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Su99a
IE
CAMPINAS
2010
TCC/UNICAMP
Su99a
1290004892/IE
I
AGRADECIMENTOS
À Prof. a Dra. Ana Rosa Ribeiro de Mendonça Sarti, meus sinceros agradecimentos pela
Aos meus pais Celso e Sônia, peças-chave nas oportunidades de estudo a mim oferecidas,
À minha irmã Kátia, grande companheira e conselheira, que tanto me auxiliou na execução
Ao meu amigo Leandro Giaretta Padovan, amigo de todas as horas, sempre presente na minha
ofertada.
RESUMO
SUMÁRIO
I INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. I
VI REFERÉNCIAS ............................................................................................................................. 42
I INTRODUÇÃO
A atuação dos bancos centrais pode se dar por meio da injeção de capital ou de
seguros de depósitos. Os defensores do socorro por meio de seguros de depósitos afirmavam
que as regras pra concessão dos seguros são mais rígidas, enquanto que no banco central não
há regras quanto à concessão de empréstimos, se tratando de uma questão apenas oficial.
Segundo Cecchetti {2008a), o seguro de depósito tem os mesmos problemas que o
empréstimo em última instância, já que, como os depositantes estão protegidos, eles não
fiscalizam as ações tomadas pelos bancos, que assumem riscos acima do normal já que os
bancos centrais, em última instância, arcam com os custos. O problema com o empréstimo em
última instância é que ele depende das decisões de um corpo oficial baseado em uma
informação incompleta, enquanto o seguro de depósito tem um conjunto de regras de
antemão, o que facilita a contenção de uma crise bancária.
No início da crise as principais ações foram individuais, atendendo instituições
importantes para os países e próximas à falência, deixando inseguro o mercado financeiro
pela ausência de programas visando o sistema como um todo. Estas ações se resumiam a
injeções de capital, tanto nos mercados monetários quanto nos mercados de financiamento a
longo prazo, pois a escassez prolongada de liquidez poderia trazer problemas futuros de
solvência; seguro de depósitos para evitar corrida aos bancos; garantias explícitas para
garantir a continuação de fmanciamento aos bancos; e principalmente a compra de ativos
podres. Posteriormente, quando a crise se intensificou, o FED e o BCE, assim como alguns
bancos centrais, arquitetaram planos mais abrangentes, pois o problema não atingia
instituições individuais, mas sim o sistema financeiro.
Outro problema decorrente da crise recente enfrentado pelos bancos centrais é
relativo à fiscalização do sistema. Esta deve ser de responsabilidade do banco central ou de
outra instituição independente? Para Cecchetti (2008b), os bancos centrais podem ser
hesitantes em supervisionar o sistema financeiro porque sabem que políticas monetárias
restritivas podem causar danos aos bancos. Além disso, uma má supervisão pode acabar com
a reputação do banco central, o que pode dificultar o alcance de sua meta de política
monetária, já que seus policymakers são vistos como incompetentes.
Na contramão, se a supervisão ocorre independentemente do banco central, pode
haver problemas. O banco central tem habilidade em avaliar as condições dos bancos, do
mercado de capital e do sistema de pagamentos. Assim, na emergência de uma crise ele pode
atuar mais rapidamente que de outra forma seria. Mais do que isso, com a função de
supervisionador do sistema, ele pode administrar o trade-off entre seus objetivos de prover
liquidez ao sistema quando à beira de uma instabilidade, e atingir objetivos
5
financiar a zona do euro comprando títulos públicos dos países pertencentes a este em
decorrência do problema de moral hazard já que isso permitiria que países aumentassem suas
dívidas, implicando na alta da inflação e redução da classificação de crédito de todo o bloco.
Os países europeus seriam livres para estabelecer seus orçamentos, não poderiam
mais financiar déficits com empréstimos dos bancos centrais, mas tinham a possibilidade de
emitir seus próprios títulos de governo em euros. Com isso persistiria o problema de emissão
desenfreada de títulos, já que governos menos consistentes anteriormente tinham de oferecer
taxa de juros mais alta para ter compradores para seus títulos devido ao risco de câmbio
embutido (HOWELLS, 2001, p. 271).
A emissão desenfreada de títulos poderia provocar uma alta dos juros no bloco
europeu ou a divisão do ônus entre seus parceiros. Além disso, o risco de inadimplência de
um país tem reflexos perante os outros membros da UME (União Monetária Européia),
causando a desconfiança dos agentes. Conforme aponta Howells (2001), o BCE, para não
permitir que um dos seus membros fosse à falência, interviria no país, aumentando a oferta de
moeda c o risco de inflação. Como os membros do bloco seriam salvos pelo BCE, a
classificação de crédito de qualquer país da região seria a do BCE, e isso adicionalmente
permitiria mais gastos, o que futuramente impactaria na inflação e na classificação de crédito
do mesmo, que seria reduzida.
Os problemas apontados acima deveriam ser resolvidos, normas deveriam ser
criadas entre os países do bloco, e isto foi feito por meio do Tratado de Maastricht.
membros e da média de 5 anos do PIB de cada país a preços de mercado (HOWELLS, 2001,
p. 272).
O BCE é responsável pelo controle da oferta monetária, emissão de notas,
operações em mercado aberto, principalmente executadas por meio dos bancos centrais
nacionais, e determinação de reservas compulsórias mínimas. Na presença de garantias
adequadas, pode injetar liquidez nos mercados, mas o SEBC não poderá emprestar aos
governos, a não ser que adquira seus papéis nos mercados secundários. Pelo Artigo I 04 do
Tratado é proibido facilidades de crédito pelo BCE e bancos centrais a qualquer órgão público
da UE ou governos centrais. Segundo Guttmann (2008), no banco central europeu há o
mecanismo de emprestador de última instância por meio do chamado Emergency Liquidity
Assistance (ELA), mas esta não é tão efetiva e centralizada quanto à do FED. A ação de
emprestador de última instância pela União Européia até o momento se deu pela ação dos
bancos centrais nacionais.
Para evitar os problemas de constantes gastos e déficits crescentes pelos países
membros, o BCE não será responsável por qualquer ajuda aos deficitários, para não lidar com
o problema de moral hazard. Na contramão, o Conselho Europeu irá fiscalizar a política
econômica de cada país membro, que poderá não acatar as recomendações somente se forem
relativas à política fiscal. Para o restante dos casos, a não adequação das recomendações pelos
governos nacionais resultará em multas ou sanções.
Diante do fato do BCE ser um órgão não eleito, a concentração de poder em suas
mãos tem de ser cautelosa, e por isso está sujeito à auditoria e jurisdição do Tribunal de
Justiça, além de ter em suas reuniões a presença do presidente do Conselho Europeu e um
membro da Comissão Européia, porém sem direito a votos (Howells, 2001). O BCE também
é obrigado a entregar relatórios anuais sobre suas atividades ao Conselho e Parlamento
Europeu, bem como se apresentar à Junta Executiva, se solicitado. De qualquer forma,
conforme aponta Howells (2001), o SEBC tem independência ainda maior que a do
Bundesbank, já que a oposição à Junta, composta pelos bancos centrais nactonats,
dificilmente tem uma posição uniforme a respeito de qualquer assunto de política econômica
já que os países apresentam diferentes estruturas econômicas.
1
O modelo de regulação e supervisão é chamado Lamfalussy em decorrência de ter sido formulado sob a
coordenação de Alexandre Lamfalussy, presidente do Instituto Monetário Europeu entre 1 de janeiro de 1994 e
30 de jWiho de 1997.
2
O CEBS (Committee ofEuropean Banking Supervisors) é composto por representantes de das autoridades da
supervisão bancária e dos bancos centrais da UE, juntamente com as autoridades dos paises da zona do euro.
3
O CEIOPS (Committee of European Insurance and Occupational Pensions Supervisors) é composto pelos
representantes da supervisão destes segmentos nos Estados-membros da UE e também pelas autoridades dos
paises da zona do euro.
4
O CESR (The Committee of European Securities Regulators) é formado pelos representantes da supervisão de
securities na União Européia e autoridades dos países membros da zona do euro.
1
O IWCFC (The lnterim Working Committee on Financiai Conglomerates) é formado por autoridades da
supervisão bancária e de securities da UE.
12
Nesta seção será examinada a forma como o FED é organizado, sua estrutura
institucional e informal mais relevante, que determina onde reside o poder dentro do sistema.
Também será brevemente apresentada a organização do sistema regulatório e de supervisão.
O FED foi criado em 1913. Antes dessa data, a política econômica americana era
conhecida pelo poder descentralizado. Segundo Howells (2001), os cidadãos americanos viam
com grande desconfiança a existência de um banco central, o que explica a extinção das duas
primeiras tentativas de construção de um banco central capaz de controlar o sistema bancário
(First Bank of United States e Second Bank of the United States). A hostilidade devia-se ao
temor da subordinação do banco central aos interesses financeiros de Wall Street e da
intervenção exagerada do governo público nos bancos privados. O sistema do F edcral Reserve
é bastante complexo e formado por várias instituições, como o FED, bancos associados, o
13
Federal Open Market Comittee (FOMC), uma Junta de Diretores e um Conselho Consultivo
Federal, que serão estudados no próximo tópico.
A criação de um banco central americano se deu em decorrência da necessidade
de um emprestador de última instância com o objetivo de evitar o pânico no sistema
financeiro ocasionado por falências bancárias, e transmitido a todo o sistema quando
empréstimos às atividades produtivas passam também a ser barrados (Mishkin, 2000). A
janela de desconto é um método eficaz de fornecer liquidez a um banco insolvente. A função
desempenhada pela FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation) poderia tornar
desnecessária a criação de um emprestador de última instância, já que provê liquidez a bancos
falidos. Neste caso, o socorro vem de duas formas: por meio do método de pagamento,
quando o banco vai à falência e o FDIC paga os depósitos no limite de 100 mil dólares 6,
tomando-se credor dos ativos do banco, e o método de compra e premissa, na qual reorganiza
o banco, encontra um sócio para a fusão deste, que garante todos os depósitos do banco.
Segundo Buiter (2008), entretanto, o FDIC não possui fundos suficientes para lidar com um
número grande de falências bancárias, tomando-se o FED peça fundamental do sistema.
6
No pacote de 700 bilhões de dólares proposto pelo Tesouro Americano este valor subiu para 300mil dólares.
7
"Reserve banks were stablished in the cities of Atlanta, Boston, Cleveland, Chicago, Dallas, Kansas City,
Minneapolis, New York, Philadelphia, Richmond, San Francisco and St. Louis".(ROSE, 2006, p. 366).
14
Junta de Diretores, seu vice é o presidente do FED de Nova Y ork e suas reuniões ocorrem a
cada 6 semanas.
Ao possuir seus 7 diretores na formação da FOMC, que conta somente com 12
membros, a junta tem grande poder sobre a votação acerca das operações do mercado aberto,
o mais importante meio de controlar a oferta de moeda
As operações de mercado aberto são bastante valiosas por diversas razões, dentre
as quais o controle total do volume de operação pelo FED, o que não pode ser obtido por
meio das operações de desconto, na qual ele pode estimular ou não os bancos a tomar
empréstimos por meio da taxa de juros, mas não pode controlar seu volume; a flexibilidade,
reversão e precisão das operações de mercado aberto; e agilidade na implementação da
operação, sem processos burocráticos (MISHKIN, 2000, p. 239).
O Conselho Federal Consultivo, composto de 12 membros, só tem capacidade
consultiva, ou seja, nenhuma autoridade sobre as decisões do FED.
Segundo Mishkin (2000), uma questão importante é relativa à independência do
FED, no que tange às pressões do presidente dos EUA, como também do Congresso. O
Congresso exerce influência no FED já que é quem define sua estrutura, e esta é sujeita a
alterações permanentemente. Quando o Congresso não concorda com alguma ação, ele
ameaça tomar o controle do FED e submetê-lo a um requerimento de orçamento.
O presidente tem influência sobre o FED porque além de ser um meio para o FED
obter apoio do Congresso, ele indica 2 membros para a Junta de Diretores, embora na prática
indique mais, pois muitos abandonam o cargo antes dos 14 anos por melhor proposta no setor
privado.
Entretanto, a independência do FED é permeada por sua fonte de rendimentos,
que provem de rendimentos de seus investimentos em títulos e empréstimos a bancos. O
órgão de auditoria do governo federal americano, o General Accounting Office, não pode
realizar auditoria sobre as ações do FED (MISHKIN, 2000, p. 243).
Sobre os bancos centrais do FED, é importante destacar o papel protagonista do
Federal Reserve Bank ofNew York, já que o distrito contém a maioria dos grandes bancos
comerciais dos EUA e, portanto, é o supervisor mais importante dos bancos centrais - o grupo
de Supervisão Bancária do FED de Nova York é o maior do sistema do Federal Reserve.
Adicionalmente, ele é responsável pela mesa de câmbio estrangeiro, que realiza as
intervenções no câmbio em nome do FED e do Tesouro, além das operações com títulos de
dívida. Por último, o FED de Nova York é o único banco do FED que é membro do BIS
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2.3 Conclusão
A estratégia utilizada pelo BCE desde o início da crise tem sido ousada, mas sem
prejudicar o comprometimento a médio prazo da política monetária. Nenhuma instituição
financeira importante entrou em colapso na União Européia (Trichet, 2009).
A partir de seu objetivo explícito, a manutenção da estabilidade de preços, o BCE
atua no sentido de impedir a volatilidade desnecessária da atividade econômica e dos
mercados financeiros. No contexto de crise, preocupa~se com a restauração da confiança nos
mercados. Para tanto, procurou garantir o reforço da transparência e valorização das normas,
além do aumento da divulgação de exposições a instrumentos financeiros complexos e
ilíquidos por parte das instituições financeiras (González~Páramo, 2009).
O reforço da cooperação entre os bancos centrais por meio do monitoramento do
mercado e a partilha de informações avançadas foi fundamental para trazer liquidez após a
crise. Em dezembro de 2007 houve um acordo entre o BCE e FED para a concessão de
empréstimos em dólares para contrapartes da área do euro. Os empréstimos em dólar para os
bancos da área do euro foram financiados por meio de um acordo cambial (swap) entre os
dois bancos centrais (González~Páramo, 2009).
A resposta do BCE à crise se concentrou em dois canais de ação. O primeiro deles
foi a taxa de juros, o que não difere da reação da maior parte dos bancos centrais. O segundo
canal de ação foi uma política de crédito mais rigorosa. Na outra ponta, o FED fez uso da
flexibilização do crédito, emprestando diretamente aos participantes do mercado.
A solução proposta à escassez de crédito foi sustentada por cinco medidas, sendo
elas a realização de leilões a taxas fixas nas operações de refinanciamento do BCE, a
ampliação temporária de ativos elegíveis, a ampliação do vencimento de operações de
19
No início da crise houve injeções de capital isoladas por parte dos governos
europeus. A Alemanha socorreu a instituição Fortis no princípio de setembro e começo de
outubro de 2008, sendo a primeira injeção de 4 bilhões de euros, por meio da compra de 49
por cento das ações do Grupo, e a segunda de 13 bilhões de euros, completando a
nacionalização da instituição. O segundo banco central europeu a injetar capital em uma
instituição foi o francês, com 3 bilhões de euros no Dexia, no final de setembro de 2008. O
governo alemão ainda disponibilizou 70 bilhões de euros à Hypo Real State por meio de
garantia de depósitos (Panetta, 2009).
Desde outubro de 2008, a Europa interrompeu os socorros isolados e promoveu
ajuda às instituições na forma de programas. A Itália aprovou uma lei onde o governo poderia
recapitalizar instituições com problemas de liquidez. Na seqüência, o governo da Holanda
anunciou que fundos do governo da ordem de 20 bilhões de euros estavam disponíveis para
recapitalização de bancos em dificuldade (Panetta, 2009).
A medida mais importante desde iniciada a crise ocorreu em outubro de 2008,
quando vários bancos centrais europeus concordaram em coordenar um plano de ação com o
intuito de garantir a estabilidade do sistema financeiro europeu. A ação foi realizada por meio
de injeção de capital, garantia de dívidas e compra de ativos.
Dentre os países participantes, estava a França, que disponibilizou 40 bilhões de
euros por meio de injeções de capital e 265 bilhões em garantia de dívidas. A Alemanha
20
socorreria o sistema financeiro com 400 bilhões de euros por meio de garantias de dívida e 80
bilhões de euros por meio de injeções de capital e compra de ativos. A Itália e a Espanha, com
o valor de I00 bilhões, auxiliaram por meio de garantias de dívidas. Em maio de 2009 o
governo alemão facilitou a transferência de ativos podres para Special Purpose Vehicle em
troca de bonds garantidos pelo governo no valor de 200 bilhões de euros.
~ EURlBOR, Euro Interbank Of/er Rate, é uma taxa referencial diária baseada na média das taxas de juros que
os bancos utilizam para emprestar fundos não garantidos a outros bancos no mercado interbancário. A Euribor
acompanha habitualmente a taxa de referência do BCE,
9
EUREPO, a taxa cobrada por empréstimos plenamente garantidos no mercado interbancário, mas com
requerimentos estreitos quanto ao tipo e a qualidade das garantias.
25
insuficientes para garantir a estabilidade dos preços. Ainda assim tem que haver transparência
nas ações do governo, expondo os canais e os motivos que o levaram a utilizar aquele canal.
O banco central não pode parecer impotente frente às pressões deflacionistas em meio ao
ambiente de extrema baixa taxa de juros (González-Páramo, 2009).
3.5 Conclusão
As medidas tornadas pelo BCE e pelos bancos centrais nacionais acerca da crise
financeira recente tiveram reflexos positivos sobre a revitalização do sistema financeiro
europeu.
Dentre as políticas adotadas pelo BCE, a política de crédito reforçado,
conjuntamente com a injeção de liquidez em instituições individuais no início da crise, tomou
possível a retomada de liquidez e de crédito nos mercados, permitindo aos bancos o acesso a
canais de liquidez facilitados, que acabaram por minimizar os problemas de descasamento de
prazos entre investimentos e financiamentos, propiciar a queda da taxa de juros para empresas
e famílias e revitalizar o mercado de títulos.
Por outro lado, o déficit fiscal ampliado na zona do euro pós-crise exige atenção
das autoridades em decorrência dos problemas que podem causar à unidade do bloco e à
estabilidade dos preços, objetivo primeiro do BCE.
Por último a discussão acerca da regulação e supervisão financeira é ainda
precoce em vista da importância que exercem no sistema financeiro internacional,
principalmente após a crise financeira recente ter mostrado o alcance que uma
desestabilização de um mercado financeiro nacional tem nas economias nacionais globais em
decorrência da atual integração dos mercados.
27
As operações de mercado aberto visam manter a taxa dos federal funds estipulada
pelo Federal Open Market Comittee (FOMC), a taxa básica utilizada pelos bancos nos
empréstimos interbancários overnight, atingindo a economia por meio do crédito, câmbio e
ativos (Checchetti, 2008c).
A taxa de redesconto é um instrumento por meio do qual bancos têm acesso a
empréstimos. As taxas cobradas estão acima da taxa dosfedfunds, e são chamadas de primary
credit e secondary credit, respectivamente disponíveis para instituições saudáveis c
instituições que não conseguem ter acesso ao primary. No decorrer da crise, ambas tiveram
seus prazos alongados e caíram substancialmente para estimular a tomada de crédito pelos
bancos. Somente a primary credit, desde agosto de 2007 até dezembro de 2008, caiu de
5,75% para 0,50% ao ano (Bullio, 2009).
Já as reservas requeridas pelo FED não tiveram grande mudança e foi o canal
menos utilizado para auxiliar as instituições. No entanto, em outubro de 2008, as reservas
compulsórias passaram a render juros.
Mas os instrumentos tradicioE.ais não foram capazes de conter a crise, foram
utilizadas outras vias como programas de assistência e compra de ativos, inclusive de ativos
podres.
fornecimento de liquidez. A política do FED mostrou que este abandonou a premissa de que
os mercados resolveriam por si só os problemas quanto à crise. "Até março de 2008 o FED
comprometeu 426 bilhões de dólares de seu portfólio de 884 bilhões de dólares, uma
distribuição de liquidez inédita até então". (FED, 2008, p.l).
O FED criou alguns mecanismos não tradicionais que fizeram a diferença na
retomada da liquidez nos mercados: o Term Auction Facility (TAF), leiloando crédito para
instituições depositárias elegíveis a termos maiores que 84 dias, os programas Primary Dealer
Credit Facility (PDCF), Tenn Asset-Backed Securities Loan Facility (TALF) e Securities
Lending Term Facility (SLTF), que serão tratados em outro tópico deste capítulo, e também o
amplo programa Troubled Asset Relief Program (TARP), que engloba vários outros
destinados ao sistema financeiro, às empresas e consumidores.
Nos primeiros estágios da crise o FED atuou como emprestador de última
instância, emprestando para instituições individuais, mas também criou alguns planos em
consonância com outros bancos centrais, com quem realizava operações de swap permitindo
aos últimos o fornecimento de dólares em seus respectivos mercados. Num segundo
momento, o FED começou a emprestar em mercados de crédito para investidores e
emprestadores diretamente, como facilidades na compra de commercial papers a termo de 3
meses. Por último houve a compra de securities de longo prazo pelo FED (Sarkar, 2009).
Segundo Cassola (2009), no início da crise, quem deu suporte de liquidez para as
instituições financeiras norte-americanas foi o Federal Home Loan Bank System. O
Washington Mutual, que veio à falência em 25 de setembro de 2008, recebeu um suporte de
liquidez da ordem de 64 bilhões de dólares, enquanto os Countrywide e Wachovia receberam,
respectivamente, 48 c 42 bilhões de dólares.
O FED socorreu instituições individuais ao longo da cnse, mas estas foram
concentradas no início em decorrência da situação emergencial de algumas grandes e
importantes instituições financeiras e da falta de programas que visassem o sistema financeiro
como um todo. Para a seguradora AIG, em setembro de 2008, o FED de Nova Y ork, por meio
de injeção de capital, disponibilizou uma linha de crédito de 85 bilhões de dólares. O FED
voltou a socorrer a instituição em novembro de 2008 com a injeção de 15 bilhões de dólares e,
por meio de compra de ativos i líquidos, o valor de 47 bilhões de dólares. Em março de 2009
ocorreu a terceira injeção de capital na AIG, no valor de 50 bilhões de dólares na
reestruturação de parte das atividades da seguradora (Panetta, 2009).
Em ações isoladas o FED socorreu ainda o Citigroup e o Bank of Amcrica,
respectivamente em novembro de 2008 e janeiro de 2009, por meio de injeções de 20 bilhões
30
°
1
FED funds são reservas bancárias que bancos depositários emprestam entre si nos EUA geralmente por um
dia. A taxa a que ocorrem estes empréstimos é a taxa de juros americana.
31
reservas dos bancos que conseguissem um lance vencedor para esses fundos. Esses fundos
foram disponibilizados para beneficiar instituições depositárias por períodos relativamente
extensos (de até um mês, em média, mas às vezes até mesmo mais), enquanto que
anteriormente tinham prazos mais curtos de vencimento. Foi a primeira vez que os bancos
centrais juntaram forças em tal forma coordenada, enfrentando um crunch global de crédito
em conjunto. No entanto, mesmo que estas injeções de liquidez diminuíssem a pressão, seus
efeitos seriam momentâneos e incapazes de fazer retomar a confiança necessária para
restabelecer a normalidade dos empréstimos interbancários (Guttmann, 2008).
O FED também realizou swaps de moedas com outros bancos centrais. Como o
crédito ainda estava escasso na economia, os empréstimos do FED para primary dealers e
instituições depositárias não surtiram o efeito em cadeia esperado, já que em muitos casos os
mesmos não estavam dispostos a emprestar. Portanto, o FED decidiu emprestar diretamente a
mutuários e alguns mercados (Sarkar, 2009).
A partir de setembro de 2008, o FED desenvolveu um mecanismo para facilitar a
11
compra de asset-backed commercial paper (ABCP) de alta qualidade do money market
mutual fund (MMMF) 12 , o que possibilitava aos bancos atenderem às demandas de resgate
sem ter que vender ativos a preços distorcidos. O FED também facilitou a compra de
commercial papers de alta qualidade com prazo de 3 meses, o que reduziu o risco dos
emprestadores quanto à rolagem dos prazos. Conjuntamente com o Tesouro Americano, O
FED criou o Term Asset-Backed Securities Loan Facility (TALF), que facilitou empréstimos
de 3 a 5 anos contra novas emissões de títulos com classificação AAA, o que fez com que o
FED aceitasse certa quantidade de risco de crédito e revitalizasse os empréstimos privados,
permitindo a securitização dos empréstimos pelos credores (Sarkar, 2009). Outro programa
importante para prover liquidez aos mercados foi o Primary Dealer Credit Facility (PDCF),
que foi projetado para melhorar a capacidade dos primary dealers para fornecer
financiamento aos participantes nos mercados de securitização (FRBNY 13 , 2010).
Por último, em outubro de 2008 foi lançado o Troub!ed Asset Relief Program
(TARP), que englobava urna série de outros programas, alguns dedicados às empresas, à
11
ABCP é um tipo de commercial paper garantido por outros ativos financeiros. São normalmente investimentos
de curto prazo, com vencimentos entre 90 e 180 dias, emitidos por bancos ou instituições financeiras. Os ativos
usados como garantia são um mix de vários outros ativos, que conjuntamente eram tidos como de baixo risco
pelas agências de rating antes da crise do subprtme, quando se mostraram sobrevalorizados. Eram um meio das
instituições obterem fundos para serem utilizados em investimentos de longo prazo.
12
Money market mutual fund (MMMF) é um fundo que investe exclusivamente em instrumentos do mercado
monetário, formas de dívidas muito líquidas que vencem em menos de um ano, e são relativamente livres de
riscos, porque a maior parte são Treasury Bills.
13
The Federal Reserve Bank ofNew York.
32
O TAF foi introduzido em dezembro de 2007 para aliviar a pressão nas taxas dos
fundos de longo prazo, pois a política de redução das taxas de redesconto não estava tendo o
efeito esperado. Foi efetuado por meio do leilão de fundos diretamente para as instituições
depositárias contra uma ampla variedade de garantias que podem ser usadas para obter
empréstimos na janela de redesconto. Podem participar dos leilões do TAF todas as
instituições depositárias consideradas sólidas pelos respectivos Reserve Bank locais e que são
33
elegíveis para emprestar sobre o programa Primary Credit Discount Window 14 (Armantier,
2008). O lance não pode ultrapassar o valor de 50% do valor do colateral que o banco tem
disponível para empréstimo de redesconto. O programa promove a disseminação de liquidez
eficiente quando o mercado interbancário está sob stress (Bullio, 2009).
Cada leilão ocorre com uma quantia fixa, sendo a taxa determinada pelo processo
de leilão. As instituições apresentam propostas para o Reserve Bank local e a taxa é
estabelecida na taxa Overnight Indexed Swap correspondente ao vencimento do crédito a ser
leiloado. O FED emprestou grandes quantias por meio do TAF, prolongando o período,
primeiro de 28 a 35 dias, depois 84 em julho de 2008 (Bullio, 2009).
14
A janela para redesconto foi instaurada em 1913 como importante instrumento das operações do banco central
para aliviar as tensões de liquidez tanto para instituições depositárias individuais quanto para o sistema bancário
como um todo. O Primary Credit Discount Window é a principal ferramenta de segurança utilizada para garantir
adequada liquidez ao sistema bancário, possibilitando às instituições depositárias sólidas empréstimos de curto
prazo.
34
uma boa medida de eficiência do programa já que medem o risco inerente na concessão de
empréstimo (Adrian, 2009).
O programa TALF, arquitetado na fase inicial da crise, permite aos dealers trocar
securities não líquidas por títulos do Tesouro líquidos utilizando os mesmos como garantia
para assim pagar uma margem menor dos empréstimos. Logo, o FED garantiu o
funcionamento dos mercados de financiamento mediante cobrança de taxas inferiores para
fundos com garantias do que o mercado privado, ou provendo empréstimos garantidos quando
o mercado não é capaz de fazê-lo (Sarkar, 2009).
Esse programa auxiliou as instituições financeiras na acomodação necessária de
crédito a consumidores e empresas de vários tamanhos facilitando a emissão de asset-backed
securities que tem como colaterais empréstimos a estudantes, financiamento de automóveis,
dívidas de cartões de crédito, entre outros. O FED autorizou a emissão de TALF até 30 de
junho de 2010. Segundo o programa, o FED permitiu até 200 bilhões de empréstimos (Bullio,
2009). Se o emprestador não pagar os empréstimos, o banco pode exercer seu direito na
garantia e vendê-la à companhia TALF LLC (Delaware Limited Liability Company),
estabelecida com o propósito de comprar estes ativos. Entretanto, até dezembro de 2009
nenhum banco havia exercido esse direito. Dentre as principais instituições que utilizaram o
programa estão o Bear Steams, Citibanke a AIG (FRBNY, 2010).
da Housing and Urban Development, tendo como presidente do conselho Ben Bernanke
(Bernanke et. al, 2010),
O programa sofreu uma alteração após o primeiro-ministro britânico, Gordon
Brown, propor que ao invés da compra de ativos podres o governo poderia participar do
capital das instituições, recapitalizando as mesmas e garantindo a participação dos
contribuintes nos resultados obtidos com a venda dos ativos podres (Veiga, 2009).
Dentro do TARP foram criados outros programas: Capital Purchase Program
(CPP), destinado à compra de ações preferenciais dos bancos; Automotive Jndustry Financing
Program (AIFP) e Auto Supplier Support Program (ASSP), para apoiar empresas
automotivas e fornecedores de autopeças; Unlocking Credit for Small Businesses (UCSB), por
meio da aquisição de títulos emitidos com base em empréstimos para pequenas empresas;
Systematically Significant Failing Institutions (SSFI) para socorrer a AIG; Targeted
Investment Program (TIP), com investimentos no Citigroup e Bank of America; Asset
Guarantee Program (AGP), para o Citigroup, Bank of America e Ring Fence Asset
Guarantee; Term Asset Backed Securities Loan Facility (TALF), por meio de empréstimos
realizados pelo Banco do Federal Reserve de Nova York para aquisição de títulos lastreados
por empréstimos; Making Home Af!ordable Program (MHA), pela alteração de empréstimos
realizados na forma de hipotecas; Public-Private Investment Program (PPIP), para aquisição
de ativos problemáticos; e Capital Assistance Program (CAP), que dá suporte de capital às
instituições financeiras "qualificadas" (Veiga, 2009).
Abaixo estão listados os três programas que tiveram mais destaque dentro do
TARP, com propostas mais consistentes e mais relevantes para conter a crise de liquidez que
se instaurou nos mercados no desemolar da crise fmanceira.
e supervisão financeira americana ainda possui grandes falhas, como aceitar que instituições
que recebem depósitos dos clientes não sejam consideradas bancos comerciais e, portanto,
não estejam sujeitas às normas regulatórias. Na outra ponta, o socorro do FED não se limita às
instituições bancárias, sendo que com a permissão de apenas 5 dos seus membros, os
empréstimos estão disponíveis à qualquer corporação, não somente aos bancos (Freire, 2009).
Cabe aos próprios bancos comerciais americanos a decisão de fazer parte ou não
do FED, bem como a escolha de seu regulador. Se os bancos em um estado decidirem por
obter a licença por meio destes, serão classificados como bancos estaduais e terão corno
regulador primário o FED, se filiados a este, ou o FDIC, caso contrário. Se a licença for
obtida através do OCC, os bancos, dito nacionais, terão como regulador primário o OCC e
serão, obrigatoriamente, membros do FED. Além disso, os bancos podem mudar de estado
sem a aprovação do regulador, bem como deixar de ser parte do FED sem sua aprovação.
Apesar da distinção entre os reguladores, todos os bancos comerciais têm que obedecer as
exigências de reserva de capital determinadas pelo FED (Rezende, 2009).
A solução americana quanto à regulação trata de um reforço na regulação estatal,
ao invés de um fortalecimento maior das entidades de autorregulação, especialmente as de
caráter voluntário. Nos momentos de maior estresse dos mercados foi a SEC (Securities and
Exchange Commission) que lançou as principais mudanças propostas (Oliveira Filho, 2009).
Na discussão acerca da nova regulação entra em cena a questão da ampliação ou
não dos poderes do FED. Os defensores desta questão afirmam que as holdings financeiras
dificultam a supervisão e o dimensionamento do risco do sistema enquanto que os críticos
temem pela possibilidade da ocorrência de arbitragem regulatória, onde as instituições
financeiras serão beneficiadas por terem diversos reguladores com mesma função (Baile,
2009).
A proposta de Obama e Geithner para a nova regulação aponta para a formação de
um órgão, o Financiai Oversight Council, composto pelos membros de todos os órgãos
supervisores, cuja função é mapear o risco sistêmico mediante a troca de informações entre as
agências reguladoras. Apesar de manter a estrutura atual do sistema regulatório, a proposta
introduz um novo regulador federal, o National Bank Supervisior, para supervisionar todos os
bancos com licença federal. O poder de regulação do FED será ampliado em decorrência das
holdings financeiras, e o 0/fice of Thrift Regulation, que permitia que os bancos comerciais
fossem regulados como caixas de poupança, sem muito rigor, foi eliminado (Bolle, 2009).
Os críticos à proposta apresentada acima apontam para a falta de simplicidade do
modelo, permitindo a existência de arbitragem regulatória já que um banco comercial com
38
4.5 Conclusão
acesso a canais de liquidez facilitados, que acabaram por minimizar o risco de crédito e
problemas com financiamentos, bem como a revitalização do mercado de títulos, de extrema
importância para as empresas e famílias americanas.
Por último, no que tange às propostas de reforma da regulação e supervisão
financeira, o Senado Americano até junho de 201 O não abriu espaço para o prosseguimento
das discussões, principalmente com relação às propostas encaminhadas pelo partido
democrata. Há um longo caminho a ser percorrido até o estabelecimento de um plano de
reforma na regulação e supervisão financeira que possa ser aplicado em moldes semelhantes
por outras economias mundiais.
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V CONSIDERAÇÕES FINAIS
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