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P.

David Massena
Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa
CIEBA

CSO 2020:

Produção de idenCdade e sistemas de representação


a parCr da obra The Column, de




Adrian Paci

território como
uma soma de
acontecimentos

nexo relacional
entre conflitos
s ó c i o -
económicos e
s i s t e m a s d e
representação

n a r r a C v a s
geopolíCcas do
lugar deslocamento
forçado

construção
do sujeito
e m
trânsito
relações com o processo de
construção de idenCdade e
memória colecCva
Qual a esfera de possibilidade
que a arte, enquanto médium,
abarca no gerar original
produtor da verdade, a parCr
dos terrenos acima referidos?

A questão da verdade conCda na obra surge a


parCr do terreno de indefinição que o autor
constrói, assente numa tensão entre o
metafórico e o real. Não consideraremos o
potencial gerador de verdade conCdo no
gesto aqui em análise mas sim quais as
ramificações resultantes da tensão proposta,
no âmbito políCco e arUsCco.

(...) incorpora uma nova visão da totalidade global e conceito de modernidade que dissolve o anCgo
paradigma de nação-estado e o subsCtui pela lógica difusa do capitalismo espectacular. Okwui Enwezor
Paci, refugiado com a sua família em Itália nos anos oitenta, personifica também o historial
de deslocamento forçado, que influencia significaCvamente a sua produção

aborda questões como:

•  mobilidade
•  memória
•  transitoriedade
•  dissolução geográfica
•  produção de idenCdade

The Column, a pedra, surge a parCr de um relato, referindo


que em território chinês exisCria excelente mármore, bons
artesãos, mão de obra acessível e execução rápida,
podendo trabalhar o mármore enquanto este é
transportado por via maríCma, de barco.

assente na lógica capitalista do lucro, fundindo


o tempo de produção com o de transporte e
distribuição.
dimensão conflituosa e fabulosa, real e
ficcionada, à qual é sobreposta uma estrutura
narraCva em que a crónica de factos reais
funde-se com a lenda. É também, para a
coluna, um regresso a casa.

The
Column

A fase da extracção culmina num lenta relação


de forças entre a maquinaria e o bloco de
mármore extraído, iniciando o seu trânsito
maríCmo, numa captura orquestrada do
tempo, memória e idenCdade.
A coluna, resultado do trabalho de artesãos chineses, que vão
esboçando sorrisos de quem há muito a construiu, num
contrato tácito, estéCco e silenciado com o ocidente, nunca
chega a ser erigida e é apresentada na sua disposição
horizontal, aquela que mantém durante toda a travessia
maríCma.

Foi também exposta a instalação-vídeo The Column, que abre
um terreno de indefinição temáCca - e talvez ideológica – que
o próprio autor pretende estruturar como vago e irresoluto.


Trata-se da cumplicidade com o mercado arUsCco neoliberal que o
vídeo e respecCva narraCva revelam, traçando paralelismos com os
navios-fábrica de produção massiva em Zonas Económicas Exclusivas
(ZEE).
lente sobre a lógica económica do lucro
reflexão sobre a produção acelerada

complexidade relacional entre obra de


arte e mercadoria
à luz do capitalismo espectacular e global

pedra , encomendada e que, por meio de trabalho em trânsito, se transforma num artefacto cultural canónico
no ocidente, apresentada numa críCca ao falocentrismo estéCco europeu, disposta horizontalmente, convoca as
relações de poder económico e laboral, sob o véu de uma globalização totalizante que ameaça o apagamento das
diferenças e parCcularidades, e onde o apeCte voraz dos mercados pela mobilidade, fluxo, e expansão torna o
aceleracionismo – e que neste caso mostra a simultaneidade entre execução, transporte e distribuição - um modelo a
seguir para o capitalismo transnacional.




Como objecto arquitectónico a coluna é também um símbolo do colonialismo ocidental, tanto em termos do projecto
histórico europeu como em estratégias de expansão nacional e aqui é evocada a parCr de relações económicas e
políCcas transnacionais.
água. O oceano pontua as fases de
execução e finalização da coluna,
marcando a cronologia da viagem. Num
trânsito que não aparenta ter desCno, o
sublime natural entra em confronto com a
escala magna, e também sublime, do
capitalismo, e nunca nos é possível reduzir
nenhuma destas duas dimensões à sua
singularidade, restando apenas uma
incomensurável e silenciosa irresolução.
processo criaCvo assente na lógica
industrial
produção e manufactura em zonas offshore, numa alusão às condições existentes em ZEE.

áreas cinzentas e ambíguas da lei, à margem de


códigos laborais ou ambientais, priorizando o valor
e a velocidade de produção em detrimento das
condições em que os trabalhadores actuam.


•  produção de idenCdade

•  indeterminação éCco-jurídica

•  lógica acelerada do lucro

•  Agamben, estado de excepção




Uma vez operando em zonas fora do âmbito
legal de uma qualquer nação, torna-se
relaCvamente fácil suspender a normal legal
em benefcio da produção acelerada.
operando à margem de códigos éCcos e laborais, os navios-fábrica que actuam
em ZEE, estruturam a sua lógica de produção numa dinâmica de execução e
distribuição simultâneas e geram um espaço de excepção, cuja diferença em

.
tempo
relação ao campo descrito por Agamben reside no factor

o espaço e estado de excepção, aqui, não se torna uma

suspensão temporária da norma mas sim a matriz

económica estabelecida que transcende a gestão das

nações, ainda que por estas seja possibilitada,

permiCndo que grandes corporações contornem leis

π laborais específicas e demarcadas.


originalmen
projecto situa-se, no âmbito do discurso te, fingere
n ã o
estéCco, entre as dimensões de facto e ficção,
s i g n i fi c a
recorrendo a dinâmicas de mercado
fingir mas
existentes, sobrepostas a uma estrutura
sim forjar.
narraCva ficcionada. F i c ç ã o
i m p l i c a o
u s o d o s
m e i o s d a
arte p ara
c o n s t r u i r
um sistema

forja
de acções
representa
das,
f o r m a s
(re)ordenad
as,
e s i g n o s
internamen
t e
coerentes
é na tensão entre facto e ficção, metáfora e doloroso

ingresso real que vive o projecto de Paci, assente numa

lógica dual de revelação e cumplicidade com o mercado

da arte, talvez necessária na abordagem e gesto

arUsCco políCco actual.

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