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XVIII ENDIPE

Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

PRÁTICA DE ENSINO E O ESTÁGIO SUPERVISIONADO:


DESENVOLVIMENTO DE ATITUDES INVESTIGATIVAS PARA A
DOCÊNCIA

Gislene Miotto Catolino Raymundo


Professora do Instituto Federal de Santa Catarina -IFSC

Resumo:
O presente trabalho objetivou analisar como a Prática de Ensino e o Estágio Curricular
Supervisionado são compreendidos e vivenciados nos cursos de formação inicial de
docentes, especificamente verificar as possibilidades de os componentes curriculares
contribuírem para o desenvolvimento de atitudes investigativas durante o processo
formativo. A fundamentação teórico-prática e a reflexão envolvendo esses componentes
são de fundamental importância, pois a formação inicial de professores possibilita o
ensino e a investigação pedagógica como unidade do trabalho docente, objetivando a
articulação reflexiva entre os conhecimentos teóricos e a prática vivenciada nas escolas,
campo de estágio. Dessa forma, nesta pesquisa, busca-se analisar como o curso de
Pedagogia de uma instituição de ensino superior, localizado no norte do Paraná,
adequou a Prática de Ensino e o Estágio Supervisionado por meio das novas Diretrizes
Curriculares para a formação de professores e o quanto esses componentes curriculares
contribuem para o desenvolvimento de uma prática reflexiva sobre os acontecimentos
que se dão em sala de aula, de forma a buscar a sua compreensão, para possibilitar ações
docentes concretas e efetivas que atendam aos inúmeros desafios do trabalho docente no
cotidiano escolar. Para o desenvolvimento desta pesquisa, optou-se por uma abordagem
de cunho qualitativa, sendo realizada a coleta dos dados por meio de análise documental
e questionários aplicados aos docentes e acadêmicos, principalmente daqueles que já
atuavam como docentes da educação básica. A análise desses documentos permite
identificar o quanto a Prática de Ensino e o Estágio são concebidos como espaço e
tempo que possibilitam ao acadêmico, a partir de situações reais de ensino, desenvolver
um olhar investigativo sobre a realidade escolar.
Palavras-chave: estágio supervisionado; prática de ensino; formação inicial.

Introduzindo a questão

Essa pesquisa objetivou analisar a possibilidade de o Estágio Supervisionado e a Prática


de Ensino, durante o processo de formação inicial, contribuírem para desenvolver o
olhar investigativo sobre o contexto de atuação profissional, especificamente dos
acadêmicos do curso de Pedagogia que já atuam como professores da educação infantil e
anos iniciais do ensino fundamental, e assim, possibilitar a formação de profissionais
capazes de solucionar os desafios existentes na dinâmica interna da sala de aula.
Segundo Miranda e Silva (2008), os acadêmicos ao serem orientados a desenvolver um
olhar atento e uma escuta sensível sobre os acontecimentos que ocorrem na escola,
campo de estágio, terão possibilidade de compreender a complexidade das relações que

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se estabelecem no ambiente escolar, especificamente no processo ensino e


aprendizagem.
Para o desenvolvimento deste estudo optou-se por uma abordagem de cunho qualitativa,
sendo realizada a coleta dos dados por meio de análise documental e questionários
aplicados para quatro professores que trabalham diretamente com o Estágio
Supervisionado na instituição pesquisada e catorze discentes do curso de Pedagogia que
já atuam como professores regentes na educação infantil e nos anos iniciais do ensino
fundamental.
Para selecionar esses acadêmicos como sujeitos desta pesquisa, considerou-se o
pressuposto de que, no decorrer do curso de Pedagogia, especificamente na realização
do estágio supervisionado, eles tiveram a possibilidade de (re)significar seus saberes
docentes, refletindo sobre as experiências que traziam da sua prática pedagógica, e
assim projetar um novo conhecimento sobre o seu fazer.
Dessa forma, esses sujeitos puderam confirmar ou não se a realização do Estágio
Supervisionado do curso de Pedagogia contribui para desenvolver uma prática reflexiva
sobre os acontecimentos que se dão em sala de aula, de forma a buscar a sua
compreensão, para desenvolver uma postura investigativa que atendam aos inúmeros
desafios do trabalho docente no cotidiano escolar.

Prática de Ensino e Estágio Supervisionado: lócus formativo para o


desenvolvimento de atitudes investigativas?

Essa pesquisa não tem a pretensão de transformar a formação de professores em


formação de pesquisadores, mas em refletir sobre uma formação em que o professor,
especificamente o de educação básica, esteja instrumentalizado pela pesquisa,
possibilitando-lhe a vivência de um processo formativo que prioriza o desenvolvimento
de uma atitude investigativa, subsidiando-lhe a detectar os problemas do cotidiano
escolar e procurar, na literatura pedagógica, na troca de experiências com os colegas e
na utilização de diferentes recursos, soluções para responder aos diferentes desafios da
prática escolar, independente de se atribuir ou não o rótulo de pesquisa a esse tipo de
formação (SANTOS, 2006).
Nesse sentido, Santos continua afirmando que
O que está sendo enfatizado é a necessidade de se formar um docente
inquiridor, questionador, investigador, reflexivo e crítico.
Problematizar criticamente a realidade com a qual se defronta,
adotando uma atitude ativa no enfrentamento do cotidiano escolar,
torna o docente um profissional competente que, por meio de um

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trabalho autônomo, criativo e comprometido com ideais emancipa


tórios, coloca-o como ator na cena pedagógica.
O estágio, a partir de uma prática investigativa, possibilita ao futuro professor “sair da
atitude de imitação para a atitude de apreensão e elaboração própria, coincidindo com o
criar, emancipar-se e dialogar com a realidade educativa, visando à sua compreensão e à
construção de novos caminhos para a prática docente” (BARREIRO; GEBRAN, 2006,
p. 119).
No relato a seguir, o acadêmico afirma que o estágio, especificamente o período de
observação, constituiu um momento propício para desenvolver um olhar inquiridor
sobre a prática pedagógica. No entanto, adverte que:
não pode ser uma mera imitação de modelos. É preciso unir a teoria e
a prática e ser capaz de analisar criticamente os prós e os contras da
ação pedagógica observada, elaborando através de sua análise seu
próprio modo de ser. (A-5)1
E mais,
mesmo já tendo a prática em sala, com o curso superior e o estágio, o
meu trabalho passou a ter muito mais qualidade, por entender e
conhecer a teoria e também o porquê e para que fazer. (A-12)
O estágio supervisionado, na maioria das vezes, é o primeiro contato
do futuro educador com a realidade escolar, oportunizado
compartilhar construções de aprendizagem, bem como a aplicação do
aprendizado teórico na prática da profissão escolhida. (A-1)
Nessa perspectiva, o estágio deixa de ser um treino e aplicação de técnicas para se
constituir em um dos momentos da formação do futuro professor, possibilitando-lhe a
vivência de um fazer pedagógico que tenha sentido, pois lhe proporciona oportunidades
educativas que articulam teoria e prática, levando-o à reflexão de sua ação profissional.
Na instituição pesquisada, o acadêmico é acompanhado e orientadopelo professor
orientador de estágio e também é auxiliado pelos professores das demais disciplinas do
currículo. Neste sentido, o acadêmico relata:
O presente trabalho teve apoio, orientação e a fundamentação teórica
das docentes das disciplinas de Fundamentos Teóricos e
Metodológicos da Matemática, Ciências, História, Geografia e Língua
Portuguesa como também da Prática da Educação Básica, de forma
interdisciplinar, para desenvolver nas futuras docentes um olhar
reflexivo e investigativo (Relatório de Estágio, p. 18).
André (2006) em seu texto “O papel da pesquisa na formação e na prática dos
professores”, discutindo sobre o espírito investigativo na formação inicial do docente,
afirma que é extremamente importante “que ele aprenda a observar, a formular questões
e hipóteses e a selecionar instrumentos e dados que o ajudem a elucidar seus problemas
e a encontrar caminhos alternativos na sua prática docente (ANDRÉ, 2006, p. 59).

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Nesta perspecitava, percebe-se que o uso da investigação deve ocorrer desde o processo
de formação inicial, promovendo o desenvolvimento de habilidades e atitudes que
possibilitem o futuro professor durante a realização do estágio “perceber como o aluno
reage e interage frente aos desafios propostos por conteúdos novos, e também analisar
de que maneira acontece a intervenção do professor” (A-8).
A realização do estágio supervisionado deve constituir um espaço propício à construção
da atitude investigativa, possibilitando aos futuros docentes o delineamento de
caminhos que lhes permitam interrogar e refletir sobre a sua futura prática profissional,
constituindo “um momento de estudos que tem a finalidade de colocar o aluno em
contanto com situações que o aproximam da realidade de sua futura atuação
profissional” (P-03).
O desenvolvimento da atitude investigativa pode ser constatada no relato a seguir:
Esse processo investigativo que aconteceu durante o estágio de
observação serviu para verificar as dificuldades dos alunos e também
como ocorria a intervenção pedagógica e de que maneira eram feitas.
Também buscamos verificar como a criança elabora seu conhecimento
e como podemos verificar se ela aprendeu ou não aprendeu (Relatório
de Estágio, p. 02).
Com o desenvolvimento da capacidade investigativa dos professores, teremos a
oportunidade de formar um profissional reflexivo e com domínio dos conhecimentos
específicos e pedagógicos, que fará de sua prática docente um processo contínuo de
investigação. Certamente, formaremos um docente que poderá problematizar a realidade
com a qual irá se defrontar, adotando uma prática docente investigativa que colabore
com a formação de um cidadão responsável e compromissado como seu entrono social.
O relato abaixo aponta essa perspectiva formativa, pois considera:
o estágio supervisionado extremamente relevante para a vida
profissional dos acadêmicos, pois oportuniza a realização de
observações investigativas, fazendo-os perceber quais são as
necessidades, dificuldades e os progressos dos alunos, em várias
situações de aprendizagem e como são estabelecidas as relações
afetivas entre professor-aluno, aluno-aluno, na instituição campo de
estágio. (A-3)
Analisando os relatos dos acadêmicos do curso de Pedagogia do Cesumar pode-se
perceber que a Prática de Ensino e o Estágio Supervisionado enquanto eixos
articuladores no processo de formação inicial de professores possibilitam o ensino e a
investigação pedagógica como unidade do trabalho docente, objetivando a articulação
reflexiva entre os conhecimentos teóricos e a prática vivenciada pelos acadêmicos nas
escolas, campo de estágio. A vivência desta relação é confirmada pela professora
orientadora de estágio ao testemunhar que:

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essa articulação se torna presente quando o aluno se apossa de


fundamentos teóricos necessários para compreender a situação
pedagógica, social, contextual para sua inserção no campo-estágio. Ao
mesmo tempo em que leva as teorias para o estágio, volta com as
observações investigativas para retomar as teorias e tentar
compreendê-las pra mudar a realidade observada. (P-1)
Fundamentado com subsídios teórico-prático e também com orientação do professor de
estágio, o estagiário terá condições de realizar um diagnóstico da realidade escolar,
possibilitando o desenvolvimento de um olhar investigativo sobre o processo ensino e
aprendizagem.
Conclusões provisórias
Com a análise dos dados coletados dos questionários e dos relatórios do curso de
Pedagogia se verificou a possibilidade de mobilização dos saberes teóricos e práticos
capazes de propiciar aos acadêmicos do curso de Pedagogia, que já atuam como
docentes na educação básica, a investigação de sua própria atividade e, a partir dela,
construir seus saberes num processo contínuo, de modo a se colocar como atores
partícipes de suas práticas.
Dessa forma, a Prática de Ensino e o Estágio Curricular Supervisionado deixam de ser
um treino e aplicação de técnicas para se constituir em um dos momentos da formação
do futuro professor, possibilitando-lhe a vivência de um fazer pedagógico que tenha
sentido, pois lhe proporciona condições para a formação de um profissional com
domínio dos conhecimentos específicos e pedagógicos, que fará de sua prática um
processo contínuo de investigação e formação.

Referências:ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. 4.


ed. São Paulo: Cortez, 2005.
ANDRÉ, Marli (Org.). O papel da pesquisa na formação e prática dos professores.
5. ed. Campinas, SP: Papirus, 2006. p. 11-26.
BARREIRO, Iraíde Marque de Freitas; GEBRAN, Raimunda Abou. Prática de Ensino
e Estágio Supervisionado na formação de professores. São Paulo: Avercamp, 2006.
MIRANDA, Maria Irene; SILVA, Lazara Cristina da. Estágio Supervisionado e
Prática de Ensino. São Paulo: Junqueira&Marin, 2008.
SANTOS, Lucíola P. C. P. Dilemas e perspectivas na relação entre ensino e pesquisa.
In: ANDRÉ, Marli (Org.). O papel da pesquisa na formação e prática dos
professores. 5. ed. Campinas, SP: Papirus, 2006. p. 11-26.
1
: Com o intuito de se manter o sigilo em relação aos participantes, denominou-se os acadêmicos pela letra “A”,
assim, eles foram numerados de A-1 a A-14. Da mesma forma os professores foram denominados pela letra “P”,
sendo também numerados de P-1 a P-4

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