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EDUCAÇÃO INFANTIL

MÓDULO: OLHARES CURIOSOS DA CRIANÇA: OBSERVANDO E DESCOBRINDO VÁRIOS MUNDOS

Profª. Beatriz Conci Cassins


Ficha Técnica

© Editora Aprende Brasil Ltda., 2021

Presidência
Lucas Raduy Guimarães

Direção-Geral
Fabio de Oliveira

Gerente Pedagógico
Carlos Henrique Wiens

Assessores Responsáveis
Iara Aparecida Pereira Penkal - Assessoria de Formação Digital
Rodrigo Fornalski Pedro - Assessoria de Informática Educativa

Autoria
Beatriz Conci Cassins

Projeto Gráfico
AnaCarol Design Gráfico
Mateus Gomes Oliveira

Design Instrucional
Fabiane Picheth
Iara Aparecida Pereira Penkal
Rodrigo Fornalski Pedro

Diagramação
AnaCarol Design Gráfico

Revisão
João Lemos

Todos os direitos reservados à Editora Aprende Brasil, Ltda.

Produção
Assessoria de Áreas
Formação Digital e Informática Educativa
Editora Aprende Brasil Ltda.
Av. Cândido Hartmann, 1400
Mercês, Curitiba/PR, 80710-570
Tel.: (41) 3312-3500
www.sistemaaprendebrasil.com.br

Contato
formacaodigital@aprendebrasil.com.br
Sumário

Apresentação........................................................................................... 4

1. Olhares curiosos da criança: observando e descobrindo vários


mundos...................................................................................................... 5

2. A importância da curiosidade no desenvolvimento infantil........ 6

3. A relação entre curiosidade e criatividade e como podemos esti-


mular a criatividade das crianças......................................................... 8

4. Educar para e na curiosidade........................................................... 9

Referências Bibliográficas....................................................................10
Apresentação

Olá, professor! Neste material vamos estudar sobre a curiosidade e


entender como ela está presente na infância. Temos o objetivo de destacar
a importância das ações pedagógicas no desenvolvimento infantil com o
incentivo aos olhares curiosos das crianças a partir das brincadeiras e das
interações, em consonância com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC ).

BNCC EM FOCO: A CRIANÇA COM SEUS JEITOS BRINCANTES


E OLHARES CURIOSOS NO VIVER, INTERAGIR E APRENDER NA
EDUCAÇÃO INFANTIL

PODCAST
Professor, para ouvir este
conteúdo, procure na plataforma
o item Podcast
1. Olhares curiosos da criança: observando e descobrindo vários mundos
Sem a curiosidade que me move, que me inquieta,
que me insere na busca, não aprendo nem ensino.
(Paulo Freire)

As crianças, com seus olhos curiosos, observam tudo ao redor. Elas buscam, atentas, os
detalhes e, muitas vezes, veem o que os adultos não veem. Sensibilidade, atenção e tempo são
componentes que fazem a diferença nas descobertas infantis e na aprendizagem.

É por meio do olhar, do toque e da percepção que as crianças se desenvolvem e apren-


dem sobre si e sobre o mundo em que vivem. E como fazem isso? Primeiro, ficam curiosas para
entender, conhecer e sentir algo; depois, investigam o objeto de conhecimento, seja a própria
mão, quando são bebês, ou uma joaninha ou a roda de um carrinho de brinquedo (para, depois,
experimentar seu funcionamento), quando são maiores.

O encantamento também é um componente que faz a diferença nesse processo, pois ele
torna o bebê e a criança mais atentos e focados para investigar, experimentar, descobrir e aprender.

Para refletir: Na mente das crianças há uma infinidade de perguntas. Desde questões do dia a
dia, como “por que as aranhas fazem teias?”, até questões mais complexas e filosóficas, como
“de onde viemos e para onde vamos depois que morremos?”.1

Todas essas perguntas têm origem na curiosidade infantil, que pode ser manifestada em
diversas situações: por exemplo, quando o bebê explora seus pezinhos e, um minuto depois, tenta
pegar a bola colorida que está perto dele e, na sequência, interrompe tal ação porque escutou
uma música que lhe chamou a atenção.

Sobre essa diversidade de interesses por parte dos pequenos,


trazemos o artigo de Tardos e Szanto (2021), presente no livro Educar
os três primeiros anos, organizado por Judit Falk, com destaque para o
componente “curiosidade”:
A atividade da criança também se organiza em função de sua
capacidade de atenção, de seu interesse e de seu humor
naquele momento. Pode interromper a cada instante sua
atividade livre e espontânea e, de fato, faz isso frequente-
mente. Segura no ar por um momento a cesta de plástico
que tem nas mãos, observa a grama, olha uma mosca que
voa, um pássaro que passa, depois volta à cesta. À primeira
vista, temos a impressão de que segue um encadeamento
fortuito de atos sem ligação entre eles. Na realidade, a crian-
ça segue seu próprio ritmo e sua curiosidade. (TARDOS; SAIBA MAIS
SZANTO, 2021, p. 51, grifo nosso). Neste livro, os autores abordam,
com sensibilidade, a relação en-
tre os adultos e as crianças e a
A intervenção do adulto, com o objetivo de deixar as crianças valorização do desenvolvimento
da autonomia infantil na primeira
seguirem seu próprio ritmo e sua curiosidade, é de extrema importância. infância. Eles salientam também
Seu papel nesse contexto é ser facilitador, mediador, e estar ali, junto, a responsabilidade dos profissio-
nais da Educação nessa tarefa.
1
 Neste estudo, consideramos os bebês e as crianças pequenas. Por isso, trazemos exemplos e situações do universo da Educação Infantil (zero
a 5 anos e 11 meses de idade).

5
incentivando o protagonismo infantil, que, em se tratando dos bebês e das crianças bem peque-
nas, é um protagonismo compartilhado. O adulto está ao lado, intervindo, cuidando e fornecendo
a atenção e os estímulos necessários para que o desenvolvimento integral e harmônico aconteça,
respeitando-se a individualidade de cada sujeito.

Como isso acontece? É realmente importante que os bebês e as crianças sejam curio-
sos? Se sim, por quê? Como agir para facilitar e estimular a criatividade na Educação Infantil?

2. A importância da curiosidade no desenvolvimento infantil


A curiosidade é um impulso para aprender.
(Maria Montessori)

Segundo os estudiosos da neurociência e do desenvolvimento


humano, a curiosidade é uma das qualidades mais importantes para o
ser humano atualmente. Mas por quê? Se você está curioso para saber
a resposta, pode ser que realmente exista dentro de você o desejo de
querer saber sempre mais e ir em busca de novidades e aprendizados.
Isso é muito bom! Dessa forma você se mantém sempre aberto para
aprender.

Em meio a um desafio, quando sente medo ou insegurança,


você percebe como cria limitações? E quando se abre para
diferentes possibilidades, pensando em estratégias com
IMPORTANTE
criatividade e assertividade, buscando resolver a questão, SAIBA MAIS
percebe como fica mais fácil? Se respondeu “sim”, você O documentário O começo da
vida mostra realidades de dife-
vai entender por que a curiosidade é uma qualidade tão rentes países e como acontece
o desenvolvimento infantil em
importante! situações e contextos em que
os bebês e as crianças brincam,
Durante nossa infância, geralmente somos curiosos. Quanto mais exploram e descobrem o mundo
por meio da sensibilidade, da
curiosos, mais aprendemos. Isso porque a curiosidade melhora o proces- curiosidade, da investigação e
so de aprendizagem. Nesse mecanismo, canais neurais se abrem para da experimentação.

novos conceitos, novas experiências e novos saberes. Se a criança quer


saber, ela está aberta para o que vem, ainda que não tenha clareza so-
bre o assunto. Só quer saber, entender! O cérebro compreende e aceita
essa abertura, mantendo-se receptivo para mais conhecimento. Quan-
do, ao contrário, há acomodação ou não existe o desejo por conhecer
o novo, por experimentar e aprender, os caminhos neurais são outros,
e esse mecanismo “se fecha”. Aí começam a ser criadas as limitações e
as dificuldades. Isso pode acontecer por questões individuais de cada
criança ou por falta de estímulo. Há adultos que tolhem a curiosidade das
crianças, e talvez você se lembre de alguma situação em que você pode Em O começo da vida 2, espe-
cialistas em desenvolvimento
ter tolhido a curiosidade de um pequeno, mesmo que sem intenção. O infantil abordam questões so-
importante é que saibamos que nossas ações, como adultos, professores, bre aprendizagem e explicam
como conexões genuínas entre
pais e mães, podem estimular ou tolher esse mecanismo tão importante as crianças e a natureza podem
para a aprendizagem infantil. Dessa forma, podemos dar atenção a esse revolucionar o futuro e contribuir
para a construção de uma vida
fato e incentivar as crianças ainda mais. com mais bem-estar e felicidade.

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Vimos que, quanto mais curiosa a criança for, mais ela desenvolverá sua cria-
tividade e mais aprendizados ela será capaz de obter. Aí está a importância
SAIBA MAIS da curiosidade, ou seja, do desejo por conhecimento. E como incentivar ainda
Leia o artigo “Sobre mais os pequenos, auxiliando nesse processo?
como tolhemos a
curiosidade das
crianças” para
Importante que tenhamos em mente que as perguntas das crianças são sem-
entender melhor pre bem-vindas, pois elas aguçam o desejo de aprender e mobilizam para a
a importância do
incentivo à curiosida-
aprendizagem de maneira real. As crianças são curiosas para entender e co-
de nas crianças e os nhecer tudo o que faz parte do seu contexto. Assim, não há perguntas certas
malefícios da ação
contrária (tolher a ou erradas; há apenas perguntas.
curiosidade).
ACESSE AQUI Se a criança questiona, é porque ela quer saber. E, como afirma Marcos Piangers,
“toda resposta para uma criança é um convite a uma próxima pergunta”. Dessa
forma, devemos sempre incentivar a curiosidade e promover espaço para pesquisa, apresentando
caminhos que levem às respostas (que também podem mudar ao longo do tempo, em função do
desenvolvimento das crianças).

Incentivamos a curiosidade também promovendo momentos de descobertas com brincadei-


ras ao ar livre e com os pares, estimulando a interação, com o contato com diferentes linguagens,
ampliando o repertório cultural das crianças (contando histórias, cantando e incentivando os jogos
simbólicos) e lembrando da importância de deixar que os pequenos façam suas escolhas.

Outro ponto importante é a relação entre curiosidade e criatividade. Esses dois aspectos
podem definir nossa personalidade e interferir em nossa forma de ver o mundo e de lidar com
diferentes situações. Quanto mais curiosos, mais criativos somos, pois conhecemos diferentes
assuntos e situações, que ampliam nosso repertório. O mesmo acontece com as crianças.

A definição de curiosidade tem várias nuances: por exemplo, pode ser a vontade de querer
saber sobre determinados assuntos, mas também a empolgação por ficar imaginando qual será o
presente que alguém falou que a criança iria ganhar... Para algumas pessoas, crianças e adultos, o
nível de curiosidade e o excesso de pensamentos sobre determinados assuntos são tão grandes
que podem levar até à ansiedade!

Essas reflexões sobre nossos comportamentos podem nos ajudar a entender os mecanismos
de funcionamento das crianças, suas curiosidades e suas formas de lidar com essas curiosidades
e com as situações do dia a dia e da rotina escolar.

Para uma criança bem pequena, uma joaninha na planta ou uma aranha aparentemente
“voando” (porque está presa à teia) são situações que despertam curiosidade. Quando crescem,
elas ficam curiosas por outras temáticas: querem saber do que são feitas as nuvens ou de onde
vieram. Alguns temas, como este, podem até causar embaraço para alguns adultos.

Fato é que, a cada olhar atento ou a cada questionamento, os pequenos buscam respostas.
Estão conhecendo o mundo e, para isso, precisam perguntar, olhar, experimentar!

É importante que a gente saiba que nem todas as perguntas precisam de respostas. Na
verdade, quando a criança pergunta, ela verbaliza, coloca em palavras, sua curiosidade. Muitas

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vezes está perguntando a ela mesma, buscando as respostas e as percepções que determinadas
situações apresentam.

Para refletir: Não estamos aqui dizendo que não devemos dar respostas às crianças, e sim
valorizando o poder das perguntas. Uma pergunta abre possibilidades para as crianças pensarem,
o que estimula e aguça ainda mais a curiosidade e o movimento em busca de respostas e
soluções com criatividade.

Vamos pensar aqui em questões que nós, adultos, enfrentamos no dia a dia: quando temos
muitas ideias e conseguimos criar possibilidades, a vida fica mais fácil, mais atraente e até mais
divertida. Você concorda? Qual será a relação entre curiosidade e criatividade?

3. A relação entre curiosidade e criatividade e como podemos estimular a


criatividade das crianças

Falamos sobre a relação entre curiosidade e criatividade. Quando você pensa em criati-
vidade, o que lhe vem à mente? Santos Dumont e a invenção do avião? Que Thomas Edison só
podia mesmo ser um gênio para inventar a lâmpada? Criatividade, para você, está ligada a grandes
invenções?

Algumas pessoas acreditam que somente aqueles que têm um dom especial são criativos,
mas a verdade é que todos nós temos potencial para criar. Muitos fatores interferem e favorecem
o ato de criar. O contrário também é verdadeiro: há situações e realidades que também atrofiam,
digamos assim, essas possibilidades.

Falando em atrofiar, podemos pensar a criatividade como um músculo: um único dia de exer-
cícios na academia, para quem não costuma se exercitar, será que é suficiente para criar músculo
e desenvolver a força para erguer vários quilos nos aparelhos da academia? Ou a pessoa começa
com menos, com o que aguenta, e vai aumentando a carga ao logo das semanas?

Assim também acontece com o “músculo” da criatividade! A boa notícia é que nós, adultos,
podemos exercitá-lo todos os dias e melhorar bastante o nosso desempenho nesse quesito – um
pouco a cada nova situação, até mesmo nas corriqueiras.

Se você já é uma pessoa criativa, pode melhorar ainda mais. Mas, caso não se considere
criativo, se desejar, você pode exercitar essa qualidade e se surpreender com os resultados! Mas,
como saber se eu sou criativo?

Podemos pensar em situações básicas do dia a dia que nos demandam ação rápida, ino-
vação, invenção. Isso pode acontecer em situações da rotina em casa, como realizar uma receita
e ver que falta um ingrediente, ou em situações mais específicas, como resolver um problema no
trabalho, buscar um novo caminho para desviar de um congestionamento ou ainda resolver de
uma maneira diferente alguma questão da vida pessoal.

Geralmente, tendemos a fazer as coisas sempre da mesma forma – nem sempre por
comodismo. O que acontece é que nosso cérebro quer nos poupar de trabalho e nos
IMPORTANTE
proteger. Você inova, é curioso e busca ações criativas para a solução de desafios?

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Esse mesmo investimento em prol do desenvolvimento da criatividade em nossa vida adul-
ta pode ser aplicado ao trabalho com os bebês e com as crianças, com o objetivo de incentivar
a aprendizagem e aguçar a curiosidade em diversos contextos: na forma de ver o mundo e na
relação consigo mesmo, com as outras crianças, com os adultos e com tudo o que os cerca.

Quanto mais tempo e oportunidades para descobertas possibilitamos aos pequenos, mais
eles criam, a partir da curiosidade. Como fazer isso? Destinando tempo (de qualidade e com quan-
tidade) para as brincadeiras e para as interações, no trabalho com os eixos estruturantes da Base
Nacional Comum Curricular para a Educação Infantil, contando histórias, cantando, dançando,
brincando na natureza, brincando com o corpo, fazendo arte nas diferentes linguagens, valorizando
a sensibilidade e garantindo o exercício dos seis direitos de aprendizagem propostos na BNCC:
conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se.

4. Educar para e na curiosidade

Educar para que as crianças sejam curiosas e, consequentemente,


cresçam como cidadãos críticos e criativos, como vimos, é possível se
incentivamos a exploração, a investigação e a experimentação a partir
de diferentes possibilidades de criação e de estímulo aos mecanismos
de descobertas.

Nas palavras da professora Madalena Freire, quando deixamos


a criança se levar pela “paixão de conhecer o mundo”, estamos opor-
tunizando encantamento e conduzindo os processos de aprendizagem
com afeto e cuidado. Vamos citar alguns trechos finais do livro Educar
na curiosidade, de Catherine L’Ecuyer (2015), nos quais ela fala sobre a
educação dos filhos, ampliando esse olhar para as creches e pré-escolas:
(...) Educar na curiosidade é deixar que nossos filhos aproxi- SAIBA MAIS
mem o olhar da fechadura da porta que leva ao mundo real. Neste livro, a autora oferece cami-
(...) é reconhecer que nossos filhos possuem uma natureza nhos para que pais e professores
saibam respeitar o desenvolvi-
própria com a qual devemos ser sensíveis e atenciosos. (...) mento natural infantil, através
é respeitar seus ritmos, suas necessidades básicas, sua ino- do despertar da curiosidade, do
cência, não adiantar etapas. (L’ECUYER, 2015, p. 166 e 167). instigar para o aprendizado e do
deslumbramento diante do novo.

É isso tudo. É respeitar a infância e a criança como sujeito autônomo e de direitos. É enten-
der as diferenças dos pequenos, enxergando suas potencialidades e possibilidades de atuação
para a criação de um mundo melhor.

Mundo este que está em constante mudança e repleto de questões que podem nos
trazer contrariedade e desconforto. A mesma percepção que temos do mundo nossas
crianças também têm, e, porque são curiosas e questionadoras, nos perguntam: “Por
que as coisas são como são? Por que tanta injustiça?”. Que possamos responder com outra
pergunta: “O que podemos fazer diferente?” ou “O que podemos fazer para mudar isto?”. Esse
é um excelente começo!

9
Referências Bibliográficas

L’ECUYER, Catherine. Educar na curiosidade: a criança como protagonista da sua


educação. São Paulo: Fons Sapientiae, 2015.

TARDOS, A.; SZANTO, A. O que é autonomia na primeira infância?. In: FALK, Judit
(Org.). Educar os três primeiros anos: A experiência Pikler-Lóczy. 3ª ed. São Carlos:
Pedro & João Editores, 2021, p. 45-57.

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