário” e não o da “empresa”. Observe: atividade).

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce


profissionalmente atividade econômica organizada para a
5.2 Empresário
produção ou a circulação de bens ou de serviços. O conceito de “empresário” está estabelecido no Código
Civil como mencionado anteriormente. Observe:

Extrai-se do texto legal que a empresa não é um objeto


ou estabelecimento e sim uma atividade exercida pelo Art. 966. Considera-se empresário quem exerce
empresário, em caráter profissional, para a produção ou profissionalmente atividade econômica organizada para a
circulação de bens e serviços. produção ou a circulação de bens ou de serviços.
Juridicamente, o conceito de “empresa” não se identifica
com seu conceito vulgar, em que se chama de “empresa” o Em suma, portanto, o empresário é a pessoa (física ou
conjunto de bens ou o estabelecimento. Pelo Código Civil, o jurídica) que exerce, com profissionalismo, uma atividade
conceito preponderante de “empresa” é o de “atividade”e econômica organizada para a produção ou a circulação de
não o de “bem”. A empresa é a atividade econômica bens ou de serviços. A empresa é a atividade empresarial
profissional e organizada desempenhada pelo empresário. cuja organização é feita pelo empresário, sendo, ele, assim,
sujeito do Direito Empresarial.
5.1.1 Perfil Assim, a empresa é uma atividade e o empresário é
Por ser clássico e constante nos manuais de Direito quem exerce a atividade (empresa). Observe:
Empresarial, vale mencionar o conceito de “empresa”, como
um fenômeno econômico poliédrico, ou seja, possui diversas
facetas. Segundo esta definição, a empresa apresenta alguns
É o sujeito que exerce a
perfis distintos. Observe: Conceito Empresário
atividade de empresa.
• Objetivo: empresa seria o estabelecimento comercial, ou
seja, o conjunto de bens (corpóreos e incorpóreos)
afetados para o desenvolvimento da atividade empresarial; 5.2.1 Requisitos
Os requisitos para ser considerado empresário são:
• Subjetivo: empresa seria o empresário, aquele que
organiza e desenvolve a atividade econômica, com • Profissionalismo: é compreendido sob alguns aspectos:
assunção de risco;
→ Habitualidade: será empresário aquele que exercer
• Corporativo: a empresa seria a reunião do empresário e atividade econômica de forma profissional, fazendo
dos empregados em função de um fim econômico comum; dessa atividade sua profissão habitual;
• Funcional: seria a atividade econômica organizada dirigida → Pessoalidade: deve contratar mão-de-obra para
a uma determinada finalidade produtiva. ajudá-lo na atividade;
Feita a análise, fica fácil perceber que o perfil adotado → Monopólio de informações: deve deter
pelo Código Civil é o perfil funcional para definir o conceito conhecimentos (acerca das técnicas de produção,
de “empresa”, sendo conceituada como uma atividade mercadorias, serviços, mercado e etc.);
econômica organizada para a produção ou a circulação de
• Atividade econômica: a atividade empresarial é exercida

12
DIREITO EMPRESARIAL
com intuito de obtenção de lucro; Cabe salientar que a EIRELI é uma empresa com
responsabilidade limitada, uma pessoa jurídica, mas não é
• Organizada: deve articular os fatores de produção
sociedade. É uma exceção!
(exemplo: capital, insumos, mão-de-obra e etc.);
• Produção ou circulação de bens ou serviços: deve haver a 5.2.4 Excluídos do conceito
produção ou circulação de bens ou serviços. Essas atividades não se confundem com as atividades
empresariais e não se submetem à legislação comercial,
sendo reguladas pelas regras do Direito Civil. Observe a
5.2.3 Espécies
seguir quais atividades foram excluídas do conceito de
O empresário poderá ser:
empresa.
• Pessoa física: exerce a atividade econômica organizada e
profissional, e é chamado de “empresário individual”. Esse, 5.2.4.1 Profissionais intelectuais e artistas
como não tem personalidade distinta, possuirá As atividades intelectuais, de natureza científica, literária
responsabilidade ilimitada pelas obrigações contraídas ou artística, como, por exemplo, de advogados, médicos,
como empresário (ou seja, se contrair dívidas, seu professores, músicos e atores, ainda que contem com o
patrimônio pessoal poderá ser usado para saldá-las). O concurso de auxiliares ou colaboradores não são
empresário individual poderá ter CNPJ (cadastro nacional consideradas atividades empresariais. Assim, não ficam
de pessoas jurídicas) para se beneficiar de regime fiscal sujeitas a legislação comercial e sim sujeitas a legislação civil.
diferenciado, mas ainda assim será pessoa física e não Apesar de produzirem produtos e serviços, os
pessoa jurídica; profissionais liberais e artistas terminaram sendo excluídos
• Pessoa jurídica: a atividade empresarial também poderá do conceito de “empresário” porque suas atividades, ao
ser desenvolvida por pessoa jurídica. A pessoa jurídica menos em regra, não envolvem a organização dos diversos
poderá ser sociedade ou não. A EIRELI é uma pessoa fatores de produção.
jurídica, mas não é sociedade, pois é composta por um Em outras palavras, a atividade desenvolvida pelo
único integrante. Fundamental para a consideração da próprio agente, que individualmente realiza todo o processo
atividade como empresário é o modo pelo qual ela criativo. Entretanto, observe o que dispõe a parte final
exercida, e não o registro em si. São sociedades parágrafo único do art. 966 do Código Civil:
empresárias as sociedades que desempenham atividades
típicas de empresário e, portanto, atividade econômica Parágrafo único. Não se considera empresário quem
organizada e profissional para a produção e circulação de exerce profissão intelectual, de natureza científica,
bens ou serviços. Exceção a essa regra ocorre com as literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares
cooperativas, as quais serão, independentemente da ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão
atividade realizada, sempre pessoas jurídicas não constituir elemento de empresa.
empresárias. Do mesmo modo, nunca serão empresárias
as sociedades formadas por advogados, por expressa
previsão no Código de Ética. Por outro lado, Assim, se a pessoa que exerce profissão intelectual, de
independentemente também do objeto social, as natureza científica, literária ou artística constituir elemento
sociedades anônimas são sociedades sempre de empresa, será considerado empresário. Temos então que
empresariais. se o profissional, mesmo exercendo atividade intelectual,
organizar os meios de produção, como capital, equipamentos
Para concluir a questão, podemos afirmar que empresário e a prestação de terceiros, sua atividade perderá o caráter
é o gênero, do qual são espécies o empresário individual e a puramente pessoal, adotando o empresarial.
sociedade empresária. Observe: Por exemplo, um médico que, ao realizar um diagnóstico
ou uma cirurgia, desenvolve atividade intelectual e, portanto,
não deveria ser considerado empresário. Por outro lado, se
Empresário
este mesmo médico incorporar em sua prestação a
organização dos fatores de produção, como capital, trabalho
e equipamentos em um hospital, sua prestação perde o
Empresário individual Sociedade empresária caráter de pessoalidade, a ponto de o hospital ou a pessoa
física que o organiza ser considerada como empresária. De
igual modo, é empresário, um ator que se tornou dono de um
Pessoa física. Pessoa jurídica. empreendimento de caça-talentos, e um professor que se
tornou dono de cursinho preparatório para vestibulares.
As sociedades simples, também chamadas de
Não há a separação Há a separação de
de patrimônios. patrimônios. “sociedades uniprofissionais”, são aquelas constituídas por

13
DIREITO EMPRESARIAL
profissionais intelectuais cujo objeto é justamente a parte de uma sociedade e titularizar uma sociedade
exploração de suas profissões. É o caso de uma sociedade de unipessoal ao mesmo tempo. Essas vedações, porém, estão
médicos para prestação de serviços médicos, ou de uma restritas à sede ou filial que se encontre na área territorial do
sociedade de arquitetos para prestar serviços de arquitetura. mesmo Conselho Seccional da OAB. Observe:
É por essa unidade de propósito que elas são chamadas
“uniprofissionais”, e não porque sejam constituídas por
Art. 15. Os advogados podem reunir-se em sociedade
apenas uma pessoa.
simples de prestação de serviços de advocacia ou
O que define uma sociedade como simples ou
constituir sociedade unipessoal de advocacia, na forma
empresária, portanto, é o seu objeto social, que nada mais é
disciplinada nesta lei e no regulamento geral.
do que o conjunto das atividades às quais a sociedade se
§ 1º A sociedade de advogados e a sociedade
dedica. Essa regra, porém, tem duas exceções, que são
unipessoal de advocacia adquirem personalidade jurídica
justamente a sociedade por ações (que é sempre empresária)
com o registro aprovado dos seus atos constitutivos no
e a cooperativa (que é sempre sociedade simples).
Conselho Seccional da OAB em cuja base territorial tiver
sede.
5.2.4.2 Sociedades de advogados § 2º Aplica-se à sociedade de advogados e à sociedade
Importante também ressaltar que os advogados, ainda unipessoal de advocacia o Código de Ética e Disciplina, no
que organizem os fatores de produção para o desempenho que couber.
de sua atividade, não exercem empresa, por força do art. 5º § 3º As procurações devem ser outorgadas
do Código de Ética Profissional da OAB. Observe: individualmente aos advogados e indicar a sociedade de
que façam parte.
Art. 5º. O exercício da advocacia é incompatível com § 4º Nenhum advogado pode integrar mais de uma
qualquer procedimento de mercantilização. sociedade de advogados, constituir mais de uma
sociedade unipessoal de advocacia, ou integrar,
simultaneamente, uma sociedade de advogados e uma
A constituição de sociedade de advogados, que é sempre sociedade unipessoal de advocacia, com sede ou filial na
uma sociedade simples, obedece a normas específicas, com mesma área territorial do respectivo Conselho Seccional.
o arquivamento dos seus atos constitutivos na OAB, § 5º O ato de constituição de filial deve ser averbado no
conforme previsão específica do estatuto. registro da sociedade e arquivado no Conselho Seccional
A partir do estatuto também é possível a criação de onde se instalar, ficando os sócios, inclusive o titular da
sociedade unipessoal de advocacia. É um instituto que sociedade unipessoal de advocacia, obrigados à inscrição
obedece à mesma lógica básica da EIRELI, mas obviamente suplementar.
sem o elemento empresarial, contando com apenas um § 6º Os advogados sócios de uma mesma sociedade
titular para o exercício da atividade. profissional não podem representar em juízo clientes de
Esse instituto veio possibilitar que o advogado que atua interesses opostos.
sozinho também possa usufruir dos benefícios do regime § 7º A sociedade unipessoal de advocacia pode resultar
tributário de simples nacional, regulamentado pela lei da concentração por um advogado das quotas de uma
complementar nº 123/2006. Até então apenas as sociedades sociedade de advogados, independentemente das razões
de advogados poderiam ser enquadradas no regime fiscal de que motivaram tal concentração.
simples nacional, o que deixava muitos advogados de fora
simplesmente porque preferiam atuar sozinhos.
Chamo sua atenção para as peculiaridades das sociedades Temos também as regras do art. 16, segundo o qual não
simples de advogados, que são objeto dos arts. 15 a 17 da lei pode haver registro de sociedades de advogados que
nº 8.906/1994. apresentem formas ou características de sociedades
Em primeiro lugar você deve saber que as sociedades de empresárias, denominação de fantasia (denominação social
advogados devem ter seus atos constitutivos registrados no ou nome de fantasia), atividades estranhas à advocacia ou
Conselho Seccional da OAB de onde tiver sede a sociedade. que incluam como sócio ou titular pessoa não inscrita como
Além disso, a sociedade não pode exercer a advocacia advogado ou proibida de exercer a advocacia.
por conta própria, devendo a procuração ser outorgada a Também, salienta-se que o nome utilizado pela sociedade
advogado específico, mencionando a sociedade da qual ele unipessoal de advocacia é necessariamente o nome do
faz parte. titular, completo ou parcial, seguido da expressão
Tambem, salienta-se que um mesmo advogado não pode “Sociedade Individual de Advocacia”.
compor mais de uma sociedade de advogados. Em outras
palavras, um mesmo advogado só pode fazer parte de uma
sociedade ou titularizar apenas uma sociedade unipessoal.
Não é possível estar em mais de uma sociedade ou fazer

14
DIREITO EMPRESARIAL
Observe o art. 16: regulado pela legislação civil (Direito Civil). Observe:

Art. 16. Não são admitidas a registro, nem podem Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua
funcionar todas as espécies de sociedades de advogados sua principal profissão, pode, observadas as formalidades
que apresentem forma ou características de sociedade de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer
empresária, que adotem denominação de fantasia, que inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da
realizem atividades estranhas à advocacia, que incluam respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará
como sócio ou titular de sociedade unipessoal de equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito
advocacia pessoa não inscrita como advogado ou a registro.
totalmente proibida de advogar.
§ 1º A razão social deve ter, obrigatoriamente, o nome
De modo esquematizado:
de, pelo menos, um advogado responsável pela
sociedade, podendo permanecer o de sócio falecido,
desde que prevista tal possibilidade no ato constitutivo. Empresário rural
§ 2º O licenciamento do sócio para exercer atividade
incompatível com a advocacia em caráter temporário
deve ser averbado no registro da sociedade, não Será considerado empresário, ficando
Com registro
alterando sua constituição. sujeito as regras do Direito Empresarial.
§ 3º É proibido o registro, nos cartórios de registro civil
de pessoas jurídicas e nas juntas comerciais, de sociedade
que inclua, entre outras finalidades, a atividade de Sem registro Não será considerado empresário, ficando
advocacia. sujeito as regras do Direito Civil.
§ 4º A denominação da sociedade unipessoal de
advocacia deve ser obrigatoriamente formada pelo nome
do seu titular, completo ou parcial, com a expressão 5.2.4.4 Cooperativas
“Sociedade Individual de Advocacia”. Como já sabemos, a cooperativa nunca será considerada
empresária, independentemente de seu objeto. Isso ocorre
basicamente porque a cooperativa não tem o intuito
Por fim, deve ser observado o disposto no art. 15 que lucrativo, sendo constituída para prestar serviços aos
explicíta que nos casos em que houver danos aos clientes, associados, nos termos do art. 4º da lei nº 5.764/1971. A
em virtude de ação ou omissão no exercício da atividade atividade econômica desenvolvida pela cooperativa,
advocatícia, a sociedade, o sócio e o titular da sociedade portanto, visa ao proveito comum dos cooperados. Se
individual de advocacia responderão por eles (danos), e ainda houver lucro, este será dividido entre todos os cooperados.
ficam sujeitos a responsabilidade disciplinar. Observe: Não confunda! O produtor rural pode submeter-se ao
regime jurídico empresarial, registrando-se no Registro
Art. 17. Além da sociedade, o sócio e o titular da Público de Empresas Mercantis, mas a cooperativa nunca
sociedade individual de advocacia respondem subsidiária será considerada empresária, seja qual for seu objeto.
e ilimitadamente pelos danos causados aos clientes por
ação ou omissão no exercício da advocacia, sem prejuízo 5.2.4.5 Síntese
da responsabilidade disciplinar em que possam incorrer. Quanto ao assunto estudado, de modo resumido:

5.2.4.3 Atividade rural Excluídos do conceito de “empresário”


O art. 971 do Código Civil confere aos produtores rurais a
possibilidade ou não de se registrarem em Junta Comercial
Pois, em regra, não organizam fatores de
da respectiva sede, hipótese em que ficarão equiparados ao Intelectuais produção (exemplo: mão-de-obra e etc).
empresário e submetidos à legislação comercial se optarem
pelo registro.
O Código de Ética e Disciplina proíbe a
Se optarem por não requererem a inscrição junto ao Advogados mercantilização da profissão.
registro de empresa, não serão considerados empresários e
o regime será o do Direito Civil.
Serão sempre sociedade civis, pois visam o
O registro do empreendedor rural na Junta Comercial é, Cooperativas bem do cooperado, e não o lucro.
portanto, facultativo e não obrigatório. Se o agente se
registrar, a atividade irá ser regulada pela legislação
Poderão se registrar ou não como
comercial (Direito Empresarial). Se não se registrar irá ser Produtores rurais
empresários. É uma faculdade.

15
DIREITO EMPRESARIAL

■ 6. CAPACIDADE DO EMPRESÁRIO exercício de uma nova atividade empresarial.


Por exemplo, “A”, empresário individual, foi submetido a
6.1 Introdução exame por junta médica que atestou ser ele portador de
De acordo com o Código Civil, podem exercer atividade grave esquizofrenia, qualificando-o como permanentemente
empresarial os que estiverem em pleno gozo da capacidade incapaz de gerir os próprios negócios. Por essa razão, “B”, pai
civil e não forem impedidos pela lei. São impedidos pela lei de “A”, ajuizou pedido de interdição, com o objetivo de ser
de exercerem atividades próprias de empresário: falido não- nomeado seu curador e gerir seus negócios da vida civil.
reabilitado (o reabilitado pode); condenados onde a pena Neste caso, tendo em vista que o civilmente incapaz poderá,
vede o acesso à atividade; servidores públicos; magistrados; por representação (se absolutamente incapaz) ou assistência
membros do Ministério Público; deputados e senadores; (se relativamente incapaz), continuar a atividade empresarial
militares da ativa. exercida por ele antes de declarada sua incapacidade
As obrigações assumidas pelo legalmente impedido não (somente continuar, não pode exercer nova atividade), “B”,
são nulas, ao contrário, têm plena validade em relação a se nomeado judicialmente curador, poderá exercer atividade
terceiro que com ele contrate. Caso a pessoa proibida de empresária em nome do filho interditado. Observe:
exercer a atividade de empresário praticar tal atividade,
deverá responder pelas obrigações contraídas, podendo até
ser declarada falida. Por exemplo, “A” é servidor público e Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante
também exerce pessoalmente atividade econômica ou devidamente assistido, continuar a empresa antes
organizada sem ter sua firma inscrita em uma Junta exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo
Comercial. Mesmo “A” sendo, pela lei, considerado impedido autor de herança.
(em virtude de ser servidor público), são válidas tanto as
obrigações assumidas no exercício da empresa, quanto as Os bens que o incapaz já possuía, ao tempo da sucessão
estranhas a essa atividade e por elas “A” responderá ou da interdição, desde que não afetados ao exercício da
ilimitadamente. atividade empresarial, não ficarão sujeitos ao resultado da
De modo esquematizado: empresa, isto é, não poderão ser executados em decorrência
das obrigações assumidas no exercício de empresa. Em razão
disso, no alvará judicial que conceder a autorização para que
Capacidade
o incapaz continue o exercício de empresa deve constar a
relação de bens do incapaz, conforme o § 2º do mesmo
dispositivo. Observe:
Impedidos Falídos (se não estiverem reabilitados).

§ 2º Não ficam sujeitos ao resultado da empresa os


Condenados (se a pena vedar o acesso). bens que o incapaz já possuía, ao tempo da sucessão ou
da interdição, desde que estranhos ao acervo daquela,
devendo tais fatos constar do alvará que conceder a
Funcionários públicos.
autorização.

Membros do Ministério Público. Se o curador também for considerado impedido, o


curador nomeará, com a aprovação do juiz, um ou mais
gerentes. Por exemplo, “A”, empresária individual, teve sua
Magistrados.
interdição decretada pelo juiz a pedido de “B”, seu pai, em
razão de ter sofrido acidente de trânsito, entrando em estado
Deputados e senadores.
de coma, causa esta que a impede de exprimir sua vontade.
Sabendo-se que “B”, servidor público na ativa, foi nomeado
curador de “A”, é possível a concessão de autorização judicial
Militares (somente os ativos). para o prosseguimento da empresa de “A”. Porém, diante do
impedimento de “B” (já que ele é, pela lei, considerado
impedido em virtude de ser servidor público), para exercer
6.2 Incapacidade superveniente atividade de empresário, ele nomeará, com a aprovação do
No caso da incapacidade superveniente (aquela juiz, um ou mais gerentes.
incapacidade que atingiu o sujeito que originalmente era
capaz) o Código Civil só admite a continuidade do exercício
de empresa pelo incapaz antes de declarada sua
incapacidade, não permitindo que o incapaz inicie o

16
DIREITO EMPRESARIAL
Teremos então: Agora as proibições:

Continuação da empresa Comunhão universal.

Ordem Incapaz.
Proibído Regime

Pais ou autor da herança.


Separação obrigatória.

Um ou mais gerentes.
O empresário casado necessita de outorga conjugal, ou
Observe o resto dispositivo legal: seja, obrigatoriedade do consentimento do outro cônjuge
para alienar os imóveis que integram o patrimônio da
empresa ou para gravá-los de ônus real (penhorá-los)?
§ 3º O Registro Público de Empresas Mercantis a cargo
Observe:
das Juntas Comerciais deverá registrar contratos ou
alterações contratuais de sociedade que envolva sócio
incapaz, desde que atendidos, de forma conjunta, os Art. 978. O empresário casado pode, sem necessidade
seguintes pressupostos: de outorga conjugal, qualquer que seja o regime de bens,
I - o sócio incapaz não pode exercer a administração da alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa
sociedade; ou gravá-los de ônus real.
II - o capital social deve ser totalmente integralizado;
III - o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o Então, como explicitado acima, o empresário casado
absolutamente incapaz deve ser representado por seus pode, sem necessidade de outorga conjugal (aprovação do
representantes legais. cônjuge), qualquer que seja o regime de bens, alienar os
imóveis que integrem o patrimônio da sua empresa ou
gravá-los de ônus real. Por exemplo, “A” pode, sem
Para finalizar, as Juntas Comerciais deverão registrar
necessidade de aprovação de “B”, seu cônjuge, qualquer que
contratos ou alterações contratuais de sociedade que
seja o regime de bens, penhorar os seus imóveis que
envolva sócio incapaz, desde que atendidos todos os
integram o seu estabelecimento.
seguintes pressupostos: o sócio incapaz não pode
administrar a sociedade; o capital social deve ser
totalmente integralizado; o incapaz deverá ser assistido ou 6.4 Empresa de responsabilidade limitada
representado. A lei nº 12.441/2011, a chamada “Lei da EIRELI”, alterou
o Código Civil para permitir a constituição da “empresa
individual de responsabilidade limitada”. A empresa
6.3 Cônjuges
individual de responsabilidade limitada, prevista no art. 980-
O marido e a esposa podem contratar sociedade
A do Código Civil, será constituída por uma única pessoa
empresária entre si ou com terceiros? Depende. O marido e
titular da totalidade do capital social, devidamente
a esposa podem contratar sociedade comercial se casados
integralizado, com a responsabilidade limitada ao valor do
nos regimes de bens de comunhão parcial, participação final
capital social. Observe:
nos aquestos ou separação convencional.
Há proibição de contratação de sociedade entre marido e
mulher ou ambos com terceiro na mesma sociedade se forem Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade
casados no regime da comunhão universal e da separação limitada será constituída por uma única pessoa titular da
obrigatória. Observe: totalidade do capital social, devidamente integralizado,
que não será inferior a 100 vezes o maior salário-mínimo
Comunhão parcial.
vigente no país.

Assim, pela nova lei, existirá empresa com um único


Permitido Regime Participação final nos aquestos. titular desde que observados alguns requisitos.
Primeiro, deverá ser incluso a expressão “EIRELI” após a
firma ou denominação social (nome empresarial).
Separação convencional. Em seguida, deverá o capital social não será inferior a

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DIREITO EMPRESARIAL
100 vezes o maior salário-mínimo vigente no país. admitidas pelo juiz como motivo para que os bens pessoais
Por fim, o titular somente poderá figurar em uma única de “A” sejam atingidos, como por exemplo, em um
empresa dessa modalidade. pagamento de multa.
De forma esquematizada: Devido a proteção patrimonial que possui a pessoa
jurídica, em muitas situações ela (pessoa jurídica) utiliza-se
desse benefício para se desviar de seus princípios e fins,
Empresa individual de responsabilidade limitada cometendo fraudes e abusos. Por este motivo, no intuito de
coibir os possíveis abusos e desvios que poderão ser
cometidos pelas pessoas jurídicas em razão da autonomia e
Expressão “EIRELI” presente no final do
nome empresarial.
proteção patrimonial, foi criada a “Teoria da
Desconsideração da Personalidade Jurídica”.
A desconsideração da personalidade jurídica permite
Capital social não inferior a 100 vezes o
Requisitos superar a separação entre os bens da empresa e dos seus
maior salário mínimo vigente no Brasil.
sócios para determinar obrigações.
O Código de Defesa do Consumidor dispõe que o juiz
Só pode haver um único titular. poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade
quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de
direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito
Por exemplo, “A” e “B” pretendem reunir esforços para ou violação dos estatutos ou contrato social. A
empreender uma atividade econômica, constituindo uma desconsideração também será efetivada quando houver
empresa individual de responsabilidade limitada. O nome da falência, estado de insolvência, encerramento ou
empresa será “AB automóveis EIRELI” e terá o capital social inatividade da pessoa jurídica provocados por má
inicial de aproximadamente R$200.000,00. “A” indicará “B” administração. Com relação à esta desconsideração da
como administrador. “A”, contudo, somente poderá figurar personalidade jurídica do empresário é preciso compreender
como titular em uma única empresa dessa modalidade. duas diferentes teorias.
Enquanto o empresário individual responde A primeira teoria é a chamada “Teoria Maior”, adotada
ilimitadamente com seu patrimônio pessoal pelas obrigações pelo art. 50 do Código Civil. Esse artigo dispõe que em caso
decorrentes da atividade econômica empresarial, o de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo
empresário que constitui uma empresa individual de desvio de finalidade (exemplo: sócio usa a sociedade como
responsabilidade limitada responde pelas dívidas da empresa “fachada”, apenas para proteger seu patrimônio), ou pela
somente com o patrimônio da empresa, sendo que este não confusão patrimonial (exemplo: o administrador, ao invés de
se confunde com o patrimônio da pessoa natural que a possuir duas contas-correntes, uma para a sociedade e outra
constitui, ou seja, os patrimônios não se misturam. Assim, se particular para ele, usa somente uma) pode o juiz decidir, a
o empresário individual contrair dívidas, para saudá-las terá requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe
que usar seu patrimônio pessoal caso não tenha dinheiro em couber intervir no processo, que os efeitos de certas e
caixa. Já na empresa individual de responsabilidade limitada, determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos
como o próprio nome já dispõe, a responsabilidade é bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa
limitada, assim, caso o indivíduo contraia dívidas, para saudá- jurídica. Em outras palavras, além de se verificar um abuso
las ele usará o patrimônio da própria empresa e não o seu na utilização da personalidade jurídica, deve se caracterizar
particular. o desvio de finalidade ou a confusão patrimonial. Se não se
Por fim, é bom salientar que se aplicam à empresa caracterizar nenhuma dessas situações, não se pode
individual de responsabilidade limitada, no que couber, as desconsiderar a personalidade jurídica, ainda que a pessoa
regras previstas para as sociedades limitadas. jurídica seja insolvente, por exemplo. Daí o nome de “Teoria
Maior”, pois ela exige a verificação de mais requisitos. Eis o
6.4.1 Desconsideração da personalidade jurídica dispositivo:
É importante lembrar, no entanto, que a empresa
individual de responsabilidade limitada também está sujeita Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica,
à desconsideração da personalidade jurídica, de modo que caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão
nas hipóteses admitidas pela lei, o patrimônio pessoal do patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte,
empresário poderá ser atingido para responder pelas ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no
dívidas da empresa. Por exemplo, “A” consultou “B”, seu processo, que os efeitos de certas e determinadas
advogado, com o intuito de constituir uma empresa relações de obrigações sejam estendidos aos bens
individual de responsabilidade limitada. Após constituir a particulares dos administradores ou sócios da pessoa
empresa, “A” violou diversas leis prejudicando os jurídica.
consumidores de seus produtos. As condutas poderão ser

18
DIREITO EMPRESARIAL
Já a “Teoria Menor” é adotada pelo art. 28 do Código de empresários. Vendo a chance de ganhar muito dinheiro, eles
Defesa do Consumidor, que assim dispõe: são responsáveis por reunir recursos financeiros, sendo
próprio ou de terceiros, mão-de-obra, insumo e tecnologia,
para produzir bens e serviços que sejam úteis a sociedade.
Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade
Tal atividade não é fácil de ser realizada e também não é
jurídica da sociedade quando, em detrimento do
garantido o lucro ou o sucesso dessa organização, mas é um
consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder,
risco assumido pelo empresário que vê a chance de lucrar ao
infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos
atender uma demanda de uma quantidade considerável de
ou contrato social. A desconsideração também será
pessoas. É necessário vocação e competência para estruturar
efetivada quando houver falência, estado de insolvência,
qualquer tipo de atividade e viabilizar a oferta de todos esses
encerramento ou inatividade da pessoa jurídica
recursos ao mercado consumidor de maneira competitiva e
provocados por má administração.
atingindo a qualidade necessária para agradar seus
compradores. Os empresários devem mensurar e atenuar os
Veja que o juiz pode desconsiderar a personalidade riscos para que tenham alguma chance de sucesso pois uma
jurídica ainda que não tenha havido confusão patrimonial atividade econômica está sujeita a diversos fatores que
ou desvio de finalidade, basta que se configure alguma das podem fazê-los perder todo o capital investido. Muitas vezes
hipóteses previstas no art. 28. Daí o nome de “Teoria Menor”, esses fatores podem nem ser de responsabilidade deles, que
pois ela exige menos requisitos para ser aplicada. estão sujeitos a crises econômicas que podem também os
Por fim, você precisa saber que a jurisprudência do STJ levar ao fracasso.
consolidou o entendimento de que a desconsideração da O exercício dessa atividade econômica organizada de
personalidade jurídica pode ser feita a qualquer tempo no fornecimento de bens e serviços é denominada de “empresa”
processo. Isso pode ser feito, inclusive, mesmo que os sócios e o Direito Empresarial cuida desse exercício com o objetivo
atingidos não tenham participado da lide e sequer tenham de resolver eventuais problemas e conflitos envolvendo
sido citados ao longo do processo. Não é necessária, assim, empresários ou relacionado às empresas que exploram.
nenhuma lide autônoma, basta o pedido, em uma petição, Quanto ao assunto estudado, de modo resumido:
geralmente na fase de execução ou de cumprimento de
sentença, para que o juiz, convencido das alegações da parte,
decrete a desconsideração. O atingido, caso entenda que a Obrigações

desconsideração é prejudicial, injusta ou indevida, pode se


manifestar nos autos, após eventualmente sofrer algum ato
de constrição. 1ª Arquivar os atos constitutivos na Junta Comercial.
De modo esquematizado:

Teoria 2ª Escriturar os livros empresariais obrigatórios.

Tem como requisitos: abuso da


Maior personalidade + desvio de finalidade ou Levantar, periódicamente, o balanço patrimonial e

confusão patrimonial. de resultado econômico da empresa.

Menor Tem como requisitos: abuso da


personalidade. 7.2 Empresário e sociedade empresária
O empresário pode ser pessoa física ou jurídica. Caso o
empresário seja uma pessoa física será chamado de
■ 7. OBRIGAÇÕES DO EMPRESÁRIO “empresário individual”. Se o empresário for pessoa jurídica,
chamar-se-á “sociedade empresária”.
7.1 Introdução Um erro comum é pensar que os sócios da sociedade
Dentre outros, os atos praticados tido como obrigação do empresária são outros empresários, o que está errado. O
empresário são: arquivar seus atos constitutivos na Junta empresário neste caso é a própria sociedade empresária, a
Comercial; escriturar os livros empresariais obrigatórios; própria pessoa jurídica com personalidade autônoma. Os
levantar, periodicamente, o balanço patrimonial e de sócios da sociedade empresária serão os empreendedores ou
resultado econômico da empresa. investidores dela. As regras aplicadas ao empresário
As pessoas vocacionadas a gerenciar os fatores de individual não se aplicam aos sócios da sociedade
produção e transformando uma atividade em uma empresária.
verdadeira organização econômica especializada são os

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DIREITO EMPRESARIAL
Assim, temos: de Registro Empresarial e Integração. Cabe a ela, dentre
outras funções, a execução do registro de empresa (ou
• Empresário individual: é a pessoa física;
seja, cabe a ela o registro da empresa).
• Sociedade empresária: é a pessoa jurídica;
Em questões de Direito Empresarial, a subordinação
• Sócio: empreendedor ou investidor. hierárquica da Junta Comercial diz respeito ao Departamento
de Registro Empresarial e Integração. Já em termos de Direito
O empresário individual explora atividades
Administrativo e de Direito Financeiro, diz respeito ao Poder
economicamente menos importantes, geralmente negócios
Executivo estadual em que faz parte.
rudimentares e marginais, muitas vezes ambulantes.
A Junta Comercial, só pode negar registro caso ocorra
Atividades economicamente de maiores proporções ficam
algum vício formal, sempre sanável. Caso se recuse a
reservadas as sociedades empresárias anônimas ou
registrar por outro motivo ou por imposição de um requisito
limitadas, justamente por ser o tipo societário que melhor
não presente no ordenamento jurídico vigente, pode o
lida com perdas, pois quanto maior a atividade, mais difícil é
prejudicado recorrer ao Poder Judiciário.
desempenhá-la e maior a chance de fracasso.
Quanto ao assunto estudado, de modo resumido:
Existem dois casos em que o exercício de uma atividade
empresarial é vedado em relação a uma pessoa física. Uma
trata da capacidade da pessoa (que deve estar em pleno gozo Orienta, fiscaliza e estabelece
de sua capacidade civil) e a outra refere-se à proteção de normas gerais para as Juntas
DREI Comerciais efetuarem os
terceiros e se manifesta em proibições ao exercício da
registros.
empresa.

7.3 Prepostos do empresário Composição


Como já dito anteriormente, para ser empresário, é
necessário a contratação de mão-de-obra, um dos fatores de
produção. Esses trabalhadores são chamados de “prepostos” Junta Comercial
É o órgão que de fato efetua o
e seus atos praticados em estabelecimento comercial registro empresarial.
relacionados a atividade econômica desempenhada ali,
obrigam o empresário preponente. Os prepostos também
estão proibidos de concorrer com seu preponente sem sua Continuando, observe o art. 969 do Código Civil:
autorização expressa, respondendo por perdas e danos,
podendo até configurar-se crime de concorrência desleal.
Art. 969. O empresário que instituir sucursal, filial ou
7.4 Registro da empresa agência, em lugar sujeito à jurisdição de outro Registro
De acordo com o Código Civil: Público de Empresas Mercantis, neste deverá também
inscrevê-la, com a prova da inscrição originária.

Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no


Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva Veja os conceitos:
sede, antes do início de sua atividade. • Filial: sociedade empresária que atua sob a direção e
administração de outra, chamada de “matriz”, mas
O registro das empresas está estruturado de acordo com mantém sua personalidade jurídica e seu patrimônio;
a lei nº 8.934/1994, a chamada “Lei do Registro de • Agência: empresa especializada em prestação de serviços,
Empresas”. O registro das empresas trata-se de um sistema que atua como intermediária no negócio;
integrado por 2 (dois) órgãos de níveis diferentes, um federal
e outro estadual, o Departamento de Registro Empresarial e • Sucursal: é o ponto de negócio acessório, responsável por
Integração e a Junta Comercial, respectivamente. Observe: tratar dos negócios naquela localidade, e
administrativamente subordinado ao ponto principal.
• Departamento de Registro Empresarial e Integração: é o
órgão máximo do sistema. Suas funções são orientar e Nos 3 (três) casos deve haver novo registro no local onde
fiscalizar as Juntas Comerciais. Por essas atribuições, fica a filial, agência ou sucursal for estabelecida. Por exemplo, se
claro que o órgão não tem funções executivas (não realiza a sociedade empresária “A”, localizada em São Paulo decide
os registros em si), mas deve fixar as diretrizes gerais para abrir uma filial no Rio de Janeiro, deverá efetuar novamente
o ato do registro, feito pelas Juntas Comerciais, o registro na Junta Comercial de lá. Cabe aqui mencionar
acompanhando a sua aplicação e corrigindo distorções; também a questão do domicílio do empresário, que é
definido por seus atos constitutivos, por ocasião do registro
• Junta Comercial: é o órgão subordinado ao Departamento na Junta Comercial. Por outro lado, você também deve saber

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DIREITO EMPRESARIAL
que a súmula nº 363 do STF determina que a pessoa jurídica da lavratura do respectivo ato constitutivo. Ao contrário, se
de Direito Privado pode ser demandada no domicílio da os documentos forem levados a registro após os 30 dias da
agência ou estabelecimento em que se praticou o ato. Por lavratura do ato constitutivo, o registro opera efeito “ex
exemplo, se uma empresa com sede em São Paulo e filial em nunc”, produzindo efeito a partir da data de sua concessão.
Pernambuco é acionada judicialmente por “A”, um cliente, Observe:
nada mais natural do que esse cliente buscar o Poder
Judiciário no local onde se deu o negócio objeto da
Até 30 dias O registro retroage.
controvérsia, não é mesmo? Não seria razoável imaginar que
ele seria obrigado a deslocar-se até São Paulo para mover
ação judicial na sede da empresa.
Registro

Súmula nº 363 do STF


A pessoa jurídica de Direito Privado pode
Após 30 dias O registro não retroage.
ser demandada no domicílio da agência ou
Tome nota! estabelecimento em que se praticou o ato.

7.4.2 Inatividade
7.4.1 Atos do registro de empresa O empresário individual e sociedade empresária que não
São 3 (três) os atos de registro de empresa: procederem a qualquer arquivamento na Junta Comercial
no período de 10 anos e não comunicarem o órgão que
• Matrícula: é o ato de inscrição dos auxiliares do comércio
ainda se encontram em atividade, terá como consequência
(exemplo: leiloeiros, tradutores públicos, intérpretes
o cancelamento do registro e a perda da proteção do nome
comerciais, trapicheiros e administradores de armazéns-
empresarial.
gerais). São profissionais que desenvolvem atividades
A inatividade da empresa autoriza a Junta Comercial a
paracomerciais;
proceder ao cancelamento do registro, com a consequente
• Arquivamento: é a inscrição do empresário individual bem perda da proteção do nome empresarial pelo titular inativo.
como à constituição, dissolução e alteração contratual das Exige a lei que a Junta Comercial comunique previamente
sociedades empresárias; o empresário acerca da possibilidade do cancelamento,
podendo fazê-lo por edital. Se atendida a comunicação,
• Autenticação: referente aos instrumentos de escrituração,
desfaz-se a inatividade. No caso de não atendimento, efetua-
que são os livros comerciais e as fichas escriturais. É a
se o cancelamento do registro, informando-se o fisco
condição de regularidade do documento. É autenticar os
(Estado). Se, no futuro, o empresário pretender reativar o
livros.
registro, deverá obedecer aos mesmos procedimentos
De modo esquematizado temos: relacionados com a constituição de uma nova empresa, ou
seja, deverá refazer o registro de novo, não tendo o direito
de reivindicar o mesmo nome empresarial anteriormente
Atos adotado, caso este tenha sido registrado por outro
empresário.
No caso de sociedade empresária, do cancelamento do
Matrícula É a inscrição dos auxiliares do comércio. registro por inatividade não decorre a sua dissolução, mas
apenas a irregularidade na hipótese de ela continuar
funcionando. A sociedade com arquivamento cancelado não
É a inscrição do empresário individual, bem
deve necessariamente entrar em liquidação, mas sobrevêm
Arquivamento como a constituição, dissolução e alteração as consequências do exercício irregular da atividade
contratual da sociedade empresária. empresarial, caso os sócios não a encerrem.
De modo esquematizado temos:

Autenticação É o ato de autenticar os livros empresariais.


Cancelamento

Se não houver qualquer arquivamento


durante 10 anos e o empresário/sociedade
Os documentos necessários para o registro na Junta Funcionamento
empresária não comunicar que está em
Comercial deverão ser apresentados no prazo de até 30 dias, atividade.
contado da lavratura dos atos respectivos. Se observado o
prazo, o registro opera efeito “ex tunc”, retroagindo à data

21
DIREITO EMPRESARIAL
7.4.3 Regimes de registro se verá em momento oportuno, além dessas consequências,
São dois regimes de execução do registro de empresa, o deve-se acrescentar a responsabilidade pelas obrigações
da decisão colegiada e o singular: sociais solidária e ilimitada dos sócios, respondendo
diretamente aquele que, dentre estes, administrou a
• Decisão colegiada: processa-se pelo regime da decisão
sociedade.
colegiada os atos de arquivamento relacionado com a Além das consequências acima referidas, verdadeiras
sociedade anônima, tais como estatuto, atas e etc. além do
sanções reservadas pelo Direito Empresarial aos empresários
arquivamento da transformação, incorporação, fusão e
irregulares, podem ser aplicados os seguintes efeitos
cisão de sociedade empresária de qualquer tipo. São dois secundários do exercício da empresa sem o necessário
os órgãos colegiados, o plenário e as turmas; registro na Junta Comercial: impossibilidade de participar de
• Singular: é feito pelo presidente da Junta Comercial ou licitações nas modalidades de concorrência pública e tomada
pelo vogal por ele designado, com o prazo de 2 (dois) dias. de preço; impossibilidade de inscrição em cadastros fiscais
A decisão singular compreende a matrícula, a autenticação (exemplo: CNPJ, CCM e etc.), com as decorrentes sanções
e todos os demais arquivamentos. pelo descumprimento dessa obrigação tributária acessória;
ausência de matrícula junto ao INSS (na hipótese de
sociedade empresária, a falta da matricula no INSS também
7.4.4 Empresário irregular acarreta a proibição de contratar com o Poder Público).
É empresário o exercente profissional de atividade
econômica organizada para a produção de bens ou serviços, 7.4.5 Sociedade irregular
independentemente se é ou não registrado. Porém, os
As sociedades simples e as sociedades empresárias, estão
empresários não registrados, não poderão usufruir dos
em condição de irregularidade registral quando não há
recursos que o Direito Empresarial o disponibiliza.
contrato escrito, não há registro e a desatualização em vista
O registro no órgão próprio não é da essência do conceito
de alteração substancial. Observe, a sociedade:
de “empresário”. Será empresário o exercente profissional
de atividade econômica organizada para a produção ou • Simples: tem o prazo de 30 dias para fazer o registro a
circulação de bens ou serviços, que esteja ou não inscrito no partir do início das atividades;
registro das empresas. Entretanto, o empresário não • Empresária: deve fazer o registro antes do início das
registrado não pode desfrutar dos benefícios que o Direito
atividades.
Empresarial libera em seu favor. Ele é considerado
empresário mesmo sem registro, mas, será um empresário A consequência da irregularidade é a responsabilidade
“irregular”, ao qual se aplicam as seguintes restrições: pessoal e solidária dos sócios sobre as obrigações, seguindo
as regras de sociedades em comum. Em outras palavras, caso
• Não tem legitimidade ativa para o pedido de falência de
o registro dessas sociedades esteja irregular não haverá
seu devedor: somente o empresário inscrito na Junta
distinção entre o patrimônio delas e dos sócios, ou seja, caso
Comercial e que exiba o comprovante desta inscrição está elas contraiam dívidas, o patrimônio particular dos sócios
em condições de postular a falência de outro empresário. poderá ser utilizado para solver as obrigações.
O irregular, embora não possa requerer a falência de outro
Além da responsabilidade recair sobre a pessoa natural,
exercente de empresa, pode ter a sua própria falência
diretamente sobre os bens pessoais no caso do empresário
requerida por outra empresa; individual e empresas de responsabilidades limitadas
• Não tem legitimidade ativa para requerer a recuperação irregulares, ou solidariamente no caso das sociedades
judicial: na medida em que a lei elege a inscrição no simples e sociedades empresárias irregulares, a
Registro Público de Empresas Mercantis como condição irregularidade acarreta outras consequências como: não
para ter acesso ao favor legal; poder pedir a falência de terceiros (pode sofrer, mas o
registro é necessário para pedir a falência de outras
• Não pode ter os seus livros autenticados: em virtude da
empresas); não poder se beneficiar da recuperação judicial;
falta de inscrição. Desta maneira, não poderá se valer da
não poder participar de licitações e etc.
eficácia probatória que a legislação processual atribui a
São, de fato, uma forma de punição para o exercício
esses instrumentos.
irregular, o legislador pensou muito bem neste quesito, é
• Se for decretada a sua falência, esta será necessariamente importante a regularidade e essas impossibilidades fazem
fraudulenta: assim, incorrendo o empresário no crime com que se incentive ainda mais que se leve à registro as
falimentar previsto no art. 178 da Lei de Recuperação atividades empresárias.
Judicial e Extrajudicial e de Falência. Ainda quanto à obrigação de inscrever-se, o Código Civil a
considera apenas uma faculdade para aquele cuja principal
Essas são as consequências que advêm do exercício de
profissão é a atividade rural. Este pode requerer inscrição no
atividade empresarial por pessoa natural sem regular
Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede,
inscrição. Quando se tratar de sociedade empresária, como

22
DIREITO EMPRESARIAL
caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado ao Em suma, é manter uma espécie de “contabilidade”. A
empresário e estará sujeito a registro. escrituração é uma forma de o próprio empresário avaliar
De modo esquematizado, com relação ao empresário seus resultados e desempenhos, assim tem função de
individual e a sociedade empresária, as restrições são, natureza gerencial. Outra função está relacionada
basicamente, as seguintes: à necessidade de demonstrações dos resultados para outras
pessoas, que tem natureza documental. Ainda, a
escrituração serve para exercer o controle da incidência e do
Irregularidade pagamento dos impostos, ou seja, tem também função fiscal,
a qual deve ser realizada por pessoas especializadas.
Não pode pedir a falência de seu devedor
Consequências 7.5.1 Espécies de livros comerciais
(mas os outros podem pedir a dele).
Os livros podem ser classificados, em razão da
obrigatoriedade de sua escrituração, em obrigatórios ou
Não pode pedir recuperação judicial. facultativos. Todos os empresários e as sociedades
empresárias, exceto os pequenos empresários, são
obrigados a escriturar os seus livros seguindo um sistema de
Não pode autenticar seus livros. contabilidade, mecanizado ou não, de forma uniforme, em
correspondência com a documentação respectiva. O número
e a espécie de livros ficarão (salvo disposto no art. 1.180 do
Não pode pedir a própria falência. Código Civil) a critério dos interessados, conforme o art.
1.179 do mesmo diploma. Observe:

Não pode participar de licitações. Art. 1.179. O empresário e a sociedade empresária são
obrigados a seguir um sistema de contabilidade,
mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme
Não pode se matricular junto ao INSS. de seus livros, em correspondência com a documentação
respectiva, e a levantar anualmente o balanço
patrimonial e o de resultado econômico.
Não pode se inscrever em cadastros
§ 1º Salvo o disposto no art. 1.180, o número e a
fiscais.
espécie de livros ficam a critério dos interessados.
§ 2º É dispensado das exigências deste artigo o
Os sócios terão a responsabilidade pequeno empresário a que se refere o art. 970.
ilimitada.

7.5.2 Livros
7.5 Escrituração e levantamento anual São classificados em dois grupos:
Assim como o registro público, a escrituração mercantil
consiste em outra obrigação a que todos os empresários • Obrigatórios: livros cuja escrituração é imposta a todos
estão sujeitos. Desse modo, o exercício regular da atividade empresários e sociedades empresárias que devem mantê-
empresarial pressupõe a devida escrituração dos negócios los devidamente escriturados, sob pena de sanção.
em que participam os empresários, valendo-se, para tanto, Subdividem-se em:
do livro mercantil, como instrumento hábil a registrar tais
negócios. → Comuns: são adotados pelos empresários e
Ou seja, além de arquivarem seus atos constitutivos na sociedades empresárias indistintamente. Por
Junta Comercial, o empresário e a sociedade empresária exemplo, o livro-diário;
devem também seguir um sistema de contabilidade, → Especiais: são adotados pelos empresários e
mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de sociedades empresárias de categorias específicas.
seus livros, em correspondência com a documentação Por exemplo, o livro de registro de duplicata (para
respectiva, bem como levantar, periodicamente, o balanço empresário que emite duplicata), o livro de ata de
patrimonial e de resultado econômico da empresa. As assembleias gerais e o livro de transferência de
consequências decorrentes do descumprimento são: sanção ações nominativas (para sociedades anônimas), o
penal; dificuldade de acesso ao crédito bancário ou a outros livro de entrada e saída de mercadoria (para
serviços prestados pelos bancos; não poderá participar de empresário que explora armazém-geral) e etc.
licitação promovida pelo Poder Público; não poderá
impetrar concordata preventiva e etc. • Facultativos: livros cuja escrituração auxilia o empresário e

23
DIREITO EMPRESARIAL
a sociedade empresária no controle do exercício da Por exemplo, se o empresário individual “A” é acusado
atividade empresarial, não lhes sendo aplicável sanção em pelo empresário individual “B” de inadimplência (falta de
caso de não escrituração. Por exemplo, o livro-caixa, o livro pagamento), ele pode usar os livros para provar que os
contracorrente, o livro-razão e etc. pagamentos estão em dia. O raciocínio inverso também é
válido, “A” pode usar os livros para pleitear uma ação por
De forma simplificada temos:
falta dos pagamentos de “B”. Ainda, também, o Código Penal
os equipara a documentos públicos. Observe:
Livros
A escrituração é imposta. Pode ser Art. 297. Falsificar, no todo ou em parte, documento
comum (é obrigatório para qualquer tipo público, ou alterar documento público verdadeiro
de empresário e sociedade empresária)
Obrigatórios
ou especial (é obrigatório somente para Pena - reclusão, de 2 a 6 anos, e multa.
algumas espécies de empresários e § 2º Para os efeitos penais, equiparam-se a documento
sociedades empresárias). público o emanado de entidade paraestatal, o título ao
portador ou transmissível por endosso, as ações de
sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento
A escrituração é facultativa. O ato particular.
apenas auxilia o empresário/sociedade
Obrigatórios empresária. Neste caso, a falta de
escrituração não acarreta qualquer Contra o empresário, o livro empresarial faz prova
sanção. mesmo que não esteja corretamente escriturado. Por outro
lado, para fazer prova a favor do empresário, o Código de
Processo Civil exige a escrituração correta.
Assim, conforme vimos antes, é obrigação imposta a todo De modo esquematizado temos:
empresário, seja individual ou sociedade empresária, o dever
de manter de forma regular, detalhada e periódicamente um Pode estar escriturado
Contra
sistema de escrituração contábil, além de levantar, incorretamente.
anualmente, 2 (dois) balanços financeiros, o patrimonial e o
de resultado econômico.
Escrituração

Pequeno empresário
O pequeno empresário está dispensado de
A favor Deve estar escriturado corretamente.
manter escrituração de seus negócios, mas
Tome nota! se achar conveniente, poderá adotar o
sistema simplificado, usando regularmente Essa escrituração correta deve obedecer aos requisitos do
2 (dois) livros. São eles, o livro caixa e o livro art. 1.183 do Código Civil, segundo o qual a escrituração será
de registro de inventário. feita em idioma e moeda corrente nacionais e em forma
contábil, por ordem cronológica de dia, mês e ano, sem
Tais livros apresentam tamanha importância que o intervalos em branco, nem entrelinhas, borrões, rasuras,
Código de Processo Civil lhes confere eficácia probatória, ou emendas ou transportes para as margens.
seja, a possibilidade de se provar algo com eles. Observe:
Força probatória
Art. 378. Os livros comerciais provam contra o seu A força probatória dos livros empresariais é
autor. É lícito ao comerciante, todavia, demonstrar, por relativa, sendo possível que sua veracidade
todos os meios permitidos em direito, que os Tome nota! seja questionada por outros meios de
lançamentos não correspondem à verdade dos fatos. prova.

Agora o art. 79: Observe abaixo a redação do dispositivo do Código Civil:

Art. 379. Os livros comerciais, que preencham os Art. 970. A lei assegurará tratamento favorecido,
requisitos exigidos por lei, provam também a favor do seu diferenciado e simplificado ao empresário rural e ao
autor no litígio entre comerciantes. pequeno empresário, quanto à inscrição e aos efeitos daí
decorrentes.

24
DIREITO EMPRESARIAL
Como desdobramento da ideia geral da regra de
favorecimento do pequeno empresário, o § 2º do art. 1.179 I - na liquidação de sociedade;
o dispensou das exigências de escrituração. II - na sucessão por morte de sócio;
A redação do art. 970, entretanto, foi infeliz, pois utilizou III - quando e como determinar a lei.
a expressão “pequeno empresário”, enquanto a própria
Constituição Federal e a legislação posterior utilizam os
termos “microempresa” e “empresário de pequeno porte”. E agora o art. 421:
A maior parte dos doutrinadores vinha entendendo que a
regra do Código Civil era abrangente, atingindo tanto os Art. 421. O juiz pode, de ofício, ordenar à parte a
microempresários quanto os empresários de pequeno porte. exibição parcial dos livros e dos documentos, extraindo-
Em 2006, porém, o art. 68 da lei complementar nº 123 veio se deles a suma que interessar ao litígio, bem como
estabelecer o que seria o pequeno empresário para fins de reproduções autenticadas.
aplicação da regra do art. 970 do Código Civil.

7.5.2.1 Sigilo empresarial A exibição integral, portanto, somente é possível nos


casos especificamente previstos em lei, e somente a
O Código Civil decreta sigilo sobre os livros. Observe:
requerimento da parte. Importante mencionar também que
há regra específica acerca da exibição integral de livros de
Art. 1.190. Ressalvados os casos previstos em lei, sociedade anônima, que pode ser determinada pela
nenhuma autoridade, juiz ou tribunal, sob qualquer autoridade judiciária mediante requerimento de acionistas
pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência para verificar que representem pelo menos 5% do capital social, em casos
se o empresário ou a sociedade empresária observam, ou de violação do estatuto ou à lei ou suspeita de graves
não, em seus livros e fichas, as formalidades prescritas em irregularidades praticadas por órgão da companhia. A
lei. exibição parcial dos livros, por sua vez, pode ser determinada
a pedido ou mesmo de ofício pelo juiz, em qualquer processo.
Como se pode ver, o dispositivo cria o sigilo, mas também
faz ressalva aos casos previstos em lei. Na realidade o próprio
7.5.3 Escrituração irregular
Código Civil traz uma dessas exceções, quando prevê, em seu O empresário não poderá promover ação de verificação
art. 1.193, que as restrições ao exame da escrituração não de contas para fins de instrumentalizar pedido de falência
se aplicam às autoridades fazendárias, quando estas com base na impontualidade, ainda, os fatos alegados pela
estejam no exercício da fiscalização tributária. O Código parte contrária serão presumidos como verdadeiros,
Tributário também traz disposição no mesmo sentido, mas o referente aos fatos que os livros comerciais fariam prova, e
STF já tratou de limitar a exceção ao sigilo empresarial, por fim, há a configuração de crime falimentar.
entendendo que o exame dos livros e documentos
constantes da escrituração deve ater-se ao objeto da ■ 8. ESTABELECIMENTO COMERCIAL
fiscalização.
8.1 Conceito
O estabelecimento comercial pode ser definido como
Súmula nº 439 do STF todo complexo de bens corpóreos (exemplo: mercadorias,
Estão sujeitos à fiscalização tributária ou instalações, equipamentos, utensílios, veículos e etc.) e
previdenciária quaisquer livros comerciais, incorpóreos (exemplo: marcas, patentes, direitos, ponto e
Tome nota! limitado o exame aos pontos objeto da etc.) organizados pelo empresário ou sociedade empresária
investigação. para o exercício da empresa, isto é, para o desenvolvimento
da atividade econômica.
De modo esquematizado, temos:
O sigilo sobre os livros também pode ser “quebrado” por
ordem judicial, que poderá determinar a exibição total ou
Corpóreos.
parcial dos livros. Cada uma das hipóteses tem tratamentos
legais diferentes, conforme podemos compreender do
exame dos dispositivos do Código de Processo Civil que se
Estabelecimento Conjunto de bens
aplicam ao tema. Observe:

Incorpóreos.
Art. 420. O juiz pode ordenar, a requerimento da parte,
a exibição integral dos livros empresariais e dos
documentos do arquivo: Para se entender a natureza desse instituto jurídico é útil

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DIREITO EMPRESARIAL
socorrer-se de uma analogia com outro conjunto de bens... a conjunto de elementos que, quando reunidos, podem ser
biblioteca. Nela, não há apenas livros agrupados ao acaso, concebidos como coisa unitária, ou seja, algo novo e distinto
mas um conjunto de livros sistematicamente reunidos, que não representa a mera junção dos elementos
dispostos organizadamente, com vistas a um fim... componentes.
possibilitar o acesso racional a determinado tipo de O ponto de divergência entre essas teorias diz respeito à
informação. Uma biblioteca tem o valor comercial superior natureza dessa universalidade, seria uma universalidade de
ao da simples soma dos preços dos livros que a compõem, direito ou uma universalidade de fato.
justamente em razão desse “plus”, dessa organização Na universalidade de direito a reunião dos bens que a
racional das informações contidas nos livros nela reunidos. compõe é determinada pela lei (exemplo: massa falida e o
O estabelecimento empresarial é a reunião dos bens espólio), enquanto na universalidade de fato a reunião dos
necessários ao desenvolvimento da atividade econômica. bens é determinada por um ato de vontade (exemplo:
Quando o empresário reúne bens de variada natureza, como biblioteca ou rebanho).
as mercadorias, máquinas, instalações, tecnologia, prédios e A doutrina brasileira majoritária é no sentido de que o
etc., em função do exercício de uma atividade, ele agrega a estabelecimento empresarial é uma universalidade de fato,
esse conjunto de bens uma organização racional que já que os elementos formam uma coisa em razão da
importará em aumento do seu valor enquanto continuarem destinação que o empresário lhes dá. É o empresário que
reunidos. Alguns usam a expressão “aviamento”, outros decide quais são os bens que compõe a empresa e por
falam em “fundo de empresa”, para se referir a esse valor consequência o que é seu estabelecimento comercial.
acrescido.
Atente-se, no entanto, para a circunstância de que, 8.3 Aviamento
embora seja resultante da reunião de diversos bens com O aviamento pode ser conceituado como a aptidão para
vistas ao exercício da atividade econômica, o produzir bons resultados futuros e que leva em conta
estabelecimento empresarial pode ser descentralizado. O diversos fatores e qualidades que o estabelecimento pode
empresário pode abrir filiais, sucursais ou agências, depósitos apresentar, tornando-o mais valioso do que o simples
em prédios isolados, unidades de sua organização somatório do valor do conjunto dos bens que o compõe.
administrativas lotadas em locais próprios e etc. Cada parcela Entenda como a aptidão que o estabelecimento tem de
descentralizada do estabelecimento empresarial pode, ou produzir lucros em razão dos atributos pessoais do
não, ter um valor independente, em razão de inúmeros empresário, do local do ponto, da marca e etc., sendo levado
condicionantes de fato. em conta para aferir o valor do estabelecimento comercial.
O estabelecimento constitui uma universalidade de fato Exemplificando, a Microsoft atingiu em 1999 o valor de
por se tratar de um complexo de bens voltado à atividade mercado de US$507.000.000.000, enquanto seu patrimônio,
econômica pelo exercício da vontade do empresário e não composto pelos ativos reais, era de “apenas”
em virtude de disposição legal, como ocorre na US$11.000.000.000. A diferença entre o patrimônio e o valor
universalidade de direito. real do estabelecimento corresponde justamente à sua
Por ser o estabelecimento uma universalidade de fato, aptidão para gerar lucros, ou seja, o aviamento.
seus elementos podem ser objeto de negócios jurídicos
próprios, translativos ou constitutivos, separadamente dos 8.4 Alienação
demais. Assim temos a seguinte estrutura: É muito comum, na prática empresarial, que um
empresário venda a outro uma universalidade de bens
É uma atividade.
pertencentes à pessoa jurídica da qual era titular ou sócio,
Empresa
ficando o adquirente responsável, a partir de então, pela
condução do negócio, mas sem qualquer vinculação com a
Sujeito que exerce a pessoa jurídica anterior.
Conceitos Empresário
empresa. Essa operação é conhecida como “trespasse” e tem como
objeto a transferência do conjunto de bens organizados pelo
Estabelecimento Conjunto de bens alienante ao adquirente, para que este último prossiga com
materiais/imateriais.
a exploração da atividade empresarial e assuma os clientes e
os contratos celebrados anteriormente pelo alienante ou
transferidor.
8.2 Natureza O trespasse é um contrato oneroso de alienação ou
Das teorias já mencionadas para explicar o transferência do estabelecimento empresarial para o
estabelecimento empresarial, merecem destaque as adquirente, sendo que, para que possa ter eficácia perante
chamadas teorias “universalistas”. O que essas teorias têm terceiros, é necessário efetuar o devido registro na Junta
em comum é que consideram o estabelecimento empresarial Comercial com a sua posterior publicação. Assim temos:
como uma universalidade, que nada mais é do que um

26
DIREITO EMPRESARIAL

É um contrato onde o Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:


Conceito Trespasse
proprietário de um III - pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer
estabelecimento comercial o
parte de plano de recuperação judicial:
transfere a terceiro (adquirente).
c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não,
sem o consentimento de todos os credores e sem ficar
Nesse tipo de contrato, não existe venda isolada de bens com bens suficientes para solver seu passivo;
específicos de propriedade do alienante, mas, sim, a
totalidade dos bens materiais ou imateriais pertencentes ao Vindo a falir, a alienação será considerada ineficaz,
estabelecimento comercial, incluindo o aviamento ou perante a massa falida, que poderá reivindicar o
capacidade de gerar lucros, baseado na expectativa de estabelecimento empresarial das mãos do adquirente. A
retorno financeiro fundada em diversas características do rigor, portanto, a anuência dos credores em relação à
empreendimento. Apesar de o conceito da totalidade de alienação do estabelecimento empresarial é cautela que
bens, é possível a exclusão de alguns bens no contrato de interessa mais ao adquirente que propriamente ao alienante.
trespasse desde que isso não impossibilite a permanência De modo esquematizado, temos:
do negócio. Observe a redação dada pelo Código Civil:

Art. 1.144. O contrato que tenha por objeto a alienação,


Se possuir bens para Transfere-se o
o usufruto ou arrendamento do estabelecimento, só quitar as dívidas. estabelecimento.
produzirá efeitos quanto a terceiros depois de averbado
à margem da inscrição do empresário, ou da sociedade
empresária, no Registro Público de Empresas Mercantis,
Alienação
e de publicado na imprensa oficial.
Deve-se efetuar o
Se não possuir bens pagamento dos credores ou
O empresário ou sociedade empresária pode alienar para quitar as ter o consentimento deles
livremente o estabelecimento a terceiro, sem notificar os dívidas. (em 30 dias).
credores (são os sujeitos para quem o alienante deve), se
possuir em seu patrimônio bens suficientes para quitar
qualquer dívida com eles. Todavia, se ao alienante não 8.5 Sucessão empresarial
restarem bens suficientes para solver seu passivo (quitar Após a ocorrência do trespasse (alienação do
dívidas com os credores), a eficácia da alienação do estabelecimento comercial), o adquirente do
estabelecimento depende do pagamento de todos os estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos
credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou anteriores à transferência, desde que regularmente
tácito, em 30 dias a partir de sua notificação. Observe: contabilizados, continuando o devedor primitivo
solidariamente obrigado pelo prazo de 1 ano, a partir, quanto
Art. 1.145. Se ao alienante não restarem bens aos créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos outros
suficientes para solver o seu passivo, a eficácia da (vincendos), da data do vencimento.
alienação do estabelecimento depende do pagamento de Afirmar que o adquirente e o alienante são devedores
todos os credores, ou do consentimento destes, de modo solidários significa que o credor do estabelecimento
expresso ou tácito, em 30 dias a partir de sua notificação. empresarial poderá cobrar tanto do primeiro quanto do
segundo a qualquer momento em caso de inadimplência
(falta de pagamentos). Esse benefício dado ao credor de ter
Assim, para ocorrer a transferência do estabelecimento, como devedores solidários o adquirente e o alienante do
o alienante, em regra, deve possuir bens suficientes para complexo empresarial irá durar pelo prazo de 1 (um) ano. O
quitar as dividias com os credores, caso não possua tais momento em que se dá o início da contagem deste prazo é:
garantias, a alienação dependerá da anuência (concordância)
deles de modo expresso (por meio de contrato) ou tácito • Para dívidas que já venceram: 1 (um) ano a partir da
(ocorre quando o alienante notificou os credores sobre a publicação do contrato de trespasse na imprensa oficial;
alienação e eles não se manifestaram) em 30 dias. • Para dívidas vincendas (que estão por vencer): 1 (um) ano
Se não observadas essas cautelas (pagamento ou a partir da data de vencimento da dívida.
consentimento), poderá ser decretada a falência do
alienante do estabelecimento com fundamento na lei nº O adquirente só não assumirá o passivo (aquele que é
11.101/2005, a chamada “Lei de Recuperação Judicial e credor de quem vendeu ou transferiu o estabelecimento) do
Extrajudicial e de Falência”. Observe o que ela dispõe: alienante se assim ficar estabelecido no contrato de

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DIREITO EMPRESARIAL
trespasse por meio da cláusula de não transferência do cláusulas restritivas ou de vedação do exercício de direitos.
passivo. Nesta hipótese, caso um credor venha demandar Assim, deve-se afastar a limitação por tempo
seu crédito perante o adquirente fica o alienante obrigado a indeterminado, fixando-se o limite temporal de vigência por
indenizá-lo em regresso. 5 (cinco) anos contados da data do contrato, critério razoável
O credor, no entanto, perde o direito de cobrar seu adotado. Observe:
crédito diretamente do adquirente caso tenha renunciado
expressamente a esse direito quando da concordância do
Art. 1.147. Não havendo autorização expressa, o
contrato de trespasse. É o que dispõe o art. 1146 do Código
alienante do estabelecimento não pode fazer
Civil. Observe:
concorrência ao adquirente, nos 5 (cinco) anos
subsequentes à transferência.
Art. 1.146. O adquirente do estabelecimento responde Parágrafo único. No caso de arrendamento ou usufruto
pelo pagamento dos débitos anteriores à transferência, do estabelecimento, a proibição prevista neste artigo
desde que regularmente contabilizados, continuando o persistirá durante o prazo do contrato.
devedor primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de
1 (um) ano, a partir, quanto aos créditos vencidos, da
Em suma, por exemplo, se “A” decide alienar sua padaria
publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento.
à “B”, “A” só poderá retomar a atividade semelhante se “B”
autorizar expressamente (ou seja, obrigatoriamente deve
De modo resumido, o adquirente responderá constar no contrato) ou deverá esperar 5 (cinco) anos.
pelas dívidas anteriores da empresa, desde que estejam
regularmente contabilizadas. Portanto, o adquirente do 8.7 Sub-rogação do adquirente
estabelecimento poderá responder apenas pelas dívidas Em regra, o trespasse leva a substituição do alienante
conhecidas e devidamente registradas, caso contrário, seria pelo adquirente nos contratos estipulados para exploração
inviabilizada a aquisição, se ele tivesse de responder por toda do estabelecimento, respondendo este (o adquirente), pelas
e qualquer dívida que surgisse. dívidas anteriores à aquisição, se regularmente
Terá direito de regresso contra o alienante por dívidas contabilizados como dito no art. 1.146.
por ele pagas e não incluídas no contrato de trespasse. Não é todo e qualquer contrato que se submete à regra
Haverá sucessão nos débitos de ordem trabalhista e geral da sub-rogação (substituição) prevista no início do
tributária. Pode ter direito à cessão de créditos a que tinha “caput” do art. 1.148 do Código Civil. Os contratos de caráter
direito o alienante, enquanto no comando do pessoal, ou seja, “intuitu personae”, como o contrato
estabelecimento vendido (essa cessão produzirá efeito estabelecido com escritório de advocacia ou de prestação de
perante os respectivos devedores a partir da publicação da serviços específicos, não se transmite automaticamente ao
transferência). adquirente do estabelecimento trespassado justamente em
razão do caráter pessoal no seu cumprimento.
8.6 Cláusula de não-restabelecimento O que significa dizer que, a compra do estabelecimento
Também chamada de “cláusula de não-concorrência”, compreende todos os bens e todos os negócios jurídicos,
este dispõe que o alienante fica proibido, implicitamente, de ativos e passivos, que dele façam parte, excetuando os
fazer concorrência com o adquirente pelo prazo de 5 (cinco) contratos de cunho pessoal ou excluídos expressamente em
anos subsequentes à transferência, salvo autorização contrato. E respeitando a livre contratação, faculta aos
expressa no contrato de trespasse. Por quê? Porque o terceiros contratados (aquele que estabeleceu contrato com
alienante do estabelecimento já domina a técnica do negócio o estabelecimento que foi vendido ou transferido) a rescisão
e detém toda a clientela da região. Seria extremamente dos contratos no prazo de 90 dias, a partir do ato de
injusto se ele pudesse de novo restabelecer-se, por exemplo, publicidade do negócio se resultar em justa causa, ou seja,
na mesma área, desenvolvendo a mesma atividade. Essa quando houver mudanças nos termos da contratação, por
cláusula visa coibir a concorrência desleal. exemplo.
Com relação a essa cláusula de não concorrência, o STJ
tem entendido que o limite temporal de vigência por 5 8.8 Ponto empresarial
(cinco) anos contados da data do contrato é um critério É o local onde o empresário se estabelece para o
razoável adotado pelo Código Civil, devendo ser afastada a exercício de sua atividade econômica. Essa definição não
limitação por tempo indeterminado, ainda que feito acordo deve ser restrita ao ambiente físico, já que hoje há diversos
entre as partes, por ser abusiva. negócios que funcionam principalmente, ou mesmo apenas,
Registra o STJ que se mostra abusiva a vigência por prazo em ambientes virtuais. O ponto, portanto, pode ser um local
indeterminado da cláusula de não-restabelecimento, pois o físico ou mesmo um “website” por meio do qual os clientes
ordenamento jurídico pátrio, salvo expressas exceções, não possam encontrar o empresário. O ponto do negócio é um
se coaduna com a ausência de limitações temporais em dos mais relevantes elementos do estabelecimento

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DIREITO EMPRESARIAL
empresarial, influenciando muito o desenvolvimento dos ponto para que este agregue valor minimamente apreciável
negócios do empresário. Por essa razão o ordenamento à empresa lá explorada.
jurídico assegura especial proteção a esse elemento,
De modo esquematizado, temos:
notadamente quando as instalações são alugadas.
Em razão de sua relevância para o sucesso do
empreendimento, goza de proteção pelo ordenamento Contrato escrito e com
Formal prazo determinado.
jurídico. Se tratar-se de imóvel próprio do empresário, a
proteção jurídica é conferida pelas regras de Direito Civil que
tutelam a propriedade. Se o imóvel onde o empresário No mínimo 5 (cinco) anos de
Requisitos Temporal relação contratual.
explora sua atividade econômica for locado (alugado), a
proteção jurídica se dará pelas regras da locação não-
residencial da lei nº 8.245/1991, a chamada “Lei de 3 (três) anos de exploração
Material
Locações”, caracterizada, basicamente, pelo direito à ininterrupta no ramo.
renovação compulsória do contrato de aluguel.
No Direito brasileiro, há duas grandes espécies de locação
Assim, a lei reconhece ao locatário empresário que
predial... a locação residencial e a não-residencial. O uso que
explore o mesmo ramo de empresa, há pelo menos 3 (três)
o locatário está autorizado a imprimir ao imóvel é o critério
anos ininterruptos, em imóvel locado por prazo
de distinção entre essas duas modalidades de regime
determinado de pelo menos 5 anos, o direito à renovação
locatício. Ao locatário da locação residencial não é possível,
compulsória de seu contrato de locação.
em regra, explorar qualquer atividade econômica no imóvel
Tutela-se o valor agregado ao estabelecimento pelo uso
objeto de locação. Já o locatário da locação não-residencial
de um mesmo ponto durante certo lapso temporal. Chama-
está contratualmente autorizado a explorar atividade
se esta tutela de “garantia de inerência no ponto”, ou seja,
econômica no imóvel locado.
ampara-se o interesse do empresário de continuar
Se a locação não-residencial atender a certos requisitos,
estabelecido naquele imóvel que locou.
ela será classificada como “empresarial”. Neste caso, a lei
O exercício desse direito se faz por uma ação judicial
reconhece ao empresário locatário o direito à renovação
própria, denominada “ação renovatória”, que deve ser
compulsória do contrato de locação.
proposta nos primeiros 6 (seis) meses do último ano do
Para que uma locação possa ser considerada empresarial,
contrato, sob pena de decadência do direito.
isto é, para que se submeta ao regime jurídico da renovação
De modo esquematizado, temos:
compulsória, é necessário que satisfaça os seguintes 3 (três)
requisitos. São eles: 1 ano 2 anos 3 anos 4 anos 5 anos
• O locatário deve ser empresário (a lei também menciona
“comerciante” ou “sociedade civil com fim lucrativo”): a
lei cogita de atividade industrial também, mas trata-se de
redundância, porque esta é uma das espécies da atividade
empresarial. Por esse requisito, ficam excluídos do regime Prazo para ajuizar a ação.
da locação empresarial os profissionais liberais que
individualmente exercem a sua atividade econômica, as Cabe ainda mencionar agora a súmula nº 482 do STF com
associações civis sem fins lucrativos, as fundações e etc.; relação ao requisito temporal (5 anos de contrato). Observe:
• A locação deve ser contratada por tempo determinado de,
no mínimo, 5 (cinco) anos, admitida a soma dos prazos de Súmula nº 482 do STF
contratos sucessivamente renovados por acordo O locatário que não for sucessor ou
amigável: ou seja, este requisito pode ser cumprido se o cessionário do que o precedeu na locação,
locatário e o locador cumpriram 5 (cinco) contratos de 1 Tome nota! não pode somar os prazos concedidos a
(um) ano, ou 2 (dois) contratos de 2 (dois) anos e um 1 (um) este, para pedir a renovação do contrato,
contrato de 1 (um) ano e etc. O que importa é se a soma nos termos do decreto nº 24.150/1934.
destes contratos contabiliza 5 (cinco) anos. Soma esta,
inclusive, que pode ser feita pelo sucessor ou cessionário
Perceba que subsiste a proteção ao sucessor de locação
do locatário;
imobiliária, é importante saber que a ação renovatória deve
• O locatário deve-se encontrar na exploração do mesmo ser ajuizada nos primeiros 6 (seis) meses do último ano do
ramo de atividade econômica pelo prazo mínimo e contrato de aluguel. No último ano do contrato deve o
ininterrupto de 3 (anos), à data da propositura da ação empresário procurar o titular do imóvel para negociar a
renovatória: requisito que a lei cria tendo em vista a renovação da relação contratual. Caso o locador manifeste o
necessidade de um tempo de estabelecimento em certo desejo de retomar o imóvel, o locatário deverá tomar as

29
DIREITO EMPRESARIAL
providências para a propositura da ação. • Reforma substancial no prédio locado: se o Poder Público
obriga o locador a introduzir reformas no imóvel ou se o
8.9 Exceção de retomada proprietário mesmo quer reformá-lo, para valorização do
O direito de inerência do locatário, no entanto, é relativo, seu patrimônio, então o locatário não terá reconhecido o
já que a legislação ordinária não pode reconhecê-lo em seu direito de inerência ao ponto. Nessa hipótese, será
detrimento do direito de propriedade do locador. Este tem devida à indenização se o início das obras retardar por mais
fundamento constitucional e, portanto, eventual lei que de 3 (três) meses contados da desocupação;
criasse o direito à renovação compulsória do contrato de • Uso próprio: o proprietário pode querer utilizar o imóvel,
locação, desconsiderando o direito de uso, gozo e disposição seja para finalidades econômicas ou não. A lei restringe
sobre o bem de que é titular o locador, seria um diploma essa exceção, vedando-a no caso de pretender o locador
inconstitucional. O direito que se concede ao empresário no explorar no prédio a mesma atividade explorada pelo
sentido de garantir-lhe a continuidade da exploração de um locatário, mas essa limitação é inconstitucional,
imóvel locado não pode importar o aniquilamento do direito incompatível com o direito de propriedade. Assim, o
de propriedade que o locador exerce sobre o bem. Por esta locador pode, em qualquer caso, pretender a retomada
razão, quando a renovação compulsória do contrato de para uso próprio, ainda que o seu objetivo seja o de
locação for incompatível com a proteção jurídica da competir com o locatário. Claro que, assim sendo, será
propriedade, em virtude do fundamento constitucional desta devida indenização pela perda do ponto, para que não se
última contraposta ao fundamento de lei ordinária daquela, caracterize o enriquecimento indevido do locador. Note,
prevalecerá a tutela aos interesses do locador, devendo o aqui, a situação específica da chamada “locação-gerência”,
locatário entregar o imóvel. hipótese em que a locação compreende não somente o
É a própria lei que define os casos em que o direito à imóvel, como também um estabelecimento empresarial
renovação compulsória será ineficaz, em face da tutela do nele já instalado pelo locador. Neste caso, a exceção de
direito de propriedade. Trata-se de elenco legal meramente retomada não é decorrência apenas da proteção
exemplificativo, porque a inoperância do direito à renovação, constitucional ao direito de propriedade. Ela se justifica
nesses casos, decorre das disposições constitucionais. também por não ter sido o locatário que agregou o valor
Sempre que o direito de propriedade for desprestigiado em ao ponto comercial. Na locação-gerência, ademais, não
decorrência da renovação da relação locatícia, esta não cabe indenização ao locatário em razão da retomada,
poderá ocorrer, mesmo que inexista específica previsão legal, exatamente porque o ponto de referência dos
pois a tutela do direito do locador no tocante à exceção de consumidores foi constituído pelo locador antes da
retomada deflui diretamente da Constituição Federal. locação;
O locatário que não puder exercer o seu direito de
inerência, em virtude de exceção de retomada, deverá ser, • Transferência de estabelecimento empresarial existente
em determinadas hipóteses, indenizado pelo valor que há mais de 1 (um) ano e titularizado por ascendente,
acresceu ao bem (é em determinadas hipóteses, pois há descendente ou cônjuge (ou sociedade por eles
situações em que o locatário deverá deixar o bem e ainda não controlada), desde que atue em ramo diverso do
será indenizado). São os seguintes os fatos referidos em lei locatário: terá este direito à indenização apenas se, a
ordinária que autorizam a “exceção de retomada” e as despeito da restrição legal, o novo usuário do prédio
hipóteses em que o locatário será indenizado: explorar atividade igual ou semelhante à sua, ou, entendo,
se não se realizar o uso nas condições alegadas que
• Insuficiência da proposta de renovação apresentada pelo impediram a renovação (exemplo: se o imóvel é locado a
locatário: deverá o empresário apresentar uma proposta terceiros).
de novo aluguel. Se o valor locatício de mercado do imóvel
for superior, a renovação do contrato pelo aluguel proposto
importaria em desconsideração do direito de propriedade 8.9.1 Ação renovatória em shopping center
do locador. Por essa razão, se não melhorar o locatário a Com a intenção de fomentar o comércio, o legislador
sua proposta, a locação não será renovada. Algumas pátrio, com a ação renovatória, protegeu o locatário a fim de
decisões judiciais têm determinado a renovação pelo valor resguardar o seu ponto comercial.
de aluguel apurado em perícia, compatibilizando-se dessa No âmbito das relações comerciais, o contrato de locação
forma os interesses das partes; não-residencial se mostra de suma importância na medida
em que possibilita ao empresário instalar o seu
• Proposta melhor de terceiro: se o locatário oferece novo
empreendimento em um determinado local sem incorrer em
aluguel compatível com o mercado, mas o locador possui
um alto custo de aquisição imobiliária, podendo, por
proposta melhor de outra pessoa, a renovação acarretaria
exemplo, direcionar os seus investimentos a outras questões
ofensa ao seu direito de propriedade. Assim sendo, a
prioritárias, como contratação de mão-de-obra, treinamento
menos que o locatário concorde em pagar o equivalente ao
da equipe, publicidade e etc.
ofertado pelo terceiro, a locação não será renovada;

30
DIREITO EMPRESARIAL
E justamente com a intenção de fomentar o comércio, o Cumpre anotar que, por outro lado, assiste ao
legislador pátrio, com a ação renovatória, protegeu o empreendedor o direito de propriedade sobre o complexo,
locatário a fim de resguardar o seu ponto comercial face ao cabendo a ele definir o “tenant mix” (planejamento prévio
interesse do locador na retomada do imóvel. feito em relação às necessidades daquela localidade,
A ação renovatória, assim, é um importante instrumento posicionamento das lojas e etc.) e avaliar se as lojas estão
de preservação da atividade empresarial do locatário, sendo apresentando resultados satisfatórios ou não.
cabível a sua propositura desde que observados os requisitos Por tal razão, caso um lojista esteja em desacordo com a
do art. 51 da Lei do Inquilinato. performance esperada pelo empreendedor e pelos demais
Apenas relembrando, para que seja possível o locatários (que igualmente possuem legítimo interesse no
ajuizamento da ação renovatória é necessário que o contrato sucesso econômico de todo o complexo), é possível que o
tenha sido celebrado por escrito e com prazo determinado, locador, demonstrando a desconformidade em juízo, negue-
que o prazo mínimo do contrato ou a soma dos prazos se a renovar o contrato de locação com base em um
ininterruptos dos contratos escritos seja de 5 (cinco) anos e fundamento econômico e exerça a retomada com
que o locatário esteja explorando o mesmo ramo de fundamento no seu direito de propriedade. Até mesmo para
comércio pelo prazo mínimo e ininterrupto de 3 (três) anos. manter a função social do empreendimento.
Diga-se que a ação renovatória deve ser proposta no Considerando que a possibilidade do locador alegar
interregno de 1 ano, no máximo, até 6 meses, no mínimo, prejuízo ao empreendimento não existe na locação
anteriores à data da finalização do prazo do contrato em empresarial simples, em que não há um sobre fundo de
vigor (deve ser proposta nos primeiros 6 (seis) meses do comércio e terceiros interessados na performance
último ano do contrato). Importa ressaltar também que econômica do locatário, entendemos que a ação renovatória
referido prazo tem natureza decadencial, não admitindo proposta pelo locatário situado em shopping pode não ter a
suspensão ou interrupção. mesma extensão protetora que teria caso o locatário
Não resta dúvida que o instrumento em referência se estivesse situado fora desse contexto.
presta à defesa do fundo de comércio. A questão aqui É possível que o locador/empreendedor não esteja mais
proposta é se a ação renovatória confere a mesma amplitude obrigado a renovar o contrato (ainda que presentes os
de proteção àqueles locatários situados nos requisitos do art. 51 da Lei de Locações) caso consiga
empreendimentos denominados “shopping centers”. demonstrar que o locatário está, de algum modo,
Tais empreendimento imobiliário-empresariais têm por concorrendo para o insucesso do empreendimento.
objetivo colocar à disposição de um determinado grupo de Havendo a retomada do imóvel, ao locatário caberá apenas a
consumidores uma grande quantidade de fornecedores de indenização, prevalecendo, então, o direito de propriedade
produtos e prestadores de serviços. Para tanto, o do empreendedor e a sua prerrogativa de reorganizar, da
empreendedor define o público-alvo e organiza os espaços melhor forma possível, aquele complexo empresarial.
de modo que possa atingir o maior retorno econômico
possível.
Cláusula-de-raio
Muito embora a relação entre lojista e empreendedor
É comum que apareça nos contratos
possua natureza locatícia (o que se depreende da própria Lei
celebrados entre o dono do shopping e os
do Inquilinato) há alguns aspectos que se diferenciam da
Tome nota! lojistas a chamada “cláusula-de-raio”,
locação empresarial comum. Alguns exemplos dessa
sendo ela uma cláusula onde o locatário de
diferenciação: o locador/empreendedor não pode retomar
um espaço comercial se obriga, perante o
o imóvel para uso próprio; os aluguéis podem ser ajustados
locador, a não exercer atividade similar a
com base no faturamento (que será auditado pelo locador);
praticada no imóvel objeto da locação em
o locatário deverá pagar a “res sperata”, valor
outro estabelecimento situado a um
correspondente à vantagem de explorar o sobre fundo de
determinado raio de distância daquele
comércio do shopping; vinculação do lojista à associação de
imóvel. Esta cláusula é admitida como
lojistas do empreendimento; mensalidade dupla em
válida pelo STF.
dezembro (devida em função do incremento das vendas).
Todavia, a despeito das diferenças de ordem contratual
relativas à locação empresarial comum e à locação 8.10 Clientela
empresarial no contexto do “shopping center”, a Lei do É o conjunto de pessoas que habitualmente se vale dos
Inquilinato dispõe que ao locatário situado nesses serviços ou adquire os produtos de um mesmo empresário e
empreendimentos também socorre a ação renovatória. agrega valores à atividade empresarial.
Com efeito, nada mais natural do que resguardar o fundo
de comércio conquistado no exercício regular de sua 8.11 Título do estabelecimento
atividade empresarial, desde que observados, É o nome ou símbolo dado ao estabelecimento para
evidentemente, os requisitados aqui já esposados. identificá-lo. O título que identifica o estabelecimento não se

31
DIREITO EMPRESARIAL
confunde com o nome empresarial e nem com a marca que empresários, e se destinam a negociar insumos;
identifica o produto ou serviço.
• B2C: denominação derivada de “business to consumer”, em
O título de estabelecimento não precisa se compor dos
que os internautas são consumidores, na acepção legal do
mesmos elementos linguísticos presentes no nome
termo;
empresarial e na marca. Uma sociedade empresária pode
chamar-se “Comércio Maria Ltda.”, ser titular da marca • C2C: “consumer to consumer”, em que os negócios são
“Alvorada” e seu estabelecimento denominar-se “Loja da feitos entre internautas não empresários, cumprindo o
Esquina”. Terá ela direito de uso exclusivo a essas diferentes empresário titular do site apenas funções de
expressões, observadas as peculiaridades da proteção intermediação.
jurídica deferida a cada uma delas.
Os contratos celebrados via página B2B regem-se pelas
Para haver a proteção jurídica do título do
normas do Direito Empresarial. Os celebrados via página
estabelecimento empresarial, deverá haver o arquivamento
B2C, pelo Direito do Consumidor. No caso da página C2C, as
dos atos constitutivos da empresa na Junta Comercial.
relações entre o empresário titular do estabelecimento
O título do estabelecimento tem valor econômico e pode
virtual e os internautas regem-se também pelo Direito do
ser alienado independentemente da alienação do próprio
Consumidor, mas o contrato celebrado entre esses últimos
estabelecimento, a não ser se tiver como base um nome
está sujeito ao regime contratual de Direito Civil.
civil, quando não poderá ser alienado para outro empresário
Os canais de venda na internet possuem sempre um
para que este o utilize em seu próprio estabelecimento o
endereço eletrônico, que é o seu nome de domínio. O da
nome civil do alienante, por força do “princípio da
livraria RT, por exemplo, é: www.livrariart.com.br.
veracidade”. Por exemplo, “A” tem um estabelecimento com
O nome de domínio cumpre 2 (duas) funções. A primeira
o título de “Loja de Eletrodomésticos “A” da Silva”. Caso “A”
é técnica, já que proporciona a interconexão dos
aliene o seu estabelecimento para “B”, este não poderá usar
equipamentos. Por meio do endereço eletrônico, o
o nome civil de “A” constante no título do estabelecimento.
computador do comprador põe-se em rede com os
Embora não seja submetido ao registro, o eventual uso
equipamentos que geram a página do vendedor. A segunda
indevido do título do estabelecimento, que cause confusão à
função tem sentido jurídico, pois identifica o canal de venda
clientela, caracteriza concorrência desleal.
de determinado empresário na rede mundial de
computadores. Cumpre, assim, em relação à página acessível
Princípio da veracidade via internet, igual função à do título de estabelecimento em
Este princípio requer que contenha o nome relação ao ponto.
do empresário ou no caso da sociedade Os nomes de domínio, desde dezembro de 2005, são
Tome nota! empresária, o nome de pelo menos de um registrados, no Brasil, pelo Núcleo de Informação e
dos sócios. Coordenação do Ponto BR (NIC.br), uma associação civil de
Direito Privado sem fins econômicos.

8.12 Comércio eletrônico (internet)


A rede mundial de computadores (internet) tem sido ■ 9. NOME EMPRESARIAL
largamente utilizada para a realização de negócios. No início, 9.1 Conceito
para facilitar a compreensão da novidade, sugeriu-se que ela O nome empresarial é o elemento que identifica o
teria criado um novo tipo de estabelecimento, o virtual. Um empresário. É, pois, a firma ou denominação adotada pelo
estabelecimento acessível exclusivamente por transmissão empresário para o exercício da empresa. Aliás, para se obter
eletrônica de dados (enquanto o estabelecimento físico se o registro na Junta Comercial, o empresário, seja ele
acessa pelo deslocamento no espaço). empresário individual ou sociedade empresária, deve ter um
Atualmente, com a difusão do comércio eletrônico, o nome empresarial. A única exceção é a sociedade em conta
paralelo não é mais significativo. A internet é vista, hoje, não de participação, onde esta não pode adotar nome
mais como um estabelecimento virtual, mas como um canal empresarial, pois trata-se de uma sociedade secreta.
de negócios específico (onde se faz compras, vendas e etc.). A importância do nome empresarial é tão grande, que a
O “comércio eletrônico”, assim, significa os atos de doutrina o reconhece como um direito de personalidade.
circulação de bens, prestação ou intermediação de serviços Além disso, o STJ já decidiu que a mudança no nome
em que as tratativas pré-contratuais e a celebração do empresarial torna necessária a outorga de nova procuração
contrato se fazem por transmissão e recebimento de dados aos mandatários da sociedade, tão importante o nome
por via eletrônica, normalmente no ambiente da internet. empresarial para a identidade do empresário. Ou seja, caso
São três os tipos de comércio eletrônico: haja a mudança do nome empresarial de uma sociedade, por
• B2B: que deriva da expressão “business to business”, em exemplo, deverá ser assinada uma nova procuração para que
que os internautas compradores são também os advogados a represente em juízo.
O nome empresarial identifica o sujeito que exerce a

32
DIREITO EMPRESARIAL
empresa, vale dizer, é o sinal de identificação do empresário, Código Civil. O primeiro atribui as pessoas jurídicas, no que
e, por isso, não se confunde com a marca, pois esta é o couber, os direitos da personalidade. Observe:
elemento de identificação do produto ou serviço. Também se
diferencia do título do estabelecimento, que é o sinal de
Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a
identificação do ponto empresarial e por fim, o nome de
proteção dos direitos da personalidade.
domínio, que é o elemento de identificação da página na rede
mundial de computadores (internet), nada tem a ver com o
nome empresarial, porque este último, conforme já vimos, é O segundo proíbe sua transferência. Observe:
o elemento de identificação do empresário. Observe:
• Nome empresarial: identifica o sujeito que exerce a Art. 1.164. O nome empresarial não pode ser objeto de
empresa; alienação.
• Marca: é o elemento de identificação do produto ou
serviço. Ela é composta basicamente por elementos visuais Por fim, o último atribui caráter de imprescritibilidade no
que são criados, no âmbito do design, para “representar” a caso de sua violação. Observe:
empresa em diversas ocasiões, a exemplo das campanhas
publicitárias e das embalagens de produtos;
Art. 1.167. Cabe ao prejudicado, a qualquer tempo,
• Título do estabelecimento: sinal de identificação do ponto
ação para anular a inscrição do nome empresarial feita
empresarial; com violação da lei ou do contrato.
• Nome de domínio: é o endereço eletrônico do site na
internet. Nos últimos anos esses ambientes virtuais
Deve-se reconhecer no nome empresarial um bem que
adquiriram grande importância, de forma que há
compõe o patrimônio moral do empresário ou da sociedade
empresários que hoje trabalham exclusivamente por meio
empresária, não comportando transmissão e, portanto,
de sites, e lá contratam fornecedores, oferecem seus
alienação, sucessão hereditária, penhor, penhora e etc. Mas
produtos, fazem suas vendas e dentre outras coisas;
o nome empresarial é, a exemplo do nome civil, passível de
• Nome fantasia: é a expressão que indica o título do alteração. Essas alterações, aliás, são necessárias quando
estabelecimento, usado nas relações informais do haja alterações na estrutura social, no tipo societário e etc.
empresário. Por exemplo, o nome empresarial é “NS2.com O art. 1167 do Código Civil, quando permite ao
Internet S/A” e o nome fantasia “Netshoes”; prejudicado, a qualquer tempo, ajuizar ação para anular a
inscrição do nome empresarial feita com violação da lei ou do
• Sinais de propaganda: não se destinam propriamente a
contrato, é outro indicativo de que se trata de direito que,
identificar o empresário, exercem a função de chamar a
guardadas as particularidade relativas à pessoa jurídica,
atenção para o produto ou serviço oferecido.
segue a lógica própria do regime dos direitos
É claro que, às vezes, o empresário, por estratégia de personalíssimos.
mercado, adota como marca, título do estabelecimento ou Embora o STJ não tenha aprofundado a questão, o
nome de domínio a mesma expressão do nome empresarial. ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, em acórdão unânime
da 3ª turma, pontuou que o nome empresarial é direito da
9.2 Natureza personalidade. O acórdão traz a seguinte redação:
Em relação à qual é a natureza do nome empresarial há
divergências doutrinárias. Existem, algumas correntes acerca O direito ao nome é parte integrante dos direitos de
do tema. A primeira diz que o nome empresarial é um direito personalidade tanto das pessoas físicas quanto das
da personalidade. A segunda dispõe que o nome possui pessoas jurídicas, constituindo o motivo pelo qual o nome
natureza de direito pessoal/obrigacional. A terceira e última (empresarial ou fantasia) de pessoa jurídica não pode ser
dispõe que é um direito de propriedade sobre bem empregado por outrem em publicações ou
incorpóreo. representações que a exponham ao desprezo público
Não é possível afirmar, com certeza, qual das correntes nem tampouco utilizado por terceiro, sem sua
prevalece. No entanto, pode-se dizer que o Código Civil, por autorização prévia, em propaganda comercial.
conta dos art. 52, 1.164 e 1.167, tem apreço pela primeira
corrente, a qual prega que o nome empresarial tem a
natureza de direito da personalidade. Assim, o nome 9.2 Princípios
empresarial é semelhante ao nome das pessoas, mas com Observe o disposto seguinte da lei nº 8.934/1994, a
algumas peculiaridades. Os autores que defendem este chamada “Lei de do Registro de Empresas”:
entendimento se embasam no art. 52, 1.164 e 1.167 do

33
DIREITO EMPRESARIAL
encontram atribuídas a sociedades de um mesmo Estado-
Art. 34. O nome empresarial obedecerá aos princípios
membro. Assim, o STJ decidiu que os nomes são colidentes,
da veracidade e da novidade.
assegurando o direito de uso à primeira sociedade registrada.
Outro exemplo, girou em torno do uso do nome
Há, em regra, princípios que devem ser observados em “Odebretch” para a famosa construtora da Bahia que se
relação a criação do nome, são eles o princípio da: chama “Odebretch S/A”, e para outra sociedade chamada
“Odebretch Café”, oriunda do Paraná. Vale ressaltar que
• Veracidade: deve ser verdadeiro o nome do sócio, tanto neste caso não havia ocorrido a extensão da proteção do
na firma, como na denominação social, e sincera a nome para todo o território nacional. O STJ decidiu que os
indicação da atividade que venha a incorporar o nome nomes são diferentes, pois em uma há a utilização do ramo,
(deve estar explicitada no objeto social). Desse modo não e que não há conflitos territoriais. Os Estados-membros são
se poderia chamar uma panificadora de “drogaria” por diferentes.
exemplo. Estaria o empresário induzindo o consumidor a Em suma, o nome empresarial a ser adotado deve ser
erro, pois faltaria veracidade nesse nome empresarial. diferente, tanto na escrita (ou seja, não podem ser
Ressalta-se também os casos da firma social que só pode homógrafos), quanto na pronuncia (ou seja, não podem ser
possuir o nome dos sócios, o que ocasionalmente pode homófonos).
causar alguns problemas. Por exemplo, “A da Silva” e “B dos
Santos” atuam sob a firma social de “A da Silva e B dos • Proteção à moral: é vedado o uso de palavras ou
Santos Ltda.”, com a morte de “B”, necessariamente “A” expressões atentatórias à moral e aos bons costumes;
terá de retirar o nome do sócio falecido, pois quando o • Vedação a siglas e denominações de órgãos públicos: é
nome do sócio é colocado no nome empresarial, quem vedado o uso de siglas ou denominações de órgãos
contrata com essa sociedade presume que está públicos e de organismos internacionais e aquelas
contratando com os sócios, quando isso não é mais consagradas na lei e atos regulamentares emanados do
verdadeiro, ferindo dessa forma o princípio da veracidade. Poder Público.
Observe:
De modo esquematizado, temos:

Art. 1.165. O nome de sócio que vier a falecer, for


O nome não poderá conter
excluído ou se retirar, não pode ser conservado na firma Veracidade
informações falsas.
social.

Princípios
• Novidade: deve ser adotado um nome novo e diferente de
outro já existente a fim de evitar erros e confusões nas Não pode registrar um nome
identificações das empresas, portanto é necessário que se Novidade empresarial idêntico ou muito
parecido com um que já exista.
faça uma busca prévia na Junta Comercial, para verificar se
o nome empresarial escolhido não está sendo utilizado ou
se o nome que se deseja adotar é muito semelhante. Caso
não haja, irá se fazer o registro na Junta Comercial. 9.3 Tipos
Observe: Observe os tipos de nomes empresariais:
• Firma: que deverá ser composta pelo nome civil do titular
com o ramo de atividade (se desejar). Por exemplo, “A da
Art. 1.163. O nome de empresário deve distinguir-se de Silva Comércio de Pães”. A firma pode ser dividida em
qualquer outro já inscrito no mesmo registro. firma:
Parágrafo único. Se o empresário tiver nome idêntico
ao de outros já inscritos, deverá acrescentar designação → Individual: quando houver apenar um titular da
que o distinga. empresa, como é o caso do empresário individual;
→ Social: quando houver vários titulares, como é o
São muito comuns nos tribunais as disputas judiciais caso de sociedade empresarial.
acerca do uso de nomes empresariais. Trago aqui alguns
exemplos que aparecem em obras de autores conhecidos O importante aqui é lembrar que o núcleo da firma é
para ilustrar alguns entendimentos desenvolvidos pelo STJ. sempre um nome civil. Observe:
Um dos julgados diz respeito à semelhança entre os
nomes “Best Way Importação e Exportação Ltda.” e “The Best
Way Informática Ltda.”. Veja, os nomes são semelhantes e se

34
DIREITO EMPRESARIAL

Art. 1156. O empresário opera sob firma constituída Parágrafo único. O adquirente de estabelecimento, por
por seu nome, completo ou abreviado, aditando-lhe, se ato entre vivos, pode, se o contrato permitir, usar o nome
quiser, designação mais precisa da sua pessoa ou do do alienante, precedido do seu próprio, com a
gênero de atividade. qualificação de sucessor.

Perceba que a parte final do art. 1156 autoriza ainda que 9.4 Assinatura em contratos
seja adicionada à firma a designação do gênero de Quando se opera sobre firma, o próprio nome
atividade. Imagine, por exemplo, que alguém resolva empresarial deverá estar na assinatura dos documentos, ou
operar empresa de consultoria empresarial. A firma seja, quando se for assinar um contrato, este deverá ser
poderia ser chamada de “A da Silva Consultoria assinado com o nome empresarial. Por exemplo, se a padaria
Empresarial”, ou, ainda “A. Silva Consultoria Empresarial”. de “A” tem o nome empresarial de “A da Silva Comércio de
Lembre-se de que isso é uma faculdade e não uma Pães”, em qualquer contrato que a “A” for assinar com algum
obrigação. fornecedor deverá a assinatura ser “A da Silva Comércio de
Pães”.
• Denominação: que deverá ser composta pela expressão Quando se opera sobre denominação, o próprio nome do
linguística com o ramo de atividade e ainda com o tipo representante da empresa deverá estar na assinatura dos
empresarial. Por exemplo, “Delícias de São Paulo documentos, ou seja quando se for assinar um contrato, este
Restaurante Ltda.”. Não precisa ser necessariamente nesta deverá ser assinado com o nome civil do representante. Por
ordem e só poderá ser adotada por sociedade empresarial. exemplo, se o restaurante de “A” tem o nome de “Delícias de
De modo esquematizado, temos: São Paulo Restaurante Ltda.”, qualquer contrato em que “A”,
que é o representante do restaurante, for assinar com algum
fornecedor deverá ser a assinatura “A da Silva”.
De modo esquematizado, temos:
Firma Nome dos sócios + ramo (se quiser).

Firma Usa-se o nome empresarial.


Nome empresarial

Nome empresarial
Denominação Expressão linguística + ramo + tipo.

9.4 Alienação Denominação Usa-se o nome civil.


Em relação à alienabilidade (possibilidade de se
transferir) do nome empresarial, diante do princípio da
veracidade, é claro que, tratando-se de firma ou razão social, 9.5 Forma de utilização
se o nome for constituído pelos nomes civis dos sócios, não O empresário individual, que é uma pessoa física, só
será possível sua alienação. A regra geral do Código Civil, pode adotar firma, sendo-lhe vedado inserir no nome
porém, é no sentido de proibir a alienação de qualquer empresarial qualquer elemento fantasia. Tratando-se de
nome empresarial. Observe: empresário individual de responsabilidade ilimitada, a firma
é também conhecida como “razão individual”.
Por outro lado, o empresário individual de
Art. 1164. O nome empresarial não pode ser objeto de responsabilidade limitada (EIRELI), que é uma pessoa
alienação. jurídica, constituída por uma única pessoa natural, pode
adotar firma com o nome de seu titular ou denominação,
baseada em nome de seu titular ou em elemento fantasia,
Parte da doutrina defende que, quanto à denominação,
acrescendo-se, em qualquer um dos casos, a expressão
nada impede que seja transmitida a outra pessoa, seja como
“EIRELI”. Por exemplo, “A da Silva EIRELLI”.
elemento integrante da empresa, seja de forma autônoma.
O parágrafo único do art. 1164 prevê a possibilidade de
alienação do nome empresarial juntamente com o
estabelecimento, o que ocorre por meio do contrato de
trespasse. Seguindo essa lógica, a alienação só será possível
por ato entre vivos. Obsserve:

35
DIREITO EMPRESARIAL
De modo esquematizado, temos: omissão da palavra “limitada” determina a
responsabilidade solidária e ilimitada dos administradores
que assim empregarem a firma ou a denominação da
Empresário individual Firma.
sociedade. Se optar por firma, esta será composta com o
nome de um ou mais sócios, por extenso ou abreviado,
desde que pessoas físicas, mas se não constar o nome de
Nome empresarial todos os sócios torna-se também obrigatória a partícula “e
companhia” ou “e cia”, que é o modo indicativo da relação
social, sendo mera faculdade a inclusão do objeto da
sociedade. Se, no entanto, optar por denominação, é
EIRELI Firma ou denominação + “EIRELI”.
obrigatório que conste no nome o objeto da sociedade;
• Sociedade anônima: é aquela em que todos os acionistas
Quanto as sociedades empresárias, algumas só podem têm responsabilidade limitada. Só pode adotar
adotar firma, que aqui denomina-se “razão social” e outras denominação, mas o Código Civil permite que conste na
apenas denominação, sendo que algumas podem optar entre denominação o nome do fundador, acionista ou pessoa
a firma e a denominação. Vale a pena salientar que a que haja concorrido para o bom êxito da formação da
sociedade em que houver sócios de responsabilidade empresa. Por exemplo, “S/A Fábrica de Confecções de
ilimitada operará sob firma, na qual somente os nomes Tecidos Pedro de Almeida”. É obrigatória a identificação do
daqueles poderão figurar, bastando para forma-la aditar ao tipo societário através da expressão “sociedade anônima”
nome de um deles a expressão “e companhia” ou sua ou “s/a” e “companhia” ou e “cia”. A expressão “sociedade
abreviatura “cia”. Ficam solidária e ilimitadamente anônima” ou “s/a” poderá constar no início, no meio ou no
responsáveis pelas obrigações contraídas sob a firma social fim do nome, mas, quanto a expressão “companhia” ou
aqueles que, por seus nomes figurarem na firma da “cia”, só se permite a sua inclusão no início ou no meio da
sociedade. denominação, sendo vedada a sua inclusão no final do
Cumpre examinar as diversas hipóteses, a saber: nome. Referentemente ao objeto social é obrigatório a sua
menção no nome empresarial;
• Sociedade em comandita simples: é aquela formada por
dois tipos de sócios, os sócios comanditados (têm • Sociedade em comandita por ações: é aquela em que os
responsabilidade ilimitada) e os sócios comanditários (têm acionistas, diretores ou gerentes respondem
responsabilidade limitada). Só pode adotar firma, ilimitadamente, os demais acionistas limitadamente. Pode
composta pelo nome civil de sócios comanditados, por adotar firma ou denominação, sendo que, em ambas as
extenso ou abreviado, sendo obrigatória agregar-se ao hipóteses, deve constar as palavras “comandita por ações”
nome a expressão “e companhia” ou “e cia”. Não é ou “c/a”, indicando-se, assim, o tipo societário. Se optar
necessário que conste o nome civil de todos os sócios por firma, esta deverá ser composta pelo nome civil dos
comanditados, bastando o nome de um deles, sendo sócios diretores ou gerentes, sendo ainda obrigatória a
também facultativa a alusão ao ramo de atividade. Se expressão “e companhia” ou “e cia”. Ficam ilimitada e
porventura, o nome civil de sócio comanditário figurar no solidariamente responsáveis pelas obrigações sociais os
nome empresarial, esse sócio torna-se sócio comanditado, que, por seus nomes, figurarem na firma ou razão social.
passando a ter responsabilidade solidária e ilimitada; Se preferir denominação, é obrigatória a menção do objeto
social;
• Sociedade em nome coletivo: e aquela em que todos os
sócios tem responsabilidade ilimitada. Só pode adotar • Sociedade ou empresário individual em recuperação
firma, compondo-se esta pelo nome civil de um, alguns ou judicial: em todos os atos, contratos e documentos
de todos os seus sócios, sendo mera faculdade agregar-se firmados pelo devedor ao procedimento de recuperação
ao nome o ramo de atividade. A expressão “e companhia” judicial deverá ser acrescido, após o nome empresarial, a
ou “e cia”, torna-se obrigatória quando o nome empresarial expressão “em recuperação judicial”;
não for formado pelo nome civil de todos os sócios. Por
• Sociedade em liquidação: em todos os atos, documentos
exemplo, se “A” e “B” desejam constituir uma sociedade
ou publicações, o liquidante empregará a firma ou
em nome coletivo, esta, dentre as diversas opções, pode
denominação social sempre seguida da cláusula “em
adotar: “A da Silva e B dos Santos”, “A da Silva e Cia” e etc.;
liquidação”;
• Sociedade em conta de participação: não pode ter firma
• Microempresa e empresa de pequeno porte: acresce-se ao
ou denominação. É a única sociedade que não tem nome
nome, respectivamente, as siglas “ME” ou “EPP”.
empresarial;
• Sociedades estrangeiras: quando autorizadas a
• Sociedade limitada: pode adotar firma ou denominação,
funcionarem no Brasil, poderão acrescentar ao nome os
integradas pela palavra final “limitada” ou “ltda”. A

36
DIREITO EMPRESARIAL
termos “do Brasil” ou “para o Brasil”; forma:
• Sociedades civis ou não empresariais: só podem adotar • Voluntária: é a alteração decorrente da vontade do
denominação. É o caso das sociedades simples e das empresário ou da sociedade empresária, o nome será
cooperativas, esta última deverá incluir no nome o alterado em Junta Comercial;
vocábulo “cooperativa”. Nessas sociedades não
• Obrigatória ou vinculada: é a ordenada pela lei, ocorrendo
empresárias, os sócios, conforme contrato social, podem
em caso de:
ter responsabilidade limitada ou ilimitada;
• Associação e fundação: só podem adotar denominação. → Falecimento, exclusão ou retirada de sócio cujo
Equipara-se ao nome empresarial, para efeitos da nome civil integrava o nome da sociedade: nesse
proteção da lei, a denominação das sociedades simples, caso, o nome deste sócio não pode ser mantido na
associações e fundações. firma e nem na denominação. De fato, se a pessoa
De forma esquematizada em quadro, temos: já morreu ou não figura como sócio justifica-se a
alteração do nome pela aplicação do princípio da
Nome empresarial veracidade;
Tipo Firma Denominação → Alteração da responsabilidade de sócio, de
Empresário individual: ∙ ilimitada para limitada, quando o nome dele
EIRELI: ∙ ∙ integrava o nome empresarial: ocorre, por
Sociedade em comandita simples: ∙ exemplo, quando, em razão de alteração
Sociedade em nome coletivo: ∙ contratual, o sócio comanditado, na sociedade em
Sociedade anônima: ∙ comandita simples, torna-se sócio comanditário.
Sociedade limitada: ∙ ∙ Nesse caso, se o nome civil deste sócio integrava o
Sociedade em comandita por ações: ∙ ∙
nome empresarial, o nome empresarial precisa ser
Sociedade em conta de participação: Não adotada nenhum tipo! alterado, para que se cumpra a norma do art. 1.157
do Código Civil, mas, enquanto não houver a
retirada do nome civil dele do nome empresarial,
9.6 Proteção persiste a sua anterior responsabilidade ilimitada.
A proteção do nome empresarial dá-se por meio do Mais uma vez o princípio da veracidade justifica a
registro efetuado na Junta Comercial, feito isso não poderá mudança do nome empresarial;
nenhum outro indivíduo utilizar-se desse nome no âmbito
estadual, pois a Junta Comercial é órgão estadual, portanto → Alienação do estabelecimento empresarial por ato
essa proteção é válida somente no Estado-membro em que entre vivos: nesse caso, o adquirente pode, se o
foi efetuado o registro, caso o empresário queira que essa contrato o permitir, usar o nome do alienante
proteção seja efetiva em todo o país, esse registro deverá ser precedido do seu próprio, com a qualificação de
feito em todas as unidades federativas. Observe: sucessor. Por exemplo, “A da Silva sucessor de B dos
Santos EIRELI”. Assim, o adquirente, na hipótese,
tem as opções de excluir ou manter o nome do
Art. 1.166. A inscrição do empresário, ou dos atos alienante. Mas em ambos o correrá a alteração do
constitutivos das pessoas jurídicas, ou as respectivas nome empresarial, pois ainda que mantido o nome
averbações, no registro próprio, asseguram o uso do alienante, acrescentar-se-á ao nome
exclusivo do nome nos limites do respectivo estado. empresarial o nome do adquirente com a
Parágrafo único. O uso previsto neste artigo estender- qualificação de sucessor. Vale a pena observar que
se-á a todo o território nacional, se registrado na forma se o contrato não permitir expressamente ao
da lei especial. adquirente a possibilidade de usar o nome do
alienante fica vedado àquele o uso do nome deste.
Importante ainda é também ressaltar a inalienabilidade Igualmente, impõe-se a proibição quando a
do nome empresarial (impossibilidade de transferi-lo) visto aquisição do estabelecimento empresarial houver
que este, diferentemente do nome fantasia, que pode ser sido por ato “causa mortis”;
vendido, denomina o empresário, ou seja, é elemento de → Mudança do tipo societário: ocorre, por exemplo,
identificação do empresário individual ou coletivo, e como quando a sociedade limitada se transmuda em
vimos acima o nome empresarial deve seguir uma série de sociedade anônima. A transformação deverá
regras e princípios como o da veracidade. obedecer aos preceitos que regulam a constituição
e o registro do tipo a ser adotado pela sociedade,
9.7 Alteração impondo-se, assim, as alterações dos aspectos do
A alteração do nome empresarial poderá ocorrer de nome empresarial que forem incompatíveis com o

37
DIREITO EMPRESARIAL
novo tipo societário, sob pena de transformação se 10.2.1 Disposições legais
reputar ineficaz perante terceiros; Há algumas disposições que o preposto deve seguir no
→ Procedência de ação anulatória de nome que diz respeito à sua relação com a empresa e o preponente.
empresarial: o prejudicado, a qualquer tempo, O preposto não pode, sem autorização escrita, fazer-se
pode mover ação para anular a inscrição do nome substituir no desempenho da preposição, sob pena de
empresarial feita com violação da lei ou do responder pessoalmente pelos atos do substituto e pelas
contrato. Procedente esta ação, impõe-se a obrigações por ele contraídas. Ou seja, o preposto não pode
mudança obrigatória do nome empresarial do delegar sua atividade para terceiros. Se o fizer, responde por
sucumbente. tudo aquilo que os terceiros fizerem indevidamente. O
preposto só pode delegar sua atividade para terceiros se
De modo esquematizado, temos: possuir prévia autorização por escrito para fazer isso.
Salvo autorização, o preposto não pode negociar por
conta própria ou de terceiros, nem participar, embora
A mudança é oriunda da vontade indiretamente, de operação do mesmo gênero da que lhe foi
Voluntário
dos titulares. cometida, sob pena de responder por perdas e danos e de
serem retidos pelo preponente os lucros da operação. Ou
A mudança é ordenada pela lei. seja, a atuação do preposto é exclusiva, não podendo fazer
Mudança do nome As hipóteses são quando o negócios por conta própria. Caso o faça, pode responder por
nome do sócio integrava o
perdas e danos causados e terá que dar o lucro do negócio ao
nome empresarial e ele morre
ou é excluído, o nome do sócio preponente.
Obrigatório
integrava o nome empresarial Considera-se perfeita a entrega de papéis, bens ou
e a responsabilidade dele valores ao preposto, encarregado pelo preponente, se os
mudou para limitada, há a
recebeu sem protesto, salvo nos casos em que haja prazo
transferência de
estabelecimento por pessoas para reclamação. Ou seja, se ao preposto for entregue papel,
vivas, o tipo societário muda bem ou valor sem que esse tenha recusado seu
ou é ordenada por sentença recebimento, ele se torna responsável por aquilo que lhe foi
judicial.
entregue. Exceto se a lei prever casos que conceda ao
preposto algum prazo para reclamar sobre aquela entrega.

10.3 Gerente
■ 10. PREPOSTOS Gerente não se confunde com sócio administrador, esse
10.1 Introdução último é o que deve ser nomeado no contrato ou estatuto
Toda empresa é feita por pessoas e para pessoas, direta social para exercer a administração da sociedade.
ou indiretamente. Assim, o capital humano é um recurso Abaixo desse pode haver o gerente ao qual incumbe a
aplicado ao dia-a-dia do negócio, de forma a realizar a sua gestão do dia-a-dia da empresa.
atividade econômica. Administradores, gerentes, O gerente é o preposto permanente (ou seja, sem
funcionários e entre outros, são aqueles que fazem a eventualidade, ele está no seu cargo diariamente) no
empresa acontecer, trabalhando para concretizar seu exercício da empresa, na sede desta, ou em sucursal, filial ou
objetivo. Ou seja, seus atos são exercidos em nome da agência, como é o caso dos gerentes de agências bancárias.
empresa. Ele, está autorizado a praticar todos os atos necessários
ao exercício dos poderes que lhe delegaram, exceto se
10.2 Conceito houver disposição legal exigindo que o gerente tenha
O próprio nome já é bem esclarecedor, uma vez que é poderes especiais para atuar.
aquele que foi pré-posto naquela situação, foi escolhido Se a empresa tiver mais de um gerente, estes são
anteriormente para a atividade. A palavra vem do solidários nos poderes conferidos. O que quer dizer que
latim “praepositus”, de “praeponere”, que é aquele posto podem exercer as mesmas atividades em conjunto ou
adiante ou à frente. separadamente. A não ser que haja estipulação de poderes
O preposto é a pessoa nomeada para representar a para cada um dos gerentes.
empresa em seus atos. Pode ter vínculo empregatício ou Sendo os poderes do gerente limitados, só se pode
não com a empresa, e pode ser um colaborador permanente considerar válidas as limitações, perante terceiros que
ou temporário. tratarem com ele, quando for arquivado e averbado o
De bom alvitre ressaltar que o preponente é aquele que instrumento de sua nomeação no registro da empresa na
constitui o preposto como tal. Junta Comercial, se for o caso. Se, dependendo do que
acontecer, ficar comprovado que o terceiro sabia da
limitação do gerente, não precisará do arquivamento e

38
DIREITO EMPRESARIAL
averbação. anteriormente), tanto no setor público como privado.
Para a mesma finalidade e com idêntica ressalva do item
anterior, deve a modificação ou revogação do mandato que 10.6 Representante comercial
conceda a gerência ser arquivada e averbada na Junta Sendo um tipo de contrato de agência e distribuição, o
Comercial. representante comercial (pessoa física ou jurídica) também
O gerente, nos atos que praticar dentro do limite de seus se apresenta de forma a constituir prepostos da empresa,
poderes, nos que pratique em nome do preponente e nos uma vez que o representante atua em nome daquela. Ou
atos que praticar em seu próprio nome, mas à conta do seja, o representante comercial também é um preposto.
preponente, responde em conjunto com o preponente. Importante lembrar que não possui vínculo empregatício
O gerente pode comparecer à justiça em nome do com o preponente.
preponente, pelas obrigações resultantes do exercício da sua Assim, o representante comercial é aquele por meio do
função como preposto. qual uma das partes, que é o representante comercial
autônomo, obriga-se a obter pedidos de compra e venda de
10.4 Contabilista mercadorias fabricadas ou comercializadas pela outra
O contador (formação superior) e o técnico em parte, que é o representado.
contabilidade (formação técnica) ou, simplesmente, os É um contrato de natureza de colaboração, pois há um
“contabilistas”, como denomina o Código Civil, é o vínculo em que uma parte divulga o produto da outra, sendo
profissional inscrito no Conselho Regional de Contabilidade. a função do representante distribuir os produtos em uma
Por exercer representatividade da empresa, também é determinada região onde a instalação de filiais não é viável.
considerado seu preposto. Como tal, possui várias
regulamentações legais. 10.6.1 Base legal
Os assentos lançados nos livros ou fichas do empresário O contrato de representação comercial tem lei própria,
ou sociedade preponente, por qualquer dos prepostos que é a lei nº 4.886/1965, que cria um conselho regional dos
contabilistas encarregados de sua escrituração, produzem os representantes comerciais, e assim, o representante
mesmos efeitos como se o fossem realizados pelo comercial está sujeito à fiscalização ética e disciplinar do
preponente. No que também se enquadram erros e falhas do órgão. O art. 1º desta lei estabelece quem pode ser
contabilista. A exceção existe se o contabilista houver agido representante comercial, bem como sua função:
com má-fé, ou seja, com o intuito de prejudicar.
No exercício de suas funções como contabilistas, os
prepostos são responsáveis, perante os preponentes, pelos Art. 1º. Exerce a representação comercial autônoma a
atos culposos (sem intenção de prejudicar) e dolosos (com pessoa jurídica ou a pessoa física, sem relação de
intenção de prejudicar) conjuntamente (de forma solidária) emprego, que desempenha, em caráter não eventual por
com o preponente, perante terceiros. Note que nas duas conta de uma ou mais pessoas, a mediação para a
situações o preponente será responsabilizado, havendo realização de negócios mercantis, agenciando propostas
dolo ou culpa do contabilista, ou seja, a responsabilidade do ou pedidos, para, transmiti-los aos representados,
preponente é objetiva. praticando ou não atos relacionados com a execução dos
Em ambos os casos, quando o preponente arcar com o negócios.
prejuízo, este poderá cobrar do contabilista a reparação dos
danos que sofreu. Por isso, é fundamental que o empresário
10.6.2 Cláusula de exclusividade
tenha um profissional de contabilidade de sua maior
A cláusula de exclusividade de representação definirá as
confiança, além de ser necessário ter uma noção da matéria
condições que o representante deverá seguir ao concordar
para acompanhar o trabalho do contabilista.
em representar ou intermediar os negócios da empresa que
representa. A exclusividade poderá ser acordada em função
10.5 Terceirizado da região de atuação. Neste caso, nem mesmo o
O terceirizado que age em nome da empresa também é representado pode vender diretamente na área de
considerado preposto para os fins de Direito, ainda que, abrangência do representante designado. Em contrapartida,
nesse caso, não exista vínculo empregatício. como já mencionado, pode estar prevista uma cláusula de
A terceirização permite que uma empresa transfira para representação exclusiva, na qual o representante comercial
outra uma atividade que seria sua, alocando os terceirizados não poderá atuar na mesma área representando produtos
para atuar pela empresa terceirizadora. ou serviços da concorrência.
Com o advento da lei nº 13.429/2017 que alterou a lei Em suma, a cláusula de exclusividade tem como principal
nº 6.019/1974, que dispõe sobre trabalho temporário nas objetivo proteger ambas as partes, já que o representante
empresas urbanas e dá outras providências, permite-se poderá atuar com mais segurança e livre de concorrência no
também terceirizar as atividades-fins da empresa, não mesmo produto, e o representante, por sua vez, terá que se
apenas as atividades-meio (como era permitido

39
DIREITO EMPRESARIAL
dedicar de forma exclusiva à expansão dos negócios de seu representado.
representado.
10.6.6 Relação de emprego
10.6.3 Obrigações do representante comercial O contrato de representação comercial não pode
O representante comercial deve: obter pedidos de caracterizar relação de emprego, pois não gera vínculo
compras, diligentemente, de modo a expandir os negócios do empregatício. No entanto, geralmente o utilizam para
representado e promover os seus produtos; informar o maquiar uma relação de emprego na possibilidade de
representado sobre o andamento dos negócios, segundo as pleitear-se verbas trabalhistas.
disposições do contrato ou quando for solicitado; seguir as
orientações do representado, não podendo conceder 10.6.7 Falência
abatimentos, descontos ou dilações, salvo com autorização No caso de o representado sofrer decretação de falência
expressa; respeitar a cláusula de exclusividade, se pactuada. e o representante tiver crédito para receber, relacionados
com a representação comercial, inclusive comissões vencidas
10.6.4 Obrigações do representado e vincendas, indenização e aviso prévio, deve-se habilitá-lo
Em suma, a obrigação principal do representado é efetuar como credor, equiparando-se o crédito ao crédito
o pagamento da remuneração do representante. trabalhista, pela sua natureza alimentar.

10.6.5 Rescisão do contrato 10.7 Responsabilidade


Quando o contrato de representação for rescindido, Como se vê, a empresa é plenamente responsável pelos
deve-se saber qual das partes quer extingui-lo, bem como se atos praticados por seus prepostos desde que em seu nome,
houve justa causa, que se caracteriza com o descumprimento ou seja, exercendo sua função dentro da atividade
das obrigações das partes, para estabelecer as empresarial.
consequências. Assim, se o contrato for rescindido pelo: Os preponentes são responsáveis pelos atos de qualquer
preposto, desde que praticado em seus estabelecimentos e
• Representado: as consequências variam se o rompimento
relativos à atividade da empresa, mesmo que não
foi por justa causa ou não:
autorizados por escrito.
→ Com justa causa: presume-se que o representante Quando os atos de seus prepostos forem praticados fora
do estabelecimento, somente obrigarão o preponente nos
descumpriu suas obrigações, e sendo assim, o
limites dos poderes conferidos por escrito em instrumento
representado não precisa pagar nada ao
específico, que não pode ser suprido pela certidão ou cópia
representante, podendo, ainda, pleitear perdas e
autêntica do seu teor.
danos, se tiver sofrido algum prejuízo resultante do
Além disso, o art. 932, III, do Código Civil responsabiliza o
ato que originou a justa causa. O art. 35 da lei nº
empregador pela reparação que tenha causado seu
4.886/1965 estabelece os motivos justos para
preposto.
rescisão do contrato de representação comercial,
pelo representado, sendo eles por: falta de atenção
do representante no cumprimento das obrigações Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:
decorrentes do contrato; prática de atos que III - o empregador ou comitente, por seus empregados,
importem em descrédito comercial do serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes
representado; falta de cumprimento de quaisquer competir, ou em razão dele;
obrigações inerentes ao contrato de representação
comercial; condenação definitiva por crime
considerado infamante (contrário à honra); força O empregador, inclusive, deverá reparar o dano ainda
maior; que não haja culpa de sua parte (responsabilidade objetiva).

→ Sem justa causa: conforme o art. 34, deve haver um


Isso se dá por não ter a empresa/empregador escolhido
bem seu preposto (“culpa in elegendo”), por não ter
pré-aviso, juntamente com a indenização. instruído bem seu preposto (“culpa in instruindo”), por não
• Representante: as consequências também variam se o vigiar os atos de seu preposto (“culpa in vigilando”) e/ou até
rompimento foi por justa causa ou não: mesmo porque a empresa/empregador lucra com os atos de
seu preposto, então, teria que arcar também com os
→ Com justa causa: a justa causa dá direito a prejuízos por ele causado.
indenização, pois o representado descumpriu
alguma obrigação; 10.8 Conclusão
→ Sem justa causa: quando não há motivo justo, o A empresa só existe pelas pessoas que a fazem. Os
prepostos ao exercerem suas atividades fazem com que a
representante deve dar o pré-aviso ao

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DIREITO EMPRESARIAL
atividade empresarial seja realizada. Portanto, atuam em Observe de modo esquematizado:
nome da empresa.
Sendo assim, é de uma boa cautela empresarial procurar
colocar para trabalhar ou prestar serviços pessoas com a
mentalidade semelhante aos valores que a empresa deseja
incutir no mercado com a sua atuação. De forma que o
preposto seja reflexo da empresa, pois, juridicamente a
situação é exatamente essa.
Na dúvida, contate um advogado especialista de sua
confiança!
■ Propriedade intelectual
■ Propriedade industrial
■ 11. PROPRIEDADE INDUSTRIAL
O que analisamos em Direito Empresarial é a
11.1 Introdução propriedade industrial, uma das espécies do
O empresário, para iniciar o exercício da sua atividade gênero propriedade intelectual, assim como o direito autoral.
econômica, necessita organizar todo um complexo de bens Direito autoral é tema de Direito Civil, propriedade industrial
que o permite desempenhar este “mister”. A esse complexo é assunto atinente ao Direito Empresarial, regulamentado
de bens dá-se o nome de “estabelecimento empresarial”, e pela Lei de Propriedade Industrial, que será abordada no
dentre os bens que o compõem incluem-se os materiais e presente estudo. Portanto, propriedade intelectual é gênero,
imateriais, como são exemplos a marca, as invenções, os que tem como espécies a propriedade industrial e os direitos
modelos de utilidades e etc. autorais.
A finalidade da lei, portanto, é a de garantir a
Propriedade inustrial exclusividade da exploração da propriedade industrial,
possibilitando ao inventor produzir a invenção sozinho,
garantindo alta produtividade, ou licenciar o uso,
Conjunto de bens imateriais, que permitindo que outras empresas o produzam. Através da
Conceitos são utilizados pelo empresário na licença de uso o inventor garante o recebimento de uma
atividade econômica.
remuneração, chamada de “royalties”.

11.2 Dos bens protegidos


Esses bens imateriais, hoje, são objetos de uma tutela
Os bens protegidos pela lei das propriedades industriais,
jurídica específica chamada de “direito de propriedade
classificados como bens móveis, são os seguintes: invenção;
industrial”.
modelo de utilidade; desenho industrial; marca.
No fim do século XIX, alguns países sentiam a necessidade
de produzir leis uniformes sobre a propriedade industrial.
Nesse período, aconteceu a Convenção de Paris, da qual o 11.2.1 Invenção
Brasil fez parte, que desenvolveu as primeiras regras e Não há conceito de “invenção” na lei e nem na doutrina.
diretrizes para a uniformização internacional do Mas, pode-se dizer que invenção é tudo aquilo que se inventa
tema. Muitas das normas definidas naquela época continuam que pode ser explorado economicamente.
em vigor, mas hoje o Brasil possui uma legislação especifica Mas para que seja reconhecido como invenção, o bem
sobre a propriedade industrial, que está descrita na lei nº deve atender a alguns requisitos previstos na lei:
9.279/1996, a chamada “Lei de Propriedade Industrial”. • Novidade: segundo o art. 11 da Lei de Propriedade
Antes de adentrarmos no estudo da lei, é importante ter Industrial, é aquilo que não está compreendido no estado
em mente que propriedade industrial não se confunde com da técnica. Em outras palavras, quando o invento (aquilo
propriedade intelectual. que foi inventado) constituir algo desconhecido até mesmo
da comunidade científica da área de conhecimento, ele
não está compreendido no estado da técnica. É algo novo;
• Atividade inventiva: a atividade inventiva, disciplinada no
art. 13, ocorre sempre que para um técnico no assunto não
decorra de maneira óbvia ou evidente do estágio atual da
técnica. Ou seja, o inventor deve provar que chegou
àquele resultado novo em decorrência de um ato de
criação seu, o que diferencia a invenção de uma

41
DIREITO EMPRESARIAL
descoberta. Por exemplo, um descobridor descobre uma A doutrina diz que o desenho industrial é o elemento fútil
jazida de metal precioso, já um inventor cria um mecanismo porque não traz nenhum tipo de melhoria, de utilidade, só se
de aproveitamento desse metal. Uma coisa é descobrir a preocupando com a estética, com a configuração externa.
eletricidade, outra coisa diferente é inventar a lâmpada; Se trouxer algum tipo de utilidade, já não é mais desenho, é
modelo de utilidade.
• Aplicação industrial: a aplicação industrial, terceiro
São exemplos de desenho industrial a garrafa térmica
requisito, limita como invenção somente aquilo que tem
com um resultado visual novo, a garrafa de cerveja que tem
aplicação industrial, ou seja, quando o projeto puder ser
um design proporcionando melhor adaptação das mãos e a
utilizado, produzido em indústria. Quando for útil. Como
nova estética de um aspirador de pó. A haste flexível dos
exemplo interessante é o caso de alguém inventar um
óculos que o adapta melhor à cabeça, no entanto, é modelo
motor considerado o mais rápido do mundo, mas que só
de utilidade. Em outras palavras, o modelo de utilidade traz
funcionaria com um combustível que só existe em Marte.
melhoria e o desenho industrial muda o design.
Esta hipótese não pode ser considerada invenção já que é
impossível ser industrializada, não é viável ir até outro
planeta buscar tal combustível, não cumprindo assim, o 11.2.4 Marca
requisito de aplicação industrial; Conforme dispõe o art. 122, marca é o sinal distintivo,
visualmente perceptível, não compreendido nas proibições
• Não impedimento: por fim, só pode ser considerado como legais.
invenção aquilo que não estiver impedido pelo art. 18. Tal Por meio da marca você procura identificar um produto
artigo elenca como casos de impedimentos à patente tudo ou serviço, ou seja, ela é o elemento de identificação, de
o que for contrário a moral aos bons costumes, à saúde distinção.
pública, tudo o que for resultado ou resultante de No Brasil, não é possível registrar sinal sonoro, sendo
transformação do núcleo atômico e o todo ou parte dos permitido registrar como marca apenas aquilo que é
seres vivos, exceto os micro-organismos. O inventor pode visualmente perceptível. O sinal auditivo “plim-plim” da Rede
até atender aos outros requisitos, mas se a invenção se Globo, por exemplo, não pode ser registrado como marca.
enquadrar em qualquer um dos casos citados, não será Por outro lado, na Europa é possível registrar o som do motor
patenteável. de uma moto Harley Davidson. No nosso país, no entanto, só
pode ser registrado como marca aquilo que se vê.
O art. 123 da lei traz as espécies de marca:
11.2.2 Modelo de utilidade
O modelo de utilidade está definido no art. 9º da
respectiva lei como sendo o objeto de uso prático, ou parte Art. 123. Para os efeitos desta lei, considera-se:
deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente nova I - marca de produto ou serviço: aquela usada para
forma ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte distinguir produto ou serviço de outro idêntico,
em melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação. semelhante ou afim, de origem diversa;
O modelo de utilidade pode ser considerado como uma II - marca de certificação: aquela usada para atestar a
pequena invenção, algo que foi criado para trazer uma
conformidade de um produto ou serviço com
utilidade maior para algo já existente. Ele traz uma melhoria determinadas normas ou especificações técnicas,
funcional para um ato inventivo, para algo que já é notadamente quanto à qualidade, natureza, material
considerado invenção. A palavra-chave é “melhoria
utilizado e metodologia empregada;
funcional”.
III - marca coletiva: aquela usada para identificar
Podemos citar como exemplos de modelo de utilidade, a
produtos ou serviços provindos de membros de uma
invenção de um cabo anatômico de uma vassoura criado para
determinada entidade.
amenizar dores na coluna daquele que a utiliza. Uma
churrasqueira sem fumaça, segundo o STJ, é modelo de
utilidade porque o mecanismo que impede a fumaça é algo Assim temos que a marca poderá ser:
criado para trazer uma melhoria para o invento já existente,
• De produto ou serviço: é a que distingue um produto ou
que é a churrasqueira.
serviço de outro igual, semelhante ou afim de origem
diferente. Por exemplo, o símbolo da Adidas e o símbolo da
11.2.3 Desenho industrial Nike que tem por finalidade informar ao consumir que são
O art. 95 da lei define “desenho industrial” como a forma produtos de origem distintas;
plástica ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental
de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, • De certificação: atesta que determinado produto está
proporcionando resultado visual novo e original na sua dentro das normas técnicas ou das certificações legais. Por
configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação exemplo, INMETRO. Este certifica que os brinquedos, por
industrial. exemplo, estão dentro das certificações legais ou não para

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DIREITO EMPRESARIAL
a idade de uma criança; medalha, bandeira, emblema, distintivo e monumento
oficiais, expressão, figura, desenho ou qualquer outro sinal
• Marca coletiva: é aquela usada para identificar produtos
contrário à moral e aos bons costumes ou que ofenda a
ou serviços que advêm de membros de uma determinada
honra ou imagem de pessoas ou atente contra liberdade de
associação, instituição ou entidade. O exemplo mais típico
consciência, crença, culto religioso ou ideia e sentimento
de marca coletiva é a marca existente em todos os pacotes
dignos de respeito e veneração e etc.
de café vinculados à Associação Brasileira dos Produtores
de Café. Essa é uma marca coletiva, significando que o
Tudo aquilo que se inventa, que pode ser
produtor daquele café integra uma coletividade, faz parte Invenção
explorado economicamente.
de uma entidade, visando trazer maior credibilidade ao
produto.
Pequena invenção, algo que foi
Tal qual ocorre com a invenção, a marca também precisa Modelo de utilidade criado para trazer uma melhoria
atender requisitos definidos na lei, são eles: para algo já existente.

• Novidade: é o primeiro deles. No entanto, não se exige que


a novidade seja absoluta, bastando que a mesma seja Bens imateriais
relativa. Tratando da situação em análise, a jurisprudência
fala do princípio da especificidade, que também é É uma criação estética que tem
Desenho industrial aplicabilidade industrial (design).
chamado de “princípio da especialidade”. Por esse Não traz nenhuma utilidade.
princípio, a proteção jurídica conferida pela lei à marca é
restrita ao ramo de atividade em que seu titular atua. Ou
seja, a marca não precisa ser absolutamente nova, Marca
É um sinal que identifica um produto ou
bastando que a originalidade diga respeito apenas ao serviço.
ramo de atividade do seu possuidor. Não obstante não seja 11.3 Proteção
abrangente no que se refere ao seu âmbito material (ramo A Lei de Propriedade Industrial protege a invenção, o
de atividade), a proteção da marca vale em todo o país, ou modelo de utilidade, o desenho industrial e a marca, além de
seja, no âmbito territorial a proteção é de abrangência reprimir a falsa indicação geográfica e a concorrência desleal.
nacional; A proteção dos bens móveis se dá através da patente e
• Não colidência com marca notória: marca notória é aquela do registro. Patente é o título que formaliza a proteção da
ostensivamente pública e conhecida de popularidade invenção e do modelo de utilidade. Já o Registro é o título
internacional. São exemplos de marca notória, ou seja, de que formaliza a proteção do desenho industrial e da marca.
reconhecimento internacional: Visa; Motorola; Sony;
Honda. Interessante o fato de que a marca notória, assim Protege a invenção e o modelo de
como fato notório, não precisar de registro no Instituto Patente
utilidade.
Nacional de Propriedade Industrial para ter proteção
legal. Isso significa que o Brasil é obrigado a proteger uma
marca notória, ainda que ela não tenha sido aqui Proteção
registrada. Tal obrigação decorre do fato de ser o Brasil
signatário da Convenção da União de Paris que determina
aos países signatários que protejam a marca notória. O Protege a marca e o desenho
Registro industrial.
Instituto Nacional de Propriedade Industrial é a autarquia
federal, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior, responsável pela concessão 11.3.1 Patente
de privilégios e garantias aos inventores e criadores em Só é garantida a exclusividade da exploração de uma
âmbito nacional. Vale salientar que não se pode confundir invenção ou de um modelo de utilidade àquele que obtiver a
marca notória com marca de alto renome. Segundo o art. concessão de uma patente junto ao Instituto Nacional de
125, à marca registrada no Brasil considerada de alto Propriedade Industrial. Portanto, o inventor ou criador só
renome será assegurada proteção especial, em todos os terá direito à exclusividade de exploração quando
ramos de atividade. Assim, quando o Instituto Nacional de patenteada a invenção.
Propriedade Industrial reconhece uma marca como de alto A patente tem finalidade de proteção ao
renome, ela terá proteção em todos os ramos de atividade, desenvolvimento tecnológico e funciona como incentivo à
ao contrário da marca notória; pesquisa, pois garante ao inventor e ao criador a exploração
exclusiva e o usufruto dos lucros decorrentes da novidade.
• Não impedimento legal: os casos de impedimento legal
Contudo, a exclusividade decorrente da patente é
estão no art. 124 da lei que elenca uma série de itens não
limitada a 20 anos no caso de invenção e a 15 anos no caso
registráveis como marca, tais como: brasão, armas,

43
DIREITO EMPRESARIAL
de modelo de utilidade. O prazo é contado da data do O registro também tem prazo estabelecido, 10 anos,
depósito do pedido de patente junto ao instituto. A patente, sendo que o marco inicial é a concessão pelo instituto.
no entanto, é improrrogável. Após o prazo de 20 ou 15 anos, Diferentemente da patente, o registro é passível de
conforme o caso, a patente cai em domínio público e a prorrogação. A lei permite a prorrogação do desenho
invenção pode ser explorada por terceiros. industrial por até 3 vezes, garantidos 5 anos de prorrogação
Como os direitos de propriedade industrial são a cada vez. Acabada a terceira prorrogação, o bem cai em
considerados bens móveis para os efeitos legais do art. 5º da domínio público. Já o pedido de prorrogação de uso da
lei mencionada, o titular da patente exerce sobre ela um marca é ilimitado, sendo concedida sempre por igual
direito patrimonial disponível. Assim, o titular da patente período. Ou seja, a cada 10 anos. De modo esquematizado:
pode, por exemplo, cedê-la ou mesmo o seu pedido de
concessão.
Há também a possibilidade de o inventor decidir licenciar
O prazo de proteção é de 20 anos para
a exploração da patente mediante contrato de licença a ser invenção e 15 anos para modelo de
averbado junto ao instituto para que produza efeitos perante Patente
utilidade. Quanto a prorrogação, é
terceiros. Essa licença pode ser: improrrogável!

• Voluntária: está regulamentada nos arts. 61 a 67. Para


celebrar o contrato de licença, o titular da patente vai exigir Prazos
do licenciado uma contraprestação (“royalties”); O prazo de proteção é 10 anos para a
marca e para o desenho industrial.
• Compulsória: se dá nos termos dos arts. 68 a 74 da mesma
Quanto a prorrogação, para a marca é
lei. Ela é utilizada como sanção aplicada ao titular da Registro ilimitado e para o desenho industrial o
patente ou para atender aos imperativos de ordem prazo pode ser prorrogado por mais 5
pública. O primeiro caso de licença compulsória no Brasil anos, por no máximo 3 vezes.
foi o da liberação de fabricação de remédios contra a AIDS,
mesmo durante a vigência de uma patente sobre a sua
■ 12. DIREITO SOCIETÁRIO
invenção. O art. 71 permite que, havendo interesse público
ou no caso de emergência nacional, seja concedida a
licença compulsória. Esta só pode ser concedida pelo Poder 12.1 Conceitos
Executivo Federal e tem o condão de permitir a exploração O Direito Societário nada mais é do que o estudo das
da invenção por terceiros, ainda que ela esteja patenteada. sociedades, que são pessoas jurídicas de Direito Privado
Mas essa licença compulsória é temporária e não pode ser resultantes da união de pessoas, constituídas com a
concedida a pessoa determinada. Se o intuito é atender finalidade de explorar uma atividade econômica e repartir
interesse nacional, não pode ter exclusividade. O titular da lucros entre seus membros. Esse intuito lucrativo é o que
patente terá o direito de receber um percentual sobre diferencia as sociedades das associações, que, por sua vez,
produção decorrente da exploração pelo terceiro. De modo também são pessoas jurídicas de Direito Privado decorrentes
esquematizado, temos: da união de pessoas, mas sem fins econômicos. Veja o que
dizem os dispositivos do Código Civil que traam dessas
modalidades de pessoas jurídicas:
O titular exige a contraprestação
Voluntária para conceder a licença para um
terceiro. Art. 53. Constituem-se as associações pela união de
pessoas que se organizem para fins não econômicos.
Licença

O Estado usa como sanção ou


Agora obeserve:
permite que, havendo interesse
Compulsória público ou caso de emergência
nacional, seja concedida a Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas
licença. que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou
serviços, para o exercício de atividade econômica e a
partilha, entre si, dos resultados.
11.3.2 Registro
Por outro lado, para garantir exclusividade no uso da
As sociedades, portanto, são formadas para explorar
marca e do desenho industrial, é preciso registrá-los também
atividade econômica, enquanto as associações são formadas
no instituto. O desenho industrial e a marca não são
para diversas finalidades, mas sem a distribuição de lucros
patenteáveis, mas sim registráveis.
entre seus associados.

44
DIREITO EMPRESARIAL
Feita essa distinção, precisamos aprender então o que é parágrafo único do art. 966.
uma sociedade empresária. O conceito de “empresário” do Nem toda atividade econômica configura atividade
art. 966 do Código Civil alcança tanto o empresário individual empresarial, já que nesta é imprescindível o elemento da
(pessoa física) quanto a possibilidade de a empresa ser organização dos fatores de produção. Seguindo essa mesma
exercida por um grupo de pessoas, que então farão parte de lógica, concluímos que nem todas as sociedades podem ser
uma sociedade empresária (pessoa jurídica). É importante consideradas empresariais. Basicamente, portanto, temos
lembrar também que existe hoje a nova figura da Empresa dois tipos de sociedades. Temos as sociedades simples e as
Individual de Responsabilidade Limitada, prevista no art. sociedades empresárias.
980-A do Código Civil. Observe: De modo esquematizado, temos:

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce


profissionalmente atividade econômica organizada para a Não tem atividade econômica
produção ou a circulação de bens ou de serviços. Simples empresarial (não possui a
característica da empresalidade).
Parágrafo único. Não se considera empresário quem
exerce profissão intelectual, de natureza científica,
literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares Sociedade
ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão
constituir elemento de empresa. Tem atividade econômica
Empresarial empresarial (possui a
característica da empresalidade).
Também temos:

Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade O Código Civil define, em seu art. 982, qual o objeto da
limitada será constituída por uma única pessoa titular da sociedade empresária e da sociedade simples. Observe:
totalidade do capital social, devidamente integralizado,
que não será inferior a 100 vezes o maior salário-mínimo
vigente no país. Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se
empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de
atividade própria de empresário sujeito a registro (art.
Como a constituição de uma sociedade empresária traz 967), e, simples, as demais.
maiores possibilidades de atuação, ao menos do ponto de
vista mercadológico, do que a atividade desempenhada pelo
empresário individual, as sociedades são mais Resumindo, em regra, o que define uma sociedade como
representativas no que se refere ao volume de negócios no empresária ou simples é o seu objeto social. Se este for
país. Isso ocorre porque a constituição dos sócios, trazendo explorado com empresarialidade (profissionalismo e
maior segurança e proteção quanto ao patrimônio individual organização dos fatores de produção), a sociedade será
de cada um e, portanto, minimizando o risco empresarial. empresária. Se ausente a empresarialidade, teremos uma
Em outras palavras, cada sócio contribui para a formação sociedade simples.
do patrimônio da sociedade, que é separado do patromônio Mesmo essa regra, porém, conta com exceções, já que o
de cada um dos sócios. Apenas o patrimônio da sociedade, parágrafo único do art. 982 determina que,
portanto, responderá pelos resultados da empresa. Estou independentemente do objeto social, a sociedade por ações
mencionando esse arranjo como regra geral, mas a limitação smepre será empresária, e a cooperativa sempre será uma
de responsabilidade dos sócios dependerá também da sociedade simples.
modalidade oscial adotada. Em algumas sociedades, como Um exemplo de sociedade simples são as chamadas
veremos mais adiante, não há limitação de responsabilidade, “sociedades uniprofissionais”, formadas por profissionais
ou, em outras palavras, as obrigações sociais podem alcançar intelectuais cujo objeto social é a exploração da respectiva
o patrimônio de um ou mais sócios. profissão intelectual dos seus sócios. Nelas, em geral, não
Pois bem, segundo o art. 966 do Código Civil, a atividade está presente o requisito da organização dos fatores de
empresarial envolve a organização dos fatores de produção produção, da mesma forma que ocorre com os profissionais
para o exercício da atividade econômica voltada para a intelectuais que exercem individualmente suas atividades.
produção ou circulação de bens ou de serviços. Você também Lembre-se ainda, porém, que, nos termos do parágrafo
já sabe que há várias pessoas físicas que exercem atividade único do art. 966, caso o exercício da profissão intelectual dos
econômica, mas que, por não estarem presentes os fatores sócios da sociedade uniprofissional constitua elemento de
de produção organizados, não considerados empresários. É o empresa, ou seja, nos casos em que as sociedades
caso dos profissionais intelectuais mencionados pelo uniprofissionais explorarem seu objeto social com

45
DIREITO EMPRESARIAL
empresarialidade (organização dos fatores de produção), As empresas públicas possuem personalidade jurídica de
estas serão consideradas sociedades empresárias. Direito Privado sendo submetidas as mesmas regras legais
Podemos dizer, de forma resumida, que a diferença entre impostas há uma empresa privada, não pode elas auferir
as sociedades simples e as sociedades empresárias não está algum tipo de vantagem tendo em vista os limites
no simples fato de uma possuir finalidade lucrativa e a outra constitucionais previstos (art. 173, § 1º, II, CRFB/88).
não, até porque as sociedades simples em geral têm fins
lucrativos. A distinção deve seer feita em função do objeto
Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta
social: a sociedade empresária tem por objeto o exercício de
Constituição Federal, a exploração direta de atividade
empresa (atividade econômica organizada de prestação ou
econômica pelo Estado só será permitida quando
circulação de bens ou serviços), enquanto a sociedade
necessária aos imperativos da segurança nacional ou a
simples tem por objeto o exercício de atividade econômica
relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.
não empresarial.
§ 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa
pública, da sociedade de economia mista e de suas
12.2 Empresa pública e sociedade de econ. mista subsidiárias que explorem atividade econômica de
Quando se fala em empresas estatais, logo vem a produção ou comercialização de bens ou de prestação de
memória a era Getúlio Vargas como pedra angular desses serviços, dispondo sobre:
instrumentos que o Estado utiliza para atuar na economia. De
II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas
fato, é um marco, mas não o início de tudo. Ao voltar um
privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis,
pouco mais na história encontraremos no século XIX a criação
comerciais, trabalhistas e tributários;
de empresas públicas, com destaque para o Banco do Brasil
(de 1808) e Caixa Econômica Federal (de 1861).
Dito isto, e retificando o já exposto, foi na era de Getúlio Nossa Constituição Federal determina que a exploração
Vargas, mais precisamente no início de 1940, que a criação da atividade econômica pelo Estado é permitida, desde que
de empresas públicas ganha impulso devido a 2ª Gerra haja necessidade de proteção a segurança nacional ou a
Mundial que resultou na dificuldade de importações de bens relevante interesse coletivo, ou seja, a criação de uma
e matérias-primas, desaguando na necessidade de rápida empresa pública não é concebida, em tese, pelo arbítrio do
industrialização do Brasil. Estado em auferir lucros, devendo a concepção dessas
Podemos citar dessa época a criação de empresas como a empresas ocorrerem de acordo com o interesse social, como
Companhia Siderúrgica Nacional (1941), a Companhia Vale nos casos de empresas públicas prestadoras de serviços
do Rio do Doce (1942), e a Companhia Hidro-Elétrica do São públicos monopolizados pelo Estado.
Francisco (1945). O estatuto jurídico de uma empresa pública é baixado por
Com o advento do decreto-Lei de nº 200/1967 com lei onde serão regulados sua função social, formas de
redação dada pelo decreto-Lei 900/1969, que dispõe sobre a fiscalização pelo Estado, sujeição de seu regime jurídico,
organização federal temos a divisão da Administração licitação e contratação de obras, serviços, compras,
Federal em direta, constituída dos serviços integrados na alienações, constituição e funcionamento de seu conselho
estrutura administrativa da presidência da república e dos administrativo, os mandatos, avaliação de desempenho e a
ministérios, e indireta, que são compostas por entidades de responsabilidade de seus administradores.
personalidade jurídica própria, entre elas as empresas Por fim, a Constituição Federal prevê tratamento especial
públicas e as sociedades de economia mista. para empresa pública quanto a sua relação com o Estado e a
sociedade no mesmo dispositivo. Observe:
12.2.1 Empresa Pública
De acordo com o decreto-lei nº 200/1967, em seu
§ 3º. A lei regulamentará as relações da empresa
art. 5º, II, empresa pública é:
pública com o Estado e a sociedade.

Art. 5º. Para os fins desta lei, considera-se:


II - empresa pública, a entidade dotada de
12.2.2 Sociedade de economia mista
Positivada no art. 5º, III do decreto-lei nº 200/1967, a
personalidade jurídica de Direito Privado, com patrimônio
sociedade de economia mista conceitua-se como:
próprio e capital exclusivo da União, criado por lei para a
exploração de atividade econômica que o governo seja
levado a exercer por força de contingência ou de III - sociedade de economia mista, a entidade dotada de
conveniência administrativa podendo revestir-se de personalidade jurídica de Direito Privado, criada por lei
qualquer das formas admitidas em Direito. para a exploração de atividade econômica, sob a forma de
sociedade anônima, cujas ações com direito a voto

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DIREITO EMPRESARIAL
pertençam em sua maioria à União ou a entidade da revestir sob qualquer forma admitida em Direito, ou seja,
Administração Indireta. será sempre sociedade comercial. A sociedade de economia
mista, por sua vez, sua forma organizacional será sempre nos
moldes das sociedades anônimas podendo se tratar de uma
Essas instituições foram criadas pelo Estado para fins
sociedade comercial ou civil.
empresariais. Seu capital possui participação do ente estatal
Cumpre mencionar a diferença quanto a composição do
que a criou, a maior parte do capital, e conta também com a
capital social. As empresas públicas possuem capital
participação de capital privado.
predominantemente do Estado, o que não impede que
Assim como as demais entidades paraestatais, é criada
outras pessoas jurídicas de Direito Público interno tenham
através de lei específica cabendo lei complementar definir as
participação, inclusive as sociedades de economia mista. No
peculiaridades na forma de atuação.
caso desta última, s sociedade de economia mista, como já
O mais marcante nas sociedades de economia mista é a
destacado, seu capital é constituído de aportes do Estado e
obrigação da participação do Estado na direção da empresa.
de particulares.
Isto ocorre, pois é a maneira que legitima o Estado a definir
Por último, quanto a competência jurisdicional, por força
os rumos da atividade específica que lhe foi conferida por
do art. 109, I, da Constituição Federal, as empresas públicas
meio de delegação legal.
pertencentes à União terão suas demandas julgadas na
Vale salientar, que assim como as empresas públicas, as
Justiça Federal. O mesmo não ocorre quanto as demais
sociedades de economia mista se submetem ao mesmo
empresas públicas no âmbito dos Estados, Distrito Federal,
regime jurídico de Direito Privado, e suas relações com o
Municípios e as sociedades de economia mista, por estarem
Estado e a sociedade obedecem aos mesmos limites
sob a égide da competência residual dos tribunais de justiça
constitucionais previsto no art. 173, §
dos Estados.
1º, I, II, III e IV da Constituição Federal.
De modo esquematizado temos:

12.2.3 Semelhanças e distinções


Quanto as semelhanças entre empresa pública e Pode ser de qualquer forma, tem
sociedade de economia mista encontra-se a necessidade de capital predominante do Estado e
Empresa pública as demandas relacionadas a ela
previsão legal para a criação de ambas, como resta serão julgadas pela Justiça
positivado no art. 5º, II e III, do decreto-lei nº 200/1967, bem Federal.
como o disposto no art. 236 da lei nº 6.404/76 e o
art. 37, XIX, da Cosntituição Federal. Ambas possuem Diferenças
personalidade jurídica de Direito Privado onde vemos Será sempre anônima, tem
legislado nesse sentido no art. 173, § 1º, II e § 2º da capital do Estado e de particular
Sociedade de e as demandas relacionadas a ela
Constituição Federal, sujeição ao controle estatal de suas economia mista serão julgadas pelo Tribunal de
atividades (art. 5º, II e III do decreto-Lei nº 200/1067 e o art. Justiça do Estado.
173, § 1º da Constituição Federal).
A derrogação parcial do regime de Direito Privado para o
regime de Direito Público é outra semelhança importante. 12.2.4 Conclusão
Geralmente é a própria Constituição Federal que autoriza
É límpida a intenção do Estado de usar esses mecanismos
essas derrogações ou na redação de leis esparsas como a lei
como forma de garantir seu monopólio em determinados
nº 8.666/1993 e as Lei de sociedade anônima, o mesmo não
setores da economia, e na prestação de determinados
pode ser feito pelas empresas estatais no âmbito estadual e
serviços públicos.
municipal haja vista que estes não podem legislar sobre
A regulamentação desses entes paraestatais e suas
Direito Civil ou Comercial.
atividades talvez sejam uma das mais compreensíveis do
Há que se destacar a finalidade econômica, podendo ser
Direito Administrativo atual, pelo menos para os operadores
com o de intervenção na economia ou na prestação de
do Direito, tendo em vista que é possível entender a regra
serviço público assumido pelo Estado.
geral de formação, organização, atuação e extinção desses
Por fim, ainda se tratando de semelhanças, com fulcro
entes paraestatais.
nos princípios da legalidade e da especificação, a atividade
No entanto, sabendo que o princípio da legalidade
fim vincula-se aos fins específicos instituídos em lei que as
compõe uma das bases do Direito Administrativo, é cabível
criou, não podendo o ente paraestatal atuar de forma
uma legislação condensada, com fácil acesso e compreensão
contrária daquela para qual foi criada. Ressalta-se que essa
para o leigo. Ora, políticos e seus militantes bradam que as
vinculação alcança os demais entes da Administração
empresas públicas pertencem ao povo, então nada mais justo
Indireta.
que fique claro a este povo como se dá toda amplitude dessas
Quanto as distinções, cabe especial destaque as formas
entidades.
de organização. No caso da empresa pública, ela poderá se
Não só isso, mas a disponibilização de meios mais eficazes

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DIREITO EMPRESARIAL
do que os que já existem, para que o cidadão comum possa Essas são as chamadas “atividades reguladas, que, em
fiscalizar de perto a atuação do Estado na economia através geral, submetem-se a estruturas regulatorias centrais que
das empresas estatais. compõem o Poder Executivo Federal, como as agências
A história tem nos mostrado como é danosa a intervenção reguladoras (que regulam as atividades relacionadas a
estatal na economia, tanto quando fala-se em corrupção ou energia elétrica, petróleo, telecomunicações, transportes, e
quando nos referimos a ineficiência e deficiência do Estado etc.), o Naco Central do Brasil (que regula as instituições
nas atividades econômicas. Havendo uma legislação clara e financeiras), a Superinterdência de Previdência
instrumentos que simplifique ao máximo o entendimento do Complementar (que regula os fundos de pensão) e a
cidadão comum, quanto à forma, organização e atuação Comissão de Valores Mobiliários (que regula as sociedades de
dessas empresas, haveria uma facilitação na formação de capital aberto), e etc.
juízo da sociedade sobre a real necessidade de manutenção Como regra geral, a sociedade que depende de
desses entes. autorização tem o prazo de 12 meses para entrar em
Ainda que em um primeiro momento a atuação do Estado funcionamento, contados da publicação da lei ou do ato
na economia pareça benéfica, no longo prazo, isso se administrativo autorizador, salvo se nesses for estipulado
mostrará danosa. O ser humano é um ser imediatista que só prazo diferente (conforme o art. 1.124).
considera sua situação momentânea sem se preocupar com Uma vez concedida a autorização, nada impede que a
o longo prazo. mesma venha a ser cassada peo poder concedente. Isso
Diante dessa máxima, quando o Estado atua através da ocorrerá se a sociedade infrigir disposição de ordem pública
economia e aparentemente “beneficia” a população não se ou praticar atos contrários aos fins declarados no seu
leva em conta os resultados de seus atos no decorrer do estatuto. Observe:
tempo que, como nos mostra a história, sempre
desemborcará em crises. Salienta o economista francês
Art. 1.125. Ao Poder Executivo é facultado, a qualquer
Frédéric Bastiat:
tempo, cassar a autorização concedida a sociedade
nacional ou estrangeira que infringir disposição de ordem
Na esfera econômica, um ato, um hábito, uma pública ou praticar atos contrários aos fins declarados no
instituição, uma lei não gera somente um efeito, mas uma seu estatuto.
série de efeitos. Dentre esses, só o primeiro é imediato.
Manifesta-se simultaneamente com a sua causa. É visível.
Os outros só aparecem depois e não são visíveis. Podemo- 12.3 Sociedade nacional e estrangeira
nos dar por felizes se conseguirmos prevê-los. Ao contrário do que se poderia imaginar, o critério para
definir da nacionalidade de uma sociedade não é o da
nacionalidade de seus sócios, nem da origem de seu capital
Portanto, se hoje é inviável devido à falta de vontade social. O tema é objeto do art. 1.126 do Código Civil. Veja:
política e ideológica que o Estado deixe atuar na atividade
econômica, é salutar que ao menos a sociedade tenha acesso
a uma legislação clara e instrumentos que permitam uma Art. 1.126. É nacional a sociedade organizada de
fiscalização rígida, sendo necessário observar a complexidade conformidade com a lei brasileira e que tenha no país a
do assunto que começa no meio jurídico e, por conseguinte, sede de sua administração.
atingem os âmbitos econômico e social. Parágrafo único. Quando a lei exigir que todos ou
alguns sócios sejam brasileiros, as ações da sociedade
12.3 Sociedades dependentes de autorização anônima revestirão, no silêncio da lei, a forma
A Constituição de 1988 consagrou o regime capitalista de nominativa. Qualquer que seja o tipo da sociedade, na sua
mercado, estabelecendo especificamente os princípios da sede ficará arquivada cópia autêntica do documento
livre iniciativa e da livre concorrência (presente no art. 170). comprobatório da nacionalidade dos sócios.
Por outro lado, existem algumas atividades cujo exercício é
de interesse público, e por isso dependem de autorização e Se a sociedade foi organizada no Brasil, segundo a lei
estão submetidas a fiscalização governamental. Observe: brasileira, e tem sede no país, por tanto, será considerada
uma sociedade nacional. Por outro lado, se a sociedade não
Art. 1.123. A sociedade que dependa de autorização do atende a esses requisitos, será considerada estrangeira, e por
Poder Executivo para funcionar reger-se-á por este título, isso necessitará de autorização governamental para entrar
sem prejuízo do disposto em lei especial. em funcionamento no país. Importante lembrar, porém, que
Parágrafo único. A competência para a autorização nada impede que essa sociedade estrangeira seja acionista
será sempre do Poder Executivo federal. de sociedade anônima. Observe:

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DIREITO EMPRESARIAL
bens cuja propriedade não se comunica, e, mesmo na
Art. 1.134. A sociedade estrangeira, qualquer que seja
separação obrigatória, há a possibilidade de aquisição de
o seu objeto, não pode, sem autorização do Poder
bens em condomínio.
Executivo, funcionar no País, ainda que por
Deve-se ainda mencionar que o art. 977 apenas proíbe a
estabelecimentos subordinados, podendo, todavia,
constituição de sociedade, nesses termos, com os dois
ressalvados os casos expressos em lei, ser acionista de
cônjuges como sócios, sendo perfeitamente possível e
sociedade anônima brasileira.
juridicamente aceitável, diantede nosso ordenamento, que
um dos cônjuges contrate sociedade com terceiro,
Não confunda! A sociedade organizada no Brasil, segundo independentemente do regime de bens adotado no
a lei brasileira, com sede no país, será considerada uma casamento.
sociedade nacional, independentemente da nacionalidade
dos seus sócios. 12.5 Desconsideração da personalidade jurídica
Uma vez autorizada, a sociedade estrangeira deve Para que uma sociedade empresária seja formalizada,
providenciar seu registro na Junta Comercial do local onde seus atos constitutivos devem ser arquivados no Registro
pretenda desenvolver suas atividades (art. 1.136), e a partir Público de Empresas Mercantis. A partir daí a sociedade
de então estará submetida às leis e à jurisdição brasileiras, no adquire personalidade jurídica, respondendo pelas
que tange aos atos e operações praticados no território obrigações sociais com seu próprio patrimônio.
nacional. Observe: Por outro lado, esse principio não pode ser um dogma. A
personalidade jurídica da sociedade, separada dos sócios,
serve para incentivar a dar segurança à atividade
Art. 1.141. Mediante autorização do Poder Executivo, a
empresarial, mas seu mau uso pode levar a sociedade a ser,
sociedade estrangeira admitida a funcionar no País pode
momentaneamente, tratada como sociedade não
nacionalizar-se, transferindo sua sede para o Brasil.
personificada.
Chamamos esse fenômeno de “desconsideração da
12.4 Sociedade entre cônjuges pessoa jurídica”, e essa circunstância excepcional ocorrerá
O Código Civil de 2002 solucionou um antigo problema do quando a autonomia patrimonial da sociedade estiver
Direito Empresarial que dizia respeito à possibilidade de servindo para acobertar práticas fraudulentas dos sócios. A
contratação de sociedade entre cônjuges, e as relações que possibilidade está prevista no art. 50 do Código Civil.
decorreriam desse contrato social e suas implicações em Observe:
relação ao regime de bens adotado no casamento. Observe:
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica,
Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão
entre si ou com terceiros, desde que não tenham casado patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do
no regime da comunhão universal de bens, ou no da Ministério Público quando lhe couber intervir no
separação obrigatória. processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e
determinadas relações de obrigações sejam estendidos
aos bens particulares de administradores ou de sócios da
A contratação de sociedade entre cônjuges, portanto, é pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo
possível, a não ser que o regime de bens do casamento seja abuso.
o de comunhão universal de bens ou de separação
obrigatória. Segundo o STJ, essa regra vale tanto para
sociedades empresárias quanto para sociedades simples. Uma vez caracterizado o uso indevido da personalidade
O dispositivo do Código Civil sofre críticas da doutrina, jurídica, o juiz pode decidir, a requerimento da parte ou do
uma vez que muitos autores consideram que, em Ministério Público, que os efeitos de certas e determinadas
homenagem ao princípio da livre iniciativa, não deveria haver relações de obrigações sejam estendidos aos bens
qualquer restrição à constituição entre cônjuges. A intenção particulares dos administradores ou sócios da pessoa
do legislador foi dar alguma proteção ao regime de bens do jurídica.
casamento, evitando a impossibilidade de individualização da Em matéria de Direito do Consumidor, a desconsideração
contribuição social de cada cônjuge, no caso da comunhão da personalidade jurídica já está expressa em dispositivos
universal, e evitando que, no caso da separação obrigatória, legais desde 1990, podendo ser adotada pelo juiz quando,
não se possa, por meio da constituição da sociedade, unir o “em detrimento do consumidor”, houver abuso de direito,
que a própria lei determinou que fosse separado. Por outro excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou
lado, as críticas encontram algum fundamento, violação dos estatutos ou contrato social, nos termos do art.
principalmente porque, mesmo na comunhão universal, há 28 do Código de Defesa do Consumidor.
De outro lado temos ainda a Lei de Improbidade

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DIREITO EMPRESARIAL
Administrativa, a lei nº 8.429/1990, que determina a tem como único socio uma sociedade brasileira. Essa
interdição para contratar com o Poder Público de empresa possibilidade encontra respaldo no art. 251, § 2º, da lei nº
que tenha como acionista majoritário autor de ato de 6.404/1976, conhecida como “Lei das Sociedades Anônimas”.
improbidade. Dessa forma, desconsidera-se a personalidade Observe:
jurídica da sociedade empresária porque esta poderia servir
de instrumento para burlar o impedimento de contratar
Art. 251. A companhia pode ser constituída, mediante
aplicado àquele sócio que praticou ato de improbidade.
escritura pública, tendo como único acionista sociedade
O novo Código de Processo Civil trata do incidente de
brasileira.
desconsideração da personalidade jurídica do art. 133 ao art.
§ 2º A companhia pode ser convertida em subsidiária
137. Observe:
integral mediante aquisição, por sociedade brasileira, de
todas as suas ações, ou nos termos do art. 252.
Art. 133. O incidente de desconsideração da
personalidade jurídica será instaurado a pedido da parte
Alguns doutrinadores apontam ainda o caso da empresa
ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no
pública unipessoal, em que toda a participação societária é
processo.
titularizada por uma única pessoa jurídica de Direito Público.
A inexistência de previsão da sociedade unipessoal é
O incidente pode ser instaurado em qualquer fase do objeto de diversas críticas doutrinárias. Muitos autores
processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e apontam a criação do instituto como um imperativo
na execução fundada em título executivo extrajudicial, mas mercadológico, outros dizem que diversos ordenamentos
não será necessária a sua instauração quando a admitem a lmitação patrimonial de um único sócio.
desconsideração for requerida na petição. Essa impossibilidade levou à popularização, no Brasil, de
Uma vez instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa um modelo social “fictício”, que 99% das cotas de uma
jurídica será citado para manifestar-se e requerer as provas sociedade limitada pertencem a uma pessoa, enquanto 1%
cabíveis no prazo de 15 dias. Ocorrerá então a fase de pertence ao outro sócio, que na prática apenas “empresta”
instrução, ao final da qual o incidente será resolvido por seu nome para possibilitar a limitação de responsabilidade, e
decisão interlocutória. Se a decisão for proferida pelo a consequente limitação do risco empresarial do verdadeiro
relator, é cabível o agravo interno. titular da empresa. Tal realidade vem mudando desde a
Se o pedido de desconsideração for acolhido, a alienação criação da empresa individual de responsabilidade limitada,
ou a oneração de bens ocorrida em fraude de execução será incluída no Código Civil em 2011 por meio do art. 980-A.
considerada ineficaz em relação ao requerente. Observe:
Vale mencionar ainda a chamada “desconsideração
inversa da personalidade jurídica”, que se refere à situação
Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade
em que o patrimônio da sociedade é atingido para satisfazer
limitada será constituída por uma única pessoa titular da
obrigações assumidas pessoalmente pelo sócio.
totalidade do capital social, devidamente integralizado,
que não será inferior a 100 vezes o maior salário-mínimo
12.5 Sociedade unipessoal vigente no país.
A possibilidade de constituição de sociedade unipessoal
já é antiga no Direito Empresarial. Basicamente estamos
falando da possibilidade de ser constituída uma sociedade 12.6 Empresa Individual de Responsabilidade
composta por um sócio, apenas. No nosso ordenamento Limitada
jurídico, a pluralidade de sócios é pressuposto de existência A lei nº 12.441/2011 criou no Direito Empresarial
da sociedade, nos termos do art. 981 do Código Civil. brasileiro a figura da EIRELI, que introduduziu a limitação
Observe: patrimonial por meio da afetação do patromônio de uma
única pessoa, compondo uma nova entidade, com
Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas personlidade própria.
que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou Parte relevante da doutrina critica a nomenclatura
serviços, para o exercício de atividade econômica e a adotada, já que a figura criada pela referida lei não é a do
partilha, entre si, dos resultados. empresário individual de responsabilidade limitada, e nem a
sociedade limitada unipessoal. Em qualquer caso, o objetivo
é o mesmo... permitir que um empreendedor, atuando
No Brasil, portanto, não existe, como regra, a figura da sozinho, exerça atividade empresarial limitando sua
sociedade unipessoal. Há porém, um caso bastante responsabilidade ao capital investido no empreendimento, e,
específico em que esse arranjo societário é admitido. É o caso apesaz da estranheza do ponto de vista técnico, a nova lei
da subsidiária integral, espécie de sociedade anônima que consegue atingir esse objetivo.

50
DIREITO EMPRESARIAL
A lei nº 12.441/2011 incluiu no Código Civil o art. 980-A. vezes o maior salário-mínimo vigente no país.
Observe: O que os doutrindores classificam com um outro equívoco
do legislador foi, na criação da EIRELI, definí-la como uma
nova modalidade de pessoa jurídica de Direito Privado,
Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade
inserindo um novo inciso no art. 44 do Código Civil, quando,
limitada será constituída por 1 (uma) única pessoa titular
em vez da EIRELI, poderia ter sido criada facilmente a figura
da totalidade do capital social, devidamente
do empresário individual de responsabilidade limitada ou da
integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o
sociedade limitada.
maior salário-mínimo vigente no país.
Quanto ao nome empresarial, a EIRELI pode adotar tanto
§ 1º O nome empresarial deverá ser formado pela
firma quanto denominação.
inclusão da expressão “EIRELI” após a firma ou a
Há ainda críticas em relação ao veto presidencial do § 4º
denominação social da empresa individual de
do art. 980-A, que previa que somente o patrimônio social da
responsabilidade limitada.
empresa responderia pelas dívidas, não se confundindo, em
§ 2º A pessoa natural que constituir empresa individual
qualquer situação, com o patrimônio da pessoa natual que a
de responsabilidade limitada somente poderá figurar em
constitui, descrito em sua declaração anual de bens entregue
uma única empresa dessa modalidade.
ao órgão competente.
§ 3º A empresa individual de responsabilidade limitada
O dispositivo era justamente o que assegurava a lmitação
também poderá resultar da concentração das quotas de
de responsabilidade de quem constitui uma EIRELI, com a
outra modalidade societária em um único sócio,
afetação de determinados bens e dívidas à entidade, que
independentemente das razões que motivaram tal
deve contar com patrimônio próprio, separado do
concentração.
patrimônio pessoal de seu titular.
§ 4º vetado.
A justificativa para o veto foi a adoção da expressão “em
§ 5º Poderá ser atribuída à empresa individual de
qualquer situação”, que, ao menos em tese, mitigaria a
responsabilidade limitada constituída para a prestação de
possibilidade de aplicação do instituto da desconsideração da
serviços de qualquer natureza a remuneração decorrente
personalidade jurídica, previsto no art. 50 do Código Civil.
da cessão de direitos patrimoniais de autor ou de
Mesmo com o veto, porém, devemos entender que, uma
imagem, nome, marca ou voz de que seja detentor o
vez que a EIRELI conta com personalidade, que haja também
titular da pessoa jurídica, vinculados à atividade
patrimônio próprio, diferente do patrimônio do seu titular.
profissional.
Isso se pode extrair também do § 6º do art. 980-A que prevê
§ 6º Aplicam-se à empresa individual de
a aplicação à EIRELI das normas previstas para as sociedades
responsabilidade limitada, no que couber, as regras
limitadas.
previstas para as sociedades limitadas.
Outra Polêmica gira em torno da possibilidade de uma
§ 7º Somente o patrimônio social da empresa
EIRELI ser titularizada por pessoa jurídica. Não há na redação
responderá pelas dívidas da empresa individual de
do art. 980 nenhum dispositivo que exija que o titular da
responsabilidade limitada, hipótese em que não se
EIRELI seja pessoa natural, mas, ainda assim, o entendimento
confundirá, em qualquer situação, com o patrimônio do
da maior parte da doutrina, bem como das Juntas Comerciais
titular que a constitui, ressalvados os casos de fraude.
tem sido no sentido da impossibilidade da constituição de
EIRELI que tenha como titular pessoa jurídica.
Uma das mais polêmicas regras sobre a EIRELI está Por fim, meciona-se que a regra do § 2º do art. 980-A, em
relacionada à exigência de capital mínimo superior a 100 razão da qual a pessoa natural que constitui EIRELI só poderá
(cem) vezes o valor do salário-mínimo para sua constituição. ser titular de 1 (uma) empresa nessa modalidade. Muitos
No ordenamento jurídico brasileiro não existe qualquer doutrinadores têm sido críticos à tal proibição, sob o
outra exigência de capital mínimo para a construção de argumento que está sendo imposta desnecessária lmitação
sociedades empresárias, razão pela qual foi ajuizada a ação ao princípio da livre iniciativa.
declaratória de inconstitucionalidade nº 4.637 perante o STF,
contra a parte final do “caput” do art. 980-A. A principal
alegação destá relacionada à impossibilidade de adoção do
salário mínimo como indexador do capital mínimo necessário
para abertura da EIRELI. Além disso, o dispositivo esbarraria
na vedação de vinculação do salário mínimo para qualquer
fim, prevista no inc. IV do art. 7º da Constituição Federal de
1988.
Assim, é de suma importância saber que de acordo com o
art. 980-A do Código Civil, para a constituição de EIRELI é
necessário capital mínimo correspondente a 100 (cem)

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DIREITO EMPRESARIAL
De forma esquematizada: 3 (três) classificações importantes para as sociedades
empresárias. A primeira leva em conta a responsabilidade
dos sócios. Segundo esse critério, as sociedades em nome
Empresa individual de responsabilidade limitada coletivo), de responsabilidade lmitada (por exemplo, a
sociedade anônima e a sociedade limitada), ou mistas (por
exemplo, a sociedaade em comandita simples e a sociedade
Expressão “EIRELI” presente no final do
nome empresarial.
em comandita por ações.
Nas sociedades de responsabilidade lmitada, todos os
sócios respondem lmitadamente pelas obrigações sociais, ou
Capital social não inferior a 100 (cem) vezes
Requisitos seja, seu patrimônio pessoal, ao menos em princípio, não
o maior salário mínimo vigente no Brasil.
pode ser executado para satisfazer dívidas contraídas pela
sociedade. Nas socieadades de responsabilidade ilimitada,
Só pode haver um único titular (não podendo
por sua vez, os sócios respondem ilimitadamente, ou seja,
ser pesso jurídica).
esgotado o patrimônio da sociedade, os credores poderão
executar todo o restante da divída social sobre o patrimonio
dos sócios, sem limite. Nas sociedades mistas quanto à
12.7 Classificação responsabilidade, teremos sócios com responsabilidade
O Código Civil prevê alguns tipos de sociedades. Quanto limitada e sócios com responsabilidade ilimitada.
às sociedades empresárioas o legislador foi mais organizado, Outro critério que nos permite classificar as sociedades é
trazendo dispositivos específicos aplicáveis a cada um dos o seu regime de constituição e dissolução. As sociedades
tipos. Por outro lado, em relação às sociedades simples as podem ser contratuais, a exemplo da sociedade lmitada, que
informações são mais esparsas e pouco organizadas, mas são constituídas por meio de um contrato social e dissolvida
reproduzo aqui a tipologia usualmente adotada pela segundo as regras do Código Civil, ou institucionais, a
doutrina. De forma esquematizada: exemplo da sociedade anônima, que são constiuídas por um
ato institucional ou estatutário e dissolvidas segundo as
regras previstas na lei nº 6.404/1976.
Sociedades Sociedade em nome coletivo. Os doutrinadores costumam dizer que a autonomia da
contade dos sócios é maior nas sociedades contratuais do
que nas institucionais, pois naquelas eles podem pactuar
Sociedade em comandita simples. relações sociais como bem entenderem, enquanto nestas
temos as relações sendo reguladas pelos estatutos, que não
cuidam dos interesses particulares dos sócios, mas sim de
Empresárias Sociedade em comandita por ações. sociedade em geral.
Por último, quanto a composição, as socidades podem ser
de pessoas (sociedades intuitu personar) ou de capital
Sociedade limitada. (sociedades intuiti pecuniae).
Nas sociedades de pessoas temos uma importância muito
grande da figura pessoal do sócio. Nesses casos a entrada de
Sociedade Anônima. uma pessoa estranha no quadro social pode afetar
seriamente o destino da empresa. Por outro lado, nas
sociedades de capital o que importa é a contribuição que o
sócio dá ao capital social.
Sociedade simples pura. Havia um entendimento doutrinário, hoje já superado, no
sentido de que as sociedades lmitadas seriam sempre de
pessoas, enquanto as sociedades anônimas seriam sempre
Sociedade em nome coletivo. de capital. Isso poderia fazer algum sentido no passado, mas
hoje não mais. No Brasil, por exemplo, é muito comum que
Simples sociedades anônimas adotem essa feição personalista, tanto
Sociedade em comandita simples. por meio de regras estatutárias quanto por meio de acordos
de acionistas.
Esse entendimento inclusive já é corroborado pela
Sociedade limitada. jurisprudência do STJ, segundo a qual devem-se analisar os
aspectos estatutários e contratuais para aferir e a sociedade
anônima fechada ostenta feição capitalista (vínculo intuitu
Além dos tipos trazidos pelo CódigoCivil, há basicamente pecniae) ou feição personalista (vinculo intuitu personae). Da

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DIREITO EMPRESARIAL
mesma forma, deve-se analisar atentamente o contrato empresária. O Código Civil não faz a distinção se a atividade
social da sociedade limitada para aferir se ostenta feição desenvolvida pelos sócios em comum é ou não empresarial.
capitalista ou personalista. As normas do Código Civil são aplicáveis independentemente
Para fins de esclarecimento, atualmente não se pode da atividade dos sócios.
afirmar que toda sociedade limitada é uma sociedade de A partir do momento em que os sócios decidem constituir
pessoas, e nem que toda sociedade anônima é uma uma sociedade, esta já existe, embora ainda não tenha
sociedade de capital. personalidade jurídica própria. Deste modo, não há que se
confundir sociedade em comum com sociedade irregular e
12.7.1 Sociedades não personificadas sociedade de fato. Observe:
São as que não são dotadas de personalidade jurídica. • Sociedade de fato: não tem contrato escrito;
São as sociedade em nome comum e sociedade em conta de
participação. • Sociedade irregular: a sociedade possui contrato e registro,
É bom lembrar do enunciado nº 208 das Jornadas de atuando normalmente, no entanto, apresenta
Direito Civil que as normas do Código Civil para as sociedades irregularidades;
em comum e em conta de participação são aplicáveis • Sociedade em comum: é sociedade contratual em
independentemente de a atividade dos sócios, ou do sócio formação, ou seja, possui contrato escrito que ainda será
ostensivo, ser ou não própria de empresário sujeito a registro levado a registro no órgão competente.
(distinção feita pelo art. 982 do Código Civil entre sociedade
simples e empresária). Observe-se que não há impedimento para que se utilizem
as normas da sociedade em comum às sociedades de fato e
12.7.1.1 Sociedade comum irregulares por analogia. Aa falta de registro do contrato
Tem referência legislativa do art. 986 a art. 990 do Código social ou de alteração contratual versando sobre matéria
Civil. Para Arnaldo Rizzardo são aquelas que ainda estão em referida no art. 997 (irregularidade superveniente) conduzem
seu processo de constituição, não tendo, ainda, levado seu à aplicação das regras da sociedade em comum.
registro ao órgão competente, não possuindo, desde modo, Para se provar a existência da sociedade há que se
personalidade jurídica própria. Observe a legislação a observar a regra do art. 987, ou seja, terceiros podem provar
respeito: sua existência por qualquer meio de prova admitido em
Direito, os sócios, por sua vez, somente por escrito.
No que se refere à responsabilidade dos sócios em
Art. 986. aplica-se subsidiariamente os dispositivos da relação às obrigações sociais, em regra, observa-se a regra
sociedade simples no que couber, enquanto não contida no art. 1024, segundo o qual os bens particulares dos
registrada. sócios não serão executados por dívidas da sociedade, senão
depois de executados os bens sociais. Observe:
Ainda temos:
Art. 1.024. Os bens particulares dos sócios não podem
ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de
Art. 987. Os sócios devem provar a existência da
executados os bens sociais.
sociedade por escrito. Os terceiros interessados podem
provar sua existência por qualquer meio de prova
admitido em direito e a qualquer momento. No entanto, referida regra exige que a pessoa jurídica
possua personalidade jurídica própria, o que, conforme visto,
só se adquire com registro dos atos constitutivos no órgão
Cabe salientar aqui também que a responsabilidade é
competente. Deste modo, em razão da ausência de
ilimitada e solidária.
personalidade jurídica própria, a responsabilidade dos sócios,
Continuando nossos estudos, obser:
pelas obrigações contraídas, será ilimitada e subsidiária,
para os sócios em geral, e, ilimitada e direta para o sócio que
Art. 988. Os bens e dívidas constituem patrimônio contratou pela sociedade. Quando se fala em solidariedade
especial, sendo de titularidade dos sócios. pelas obrigações sociais, fala-se que os sócios responderão,
eventualmente, com seu patrimônio pessoal. Já, entre
sócios e sociedade, a responsabilidade é subsidiária, ou seja,
Neste sentido, o patrimônio especial a que se refere o art. primeiro os bens que integram o patrimônio especial serão
988 é aquele afetado ao exercício da atividade, garantidor de executados, ou seja, aqueles bens que foram afetados para a
terceiro, e de titularidade dos sócios em comum, em face da exploração da atividade. Neste sentido, o patrimônio especial
ausência da personalidade jurídica. a que se refere o art. 988 é aquele afetado ao exercício da
Por fim, a sociedade em comum pode ser simples ou atividade, garantidor de terceiro, e de titularidade dos sócios

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DIREITO EMPRESARIAL
em comum, em face da ausência de personalidade jurídica. É uma “sociedade" que possui 2 (duas) categorias de
Embora a sociedade em comum não tenha personalidade sócios:
jurídica, o sócio que tem seus bens constritos por dívida
• Ostensivo: pessoa natural ou jurídica, que explora em seu
contraída em favor da sociedade, e não participou do ato por
próprio nome os riscos da atividade econômica;
meio do qual foi contraída a obrigação, tem o direito de
indicar os bens afetados às atividades empresariais para • Participante: pessoa natural ou jurídica que investe na
substituir a constrição. sociedade, respondendo, assim, na proporção do seu
Para resguardar terceiros, o patrimônio especial, como investimento.
visto, responde pelos atos de gestão, desde que praticados
Como o sócio ostensivo explora a atividade empresarial,
dentro dos poderes que lhes foram atribuídos, ou seja, em
caso sua falência seja decretada, caberá ao sócio
relação aos atos que extrapolam os poderes atribuídos, só
participante habilitar seu crédito, quirografário, no
haverá vinculação no caso de terceiro de boa-fé, isto é, se o
processo falimentar, conforme o art. 994, § 2º. Observe:
terceiro não conhecia nem devia conhecer a limitação de
poderes, conforme art. 989. Observe:
Art. 994. A contribuição do sócio participante constitui,
com a do sócio ostensivo, patrimônio especial, objeto da
Art. 989. Os bens sociais respondem pelos atos de
conta de participação relativa aos negócios sociais.
gestão praticados por qualquer dos sócios, salvo pacto
§ 2º A falência do sócio ostensivo acarreta a dissolução
expresso limitativo de poderes, que somente terá eficácia
da sociedade e a liquidação da respectiva conta, cujo
contra o terceiro que o conheça ou deva conhecer.
saldo constituirá crédito quirografário.

Ainda que não tenha personalidade jurídica, não gozando,


Caso seja decretada a falência do sócio participante,
assim, de determinados benefícios legais, tem capacidade
competirá ao administrador judicial decidir pela
processual e se sujeita à falência.
continuidade ou resolução do contrato, conforme § 3º.
De forma esquematizada:
Observe:

Sociedade comum § 3º Falindo o sócio participante, o contrato social fica


sujeito às normas que regulam os efeitos da falência nos
contratos bilaterais do falido.
Não tem personalidade jurídica (pois não se
registrou ainda).
Embora seja uma sociedade oculta, é muito utilizada
Requisitos Não tem autonomia patrimonial.
sobretudo para a captação de recursos. De acordo com
Marlon Tomazette, atualmente a Receita Federal do Brasil
passou a exigir que a sociedade em conta de participação seja
A responsabilidade é ilimitada e solidária inscrita no CNPJ, aumentando as formalidades exigidas.
(primeiro respondem com o patrimônio da
empresa e depois com o pessoal).

12.7.1.2 Sociedade em conta de participação


Tem referência referência legislativa do art. 991 ao art.
996 do Código Civil.
Primeiramente, entendemos que sociedade em conta de
participação na verdade não é uma sociedade, mas um mero
contrato de investimento. Na verdade, é uma sociedade
secreta, que não possui nome empresarial e que, ainda que
haja registro em algum órgão, isso não lhe conferirá
personalidade jurídica conforme art. 993. Observe:

Art. 993. O contrato social produz efeito somente entre


os sócios, e a eventual inscrição de seu instrumento em
qualquer registro não confere personalidade jurídica à
sociedade.

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