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Direito Empresarial III

Direito Empresarial (Universidade São Judas Tadeu)

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Direito Empresarial III


Profº Marcelo Cometti

A Lei nº 11.101/05 traz dois institutos que visam tratar a empresa em crise: a
falência e a recuperação de empresas. O propósito desta é facilitar, permitir que o
empresário em crise econômico-financeira se recupere, isto é, que haja a superação
dessa crise, mas para que isso ocorra é fundamental que a atividade seja viável
economicamente, caso contrário há a liquidação, que se dá na forma da falência, a qual
é um processo de execução em que se executa os bens do empresário para satisfazer
créditos dos credores.
Essa execução é coletiva (concurso de credores) quando o devedor não tem bens
suficientes para a satisfação de todos os credores na hipótese de inadimplemento. O que
é arrecadado é distribuído de forma paritária entre os credores, ao que não se fala na
execução individual de cada credor.
Logo, enquanto a recuperação de empresas visa salvar a atividade
economicamente viável mal explorada (o que pressupõe a renúncia de certos direitos
por credores, pelo Estado, por antigos trabalhadores e outros), a falência não o faz
(nesta, encerrado o processo, extinguem-se as obrigações ainda que não pagas; já na
execução de devedor insolvente, tudo dele será expropriado).
Esses dois institutos não se destinam a qualquer pessoa, mas sim ao empresário
(e a sociedade empresária - artigo 1º), que é pessoa física ou pessoa jurídica que explora
empresa, lembrando que esta é apontada erroneamente como sinônimo de empresário ou
de estabelecimento, mas na verdade empresa é, conforme o artigo 966 do CC, uma
atividade econômica com finalidade de obter lucro (se não há essa finalidade não é
empresário, pois se pressupõe diretamente que a empresa tem finalidade lucrativa -
diferentemente daquela que tem fim social, cultural ou religioso), de forma organizada
pelo empresário para a produção ou circulação de bens ou serviços. Porém, existem
duas atividades que, ainda que preencham esses requisitos, não configuram empresa, ou
seja, não são exercidas por um empresário: a atividade intelectual (por motivo social) e
a atividade rural.
Observa-se que a pessoa jurídica que pode ser empresário é somente aquela de
direito privado, que se diferencia das de direito público por mudança no regime jurídico
a que se submetem, de forma que as pessoas jurídicas de direito público não se
submetem aos termos da Lei nº 11.101/05. Contudo, com base no rol do artigo 44 do
Código Civil, tem-se que nem todas as entidades de direito privado nele citadas
exploram empresa, posto que fundações, associações, organizações religiosas e partidos
políticos não exploram atividade econômica, logo não são empresárias, pois não têm
fins lucrativos, diferentemente das sociedades e da EIRELI.
Aliás, toda sociedade explora fins lucrativos, mas nem toda sociedade será
empresária, como aquela que tem atividades intelectuais ou rurais como fim. Logo, são
duas espécies de sociedade personificada: empresária e simples. O que as diferencia é o
objeto da sociedade, isto é, se ela tem ou não o fim de explorar empresa, ao que as que
têm se encaixam na primeira denominação, enquanto as demais, na segunda.

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FALÊNCIA
1. Considerações iniciais
Como visto, dos dois institutos para tratamento da empresa em crise trazidos
pela Lei nº 11.101/05, a recuperação destina-se a viabilizar a superação da crise
econômico-financeira que o empresário atravessa quando a atividade por ele explorada
é viável. Agora, o segundo instituto, chamado de falência, destina-se ao empresário
devedor que exerce uma atividade econômica inviável e encontra-se presumidamente
insolvente, hipótese em que sua liquidação, pelo procedimento falimentar, faz-se
necessária.
Portanto, a recuperação judicial ou extrajudicial é destinada às empresas viáveis,
ou seja, quando há o esforço de todos os credores para a superação do estado de crise.
Por sua vez, a falência é um processo de execução coletiva do 1empresário devedor que
se encontre 2juridicamente insolvente.
Enquanto execução, o objetivo principal da falência é promover a satisfação do
maior número possível de credores (eficiência). Para isso deve-se buscar a maximização
do valor dos ativos do devedor. Logo, o dinheiro para tanto é buscado a partir da
liquidação do ativo do falido (alienação de bens) e a maximização do valor é afeta ao
princípio da preservação da empresa (conhecido na recuperação, mas também presente
na falência), valorizando-se a transferência do conjunto de bens, que tem valor
agregado, e não a mera disposição individual.
Os mecanismos/incentivos que a Lei de Falências traz para a preservação da
empresa (e assim permitir a maximização do valor obtido) são: 1preferência para
propostas de arrematação do estabelecimento em detrimento de propostas que busquem
bens isolados (salvo se inexistem ofertas no primeiro molde); 2exoneração da
responsabilidade do arrematante pelas dívidas do falido (não há sucessão - quem
adquire o estabelecimento não herda dívidas, sejam tributárias ou trabalhistas, de modo
a se tirar o risco de cobrança de dívidas ao arrematante e a fim de se obter maior valor
pelo bem); e 3suspensão das ações/execuções contra o devedor.

2. Pressupostos da falência
A doutrina, como regra, apresenta três pressupostos para falência do devedor:
1. O primeiro pressuposto, também chamado de pressuposto subjetivo, tem
relação direta com a qualidade do devedor que poderá falir, isto é, somente o
empresário poderá se submeter à falência;
É só o empresário quem pode falir. Se for pessoa física, será chamado de
Empresário Individual, enquanto a para a pessoa jurídica a questão da
responsabilidade é afeta à empresa, seja EIRELI (PJ unipessoal) ou Sociedade
Empresária (PJ com mais de uma pessoa).
O artigo 2º da Lei de Falências traz um rol de agentes econômicos
(muitos deles empresários) que não se submetem aos efeitos de tal lei, ou seja,
que não podem falir, quais sejam os 1empresários absolutamente excluídos da
falência (que jamais falirão), que são as empresas públicas e as sociedades de
economia mista (pois o Estado assume as responsabilidades), e os 2empresários
relativamente excluídos da falência, que são os que, a princípio não podem falir,

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pois podem ocasionar a falência de outros agentes, de modo que lhes é reservado
tratamento especial, quais sejam as instituições financeiras, seguradoras,
consórcios, cooperativas de créditos, entidades de previdência complementar,
entre outros assemelhados. Contudo, para os relativamente excluídos existem
hipóteses excepcionais, isto é, casos em que pode haver falência dessas
empresas: indícios de prática de crime falimentar pelos administradores ou
sócios controladores do banco; e quando os bens arrecadados forem
insuficientes para o pagamento de mais da metade dos credores quirografários.

2. O segundo pressuposto, ou melhor, o pressuposto objetivo, consiste na


insolvência jurídica do devedor, ou seja, para fins de decretação da falência,
bastará a presunção do estado de insolvência do empresário, tendo em vista a
prática de certos comportamentos (artigo 94):
Impontualidade injustificada: sem relevante razão de direito, não paga,
no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos
cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 salários-mínimos na data do pedido de
falência devidamente protestado de forma especial para fim falimentar.
OBS: Se eu deixei de pagar uma nota promissória porque a assinatura
não é minha, ou seja, o título é falso, é uma impontualidade justificada.
OBS1: Ressalta-se que crédito superior a quarenta salários mínimos
poderá estar incorporado em um único título executivo ou poderá resultar
da somatória dos créditos incorporados em diversos títulos executivos
detidos por um mesmo credor. Ademais, poderão os credores, em
litisconsórcio requerer a falência do devedor, unindo seus créditos a fim
de perfazer um valor que supere os quarenta salários mínimos.
OBS2: A obrigação líquida superior a quarenta salários mínimos poderá
estar incorporada em título executivo judicial ou extrajudicial.
OBS3: Nos termos do artigo 94, deve o credor instruir seu pedido de
falência, fundado na impontualidade injustificada, com o protesto
especial para fim falimentar. No entanto, o STJ tem relativizado esta
exigência, admitindo o simples protesto por falta de pagamento nas
falências requeridas em face do devedor principal do título.

Execução frustrada: ocorre quando, executado por qualquer quantia


líquida, o devedor não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens
suficientes dentro do prazo legal. Se você é credor e tem um título com
impontualidade injustificada, vencido e devidamente protestado, esse título é
levado ao conhecimento do juízo e executa-o, pois já tentados os meios
amigáveis possíveis. Se mesmo assim, não conseguir os bens para serem
penhorados em juízo, essa situação gera a presunção de insolvência do devedor,
resultando na execução frustrada. Portanto, o empresário devedor poderá ter sua
falência decretada sempre que, ao ser executado por qualquer quantia que não
pagar, não depositar e nem nomear bens à penhora. O que instrui essa execução
é uma certidão de objeto e pé do processo de execução. Em regra, precisa-se de

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um crédito já vencido, porém, excepcionalmente, existe uma possibilidade na


qual, ainda que o título não tenha vencido, já se possa solicitar a falência do
devedor, é o caso, por exemplo, quando o devedor fecha as portas pouco depois
de contrair uma dívida. O abandono do estabelecimento sem deixar
representante e recursos gera a presunção do estado de insolvência. Também é o
caso do empresário que dilapida seu patrimônio simulando doações, por
exemplo. São os denominados atos de falência.

Atos de falência:
a) Realiza a liquidação/venda precipitada de seus bens ou por meios
ruinosos ou fraudulentos busca realizar pagamentos;
b) Realiza ou por atos inequívocos tenta realizar negócio simulado;
c) Aliena irregularmente o seu estabelecimento empresarial (via de regra,
ele é livre para alienar seu estabelecimento, mas tal liberdade é limitada quando
ele possuir credores e não obtiver no seu patrimônio garantias que lhes sirvam).
Diante da denominada insuficiência de bens, costuma-se dizer que a
eficácia do negócio de trespasse passa a depender do prévio
pagamento dos credores ou pelo menos obter a anuência deles para a
realização do trespasse, onde eles terão 30 dias para anuir explicita
ou tacitamente. Se um único credor discordar, ele não pode alienar.
Se assim o fizer, a alienação será irregular do seu estabelecimento, e
o negócio será ineficaz perante os credores. Esta alienação irregular
também é um ato de falência.
d) Simula a transferência do seu principal estabelecimento com o
objetivo de burlar a fiscalização ou prejudicar credores.
e) Abandona ou ausenta-se do seu estabelecimento sem deixar no local
representante habilitado e com recursos suficientes para solver suas dívidas.
f) Deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida em plano
de recuperação judicial, exceto se fizer parte de plano desta.

3. O último pressuposto é uma sentença que decreta a quebra do devedor.


A presença desses atos importa na presunção da condição de insolvência
do devedor, sendo, com qualquer deles, possível pedir a sua falência. Contudo,
para que ele seja de fato considerado como falido, terá que ser decretada a sua
falência por meio de uma sentença judicial. Até lá, ele terá meios de provar a sua
solvência ou pedir a sua recuperação judicial.
Até a decretação da falência (etapa pré-falimentar), o empresário devedor
não poderá ser considerado falido, razão pela qual nossa doutrina considera a
sentença de falência como terceiro e último pressuposto da falência.
A natureza jurídica da sentença de falência é predominantemente
constitutiva, na medida em que submete o devedor e as relações por ele
estabelecidas a um novo regime jurídico. Dessa forma, com a decretação da
falência, o devedor deixa de ser empresário, tornando-se um falido, ficando

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inabilitado para o exercício de qualquer atividade empresarial até que ocorra sua
reabilitação e perdendo o direito de administrar seus bens e sobre eles dispor,
além de que os contatos celebrados por ele se submetem a um novo regime.
O recurso cabível dessa decisão de falência é o agravo, pois ela não é
decisão terminativa, posto que o juiz, ao decretar falência, dá início à etapa
falimentar do processo, conforme o artigo 100 da lei respectiva. Agora, da
sentença que julgaria improcedente o pedido de falência (sentença denegatória),
que seria terminativa, pois daria fim ao processo em primeiro grau de jurisdição,
caberia recurso de apelação.
Além dos requisitos essenciais para a validade de qualquer sentença,
previstos no CPC, a sentença de falência deve conter elementos específicos,
como elencado no artigo 99 da Lei de Falências, dos quais se destaca:
a) Identificação do falido e o nome de todos aqueles que forem a esse
tempo os seus administradores;
b) Fixação do termo legal da falência (nada mais é do que o lapso
temporal fixado na sentença da falência, dentro do qual certos atos praticados
pelo devedor, com ou sem a intenção de fraudar credores, poderão ser
declarados ineficazes perante a massa falida), que não poderá retroagir por mais
de 90 dias da data do pedido de falência ou da data do pedido de recuperação
judicial convolado em falência ou ainda da data do primeiro protesto por falta de
pagamento que não tenha sido cancelado;
c) Determinação para que o falido apresente, em até 5 dias, relação
nominal de seus credores, indicando, de forma individualizada, o valor e a
natureza do crédito detido por cada credor (se o falido não o faz, responderá pelo
crime de desobediência, hipótese em que caberá ao administrador judicial a
elaboração dessa relação);
d) Determinação para que todas as ações e execuções promovidas em
face do falido sejam suspensas, exceto: ações que demandem quantia ilíquida
(artigo 6º, §1º); e ações de natureza trabalhista que estejam tramitando perante a
justiça especializada até a apuração do respectivo crédito (artigo 6º, §2º);
e) Proibirá a prática de qualquer ato de disposição ou oneração de bens
que somente poderá ocorrer após autorização judicial e o comitê de credores;
f) Determinação para que o Registro Público de Empresas (Junta
Comercial) proceda à anotação da falência do devedor em seu registro;
g) Determinação para que sejam expedidos ofícios aos órgãos e
repartições públicos e outras entidades para que informe sobre a existência de
bens e direitos em nome do falido;
h) Nomeação do administrador judicial, pessoa jurídica ou física,
preferencialmente administrador de empresas, advogado, contador ou
economista;
i) Determinação para que o Ministério Público seja intimado, bem como
que seja realizada comunicação por cartas às Fazendas Públicas Federal,
Estadual e das comarcas em que o devedor mantiver sedes e filiais.

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Processo falimentar
Linha do tempo
Etapa pré- Inicia-se com um pedido de falência
falimentar O devedor, citado, tem 10 dias para 1apresentar sua contestação.
Dentro deste prazo, pode realizar ainda o 2depósito elisivo e
apresentar seu pedido de recuperação judicial (última oportunidade
para fazê-lo).
Etapa Se juiz não acolhe a contestação, há a sentença da falência, ao que há
falimentar o fim da etapa pré-falimentar (que vai do pedido até esta sentença,
com a qual o sujeito se torna falido, dando início à etapa falimentar).
Atos para mensuração de bens e direitos e do passivo do falido:
1º - Com a mensuração do ativo é formada a massa falida objetiva; e
o conjunto de credores integra a massa falida subjetiva.
2º - Há a liquidação do ativo (para que com os recursos obtidos se
consiga promover a satisfação do maior número possível de credores).
3º - Administrador judicial apresenta sua prestação de constas.
Aprovadas, ele apresenta o relatório final, que é resumo de tudo o que
aconteceu na etapa falimentar do processo.
Sentença de encerramento (proferida pelo juiz após análise do
relatório final do administrador, havendo encerramento da falência).
Etapa pós- Reabilitação do falido (é a declaração judicial por sentença da
falimentar extinção de todas as obrigações decorrentes do processo falimentar
que eventualmente não tenham sido satisfeitas com a liquidação do
ativo)

 Etapa pré-falimentar
Compreende os principais atos praticados no processo até a decretação da
falência ou delegação do pedido de quebra. Portanto, ao longo dessa etapa, o
devedor ainda não é falido, permanecendo no pleno exercício de sua empresa.
a) Pedido de falência
 Legitimidade
Tem legitimidade para requerer a falência do empresário devedor:
(1) o próprio empresário devedor; é o que se chama de autofalência
(artigo 97, inciso I), que é dever do empresário em 1crise econômico-
financeira que 2julgue não preencher os requisitos para recuperação
de sua empresa (esses requisitos objetivos estão previstos no artigo
48 da Lei de Falências e, apenas para ilustrar, são: exercício regular
da atividade por mais de dois anos, não ser falido, não ter sido
condenado por crime falimentar e não ter obtido concessão de
recuperação judicial nos últimos cinco anos; e como requisito
subjetivo há a viabilidade da empresa); (2) cônjuge sobrevivente,
herdeiros ou inventariante (artigo 97, inciso II); é o que se chama
geralmente de falência do espólio, cuja situação se dá apenas na
morte do empresário individual (excluindo, por óbvio, a sociedade
empresária), sendo somente na morte deste que um daqueles sujeitos
pode requerer a falência; (3) sócios, cotistas ou acionistas, da

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sociedade devedora (artigo 97, inciso III); ou (4) os credores (é


condição para que o empresário credor possa requerer a falência do
seu devedor a comprovação do exercício regular da sua atividade
mediante certidão expedida pelo Registro Público de Empresas.
Trata-se, portanto, de uma sanção imposta ao empresário irregular
que ficará impedido de requerer a falência de seu devedor).

 Competência
Nos termos do artigo 3º da Lei nº 11.101/05, é competente para
decretar a falência do empresário devedor o juízo do local do seu
principal estabelecimento. Este não é, necessariamente, a sede da
empresa. Muito embora o conceito de principal estabelecimento seja
subjetivo, trata-se de tema já pacificado em nossa doutrina e
jurisprudência que o considera como sendo o centro de tomada de
decisões e realização de negócios pelo devedor, ou seja, aquele local,
sede ou filial, em que será encontrada a maior parte dos
administradores do empresário, seus ativos e credores.

 Fundamento
Na hipótese de autofalência ou de falência do espólio, o fundamento
está no artigo 105, que é a crise econômico-financeira e a
inviabilidade da empresa explorada. Quando o pedido é formulado
pelos sócios ou credores, o fundamento está no artigo 94, diante da
insolvência jurídica, cujo estado é presumido por um dos três
seguintes comportamentos: (I) impontualidade injustificada; (II)
execução frustrada; ou (III) atos de falência.

b) Citação e defesa
A citação do devedor no processo falimentar será realizada, como regra,
por oficial de justiça, uma vez que se trata de uma ação de estado (artigo
247, inciso I, CPC). Ressalta-se, entretanto, que a citação poderá se dar
por edital nas hipóteses excepcionais previstas no CPC.
Ao ser citado, deverá o devedor apresentar, no prazo de 10 dias,
sua contestação, podendo ainda, dentro do referido prazo, realizar
depósito elisivo, hipótese em que não terá sua falência decretada.
Observa-se que o depósito elisivo deverá corresponder ao valor
integral da dívida, acrescido de juros, correção monetária e honorários
advocatícios. Ressalta-se, contudo, que esse depósito só terá cabimento
nas hipóteses em que o pedido de falência tiver como fundamento a
1
importualidade injustificada e a 2execução frustrada, mas ele não tem
cabimento nos atos de falência. Aliás, não haverá preclusão consumativa,
caso o requerido deseje contestar e realizar depósito elisivo, posto que
este não é confissão ou reconhecimento da dívida, mas apenas ato do
devedor com o poder de afastar a presunção do seu estado de

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insolvência. Deste modo, apresentada a contestação e realizado o


depósito elisivo, o devedor não terá sua falência decretada, ainda que o
juiz ao acolha os argumentos de sua contestação. Ressalta-se, por fim,
que, nos termos do artigo 95, poderá o devedor, no prazo de sua
contestação, realizar o pedido de recuperação judicial.

c) Sentença
Tem natureza constitutiva. A despeito de já havermos analisado a
natureza e os elementos essenciais da sentença, cumpre destacar que, ao
ser decretada a falência do devedor, o juízo falimentar se torna universal,
adquirindo o poder de atrair para si o processamento e o julgamento de
todas as ações que envolvam bens, direitos e interesses da massa falida.
Trata-se da chamada vis atractiva, que, no entanto, será excepcionada
nas seguintes hipóteses: (I) causas de natureza trabalhista (continuarão
tramitando na justiça do trabalho); (II) causas de natureza tributária
(tramitarão na Fazenda Pública); e (III) ações não reguladas pela Lei nº
11.101/05 em que a massa falida seja autora ou litisconsorte ativo.

 Etapa falimentar
Consiste na execução concursal do devedor ora falido, na qual serão praticados
atos com o propósito inicial de promover o conhecimento de todos os bens,
direitos e obrigações do devedor, através da mensuração de seu ativo e passivo.
Deste modo, será possível promover a liquidação dos bens e direitos que irão
formar a chamada massa falida objetiva para que, com os recursos obtidos, se dê
o pagamento dos credores do devedor (satisfação do passivo). Realizado o
pagamento desses credores, nos limites das forças da massa, o juiz proferirá
nova sentença, agora com o propósito de encerrar o processo falimentar.

a) Mensuração do ativo
Atos praticados com o propósito de se apurar todos os bens e direitos que
irão compor a massa falida objetiva. Principais atos para mensuração:
 Arrecadação de bens
Tão logo o administrador judicial assine o termo de compromisso,
deverá realizar a arrecadação dos bens e documentos que estiverem
na posse do falido. Para tanto, deverá elaborar o auto de
arrecadação, composto pelo inventário dos bens arrecadados e pelo
respectivo laudo de avaliação. Este deve conter referência aos 1livros
que tenham sido escriturados pelo devedor (obrigatórios 1 e
facultativos); 2dinheiro; 3papéis e títulos de crédito da massa falida;
4
bens da massa que estejam em poder de terceiro, a título de guarda,
depósito, penhor ou retenção; e 5bens indicados como de propriedade
de terceiros, mas que estejam na posse do devedor.

1
Livro diário (artigo 100, Lei nº 6.404) e livro de registro de duplicatas (artigo 19, Lei nº 5.474/68).

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Apesar de o laudo de avaliação dever ser apresentado pelo


administrador judicial junto com o inventário, não sendo possível a
avaliação dos bens no ato da arrecadação, poderá requerer ao juiz a
concessão de prazo para apresentação do laudo, que não poderá
exceder 30 dias da data de apresentação do auto de arrecadação.
OBS1: Os bens arrecadados ficarão sob a guarda do administrador
judicial ou de pessoa por ele escolhida, mas sob sua
responsabilidade, podendo o falido ou qualquer de seus
administradores ser nomeado depositários dos bens (artigo 108, §1º).
OBS2: É facultado ao falido acompanhar a arrecadação e a
avaliação de seus bens.
OBS3: Não serão arrecadados os bens absolutamente
impenhoráveis.
OBS4: Durante essa etapa do processo falimentar, o juiz poderá
autorizar a remoção dos bens arrecadados se necessária para a sua
melhor guarda e conservação, hipótese em que permanecerão em
depósito sob responsabilidade do administrador judicial.
OBS5: Bens perecíveis, deterioráveis ou sujeitos à considerável
desvalorização ou de conservação arriscada dispendiosa poderão ser
vendidos antecipadamente após sua arrecadação e avaliação
mediante autorização judicial, ouvidos o comitê de credores, se
houver, e o falido, no prazo de 48 horas (artigo 113).

 Julgamento dos pedidos de restituição


Nos termos do artigo 85, o proprietário do bem arrecadado no
processo de falência ou que se encontre em poder do devedor na da
decretação da falência poderá pedir sua restituição.
OBS: Ressalta-se que também poderá ser pedida a restituição de
coisa vendida a crédito e entregue ao devedor nos 15 dias anteriores
ao requerimento de sua falência, se ainda o devedor não os alienou.

 Cobrança dos devedores do falido


Caberá ao administrador judicial, com base nos documentos
contábeis arrecadados, promover o levantamento dos devedores
do falido, procedendo à sua cobrança.

b) Mensuração do passivo
Consiste na prática de determinados atos que tem por finalidade
proporcionar o exato conhecimento das dívidas e consequentemente dos
credores do falido que formarão a chamada massa falida subjetiva.
A mensuração do passivo tem início na própria sentença da
falência que determinará ao falido a apresentação, no prazo de 5 dias, da
relação de seus credores, com a indicação dos respectivos nomes,
endereços, valor e natureza de seus créditos. Ressalva-se que, na hipótese

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de descumprimento da determinação judicial, o falido responderá por


crime de desobediência, cabendo ao administrador judicial a elaboração
da relação de credores. Publicada a relação nominal de credores, abre-se
prazo de 15 dias para as eventuais divergências e habilitações de crédito.
O credor se valerá da habilitação de crédito quando o seu nome não
constar da relação de credores, devendo se valer da divergência quando,
embora figure na relação de credores, seja divergente quanto ao valor ou
a natureza do crédito que lhe foi atribuído. Com base na documentação
do falido, bem como dos documentos apresentados pelos credores em
suas habilitações e divergências, devera o administrador elaborar nova
relação de credores a ser publicada em até 45 dias (artigo 7º, §2º).
Nos 10 dias subsequentes à publicação da relação de credores,
poderá o falido, qualquer credor, seus sócios, o comitê de credores, se
houver, ou ainda o Ministério Público, impugnar qualquer crédito
constante da referida relação (artigo 8º).
Os credores cujos créditos tenham sido impugnados serão
intimados para que, em 5 dias, apresentem contestação, juntando os
documentos que tiverem e indicando outras provas cuja produção
reputem necessárias (artigo 11). Transcorrido o referido prazo, o devedor
e, se haver, o comitê de credores serão intimados para que no prazo
comum de 5 dias se manifestem sobre a impugnação. Findo tal prazo, o
administrador judicial é intimado pelo juiz para que, em 5 dias, apresente
o seu parecer, sendo ato continuo os autos conclusos ao juiz que:
a) Determinará a inclusão no quadro geral de credores das
habilitações de crédito e valores não impugnados e constantes da relação
nominal de credores apresentada pelo administrado judicial;
b) Julgadas as impugnações que entender suficientemente
esclarecidas pelas alegações e provas apresentadas pelas partes,
mencionando de cada crédito o valor e sua classificação;
c) Fixará, em cada uma das impugnações restantes, os aspectos
controvertidos e decidirá as questões processuais pendentes; e
d) Determinará as provas a serem produzidas, designando
audiência, se necessário.

Após o julgamento das impugnações restantes, se dará a


consolidação do quadro geral de credores e, assim, o conhecimento dos
credores do falido que formarão a chamada massa falida subjetiva.

c) Liquidação do ativo
Tão logo seja juntado ao processo o auto de arrecadação de bens pelo
administrador judicial, será dado início à realização do ativo, ou seja, a
liquidação dos bens integrantes do patrimônio do falido para que, com os
recursos obtidos, se dê o pagamento de seus credores.

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O processo falimentar, enquanto forma de execução coletiva,


deve buscar a satisfação do maior número possível de credores, tendo,
assim, na maximização do valor dos ativos, por meio da preservação da
empresa, um de seus principais objetivos. Nesse sentido, o artigo 140 da
Lei nº 11.101/05, estabelece que a alienação dos bens deverá observar a
seguinte ordem de preferência:
1) A alienação do estabelecimento em bloco, com todos os bens,
corpóreos ou incorpóreos, que o integram, hipótese em que se dará a
transferência da empresa antes explorada pelo falido;
2) A alienação, de forma isolada, das filiais e unidades produtivas,
hipótese em que ainda sim se dará a transferência da empresa explorada;
3) A alienação dos bens em bloco; e
4) A alienação dos bens individualmente considerados.

OBS1: A realização do ativo terá início independentemente da


formação do quadro geral de credores (artigo 140, §2º).
OBS2: O objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não
haverá sucessão do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as
de natureza tributária, as derivadas da legislação do trabalho e as
decorrentes de acidente de trabalho. Ressalta-se, todavia, que a referida
desoneração não se aplica quando o arrematante for: a) sócio da
sociedade falida ou de sociedade controlada pelo falido; b) parente em
linha direta ou colateral até o 4º grau, consanguíneo ou afim, do falido ou
dos sócios da sociedade falida; ou c) pessoa identificada como agente do
falido e com objetivo de fraudar a sucessão (artigo 141, inciso II).

O artigo 142 traz que o juiz, ouvido o administrador judicial e a


orientação do comitê de credores (se houver), ordenará a alienação dos
ativos em consonância com uma das seguintes modalidades de
alienação: (1) leilão (os interessados irão se reunir em hasta pública no
dia, horário e local designados, ofertando lances orais para a arrematação
dos bens arrecadados; aquele que haver ofertado o maior lance,
arrematará o bem); (2) propostas fechadas (serão encaminhadas ao
cartório do juízo falimentar envelopes lacrados pelos interessados na
arrematação dos bens. No dia, horário e local designados pelo juiz, os
envelopes serão abertos e aquele que houver ofertado a melhor proposta
arrematará os bens); e (3) pregão (trata-se de modalidade híbrida para a
alienação dos bens arrecadados, pois é composta de duas etapas. Na
primeira delas, os interessados encaminharão ao cartório do juízo
falimentar envelopes lacrados com suas propostas para a arrematação dos
bens. No dia, horário e local designados pelo juiz, os envelopes são
abertos e todos que apresentarem propostas não inferiores a 90% do
valor da maior oferta estão habilitados para participar da segunda etapa
do pregão, na qual são ofertados lances orais para arrematação dos bens).

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d) Satisfação do passivo
Consiste no pagamento dos credores do falido, ou seja, daqueles que
participam do concurso de credores instaurado por meio de ação
falimentar. Observa-se, entretanto, que tais credores somente serão pagos
após a consolidação do quadro geral de credores (mensuração do
passivo). Ressalta-se ainda que tais credores não serão os primeiros a
serem pagos no processo falimentar. Nesse sentido, o artigo 149 da Lei
de Falências dispõe que realizadas as restituições, pagos os credores
extraconcursais e consolidado o quadro geral de credores, será então
realizado o pagamento dos credores concursais, observada a ordem
estabelecida no artigo 83 da lei referida.
Será realizada a restituição em dinheiro (antes da consolidação do
passivo com o que há em caixa): a) Se a coisa não mais existir ao tempo
do pedido de restituição, hipótese em que o requerente receberá o valor
da avaliação do bem ou, no caso de ter ocorrido a sua venda, o respectivo
preço; b) Da importância entregue ao devedor, em moeda corrente
nacional, decorrente de adiantamento a contrato de câmbio para
exportação; e c) Valores entregues ao devedor pelo contratante de boa-fé
na hipótese de revogação ou ineficácia do contrato (artigo 86).

e) Credores extraconcursais
Em linhas gerais, os créditos extraconcursais são aqueles constituídos
após a decretação da falência. Deste modo, o crédito extraconcursal não
é uma dívida do falido, mas da massa falida. Assim, são considerados
creditos extraconcursais, nos termos do artigo 84 da Lei de Falências:
a) Remunerações devidas ao administrador judicial e auxiliares,
créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidente
de trabalho relativos a serviços prestados após a decretada a falência;
b) Quantias fornecidas à massa falida pelos credores;
c) Despesas com arrecadação, administração, realização do ativo
e distribuição do seu produto, assim como custas do processo falimentar;
d) Custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa
falida tenha sido vencida;
e) Obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados
durante a recuperação judicial ou após a decretação da falência, bem
como tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação.

f) Ordem de pagamento dos créditos concursais


1º - Créditos trabalhistas (limitados a 150 salários mínimos por
empregado) e decorrentes de acidente de trabalho;
2º - Créditos com garantia real (até o limite do valor do bem gravado);
3º - Créditos tributários;
4º - Créditos com privilégio especial;
5º - Créditos com privilégio geral;

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6º - Créditos quirografários
7º - Multas (contratuais e decorrentes de infrações legais)
8º - Créditos subordinados (são os últimos a serem pagos porque
dependem do pagamento de todos os demais - são credores subordinados,
por exemplo, o devedor/sócio da sociedade devedora)

Realizado o pagamento dos credores concursais, o administrador


judicial deverá, no prazo de até 30 dias, apresentar sua prestação de contas
(artigo 154) que, na hipótese de ser aprovada, ensejará a sentença proferida
pelo juiz, da qual caberá recurso de apelação.
Julgadas as contas do administrador, ele deverá apresentar, em 10
dias, o relatório final da falência, indicando o valor do ativo, o produto
obtido com sua realização, o valor do passivo e os pagamentos realizados.
Apresentado, o juiz proferirá sentença encerrando a falência (artigo 156).

 Etapa pós-falimentar
a) Reabilitação do falido
Consiste na declaração, por sentença, da extinção de todas as obrigações
decorrentes da falência, aplicável quando (artigo 158):
- Houver o pagamento de todos os credores;
- Houver o pagamento, após a realização de todo o ativo, de mais da
metade dos créditos quirografários, sendo facultado ao falido o depósito
complementar para o alcance desse percentual;
- Decorrido o prazo de 5 anos a contar do encerramento da falência, se
não houve condenação por crime falimentar;
- Decorrido o prazo de 10 anos a contar do encerramento da falência, se
houve condenação por crime falimentar.

b) Efeitos da falência
 Em relação ao devedor/falido
Decretada a falência, o devedor ficará inabilitado para o exercício de
qualquer atividade empresarial (inabilitação - artigo 102) até sua
reabilitação, isto é, até a declaração judicial da extinção de todas as
obrigações decorrentes da falência. Ademais, o falido perde o direito
de administrar os seus bens e sobre eles dispor (artigo 103),
passando a se submeter a uma série de deveres a ele impostos nos
termos do artigo 104, dentre os quais se destacam:
1 - Assinar o termo de comparecimento contendo sua qualificação
completa e as seguintes declarações: a) as causas determinantes de
sua falência; b) sendo o falido pessoa jurídica, os nomes e endereços
de todos os seus sócios e administradores; c) nome do contador
encarregado da escrituração de seus livros obrigatórios; d) mandatos
que porventura tenha outorgado, indicando seu objeto e nome e
endereço do mandatário; e) seus bens imóveis e bens móveis que não

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se encontram em seu estabelecimento; f) se faz parte de outras


sociedades; g) suas contas bancárias; e h) processos em andamento
em que for autor ou réu.
2 - Depositar em cartório, no ato da assinatura do termo de
comparecimento, os seus livros obrigatórios.
3 - Não se ausentar do lugar onde se processa a falência sem justo
motivo e comunicação expressa ao juiz, hipóteses em que deverá
manter procurador para representá-lo durante sua ausência.
4 - Comparecer a todos os atos da falência, podendo ser
representado por procurador quando sua presença não for
indispensável.
5 - Entregar, sem demora, os bens, livros e documentos ao
administrador judicial, indicando-lhe aqueles bens que por acaso
estejam em poder de terceiros para serem arrecadados.
6 - Prestar todas as informações solicitadas pelo juiz,
administrador judicial, credores e Ministério Público sobre
circunstâncias e fatos que interessem à falência.
7 - Auxiliar o administrador judicial com zelo e presteza.
8 - Examinar as habilitações de crédito apresentadas.
9 - Assistir ao levantamento, à verificação do balanço e ao exame
dos livros.
10 - Manifestar-se sempre que for determinado pelo juiz.
11 - Apresentar, no prazo estabelecido, relação de credores.
12 - Examinar e dar parecer sobre as contas apresentadas pelo
administrador judicial.

O descumprimento de qualquer um desses deveres enseja a


possibilidade de o falido vir a responder pelo crime de desobediência
(artigo 104, parágrafo único).

 Em relação aos atos praticados pelo devedor


A declaração de falência também acarretará em efeitos quanto aos
atos praticados pelo devedor. Deste modo, haja vista o exposto no
artigo 103, todo e qualquer ato de gestão ou disposição de bens
praticado pelo devedor após a decretação de sua falência será
considerado nulo. Por outro lado, certos atos praticados pelo devedor
antes daquela decretação poderão ser declarados ineficazes perante a
massa falida:
a) atos ineficazes em sentido estrito
Estes padecem da chamada ineficácia objetiva, pois
poderão não produzir efeitos perante a massa falida, tenha ou não o
contratante ciência do estado de crise econômico-financeira e nada
importando a existência ou não da intenção de fraudar credores.
Esses atos decorrem de um rol taxativo (artigo 124), a saber: (1) atos

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praticados dentro do termo legal da falência (90 dias) - pagamento de


dívida não vencida realizada dentro do termo legal da falência;
pagamento de dívida vencida e exigível realizado dentro do termo
legal, mas de forma diversa da contratada; ou constituição de direito
real de garantia, inclusive o de retenção, dentro do termo legal, em
favor de dívida já contratada; (2) prática de atos a título gratuito, até
2 anos antes da decretação da falência; (3) renúncia à herança ou
legado até 2 anos antes da decretação da falência; (4) alienação
irregular do estabelecimento empresarial, independentemente do
período da ocorrência; e (5) registro de direitos reais de transferência
de propriedade entre vivos, a título oneroso ou gratuito, após a
decretação da falência, salvo se houve prenotação anterior.
Nos termos do artigo 129, parágrafo único, a ineficácia
dos atos acima mencionados poderá ser declarada de ofício pelo juiz,
alegada em defesa ou pleiteada mediante ação própria ou
incidentalmente no processo, pois se fala em ineficácia objetiva, não
precisando aqui de demonstração de intenção de conluio.

b) atos revogáveis
São aqueles que padecem de ineficácia subjetiva, uma vez
que somente não produzirão efeitos perante a massa falida se
comprovado o conluio fraudulento entre o devedor e o terceiro com
quem contratou. Para tanto, é necessária a propositura de uma ação
específica da legislação falimentar, a chamada ação revocatória,
promovida pelo administrador judicial, por qualquer credor ou pelo
Ministério Público, no prazo de até 3 anos, a contar da decretação da
falência, tramitando, tal ação, perante o juízo falimentar.

 Em relação aos contratos celebrados pelo devedor

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