Você está na página 1de 10

Reexaminando a Psicologia: uma perspectiva Crítica e visão

africana

Elias Ricardo Sande

1. Introdução
O presente artigo consiste num resumo elaborada tendo como base
principal os capítulos 8, 9, 10, 11 e 12 do livro Re-examining Psychology de
T. Len Holdstock.
Este trabalho surge no âmbito da cadeira de Perspectivas Africanas do
Fenómeno Psicológico. O objectivo do trabalho é tornar os estudantes
cientes de diferentes aspectos que existem nas teorias psicológias
previamente elaboradas, os quais precisam ser contextualizadas e
reelaborados conforme o contexto em que forem ao aplicados.
A metodologia para a elaboração deste trabalho consistiu na revisão
bibliográfica da obra disponibilizada pelos docentes da cadeira .

2. A Psicologia Rumo a Uma Consciência Africana


Alguns intelectuais africanos (poetas e escritores) mostram-se reservados à
visão dos psicólogos Afro-americanos quanto a adequação da psicologia
Euro-americana como uma psicologia que pode ser universalmente
representativa.
Mphahlele (1987), um missionário creditado, de nome Edward Blyden,
tornou-se mentor desta ideia, chamando atenção ao comportamento
ultrajante por parte dos missionários e outros ocidentais na África. Ele foi a
primeira pessoa a falar de uma personalidade própria dos africanos. Ao
viajar para África ele se deu conta de como os seus colegas impuseram o
Cristianismo aos africanos sem ter em conta as suas religiões. Os cristãos
olharam para os africanos como pagãos e como crianças da escuridão. Ele
também percebeu que os Europeus não apreciavam a poesia indígena ou
história; além disso, ele apercebeu-se também da alienação do africano, o
qual era bombardeado com ideias negativas sobre a sua própria cultura,
obrigando-os a adoptar a cultura europeia.
Face a este cenário, intelectuais oriundos de diferentes partes do mundo
organizaram encontros na Europa e Nova Iorque para discutir a questão da
invasão do continente africano. Estas reuniões resultaram na formação do
Congresso Pan-Africano, o qual focalizou a questão da união da cultura
africana, onde os negros pudessem firmar-se perante o mundo. Eles
propunham a unidade política de toda a África e o reagrupamento das
diferentes etnias, divididas pelas imposições dos colonizadores. Valorizavam
a realização de cultos aos ancestrais e defendiam a ampliação do uso das
línguas e dialetos africanos, proibidos ou limitados pelos europeus.
O pan-africanismo é uma ideologia que propõe a união de todos os povos de
África como forma de potenciar a voz do continente no contexto
internacional. O pan-africanismo tem sido mais defendido fora de África,
entre os descendentes dos escravos africanos que foram levados para as
Américas até ao século XIX e dos emigrantes mais recentes.
Mphahlele citado por Holdstock (2000) afirma que o conceito da
Personalidade africana expressa um desejo ardente para liberdade,
autodeterminação, desejo para rejeitar o homem branco quebrando a
administração cultural dele e a reinserção da sua dignidade, restaurando
valores tradicionais, modos de vida, e hábitos.
De acordo com Mphahlele (1963) citado por Holdstock (2000), a assimilação
completa da cultura francesa arrancou as suas raízes africanas, o que deu
origem ao ressentimento contra as pretensões de civilização européia. A
negritude, tornou-se um acto de repulsão contra coisas europeias, foi uma
ideologia de valorização da cultura negra em países africanos ou com
populações afro-descendentes expressivas que foram vítimas da opressão
colonialista.
Na África do Sul, o Congresso Nacional africano construiu no espírito do
nacionalismo africano, agregando diversos grupos étnicos em um único
movimento. Este movimento se expandiu durante os anos quarenta,
culminando em reuniões de massa. As leis do país constantemente
lembravam as pessoas que eles eram diferentes, que eram negros e de
consciência naturalmente negra.
Bantu Stephen Biko, embora que não fosse psicólogo no sentido formal do
termo, expressou uma aspiração poderosa de que o africano é dotado de
aspectos psicológicos, ou seja, fez uma aproximação africana àquilo que é a
psicologia. É oportuno afirmar que o empenho de Biko teve implicações
psicológicas, pois, elevou a consciência dos africanos sobre a importância
de estar em contacto com quem eles eram e com as condições as quais eles
foram forçados para viver.
Biko queria que o movimento da Consciência Negra desenvolvesse no
africano uma auto-consciência, um senso de dignidade.
Como primeiro passo vital para emancipar os seus camaradas africanos,
Biko queria que eles apreciassem a sua bondade inata como pessoas. De
acordo com Biko citado por Holdstock (2000), vários factores contribuíram
para a pobre auto-imagem entre os negros sul africanos. Por causa da
habilidade que a cultura branca tem para resolver muitos problemas nos
campos médicos, agrícolas, e tecnológicos, tendeu a ser considerada como
cultura superior. Quase tudo o que a criança negra era exposta durante o
seu desenvolvimento reforçam até certo ponto um senso de inferioridade.
As suas Escolas, ruas, casas, instalações desportivas, e organizações são
todas diferentes das dos brancos. Estas diferenças criam um senso de
estado incompleto na sua humanidade, onde a perfeição é encontrada na
cultura branca. Isto é levado a cabo até a fase adulta.
A cultura africana se tornou num barbarismo; os brancos que estudaram o
passado dos africanos acabaram por distorcer e desfigurar a história negra;
as praticas religiosas e os costumes eram considerados superstição. A
história de sociedades africanas foi reduzida a batalhas tribais e guerras.
A consciência negra, procurou encaixar as pessoas num processo de
emancipação, livrá-las de uma situação de escravidão. O real propósito era
proporcionar esperança, fixar um novo estilo de auto-confiança e dignidade
para os negros como uma atitude psicológica que conduz a iniciativas novas
(Biko citado por Holdstock, 2000).

2.1. O Contributo de Frantz Fanon na Psicologia Africana


Fanon foi um psiquiatra proeminente que reflectiu acerca da aplicação de
princípios psicológicos na África contemporânea. A contribuição de Fanon
não se cingiu apenas a aspectos ligados ao colonialismo mas também aos
efeitos que a própria colonização causou ao africano. Ele trabalhou com a
psicologia das pessoas colonizadas (antes e depois), como também com a
psicologia da mentalidade colonial. As contribuições de Fanon ocorreram
durante os anos cinqüenta e inicio dos anos sessenta, e estas iluminaram o
africano rumo a descolonização, pois, neste período muitos países
colonizados lutavam pela libertação nacional,
Ele rejeitou o foco ontogenético de Freud no complexo de édipo, e propôs
uma perspectiva de sociogenética, enfatizando a importância de factores
culturais e sociológicos do comportamento (Fanon citado por Holdstock,
2000).
Em Freud, o complexo de Édipo é o núcleo constitucional da subjectividade.
Foi neste núcleo que Freud estabeleceu o elo para sua analogia entre o
desenvolvimento da libido individual e o desenvolvimento civilização do
indivíduo, realizando uma extensão da psicologia individual à psicologia das
massas.

Fanon também discordou com a concepção da inconsciência colectiva de


Jung, discutindo que esta era uma questão filogenética de disposições
herdadas, afirmando que a inconsciência colectiva, recorrendo ou não aos
genes, é pura e simplesmente a soma de preconceitos, mitos, atitudes
colectivas de um determinado grupo. (Fanon citado por Holdstock).
A inconsciência colectiva de Jung: segundo Jung citado por Modelli (2009), o
inconsciente colectivo, possuía sentimentos, pensamentos e recordações
que condicionavam cada sujeito (desde seu nascimento), inclusive, em sua
forma de simbolizar os sonhos. Ou seja, o modo preferencial de uma pessoa
reagir ao mundo deve-se dentre outras, a herança genética, as influências
familiares e as experiências que o indivíduo teve ao longo de sua vida.
A sociogénese de Fanon poderá sugerir uma afinidade mais íntima a Adler
do que a do Freud e Jung. Porém, ele não está totalmente de acordo com
Adler. Embora a psicologia de Adler considera factores socio-patogénicos no
desenvolvimento de problemas de saúde mental, a sua psicologia continua
centrada na dinâmica de egos distintos dentro da família, sem incorporar a
família num contexto socio-histórico e cultural.
De acordo com Fanon, os objectivos supremos da psicologia e psiquiatria
são a explicação da relação entre a psique (alma) e a estrutura social, a
reabilitação dos alienados , e a transformação das estruturas sociais que
contrariam as necessidades humanas (Bulhan, citado por Holdstock, 2000).

2.2. A Colonização da Psicologia em África


Os poetas e escritores de África, a voz da comunidade psicológica nas
suposições ideológicas da disciplina, foram relativamente emudecidos. A
razão mais óbvia é o facto de a Psicologia ter sido importada como um
produto já feito do Ocidente. Como disse Akin-Ogundeji (1991) citado por
Holdstock (2000:144), “A história da Psicologia em África é em grande parte
a história do colonialismo.”
O debate sobre as regras e a orientação da Psicologia nas sociedades
africanas ocorreu dentro de constrangimentos de paradigmas
contemporâneos. Akin-Ogundeji (1991) lamenta o facto de a Psicologia em
grande parte dos países de África (Nigéria) cingir-se ainda em pesquisas de
sala de aula, principalmente interessada com os rigores de trabalho
empírico, que são de pouca relevância prática para os problemas da vida na
sociedade contemporânea. Os relatórios de pesquisa são muito “artificiais”,
"seco", "sem sentido", ou "irrelevantes" e para serem significantes Akin-
Ogundeji clama por fundamento da Psicologia africana dentro das
realidades sócio-culturais e das experiências humanas na África.
Nsamenang citado por Holdstock (2000), diz que a Psicologia de natureza
Eurocêntrica importada para África é questionável quanto a sua relevância
para o continente Áfricano. Os métodos de pesquisa convencionais são
incapazes de acessar e avaliar as perspectivas do desenvolvimento do
africano. Ele problematiza a importância da cultura no desenvolvimento, e
defende a contextualização no sentido de se ter uma compreensão do
desenvolvimento humano em África. As metodologias de pesquisa precisam
ser contextualizadas, as ferramentas de avaliação têm que ser sensíveis à
cultura.
Na altura do Apartheid, na Àfrica do Sul verificaram-se divergências de
opiniões quanto ao modo de exercício da Psicologia. Um grupo (o grupo
dominante-brancos) defendia o uso do estado actual psicológico como ponto
de partida. Outro grupo (negros) clamava por uma revisão do estado actual
da Psicologia. Os que aderiam à manutenção do estado actual da Psicologia
(o grupo dominante) descreveram-se como “progressivos”, “liberais”, e
“políticos”. São indivíduos deste grupo que na maioria dos casos
administrou psicologia nos moldes tradicionais (psicologia ocidental), e que
foram acríticos sobre as políticas da disciplina durante a era de apartheid.

3. Rumo a uma Visão Mundial Africana


Em África, holismo é uma experiência vivida. Existe a convicção de que tudo
deve permanecer junto, o que é traduzido directamente no quotidiano.
De acordo com a InfoEscola (2008), o holismo (grego holos, todo) é a ideia
de que as propriedades de um sistema, quer se trate de seres humanos ou
outros organismos, não podem ser explicadas apenas pela soma de seus
componentes. Isto é, é uma maneira de ver o mundo, o Homem e a vida em
si como entidades únicas, completas e intimamente associadas.
Kruger citado por Holdstock (2000), descreve a visão geral dos curandeiros
indígenas sul africanos, expressando bem o holismo em África. Ele afirma
que os curandeiros indígenas moram num mundo não dividido no qual
animais, plantas, humanos, sonhos, e antepassados, todos juntos formam
um pedaço.
Podem ser citados exemplos que demonstram a operação de consciência
única na África. Por exemplo, dentro da esfera de relações interpessoais, as
pessoas são consideras doentes se alguém que estiver perto delas estiver
doente. Os gémeos são considerados como sendo uma única entidade e não
como indivíduos separados. Não se dirige a um gémeo como um ser único,
mas sim como parte integrante do outro. Na morte de um gémeo, o
sobrevivente simbolicamente desce para a sepultura durante a cerimónia de
enterro.

3.1. A Religião, a Força Vital e o Conceito da Divindade


Os africanos são altamente religiosos, não necessariamente no senso de
participação de igreja ou aderência a um dogma religioso específico, mas no
senso de honrar o que representa uma preocupação da humanidade.
Para Mbiti citado por Holdstock (2000) as ideias sobre Deus para os grupos
africanos, é expresso em milhares de nomes, tendo em consideração quatro
categorias gerais: o que Deus faz, as imagens de Deus, a natureza de Deus,
e a relação com Deus.
É diferente o modo pelo qual os ocidentais confiam nas suas habilidades
para dominar todos os problemas, incluindo um ao outro, a natureza, e o
universo. Se restringindo para o observável e a para o racional, falta à
ciência Ocidental a habilidade e perspectiva para compreender a realidade
africana.
Descrevendo psicologia africana, Parrinder (1969) citado por Holdstock
(2000:167) afirma que “o Homem não é só um indivíduo, ou somente um
ser social; ele é uma força vital que continua em contacto com outras
forças. Ele as influencia, mas elas também o influenciam constantemente”.
A força vital está dentro de todos os homens e criaturas, formando um laço
entre eles.
Mphalele (1984) citado por Holdstock (2000:168) afirma que “nós todos
somos os dedos da mesma mão, que é Deus. Cada dedo é diferente do
outro, contudo a força da mão será achada dentro da acção coordenada dos
seus diferentes componentes.” O ser humano não é só uma força vital, mas
uma força vital em participação.
Das participações vitais, nenhuma é mais importante que a relação com os
antepassados, porque os antepassados são os intermediários entre a vida e
a morte (Ikenga-Metuh citado por Holdstock, 2000). Os antepassados são
frequentemente chamados mortos-vivos, uma indicação de que a
demarcação entre vida e morte na África não é tão definitivo quanto no
Ocidente.
A existência e a presença dos antepassados não são interrogadas na Africa.
Um mundo sem eles não é possível. Isto é igualmente verdade tanto para as
pessoas nas zonas rurais, como para as pessoas de zona urbana. Até
mesmo africanos que pertencem as igrejas Cristãs integraram a sua
convicção nos antepassados com a noção Cristã do Espírito Santo.
Sem a constante intervenção e proximidade dos antepassados não haverá
um futuro feliz.
Quando o respeito à memória do defunto é pago através de cerimonias
apropriadas, os antepassados, em geral, são vistos como guardiães
benevolentes, capazes de interceder em nome das pessoas vivas. É por isso
que os africanos estão dispostos a comprometerem-se com certas
obrigações requeridas pelo morto. (Murray, citado por Holdstock, 2000).

3.2. A Dimensão Interpessoal


Os Africanos sempre estiveram mais interessados em relações humanas do
que em lugares ou coisas, pois eles não têm contudo, qualquer grau
significante. Pessoas propõem mais prazer, do que lugares (Mphahlele
citado por Holdstock, 2000).
A expressão ubuntu, é um conceito que carrega a ideia de força baseado
nas qualidades de compaixão, cuidado, bondade, respeito, e empatia. Uma
pessoa sem ubuntu é considerada como alguém digno de piedade ou
desprezo.
Conceitos ocidentais que provêem a aproximação mais íntima a ubuntu são
empatia, compaixão, e consideração de positivo incondicional (Holdstock,
citado por Holdstock, 2000). Infelizmente, em psicologia, foram associadas
empatia e consideração positiva ao comportamento terapêutico profissional
efectivo onde estas atitudes vão surgir em troca de recompensa financeira,
do que surgir como componentes básicos de relações interpessoais
quotidianas. Na realidade, as condições que Rogers (1951) descreve como
necessárias e suficientes para psicoterapia efectiva, é parte e pacote da
psicologia do povo de África. Os ocidentais que tiveram a oportunidade de
participar ou observar a sociedade africana ficaram surpresos devido a
capacidade que os africanos têm de falar uns com os outros, pelo simples
facto de gostarem da companhia um do outro.
A intimidade dos africanos não é restringida para os amigos mais próximos,
mas sim a um grupo inteiro de pessoas que vêm juntas do trabalho ou que
estão num convívio. Sendo assim, eles compartilham os seus segredos,
alegrias, e aflições; ninguém se sente intruso no assunto do outro. Pelo
contrário, é bem-vinda a curiosidade, surgindo deste modo um desejo para
compartilhar.
A aproximação dos africanos nas suas relações interpessoais contrasta com
a necessidade da privacidade que os ocidentais têm. A consciência africana
tenta recapturar algum do senso tradicional de comunidade onde os
homens e mulheres são juntamente envolvidos na especulação de uma
resposta para os diversos problemas da vida.
Há bebés que dormem pacificamente nas costas da mãe durante o mais
enérgico de danças cerimoniais ou sentando no colo dela enquanto esta
bate os tambores durante alguma ocasião festiva ou cerimonial.
Embora existam biberões na comunidade africana, normalmente as crianças
são amamentadas através do seio da mãe. Logo ao nascer, as crianças
dormem com as suas mães e são carregadas nas suas costas, por outros
adultos, por irmãos ou irmãs. Isto assegura um maior contacto físico
durante os primeiros anos, em contraste com bebés europeus que logo a
nascença são colocados em camas/berços ou transportados em cadeirinhas
apropriadas. A forma como o bebé é embrulhado quando está nas costas da
mãe, como é segurado ao ser alimentado, sugere que é provável que
influencie no desenvolvimento do cérebro da criança, isto é, a proximidade
entre da criança com o corpo da mãe, certamente vai ter um efeito no
desenvolvimento de confiança implícita na criança.
Esta confiança do africano tem implicações directas para saúde mental
como também para a expressão artística.

4. O Romanticíssimo na Psicologia
4.1. A Dimensão Estética dos Africanos
Apesar de a preferência estética e a criatividade constituirem um aspecto
complexo da cognição e do comportamento consciente, estes não são dados
a devida atenção em psicologia. De acordo com Hillman citado por
Holdstock (2000), esta negligência pode ser atribuída à falta de
sensibilidade estética na psicologia em geral.
Hillman citado por Holdstock (2000) clama por uma psicologia que tem a
sua base na imaginação das pessoas mais do que nas suas estatísticas e
diagnósticos. No estudo de casos clínicos, ele quer que seja aplicada uma
mente poética e não científica. De todos males da psicologia, Hillman
considera a negligência da beleza a mais grave. A Psicologia tem que
encontrar o caminho para a beleza se manter viva, a beleza é a cura para
males psicológicos. Ele afirma que a Psicologia precisa encontrar também o
apoio inesperado do trabalho de neurocientistas nos quais eles elucidam a
sobrevivente e evolucionária importância das estéticas.
Neste sentido, é importante que o foco tradicional na análise de objectos
estéticos e das idéias fixadas em obras de arte seja substituído por uma
aproximação mais dinâmica para a arte na qual o foco é trocado rumo à
análise do comportamento estético. Siegfried citado por Holdstock, 2000).
Embora o estudo do comportamento estético tenha sido negligenciado na
psicologia, tem que se ter cuidado em não cometer o mesmo erro no
desenvolvimento de uma psicologia Africentrica, especialmente desde que a
dimensão estética constitua um aspecto importante da vida em África.
A arte compromete a pessoa à comunidade. Esta talvez é a razão pela qual
as crianças ainda pequenas, são expostas à canções, a música, e as danças
da comunidade. Tonder (1987) citado por Holdstock (2000:184) exemplifica
que “A mãe africana canta para o seu filho e expõe-lhe a diversos aspectos
da música desde a tenra idade. Ela treina a criança para se dar conta do
ritmo e do movimento balançando-a à música, cantando para ela imitando
ritmos de tambor”. Desde cedo as mães dançam com bebês nas costas e
batem os tambores com elas ao colo. As crianças adquirem habilidades
artísticas e de dança com a mesma facilidade que aprendem caminhar e
falar.
O rítmo é o arquiteto do ser, é a mais pura expressão de força da vida em
África. O rítmo provê a dinâmica interna, a qual estrutura a fala, música,
dança, poesia, teatro, e o desempenho atlético. Sem o rítimo, o africano
torna-se um barco que vagueia no mar da vida. O rítmo traz o propósito e o
significado, aumenta a compreensão e o senso de ser; une o indivíduo com
a força cósmica; ergue os espíritos, e assim, cura. Está é a base das
técnicas usadas por curandeiros indígenas para alcançar estados alterados
de consciência, habilitando-os ao divino e a cura.

4.2. Ritmo na Poesia, Música, Movimento e no Teatro


De acordo com Senghor citado por Holdstock (2000), não há nenhuma
diferença fundamental entre prosa e poesia em literatura africana. Para
Senghor o poema não estará completo a menos que seja cantado ou dado
um acompanhamento musical. Porém, até mesmo sem canção, poesia é
música.
De acordo com Nketia (1974) citado por Holdstock (2000:188) as culturas
musicais das sociedades africanas entre o norte islâmico e o europeu sul,
“formam uma rede de tradições distintas contudo relacionadas, as quais
sobrepõem-se em certos aspectos de estilo, prática, ou uso, e partilham
características comuns de padrão interno, procedimento básico, e
similaridades contextuais. Estas tradições musicais relacionadas constituem
uma família distinta das do ocidente ou do oriente”. Porém, até mesmo no
sul, a atitude hostil dos missionários para música africana, especialmente
para o tocar do tambor, o qual era associado a práticas pagãs, e depois, a
exclusão de músicos tradicionais e a sua música de instituições
educacionais, sem querer assegurou a continuidade de música tradicional
em sua forma original.
A música na cultura africana caracteriza por estados emocionais. Ela não só
serve como um meio de comunicação interpessoal, mas também liga a
vivência com os antepassados e ambos com a divindade. Nas sociedades
africanas, a música é a comida da vida em um sentido literal, é geralmente
compreendida como uma experiência humana que incorpora dança e
poesia.
De acordo com o Warren e Senghor citado por Holdstock (2000) a repetição
é a essência de ritmo africano. Para Senghor manter a repetição provê a
força unificada necessária que permite o tocar ou a escuta de complexas
improvisações polirítmicas, sem que a forma básica seja perturbada.
Na cultura tradicional africana, a dança serve para uma multiplicidade de
funções. A dança une todos os aspectos do indivíduo: corpo, emoção,
espírito, e razão em um todo transcendente, e por outro lado, une o
dançarino a todo o mundo de viver e dos defuntos. Dançar tem uma função
importante na socialização de rapazes e meninas em termos de valores do
grupo a que pertencem e de manter esses valores entre adultos. Em danças
de guerreiro há uma relação espiritual forte entre vida e morte.
Uma característica muito distintiva da dança africana é a sua relação à
terra. Nas formas de dança Ocidentais os movimentos são claros e
passageiros. Os dançarinos se esforçam para flutuar ligeiramente do chão o
quanto possível. A dança africana, pelo contrário, fica perto do chão. Se são
executados saltos o propósito é sempre voltar para o chão e não quebrar o
contacto com mãe terra. Curandeiros indígenas dançam descalços. Dançar
com sapatos é um sinal de que o curandeiro perdeu o contacto com os
antepassados.
O rítmo faz parte do teatro africano e arte uma vez que é acompanhado de
música, dança, poesia e movimento.
5. Conclusão
A dimensão holistica do modo de estar em África tem uma grande transação
para contribuir à maneira na qual nós nos aproximamos e geralmente
administramos psicologia no continente africano. Enfatiza-se o facto de que
o ser humano precisa de ser considerado como sendo um todo. Em termos
africanos, não somos apenas racionais, mas também afectuosos.
A Psicologia africana avalia a dimensão espiritual como também assuntos
mundanos do dia a dia. Os conceitos de espírito e alma estão relacionados.
O conceito “ubuntu” em África, incorpora as três condições que Rogers
considerou ser necessário e suficiente para uma psicoterapia. Além disso,
“ubuntu” considera a implemetação das considerações de Rogers no
comportamento quotidiano da pessoa.
A visão que o mundo tem de Africa reforça a noção expressa em psicologia
cultural que o indivíduo não pode ser estudado isoladamente do seu
contexto histórico, social, e geográfico. O desafio para a psicologia não é
apenas ajudar os indivíduos problemáticos a resolver as suas dificuldades
quotidianas, mas também procurar investigar a estrutura e a natureza da
sociedade onde o indivíduo está inserido.

Questões ligadas a saúde mental diferem segundo as orientações culturais


de cada sociedade, e precisam ser respeitadas, tornando-as parte da
psicologia clinica.
6. Bibliografia
Holdstock, T. L. (2000). Re-examining Psychology – Critical perspectives and
African insights. USA/Canada: Routledge.
InfoEscola (2008). Holismo. Disponível a 27 de Março de 2010 em
http://www.infoescola.com/filosofia/holismo-holistico/
Modelli, N. (2009). Os tipos psicológicos de Carl Jung. Disponível a 27 de
Março de 2010 em http://nairamodelli.wordpress.com/2009/06/15/os-tipos-
psicologicos-de-carl-jung/

Você também pode gostar