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EXCELENTISSÍMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL

CÍVEL – LESTE 1 – UNIDADE VIII – DESTA CAPITAL.

LUIZA DE SENA ROSA TONINI, brasileira, viúva, portadora da cédula de


identidade nº 027.358.76-1 IFP/RJ, inscrita no CPF sob o nº 309.564.557-00, residente e
domiciliada na AV. Horácio Ribeiro, 5501, Bloco 02, Aptº 202, Condomínio Passárgada,
bairro Campestre, em Teresina-PI. Vem respeitosamente à elevada presença de Vossa
Excelência, por intermédio de seu advogado ao final assinado, propor a presente;

AÇÃO OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C DANOS MATERIAIS E MORAIS

em face de JOSÉ SARAIVA TUPINAMBÁ NETO, brasileiro, residente e domiciliado na


AV. Horácio Ribeiro, 5501, Bloco 02, Aptº 102, Condomínio Passárgada, bairro
Campestre, em Teresina-PI. Pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidos.

I-DA SINOPSE FÁTICA

A autora, reside no condomínio Passárgada situado na zona leste desta capital


tendo por vizinho o requerido acima qualificado. Ocorre Excelência, que, o requerido
possui um verdadeiro abrigo para GATOS no seu apartamento, causando prejuízos
materiais, estéticos e psicológicos aos demais condôminos. Tendo em vista, que, os
referidos animais violam os apartamentos através das grades, espalhando fezes dentro
das residências, bem como vômitos, urina e pelos, o que tem causado graves
aborrecimentos para os moradores daquele edifício. Violando, assim, regras básicas de
boa convivência que devem ser observadas em qualquer espaço para que se possa viver
coletivamente em harmonia e tranquilidade.

Cumpre destacar, que o requerido não tem o menor cuidado com a higienização
do seu apartamento causando forte odor em todo o bloco, impossibilitando inclusive a
requerente de permanecer em sua varanda.

Nesta senda, a requerente por diversas vezes buscou solucionar o citado


problema com o requerido, pedindo a esse que buscasse conter seus felinos distantes do
seu apartamento. Porém, o requerido sempre agiu com indiferença, pouco se importando
com as reclamações apresentadas, tanto pela requerente, como pela administração.

A requerente ainda, Excelência, buscou colocar lonas nas janelas e porta de seu
apartamento com o intuito de coibir a entrada dos animais para sua residência. Porém,
infelizmente em nada adiantou, gerando apenas maiores prejuízos a requerente que
efetuou despesas que somam 1.000,00 (hum mil reais) para a colocação por duas vezes
das referidas lonas, almejando a paz em seu lar.

Vale lembrar, que recentemente um dos felinos (dentre os mais de 20 gatos que o
requerido possuí) acabou morrendo na caixa do condicionador de ar do requerido
permanecendo lá por mais de 48h, o que demonstra total incapacidade do requerido para
manter sob sua guarda qualquer animal, bem como o total desrespeito com os demais
moradores. Causando verdadeiro estado de insalubridade para os que ali residem, posto
que, tais animais podem transmitir doenças (alergias, micoses, toxoplasmose,
esporotricose, síndrome da larva migrans visceral e ancilostomíase) através das fezes,
saliva ou pelos. naquele bloco não restando outra saída, senão, bater as portas do poder
judiciário para solucionar tal contenda.

II- DO DIREITO

Assegura a carta política da república em seu art. 5º, XXXV, que;

XXXV - A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário


lesão ou ameaça a direito;

Neste sentido, faz-se necessária a judicialização do presente caso, posto, que, a


requerente sofreu lesão de ordem material, estética e moral, pelos prejuízos causados por
animais abrigados pelo requerido, sendo deste último a responsabilidade pelos danos
causados a requerente conforme preceitua o Código Civil em vigor.

Desta forma, preceitua a lei civil, em seu art. 936, 927 in verbis;

Art.936- O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por


este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior.

À vista desse panorama, deve-se aplicar à presente hipótese a regra presente no


art. 1336, IV, do Código Civil, que versa que;

Art. 1336- são deveres do condômino;

IV- dar às suas partes a mesma destinação que tem a edificação, e


não as utilizar de maneira prejudicial ao sossego, salubridade e
segurança dos possuidores, ou aos bons costumes.

Com efeito, a conduta do requerido em manter em seu imóvel uma grande


quantidade de animais em situação inadequada de higiene revela a sua incapacidade
para tal atividade, sendo mais correta a solução de obrigar a retirada dos animais do
apartamento, tendo em vista, que, o requerido não tem capacidade de mantê-los dentro
de sua unidade autônoma sem perturbar a vida dos demais condôminos.

Vale lembrar, que por diversas vezes a administradora enviou cartas ao requerido
esclarecendo o que dispõe o art.4º, inciso 22, do regimento interno do condomínio onde
se proíbe a criação de animais, de qualquer porte, exceto no caso de cães guias, bem
como informava ao requerido sobre o entendimento jurisprudencial acerca da
possibilidade de criação desde que seja feita no espaço correspondente a sua cota
condominial, o que nunca fora observado pelo requerido, conforme diversas provas
acostadas nos autos.

De acordo com os ensinamentos de Cristiano Chaves de Farias e Nelson


Rosenvald;
“Nos direitos de vizinhança a norma jurídica limita a extensão
das faculdades de usar e gozar por parte de proprietários e
possuidores de prédios vizinhos, impondo-lhes um sacrifício
que precisa ser suportado para que a convivência social seja
possível e para que a propriedade de cada um seja respeitada.
(...) Aplica-se a máxima: Nosso direito vai até aonde começa o
de nosso semelhante. (...) O princípio geral a que se
subordinam as relações de vizinhança é o de que o proprietário,
ou o possuidor, não podem exercer seu direito de forma que
venha a prejudicar a segurança, o sossego e a saúde dos que
habitam o prédio vizinho.”. (Direito Civil - Direitos Reais, 6ª
edição, 2009, ed Lumen Juris, p. 435-436; 439)

Nos termos da orientação jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça deve


prevalecer o ajustado entre os condôminos na convenção do condomínio acerca da
criação de animal em unidade condominial, conforme se destaca a seguir:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO DE VIZINHANÇA E DE


PROPRIEDADE. ANIMAIS EM CONDOMÍNIO. FELINOS.
LIMITAÇÃO. POSSIBILIDADE. CONVENÇÃO DE CONDOMÍNIO.
LEIS ESTADUAIS Nº 4.785/08, 4.808/06 E 6.464/13.
PONDERAÇÃO DE INTERESSES. RAZOABILIDADE. PRESENÇA
DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À CONCESSÃO DA TUTELA
ANTECIPADA. EXCESSO DE ANIMAIS QUE CIRCULAM NA
ÁREA COMUM E QUE PREJUDICAM O SOSSEGO, A SAÚDE E
SEGURANÇA DOS CONDÔMINOS. RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO. 1. Recurso manejado por Condomínio em face de
condômina com a finalidade de compelir a moradora a limitar o
número de gatos que mantém em seu apartamento. 2. Nos
termos da orientação jurisprudencial do Superior Tribunal de
Justiça, deve prevalecer o ajustado entre os condôminos na
convenção do condomínio acerca da criação de animal em
unidade condominial, desde que não comprometam a higiene e
a tranquilidade do condomínio. 3. Convenção do condomínio
que prevê vedação expressa acerca da posse e manutenção no
edifício de animais domésticos, com ressalva àqueles que
possuam autorização. 4. As Leis estaduais nº 4.785/2008,
4.808/06 e 6.464/13 garantem a habitação de animais
domésticos nas unidades residenciais e apartamentos de
condomínios desde que observadas condições adequadas de
bem-estar, saúde, higiene, garantindo-lhes comodidade,
proteção e alojamento com dimensões apropriadas ao seu
porte e número. 5. Restou evidenciado que o número de felinos
mantido pela condômina extrapola o limite do tolerável,
devendo a possuidora se subordinar as relações de vizinhança
de tal modo que não possa exercer seu direito em prejuízo à
segurança, ao sossego e à saúde dos que habitam o prédio. 6.
Presença dos requisitos autorizadores da tutela antecipada. 7.
Recurso parcialmente provido, nos termos do art. 557, §1º-A, do
CPC
AGRAVO DE INSTRUMENTO - 1ª Ementa DES. ELTON LEME -
Julgamento: 22/02/2016 - DECIMA SETIMA CAMARA CIVEL .

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


CIVIL. CONVENÇÃO DE CONDOMÍNIO. CRIAÇÃO DE ANIMAL.
PROIBIÇÃO SOMENTE DAQUELES QUE COMPROMETAM A
HIGIENE E A
TRANQUILIDADE DO EDIFÍCIO. AUSÊNCIA DE PROVA DE QUE
O ANIMAL DO AGRAVADO TENHA SIDO ALVO DE
RECLAMAÇÕES ESPECÍFICAS. REVISÃO. SÚMULAS 5 E 7/STJ.
AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Nos termos da orientação
jurisprudencial do eg. Superior Tribunal de Justiça deve
prevalecer o ajustado entre os condôminos na convenção do
condomínio acerca da criação de animal em unidade
condominial. Precedentes. 2. Na hipótese dos autos, a Corte de
origem esclareceu que a convenção condominial somente veda
a criação de animais que comprometam a higiene e a
tranquilidade do edifício, não havendo, ainda, a prova de
reclamação específica contra o animal do ora agravado. 3.
Desse modo, infirmar as conclusões do julgado demandaria a
interpretação da convenção condominial, bem como o
revolvimento do suporte fático-probatório da demanda, o que
encontra vedação nos enunciados das Súmulas 5 e 7 desta
Corte Superior. 4. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no AREsp 676852 / DF Agravo Regimental no Agravo em
Recurso Especial 2015/0054903-3 - Relator Ministro Raul Araújo
- Órgão Julgador Quarta Turma - Data do Julgamento 20/08/2015
- Data da Publicação/Fonte DJe 11/09/2015)

Trata-se de recurso especial interposto por CONDOMÍNIO


RESIDENCIAL DAS PALMEIRAS com fundamento no artigo 105,
inciso III, alíneas "a" e "c", da Constituição
Federal, insurgindo-se contra acórdão proferido pelo Tribunal
de Justiça do Distrito Federal e Territórios assim ementado:
“AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER. CONDOMÍNIO
VERTICAL. ANIMAL DE PEQUENO PORTE. TOLERÂNCIA. 1,
Embora remanesça na jurisprudência alguma divergência a
respeito da proibição de animais em apartamentos em
condomínios verticais, a questão tem sido flexibilizada,
sobretudo quanto aos animais de pequeno porte que não
tragam transtornos aos demais condôminos e pertubem o
sossego alheio. A presença de cachorro de pequeno porte no
interior da unidade autônoma de propriedade da condômina não
traz inconveniente que justifique a admissibilidade do animal na
área privativa do edifício.(...) Tal posicionamento está em
dissonância com a jurisprudência desta Corte firmada no
sentido de que deve-se respeitar o que dispõe a convenção
condominial acerca da questão da permanência de animais em
unidades condominiais. A propósito: “CIVIL. CONDOMINIO.
ANIMAL EM APARTAMENTO. A PROPÓSITO DE ANIMAL EM
APARTAMENTO, DEVE PREVALECER O QUE OS CONDÔMINOS
AJUSTARAM NA CONVENÇÃO. EXISTÊNCIA NO CASO DE
CLAUSULA EXPRESSA QUE NÃO ATRITA COM NENHUM
DISPOSITIVO DE LEI. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E
PROVIDO” (REsp 161.737/RJ, Rel. MIN. COSTA LEITE,
TERCEIRA TURMA, julgado em 27/4/1998, DJ 8/6/1998, p. 103).
No mesmo sentido as seguintes decisões monocráticas: AREsp
304.799/MG, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, DJE
13/11/2014 e RESP 1.280.609/MG, Rel. Min. Massami Uyeda, DJE
7/11/2011. Ante o exposto, dou provimento ao recurso especial,
para restabelecer a sentença de folhas 192/194 e-STJ. (REsp
1350721 – Relator Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA Data
da Publicação 10/04/2015)

CIVIL. CONDOMINIO. ANIMAL EM APARTAMENTO. A


PROPOSITO DE ANIMAL EM APARTAMENTO, DEVE
PREVALECER O QUE OS CONDOMINOS AJUSTARAM NA
CONVENÇÃO. EXISTENCIA NO CASO DE CLÁUSULA
EXPRESSA QUE NÃO ATRITA COM NENHUM DISPOSITIVO DE
LEI. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO." (REsp
161.737/RJ, Rel. MIN. COSTA LEITE, TERCEIRA TURMA, julgado
em 27/4/1998, DJ de 8/6/1998, p. 103)

Com efeito, há que se ponderar os interesses envolvidos no caso, sob a ótica da


razoabilidade. A manutenção dos animais apenas pode ser impedida se efetivamente
estiver incomodando, acima do limite do suportável, conforme se verifica na hipótese do
art. 1.277 e inciso IV do art. 1.336, ambos do Código Civil de 2002, bem como se este de
fato gerar risco aos demais condôminos.

Na hipótese dos autos, resta evidenciado o mau uso da propriedade eis que
prejudicial ao sossego, salubridade e segurança dos demais condôminos, uma vez que
extrapola o limite do razoável manter número elevado de gatos em um apartamento, e
que esses circulem livremente pela área comum. Dessa forma, requer in limine a retirada
dos felinos do referido apartamento, bem como a reparação dos danos materiais e morais
suportados pela requerente.

III-DOS PEDIDOS

Por todo o exposto, requer;

a); O deferimento da medida liminar por estarem presentes os pressupostos para


sua concessão, qual seja; o fumus boni iures e o periculum in mora, com fulcro no
art.301 e seguintes do CPC, para que seja determinada de forma imediata a
retirada dos gatos que com o requerido residem.

b) A condenação do requerido ao pagamento de 1.000,00 (hum mil reais) a título


de danos materiais.

c) A condenação do requerido ao pagamento de 10 (dez) salários-mínimos a título


de danos morais e estéticos causados a requerente.

d) Requer ainda, a citação do requerido, para, querendo contestar a presente


ação, sob pena de aplicação dos efeitos da revelia.

e) a condenação do requerido ao pagamento de todas as custas processuais e


honorários advocatícios.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos

Dá-se à causa valor de 1.000,00 (hum mil reais).

Termos em que, Pede-se Deferimento.

Teresina, 04 de Junho de 2016

WELLINGTON ALVES MORAIS


Advogado
OAB/PI 13.385.

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