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O Papel do Comércio Informal na Tributação das

Receitas Não-Fiscais nas Autarquias


Moçambicanas.
Autor: Tavares Adelino Colher

Resumo

As condicionalidades geradas pelo mercado nacional e internacional têm despertado a sociedade e próprias
Autarquias moçambicanas nos dias actuais, movida por proliferação de actividade comercial nas cidades e vilas,
obrigando ente público defina mecanismos de administração a gestão do espaço e consequente tributação das
receitas fiscais e não-fiscais aos contribuintes que actuam nesta área, facto que tem gerado inúmeras dificuldades
entre os diversos actores (sujeitos-activos e passivos da relação jurídica-tributária). Perante esse imbróglio, definiu-
se como objectivo descrever o papel do comércio informal na tributação das receitas não-fiscais nas Autarquias de
Moçambique e na renda familiar, tendo recorrido a metodologia de pesquisa de abordagem qualitativa
exploratória, com o método de pesquisa documental e bibliográfico. Os resultados, foram: a maioria das pessoas
que exercem actividade porque desconhecem ou poucos sabem das obrigações fiscais e não-fiscais enquanto
praticantes daquela actividade; necessidade de desmistificar nas mentes da sociedade moçambicana que praticam
comércio informal, não significa estar livre das obrigações tributárias-autárquicas e nem de ter direitos garantidos,
mas si têm direito de cumprir com as obrigações tributárias e de exigir o seu direito de contraprestação; face as
dificuldades económicas das famílias, contribui para redução de número expressivo de indivíduos ingressem na
marginalidade; a falta de informação ou desinformação na matéria tributável induz afluência reduzida na maioria
dos indivíduos optem pela fuga ao fisco. Os factores que mais influenciam na escolha da actividade do comércio
informal são: praticada por pessoas do sexo masculino e feminino (habito e costume), família com baixa
renda para manter o sustento; desemprego para complementar a renda. A pesquisa tem o intuito de
contribuir para o melhoramento do exercício da actividade do comércio informal as cidades e vilas tendo em vista o
papel do comércio, pois este artigo mostrou resultados claros sobre a sua informalidade.

Palavras-chave: Comércio Informal. Taxa. Imposto. Contribuições do Comércio Informal.

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Abstract
The conditionality generated by the national and international market have awakened society and Mozambican
Municipalities themselves today, driven by the proliferation of commercial activity in cities and towns, forcing the
public to define administrative mechanisms for space management and the consequent taxation of tax and non-tax
revenues. Tax to taxpayers acting in this area, a fact that has generated numerous difficulties between the various
actors (subject-active and passive in the legal-tax relationship). In view of this imbroglio, the objective was to
describe the role of informal trade in the taxation of non-tax revenues in the Municipalities of Mozambique and in
family income, having used the exploratory qualitative research methodology, with the method of documental and
bibliographic research. . The results were: the majority of people who carry out an activity because they are
unaware or few know of the tax and non-fiscal obligations while practicing that activity; the need to demystify in
the minds of Mozambican society that practice informal commerce does not mean being free from tax-municipal
obligations or having guaranteed rights, but rather have the right to comply with tax obligations and demand their
right of consideration; given the economic difficulties of families, it contributes to reducing the significant number
of individuals entering marginality; the lack of information or misinformation in the taxable matter induces reduced
affluence in the majority of individuals opting for tax evasion. The factors that most influence the choice of informal
trade activity are: practiced by male and female people (habit and custom), low-income families to maintain their
livelihood; unemployment to supplement income. The research aims to contribute to the improvement of the
exercise of informal commerce activity in cities and towns with a view to the role of commerce, as this article
showed clear results about its informality.

Keywords: Informal Commerce. Rate. Tax. Informal Commerce Contributions.

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1 Introdução
De acordo com os últimos dados do Censo Populacional realizado em 2017, de que em Moçambique,
há evidências de que uma grande percentagem da População Economicamente Activa (PEA) esteja a
desenvolver actividades no sector informal. E aliada a proliferação do comércio informal nas cidades e
vilas do país, o mercado da actividade comercial informal está crescendo no quase em todas
autarquias em Moçambique. Em meio às dificuldades da pandemia e às crises que tem assolado o
mercado nacional e internacional, existe sempre uma “oportunidade” de se contribuir com um
papel relevante na atribuição das receitas e na renda familiar.

“Está provado que nas cidades dos países em desenvolvimento, com manifestas dificuldades do Estado
e do sector dito formal darem respostas às necessidades básicas da população, o sector informal supre
essas faltas, quer nas áreas da produção, da distribuição, da construção, dos serviços sociais e,
sobretudo, do emprego gerador de oportunidades salariais de uma grande parte da população”, Amaral
(2005, p.58).

O mesmo autor, enfatiza também que o sector informal está presente até em cidades dos países mais
desenvolvidos, como por exemplo Nova Iorque, Londres, Paris, Berlim e Roma. O argumento para o
crescimento deste sector que se tem registado desde a década 90 centra-se em grande parte, na fraca
capacidade do sector formal em gerar empregos e rendimentos em muitos países, em face das altas
taxas de crescimento da força de trabalho e migração (Sethuraman, 1997).

A temática do comércio informal tem ganhado cada vez mais espaço no nosso país, devido à falta de
emprego formal, da necessidade de sustento à família com baixa renda, entre outros factores. Esses
factores influenciam, em parte, na escolha ou preferência da actividade comercial não formal.

A pretensão deste estudo, funda-se por ser preponderante que esta actividade tem peso significativo na
tributação das receitas não-fiscais nas autarquias para impulsionar o rápido desenvolvimento e
crescimento das cidades e vilas moçambicanas, devendo combinar e coordenar os mecanismos de
controlo da colecta de receitas. O tema reveste – se de grande valor por que pretende contribuir com
conhecimento científico e alinhamento de estratégias para que haja um equilíbrio entre actividade do
comércio informal e outras actividades económicas que concorrem para satisfação das necessidades dos
munícipes.

E por fim “este artigo teve suas limitações “devido a disponibilidade de poucas obras literárias no país,
tendo recorrido com enfoque a legislação, relatórios de organismo públicos/privado, bem como em
obras estrangeiras, consultadas via online na internet.

Segundo Lopes (2003) sublinha que os comerciantes informais, regra geral, não têm licença para o
exercício da actividade, não pagam impostos nem emitem facturas relativas às transacções efectuadas.
O mesmo autor, citando De Soto (1994) caracteriza o comércio informal como aquele que se realiza à
margem das normas estatais que regulam a actividade comercial, e até mesmo contra elas. Identifica

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dois tipos essenciais de comércio informal: O comércio realizado na rua que se subdivide em comércio
fixo e comércio itinerante (ambulante) e o comércio que se efectua nos mercados.

Portanto, a finalidade deste artigo é mostrar e discutir actividade comercial no ramo informal,
relatando as contribuições que gera para economia e na formação da renda familiar, levando em
consideração que, mesmo na condição informal, o comerciante não perde sua dignidade, pois a
informalidade não está relacionada com à irregularidade.

O presente artigo científico pretende analisar o papel que o sector informal representa na contribuição
das receitas não fiscais nas autarquias em Moçambique e também chamar atenção para o peso que esta
actividade representa no sustento dos agregados familiares envolvidos, como uma actividade
importante para a sobrevivência dos indivíduos e das suas famílias. Tendo em atenção a complexidade
deste sector, o estudo irá procurar trazer interpretações do comércio informal em Moçambique.

De Vletter (1996) fez um estudo sobre trabalhadores do sector informal em Maputo e Beira, e constatou
que em termos de idade dos inquiridos estão envolvidos em actividades informais jovens, tendo na sua
maioria menos de 35 anos. Quanto ao nível académico, constatou que 70% destes jovens atingiram pelo
menos a 4ª classe.

Apesar do estudos retro-citados, fornecerem informação relevante sobre o sector informal em


Moçambique, é importante desenvolver um estudo sobre o papel do comércio informal na tributação
das receita não-fiscais nas autarquias em Moçambique que permitirá conhecer as características dos
actores envolvidos no contributo que esta actividade pode dar na economia local.

O problema acima exposto relaciona-se com as seguintes questões pesquisa:

 Que características possuem os indivíduos ou a força de trabalho que desenvolve o comércio


informal em Moçambique?

 De que forma o comércio informal contribui para as autarquias sustento/melhoria de condições


de vida do seu agregado familiar?

Com este artigo pretende – se dar um contributo para compreender a dinâmica da actividade do
comércio informal, visando a valorização da sua participação no desenvolvimento socioeconómico das
Autarquias em Moçambique.

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2 Marco teórico

2. 1 Contexto socioeconómico

Moçambique é um Estado com uma superfície total de 799.380 quilómetros quadrados. As suas
delimitações fronteiriças compreendem a Tanzânia (norte), Malawi, Zâmbia, Zimbabué (oeste) e
Suazilândia e África do Sul (sudoeste). O país é banhado pelo Oceano Índico a leste numa linha de costa
de cerca de 2.515 quilómetros. Está dividido em 11 províncias administrativas, que estão agrupadas em
três regiões: Norte, Centro e Sul. A Região Norte inclui as províncias do Niassa, Cabo Delgado e Nampula;
a Região Centro inclui as províncias da Zambézia, Tete, Manica e Sofala; e a Região Sul inclui as
províncias de Gaza, Inhambane, Maputo-Província e Maputo- Cidade, a capital do País (Moçambique,
1998) e possui 53 autarquias/municípios.

2.2 Sector informal

2.2.1 Definição

O sector informal define-se como “um variado leque de actividades orientadas para o mercado e
realizadas com uma lógica de sobrevivência pelas populações que habitam os centros urbanos dos países
em desenvolvimento” (Lopes, 2021).

A OIT (2006) considera ainda que qualquer negócio/empresa não matriculado junto do governo
nacional/local pertence ao sector informal; não se incluem as actividades ilícitas (contrabando, roubo,
tráfico de droga, etc.) e compreende essencialmente, as chamadas actividades de sobrevivência,
abrangendo as pequenas empresas, as microempresas, os trabalhadores independentes e o auto-
emprego.

Outrossim, o trabalho informal é uma opção valiosa para os indivíduos que já não fazem parte do
mercado de trabalho formal, isso porque foram excluídos ou simplesmente porque não são
qualificados para tal mercado, assim como para aqueles que buscam maiores salários e/ou querem
ser donos do seu próprio negócio.

2.3 Comércio

2.3.1 Definição

O crescimento da actividade comercial está directamente relacionados ao surgimento e ao grau de


prosperidade das próprias cidades e vilas, daí ser caracterizada como uma actividade tipicamente urbana
sob gerência dos autarcas, e logo um importante segmento da economia, basicamente no mundo todo
(Portal São Francisco, 2021).

Assim, entende-se comércio como actividade, que movimenta diferentes produtos, com uma finalidade
lucrativa. É toda acção que tem como objectivo principal a compra e revenda de mercadorias. Comércio

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é, portanto, “o conjunto de actividades necessárias para tornar um produto disponível aos
consumidores, em determinado lugar, no tempo solicitado e em quantidades e preços especificados,
(Portal São Francisco, 2021).

O comércio é uma actividade que está relacionada à distribuição de produtos no mercado interno e
externo, ou seja, existem diversos tipos de comércio que movimentam a economia e empregam muitas
pessoas em Moçambique e no mundo.

2.4 Comércio informal

2.4.1 Definição

Para o INE (2005), comércio informal é toda actividade comercial não registada na Repartição de
Finanças. Fazem parte deste grupo unidades não licenciadas, vendedores de rua, de esquina, de
mercado, etc.

Segundo alguns estudiosos como Amaral (2005); Cruz & Silva (2006) e Lopes (2003), definem o comércio
informal como uma actividade que surge para aliviar a pobreza e acalmar os anseios da população pelo
emprego formal. Mosca (2009) nota que os poderes políticos permitem o comércio informal, porque
este termina por reduzir a pobreza, gera auto-emprego e cria rendimentos que camuflam os sintomas
mais chocantes da pobreza e acalmam eventuais manifestações e revoltas.

É definido como trabalho decente que seja produtivo e de qualidade, garantindo ao trabalhador
condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade (OIT, 2006). Desta forma, o trabalho decente,
que promova a dignidade humana dos trabalhadores, deve ser assegurado, a despeito da existência da
economia informal.

O comércio informal, vem se apresentando como actividade importante e de sobrevivência de muitas


famílias moçambicanas, actividade que concorre para melhoria das condições de vida que não possuem
um emprego formal, (Autoria).

Em suma, pode se entender o comércio informal como trabalhado informal e é reconhecido por não
contar com uma legislação específica que garanta o cumprimento de seus direitos mais fundamentais
dentro das autarquias.

2.4.2 Características do comércio informal

 Praticada por pessoas do sexo masculino e feminino, cuja incidência, varia de região para região
e tipo da natureza do objecto de comércio, isto é, em Moçambique;

 Família com baixa renda para manter o sustento do seu agregado;

 Dependência da obtenção de linhas de crédito e financiamento nos microcréditos ou


amigos/familiares para iniciar a actividade comercial;

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 Desemprego para complementar a renda que se reverte como única opção de emprego.

Segundo Hirata e Machado (2007), em alguns espaços de comércio informal, os estabelecimentos são
semelhantes aos comércios formais, principalmente no que se refere à comercialização de mercadorias e
às condições de trabalho.

De acordo com Pinto (2015), citando Antunes (2000), o segmento dos ambulantes, do pequeno comércio
que trabalha por conta própria, é o último refúgio dos demitidos, dos jovens que não conseguem o
primeiro emprego e dos expulsos da zona rural - embora a crise encarregue-se de incluir entre as
categorias referenciadas trabalhadores qualificados, às vezes, até com formação superior.

Em síntese, o sector informal não deve ser visto apenas como um local onde pessoas com baixos níveis
de escolaridade têm espaço, pois as dificuldades impostas aos demais sectores da sociedade também
auxiliaram em um aumento considerável de uma massa desempregada qualificada no país, (idem).

Alguns autores afirmam que a prática da actividade do comércio informal no contexto de Moçambique
representa uma alternativa de trabalho para suprir necessidades básicas, assumindo uma imagem de
trabalho formal para as famílias, que algum momento associa se ao empreendedorismo como citou
Antunes (2000, p.139).

O autor menciona que esta forma de informalidade surge como uma trilha distante da enorme carga
tributária impostas aos empresários do sector formal, sendo assim, muito deles, preferem manter-se
neste segmento (comércio informal), pois os gastos diminuiriam e a lucratividade dos seus afazeres seria
menos afectada devido a pouca exigência nas obrigações fiscais.

2.4.3 Tipo do comércio informal

a) Comércio por grosso: que engloba a actividade de revenda por grosso sem transformação, de bens
novos ou usados, a comerciantes (retalhistas ou grossistas).

b) Comércio a retalho: que compreende a actividade de revenda a retalho, sem transformação de bens
novos ou usados, destinados ao consumidor final, às empresas e outras instituições.

2.4.4 Práticas do Comércio Informal

As razões da informalidade é o facto de que cada pessoa procura o melhor para si, mesmo que isso
signifique o descumprimento das normas tributarias. Segundo alguns indivíduos, empresas e famílias
escolhem o seu melhor nível de envolvimento com as normas e instituições públicas, dependendo de sua
avaliação dos benefícios líquidos associados à informalidade e do esforço e capacidade do Estado para
fazer cumprir as leis, ou seja, eles fazem análises implícitas do custo- benefício de ultrapassar a
importante margem para a formalidade e frequentemente desejam não fazê-lo. (PERRY et al, 2007).

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2.4.5 Necessidades do Comércio Informal

O comércio informal no mundo, incluindo Moçambique costuma ser confundido e percebido de maneira
negativa dentro do contexto urbano. Todavia, pode suprir lacunas existentes, seja em relação à gama
diversificada de produtos a serem oferecidos, seja em razão da oferta de mercadorias ocorrer a preços
mais acessíveis a determinadas camadas da população quer seja no cumprimento de certas obrigações
não-fiscais, conforme a postura camarária de cada cidade ou vila.

Já Mendes & Cavedon, (2013), o comércio informal necessita de bases que sirvam de apoio e que
tenham como objectivo formalizar o comerciante, mas sem limitar tanto o seu negócio. Para tal, os
governos centrais e locais (Estado e Autarquias) aprovem leis flexíveis que assegurem a prática da
actividade informal de acordo com suas necessidades e interesses, mesmo ele trabalhando na
informalidade.

Alguns analistas do país, defendem que muitas pessoas preferem a informalidade por falta de
informação, mas alguns também rejeitam porque se formalizar, apesar de ser opção, limita o ganho e
isso acaba sendo um incentivo à informalidade. Os comerciantes se queixam de facturamento ter de ser
limitado, caso eles resolvam se formalizar, e acabam preferindo ficar trabalhando sem os benefícios
oferecidos pela formalização (Evans, 2015).

O autor acrescenta que a adopção da prática da informalidade é incentivada nas Autarquias no país e
pela fuga ao fisco, isto é, isentam livremente do pagamento de certas taxas e licenças sem
consentimento das autoridades apesar de a lei o obrigar, facto que contribui para o retrocesso no
desenvolvimento das cidades e vilas, devido a ausência de instrumentos reguladores ou a falta de
fiscalização.

2.4.6 Limitações do Comércio Informal

Conquistar a autonomia comercial e não depender de horários fixos e da rigidez patronal é uma das
razões que explicam a migração/aderência ao informal por parte dos cidadãos que olha o comércio
informal como hobbies. Uma das mais graves dificuldades desta actividade é a limitação que o modelo
clandestino impõe ao próprio negócio. “A informalidade impede que o praticante da actividade
desenvolva seus negócios, devido a sua situação com o Estado apesar do mesmo estar sujeito a receitas
não-fiscais, por isso ele perde em competitividade”, explica (CNDL, 2013).

2.4.7 Ganhos do Comércio Informal

Segundo (Evans, 2015) diz que apesar da série de benefícios existentes com a formalidade, há um
contraste entre os dois lados, pois muitos que se formalizaram pensam, agora, em voltar para a
informalidade. Para os comerciantes, na medida em que aumenta o facturamento, vai mudando de
faixas do sistema, para o qual há sempre um limite de facturamento.

De acordo com Britto (2004, p. 8) & Ramos (2007) argumentam que o crescimento da informalidade,
representa um foco de preocupação em relação à perda de arrecadação tributária. Uma corrente de

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estudiosos do mercado de trabalho advoga que esse fenómeno é propiciado pelos elevados encargos de
impostos pela relação formal de trabalho, que faria com que o custo do factor - trabalho dobrasse,
segundo alguns cálculos, em relação ao salário efectivamente recebido pelo trabalhador.

O autor afirma que “a única vantagem da economia informal para o trabalhador é que ele não paga
impostos”, ficando assim com todo seu investimento. Ainda de acordo com o portal Ponto RH (2017),
mesmo trabalhando informalmente, mas com uma boa gestão dos recursos financeiros, um comerciante
informal pode maximizar seus ganhos, visto que não paga nenhuma receita fiscal em detrimento das
não-fiscais quando as autoridades municipais assim o fiscalizarem, podendo investir em aplicações
financeiras mais rentáveis o dinheiro que seria canalizado por exemplo para IRPS, INSS.

2.5 Conceito de tributo

Segundo (Franco, A., 2010, PP.58-60), os tributos são todas as receitas públicas que apresentam as
seguintes características:

a) Serem coactivas ou obrigatórias, isto é, resultarem de uma imposição obrigatória do Estado ou


outras entidades públicas às entidades sujeitas a sua autoridade, e não de um contrato ou outro
comportamento livre destas;

b) Terem como função o financiamento dos encargos públicos pela participação dos cidadãos e
outras entidades ou instituições sujeitos ao poder do Estado na criação de receitas, e não a
punição da prática de actos considerados ilícitos.

De acordo com (ACIS, 2011, p.12) são tributos, para efeitos da Lei tributária, os impostos, as taxas e as
contribuições especiais, assim definidos:

Em suma, há tributação quando decorre o carácter obrigacional e patrimonial com recurso a lei ou em
outro acto de autoridade que culminará essencialmente na cobertura financeira dos encargos públicos
ou autárquicos.

De acordo com a Lei nº 01 e 02/2006, de 22 de Março, os tributos em Moçambique são classificados em:

 Impostos nacionais e autárquicos;


 Taxas, nacionais e autárquicas;
 Contribuições especiais, nacionais e autárquicas; e
 As demais contribuições estabelecidas por lei a favor de entidades públicas, desde que a gestão
das mesmas seja da competência da administração tributária.

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2.5.1 Tributação nas autarquias

2.5.1.1 Receitas

Refere-se ao montante de dinheiro total recolhido pelo Estado, que inclui impostos, contribuições, taxas
e outras fontes de receitas que servem para pagar despesas públicas, bem como o investimento público,
(autoria). É o dinheiro arrecadado pelas pelos sujeitos activos para satisfazer as necessidades dos
munícipes nas cidades e vilas, exigíveis a luz de normativos (Código Tributário autárquico).

O direito à receita tributária e o poder tributário de criar ou conformar os tributos públicos pelas
autarquias locais, concretizam-se nas leis das finanças locais. Os municípios dispõem de poderes
tributários quanto a impostos e outros tributos, cuja receita tenham direito nos termos da lei e
asseguram a sua liquidação e cobrança.

A base tributária das autarquias faz-se através de uma distinção entre as receitas fiscais ou impostos e as
receitas não fiscais ou taxas, licenças, etc. cobradas pela autarquia em contrapartida a um serviço
prestado ou uma concessão ou uma licença atribuída para o exercício de uma actividade económica, Lei
1/ 2008 e o CTA (Decreto 63/2008).

As autarquias não têm o poder de criar impostos mas tão-somente o poder de fixar e aprovar as taxas de
impostos cuja receita tenham direito, não ferindo o principio da legalidade fiscal, uma vez que os limites
das taxas já estão fixadas na lei, podendo as autarquias – dentro dos poderes tributários que lhe são
conferidos de acordo com o principio da autonomia local e financeira – apenas fixar a taxa.

Outrossim, nos termos do regime geral das taxas, as autarquias podem criar taxas, respeitando para
tanto os princípios da equivalência jurídica, da justa repartição dos encargos públicos e da publicidade.
As taxas têm que incidir sobre as utilidades prestadas aos particulares, geradas pela actividade dos
municípios ou que resultam da realização de investimentos municipais.

Quanto aos poderes tributários dos municípios, no que respeita a taxas, a competência tributária, a
capacidade tributária activa e a titularidade da receita cabe aos municípios. A administração municipal
gere e arrecada – lança, liquida e cobra – as taxas municipais, estabelecendo entre o município – sujeito
activo – e os contribuintes – sujeito passivo – as correspondentes relações tributárias, (Teixeira, M.,
2014).

2.5.2 Taxa

Taxa é um tributo autoritário, visa cobrir em geral os encargos públicos. É, porem, possível que se
proceda à equiparação jurídica de certos bens ou serviços às taxas: serão preços ou quase taxas, (Franco,
A. 2010, p.68).

Segundo (ACIS, 2011, p.12), designam taxas, as prestações avaliáveis em dinheiro, exigidas por uma
entidade pública como contrapartida individualizada pela utilização de um bem do domínio público, ou
de um serviço público, ou pela remoção de um limite jurídico à actividade dos particulares.

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De acordo com nº 3 do artigo 3 da Lei nº 01 e 02/2006, de 22 de Março, define as taxas como prestações
avaliáveis em dinheiro, exigidas por uma entidade pública, para a prossecução de fins públicos, sem
contraprestação individualizada, cujo facto tributário assenta em manifestações de capacidade
contributiva, devendo estar previstos na lei.

Os critérios de fixação das taxas assentam no seguinte:

a) Facilitar ou dificultar o acesso aos serviços públicos;


b) Proceder à justa distribuição dos encargos públicos.
c) Prestação concreta de um serviço público; ou
d) Utilização de um bem do domínio público.

2.5.2.1 Caracterização da taxa

A mesma autora apresenta algumas características de taxa:

1. A taxa é bilateral e sinalagmático, isto é, compreende obrigações para ambas as partes,


obrigações unidas por um vínculo de reciprocidade ou de interdependência que leva a
caracterizar as taxas pelo seu carácter sinalagmático;

2. As taxas têm como correspectivo uma actividade do Estado ou de um ente público dirigido ao
respectivo obrigado, determinando para este uma qualquer vantagem ou utilidade;

3. Consiste na utilização de um serviço público de que beneficiará o tributado, na utilização de um


bem público ou semipúblico e, finalmente, na remoção de um limite jurídico ao exercício de
determinadas actividades por parte de particulares.

Do ponto de vista financeiro a distinção entre “taxas e impostos” está no carácter bilateral das primeiras
e no carácter unilateral dos impostos.

2.5.3 Imposto

Os impostos são as prestações obrigatórias, avaliáveis em dinheiro, exigidas por uma entidade pública,
para a prossecução de fins públicos, sem contraprestação individualizada, e cujo facto tributário assenta
em manifestações de capacidade contributiva, devendo estar previstos na lei, (nº 2 do artigo 3 da Lei nº
01 e 02/2006, de 22 de Março).

De acordo com (ACIS, 2011), os impostos são as prestações obrigatórias, avaliáveis em dinheiro, exigidas
por uma entidade pública para a prossecução de fins públicos, sem contraprestação individualizada, e
cujo facto tributário assenta em manifestações de capacidade contributiva.

Já para (Teixeira, M, 2014, p.45), citando SANCHES, Saldanha J.L. – Manual de Direito…, p. 22, o imposto
é uma prestação pecuniária que pode ser singular ou reiterada, que não tem ligação com qualquer
contraprestação retributiva, exigida por uma entidade pública a uma outra entidade (sujeito passivo),
utilizada exclusiva ou principalmente para a cobertura de despesas públicas,

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O investigador, alinha o mesmo diapasão que o conceito de imposto deve agregar quatros traços
primordiais para que figure imposto como receita, segundo disse Franco, A. (2010, pp.72-73):

1. É uma obrigação legal, cujo objecto é uma prestação patrimonial – que sempre pecuniária (pago
em espécie, bens ou serviços);

2. É uma receita definitiva, isto é, não provoca qualquer devolução ao particular, como reembolso
do capital emprestado, nem tem contrapartida além valor, como preço, além de dever geral de
proceder ao lançamento, liquidação e cobrança nos termos da lei;

3. É uma receita com função não sancionatória (“máximo”, punitiva: multa) nem compensatória
(indeminização), diversamente sancionatórias (multa), indemnizatórias, compensatórias ou
compulsivas (juros de mora);

4. É uma receita unilateral (pois não existe qualquer contrapartida especifica atribuída ao
contribuinte, em virtude de uma relação concreta com bens ou serviços públicos; ele terá apenas
a contrapartida genérica do funcionamento dos serviços públicos estaduais.

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3 Considerações finais
A procura de fontes bibliográficas seguras não é tarefa simples e fácil para comunidade académica
moçambicana, principalmente quando se trata de assuntos que mexe com o tecido informal, devido a
escassez de manuais e informações escritas no acervo bibliográfico do país.

O problema da pesquisa, relativo ao papel do contributo do comércio informal na tributação ser similar
em quase todas cidades e vilas de Moçambique. Denota-se limitações por parte das autoridades
competentes na aprovação e actualização de algumas normas que na sua maioria não é do
conhecimento dos actores (praticantes do comércio informal).

Portanto, há necessidade de desmistificar nas mentes da sociedade moçambicana que a actividade


comercial, mesmo que informalizado, não significa estar livre de obrigações fiscais nem de ter direitos
garantidos, pois o comerciante/vendedor está imbuído de obrigações e direitos/benefícios, tais como:
pagar todas taxas ou licenças que esteja adstrito, canalizar descontos salariais legais ao INSS e organizar
seu arquivo junto das autoridades autárquicas.

Já discutido por Diniz & De Jesus (2012) diz que é preciso levar em consideração o facto de que apesar de
representar um incómodo para a sociedade, o comércio informal cumpre um importante papel social, já
que, em face de dificuldades económicas, evita que número expressivo de indivíduos ingresse na
marginalidade para sustentar suas famílias. Também, concluímos que a falta de informação de
tributação das receitas influi na maioria dos individuais optem pela prática da actividade do comércio
informal em detrimento do formal. Os indivíduos desta classe acreditam e possuem medo da tributação
fiscal porque acham que tal actividade origina altos impostos cobrados aos comerciantes formais que
podem vir a prejudicar a rentabilidade do seu negócio, por isso optam pela informalidade. A falta de
claridade em matéria de tributação pode estar a causar ou a contribuir com a redução no pagamento das
receitas não-fiscais nas cidades ou vila autárquicas, consequente nota-se a proliferação quase em todas
autarquias da prática do comércio informal nos últimos anos.

Chegou – se também a conclusão de que o papel do comércio informal vai além da tributação, são
influenciados pelos factores a baixos:

 Limitação ao mercado de emprego, associado a poucas ofertas que muitas das vezes é
influenciado pelas políticas públicas (poucas opções de emprego formal);
 Cultura familiar e regional, devido as características de cada povo (habito e costumes de algumas
comunidades);
 Renda familiar visto que muitas das famílias não possuem outra fonte de rendimento se não o
dinheiro (lucro) proveniente da comercialização dos produtos/bens ou serviços vendidos no
informal; Oportunidade, aliado ao factor de querer empreender num negócio rentável mas de
forma informal;

Esta temática do papel do comércio informal é complexo por que carrega sobre si maior preocupação,
quer aos sujeitos passivos e quer os activos, cujo desejo de ambos de é permitir que ocorra ambiente de
trocas comerciais e crescimento sistemático das cidades e vilas no País.

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4 Referências bibliográfica
1. ACIS. (2011): O Quadro Legal-Para Impostos em Moçambique, Edição II, Dezembro;

2. Amaral, Ilídio (2005). Importância do Sector Informal da Economia Urbana em Países da África
Subsahariana. Vol. XL. Número 79. pp. 53-72. Finisterra. Lisboa. Disponível em: <http:
www.ceg.ul.pt/finisterra/números/2005-79/79_07>. Acesso em: 28 de Julho de 2021;

3. Britto, M. (2004) & Ramos, L. (2007); O funcionamento do mercado de trabalho metropolitano


brasileiro no período 1991-2002: tendências, fatos estilizados e mudanças estruturais. IPEA;

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