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RESUMO: Estudo de abordagem qualitativa, cujo objetivo foi investigar o uso de plantas medicinais para tratar a
malária por usuários de serviços de saúde pública de um município de Mato Grosso – Brasil. Participaram do estudo 16
pessoas acometidas por malária falciparum ou vivax. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas,
posteriormente organizadas e analisadas usando a técnica de Análise de Conteúdo. Os resultados mostraram que, no
combate à malária, os usuários usam plantas medicinais para complementar o tratamento alopático, pois essas ajudam
a aliviar os sintomas da enfermidade e os efeitos secundários dos medicamentos. As plantas mais utilizadas como
coadjuvantes foram: boldo, figatil, quina e picão, embora somente a quina e o picão tenham, comprovadamente,
propriedades que combatem a malária. Ações educativas sobre o uso adequado e seguro de plantas medicinais,
considerando crenças e valores culturais, é recomendado.
PALAVRAS-CHAVE: Terapias complementares; Plantas medicinais; Malária.
ABSTRACT: A qualitative study which aim was to investigate the use of medicinal plants to treat malaria by users
of health services in a municipality of Mato Grosso - Brazil. The participants were 16 people suffering from malaria
falciparum and vivax. Data were collected through interviews, then organized and analyzed using the technique of
content analysis. The results showed that, in combating malaria, users use medicinal plants to complement allopathic
treatment, as these help relieve the symptoms of the disease and the side effects of medications. The plants were being
used as adjuncts: Boldo, figatil, cinchona and prick, but only prick and corner have proven properties that combat
malaria. Educational activities concerning the proper and safe use of medicinal plants, considering beliefs and cultural
values, is recommended.
KEYWORDS: Complementary therapies; Medicinal plants; Malaria.
RESUMEN: Estudio de abordaje cualitativo, cuyo objetivo fue investigar el uso de plantas medicinales para tratamiento
de malaria por usuarios de servicios de salud pública de un municipio de Mato Grosso – Brasil. Han participado del
estudio 16 personas acometidas por malaria falciparum o vivax. Los datos fueron recogidos por medio de entrevistas
semiestructuradas, posteriormente organizadas y analizadas usando la técnica de Análisis de Contenido. Los resultados
mostraron que, en combate a malaria, los usuarios utilizan plantas medicinales para complementar el tratamiento
alopático, pues estas ayudan a aliviar los síntomas de la enfermedad y los efectos secundarios de las medicinas. Las
plantas más utilizadas como coadyuvantes fueron: boldo, figatil, quina (rubiácea) y picão (Bidens graveolens), aunque
solamente la quina y el picão tienen propiedades que combaten la malaria. Acciones educativas sobre el uso adecuado
y seguro de plantas medicinales, considerando creencias y valores culturales son recomendadas.
PALABRAS CLAVE: Terapías complementares; Plantas medicinales; Malaria.
Autor correspondente:
Rosemeiry Capriata de Souza Azevedo
Universidade Federal de Mato Grosso
Rua C, 33 - 78048-298 - Cuiabá-MT, Brasil Recebido: 04/01/10
E-mail:capriata@terra.com.br Aprovado: 10/06/10
ocorreu nos meses de agosto e setembro de 2007. Os Tanto os usuários que trataram a malária com
dados foram organizados e analisados utilizando-se o esquema terapêutico preconizado pelo Ministério
os procedimentos da técnica de Análise de Conteúdo, da Saúde, quanto os que utilizaram o tratamento
conforme preconizada por Bardin e, posteriormente, oferecido pela instituição religiosa, fizeram uso de
as categorias que emergiram foram discutidas à luz da plantas medicinais (boldo, figatil, quina, picão, entre
literatura sobre o assunto. Os sujeitos da pesquisa foram outras) como forma complementar de tratar a doença.
identificados com E1, E2, e assim consecutivamente. Eles acreditavam que a cura da malária só poderia
ocorrer com o tratamento alopático ou homeopático
RESULTADOS E DISCUSSÃO e que as plantas medicinais ajudariam a amenizar os
sinais e sintomas da doença e/ou os efeitos colaterais
Um total de 16 pessoas participaram do estu- dos medicamentos.
do, 8 do sexo feminino e 8 do sexo masculino, e com
idades entre 19 e 60 anos. A maioria era casada, pos- Pergunta – O senhor acha que esses remédios [as
suía o ensino fundamental incompleto e tinha como plantas medicinais] curam a malária?
ocupação principal a agricultura familiar. Todos foram
acometidos por malária nos últimos quatro anos. Dez Acho que não, mas ajudam a cortar, por exemplo,
dos usuários afirmaram ter contraído malária tanto do o sintoma de vômito, e é bom para o rim também. É
tipo falciparum quanto do vivax, enquanto seis deles muito bom. (E3)
contraíram apenas a do tipo vivax.
A análise e interpretação dos dados obtidos Pergunta – O que curou o senhor? As plantas me-
a partir dos relatos permitiram a elaboração de duas dicinais, o comprimido [antimaláricos] ou o remédio
categorias, que mostraram como ocorria o uso de da Pastoral?
plantas medicinais para tratar a malária.
Primeiramente, é o que o pessoal da SUCAM passa
Plantas medicinais: tratamento complementar da [antimaláricos], por que corta o vírus da malária; e
malária o outro [as plantas medicinais], a gente toma para
desintoxicar o fígado. (E15)
Os resultados revelaram que a maioria dos
usuários pesquisados utilizou como tratamento para [...] são os remédios da malária que fazem a gente sarar.
a malária o esquema terapêutico preconizado pelo Se a gente não tomar todo o remédio, não sara. (E7)
Ministério da Saúde(4), enquanto que uma pequena
parcela (dois) fez uso de um tratamento diferente, Resultado semelhante foi encontrado em uma
oferecido por uma instituição religiosa local, como investigação desenvolvida em Uganda, sobre o uso de
se observa no relato a seguir: plantas medicinais no tratamento da malária. Nela, foi
constatado que os participantes do estudo afirmaram
Eu nunca senti o gosto do comprimido da SUCAM preferir a medicina alopática às plantas medicinais,
[Superintendência de Campanhas da Saúde Pública]. principalmente porque consideravam que não tinham
Tratei tudo com o remédio homeopático [da Pastoral conhecimento suficiente sobre as plantas e, ainda,
da Saúde] e chá caseiro. (E1) porque acreditavam que os medicamentos alopáticos
eram mais eficazes contra a doença(5).
A Pastoral da Saúde é uma organização cívi- Tais resultados – somados aos de uma revisão
co-religiosa, sem fins lucrativos, que possui atuação de literatura sobre buscas de tratamento para a doença
de âmbito nacional e de referência internacional. Atua na qual se identificou um número considerável de
em três dimensões: solidária, comunitária e político- estudos que sugeriam que a maioria das pessoas reco-
institucional, desenvolvendo, entre outras ações, as nheciam o valor das drogas modernas no tratamento
de promoção da saúde e prevenção de doenças(7). Em da malária(8) – sugerem que os medicamentos antima-
Mato Grosso, existe uma unidade dessa instituição láricos têm ganhado credibilidade no tratamento da
em vários municípios do estado, a qual desenvolve doença até mesmo entre as pessoas da população.
ações de saúde para a população local, inclusive para Como mencionamos anteriormente, os sujeitos
tratar a malária, utilizando homeopatia. do estudo utilizavam as plantas medicinais para com-
recuperação da saúde parece guardar estreita relação força e trazer melhor qualidade de vida para elas.
com o entendimento que os usuários têm de que elas Cabe ao enfermeiro, portanto, valorizar esse saber,
agem diretamente onde a doença se localiza ou na par- adequando-o, quando necessário, por meio de ativida-
te do organismo que ela mais prejudica, geralmente, des educativas com os usuários, “a fim de minimizar
o fígado. ou impedir a ocorrência de casos de intoxicação ou de
outros agravos à saúde decorrentes do uso indevido
Pergunta – Por que o senhor tomava esses chás? das plantas medicinais”(20:207).
medicinais, valorizando as crenças e valores daqueles. utilização de terapias alternativas por pacientes
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