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BRINCAR e
SENTAR
Uma mudança de
perspectiva para o
espaço público
Bernhard Meyer
Stefanie Zimmermann
Cidades para
BRINCAR e
SENTAR
Uma mudança de
perspectiva para o
espaço público
Bernhard Meyer
Stefanie Zimmermann
Brasil
2020
Iniciativa Realização
Todos os direitos autorais estão reservados a
Cidades para brincar e sentar:
Bernhard Meyer, Alemanha, 2020
Os direitos de publicação no Brasil estão uma mudança de perspectiva
reservados ao Instituto Alana, São Paulo para o espaço público
Bernhard Meyer
1ª edição. Ano 2020, São Paulo
Stefanie Zimmermann
Tradução
Gehrard Brodt
ALANA Coordenação
Laís Fleury
Presidente
Ana Lucia Villela Coordenação editorial
Regina Cury e Tatiana Cyro Costa (Alemanha)
Vice-presidentes
Alfredo Villela Filho e Marcos Nisti Projeto gráfico, diagramação e ilustrações
Anelise Stumpf
CEO
Marcos Nisti Revisão editorial
Laura Leal e William Nunes
Diretora de Gestão de Pessoas e Recursos
Lilian Okada Revisão técnica
Diana Pallares Silva, Gabriela Callejas, Laís Fleury, Paula
INSTITUTO ALANA Mendonça, Raquel Franzim, Tatiana Cyro Costa e Thaís
Oliveira Chita
Diretoras-executivas
Carolina Pasquali e Isabella Henriques Revisão e preparação de originais
Carolina Tarrío e Thaís Oliveira Chita
Fotos
Acervo pessoal Prof. Bernhard Meyer
Programa Criança e Natureza Fabian Schumacher (fotografie-schumacher.de)
Holger Hill (holgerhill.com)
Viviane Tiezzi, BIGRS
Coordenadora
Laís Fleury
Pesquisadora
Maria Isabel Amando de Barros Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Assessora Pedagógica
Meyer, Bernhard
Paula Mendonça Cidades para brincar e sentar [livro eletrônico] :
uma mudança de perspectiva para o espaço público /
Ponto Focal na Alemanha Bernhard Meyer, Stefanie Zimmermann ; [tradução
Gerhard Brodt]. -- 1. ed. -- SÃO PAULO : Instituto
Tatiana Cyro Costa Alana, 2020.
PDF
Assessoras de Comunicação
Título original: Cities
Carolina Tarrío e Raika Julie Moises ISBN 978-65-88653-01-2
6 Prefácio
104 Autores
Como um projeto
para a cidade começa?
A reconquista do
espaço público
17’9’’
50º
70º
95 cm
10’
15’
25’ 25’
2
Nas cidades brasileiras, a largura da calçada é definida de pessoas que deve estar desobstruída – , é de
em função da norma NBR9050 Acessibilidade a 1,50m, sendo que o mínimo admissível é 1,20m. Os
edificações, mobiliário, espaços e equipamentos municípios definem a largura mínima dos passeios
urbanos, da Associação Brasileira de Normas de acordo com essas diretrizes, e as dimensões
Técnicas (ABNT). De acordo com ela, a “faixa livre” exigidas podem variar de acordo com o tipo de via
recomendada – parte da calçada usada para fluxo ou bairro em que a calçada está.
Intervenção
temporária realizada
em São Paulo que,
em vez de priorizar
os veículos, valoriza
a mobilidade a pé
de crianças no
entorno escolar
Mudanças demográficas
Raio de exploração
Imigração ou emigração, taxa de nata-
lidade, mortalidade. Esses são os três Em assessoria a municípios alemães,
fatores centrais para o desenvolvimen- o que foi percebido é que as crianças
to demográfico. A gradual mudança classificam as ruas nem como particu-
estrutural que o acompanha, transfor- larmente boas, nem como ruins. São,
ma visivelmente as sociedades. Devido acima de tudo, chatas. Em 2000, um
à tendência de cada vez mais países dos estudos apontou que 52% de 1.036
terem uma maior expectativa de vida crianças em idade escolar considera-
da população urbana, e um declínio si- vam as ruas geralmente entediantes.
multâneo da taxa de natalidade, a por- Em outra pesquisa, já em 2016, com
centagem de idosos está aumentando 117 alunos, essa porcentagem alcan-
em comparação à quota de jovens (7). çou 61%. Esses resultados não surpre-
Espaços e
riscos
Centro Centro
da cidade juvenil
Amigos
Ilha de
Parentes moradia Escola
Lanchonete
dos alunos
Discoteca Cursos
3. Modelo de “confinamento”
Amigos
Clube Parentes
Ilha de
moradia
Escola
de música Escola
Jürgen Zinnecker aponta para um de- biente de vida das crianças é deslocado
senvolvimento no sentido contrário, para espaços protegidos, separados do
que limita os espaços de ação de uma ambiente natural, delimitados por locais
maneira qualitativamente nova. “O am- de ação e por outras faixas etárias (38).”
Muros altos separam o espaço privado do público, gerando segregação e insegurança nas ruas
Mudanças de
perspectiva
Bronfenbrenner e Schmidt-Denter/
Manz (45) consideram o enfrentamento
É preciso estar atento às necessidades e
curiosidades das crianças de hoje da transição da família para o jardim de
infância5 como uma amostra da capaci- ses dos seus desenvolvimentos históri-
dade da criança de passar por outros cos, nas quais as estruturas sociais con-
contextos socioambientais. E descon- vencionais continuam a funcionar e,
tinuidades também podem ser vistas ao mesmo tempo, são liberadas novas
como oportunidade. Transições ligadas estruturas que se desenvolvem ou já
ao ciclo de vida ou a estações do ano se desenvolveram de acordo com uma
são frequentemente celebradas com ri- lógica histórica diferente das conven-
tuais. Mas também faz parte do repertó-
cionais. “As sociedades em transição,
rio de comportamentos humanos evitar
portanto, apresentam estruturas inde-
e adiar a solução de problemas, como as
cisas”, constataram Böhnisch/Schefold,
transições graduais do comportamento
em 1985 (46). Isso mostra que a mu-
“normal” para o vício, por exemplo.
dança de perspectiva, e a adoção de
Sociedades de transição representam, outra, é típica de situações de transição
de acordo com as ciências sociais, fa- biográficas e estruturais.
5
No Brasil, corresponde à etapa educação infantil
que está dentro do nível educação básica.
Aprendizagem
democrática
7
Heliópolis Bairro Educador – Documentário: 8
http://www.cpcd.org.br/ Acesso em: 27 de agosto
https://youtu.be/YFZmtO7Z2Y0. Acesso em: 26 de de 2020.
agosto de 2020.
Sempre que adultos – mesmo que bem suas memórias de infância, só que as
intencionados – procurarem dialogar condições de vida mudaram. As per-
com crianças, ou seja, quando estabe- cepções de mundo correm o risco de
lecerem um canal de comunicação, de divergir enquanto pais, mães e respon-
escuta, é importante que estejam aten- sáveis, educadores e gestores públicos
tos a três possíveis situações: não atualizarem suas perspectivas com
base na atual leitura das crianças.
A armadilha da memória
A armadilha da diminuição
Apenas lembrar-se de como era em
nossa época não é suficiente. É preci- É possível que alguns adultos tenham
so reconhecer um “atraso do tempo”, percebido que o mundo é diferente
visto que muitos adultos preservaram quando visto sob a perspectiva da altu-
uma realidade baseada no passado. ra da criança, ou seja, desde baixo. Esse
É natural que os adultos recorram a é um importante ponto de partida, mas
As perspectivas
singulares
de crianças
e idosos
Idade (anos)
2-5 6 7 8 9 10
Brincar de pega-pega X
Escorregar X X
Brincar no monte de areia X X X
Brincar com água X X X X
Saltar por cima de valas X X X X X
Brincar de balanço X X X X
Jogar futebol X
Construir barracas X X X
Subir em árvores X X X X X
Brincar de esconde-esconde X X X
Andar de patins X X
Jogar pingue-pongue X X
O exemplo de Brühl
A placa inclui o título: Cidade para Brincar Brühl é uma cidade de 46 mil habitantes,
no Estado da Renânia do Norte-Vestefá-
lia. Faz parte da região de Rhein-Ruhr,
Após essa experiência, um novo proces- uma área metropolitana com quase 10
so participativo foi iniciado, em 2008, milhões de pessoas. Graças aos caste-
para trazer à tona o conhecimento advin- los Augustusburg e Falkenlust, declara-
do da vivência das crianças. Pela primei- dos Patrimônio da Humanidade, é um
ra vez no país, um projeto de desenvol- dos destinos turísticos mais importan-
vimento consistente de caminhos para tes da Renânia. Além do centro, fazem
brincar foi finalizado com sucesso. E, ao parte do município seis outros bairros,
lado dos lugares apropriados já exis- alguns com estruturas rurais.
tentes para crianças, outros 100 foram
criados, no espaço da rua, trazendo uma As experiências de Griesheim forma-
mensagem objetiva: aqui, as crianças ram o pano de fundo para a decisão
são bem-vindas. Em 8 de setembro de de também escutar as crianças sobre
2009, Griesheim tornou-se a primeira Ci- seus caminhos em Brühl. A intenção
dade para Brincar da Alemanha. era desenvolver paralelamente os
processos para tornar-se uma Cidade
Com o passar do tempo, percebeu-se para Brincar e Sentar. Em um primeiro
que vários objetos da Cidade para Brin- passo, em 2017 e 2018, foi elaborado
car também eram utilizados por pessoas o conceito para o centro da cidade e,
idosas. As experiências da Cidade para em seguida, em 2018 e 2019, foram
Brincar formaram a base para um pro- estabelecidos os planos de ação para
cesso no qual os lugares e caminhos dos os outros seis bairros.
12
No Brasil, corresponde à etapa educação infantil, 13
No Brasil, corresponde à etapa ensino fundamental,
que está dentro do nível educação básica. que está dentro do nível educação básica.
• Cada criança escreve sua letra na O emoji sorridente: acho meus ca-
folha A4 no quadrado de cima; minhos em sua maioria agradáveis.
Agradável quer dizer: não chatos,
• Coleta-se os lugares visitados a pé, diversificados, não tenho medo de
a partir da residência. Anota-se os
andar por lá, gosto de andar por lá.
lugares na folha do flipchart. Se hou-
ver vários lugares do mesmo tipo,
por exemplo, playgrounds, é preci-
so fornecer explicações adicionais
para diferenciá-los, para que todos, O emoji neutro: a maioria dos
individualmente, possam ser inseri- meus caminhos não é nem agradá-
dos no mapa. Ao final, enumera-se vel, nem desagradável. As experi-
todos os lugares citados; ências são mistas.
Minha letra
no mapa: 1ª série
Crianças demarcam seus trajetos com giz: análise de atratividade e segurança dos caminhos
Tentamos mapear lugares aos quais os ram compactados em uma única ima-
idosos e pessoas com alguma dificul- gem completa.
dade de mobilidade, mesmo que tem-
porária – por exemplo, fraturas causa- Ao criar um mapa que mostra os locais
das por algum acidente –, vão a pé. e os caminhos percorridos por, pelo
menos, cinco pessoas, a rede de cami-
• Primeiro, marque sua residência nhos dos pedestres ganha destaque:
com um círculo no mapa; tanto os caminhos comuns a crianças e
idosos, quanto aqueles utilizados ape-
• Depois, registre os locais visitados nas por uma faixa etária.
a pé. Atribua um número para cada
lugar. Adicione, na área livre ao
lado, uma descrição do lugar, por
exemplo, 1 = farmácia; Fase 4 - Identificação dos recursos
• Por fim, depois de especificar da- Uma visita aos caminhos das crianças
dos relativos à sua pessoa, marque e dos idosos foi realizada para verifi-
no mapa o caminho que percorre car as condições do espaço em relação
da sua residência até o destino. a oportunidades para o descanso e o
brincar (não a existência de brinquedos
propriamente ditos, mas sim de poten-
ciais elementos para o brincar: desní-
Fase 3 - Criação de uma
veis que convidem a saltar, muretas que
imagem completa
convidem a se equilibrar, experiências
Os resultados da pesquisa com crian- sensoriais visuais ou olfativas etc.) e, por
ças, do mapeamento das rotas escola- outro lado, para tornar visíveis as barrei-
res e o mapeamento dos idosos e de ras físicas. No caso das crianças, consi-
pessoas com mobilidade reduzida fo- dera-se a oferta de elementos existen-
Objetos Objetos
Instalações
Ruas Cidade para Cidade para Ambos Existentes
novas
Brincar Sentar
Centro 41 116 96 35 69 178
Bairros 79 313 70 157 59 481
Cidade para
brincar
Qualidades
Tiveram boas
de votos positivos, Tiveram boas
experiências
37% dos quais 167 36% experiências 54% no centro da
fundamentados nos bairros
cidade
Para onde você vai a pé? Por favor, anote os nomes das ruas.
Você pode marcar várias opções.
Escola Ginásio
Amigos
Piscina pública
(ao ar livre/coberta)
Playground
Centro esportivo
Igreja TUS
Católica Victoria
Evangélica St. Stephan
Outras
Outros caminhos
ße
ße
straße
Pfu Pfu
ngs ngs
t-Staße
täd täd
ter ter
DonaDona
Sterngasse
Str Str
aße aße
ustraustra
Sterngasse Ruas de brincar
Spielwege
gasse traße
ße ße
Spielwege
Bestand
Ster n
gasse Objeto já existente
Spielwege
Priorität A
Priorität B
Bestand
implantado na fase 1
Priorität
Priorität A
Lindenstr
g B
Südrin
ße
Priorität B Objeto a ser
aße aße
Projekt: Bespielbare Stadt
r-Stra
Prof. Bernhard Meyer
Projekt: Bespielbare
Stand: Juni 2008
implantado na fase 2
Stadt
chne
Prof. Bernhard Meyer
-Leus
Stand: Juni 2008
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ße Projeto Cidade Brincante
lm Dona
Prof. Bernhard Meyer
W ilhe
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tr Data: junho de 2008
e
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Südrin
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eth
Go
Haydnstraße
e
traß
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do r-He
T heo Sterngasse
Lindenstraße
Lindenstraße
Eichendorffstr.
Elbestraße Str.
ig grath
Freil
Friedrich-Ebert-Staße
Hofmanstraße
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Stern
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er S
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Pf
Nordri
ß e
r Stra
kfur te
Fran
B 26
14
A NBR16.071, da Associação Brasileira de Normas
Técnicas, define “altura de queda livre” como
“distância vertical máxima entre a parte claramente
destinada ao suporte do corpo e a superfície de
impacto situada abaixo.” https://www.abntcatalogo.
Blocos coloridos criam oportunidades para com.br/norma.aspx?ID=91116. Acesso em: 9 de
brincadeiras agosto de 2020.
15
No Brasil, essa distância (até a rua, um muro ou
outro mobiliário), de acordo ainda com a NBR
16071, deveria ser de 1,50 m. Se houver dois
elementos lúdicos, deve-se somar as duas áreas de
queda (como se cada um deles gerasse essa área de
1,50 ao redor), totalizando 3,0 m de distância. Tudo
isso para elementos de 1,50 de altura de queda, se
for maior essa distância também deve ser maior.12
No Brasil, corresponde à etapa educação infantil, Este objeto serve tanto para se equilibrar
que está dentro do nível educação básica. como para sentar
16
No Brasil, corresponde ao órgão ou empresa
pública em nível municipal responsável pelo
Marcações com pedras indicam os locais mais gerenciamento, operação e fiscalização do sistema
seguros para as travessias viário da cidade.
18
No Brasil, corresponde ao órgão ou
empresa pública em nível municipal
responsável pelo gerenciamento, operação
e fiscalização do sistema viário da cidade.
Cidade para
sentar
Objetos de uso não definido: As crianças brincam de Uso misto: para se apoiar e para
adultos, no início, desconfiaram pula sela com este objeto sentar-se também
Objetos com a funcionalidade de se sentar por pouco tempo, recuperar o fôlego e seguir em
frente: qual deles usar depende do espaço disponível
Mobilidade para
quem precisa de
mais tempo
Cidades para brincar e sentar 95 Capítulo 8 . Mobilidade para quem precisa de mais tempo
O playground é um lugar de perma-
nência, para o qual a criança vai a fim
de usar as opções que lá existem. Isso,
porém, não se aplica aos objetos no
espaço da rua. Eles configuram ofertas
ao longo do percurso que podem, mas
não precisam, ser utilizadas para outros
fins. Quem pula sobre o objeto azul,
disposto ao longo do caminho, logo se
Mais um modelo industrializado: serve para
se apoiar e seca rápido quando chove
Cidades para brincar e sentar 96 Capítulo 8 . Mobilidade para quem precisa de mais tempo
movimenta em direção ao próximo. Por quem precisa deles. Outras pessoas
isso, não se vê crianças que permane- não prestam atenção e, normalmente,
çam por lá. nem percebem os poucos minutos nos
quais são utilizados. Isso acaba levan-
Na Cidade para Sentar, os assentos
do algumas pessoas à impressão sub-
para curta duração se destacam por
jetiva, equivocada, de que se trata de
serem incomuns. Mas esses elemen-
objetos inúteis.
tos são notados e usados apenas por
Uma pergunta levantada com frequên-
cia foi: “Afinal, os objetos são aceitos?”
Como os 100 objetos lúdicos encontra-
dos nas ruas não receberam avaliação
individual, foram elaborados questio-
nários específicos para cada distrito
escolar. Primeiro, procuramos saber
quais deles foram percebidos. Isso de-
pende, por um lado, dos caminhos de
cada um, mas também da atenção que
lhes é dada.
Uma alteração no piso já serve para se Eis alguns comentários (avaliações pa-
orientar e trazer uma surpresa recidas foram agrupadas):
Cidades para brincar e sentar 97 Capítulo 8 . Mobilidade para quem precisa de mais tempo
• Acho os objetos engraçados. E bonitos. São divertidos.
• Bem legal.
• O caminho para a escola agora se tornou muito empolgante.
• Acho que a ideia é boa.
• Quando eu era mais novo, achava ótimo.
• Eles (os objetos) espalham bom humor.
• Eu gosto de estar lá.
• Nunca se sabe onde fica o próximo (objeto).
• Às vezes você brinca, e outras vezes não.
• Você pode brincar no caminho.
• É um bom passatempo, pois o caminho é chato.
• Se você está esperando por alguém, você pode brincar.
• Acho legal brincar de vez em quando, sem precisar ir ao parquinho.
• Você pode fazer qualquer coisa nele.
• Se alguém estiver cansado, pode se sentar neles.
• Eu posso brincar com meus amigos nessas estações.
• Acho empolgante porque é feito para crianças.
• Acho que Griesheim construiu ótimas estações para brincar.
• Devem continuar assim e construir mais coisas.
• Eu gostaria muito que continuasse assim.
• Eu acho muito bom, mas infelizmente ainda não há nada no meu caminho.
• Dá para inventar muitas brincadeiras novas.
• Nas pedras, dá para inventar muitas brincadeiras.
Cidades para brincar e sentar 98 Capítulo 8 . Mobilidade para quem precisa de mais tempo
• Inventamos uma brincadeira e é sempre empolgante ver quem ganha.
• Sem esses brinquedos, não dá para brincar na rua.
• Assim o caminho para a escola não é só para andar.
• Eles são claramente visíveis nas ruas.
• Servem como decoração também.
• Acho interessante descobrir sempre novos objetos para brincar.
• Acho bom que o caminho fique mais bonito para as crianças.
• Eles são tão coloridos.
Cidades para brincar e sentar 99 Capítulo 8 . Mobilidade para quem precisa de mais tempo
Reconhecimento em quatro grupos. Depois, os “testado-
res de objetos” se reuniram na prefeitu-
público ra, onde foram recebidos pelo Primeiro
Conselheiro Municipal, Rüdiger Mey. O
Prof. Bernhard Meyer, da Faculdade Pro-
Além da repercussão nas mídias testante de Darmstadt, criador da Cida-
locais, prêmios europeus, nacio- de para Brincar, e os representantes da
nais e regionais enfatizam o cará- administração da cidade de Griesheim
ter especialmente inovador da Ci- também as acompanharam. Por fim, 16
dade para Brincar e Sentar: ADAC crianças estavam de acordo: “Foi diverti-
2008 (1º lugar)/2009 (2º lugar), do, a maioria das coisas foi ótima.”
Deutscher Spielraum-preis 2009,
Lebendige Stadt 2009 (1º lugar), Objetos com os quais as crianças po-
Deutschland Land der Ideen 2012, diam criar várias brincadeiras diferen-
Demografischer Wandel Hessen tes foram avaliados de maneira muito
2013 (2º lugar), Der Deutsche Al- positiva. Também receberam boas no-
terspreis 2015 (4º lugar). tas os que exigiam habilidades ou po-
diam ser usados por várias crianças ao
mesmo tempo, como o redemoinho
“Spica”, o pavimento colorido nos ca-
Oficina Cidade minhos para a escola, o banco de de-
graus na praça do cemitério ou o “Dri-
em Movimento ppler”, companheiro de caminho que
parece uma bola cortada ao meio.
Algumas crianças, filhos de funcionários
da Universidade Técnica de Darmstadt,
foram visitar Griesheim, durante uma
colônia de férias organizada pela asso-
ciação “FamilienSinn” (sentido da famí-
lia), de Darmstadt. Com idades entre 7 e
11 anos, elas participaram da Oficina de
pesquisa Cidade em Movimento, com a
intenção de testar os objetos da Cida- O pavimento colorido no caminho para
de para Brincar. Para isso, saíram às ruas a escola agradou aos mais novos
Cidades para brincar e sentar 100 Capítulo 8 . Mobilidade para quem precisa de mais tempo
forneceram informações concretas em
relação a uma ponte de blocos, cujos
cabos precisavam ser tensionados no-
vamente. Uma delas afirmou: “Quando
você pisa nela, a ponte toca o chão.”
Cidades para brincar e sentar 101 Capítulo 8 . Mobilidade para quem precisa de mais tempo
pelas e com as crianças e pessoas com
mobilidade reduzida, elas são excelen-
tes para se viver em qualquer idade.
No fundo, estamos falando de tempo e
escuta. O que é importante para esses
grupos? Se descobrirmos o que ambos
querem ou precisam “fazer” nos luga-
res - se “esconder”, “pular”, “escorregar”,
“descansar” –, chegaremos a percep-
ções mais respeitosas, reais e inovado-
ras. Por isso, o foco no que querem vi- Criar pontos de encontro promove autonomia
para as crianças e mais segurança para o bairro
venciar nos espaços, e não nos desejos,
porque corremos os risco de colher res-
postas amplas demais – “brincar”, “um ele não há comunicação e sem comu-
caminho confortável” –, uma vez que nicação não pode haver uma “autêntica
eles apontam o que poderia estar por educação (60).” Segundo ele, a edu-
vir, ou seja, um passo anterior às experi- cação nunca é neutra, ela é usada ou
ências mais integrais de fato. como instrumento para a libertação do
homem ou como instrumento para sua
Percebemos que, sem pesquisar indivi-
domesticação, seu adestramento para a
dualmente, nos afastamos da compre-
opressão (61) .
ensão das relações mais humanizadas,
além de não realizar que o conhecimen- O que isso significa para o espaço pú-
to só se desenvolve por meio da inven- blico, para a cidade? Para políticos lo-
ção e da reinvenção nesses encontros. É cais, administradores, professores? E
preciso superar essa alienação para que para os habitantes da cidade? Como foi
nossa humanidade mais genuína possa possível as cidades chegarem a tantas
ser recuperada. A alternativa, para Frei- transformações e quem assim o quis? O
re, encontra-se na conscientização, ou espaço público, subtraído das crianças
seja, no entendimento da própria situ- e dos adolescentes, dos que têm ne-
ação de vida, da sua própria “leitura de cessidades especiais e dos idosos, dos
mundo” (59), com seus problemas e a pedestres, como pode ser recuperado?
solução advinda da ação e reflexão. Por Quais riscos o espaço e o processo de
isso, vivenciar o diálogo, visto que sem transformação representam?
Cidades para brincar e sentar 102 Capítulo 8 . Mobilidade para quem precisa de mais tempo
Descobrimos a conscientização desen- para a construção de uma sociedade
volvendo a mudança de perspectivas mais justa, mais humana, mais demo-
como ponto central para a alteração de crática e, certamente, mais divertida.
situações pré-estabelecidas. Da mes- Que possamos nos direcionar para as
ma maneira que alguns conseguem qualidades de desenvolvimento inte-
expressar suas experiências, relacio- gral, ludicidade, respeito às condições
nando-as ao conhecimento das pers- físicas, emocionais e à memória, todas
pectivas, outros precisam despertar e elas de alguma forma representadas
querer ampliar suas próprias percep- nos “companheiros de caminhos.”
ções. Somente a partir da ampliação
Se essas pequenas cidades na Alema-
das perspectivas, consegue-se criar
nha puderam aprender com o Brasil, a
uma Cidade para Brincar e Sentar.
partir das concepções de Paulo Freire,
São explícitas as intenções de contri- esperamos que esta publicação seja
buirmos para o aumento da mobilida- uma retribuição, e possa inspirar a mu-
de ativa, para a autonomia de crianças dança em muitas cidades brasileiras.
e idosos, para que haja mais tempo em
comunidade, usufruindo de um bem-
viver, proporcionando momentos de
pausa para que as crianças vivam suas
infâncias a partir do que é espontâneo,
do que é sua essência, e para que co-
lham velhices saudáveis e altivas.
Cidades para brincar e sentar 103 Capítulo 8 . Mobilidade para quem precisa de mais tempo
Bernhard Meyer, nascido em 1946, tra-
balhou até 2011 na Universidade Pro-
testante de Ciências Aplicadas (Evan-
gelische Hochschule) de Darmstadt,
no Departamento de Trabalho Social/
Pedagogia Social. É assistente social e
pedagogo, e lecionou em áreas como
planejamento social, trabalho comuni-
tário, pedagogia para grupos de novas
tecnologias e de baixa renda. Há mais
de 30 anos, atua com espaços do brin-
car para crianças e jovens, além de ci-
Bernhard dades mais amigáveis para pessoas
que precisam de mais tempo (crianças,
Meyer pessoas com mobilidade reduzida e
idosos). Está particularmente empenha-
do na participação desses grupos no
desenvolvimento urbano sustentável.
Ele também aborda aspectos das ciên-
cias sociais no uso de espaços públicos
e privados. Meyer assessorou diversos
municípios e implementou projetos em
mais de 70 cidades e bairros alemães.
Várias publicações sobre o tema refle-
tem essas experiências práticas. A mais
recente delas é o compêndio Mensch!
Stadt! (Cara! Cidade! em tradução livre,
disponível apenas em alemão).
bernhard.meyer@t-online.de
stefaniemaria.zimmermann@t-online.de
(15) WAHL H. W. et. al. (ed.). Alte Menschen Capítulo 2 - Espaços e Riscos
in ihrer Umwelt: Beiträge zur Ökologis-
chen Gerontologie. Opladen/Wiesba-
den: Westdeutscher, 1999. (22) HERLTH, A.; STROHMEIER, K. P.
(16) HÖPFLINGER, F. Einblicke und Aus- (Ed.). Lebenslauf und Familienen-
twicklung. Opladen: Leske+Bu-
blicke zum Wohnen im Alter. Zürich:
Seismo, 2009.
drich, 1989.