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CNO

Escola Sec. de
Emídio Navarro

A Verdade da Crise – Inside Job


Ficha Técnica
Realizador: Charles Ferguson
Argumento: Chad Beck, Adam Bolt
Intérpretes: Matt Damon
Estreia Mundial: 2010
Estreia em Portugal: 11 de Novembro de 2010
Mais Info: IMDB - Classificação: 8.2/10

10 Nomeações e 5 Prémios, dos quais um Óscar para o melhor


documentário.

O filme “A Verdade da Crise” é apresentado como a primeira película a revelar toda a verdade
sobre o que provocou a actual crise mundial. Este documentário realizado por Charles
Ferguson integra no ‘elenco’ nomes tão conhecidos como George Soros, Dominique Strauss-
Khan, Paul Volcker, Christine Lagarde ou Scott Talbot. Com narração de Matt Damon, ‘A
Verdade da Crise’ foi gravado nos EUA, Islândia, Inglaterra, França, Singapura e China.

Segundo o realizador, a ideia deste filme é mostrar a “verdade chocante” que esteve por
detrás do eclodir da actual crise económica e que deixou milhões de pessoas sem casa e
sem trabalho em todo o mundo.

“Através uma exaustiva investigação e entrevistas com alguns dos mais importantes
especialistas, políticos e jornalistas, “Inside Job” traça a ascensão de uma indústria
desonesta e desvenda as relações corrosivas que têm corrompido a política, os órgãos
reguladores e a academia”, pode ler-se no texto de apresentação do filme.

Texto 1.

O filme que todos os banqueiros deviam ver


Inside Job - A Verdade da Crise" é um filme que todos os banqueiros deviam ser
obrigados a ver. E todos os bancários. E todos os que trabalham em instituições
financeiras. E todos os que vendem produtos financeiros. É um filme que devia passar
obrigatoriamente em todas as escolas, sobretudo nas escolas de gestão e economia.
"Inside Job - A Verdade da Crise" mostra como a desregulamentação desenfreada
esteve na base desta crise. Mostra como Alain Greenspan e Larry Summers são dois
dos maiores responsáveis pelo que aconteceu. Mostra como o sistema financeiro,
deixado à solta, faz as coisas mais reprováveis com a maior cara de pau - aquela de os
bancos que mais embalaram e exportaram derivativos para todo o mundo, a partir de
certa altura passarem a especular contra eles, apostando na sua queda e ganhando
milhões com isso é a prova da perversidade e falta de honestidade dos reputados
banqueiros da Goldman Sachs, da Merryl Lynch e doutros. "Inside Job - A Verdade da
Crise" mostra como as agências de rating - a Standard & Poor, Moody's e Fitch -
receberam milhões em comissões ao atribuir ratings AA ou AAA a produtos e
instituições que um mês depois não valiam nada ou estavam na falência. "Inside Job - A
Verdade da Crise" mostra o papel catastrófico que o secretário de Estado do Tesouro,
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Henry Paulson, teve no despoletar da crise, ao deixar falir a Lehman Brothers e ao


salvar a Goldman Sachs, de que tinha sido anteriormente presidente. Mostra ainda a
falta de vergonha de diversos presidentes de instituições financeiras, que se retiraram
com milhões de dólares nos bolsos, apesar de elas só terem sido salvas pelo dinheiro
dos contribuintes. Mostra como a ganância ultrapassou tudo: quem tinha cinco casas
queria dez, quem tinha dez jatos queria mais. Mostra como dirigentes europeus viram
os seus avisos sobre o tsunami que se aproximava permanentemente desvalorizados.
Mostra a hipocrisia absoluta desses senhores, quando disseram a Dominique Strauss-
Kahn, presidente do FMI, que deveriam ter sido mais regulados para conter a sua
ganância.

"Inside Job - A Verdade da Crise" mostra como milhões de pessoas em todo mundo
perderam as suas poupanças e os seus empregos por causa de muitos destes senhores
importantes que não passam de uns bandalhos sem ética nem moral. A pílula amarga
que o filme nos deixa é que muitos deles foram chamados pela Administração Obama
para darem os seus conselhos. O negócio segue dentro de momentos.

Nicolau Santos (www.expresso.pt)


Quinta feira, 23 de Dezembro de 2010
http://aeiou.expresso.pt/o-contrarrelogio-de-socrates=f622479

Texto 2.

[…]

Tudo isso à custa do crescimento da pobreza no mundo, principalmente em países que


abandonaram todos os tipos de investimentos produtivos, a partir da pressão para que o
Estado se afastasse de determinados setores da economia. Em várias partes do mundo,
esta retirada desmantelou, por exemplo, a produção agrícola, resultando hoje em crise
da produção de alimentos e o encarecimento dos mesmos, afetando principalmente a
população mais pobre. Seria cómico, se não fosse trágico.

A chegada da crise a todos os continentes (com menor impacto nas nações da periferia
que se apoiaram em um mercado interno em expansão), evidenciou o estrago feito pelas
políticas neoliberais. Mas isso não significa que os agentes responsáveis pela
quebradeira, pela ação gananciosa que ampliou a pobreza inclusive em países como os
Estados Unidos, tenham sido punidos. Ao contrário: o documentário mostra que muitos
deles ocupam hoje cargos importantes na estrutura administrativa daquele país. Foram
indicados por Barack Obama, ilusoriamente visto como a saída para o caos econômico
que atingiu os EUA.

O que deduzimos de Inside Job é que a maioria dos seres humanos não vivem no
sistema descrito pelo filme. Vivem sob ele. Quero dizer que a enorme maioria das
pessoas vive no submundo do que se pode caracterizar como capitalismo. Algo já dito,
de outra maneira, pelo historiador francês Fernand Braudel, para quem o capitalismo
deveria ser dividido em uma economia superior, onde se faz o capital, e uma economia
inferior, onde praticamente as pessoas trabalham e produzem para sobreviverem. Aí se
encontram-se as grandes maiorias. O impressionante é a quantidade daqueles que,
vivendo nesse submundo, são submetidos a uma verdadeira lavagem cerebral.
Acreditam poder atingir a riqueza daqueles que controlam os meios pelos quais ela é
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conquistada. Talvez esta ganância obsessiva explique por que há tanta corrupção no
mundo.

Mas é evidente que creio ser possível superar os abusos do capitalismo. Pode-se mesclar
algumas coisas que são positivas, com a necessidade de se distribuir a riqueza de forma
mais democrática. E o Estado é essencial para isso. Não sou pessimista. Jogo no time
dos que acreditam que um outro mundo é possível!

PS: Sugiro aos interessados em Inside Job que assistam também outros dois
documentários: Enron, os mais espertos da sala e Corporation. Se tiverem tempo, vejam
também Capitalismo, uma história de amor, de Michael Moore. A partir daí será difícil
entender porque tantos defendem que o capitalismo é o melhor sistema para a
humanidade.

Por Romualdo Pessoa, editor de Gramática do Mundo

http://www.outraspalavras.net/2011/03/16/inside-job-e-as-entranhas-do-capitalismo/

Selecção e organização de J. Costa|Março de 2011

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