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EMpsic Social Cap5 Atitudes
EMpsic Social Cap5 Atitudes
CAPÍTULO V
Atitudes:
medição, estrutura e funções
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tenha tido as suas fases de apogeu e as suas acima, podíamos inferir do comportamento
crises. Uma consequência da história rica deste observado, não uma atitude (gosta de artes
conceito foi a dificuldade de encontrar uma marciais), mas um traço de personalidade (é uma
definição consensual para ele. A Caixa 1 apre- pessoa agressiva, violenta), que também é um
senta definições que apareceram na literatura, e constructo hipotético. Por tendência psicológica
que ligam as atitudes a diferentes perspectivas entende-se um estado interior, com alguma esta-
teóricas. Em 1993, Eagly e Chaiken apresentara bilidade temporal (e daí a sua diferença relativa-
no livro The Psychology of Attitudes um tra- mente aos traços de personalidade que seriam
balho impressionante de análise e sistematiza- mais estáveis e aos estados emocionais que
ção da vasta literatura das atitudes, e procura- seriam mais passageiros). A grande maioria dos
ram encontrar uma definição que se ajustasse às autores considera as atitudes como aprendidas e,
diversas perspectivas existentes sobre este tema.
portanto, alteráveis.
Desde então, a literatura consagrou esta defini-
As atitudes expressam-se sempre através de
ção, a qual vamos também utilizar neste capítulo.
um julgamento avaliativo. A importância da
De acordo com Eagly e Chaiken (1993),
dimensão avaliativa foi aliás um dos poucos
atitude é um constructo hipotético referente à
pontos consensuais ao longo das diversas defi-
“tendência psicológica que se expressa numa
nições que este conceito já teve. Por exemplo,
avaliação favorável ou desfavorável de uma
podemos abordar a despenalização do consumo
entidade específica” (p. 1). Analisemos então de drogas sem manifestar atitudes se, eventual-
em maior detalhe os diferentes elementos desta mente, quisermos saber se existem ou não efeitos
definição. do consumo de drogas leves para a saúde. Mas as
A definição atitudes como um constructo atitudes acerca deste tema expressam-se imedia-
hipotético indica que as atitudes não são tamente, porque é muito difícil manter uma posi-
directamente observáveis, isto é, são uma ção neutra relativamente a um tema tão debatido
variável latente explicativa da relação entre a socialmente. Logo nas fontes que escolhermos
situação em que as pessoas se encontram e o seu para obter essa informação, podemos estar a
comportamento. Trata-se assim de uma inferên- expressar as nossas atitudes (como sabemos, o
cia sobre os processos psicológicos internos de consumo de drogas leves foi despenalizado na
um indivíduo, feita a partir da observação dos Holanda há anos; assim, se formos pedir infor-
seus comportamentos (verbais ou outros). Este mação à Embaixada Holandesa em Portugal,
processo é semelhante ao processo de inferência estamos a enviesar a informação que obtemos,
que fazemos na nossa vida quotidiana: se virmos provavelmente devido a uma atitude favorável à
uma pessoa que requisita sistematicamente no despenalização); ou podemos estar ainda a
clube de vídeo filmes de artes marciais (com- expressar as nossas atitudes através da justifica-
portamento) podemos inferir que essa pessoa ção que damos para procurar informação (por
gosta de artes marciais (atitude). exemplo, “Quero estudar melhor isso, porque a
Eagly e Chaiken (1993) explicitam ainda que despenalização das drogas é uma coisa que me
as atitudes são uma tendência psicológica, o que assusta imenso”). Assim, a atitude expressou-se
nos permite distinguir as atitudes de outros no primeiro exemplo por meio de um compor-
constructos hipotéticos. No exemplo que demos tamento e no segundo exemplo por intermédio
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CAIXA 1
“Por atitudes entendemos um processo de consciência individual que determina actividades reais ou
possíveis do indivíduo no mundo social.” – Thomas e Znaniecki, 1918, p. 22.
“Atitude face a um objecto consiste no conjunto de scripts relativos a esse objecto. Esta perspectiva
combinada com uma teoria abrangente acerca da formação e da selecção dos scripts daria o significado
funcional ao conceito de atitude que outras definições não possuem.” – Abelson, 1976, p. 41.
“Atitudes são predisposições para responder a determinada classe de estímulos com determinada
classe de respostas.” – Rosenberg e Hovland, 1960, p. 3.
“A variável dependente nos estudos de dissonância cognitiva é, com muito poucas excepções, a
afirmação de auto-descrição de atitudes ou crenças. Mas como é que se adquirem estes compor-
tamentos auto-descritivos? A afirmação de determinada atitude pode ser vista como uma inferência a
partir da observação do seu próprio comportamento e das variáveis situacionais em que ocorre. Desta
forma, as afirmações de um indivíduo são funcionalmente equivalentes às que qualquer observador
exterior poderia fazer sobre ele. Quando a resposta à pergunta “Gosta de pão de milho?” é “Acho que
sim, visto que estou sempre a comê-lo”, parece desnecessário invocar uma fonte de conhecimento
pessoal privilegiada para dar conta da resposta. – Bem, 1967, p. 75-78.
“As atitudes são vistas geralmente como predisposições comportamentais adquiridas, introduzidas
na análise do comportamento social para dar conta das variações de comportamento em situações
aparentemente iguais. Como estados de preparação latente para agir de determinada forma,
representam os resíduos da experiência passada que orientam, enviesam ou de qualquer outro modo
influenciam o comportamento. Por definição, as atitudes não podem ser medidas directamente, mas têm
de ser inferidas do comportamento.” – Jos Jaspars, 1986, p. 22.
de uma emoção. No primeiro caso, o compor- pessoas com posições favoráveis relativamente à
tamento indicava uma atitude favorável e, no despenalização do consumo de drogas (isto é, que
segundo, uma atitude desfavorável. Esta dife- tenham atitudes com a mesma direcção), mas em
rença refere-se a uma das três características que uma defenda posições mais radicais do que a
deste julgamento avaliativo: a sua direcção outra (isto é, tenham intensidades diferentes de
(favorável vs. desfavorável). Outra característica atitude): uma pessoa que defenda a despenaliza-
é a sua intensidade e opõe posições extremadas a ção do consumo de qualquer droga, enquanto
posições fracas. Assim, é possível conceber duas a outra apenas a das drogas ligeiras. A última
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característica das atitudes é a sua acessibili- exemplo, “Se houver um baixo-assinado contra
dade, isto é, a probabilidade de ser activada a manipulação genética de cereais não tenciono
automaticamente da memória quando o sujeito assinar.”). Estas formas de expressão das atitu-
se encontra com o objecto de atitude (Fazio, des foram teorizadas como três dimensões
1986, 1989, 1995). Esta dimensão das atitudes separadas, a que se chamou modelo tripartido
está associada à sua força, à forma como foi (Katz e Stotland, 1959; Rosenberg e Hovland,
aprendida e à frequência com que é utilizada 1960). No entanto, a investigação (Breckler,
pelo sujeito. Assim, podemos ter uma atitude 1984) tem mostrado que essas três classes de
muito favorável relativamente à produção de respostas não representam três factores inde-
milho geneticamente manipulado, que formá- pendentes e que não é necessário que as três
mos com base num artigo que lemos num jornal. classes estejam representadas numa atitude.
No entanto, como é uma atitude que usamos Por exemplo, uma atitude pode consistir apenas
raramente, o tempo de acesso ao nosso próprio numa componente afectiva. Eagly e Chaiken
posicionamento atitudinal é mais lento do que o (1993) propõem que essas componentes exerçam
de uma outra atitude com a qual já nos tenhamos relações de sinergia entre si, reforçando-se
tido de confrontar mais vezes, ou que tenhamos mutuamente.
adquirido por experiência directa (por exemplo Por fim, a definição que apresentámos expli-
a atitude face à despenalização da interrupção cita que as atitudes se referem sempre a objectos
voluntária da gravidez). específicos que estão presentes ou que são
Vimos que a atitude se expressa sempre por lembrados através de um indício do objecto.
respostas avaliativas, e vimos também que estas Assim, quando encontro uma fotografia ou uma
respostas avaliativas podem ser de vários tipos. carta de um amigo que já não vejo há muito
É habitual encontrar a separação de três moda- tempo, é activada a minha atitude face a essa
lidades de respostas avaliativas, que corres- pessoa, tal como quando a encontro pessoal-
pondem a outras tantas formas de expressão das mente. Quase tudo pode ser objecto de atitudes.
atitudes: cognitivas, afectivas e comportamen- Temos atitudes face a entidades abstractas (a
tais. No primeiro caso, referimo-nos a pensa- democracia) ou concretas (testes de escolha
mentos, ideias, opiniões, crenças que ligam o múltipla), temos atitudes face a entidades espe-
cíficas (o cão da vizinha) ou gerais (os cães),
objecto de atitude aos seus atributos ou
temos atitudes face a comportamentos (praticar
consequências e que exprimem uma avaliação
musculação) ou a classes de comportamentos
mais ou menos favorável (por exemplo, “A mani-
(praticar desporto). É costume designar por
pulação genética dos cereais permite resolver a
atitudes sociais e políticas as atitudes que se
fome no mundo.”). As respostas avaliativas referem a objectos que têm implicações políti-
afectivas referem-se às emoções e sentimentos cas (as atitudes face aos impostos, à polícia, à
provocados pelo objecto de atitude (por exem- democracia) ou se referem a grupos sociais
plo, ”Só de pensar na manipulação genética de específicos (atitudes face aos ciganos, aos
cereais fico assustado.”). As respostas avaliati- negros). Designam-se por atitudes organiza-
vas comportamentais reportam-se aos com- cionais as que se referem a objectos de índole
portamentos ou às intenções comportamentais organizacional (atitude em relação à empresa,
em que as atitudes se podem manifestar (por atitude em relação à chefia, etc.). As atitudes
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relativamente a pessoas específicas são normal- Esta técnica parte do princípio que podemos
mente enquadradas dentro do campo de estudos medir as atitudes através das crenças, opiniões e
que se designa atracção interpessoal (e assim o avaliações dos sujeitos acerca de um deter-
amor seria um caso extremo de atitude positiva minado objecto, e que a forma mais directa de
face a um indivíduo). Por fim, as atitudes face acedermos a estes conteúdos cognitivos é
ao próprio podem designar-se por auto-estima. através da autodescrição do posicionamento
individual. Assim, desenvolveram-se na Psicolo-
gia Social técnicas de papel e lápis que,
2. Medida das atitudes ancoradas em modelos de medição diferentes,
se cristalizaram em redor de quatro proce-
A longa história das atitudes na psicologia dimentos de construção de escalas que iremos
social permitiu que se tenham desenvolvido referir de seguida. Primeiro, as escalas inter-
formas estruturadas de as avaliar através de valares de Thurstone foram propostas por este
diversos tipos de respostas observáveis relati- autor em 1928, e consistiam numa técnica que
vamente a esse constructo inferido. Iremos neste Jaspars (1978) designa por “centrada no
capítulo dividir as técnicas de medição das estímulo”, isto é, caracteriza a atitude do sujeito
atitudes em dois grupos: as medidas directas através do seu posicionamento face a estímulos
(também denominadas medidas de auto-relato ou previamente cotados. O modelo de medição que
explícitas) e as medidas indirectas ou implícitas. lhe está na base é o modelo psicofísico, em que
Nas medidas directas, pergunta-se directamente se procura encontrar uma relação entre os
às pessoas qual a sua atitude face a um deter- atributos do mundo físico e as sensações
minado objecto; nas medidas indirectas, a atitude psicológicas que ele produz (tal como por
é inferida a partir de um outro indicador que não exemplo no caso da audição, os atributos físicos
essa resposta. Deste modo, as medidas directas das ondas sonoras relacionam-se com a forma
ou explícitas reflectem avaliações controladas como são percepcionados auditivamente). Toda
pelo participante, enquanto que as medidas indi- a técnica (ver Caixa 2 para uma descrição
rectas ou implícitas incluem uma ou mais sumária) se centra na procura de objectividade
características dos processos automáticos na selecção das frases (os estímulos) face às
(Greenwald e Banaji, 1995): ausência de quais os sujeitos apenas têm de assinalar
controlo na resposta, ausência de intencionali- aquelas com que concordam. Com esta técnica,
dade, ausência de consciência, eficiência do pro- pretende-se garantir a construção de uma escala
cesso de processamento cognitivo que permite a intervalar e assegurar que os estímulos escolhi-
ocorrência do mesmo com baixos recursos dos correspondam à diversidade possível das
cognitivos (Bargh, 1994). posições, o que é feito através do trabalho de
cotação das frases por um grupo de juízes. No
entanto, este tipo de escala (ver a Caixa 3 para
2.1. Medição das atitudes através de medidas um exemplo), revolucionária na altura da sua
directas descoberta, tem sido cada vez menos utilizada
por motivos de ordem prática, metodológica e
A forma mais comum de medir atitudes é de ordem científica. Os primeiros prendem-se
através do que se designou escalas de atitudes. com a morosidade do processo de construção da
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CAIXA 2
1. Obter (através dos meios de comunicação social, da literatura, etc.) um conjunto de cerca de 100 frases
que manifestem opiniões acerca do objecto de atitude, e que tenham as seguintes características:
sejam curtas e claras, e que no seu conjunto, manifestem todos os posicionamentos possíveis face ao
objecto de atitude, desde o muito favorável até ao muito desfavorável.
2. Proceder à avaliação de cada uma destas frases por um conjunto de sujeitos (100 ou uma amostra
representativa da população à qual vai ser aplicada a escala), numa escala de 11 pontos. Os sujeitos,
designados por juízes, deverão esquecer a sua posição pessoal e indicar, para cada frase, se ela
representa uma atitude favorável ou desfavorável face ao objecto de atitude, lembrando-se
sempre que a distância entre cada ponto da escala é igual (1 = posição completamente desfavorável;
11 = posição completamente favorável).
3. Calcular o valor de escala de cada item através do cálculo de uma medida de tendência central (média
ou mediana) a partir das pontuações dadas pelos juízes.
4. Seleccionar as frases que constituirão a futura escala de atitudes (normalmente entre 20 e 30 frases)
de acordo com os seguintes critérios:
• critério de ambiguidade: devem ser excluídos os itens com maior variância, isto é, aqueles em que
há menor consenso entre os juízes quanto à sua classificação;
• critério de irrelevância: devem ser excluídos os itens que não apresentem variação entre sujeitos
com atitudes diferenciadas, o que quererá dizer que não é um item opinativo ou que é um item
irrelevante para o objecto de atitude que estamos a medir;
• critério de sensibilidade: os itens finais da escala deverão situar-se entre o 1 e o 11, cobrindo
igualmente toda a gama de atitudes possíveis face ao objecto.
5. Apresentar aos sujeitos as frases constantes da versão final da escala, pedindo que assinalem aquelas
com que estão completamente de acordo.
6. Calcular o valor individual da atitude através da média dos valores de escala dos itens assinalados
pelo sujeito.
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posição na avaliação dos itens. Assim como as construção das escalas de Likert (que explica-
atitudes dos sujeitos, através do processo de mos em detalhe na Caixa 4) está no facto de a
categorização, influenciam a percepção de estí- selecção das frases que compõem a escala ser
mulos físicos, como foi demonstrado pela feita pelo investigador, procurando frases que
perspectiva do New Look (Bruner e Goodman, manifestem claramente apenas dois tipos de
1947) e depois reanalisado por Tajfel e colabo- atitude: uma atitude claramente favorável e uma
radores, também na avaliação de estímulos atitude claramente desfavorável em relação a
sociais este fenómeno se verifica. Assim, logo um mesmo objecto, eliminando assim todas as
em 1953 Sherif e Hovland mostram que juízes posições neutras ou intermédias. A medição da
com atitudes pró-negros classificavam a maioria atitude do sujeito é dada pelo seu posiciona-
dos itens de uma escala referente a atitudes mento face ao conjunto destas frases radicais.
raciais nas categorias “extremamente desfavo- Podemos ver na Caixa 5 um exemplo de escala
rável”, enquanto que os juízes antinegros os de atitudes acerca do ambiente (Soczka, 1983).
classificavam predominantemente na categoria Sendo muito mais económica de construir e
“extremamente favorável”. Este efeito explicado mais rápida de aplicar (uma vez que necessita de
por estes autores como uma “ancoragem” na menos itens), este tipo de escala tornou-se muito
posição individual do juiz (modelo da assimila- mais popular na avaliação das atitudes, apesar
ção-contraste) tem sido posteriormente objecto de não garantir à partida a medição numa escala
de investigação. A perspectiva que parece mais intervalar.
heurística é a que é sustentada pela equipa de Uma terceira opção são as escalas de atitudes
Eiser, em torno da teoria da acentuação, que conhecidas como diferenciadores semânticos,
prevê que se dê a polarização das avaliações que nasceram nos fins dos anos 50 dos estudos
apenas quando a dimensão em que está a ser dos psicólogos da Universidade de Illinois. Estes
feita a avaliação (dimensão focal) covarie com autores tentavam, no quadro das teorias da apren-
outra dimensão com valor para o juiz (periférica). dizagem, clarificar o processo de linguagem e,
(Para uma discussão da explicação deste efeito, especificamente, o processo de atribuição de
ver Eiser, 1986; para uma explicação mais significados, etapa essencial no processo de
pormenorizada da teoria da acentuação, ver Eiser codificação e descodificação dos sinais lexicais.
e Van der Pligt, 1984). Partindo do pressuposto de que o significado de
Uma segunda técnica de construção de cada palavra é um ponto num espaço semântico
escalas de atitudes foi proposta mais ou menos (a n dimensões num espaço Euclidiano) definido
na mesma época por Likert (1932), permitindo por dimensões bipolares (adjectivos antagó-
aos investigadores prescindir da tarefa de nicos), Osgood, Tannenbaum e colaboradores
avaliação dos juízes, e centrando o processo nos (1957) pretendiam encontrar os grandes eixos
sujeitos respondentes. Neste caso, o modelo de que caracterizam o significado dos conceitos que
medição deixava os pressupostos psicofísicos, utilizamos. Para tal, estes autores procuraram
para se basear no modelo claramente psicomé- obter uma amostra diversificada de 50 dimen-
trico: é a própria resposta do indivíduo que a sões (encontradas através da associação livre de
localiza directamente em termos de atitude, e palavras), que foram transformadas em escalas
não existe nenhum escalonamento a priori dos bipolares de 7 pontos (variando entre –3 e +3)
estímulos. A principal diferença da técnica de de modo a poderem definir o espaço semântico
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CAIXA 4
Passos na construção de uma escala de Likert
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CAIXA 5
Exemplos de escala de Likert: escala de atitudes face ao ambiente (Soczka, 1983)
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CAIXA 6
Estrutura factorial do significado de vinte palavras estímulo,
encontrada por Osgood, Suci e Tannenbaum (1957)
Considerando as atitudes como variáveis inter- na Caixa 6 e o exemplo na Caixa 7), como formas
médias de carácter avaliativo, estes autores consi- privilegiadas de medir as atitudes. A vantagem
deraram a sua técnica de diferenciador semân- principal da técnica do diferenciador semân-
tico, e especificamente os pares de adjectivos tico é o facto de o mesmo conjunto de adjectivos
que se englobam na dimensão avaliativa (Factor 1 servir para avaliar qualquer objecto de atitude.
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CAIXA 7
Exemplo de escala tipo diferenciador semântico: escala de atitudes face à polícia
Pretendemos saber a sua opinião sobre a polícia. Encontra a seguir uma série de adjectivos
opostos, e pedimos-lhe para assinalar a sua posição nos espaços que estão entre os dois. Use a casa
do meio quando achar que nenhum dos adjectivos se aplica, ou se a sua posição for média:
Nota: A cotação da escala é dada pela soma das respostas dadas, de acordo com a pontuação indicada na
linha de baixo. Valores positivos indicam atitudes favoráveis face à polícia, enquanto que valores negativos
indicam o contrário.
Mas, por outro lado, ao centrar-se unicamente que sustenta a construção deste tipo de escalas,
na dimensão avaliativa, torna-se um exercício ser complexa, os pressupostos em que se
abstracto e descontextualizado, por exemplo, baseia são fáceis de compreender. Guttman
das crenças que sustentam a atitude. propõe que os itens de uma escala de atitudes
Qualquer deste tipo de escalas pressupõe, sejam construídos tal como as bonecas russas,
explícita ou implicitamente, que as atitudes de modo que, ao aceitar um item da escala, se
são unidimensionais, isto é, que a posição do aceita também todos os seus níveis inferiores.
sujeito se pode situar num contínuo. Guttman Isto implica que, na construção dos itens, se
(1944) desenvolveu um modelo matemático procure temáticas extremamente restritas e o
que permite testar este pressuposto (a análise seu conteúdo acabe por ser muito repetitivo,
de escalogramas), e passaram-se a designar de forma a garantir a unidimensionalidade da
por Escalas de Guttman ou Escalas Cumula- escala. Um exemplo bem conhecido de escala
tivas as escalas de atitudes em que este cumulativa, apesar de ter sido construída antes
princípio é aplicado e que constituem uma do aparecimento da técnica de Guttman, é a
quarta forma de medir as atitudes. Apesar de a escala de distância social de Bogardus (1925,
técnica de análise das respostas dos sujeitos, 1933; ver Caixa 8).
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CAIXA 8
Pedimos-lhe que se dê a maior liberdade possível. De facto, quanto mais liberdade tiver,
melhores serão os resultados. Responda apenas com cruzes.
São dados 7 tipos de contactos sociais.
Responda com as suas primeiras reacções e rapidamente. Quanto mais “parar para pensar”,
menos válidos serão os resultados. Escreva as suas reacções para cada uma das raças, ocupações ou
religiões que lhe apresentarmos. (...) Não pense no melhor nem no melhor membro do grupo, mas
no grupo como um todo.
Para cada grupo indicado, ponha tantas cruzes nas colunas quantas as que as suas reacções
imediatas lhe ditarem.
Nota: Os grupos eram apresentados por ordem alfabética, e incluíam, além dos que acima indicamos:
Arménios, Finlandeses, Alemães, Gregos, Holandeses, Índios, Americanos, Irlandeses, Italianos, Japoneses,
Japoneses-Americanos, Canadianos, Coreanos, Mexicanos, Mexicanos-Americanos, Filipinos, Noruegueses,
Polacos, Russos, Escoceses, Espanhóis, Suecos, Turcos.
A cotação de um sujeito em relação a um determinado grupo é o nível mais baixo da escala que tiver
assinalado (o nível de maior intimidade que aceitasse).
Uma outra forma de medir as atitudes, muito exemplo, Lima, Vala e Monteiro (1989), ao
utilizada em estudos de opinião, mas também avaliarem a atitude geral dos quadros de uma
em áreas aplicadas da psicologia, utiliza não empresa face ao seu trabalho, utilizaram o
escalas, mas apenas uma pergunta, em que a seguinte item: “Tudo somado, e considerando
posição do sujeito é avaliada directamente. Por todos os aspectos do seu trabalho e da sua vida
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na empresa, diria que está ...” (1 = extrema- respostas, dar uma boa imagem de si, agradar ao
mente insatisfeito a 7 = extremamente satisfeito)1. investigador. Para diminuir esta motivação
Trata-se de uma metodologia muito menos fiável pode-se assegurar a confidencialidade ou, prefe-
e muito mais maleável a estratégias de auto-apre- rencialmente, o anonimato das respostas. Pode-se
sentação do que as escalas de atitude, mas que ainda controlar o grau de distorção introdu-
permite obter resultados de uma forma rápida. zindo-se simultaneamente escalas de desejabili-
Finalmente, alguns autores contestam que as dade social como as de Crown e Marlowe
atitudes pressuponham o posicionamento bipo- (1964) ou de Paulhos (1998). Um outro pro-
lar (entre um pólo positivo e um pólo negativo). blema prende-se com a relevância da atitude
Salientando que alguns objectos atitudinais nos para o sujeito: a resposta corresponde a uma
suscitam simultaneamente sentimentos ou cren- posição bem estruturada por parte do sujeito, ou
ças positivos e negativos propõem que as foi um tema com que se viu confrontado apenas
atitudes poderiam ser ambivalentes (Kaplan, naquele momento, isto é, qual o grau de centra-
1972; Scott, 1968; Thompson, Zanna e Griffin, lidade da atitude para o sujeito? Esta variável é
1995). Face à conceptualização unidimensional relevante na resposta à comunicação persuasiva
das atitudes, a perspectiva bidimensional tem a (ver capítulo de Persuasão). Uma outra questão
grande vantagem de permitir distinguir atitudes difícil de resolver envolve a própria linguagem
neutras (indiferentes) de atitudes ambivalentes em que é formulada a questão, a escala de res-
(mistas). Esta perspectiva bidimensional distin- posta (se deve ou não ter ponto médio, por
gue ainda entre a ambivalência subjectiva (de exemplo) e todos os efeitos de contexto (a ordem
que o sujeito tem consciência) e a ambivalência de apresentação das questões, por exemplo) nas
objectiva, de que o sujeito não tem consciência respostas a questionários (Bradburn, 1983;
(ver Batista e Lima, 2010, para uma descrição Schuman e Kalton, 1985). São estas algumas das
detalhada das formas de operacionalizar as ati- razões que levam a que alguns autores optem
tudes na perspectiva da ambivalência objectiva; por medidas mais indirectas das atitudes, que
e ver Castro, Garrido, Reis e Menezes, 2009, também se podem situar a nível cognitivo.
para uma aplicação do conceito de ambivalência
subjectiva ao estudo da atitude face à reci-
clagem). 2.2. Medição das atitudes através de medidas
Todas estas técnicas de papel e lápis, apesar Indirectas
de serem as mais usuais na avaliação das atitu-
des, apresentam alguns problemas que nenhum Desde a sistematização sobre medidas indi-
dos tipos de construção de escalas que referimos rectas feita por Campbell (1950) até hoje, com
pode resolver. Trata-se em primeiro lugar de especial incidência nos últimos 10 anos
saber se a resposta do sujeito corresponde à desenvolveu-se um conjunto de técnicas muito
sua atitude real ou se ele tentou, através das diverso para medir atitudes de uma maneira
1
No trabalho referido, o indicador citado era apenas uma medida resumo. Os autores incluíam também uma escala
onde eram avaliadas as diversas dimensões da satisfação organizacional (satisfação com o trabalho em si, com os colegas,
com o salário, etc.).
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indirecta. Como já referimos, nas medidas indi- subjacente. Vamos em seguida exemplificar cada
rectas infere-se a atitude a partir de um outro um deste tipo de medidas.
indicador que não a resposta verbal da pessoa a
uma questão directa sobre a atitude. Estas
medidas evitam que as pessoas alterem as suas 2.3. Medidas indirectas de natureza corporal
respostas por saberem que estão a participar
num estudo: ou desconhecem mesmo que estão Embora possamos expressar aquilo que
a participar num estudo (medidas não obstruti- sentimos através de palavras, o nosso corpo é,
vas), ou então sabem que estão a participar num muitas vezes, um relator mais verdadeiro dos
estudo, mas não têm conhecimento do que está nossos sentimentos. O corar, o suor nas mãos, o
a ser medido e assim não podem influenciar as coração a bater mais depressa são respostas
suas respostas (medidas não reactivas). A partir involuntárias e espontâneas que bem conhecemos
dos anos 90 surgiram medidas indirectas que a estados emocionais extremos. A sociopsicofi-
utilizam tempos de reacção em tarefas reali- siologia desenvolveu quatro tipos de técnicas de
zadas com suporte informático. Fazio e Olson avaliação das atitudes através de sinais corporais:
(2003) utilizam a designação de medidas indi- respostas naturais manifestas e escondidas, res-
rectas como sinónimo de medidas implícitas, postas condicionadas e as falsas respostas
mas afirmam preferir a designação “indirecta” à
psicofisiológicas.
de “implícita” pelo risco de confusão entre
Na primeira categoria, as respostas naturais
medidas implícitas de atitudes com medidas de
manifestas, encontramos os estudos que são
atitudes implícitas. De facto, enquanto nas
normalmente referidos como do comporta-
primeiras são as medidas que são implícitas no
mento não verbal, isto é, aqueles em que as
sentido em que a forma de as medir é indirecta
atitudes são inferidas através dos sinais pos-
e a pessoa não sabe o que está a ser medido, na
turais ou das expressões faciais dos interlocuto-
segunda são as próprias atitudes que são
implícitas porque estão fora da consciência do res. Por exemplo, os estudos dos sinais posturais
indivíduo. Muitas vezes não sabemos se os indi- que mostram, para o caso das atitudes interpes-
víduos não têm acesso consciente às suas soais, que existe uma correlação negativa entre
atitudes ou se não as querem revelar, por a distância a que se situam dois interlocutores e
exemplo, por considerarem que são socialmente a atitude positiva que manifestam (Mehrabian,
indesejáveis. Por esta razão não devemos 1968), ou uma correlação positiva entre a fre-
utilizar as designações “atitudes implícitas” e quência do contacto visual e o grau de atracção
“medidas implícitas de atitudes” como equiva- que duas pessoas sentem uma pela outra (Argyle
lentes. Podem-se designar como medidas indi- e Dean, 1965). Outro tipo de estudos ligados à
rectas ou implícitas um conjunto de medidas de persuasão mostram que os movimentos espon-
natureza muito diversa: corporal, compor- tâneos de cabeça (verticais e horizontais) cons-
tamental ou cognitivo. Todas elas têm em tituem um bom indicador do grau de concor-
comum a mesma fraqueza, que é o facto da sua dância da assistência em relação à comunicação.
validade de constructo levantar dúvidas, dado No entanto, aquelas que seriam as respostas
que podem ser influenciadas por muitos outros naturais manifestas mais óbvias são também as
factores que não a atitude que se supõe estar mais difíceis de avaliar: as expressões faciais.
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O problema com este tipo de respostas é o facto atenção. De facto, alguns autores consideram a
de as pessoas, se souberem que estão a ser RGP como um dos componentes do reflexo
observadas, as poderem falsear, tal como geral de orientação e, segundo esta perspectiva,
acontece com as respostas verbais, uma vez que as respostas da pele que citámos acima podem
se encontram sob o seu controlo voluntário. ser explicadas como uma reacção de estranheza,
O estudo da segunda categoria, a das res- surpresa, ou chamada de atenção pelo facto
postas naturais escondidas, refere-se a alterações de ouvir palavras tabu na situação controlada de
corporais de nível fisiológico que são dificil- laboratório, de ouvir frases radicais da boca
mente observáveis a olho nu e que não estão de experimentadores ou de se ver confrontado
ao alcance do controlo voluntário do sujeito. com um membro de um grupo minoritário numa
A medida mais frequente utilizada é a que se posição de estatuto elevado.
refere à resposta galvânica da pele (RGP), isto é, Uma outra resposta fisiológica associada às
à mudança na condutibilidade eléctrica da pele atitudes é a resposta pupilar, isto é, o aumento
devido à actividade diferencial das glândulas ou diminuição do tamanho da pupila. Esta res-
soporíferas, controladas pelo sistema nervoso posta ocorre automaticamente com as variações
simpático. A RGP é medida pela aplicação de de luz mas, uma vez que a dilatação é coman-
uma corrente eléctrica muito fraca entre dois dada pelo sistema nervoso simpático e a
eléctrodos ligados à palma da mão. Este contracção pelo sistema nervoso parassimpá-
indicador psicofisiológico do afecto é utilizado tico, permite também obter uma resposta
desde os primórdios da psicologia social. Syz atitudinal fisiológica bidireccional. A técnica de
(1926), no princípio do século, mostrou a medição da resposta pupilar é mais complexa
modificação da RGP em sujeitos confrontados do que da RGP, porque implica fotografar as
com estímulos verbais com carga emocional pupilas com película infravermelha, projectar
(por ex. “prostituta”). Outros tipos de estudo a imagem num ecrã e medir o seu tamanho.
que apresentam aos sujeitos frases retiradas de A dificuldade, para além da questão técnica de
escalas de atitudes mostram sistematicamente manter constante a distância entre a objectiva e
que existe maior RGP quando os sujeitos são a pupila, está na necessidade de esperar que,
confrontados com itens contrários à sua própria após a apresentação de um estímulo, a pupila
posição atitudinal. Noutras investigações em volte ao seu estado normal (baseline) antes da
que se procura avaliar a reacção dos sujeitos a apresentação do estímulo seguinte. A experiên-
membros de grupos raciais diferentes do seu, cia pioneira neste campo foi efectuada por Hess
verificou-se que os sujeitos brancos com e Polt (1960), que mostraram que os sujeitos
atitudes radicais antinegros tinham maior RGP masculinos apresentavam uma maior dilatação
ao serem assistidos por um experimentador ao serem confrontados com imagens de mulhe-
negro do que sujeitos menos preconceituosos res nuas, ao passo que com sujeitos femininos a
(Rankin e Campbell, 1955). Apesar do carácter mesma resposta era contingente a figuras de
sistemático destes resultados, o problema com a homens nus e de mães com bebés. Mais tarde,
utilização da RGP é que pode não ser um alguns investigadores conseguiram mostrar a
indicador de atitude, mas apenas de uma relação da aversão com a contracção pupilar:
reacção mais geral de orientação face a um Barlow (1969) mediu a resposta pupilar de sujei-
estímulo novo, inesperado, ou que requer tos conservadores e não conservadores após a
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apresentação de slides de três líderes políticos: primeiro tipo de mensagens os sujeitos con-
Lyndon Johnson, George Wallace e Martin Luther traíam mais os músculos zigóticos e depres-
King. Os resultados mostram que os sujeitos sores, e ao ouvirem mensagens anti-atitudinais
não conservadores apresentaram dilatação da contraíam mais os músculos corrugadores.
pupila às imagens de Luther King e Johnson e Vanman, Paul e Miller (1997) recorreram
contracção face à de Wallace, enquanto que os também à electromielografia facial para estudar
conservadores manifestaram um padrão de o preconceito racial. Este tipo de resposta
resposta inverso. No entanto, estes resultados parece ser mais útil do que os anteriores na
não são replicados em todos os estudos, e, tal detecção de atitudes, porque, ao contrário dos
como acontecia com a RGP, a resposta pupilar outros indicadores, não está dependente do
tem sido associada a outros tipos de situações: sistema nervoso autónomo, mas do sistema
fadiga, stress, excitação sexual, esforço mental
nervoso central, apresentando-se, portanto, livre
e ainda ao mesmo reflexo geral de orientação a
da contaminação de outros sintomas de atenção,
que pertence a RGP.
e, por outro lado, permite diferenciar claramente
Um terceiro indicador fisiológico das atitu-
os afectos positivos dos afectos negativos.
des pode ser a actividade electromiográfica
Técnicas mais recentes são a activação da
facial, isto é, a contracção das fibras musculares
amígdala recorrendo à ressonância magnética e a
avaliada através da mudança de potencial
que Phelps, O’Connor, Cunningham, Funayama,
eléctrico que a acompanha. A medição é feita
Gatenby (2000) e Hart, Whalen, Shin, McInerney
pela colocação de dois eléctrodos na superfície
Fischer, e Rauch (2000) recorreram como
da pele sobre um determinado grupo de mús- indicadores para estudar o preconceito racial.
culos, e regista-se a soma da actividade eléctrica A amígdala é uma estutura subcortical envol-
do músculo num período determinado de tempo. vida na aprendizagem de emoções, na memória
Os músculos relevantes para avaliação das atitu- e nos processos de avaliação, estando envolvida
des seriam os que determinam as expressões no condicionamento de estímulos que passam a
faciais de acordo com a hipótese do feedback suscitar reacções de medo. Phelps et al. (2000)
facial (Tomkins, 1984): corrugador (move as mediram a activação da amígdala quando os
sobrancelhas para cima e para baixo), zigótico participantes observavam faces de pessoas
(move os cantos da boca para cima e para baixo) negras e brancas com expressões neutras.
e depressor (queixo, abre a concavidade da Verificou-se uma maior activação da amígdala
boca). Schwartz e colaboradores (1976) mostra- para as faces dos Negros do que para a face dos
ram que quando se pedia às pessoas para pen- Brancos. Adicionalmente, essa diferença de
sarem em acontecimentos agradáveis as pessoas activação estava correlacionada com outras
contraíam mais os músculos zigomáticos (sorriso) medidas indirectas de preconceito. Num segundo
e menos os músculos corrugadores (apreensão) estudo, os mesmos autores utilizaram faces de
do que quando imaginavam acontecimentos Negros e Brancos referentes a figuras conhe-
negativos. Num estudo efectuado por Cacioppo e cidas pelos participantes e positivamente ava-
Petty (1979), verificou-se um padrão semelhante liadas por estes, não se tendo verificado dife-
de respostas face à apresentação de estímulos renças de activação da amígdala em função do
pró-atitudinais e contra-atitunais: ao ouvirem o grupo étnico do estímulo.
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Um outro conjunto de estudos, embora em dos de que a máquina a que estão ligados
número muito reduzido, pretendia reduzir a consegue prever as suas respostas através de
diversidade de interpretações possíveis das indicadores psicofisiológicos, e podem verificar
respostas escondidas. O primeiro estudo deste que assim se passa durante alguns ensaios com
género foi efectuado na União Soviética, na a máquina (durante os quais são utilizadas as
linha clássica pavloviana: condicionou-se um respostas dadas pelos sujeitos a um questionário
rapaz a salivar face à apresentação da palavra anterior). Uma vez convencidos de que não
russa “bom”, e, por generalização, ele produzia podem enganar a máquina, os experimentadores
significativamente mais saliva face à apresen- apresentam então aos sujeitos os estímulos face
tação de frases com as quais concordava, e menos aos quais lhes interessa saber a opinião dos
face às frases de que discordava (Volkova, sujeitos. As respostas produzidas nestas con-
1953). Em estudos mais recentes, o estímulo dições são diferentes das respostas a ques-
incondicionado mais utilizado é o choque tionários de atitudes. Por exemplo, no estudo de
eléctrico, e a resposta condicionada, a RGP, o Jones e Sigall (1971), os sujeitos apresentam
que, como vimos, levanta alguns problemas de atitudes mais racistas face aos negros na situa-
interpretação dos resultados (ver Tursky e ção de bogus pipeline do que na condição
Jamner, 1982 para uma revisão da investigação controlo. Este resultado pode ser interpretado
sobre a avaliação de atitudes através de res- como uma inibição da desejabilidade social da
postas fisiológicas condicionadas). resposta produzida pelo aparato experimental,
Por fim, referir-nos-emos a uma técnica de mas é sempre impossível decidir quais as
avaliação das atitudes que utiliza um falso respostas que são mais verdadeiras. Para além
indicador fisiológico para garantir a autenti- deste inconveniente, a bogus pipeline apresenta-se
cidade das respostas dos sujeitos às respostas a como uma técnica pouco económica de recolher
uma escala de atitudes: as falsas respostas os dados e, para continuar a ser eficiente, neces-
psicofisiológicas (bogus pipeline). Este proce- sita que os sujeitos continuem ingénuos face à
dimento foi iniciado por Jones e Sigall (1971) manipulação, isto é, que não sejam informados
que o justificam da seguinte forma: “o para- da falsidade do feedback da máquina (o que
digma experimental baseia-se na simples vai contra os princípios deontológicos da expe-
premissa de que ninguém quer ser desmentido rimentação em psicologia social).
por uma máquina. Se conseguirmos convencer Deste modo, parece que as medidas cor-
uma pessoa de que temos uma máquina que porais das atitudes, embora sejam um campo
mede com precisão a intensidade e a direcção fascinante de investigação, não têm produzido
das suas atitudes, assumimos que ela está técnicas e resultados tão importantes como de
motivada para predizer aquilo que a máquina vai início se esperava. Este facto deve-se à dificul-
dizer acerca dela.” (p. 349). dade de interpretar univocamente as respostas
Assim, os estudos que utilizam este procedi- psicofisiológicas dos sujeitos, e às dificuldades
mento costumam fazer os sujeitos entrar para práticas de aceder a este tipo de material para o
laboratórios sofisticados, ligá-los a eléctrodos e registo das respostas. As respostas afectivas
colocá-los face a um mostrador que varia entre, podem ainda ser abordadas através de técnicas
por exemplo, -3 e +3. Os sujeitos são informa- de papel e lápis, em que os indivíduos autodes-
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crevem as suas emoções relativamente a um Assim, Kuntz e Fernquist (1989) utilizaram uma
determinado objecto. Este tipo de técnica variação desta técnica, deixando em locais
assemelha-se em muito ao que dissemos acima públicos bilhetes postais dirigidos a organiza-
para as escalas de atitude. ções a favor ou contra o aborto (dependendo das
condições experimentais), em que se anunciava
a decisão de contribuir para a causa. Stern e
2.4. Medidas indirectas de natureza Faber (1997) propuseram uma adaptação sob a
comportamental forma de e-mail perdido.
Estas formas de medir as atitudes são nor-
Um outro tipo de medida das atitudes refere-se malmente defendidas por serem mais “puras”,
à avaliação dos comportamentos. Este tipo de mais próximas da realidade. No entanto, não
indicadores possibilita, por um lado, superar a devemos esquecer que esta avaliação das atitudes
falta de sinceridade que é possível nas medidas não está isenta de influências, mas apenas
de autodescrição e, por outro, produzir obser- apresenta enviesamentos diferentes das técnicas
vações em meio natural, impossíveis de obter de autodescrição. Em primeiro lugar, a psico-
através das medidas corporais. Deste modo, as logia social tem mostrado muitas vezes a
técnicas comportamentais mais importantes influência das condições situacionais na determi-
neste domínio referem-se a observações de nação do comportamento social. Depois, a rela-
comportamentos reveladores de atitudes, mas ção entre o comportamento do sujeito e a infe-
observações que passam completamente des- rência da sua atitude é deixada completamente
percebidas aos sujeitos. Estas medidas, também nas mãos do experimentador. E, por fim, como
conhecidas por medidas não obstrutivas, foram veremos mais adiante, não é linear nem simples
utilizadas muitas vezes nas investigações dos que o comportamento das pessoas corresponda
anos 60 em psicologia social. Por exemplo, à sua atitude.
Campbell, Kruskal e Wallace (1966) e Macrae,
Milne e Bodenhausen (1994) avaliaram as
atitudes raciais de estudantes brancos através da 2.5. Medidas indirectas de natureza cognitiva
distância a que se sentavam de indivíduos de
raça negra. Milgram, Mann e Hartner (1965), Referiremos as técnicas projectivas, as
num outro estudo célebre, avaliaram as atitudes medidas disfarçadas de atitudes, os envie-
políticas de cidadãos de diferentes partes de samentos linguísticos, o priming afectivo e o
uma cidade americana deixando no chão, como teste de associação implícita (implicit asso-
perdidas, cartas seladas dirigidas a diferentes ciation test – IAT). As técnicas projectivas são
agrupamentos políticos. Através do número de um exemplo de medidas indirectas de tipo
cartas dirigidas a cada entidade recebido num cognitivo. Os participantes são convidados a
apartado alugado pelos investigadores para o interpretar material (desenhos, fotografias ou
efeito, foi possível desenhar um mapa das material verbal), sendo para tal necesssário que
atitudes políticas dos residentes dessa cidade. acrescentem informação que não consta do
Esta “técnica da carta perdida” continua a ser mesmo. Nesse processo são influenciados pelas
utilizada como uma metodologia privilegiada na suas atitudes prexistentes sem que disso se aper-
avaliação de atitudes sobre objectos polémicos. cebam. Por esta razão, as técnicas projectivas
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envolvem material ambíguo, não estruturado, ou ou errada, podemos inferir a atitude dos
incompleto, em suma insuficiente para que o sujeitos. Por exemplo, se utilizarmos a seguinte
indivíduo possa apenas com base nele realizar a pergunta: “Qual foi a média no liceu do Prof.
tarefa que lhe é pedida. Um exemplo é o da Cavaco Silva?”, com duas possibilidade de
tarefa de completar palavras. Sabendo que o resposta: 12 e 16. Se a média real deste político
modo como as pessoas completam as palavras tiver sido de 14, ambas as alternativas estão
pode ser activado por determinadas atitudes igualmente erradas. No entanto, ao escolher a
(e.g.,Warrington e Weiskrantz 1968), realiza- primeira, um indivíduo indiciaria uma atitude
ram-se estudos em que uma tarefa de comple- desfavorável em relação a este político, enquanto
tamento de palavras era tomada como indicador que ao escolher a segunda indiciaria uma atitude
de uma medida de auto-estima (e.g., Hetts, favorável.
Sakuma, e Pelham, 1999), preconceito racial A medida de enviesamentos linguísticos tem
(e.g., Dovidio, Kawakami, Johnson, Johnson e como base o modelo psicolinguístico de Semin
Howard, 1997), ou estereótipos em relação a e Fiedler (1988) segundo o qual a informação
grupos etários (e.g. Hense, Penner, e Nelson, codificada ao nível abstracto é relativamente
1995). resistente à desconfirmação e implica elevada
Outro exemplo é o de Haire (1950), que estu- estabilidade ao longo do tempo. Maass, Salvi,
dou a atitude face ao café instantâneo, a partir Arcuri e Semin (1989) mostraram que o nível de
da impressão que os participantes formavam de abstração em que são codificados os compor-
uma suposta dona de casa que o incluía na sua tamentos depende de esses comportamentos
lista de compras, em comparação com uma dona serem positivos ou negativos e também de
de casa que incluía, em vez dele, café em grão. serem desempenhados por membros do endo-
Haire (1950) mostrou então uma de duas listas grupo ou do exogrupo. Assim, os compor-
de compras a várias donas de casa americanas e tamentos socialmente desejáveis do endogrupo
pediu-lhes que formassem uma impressão sobre e os comportamentos socialmente indesejáveis
a pessoa que a tinha elaborado. A única dife- do exogrupo são codificados a um alto nível de
rença entre as listas era que numa aparecia café abstracção (são relatados através de adjectivos
em grão e na outra aparecia café instantâneo. que descrevem características disposicionais de
A mulher correspondente ao café instantâneo uma pessoa que são generalizáveis a várias
foi percebida como mais preguiçosa do que a situações como, por exemplo, ser agressivo), o
correspondente ao café em grão, o que indica que os torna assim mais resistentes à desconfir-
indirectamente uma atitude mais negativa face mação. Pelo contrário, os comportamentos
ao café instantâneo. Podemos especular que este socialmente indesejáveis do endogrupo e social-
resultado hoje certamente não seria encontrado, mente desejáveis do exogrupo são codificados a
dado que actualmente a utilização do café um baixo nível de abstracção (através de verbos
instantâneo está vulgarizada, enquanto que na que descrevem acções que se referem a um
época era uma novidade. acontecimento específico como, por exemplo,
Outro exemplo de medidas indirectas, de chamar alguém), o que os torna assim menos
tipo cognitivo, são medidas disfarçadas de resistentes à desconfirmação. Assim, o grau de
atitudes em que, a partir de perguntas que à abstracção da linguagem para descrever com-
partida não são opinativas, mas de resposta certa portamentos positivos e negativos de Negros
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Afro-Americanos tem sido empregue como uma los que aparecem no ecrã carregando numa de
medida implícita de preconceito racial (e.g., von duas teclas (uma do lado direito do teclado e
Hippel et al. 1997). outra do lado esquerdo do teclado), consoante a
As principais medidas que envolvem tempos categoria a que o estímulo pertence (ver
de latência são o priming afectivo e o teste de Caixa 9). De seguida os participantes categori-
associação implícita. zam palavras que têm uma valência claramente
Em relação ao priming afectivo (bona fide negativa ou positiva como agradáveis ou
pipeline), Fazio, Jackson, Dunton e Williams desagradáveis carregando numa de duas teclas.
(1995) procuraram mostrar que a activação de Por exemplo, no estudo original de Greenwald
uma atitude tem implicações nas respostas et al. (1998), foi elaborado um teste para medir
posteriores, e que através destas respostas é as atitudes raciais. Assim, era pedido aos par-
possível inferir as atitudes das pessoas. Neste ticipantes que categorizassem nomes de pessoas
estudo, analisaram as consequências de um que eram típicos de Brancos ou de Negros (e.g.,
priming com fotografias de Negros e Brancos “Latonya” ou “Betsy”), carregando na tecla de
numa tarefa avaliativa. A seguir à apresentação um dos lados se fosse um nome tipicamente
de cada fotografia os participantes deviam Branco e na tecla do outro lado se fosse um
indicar a conotação de um adjectivo avaliativo nome tipicamente Negro. A raça foi então o
(e.g., “agradável” ou “horrível”) tão rapida- conceito-alvo. De seguida os participantes
mente quanto possível. Os resultados mostraram categorizavam palavras cuja valência era
que, quando o priming era realizado com faces claramente positiva ou negativa, sendo estas
de Negros, os participantes (estudantes brancos) denominadas a dimensão do atributo. Na tarefa
demoravam menos tempo a responder a adjecti- seguinte os nomes das pessoas e as palavras
vos negativos e mais tempo a responder a adjec- apareciam aleatoriamente no ecrã e a mesma
tivos positivos. Estes resultados sugerem que a tecla servia para responder sobre a raça do nome
visão de uma face de um Negro activou e a valência da palavra. Esta tarefa era realizada
automaticamente a negatividade naqueles parti- duas vezes: numa delas a mesma tecla servia
cipantes, facilitando assim as respostas con- para responder a branco/desagradável e a outra
gruentes com essa negatividade, ou seja, a res- tecla a negro/agradável; na segunda vez a mesma
posta aos adjectivos negativos. tecla servia para responder a branco/agradável e
O teste de associação implícita foi desenvol- a outra tecla a negro/desagradável. Uns parti-
vido por Greenwald, McGhee e Schwartz cipantes respondiam primeiro a uma combina-
(1998). Este teste avalia se dois conceitos-alvo ção, outros a outra. Os resultados mostraram
(por exemplo, dois grupos étnicos) se associam que os participantes respondiam mais depressa
diferentemente com avaliações positivas versus quando a mesma tecla servia para responder a
negativas, podendo assim revelar se um dos branco/agradável e negro/desagradável do que
grupos suscita mais avaliações positivas do que quando a mesma tecla servia para responder a
o outro. O teste baseia-se na ideia de que quanto branco/desagradável e negro/agradável. Isto
mais fortemente um conceito se associar a uma significa que, em média, ser branco está mais
avaliação, menos tempo as pessoas demorarão associado a aspectos positivos, enquanto que ser
a realizar a tarefa. A tarefa é a seguinte: os negro está mais associado a aspectos negativos.
participantes começam por categorizar estímu- Para além de muito utilizado para medir atitudes
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CAIXA 9
em relação a diferentes grupos étnicos (Lima, questões teóricas essenciais como: a natureza
2002; Lima, Machado, Avila, Lima, e Vala, 2006) dos constructos subjacentes que as medidas
e aos homossexuais (Pereira, 2009), este teste implícitas medem (Fazio e Olson, 2003); as con-
pode ser utilizado, entre outros, para medir auto- dições em que as medidas implícitas de uma
-estima e autoconceito (Greenwald e Farnham, atitude estarão mais associadas às medidas explí-
2000). citas ou directas dessa mesma atitude (Hofmann,
Para concluir, a investigação sobre medidas Gawronski, Gschwender, Le, e Schmitt, 2005;
indirectas de atitudes tem sido, segundo Fazio e Karpinski, Steinman e Hilton, 2005; Nosek,
Olson (2003), quase exclusivamente guiada por 2005 para trabalhos recentes), o tipo de com-
questões empíricas deixando por responder portamento que cada tipo de medida predirá
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(De Hower, Custers, e De Clercq, 2006; Spruyt, a atitude o resultado das associações entre o
Hermans, De Hower, Vandekerckhove, e Eelen, objecto de atitude e avaliações ou proposições
2007); e a sensibilidade das medidas implícitas ao diversas, como propõe, com base numa
contexto (Gawronski, Deutsch, e Seidel, 2005). concepção reticular da memória, Fazio (1986,
1989) –, ou o resultado da soma das
expectativas associadas ao objecto de atitude
3. A estrutura das atitudes pesadas pelos seus valores – como propõem os
diversos modelos de expectativa-valor dos
Nas duas primeiras partes deste capítulo ilu- quais, no domínio das atitudes, o mais conhe-
dimos algumas das grandes controvérsias no cido é o de Fishbein (1967). Apesar de muito
domínio das atitudes, como forma de simplifi- diferentes noutros aspectos, qualquer destas
car a introdução ao tema. Vamos agora abordá- duas visões não dimensionais das atitudes
-las brevemente. concordam que as representações internas não
O primeiro grande debate prende-se com a podem ser resumidas a uma única escala
dimensionalidade das atitudes, isto é, com a forma interior. Aliás, muitos autores salientam o facto
como os diferentes teóricos das atitudes respon- de as crenças dos indivíduos favoráveis a um
dem à seguinte questão: a representação mental determinado objecto de atitude não serem o
da atitude reproduz o contínuum de favorabili- inverso das dos indivíduos com atitudes
dade/desfavorabilidade por que ela se expressa? contrárias (e.g., van der Pligt e Eiser, 1984). Por
O apoio empírico para as visões dimensionais exemplo, num estudo sobre as atitudes face à
das atitudes vem do facto de o tempo de proces- construção de uma incineradora, Lima (1997)
samento de afirmações radicais ser inferior ao mostrou que os indivíduos, que eram favoráveis
tempo de processamento de afirmações mais ao empreendimento, consideravam como mais
neutras (Judd e Kullik, 1980) e dos estudos que prováveis e mais importantes consequências
sustentam a teoria da avaliação social proposta como o aumento do emprego na zona ou a
pelo casal Sherif e colaboradores (1965). Esta melhoria dos acessos rodoviários ao local,
última perspectiva pressupõe mesmo a existên- enquanto que os que estavam contra valoriza-
cia de uma escala de referência interna, que vam o aumento da poluição e a diminuição da
cada pessoa divide em três zonas consoante a qualidade de vida dos residentes.
sua própria posição: zona de aceitação, que A segunda grande questão no domínio das
inclui as crenças que o indivíduo considera atitudes prende-se com a consistência entre a
aceitáveis; zona de rejeição que inclui as que atitude e as suas três formas de expressão, isto é,
são inaceitáveis; e zona de não comprome- debate-se até que ponto há uma correspondência
timento onde se encontram as crenças que são entre a atitude do indivíduo e as suas diversas
consideradas nem aceitáveis nem inaceitáveis. formas de expressão (afectiva, cognitiva e
As visões não dimensionais das atitudes não comportamental). Algumas escalas de atitudes
assumem esta representação interna das operacionalizam estas três dimensões (e.g.,
atitudes, mas consideram que as expressões das Loureiro e Lima, 2009) e mostram correlações
atitudes num continuum são, ou o resultado da elevadas entre elas. Muita pesquisa sobre a
recuperação em memória das associações consistência entre a atitude e as crenças, bem
relativas aos objectos de atitudes – sendo então documentada nos trabalhos baseados nos
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modelos de expectativa-valor que referimos uma atitude, estamos em má posição para predi-
acima, salienta também esta relação. No entanto, zer o quando e como da sua medição.” (p. 170).
os trabalhos sobre ambivalência atitudinal (e.g., Katz e outros autores definiram um grande
Thompson, Zana e Griffin, 1995) salientam que número de funções específicas que as atitudes
esta consistência pode ser um artifício da forma podem cumprir, que outros investigadores mais
de avaliação das atitudes e têm sido desenvol- recentes (Herek, 1986) sistematizaram em duas
vidas técnicas de avaliar o grau de ambivalência grandes categorias: funções instrumentais ou
interdimensões (Batista e Lima, 2010). avaliativas e funções simbólicas ou expressivas.
As primeiras prendem-se com uma avaliação de
custos e benefícios da atitude, optando o indiví-
4. As funções das atitudes duo pela atitude que lhe permita obter o melhor
ajustamento social, maximizando as recompen-
Sendo um produto cognitivo tão comum, sas sociais e minimizando as punições. Por
podemos perguntarmo-nos, de um ponto de
exemplo, podemos manifestar atitudes ambien-
vista pragmático, para que servem as atitudes.
talistas ao conversar com uma pessoa que quere-
A resposta para esta pergunta tem sido encon-
mos impressionar favoravelmente, e que sabe-
trada por quatro vias: as teorias que salientam as
mos fazer parte da Liga de Protecção da
funções motivacionais das atitudes, as teorias
Natureza. As funções expressivas têm que ver
que salientam as funções sociais das atitudes, as
com a utilização das atitudes enquanto forma de
teorias que salientam as funções cognitivas das
atitudes, e as teorias que salientam o papel de transmitir os valores ou a identidade do sujeito,
orientação para a acção. permitindo-lhe proteger-se contra conflitos inter-
nos ou externos, e preservar a sua auto-imagem.
Assim, uma atitude moral muito conservadora
4.1. Funções motivacionais das atitudes: poderá cumprir a função de disfarçar a dificul-
Atitudes e necessidades dade de relacionamento social, mantendo alta a
auto-estima. Esta perspectiva não se tem mani-
O primeiro tipo de abordagens teve origem festado muito heurística, porque funciona
em autores de formação psicanalítica como apenas como descritora de resultados individuais,
Katz (1960), e foi depois continuado por outros mas não permite a predição de respostas a um
autores (e.g. McGuire, 1969) que salientaram a nível mais geral, embora Herek prometa desen-
importância de estudar as atitudes no contexto volver técnicas para medir as funções das
das funções que têm para o indivíduo. Nas atitudes.
palavras de Katz (1960), a sua perspectiva, que
designa como funcionalista, “representa a tenta-
tiva de compreender as razões que levam as 4.2. Funções Sociais das atitudes:
pessoas a manter as suas atitudes. As razões, no Atitudes em relação a grupos sociais
entanto, estão ao nível das motivações psicoló-
gicas e não ao nível do acaso de acontecimentos Numerosos estudos da psicologia social
e circunstâncias exteriores. A menos que conhe- mostraram já a influência da posição dos outros
çamos as necessidades psicológicas que sustentam na formação de opiniões acerca de estímulos,
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também o nível de generalidade do comporta- específica seria apenas um dos dois factores
mento, estendendo as observações a diversos importantes na decisão (ver Figura 1; Caixa 12).
comportamentos associados à atitude. Por exem- Esta atitude face ao comportamento é vista
plo, Weigel e Newman (1976) mostram que as neste modelo, de acordo com as perspectivas de
atitudes ambientais correlacionam de forma expectativa-valor que referimos atrás, ou seja,
mais significativa com um índice de compor- como o resultado do somatório das crenças
tamentos pró-ambientais do que com o de com- acerca das consequências do comportamento
portamentos específicos (como o de reciclagem, (expectativa) pesadas pela avaliação dessas
ou o de assinar uma petição a favor de causas consequências (valor). O outro factor impor-
ambientais). Estes estudos vêm mostrar que não tante na definição da intenção comportamental
são apenas as atitudes específicas face a tenta integrar as pressões sociais e refere-se à
comportamentos que permitem a previsão das norma subjectiva face ao comportamento, isto é,
acções, mas que as atitudes gerais face a objectos às pressões percebidas por parte de outros signi-
se relacionam sistematicamente com os índices ficantes que afectam a realização do comporta-
comportamentais. mento. Também esta norma subjectiva é vista
Uma outra via de resposta às diferenças entre como o resultado do somatório das crenças
o nível de especificidade entre atitudes e com- normativas (expectativas acerca do comporta-
portamentos tem sido procurada noutras mento que os outros significantes pretendem
perspectivas. Fishbein e Ajzen (1975) afirmam que o indivíduo adopte), pesado também pelo
que as atitudes são importantes factores na valor destas crenças (a motivação para seguir
previsão do comportamento humano, mas dis- cada um dos referentes). Os trabalhos que ope-
tinguem entre as atitudes gerais face a um objecto racionalizaram este modelo (ver Eagly e Chaiken,
(atitudes em relação aos chineses, atitude 1993, para uma revisão), encontram correlações
religiosa) e as atitudes específicas face a um bastante elevadas entre a intenção e o comporta-
comportamento relacionado com o objecto de mento (entre .75 e .96), variando, no entanto,
atitude (atitude em relação a servir um casal de com a proximidade temporal do comporta-
chineses de classe média num restaurante mento, da especificidade da situação apre-
acompanhados por um branco; atitude em rela- sentada, e da experiência anterior do sujeito
ção a ir à missa no próximo domingo): enquanto na situação. As atitudes gerais do sujeito, tal
que estas últimas seriam úteis na previsão de um como outras variáveis de nível mais global,
comportamento específico, as primeiras só o como o seu estatuto socioeconómico, por
influenciariam de uma forma indirecta, como exemplo, aparecem no modelo como preditores
uma tendência para a acção, tal como é expresso relativamente fracos do comportamento especí-
na definição de Eagly e Chaiken (1993). Na fico, relativamente à norma subjectiva e à
teoria da acção reflectida, Fishbein e Ajzen atitude específica. Deste modo, a teoria da
(1975) consideram que todo o comportamento é acção reflectida vê a atitude específica como
uma escolha, uma opção ponderada entre várias um dos preditores do comportamento, podendo,
alternativas, pelo que, o melhor preditor do em certos tipos de comportamentos ou em
comportamento será a intenção comportamen- certas populações a norma subjectiva ter mais
tal, como, por exemplo, Pires (2007) mostrou para peso na determinação da intenção comporta-
o caso da predição do exercício físico. A atitude mental (por exemplo, Kashima et al., 1993,
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232
FIGURA 1
233
CAIXA 12
1. Definir o comportamento, isto é, o conjunto de acções específicas que podem ser directamente
observadas.
Atenção:
1. Não confundir o comportamento com as suas consequências (por exemplo, passar num exame é
uma consequência de um comportamento tal como estudar, copiar, etc.);
2. Não confundir o comportamento com categorias de comportamento (por exemplo, bater numa
criança é um comportamento, a agressão ou a violência são categorias de comportamentos).
Operacionalização:
Para a operacionalização do comportamento, tentar esclarecer as suas componentes:
a acção envolvida e o seu objectivo, isto é, o que o indivíduo vai fazer (por exemplo, votar a favor da
legalização da eutanásia);
o contexto em que se insere a acção (por exemplo, na secção de voto respectiva);
o tempo, isto é, quando se vai desenvolver a acção (por exemplo, no próximo referendo).
Exemplo: Votar a favor da legalização da eutanásia no próximo referendo.
2. Definir a intenção comportamental, isto é, as disposições que o indivíduo tem face à realização do
comportamento específico.
Atenção:
1. Manter o mesmo nível de especificidade do comportamento na operacionalização da intenção
comportamental.
Operacionalização:
Exemplo: Pensa vir a votar a favor da legalização da eutanásia no próximo referendo?
(não é nada provável 1 2 3 4 5 6 é muito provável).
234
Operacionalização:
Para a definição das expectativas do comportamento (ou força das crenças) e da avaliação das
consequências do comportamento, deverá fazer-se um levantamento às crenças associadas ao
comportamento (por exemplo, “votar a favor da eutanásia no próximo referendo permitirá que as
pessoas tenham uma morte menos dolorosa”). Para a avaliação das expectativas do comportamento,
construir uma escala que meça a importância de cada crença para o sujeito (escalas bipolares
de 6 pontos: “estou absolutamente certo/não tenho qualquer confiança nesta afirmação”) com base
nas expectativas mais frequentes. Para a avaliação das consequências do comportamento, construir
uma escala com os mesmos itens de modo a obter o valor da crença, em escalas bipolares de 6
pontos (por exemplo: “permitir que as pessoas tenham uma morte menos dolorosa é muito
positivo/muito negativo”). A atitude deverá ser:
n
Ao = Σ (ciai)
i =1
4. Definir a norma subjectiva face ao comportamento, isto é, a percepção que o indivíduo tem acerca
da forma como os outros pretendem que ele aja naquela situação.
Atenção:
1. Manter o mesmo nível de especificidade do comportamento na operacionalização da norma
subjectiva face ao comportamento;
2. Referir os diferentes grupos ou indivíduos relevantes para os sujeitos, de acordo com o
comportamento que se pretende prever: amigos, colegas, pais, o cônjuge, o grupo com quem se
vai ao futebol, os outros membros do partido político, etc.
Operacionalização:
Pedir ao sujeito que preveja a posição dos outros face ao seu comportamento, numa escala de 6 pontos.
Exemplo: A maioria das pessoas que conheço pensa que
Eu devo 6 5 4 3 2 1 não devo votar a favor da legalização da eutanásia no próximo referendo.
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Para a definição das crenças normativas, começar por fazer o levantamento dos indivíduos ou grupos
importantes, para que aquela decisão comportamental, e seleccionar os grupos ou indivíduos mais
frequentemente referidos. Para a avaliação da motivação para seguir os grupos de referência, pedir
aos sujeitos que definam, numa escala bipolar de 6 pontos, a importância que atribuem a se
conformarem com a posição de cada um dos indivíduos ou grupos mais referidos na amostra.
A norma subjectiva deverá ser:
n
Nc = Σ (cnimi)
i=1
em que N 0 é a norma subjectiva face ao comportamento c.
cni é a crença normativa i acerca de c
(probabilidade subjectiva de a pessoa i aceitar o comportamento c)
m i é a motivação para seguir a pessoa i
n é o número de entidades de referência.
fumar no futuro). Face a estas críticas, os autores ponderada, directamente sobre o comportamento
costumam salientar que a teoria se aplica a (e.g. Hutching, Lac, e LaBrie, 2008). Esta exten-
situações de tomada de decisão (daí o seu nome são da teoria inicial tem permitido aumentar
de comportamento reflectido) e não a compor- significativamente a capacidade preditiva do
tamentos habituais, onde a componente de modelo em muitas situações (por exemplo, veja-se
decisão é muito menor. Numa tentativa de alar- na Caixa 13 o trabalho de Vinagre, 1995), mas
gar a teoria a comportamentos que estavam fora parece ainda insuficiente a alguns autores. Terry
do controlo volitivo dos sujeitos, Ajzen (1988) e Hogg (1996), por exemplo, criticam a forma
reformula o modelo. Mantendo a sua estrutura limitada como a norma subjectiva é conceptua-
básica, acrescentou como determinante da lizada. A partir da teoria da autocategorização,
intenção comportamental uma nova variável – o mostram que a norma subjectiva não deve ser
controlo percebido sobre o comportamento concebida apenas em termos interpessoais, mas
(Figura 2). Esta variável, que corresponde à que a sua reconceptualização em termos grupais
dificuldade percebida na realização do compor- e de influência social permite uma melhor
tamento, corresponde em grande parte ao con- compreensão do comportamento. Por outro lado,
ceito de auto-eficácia (Bandura, 1977, 1982), e Manstead (1996) salienta que a introdução de
permite incluir, indirectamente, a experiência variáveis emocionais na predição da intenção
anterior com o comportamento. Assim, compor- comportamental (nomeadamente a experiências
tamentos habituais são percebidos como fáceis emocionais esperadas) aumenta o poder pre-
de pôr em prática e portanto com elevados ditivo do modelo. Armitage e Conner (2001)
níveis de controlo percebido. Esta percepção de numa metanálise da eficácia da teoria do com-
controlo sobre o comportamento parece, então, portamento planeado mostraram que o controlo do
ter consequências motivacionais ao nível da inten- comportamento e a intenção explicavam em con-
ção (e.g. De Cannière, De Pelsmacker, e Geuens, junto 27% da variância no comportamento, o que
2009), mas também de uma forma menos é consistente com a estimativa de Ajzen (1991)
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FIGURA 2
de que a teoria explicaria cerca de 25-30%. Isto tentativas no sentido de expandir o modelo
significa que aproximadamente 70-75% da acrescentando-lhe conceitos que expliquem uma
variância no comportamento continua a não ser parte significativa da intenção e /ou do comporta-
explicada pela teoria. Têm sido feitas algumas mento, como, por exemplo, as normas morais no
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CAIXA 13
Aplicação da teoria da acção planeada à prevenção dos acidentes domésticos nas crianças (Vinagre,
1994)
Os acidentes constituem, ainda actualmente em Portugal, uma das maiores ameaças à vida e à
saúde das crianças e dos jovens. Enquanto os acidentes de viação são mais frequentes nas crianças em
idade escolar e na adolescência, os acidentes domésticos predominam nos primeiros anos de vida,
sendo uma das principais causas de mortalidade e morbilidade, sobretudo no grupo etário do 1 aos 4
anos. As intervenções educacionais junto dos pais no sentido da prevenção não têm revelado a eficácia
desejada, e a incidência mantém-se elevada, como é particularmente o caso das intoxicações infantis.
Como são os pais que controlam o espaço doméstico e definem as regras de segurança em casa, a
prevenção dos acidentes domésticos na criança depende sobretudo da importância que eles atribuem
a esta questão. Abordando o comportamento preventivo dos pais numa perspectiva cognitivista,
pretendeu a autora neste estudo compreender os factores sociocognitivos que mediatizam os compor-
tamentos de segurança das mães relativos à intoxicação doméstica nos seus filhos. O enquadramento
teórico do seu trabalho inclui as variáveis preditoras da intenção comportamental incluídas na da Teoria
da Acção Reflectida (Fishbein e Ajzen, 1975) e da Teoria do Comportamento Planeado (Ajzen e
Madden, 1986): atitude face ao comportamento, norma subjectiva e controlo comportamental perce-
bido. Participaram neste estudo 186 mães de crianças dos 9 aos 15 meses de idade.
O questionário utilizado no estudo foi construído com base nos conceitos teóricos dos modelos de
partida. O conteúdo dos itens foi influenciado por pesquisas efectuadas neste âmbito, e por entrevistas
exploratórias efectuadas a mães com condições semelhantes às da amostra. Para além de informações
relativas à caracterização sociodemográfica dos pais, da criança e das condições habitacionais, o
questionário incluiu:
• a variável dependente (intenção comportamental) que foi avaliada pela questão – “Penso colocar
os produtos de uso doméstico em armários altos e com fechos de segurança”, com uma escala de
resposta de 7 pontos, desde “nada provável” a “muitíssimo provável”;
• as variáveis que dizem respeito à Teoria da Acção Reflectida – crenças comportamentais
(benefícios para a mãe como por exemplo “menor preocupação quando o filho está sozinho”;
benefícios para a criança, por exemplo, “maior liberdade para brincar”; custos percebidos para a
mãe, como, por exemplo, “faz perder tempo”, “complica as tarefas domésticas”), a avaliação das
crenças comportamentais, a atitude, as crenças normativas (referentes considerados foram o pai
do filho, a sua própria mãe, a melhor amiga, o médico e a educadora da criança), a motivação para
seguir os referentes, a norma subjectiva;
• a variável suplementar incluída na Teoria do Comportamento planeado: o controlo comporta-
mental percebido (por exemplo: “colocar os produtos de uso doméstico em armários altos e com
fechos de segurança é fácil”).
Os resultados que se apresentam no quadro seguinte mostram que o controlo comportamental per-
cebido aumenta significativamente a variância explicada relativamente ao modelo da Acção Reflectida.
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caso dos comportamentos ecológicos (Kaiser, aspectos congruentes com a atitude, uma defi-
2006) ou a motivação intrinseca para a rea- nição da situação de forma a tornar altamente
lização de actividade desportiva (Chatzisarantis, provável a ocorrência do comportamento
Hagger, Smith e Sage, 2006). (Fazio, 1990). Consideremos um exemplo de
Todos os modelos que referimos acima pres- como, de acordo com o modelo MODE
supõem algum grau de controlo do pensamento (Motivation and Oportunity as DEterminants,
atitudinal. No entanto, desde os anos oitenta que ver Figura 3) proposto por Fazio (1990), as
os trabalhos de Fazio têm vindo a mostrar que as atitudes influenciam os comportamentos: supo-
atitudes muito acessíveis orientam o comporta- nhamos que vemos na televisão uma notícia
mento através da activação de processos auto- acerca do início da construção de uma incine-
máticos. Os seus trabalhos começaram por radora na zona onde vivemos. Esta notícia
mostrar a importância da forma como a atitude activa a nossa atitude negativa relativamente à
tinha sido formada na predição do compor- incineradora, fazendo-nos lembrar das conse-
tamento. Por exemplo, Fazio e Zana (1981), quências da incineradora para a poluição do ar
num estudo realizado com estudantes univer- e para a saúde pública (crenças congruentes
sitários sobre as condições de instalação nos com a atitude). Deste modo, a construção da
dormitórios, mostraram a que as atitudes que se incineradora é vista como perigosa para o
formam com base na experiência directa (ter próprio (definição do acontecimento), tornando
dormido em dormitórios de beliches) são mais provável a adesão a um comportamento de pro-
preditoras do comportamento (assinar uma testo, por exemplo, a adesão a um baixo-assi-
petição relativa à escassez de alojamentos uni- nado contra a incineradora. A definição do
versitários) do que as que se baseiam em expe- acontecimento pode ainda ser influenciada
riência indirecta. Este resultado foi, primeira- pelas normas dos grupos em que o indivíduo se
mente, explicado pelos autores salientando a insere (por exemplo, se os amigos partilharem
maior confiança e certeza dos sujeitos cujas valores ambientalistas). Ao salientar a impor-
atitudes se baseiam em experiência directa. tância da activação automática das atitudes, o
Contudo, mais tarde, a explicação centrou-se na modelo de Fazio (1990) está bem longe da pers-
acessibilidade das atitudes. De facto, Fazio, pectiva racionalista dos modelos da tradição
Chen, McDonel e Sherman (1982) mostraram dos de Fishbein e Ajzen, e apresenta-se mesmo
que os indivíduos cujas atitudes são baseadas na como alternativo a estes. No entanto, como
experiência directa respondem em escalas de notam Eagly e Chaiken (1993), as duas pers-
atitudes informatizadas com um tempo de latên- pectivas apresentam-se antes como comple-
cia menor, e apresentam uma maior correspon- mentares. Isto porque, apesar de Fazio ter mos-
dência entre atitudes e comportamentos (Fazio e trado convincentemente a activação automática
Williams, 1986). Esta linha de estudos levou, das atitudes e a sua importância na definição da
naturalmente, Fazio e outros autores a mostra- situação, desde esta até ao comportamento
rem que há uma activação automática das podem intervir muitas variáveis, e seria então aí
atitudes altamente acessíveis na presença do que o modelo de Fishbein e Ajzen poderia ser
objecto de atitude (e.g. Fazio, Sanbonmatsu, útil. De qualquer modo, a articulação entre
Powell e Kardes, 1986), o que produz, através estas duas perspectivas será, certamente no futuro,
da centração da atenção, selectivamente nos alvo de trabalho teórico e empírico importante.
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FIGURA 3
240
para o sujeito que era levado a reconsiderar a atitudes. Por exemplo, Pallak, Cook e Sullivan
sua posição inicial. Trata-se assim de uma (1980) utilizaram esta perspectiva num estudo
explicação cognitiva para a mudança de quase-experimental no terreno para incentiva-
atitudes derivada do comportamento contra- rem o comportamento de poupança de energia
atitudinal. eléctrica. Anunciaram nos jornais locais uma
Esta interpretação dos resultados é, no campanha de poupança de energia em 2 locali-
entanto, contestada por Festinger e Carlsmith dades dos Estados Unidos, com características
(1959). Este autor defende que a mudança de sociodemográficas e de consumo de energia
atitudes não se verifica pelo efeito persuasivo semelhantes. Anunciava-se que os agregados
dos argumentos, mas pela necessidade básica de familiares que poupassem mais energia durante
consonância cognitiva. Assim, seria inaceitável o período de um mês teriam o seu nome publi-
para os sujeitos na situação de improvisação cado no jornal local. Numa das localidades, esta
pensar simultaneamente “Eu não concordo com promessa foi cumprida, mas na outra não,
a guerra da Coreia” e “Eu estive a convencer colocando assim as pessoas numa situação de
pessoas a apoiarem a guerra da Coreia”. Uma dissonância (“privei-me de ar condicionado, tive
vez que se trata de dois elementos cognitivos cuidado a desligar todas as luzes” e “não ganhei
incompatíveis, provocariam no sujeito uma sen- nada com isso”), que foi resolvida interio-
sação de desconforto (dissonância cognitiva) rizando a necessidade de poupar energia. Deste
que gera uma motivação para mudar algum dos modo, enquanto que, um mês depois de termi-
dois argumentos, de modo a diminuir a disso- nar a campanha, os níveis de consumo de ener-
nância. Como os comportamentos passados são gia na primeira localidade tinham regressado
impossíveis de mudar, tenderia a verificar-se aos iniciais, na segunda localidade continuavam
uma mudança de atitude para repor a conso- tão baixos como durante o período experimental.
nância. Esta interpretação do comportamento
contra-atitudinal situa-se claramente dentro da
teoria da dissonância cognitiva proposta por Conclusão
Festinger (1957). Para provar a aplicação da
interpretação da teoria da dissonância cognitiva O domínio das atitudes, apesar de ser dos
ao caso do comportamento contra-atitudinal, mais antigos e estudados em Psicologia Social,
Festinger e Carlsmith (1959) realizaram um dos encerra ainda muitos desafios para a inves-
estudos mais famosos de Psicologia Social em tigação nos próximos anos. O acentuar do seu
que constroem uma situação em que o sujeito se cariz avaliativo, na forma como é actualmente
expõe voluntariamente a um comportamento definido o conceito, veio salientar que muita da
contra-atitudinal. Este estudo, descrito em por- pesquisa realizada noutros domínios tão dife-
menor na Caixa 14, mostra que é apenas quando rentes como o das relações intergrupais, das
o indivíduo não tem outra forma de reduzir a relações interpessoais, do comportamento
dissonância que muda de atitudes. Deste modo, organizacional, do self ou da influência social
a teoria da dissonância cognitiva permite deverá ser compatibilizado com a literatura das
prever que não são só as atitudes que orientam atitudes. Esta tarefa não é simples porque temos
os comportamentos, mas que também os com- vindo a assistir a uma especialização grande por
portamentos voluntários levam a mudança de áreas de investigação e não é evidente que quem
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CAIXA 14
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domine uma destas áreas específicas domine representação mental da atitude em relação ao
também as atitudes. No entanto, no caso das continuum de favorabilidade/desfavorabilidade
relações intergrupais, esta ponte está a ser iniciada por que ela se expressa, e a correspondência entre
e poderá revelar-se frutuosa para ambos os domí- a atitude do indivíduo e as suas diversas formas de
nios. Outro aspecto que desafia a investigação expressão (afectiva, cognitiva e comportamen-
neste tema é a questão do carácter automático tal). Expusemos também as várias teorias que
ou controlado do pensamento atitudinal. Se nos salientam as várias funções das atitudes: funções
últimos 10 anos esta área de pesquisa muito motivacionais, funções sociais das atitudes, fun-
apoiada na psicologia cognitiva, tem permitido ções cognitivas das atitudes, e funções de orien-
grandes avanços na compreensão, quer da tação para a acção. Desenvolvemos principal-
relação entre atitudes e comportamentos quer na mente as últimas duas funções. Assim, em relação
mudança de atitudes, há ainda muito trabalho às funções cognitivas das atitudes desenvolve-
para realizar. Esperamos que este capítulo inte- mos o princípio do equilíbrio e o princípio da
resse alguns dos seus leitores a dedicar-se a ele. redução da dissonância. Em relação às funções
de orientação para a acção debruçámo-nos sobre
o modelo de acção reflectida e o modelo de
Resumo acção planeada. Finalmente, mostrámos como
também os comportamentos podem ter impacto
Neste capítulo começámos por apresentar o nas atitudes.
conceito de atitude como um conceito-chave em
Psicologia Social. Seguidamente, expusemos as
Sugestões de leitura
várias formas de medição das atitudes: as medi-
das directas, com os vários tipos de escalas, e as
Banaji, M. R., e Heiphetz (2010). Attitudes. In Fiske,
medidas indirectas: de natureza corporal, de natu- S. T., Gilbert, D. T., e Lindzey, G., Handbook of
reza comportamental e de natureza cognitiva. social psychology (Vol. 1, pp. 353-393). New
Nas medidas indirectas de natureza corporal Jersey: John Wiley and Sons.
abordámos medidas mais clássicas, como a acti- Eagly, A. H., e Chaiken, S. (1993). The psychology
vidade electromiográfica facial e as falsas res- of attitudes. Fort North, Ph: Harcourt Brace
postas psicofisiológicas, e as mais recentes como Jovanovich.
a activação da amígdala. Nas medidas indirectas Fazio, R. H. (1990). Multiple processes by which atti-
de natureza comportamental referimos, entre tudes guide behavior: The MODE model as an
outras, a técnica da carta perdida e sua versão integrative framework. In M. P. Zana (Ed.),
mais recente, a técnica do e-mail perdido. Em Advances in experimental social psychology (Vol.
23, pp. 75-109). San Diego, CA: Academic Press.
relação às medidas indirectas de natureza
Greenwald, A. G., McGhee, D. E., e Schwartz, J. K.
cognitiva, incluímos neste capítulo as técnicas
L. (1998). Measuring individual differences in
projectivas, as medidas disfarçadas de atitudes, implicit cognition: The implicit association test.
os enviesamentos linguísticos, o priming afectivo Journal of Personality and Social Psychology, 74,
e o teste de associação implícita. 1464-1480.
De seguida, abordámos dois grandes debates Hoffmann, W., Gawronski, B., Gschwendner, T., Le, H.,
no âmbito da estrutura das atitudes: a forma como e Schmitt, M. (2005). A meta-analysis on the corre-
os diferentes teóricos das atitudes encaram a lation between the implicit association test and
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243
explicit self-report measures. Personality and Social Sekaquaptewa, D., Espinoza, P., Thompson, M.,
Psychology Bulletin, 31, 1369-1385. Vargas, P., e von Hippel, W. (2003). Stereotypic
Hutching, K., Lac, A., e LaBrie, J. W. (2008). An explanatory bias: Implicit stereotyping as a
application of the Theory of Planned Behavior predictor of discrimination. Journal of Expe-
to sorority alcohol consumption. Addictive rimental Social Psychology, 39, 75-82.
Behaviors, 33, 538-551. Spruyt, A., Hermans, D., De Houwer, J., Van-
Phelps, E. A., Connor, K. J., Cunningham, W. A., dekerckhove, J., e Eelen, P. (2006). On the
Funayama, E. S., Gatenby, J. C., Gore, J. C., e predictive validity of indirect attitude measures:
Bajani, M. R. (2000). Performance on indirect Prediction of consumer choice behaviour on the
measures of race evaluation predicts amygdale basis of affective priming in the picture-picture
activation. Journal of Cognitive Neuroscience, naming task. Journal of Experimental Social
12, 729-738. Psychology, 43, 599-610.
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