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2.2 – Métodos dos indicadores ou rácios


Os indicadores e os rácios constituem a técnica mais utilizada em análise financeira.
Um rácio é uma relação significativa entre dois elementos característicos de uma determinada
situação, actividade, rendimento, etc. Pode ser expresso sob a forma de quociente ou de percentagem.
Um indicador é um conceito mais amplo do que o de rácio porque abrange também outras
relações (não expressas sob a forma de quociente ou percentagem) em que se confrontam elementos
significativos para a empresa como, por exemplo, o fundo de maneio ou a margem sobre os custos
variáveis.

Rácios e indicadores permitem:


 Fazer comparações que seriam impossíveis com valores absolutos;
 Apreciar a evolução do mesmo facto ao longo de vários períodos;
 Relacionar indicadores logicamente interligados;
 Situar a empresa no seu contexto permitindo a comparação com empresas do mesmo sector, com a
mesma dimensão e características

Em qualquer dos casos:


 Os elementos a relacionar devem ser significativos e não conter elementos estranhos ao que se quer
observar;
 Devem ser construídos de modo que quanto maior o valor apurado melhor a situação do facto em
estudo;
 Os critérios a utilizar devem ser uniformes para os vários períodos considerados.

Os rácios e indicadores
 Quantificam factos,
 Apontam indícios,
 Detectam anomalias,

mas não explicam as causas e fornecem pouca informação quando isoladamente considerados. São como
que um diagnostico, que não dispensa a apreciação do analista financeiro. Dois valores idênticos para o
mesmo rácio obtidos em períodos diferentes podem não traduzir a mesma realidade (as componentes
podem ter-se alterado). Um rácio afectado por variações sazonais ou acidentais deve ser utilizado com
reservas.
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Exemplo:
Balanço da Empresa ALFA, Lda., em 31 – 12 – ano N
RUBRICAS DATAS
31.12.ano N 31.12.ano N-1
ATIVO
Ativo não corrente
Ativos fixos tangíveis 1 601 300 649 000
Ativos intangíveis 140 700 205 000
Investimentos financeiros 360 000 217 000
2 102 000 1 071 000
Ativo corrente
Inventários
- matérias primas, subsidiárias e de consumo 51 000 60 500
- produtos acabados e intermédios 101 000 139 900
- produtos e trabalhos em curso 26 000 19 200
178 000 219 600
Clientes 188 000 246 000
Outras contas a receber 9 000 11 000
Caixa e depósitos bancários 9 000 42 400
384 000 519 000
Total do Ativo 2 486 000 1 590 000
CAPITAL PRÓPRIO E PASSIVO
Capital próprio
Capital realizado 800 000 800 000
Reservas legais 90 000 76 000
Outras reservas 109 000 82 000
Resultado líquido do período 183 000 44 000
Total do Capital Próprio 1 182 000 1 002 000
PASSIVO
Passivo não corrente
Financiamentos obtidos 750 000 400 000
750 000 400 000
Passivo corrente
Fornecedores 443 000 167 000
Estado e outros entes púbicos 65 000 18 000
Outras contas a pagar 46 000 3 000
554 000 188 000
Total do Passivo 1 304 000 588 000
Total do Capital Próprio e do Passivo 2 486 000 1 590 000

Demonstração dos resultados por naturezas


Período findo em 31.12.ano N
RENDIMENTOS E GASTOS PERÍODOS
N N-1
Vendas e serviços prestados + 1 600 000 + 1 050 000
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Variação nos inventários da produção + 38 900 + 5 000

Trabalhos para a própria entidade + 61 100


Custo das mercadorias vendidas e das matérias - 820 000 - 560 000
consumidas
Fornecimentos e serviços externos - 60 000 - 40 000
Gastos com o pessoal - 250 000 - 196 000
Provisões - 9 000 - 6 000
Outros rendimentos e ganhos
Rendimentos suplementares + 50 000 + 13 000
Outros + 13 000 + 8 000
Outros gastos e perdas
Impostos indirectos - 150 000 - 98 000
Outros - 11 000 - 5 500
Resultados antes de depreciações, gastos de + 463 000 + 170 500
financiamento e impostos
Gastos de depreciação e de amortização - 130 000 - 62 000
Resultado operacional (antes de gastos de 333 000 108 500
financiamento e impostos)
Juros e rendimentos similares obtidos + 16 980 + 9 350
Juros e gastos similares suportados - 47 000 - 45 000
Resultado antes de impostos + 302 980 + 72 850
Impostos sobre o rendimento do período - 119 980 - 28 850
Resultado líquido do período + 183 000 + 44 000

Dados adicionais:
Exercícios
N N-1
Número de trabalhadores 17 14
Existência de matéria 01.01.N-1 60 000
Custo dos produtos acabados 1 330 000 815 000
Compras de matérias 810 500 560 500
Existência do período 01.01.N-1 134 900
Saldo de clientes em 01.01.N-1 284 000
Saldo de fornecedores em 01.01.N-1 179 000
Dos valores das contas:
Fornecimentos e serviços externos, Gastos com o pessoal, Gastos de depreciação e amortização e
Provisões do período, 60 dizem respeito a Gastos de distribuição e 40% a Gastos administrativos

Demonstração dos resultados por funções


Período findo em 31.12.anoN
RUBRICAS PERÍODOS
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N N-1
Vendas e serviços prestados + 1 600 000 + 1 050 000

Custo das vendas e dos serviços prestados - 820 000 - 560 000
Resultado bruto 780 000 490 000
Outros rendimentos + 163 000 + 26 000
Gastos de distribuição - 269 400 - 182 400
Gastos administrativos - 179 600 - 121 600
Outros gastos - 161 000 - 103 500
Resultado operacional (antes de gastos de + 333 000 + 108 500
financiamento e impostos)
Gastos de financiamento (líquidos) - 30 020 - 35 650
Resultados antes de impostos + 302 980 + 72 850
Imposto sobre o rendimento do período - 119 980 - 28 850
Resultado líquido do período + 183 000 + 44 000

3 – Modelos de demonstrações financeiras fundamentais


3.1 – O Balanço
3.1.1 – A Estrutura do Balanço
O Balanço é uma demonstração financeira, referida a uma determinada data, dos ativos, passivos e
capital próprio da empresa, dispostos de forma vertical e devidamente valorados.
De acordo com o modelo do SNC – Sistema de Normalização Contabilística, a estrutura do Balanço
pode ser visualizada no seguinte quadro:

Estrutura do Balanço
Capital próprio + Passivo
Ativo não corrente

Ativos fixos
tangíveis Capitais próprios

Ativos intangíveis

Investimento Financiamento
Investimentos Capitais alheios a

financeiros médio e longo


prazos
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Ativo corrente

Capitais alheios a curto prazo


Inventários
2 1

Créditos 4 Dívidas de
6
exploração

3
5
Meios financeiros líquidos

A distinção entre ativos correntes e não correntes e passivos correntes e não correntes permite ressaltar
as quantias que devem ser recuperadas ou liquidadas, respectivamente até 12 meses após a data do
balanço e após 12 meses da data do balanço. Esta informação distingue também os ativos líquidos que
estejam continuamente em circulação, como o capital circulante, dos que são usados nas operações de
longo prazo da entidade. Esta classificação realça ainda os ativos que se espera que sejam realizados
dentro do ciclo operacional corrente, bem como os passivos que devam ser liquidados dentro do mesmo
período.
O ciclo operacional de uma entidade é o tempo entre a aquisição de ativos para processamento e a sua
realização em caixa ou seus equivalentes. Quando o ciclo operacional normal da entidade não for
claramente identificável, pressupõe-se que a sua duração seja 12 meses.

3.1.2 – Apresentação gráfica e dinâmica de balanços


A análise dos balanços de dois períodos consecutivos permite conhecer a evolução da empresa até um
determinado estádio, isto é, saber se a empresa melhorou ou piorou em termos financeiros e fazer
correcções para o futuro, caso se verifiquem condições desfavoráveis. Para se efectuar esta análise, as
massas patrimoniais do ano-base e do ano em análise são representadas, em blocos obtidos à escala, em
valores absolutos e em percentagens.
Apresentação gráfica e dinâmica de balanços
Período N Período N-1
Ativo não Capital Ativo não Capital
corrente próprio corrente próprio
84,5% 47,5% 67,3% 63%
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Passivo não
corrente
30,2%

Passivo não
corrente

Ativo 25,2%

Passivo corrente

Ativo corrente 32,7%

corrente 22,3% Passivo


15,5% corrente
11,8%

Conclusões:
1. No período N, a repartição das massas patrimoniais está desequilibrada, pois se a empresa vendesse os
seus inventários, recebesse de terceiros, vendesse os títulos negociáveis com os fundos conseguidos e
disponíveis, não teria capacidade para solver as suas dívidas a curto prazo.
2. No período N-1, a situação era diferente, pois o ativo corrente era suficiente para cobrir as dívidas de
curto prazo, o que revela uma situação saudável.
3. No período N, para solver as suas dívidas de curto prazo, a empresa teria de recorrer à venda de bens
do seu ativo não corrente, o que não é uma política correta.
4. No período N-1, os capitais permanentes, próprios e alheios cobrem a totalidade do ativo não corrente
da empresa, isto é, os capitais de médio e de longo prazos são utilizados para financiar o ativo não
corrente, politica que está correta.
5. No período N a empresa financiou o seu ativo não corrente com meios financeiros de curto prazo, o
que não está correto.
Resumindo: a situação financeira no segundo ano modificou-se por completo. De uma situação ajustada
no período N-1, a empresa apresenta no período N uma situação desequilibrada.

3.1.3 – Fundo de maneio


Os ativos correntes são entendidos como os ativos líquidos continuamente em circulação, como capital
circulante, ativos que se espera sejam realizados dentro do ciclo operacional corrente, bem como os
passivos que devam ser liquidados dentro do mesmo período. Também é necessário ter em conta as datas
de maturidade dos ativos financeiros e dos passivos financeiros.
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Assim, para e a empresa tenha uma situação estável, os ativos correntes devem ser superiores aos
passivos correntes. A diferença entre estas duas rubricas recebe o nome de fundo de maneio ou fundo de
maneio liquido.

Fundo de maneio liquido = Ativo corrente – Passivo corrente

O fundo de maneio é uma margem de segurança constituída por elementos patrimoniais que se
transformam com alguma facilidade em meios financeiros líquidos.

Esquematicamente:

Ativo não corrente Capital próprio + Passivo


Ativo corrente Fundo de maneio liquido
não corrente
Passivo corrente

Noutra perspectiva, se a empresa quer fazer face a riscos decorrentes, por exemplo, da variação do
volume de actividade, terá de dispor de uma margem de segurança, isto é, os seus capitais permanentes
devem ser superiores aos ativos a mais de 1 ano que devem financiar.

Fundo de maneio patrimonial = Capitais permanentes – Ativo não corrente

Sendo os Capitais Permanentes = Capital próprio + Passivo não corrente

Fundo de maneio patrimonial = Ativos a menos de 1 ano – Dividas a menos de 1 ano

O fundo de maneio patrimonial traduz os capitais permanentes disponíveis para financiar ativos a
menos de 1 ano. Quando o fundo de maneio é positivo, a regra do equilíbrio financeiro mínimo é
respeitada.
O fundo de maneio deve ser financiado por capitais permanentes.
O fundo de maneio serve para cobrir ativos correntes que mais dificilmente são transformados em meios
financeiros líquidos. Se o passivo corrente for superior ao ativo corrente, o fundo de maneio será negativo
e a empresa encontra-se desequilibrada financeiramente, tendo dificuldade em satisfazer os seus
compromissos.
Normalmente, quando este indicador assume valores negativos, algo vai mal na tesouraria da empresa.
O fundo de meneio deverá, por isso, ser pelo menos igual a zero. No entanto, um fundo de maneio nulo
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pode também não ser suficiente, dado que o ativo corrente compreende valores que não são
imediatamente convertíveis em dinheiro. Pode ocorrer por
 crescimento da clientela,
 aumento do prazo médio de recebimento de clientes,
 aumento de stocks devido ao abrandamento das vendas, etc.
Assim, é possível uma situação de incapacidade de pagamento das dívidas de curto prazo. Deverá haver
uma margem de segurança, variável consoante o tipo de negócio.
Se o fundo de maneio é excessivo é porque a empresa liberta meios financeiros a um ritmo mais rápido
do que o ritmo dos pagamentos. Poderá haver capitais próprios “parados” ou capitais alheios em excesso
que fazem aumentar os gastos de financiamento.

3.2 – Demonstração dos resultados por naturezas


A Demonstração dos resultados por naturezas explica a formação do resultado líquido do período, em
formato vertical, a partir do rédito gerado pelas vendas e serviços prestados.
Os itens a apresentar deverão basear-se numa classificação que atenda à sua natureza.
A formação do resultado líquido do período é feita de acordo com o esquema que se segue e que
ressalta os diferentes níveis de formação do resultado.

Gastos Resultado antes de depreciações, Resultado operacional Resultado Impostos Resultado


Rendimentos
gastos de financiamento e impostos (antes de gastos de antes de sobre o líquido do
Gastos/reversões de depreciação e
financiamento e impostos rendimento período
de amortização
impostos) do período
Imparidade de investimentos
depreciáveis/amortizações1
Juros e rendimentos
similares obtidos
Juros e gastos
similares suportados

3.2.1 – Margem comercial ou resultado bruto

1
(perdas/reversões)
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Calcula-se fundamentalmente em empresas comerciais.

Margem comercial = Vendas de mercadorias – Custo das mercadorias vendidas

A relação Margem comercial / Vendas de mercadorias mede a margem obtida pela empresa na venda
das suas mercadorias
Quanto mais esta relação se aproxima de 1, maior é a margem do comerciante; pelo contrário, quanto
mais perto de zero, mais fraca é a margem (Ex: grandes superfícies).

Exemplo:
Se Vendas = 1 000 000 300 000 / 1 000 000 = 0,3
CMV = 700 000
Margem = 300 000

Se Vendas = 1 000 000 600 000 / 1 000 000 = 0,6


CMV = 400 000
Margem = 600 000

3.2.2 – Margem industrial


Calcula-se nas empresas industriais e mede a margem obtida pela empresa com a venda dos seus
produtos
Margem industrial = Vendas – Custos de produção

Custo da produção do período = Custo da produção vendida +Variação da


produção em stock + Trabalhos para a própria entidade

3.2.3 – Valor acrescentado


Este indicador mede:
 a riqueza criada pelo conjunto das actividades da empresa,
 a contribuição da empresa para a economia do país, que mais não é do que o somatório do valor
acrescentado das empresas.

O valor acrescentado bruto pode ser conhecido segundo duas oticas:


 otica da produção
 otica da repartição
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Na otica da produção:

produção total – produção alheia = Valor acrescentado

Custo das mercadorias vendidas e das Vendas


matérias consumidas Prestações de serviços
Fornecimentos e serviços externos Variações nos inventários da produção
Outros gastos e perdas – Impostos indiretos Trabalhos para a própria entidade
Subsídios à exploração
Outros rendimentos e ganhos –
- Rendimentos suplementares

Na otica da repartição: o valor acrescentado é o total dos rendimentos que a empresa pode distribuir:

Gastos com o pessoal Outros rendimentos e ganhos


Gastos de depreciação e amortização Juros, dividendos e outros rendimentos
Provisões do período similares
Outros gastos e perdas – Impostos indirectos
Gastos e perdas de financiamento

O valor acrescentado é um importante indicador de gestão quando relacionado com outros valores:
Assim:
Valor acrescentado Mede a aptidão da empresa para criar riqueza a partir da sua actividade
Volume de negócios Em empresas de serviços, esta relação pode ser próxima de 1
Valor acrescentado Mede a aptidão da empresa para criar riqueza a partir dos capitais próprios que
Capitais próprios foram investidos. Em empresas comerciais e de serviços esta relação pode ser
largamente superior a 1
Valor acrescentado Indica, em média, qual a contribuição dada por cada trabalhador para a criação
Nº de trabalhadores da riqueza na empresa. Um valor crescente de ano para ano é um sinal
positivo. Também é um óptimo indicador de comparação entre empresas do
mesmo ramo de actividade, na medida em que compara a produtividade de
trabalhadores de diferentes empresas dedicando-se à mesma actividade.

3.3 – Demonstração dos resultados por funções


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Trata-se de um mapa de evidente utilidade para as empresas que pretendem efectuar uma sã gestão do
seu património. No entanto, este mapa só é possível ser executado nas empresas que possuam instalada
uma contabilidade analítica de exploração.

Para o seu preenchimento é necessário ter em atenção:

 Resultado bruto
resultado da diferença entre vendas e serviços prestados e o custo das vendas e dos serviços
prestados

 Gastos de distribuição
estes gastos englobam , entre outros , o consumo de embalagens, subcontratos, despesas de
representação, publicidade, transportes de mercadorias e produtos, deslocações e estadias, gastos
com o pessoal e as amortização do ativo fixo tangível afeto ao sector administrativo

 Gastos administrativos
entre outros: material de escritório, transporte de pessoal, despesas de representação,
remunerações dos órgãos sociais e amortizações do ativo fixo tangível afeto ao sector
administrativo

 Resultado operacional
é o que se obtém deduzindo ao resultado bruto os gastos de distribuição e administração, outros
gastos e perdas e adicionando os outros rendimentos e ganhos

 Gastos de financiamento (líquidos)


Diferença entre juros, dividendos e outros rendimentos similares e os gastos e perdas de
financiamento

 Resultados antes de impostos


obtêm-se a partir do resultado operacional e dos gastos de financiamento líquidos

 Imposto sobre o rendimento do período

 Resultado líquido do período


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Obtém-se subtraindo aos resultados antes de impostos o imposto sobre o rendimento do período

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