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DIREITO DAS SUCESSÕES


AULA 02 – Transmissão da herança

Primeira parte: exposição do conteúdo (em sala de aula)


LEGISLAÇÃO: ARTIGOS 1784 a 1797, CC
DOUTRINA: MARIA HELENA DINIZ

1. Momento:
- Quando? (quando se transmite a herança? O momento da transmissão da herança é o
exato instante da morte do de cujus, daí a necessidade de sua fixação precisa);
- Provas (a prova da morte é feita, a princípio, pela apresentação da certidão de óbito. Na
falta do registro, por levantamento pericial, prova testemunhal, etc.);
- ITCMD e óbito (o patrimônio se transfere aos herdeiros, portanto, no exato instante da
morte e não no momento da transcrição da partilha, de modo que o ITCMD será cobrado
com base nos valores apurados no instante do óbito);
- Lei que regula a sucessão (a lei que regula a sucessão é aquela do momento do
falecimento. Assim, se a pessoa faleceu até 10 de janeiro de 2003, sua sucessão será
regulada pelo CC de 1916 e pelas Leis nº 8.971/94 e 9.278/96, em se tratando de união
estável; se faleceu depois dessa data, todavia, será aplicado o CC atualmente em vigor –
artigo 2.041, CC).

2. Lugar da abertura do inventário:


a) Importância do inventário:
- Etimologia da palavra (inventário vem do latim invenire, que quer dizer encontrar, achar,
descobrir, inventar e vem do verbo inventum, que significa invento, invenção, descoberta);
- Legalizar a transmissão (o inventário é o meio hábil para que se possa legalizar a
transmissão dos bens aos herdeiros, transmissão essa que se deu no momento do
falecimento);
- Descrição dos bens e partilha (o processo judicial de inventário tem a finalidade de
descrever os bens do falecido e proceder à sua partilha entre os herdeiros. O inventário
cessa, então, com a partilha);
- Formal de partilha (com a inscrição do formal de partilha no Registro de Imóveis dá-se a
mudança do nome do falecido para os herdeiros, embora eles já tivessem o domínio do
patrimônio desde o momento do falecimento);
b) Foro competente para o inventário:
- Último domicílio (último domicílio do falecido: artigo 1785, CC. Presunção de que aí
estejam seus negócios, muito embora a morte tenha se dado em outro local, bem como
os bens estejam situados em outro lugar. Artigo 1785, CC: foro competente para o
processamento do inventário, petição de herança e ações de co-herdeiros, legatários e
credores relacionadas com os bens da herança);
- Prazo (o prazo para a abertura do inventário é de 30 dias – artigo 1796, CC, contados da
morte. Note-se que no Estado de São Paulo, pelas Leis nº 9.591/66, 10.705/00, 10.992/01
e Decreto-lei nº 46.655/02, o prazo para abertura do inventário é de 60 dias. O
desrespeito a esse prazo não impede a abertura posterior de inventário, é bem verdade,
mas haverá multa sobre o imposto a recolher, multa cujo valor pode variar de 10 a 20%,
dependendo de o atraso ser menor ou maior – Lei nº 10.705/2000, de São Paulo. É
preciso, todavia, combinar estas regras com as contidas no NCPC: artigo 611 – o
inventário deverá terminar em 12 meses e o prazo para sua abertura é de 2 meses, mas
como esse é prazo impróprio pode o magistrado proceder a sua dilatação, de ofício ou a
requerimento das partes; artigo 48, NCPC – é competente o foro do domicílio do autor da

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herança, observadas, ainda, as regras especiais contidas nos incisos do § Único do


mesmo artigo, parágrafo esse que foi alterado no NCPC);
- Regra geral (= último domicílio do autor da herança, em razão da conveniência da
unidade da liquidação);
- Morte no estrangeiro (se a morte ocorreu no estrangeiro, foro competente é o do último
domicílio do falecido no Brasil – artigos 48, NCPC, 1785, CC);
- Bens no Brasil (quanto aos bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja
estrangeiro e tenha residido fora do Brasil, a competência é exclusiva da Justiça Brasileira
para proceder ao inventário - artigo 23, II, NCPC);
- Mais de um domicílio (se o autor da herança tinha mais de um domicílio, o inventário
será feito em qualquer deles, optando-se por aquele que seja mais conveniente aos
herdeiros. Se forem requeridos inventários em vários domicílios, prevento será o juízo que
primeiro tomou conhecimento do inventário - artigo 59, NCPC – registro ou distribuição);
- Herdeiro falecido sem outro acervo (falecendo o cônjuge do de cujus ou um de seus
herdeiros na pendência do inventário - herdeiro que não deixou outro acervo senão sua
quota hereditária no primitivo inventário - será competente, por conexão, o foro onde se
processa o inventário do pré-morto – artigo 672, NCPC);
- Ações concernentes (todas as ações concernentes à herança deverão ser ajuizadas no
juízo do inventário - artigos 91 do CC e 48 do NCPC. Ex: sobrepartilha, divisão geodésica
-artigos 569, II e 588 e seguintes do NCPC, nulidade da partilha - artigo 2027 do CC, ação
anulatória de decisão que concede alvará para venda de bens do inventário, ação de
sonegados - artigo 1994, CC, ação de nulidade ou anulação de testamento, prestação de
contas do inventariante ou do testamenteiro, pedidos de herdeiros ou legatários quanto a
substituições e sub-rogações de ônus relativamente aos bens da herança, ação de
petição de herança - artigos 1824 a 1828 e 205 do CC, etc.. Não são da competência do
juízo do inventário, dentre outras ações: prestações de contas requeridas pelo
inventariante contra os herdeiros, prestações de contas do mandatário do falecido e entre
este e um dos sócios, execução do formal de partilha - compete ao juízo comum, ações
de cobrança contra o espólio, inclusive de letra de câmbio, ações reais imobiliárias, ação
de investigação de paternidade, exceto se cumulada com a de petição de herança e
ações que não forem conexas com o inventário);
- Foro após a partilha (lembre-se que depois de efetivada a partilha foros competentes
serão os dos herdeiros);
c) Inventariante:
- Administrador provisório (até que o inventariante assuma o encargo, quem cuida do
espólio e tem o dever de requerer o inventário é o administrador provisório, segundo o
artigos 613 a 615, NCPC. Mas, também têm legitimidade para requerer o inventário as
figuras contidas no artigo 616 do NCPC. Assim, até que o inventariante preste o
compromisso, nos termos do artigo 617, § Único, NCPC, continua o espólio na posse do
administrador provisório. É o CC quem indica aquele que poderá ser administrador
provisório – artigo 1797, CC. Normalmente é aquele que estiver na posse da herança,
pois não se trata de pessoa indicada pelo juiz, mas em razão de situação de fato);
- Função:
- Posse direta, administração e partilha dos bens (o inventariante é a pessoa que tem a
posse direta dos bens da herança. Sua função é administrar os bens do acervo,
inventariá-los e partilhá-los oportunamente entre os herdeiros do falecido. Note-se que os
herdeiros têm a propriedade e posse indireta dos bens do falecido quando da abertura da
sucessão – artigo 1991, CC. São possuidores simultâneos, herdeiros e inventariante, e a
posse de um não anula a dos outros - artigo 1197, CC);
- Representação ativa e passiva (ao inventariante cabe a representação ativa e passiva
da herança em juízo - artigo 75, VII, NCPC. Tanto o inventariante quanto os herdeiros

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poderão, portanto, mover ações possessórias relativas aos bens do acervo - artigos 1784
e 1791, § Único, CC);
- Munus público e fiscalização (a inventariança é munus publico, submetido ao controle e
fiscalização do juiz. O inventariante goza de fé pública);
- Critérios:
- Ordem (a ordem a ser obedecida na nomeação de inventariante consta do artigo 617 do
NCPC. Em primeiro lugar, será nomeado inventariante o cônjuge ou companheiro
sobrevivente, desde que estivesse convivendo com o outro ao tempo de sua morte. Isso
desde que seja casado pelo regime da comunhão de bens. Se for outro o regime só
poderá ser inventariante se for herdeiro legítimo ou testamentário. Se o casal estiver
separado ao tempo da morte, não há prevalência do cônjuge como inventariante. Se não
houver cônjuge, ou se este não puder ser nomeado, o herdeiro que se acha na posse e
administração do espólio. A seguir, qualquer herdeiro, se nenhum herdeiro estiver na
posse e administração do espólio. O critério principal, aqui, é a idoneidade moral, mas
pode ser o filho mais velho, aquele que conviva com o de cujus na mesma casa, o que
conhece melhor seus negócios, o que os outros herdeiros indicarem, etc.. Em seguida,
poderá ser nomeado inventariante menor, devidamente representado. Se o testador não
deixou cônjuge nem herdeiros legítimos, pode o testamenteiro ser nomeado inventariante,
se lhe foi confiada a administração do espólio ou se toda a herança estiver distribuída em
legados. Após, o cessionário do herdeiro ou do legatário. O inventariante judicial, se
houver. No RJ existe esta função específica. Pessoa estranha idônea, onde não houver
inventariante judicial - inventariante dativo. Este último recebe remuneração para exercer
todas as funções da inventariança, exceto representação ativa e passiva da herança.
Note-se que só será nomeado inventariante dativo em casos excepcionais);
- Descumprimento da ordem pelo juiz (eventualmente pode o juiz descumprir tal ordem,
se o herdeiro não estiver em condições de exercer o encargo. Ex: é pessoa inidônea, é
credor ou devedor do espólio, tem domicílio no estrangeiro, etc.).

3. Objeto da sucessão:
a) Noção de herança:
- Objeto = herança (o objeto da sucessão causa mortis é a herança. Os herdeiros se sub-
rogam no ativo e passivo do falecido, até os limites do quinhão – artigos 1792 e 1997,
CC);
- Herança = bens + direitos + obrigações (a herança é, então, o conjunto de bens
materiais, direitos e obrigações do falecido - artigos 91 e 943, CC, que se transmitem aos
herdeiros legítimos e testamentários);
- Responsabilidade civil (em se tratando de responsabilidade, tanto os herdeiros daquele
que causou o dano quando os herdeiros do lesado poderão dar continuidade às ações de
reparação – artigo 943, CC);
- Direitos personalíssimos (somente em se tratando de direitos personalíssimos é que não
há transmissão aos herdeiros. Ex: tutela, curatela, poder familiar, direitos políticos, etc., já
que o sucessor não é a continuação da pessoa do falecido);
- Ações, em geral (inclusive as ações de que era titular o falecido e as contra ele
propostas, se transmissíveis, poderão ser continuadas pelos herdeiros);
- Obrigações alimentares – vincendas? (há, ainda, direitos e deveres patrimoniais que não
passam aos herdeiros. Ex: obrigação de fazer infungível, uso, usufruto, habitação e as
obrigações alimentares, exceto no que se refere ao devedor de alimentos. Cabe aos
herdeiros do devedor arcar com a obrigação até os limites da herança. Discute-se, na
doutrina, todavia, se as prestações vincendas seriam também devidas. Há aqueles que
defendem a só possibilidade de cobrar as prestações vencidas e não pagas. Maria
Helena Diniz entende também serem devidas as vincendas, podendo a ação de alimentos

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ser intentada em face dos herdeiros do devedor falecido. Se o credor for também herdeiro
entende-se que a necessidade deve ser apurada em razão das novas condições impostas
pela divisão da herança);
b) Indivisibilidade da herança:
- Sucessão aberta = imóvel (a sucessão aberta é tida como imóvel - artigo 80, II, CC);
- Cessão e demanda (para sua cessão, exige-se escritura pública - artigo 1793, CC e para
a demanda judicial, outorga uxória);
- Indivisibilidade até a partilha (a herança é universalidade juris indivisível até a partilha.
Se houver mais de um herdeiro, o direito de cada um, no que se refere à posse e ao
domínio, permanece indivisível até a partilha – artigo 1791, § Único, CC);
- Coerdeiros e condomínio (cada coerdeiro, assim, tem direito de posse e propriedade
sobre a herança em condomínio com os demais. Pode, pois, exercer atos possessórios e
reclamar, mediante ação reivindicatória – artigos 1199 e 1314, CC);
- Coerdeiros e terceiros (então, em relação a terceiros, cada coerdeiro poderá atuar como
se fosse o único dono do acervo. Ele é mandatário tácito, que defende o acervo como um
todo até a ultimação da partilha. Se os bens estiverem em mãos de estranhos em razão
de sentença é preciso rescindir a decisão judicial antes de reivindicar tais bens; a partilha
feita entre pessoas estranhas à herança deverá ser anulada pelos herdeiros. Se é o
coerdeiro quem detém indevidamente a herança, o outro não poderá reclamá-la, já que os
direitos dos herdeiros são iguais. Nesse caso, deve-se abrir o inventário e somente o
inventariante tem poder para mover as ações possessórias cabíveis em face de estranhos
ou herdeiros);
- Venda, não! Cessão (no regime de condomínio forçado que se estabelece com a
abertura da sucessão, cada coerdeiro possui uma parte ideal da herança, por isso o
herdeiro não pode vender ou hipotecar bens determinados da herança, mas somente
ceder a sua quota-parte, observando-se as regras constantes dos artigos 1794 e
seguintes do CC);
- Ação de petição de herança (artigos 1824 a 1828, CC):
- Conceito (trata-se de matéria processual inserida no CC de 2002. A ação de petição de
herança é aquela que pode ser movida pelo herdeiro, legítimo ou testamentário, em face
dos coerdeiros ou possuidores da herança sem justo título, uma vez que seja privado dos
bens, não tendo sido possível se habilitar no inventário. Pode ser movida durante o
inventário e a partilha, ou mesmo depois da ultimação desta - artigo 1824, CC. A petição
de herança, mesmo que exercida por só um dos herdeiros, pode abranger todos os bens
do acervo, visto que a herança é indivisível até a partilha - artigos 1825 e 1791, § Único,
CC. A ação de petição de herança é prescritível - artigo 205, CC – 10 anos, a contar da
abertura da sucessão. Geralmente vem cumulada com investigação de paternidade);
- Possuidor da herança – consequência (no caso da ação de petição herança procedente,
o possuidor da herança está obrigado a devolver os bens que estiverem em seu poder -
artigo 1826 e § Único, CC. Se de boa-fé, terá direito aos frutos percebidos. Os frutos
pendentes deverão ser devolvidos - artigo 1214, CC. Se de má-fé se aplica o teor do
artigo 1216 do CC. No que se refere à perda e deterioração da coisa: artigos 1217 e 1218
do CC. Ao possuidor vencido na ação de petição de herança, serão aplicadas regras
atinentes às benfeitorias: artigos 1219 e 1220, CC. As benfeitorias se compensam com os
danos - artigo 1221, CC. Se a posse é de má-fé, o reivindicante tem o direito de optar
entre o valor atual e o custo das benfeitorias. Se a posse é de boa-fé, indenizará pelo
valor atual. Presume-se de má-fé o possuidor a partir da citação na ação de petição de
herança – artigo 1826, § Único, CC);
- Herdeiro aparente e terceiros de boa-fé (o herdeiro pode mesmo, em ação de petição de
herança, demandar bens da herança em posse de terceiro, sem prejuízo da
responsabilidade do possuidor originário pelo valor dos bens alienados - artigo 1827, CC.

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O valor será o de mercado à época da reclamação. O possuidor ilegítimo é o chamado


herdeiro aparente: faz supor que seja legítimo titular dos bens da herança, quando não é,
em razão de ser indigno ou deserdado ou ter sido beneficiado em testamento invalidado.
O terceiro de boa-fé que adquirir bens do espólio de herdeiro aparente não será
prejudicado. O alienante deverá indenizar o herdeiro verdadeiro, independentemente de
ter agido de boa ou má-fé. Se a alienação foi gratuita, todavia, não terá validade nem
eficácia - artigo 1827, § Único, CC e o terceiro deverá devolver os próprios bens, o que
evita doação que possa lesar herdeiro. O grande problema da petição de herança é a
localização dos bens e dos terceiros, bem como a fixação dos encargos, em se tratando
de posse de má-fé, principalmente se a sucessão já foi aberta há muito tempo);
- Herdeiro aparente e entrega de legado (se o herdeiro aparente fez entrega de legado a
pessoa que constava do testamento, não deverá indenizar o herdeiro verdadeiro; mas,
este último, poderá exigir a devolução do legado daquele que indevidamente recebeu o
bem - artigo 1828, CC);
- Cessionário e reivindicação (o cessionário pode intentar as ações cabíveis ao herdeiro
verdadeiro, no que se refere à reivindicação da herança);
- Legatário e petição de herança (o legatário não faz jus à ação de petição de herança,
mas ação reivindicatória em face do bem legado);
- Partilha e quinhões (com a partilha cessa o estado de indivisão da herança, formando-se
o quinhão hereditário de cada herdeiro, com efeitos retroativos à data da abertura da
sucessão - artigo 2023, CC. Nada obsta, todavia, a que na partilha se estipule que algum
bem ainda continua em estado de condomínio entre os herdeiros - artigo 2019, CC).

4. Capacidade e incapacidade sucessórias:


a) Capacidade para suceder:
- Incapacidade sucessória ≠ incapacidade para os atos civis (para que possa receber os
bens do falecido no exato instante da abertura da sucessão, o herdeiro deve ter
capacidade para suceder. Não basta a simples invocação do direito sucessório legítimo
ou testamentário – é preciso ter capacidade para suceder. A incapacidade para suceder,
por exemplo, do indigno, não se confunde com a incapacidade para os atos da vida civil.
Pode-se ter capacidade sucessória sem se ser capaz para os atos da vida civil. A
incapacidade sucessória é impedimento legal para adir à herança);
- Capacidade: momento da morte (a capacidade sucessória que deve ser analisada é
aquela do tempo da abertura da sucessão - artigo 1787, CC. A lei que rege tal capacidade
deve ser a lei do dia do óbito. Consequentemente: se capaz o herdeiro no momento da
feitura do testamento, mas incapaz no momento da morte, não poderá suceder ao
falecido; se incapaz quando da feitura do testamento, mas capaz quando da morte, terá
direitos sucessórios; se for instituída substituição fideicomissária, somente será
beneficiário aquele que já existir no instante da abertura da sucessão do fideicomitente);
- Apuração (para apurar a capacidade sucessória é preciso o preenchimento dos
seguintes requisitos: 1º) morte do de cujus, 2º) sobrevivência, ainda que por fração ínfima
de tempo, do herdeiro em relação ao falecido - artigo 1798, CC, ou já estar ele, ao menos,
concebido* ao tempo da morte, 3º) Espécie humana – pessoa física e jurídica, a pessoa
jurídica, com exceção de municípios, DF e União, não pode ser chamada a suceder sem
testamento. Pode suceder por testamento, desde que exista legalmente - artigos 1844 e
1799, II, CC, o herdeiro precisa pertencer à espécie humana, dado que somente pessoas
físicas ou jurídicas podem suceder. Pode-se impor condição referente a animal ou objeto,
todavia, e deve haver 4º) título ou fundamento jurídico de direito de herdeiro, por lei ou
testamento - artigo 1786, CC. Assim sendo, se não houver testamento, obedece-se à
ordem de vocação hereditária prevista no artigo 1829 do CC. O mesmo acontece se o
testamento for nulo ou caduco. Também, na falta de herdeiros necessários, quando o

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testador não dispôs de todos os bens em testamento, serão chamados à sucessão os


herdeiros legítimos e se o testador ultrapassou a legítima em testamento, voltam os bens
aos herdeiros necessários);
- *Concepção (pessoa ainda não concebida ao tempo da morte não pode herdar, salvo na
hipótese do artigo 1799, I, CC. Assim, a vida é condição resolutiva, já que a capacidade
sucessória do nascituro é excepcional, pois somente terá direito sucessório se nascer
com vida - artigo 1798, CC. Como lhe falta personalidade jurídica material, ser-lhe-á
nomeado curador ao ventre - artigo 1779, CC. Se nascer com vida, seus direitos
sucessórios retroagem à data da abertura da sucessão - artigo 1800, § 3º, CC);
- Transmissão condicional (existem casos de transmissão hereditária condicional,
subordinada a evento futuro e incerto: prole eventual de pessoa indicada pelo testador, e
artigo 1799, I e III, CC - pessoa jurídica ainda não constituída – fundação. A lei estipula
prazo de dois anos para a concepção, evitando-se que a herança fique eternamente sem
divisão - artigo 1800, § 4º, CC. Decorrido o prazo, caduca a disposição testamentária,
voltando os bens aos herdeiros legítimos);
b) Exclusão do herdeiro ou do legatário por indignidade:
- Conceito:
- Pena civil (é pena civil, que priva do direito à herança herdeiro e legatário que cometeu
atos criminosos, ofensivos ou reprováveis, taxativamente enumerados em lei, contra a
vida, a honra e a liberdade do falecido ou de seus familiares);
- Fundamento ético (fundamento ético da indignidade - não pode aquele que não tem
afeto pelo falecido auferir vantagem com sua morte);
- Causas:
- Artigo 1814, CC – rol taxativo (excluídos por indignidade são aqueles que,
resumidamente, atentam contra a vida, a liberdade e a honra do falecido. São os casos
taxativos do artigo 1814 do CC, vez que se trata de pena civil);
- I (não abrange o homicídio culposo, erro quanto à pessoa e erro quanto à execução -
artigo 20, § 3º, CP. Também não incide quando há causa de exclusão da ilicitude, ou se o
autor for inimputável. Há quem equipare, para efeito de indignidade, a instigação ao
suicídio. Não há necessidade de efetiva condenação criminal. Claro que a sentença
absolutória produz efeitos na seara civil – artigo 935, CC. A extinção da pena não ilide a
exclusão do herdeiro. Há necessidade de prova do fato, não bastando a mera suspeita.
Questão controversa é a eutanásia como geradora da indignidade. O mesmo se diga da
instigação ao suicídio, essa última já comentada);
- II (denunciação caluniosa, prevista no artigo 339 do CP - denunciação que pode ser feita
tanto no cível – inquérito civil ou investigação administrativa - quanto na seara criminal.
Também o cometimento de qualquer dos crimes contra a honra previstos nos artigos 138
a 140 do CP. Nesse caso, ensina a melhor doutrina que há necessidade de condenação
criminal para que se proceda à indignidade);
- III (defesa da liberdade de disposição do falecido - artigos 1939, IV e 1881, CC. Como
não incorre na prática de crime, aqui se deve fazer a prova por qualquer meio. Se o
sucessor corrigir os efeitos de seu ato, não será punido. O mesmo acontecerá se o
testamento for nulo);
- Declaração jurídica:
- Ação ordinária/ sentença (a indignidade precisa ser declarada por sentença, em ação
movida para esse fim. Ela não é arbitrária. A ação ordinária será movida contra o herdeiro
por quem tenha legítimo interesse na sucessão - coerdeiro, legatário, donatário, fisco,
qualquer credor prejudicado e o MP – artigo 1815, § 2º, CC, diante da ausência de
previsão do NCC – artigo 1815, CC);
- Defesa e provas (a ação assegura o direito de defesa do réu que se pretende indigno,
proporcionando a oportunidade para que se produzam provas);

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- Prazo (o prazo para a propositura da ação é de 4 anos, a contar da morte. Trata-se de


prazo decadencial - artigo 1815, § 1º, CC);
- Depois da morte! (a ação não pode ser proposta em vida do hereditando; excluída,
portanto, a iniciativa do falecido, que somente poderá deserdar o herdeiro, se for o caso);
- Vida do indigno (a ação deve ser proposta em vida do que praticou o ato de indignidade.
Falecendo o réu, extingue-se a ação, vez que nenhuma pena pode passar da figura do
criminoso. Até o trânsito em julgado da sentença que conclua pela indignidade, tal
herdeiro exercerá normalmente seus direitos sobre o acervo. Inclusive, se falecer antes
da coisa julgada, seu direito hereditário passará a seus sucessores);
- Efeitos:
- 1º - representação dos descendentes (os descendentes do excluído herdam por
representação, como se o indigno fosse falecido na data da abertura da sucessão - artigo
1816, CC. Isso porque a pena não passa da figura do criminoso. É como se ele nunca
tivesse sido herdeiro. Entretanto, a substituição ocorre apenas na linha reta descendente,
e não na linha ascendente ou colateral);
- 2º - efeitos retroativos da sentença (os efeitos da sentença que declaram a indignidade
retroagem à data da abertura da sucessão, considerando-se o indigno pré-morto ao
falecido. Sendo assim, o indigno deverá restituir os frutos e rendimentos percebidos
desde a abertura da sucessão - artigo 1817, § Único, CC. Equipara-se ao possuidor de
má-fé e tem, então, direito ao reembolso das despesas feitas com a conservação do
acervo - mesmo artigo 1817, CC, em razão do princípio estampado no artigo 884 do CC.
Serão respeitados, todavia, os direitos de terceiros em razão de atos praticados pelo
indigno - artigo 1827, § Único, CC. Mas os demais herdeiros poderão lhe exigir perdas e
danos. Nesse caso a sentença tem efeitos ex nunc - o herdeiro era herdeiro aparente. Se
a alienação for gratuita, todavia, não será mantida. Se o herdeiro aparente tiver pago
legado, de boa-fé, está liberado da obrigação de restituir o equivalente ao verdadeiro
sucessor, ressalvado seu direito de proceder contra quem o recebeu - artigo 1828, CC);
- 3º - bens recebidos pelos sucessores (os indignos não terão direito ao usufruto,
administração e sucessão em relação aos bens recebidos por seus sucessores - artigo
1816, § Único, CC. Isto porque ele é tido como pré-morto ao de cujus);
- 4º - sucessão de outro parente (pode representar seu ascendente na sucessão de outro
parente, para alguns, já que a pena tem caráter restritivo);
- 5º - testamento e perdas e danos (uma vez apurada obstação, ocultação ou destruição
do testamento por culpa ou dolo, deverá responder ainda por perdas e danos, na forma
do direito comum);
- Reabilitação:
- Ato autêntico, testamento (poderá ser reabilitado, segundo o artigo 1818 do CC, pela
pessoa ofendida em ato autêntico ou testamento);
- Perdão = privativo, formal e irretratável (o direito de perdoar é privativo e formal
-declaração expressa em testamento ou ato autêntico – escritura pública. O perdão, uma
vez concedido, é irretratável - os herdeiros não mais poderão discutir a questão);
- Reabilitação tácita (se foi contemplado em testamento quando o testador já conhecia a
ofensa, mas não há perdão expresso, poderá suceder no limite da disposição
testamentária - artigo 1818, § Único, CC. É a chamada reabilitação tácita do indigno. Se
não mais existirem os bens a que fazia jus, poderá pleitear ressarcimento perante os
demais herdeiros, recebendo o seu valor e acréscimos eventuais);
- Distinção entre incapacidade sucessória, indignidade e deserdação:

Incapaz para suceder Indigno


Não tem direito à sucessão Não pode conservar a herança
Personalidade enfraquecida Pena civil (artigo 1814, CC)

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Não adquire a herança em momento algum Somente perde o direito com o trânsito em
julgado da sentença
Nunca foi herdeiro, nada se transmitindo a Foi herdeiro e transmite sua parte na
seus sucessores herança como se fosse pré-morto

- (Muito embora tenham o mesmo objetivo, são institutos diferentes):

Deserdação Indignidade
Vontade exclusiva do autor da herança, que Casos expressos no artigo 1814, CC
a impõe em testamento, desde que haja
fundamento legal (artigos 1814, 1962 e
1963, CC)
Só ocorre na sucessão testamentária Própria da sucessão legítima e alcança o
legatário (artigo 1814, CC)
Meio usado pelo testador para afastar Priva da herança sucessores legítimos e
herdeiros necessários testamentários

Segunda parte: fazer a consolidação, a fixação e a avaliação (em casa)

“Fale pouco de você e menos ainda dos outros” (São João Bosco)
Professora Luiza Helena Lellis Andrade de Sá Sodero Toledo

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