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Escola Secundária Jaime Cortesão 2012/2013

A Europa dos Estados Absolutos

 Estratificação social e poder político nas sociedades de Antigo Regime

- Antigo Regime (século XVI – finais do século XVIII): época da História europeia
compreendida entre o Renascimento e as grandes revoluções liberais que corresponde à Idade
Moderna. O Antigo Regime caracteriza-se por uma estrutura fortemente hierarquizada (em
ordens), politicamente, corresponde às monarquias absolutas e, economicamente, ao
desenvolvimento do capitalismo.

Ordem/Estado:
categoria social A sociedade do Antigo Regime era constituída por ordens ou estados.
que goza de um
grau A ordem ou estado era uma categoria social definida pelo nascimento e pelas funções
determinado de
dignidade,
sociais que os indivíduos pertencentes a essa ordem desempenhavam.
correspondente Estratificação
Era uma sociedade fortemente hierarquizada, pelo que a mobilidade social (capacidade de social: divisão
à importância
da sociedade
da função social um elemento de um grupo social transitar para outro grupo, superior ou inferior) era escassa.
que em grupos
desempenha. A As três ordens ou estados em que se dividia a sociedade de Antigo Regime era o Clero hierarquicame
ordem assenta nte
mais no (ordem privilegiada), a Nobreza (ordem privilegiada) e o Terceiro Estado ou Povo (ordem não organizados
nascimento do consoante o
privilegiada). Herdada da Idade Média, esta estratificação social mantém vivos muitos dos seu prestígio,
que na riqueza,
perpetuando-se poder ou
privilégios e atributos que, nessa época, se atribuíam às ordens. No entanto, com o correr dos riqueza.
por via
hereditária e séculos, as ordens foram-se fragmentando numa pluralidade de grupos diferenciados, cada um
admitindo uma
mobilidade com o seu estatuto próprio.
social reduzida.

 Diferenciar as três ordens, a sua composição e o seu estatuto

1. Clero ou primeiro estado:


o Era considerado o estado mais digno porque era o mais próximo de Deus;
o Era composto por elementos de todos os grupos sociais, dividindo-se em alto clero
(composto pelos filhos segundos das nobreza que se tornavam cardeias,
arcebispos, bispos e abades, pois apenas os filhos primogénitos tinham direito a
herança; desempenhavam cargos elevados na administração e no ensino) e baixo
clero (párocos e frades oriundos da população rural; responsável pelos serviços
religiosos a nível local);

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o Era o único grupo cujo estatuto não se adquiria pelo nascimento;


o Usufruía de numerosos privilégios: estava isento de impostos à Coroa, bem como de
prestação de serviço militar; tinha foro próprio, isto é, os seus membros regem-se
por um conjunto de leis específicas – o Direito Canónico – e são julgados em
tribunais próprios; direito de asilo (direito de proteger de toda a perseguição quem
quer que fosse acolhido na Igreja); recebia os dízimos (o dízimo incidia sobre as
colheitas - 1/10 era de imediato retirado para a Igreja, qualquer que fosse o
proprietário da terra)
o Era proprietário de grandes terras.

2. A Nobreza ou o segundo estado


o Próxima do rei e pedra angular do regime monárquico, é a ordem de maior prestígio;
o Dedicava-se à carreira de armas (era a velha nobreza, chamada nobreza de sangue
ou nobreza de espada – desde sempre dedicada à carreira de armas, a espada é o
seu símbolo e é-lhe permitido usá-la na presença do rei) ou a cargos públicos
merecedores de um título de nobreza (era a burguesia enobrecida, chamada
nobreza administrativa ou de toga);
o Ocupava cargos mais elevados na administração e do exército;
o Gozava de um regime jurídico próprio (por exemplo, o nobre não podia ser açoitado
nem enforcado);
o Não pagava impostos ao rei (exceto em caso de guerra);
o Detinha grandes propriedades;
o Fornecia os elementos que integravam o alto clero ;

3. Povo ou Terceiro Estado


o Ordem mais heterógena, abarcando a elite burguesa (homens de letras,
mercadores, boticários, joalheiros, chapeleiros), os ofícios manuais (lavradores,
artesãos, trabalhadores assalariados) e, por último, os mendigos e vagabundos;
o Todos os elementos do povo pagavam impostos;
o Dedicava-se, na sua maioria (80%), à agricultura, como camponeses;

 Reconhecer, nos comportamentos, os valores da sociedade de ordens

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Na sociedade hierarquizada de Antigo Regime, todos os comportamentos estavam


rigidamente estipulados para cada uma das ordens sociais. Assim, o estatuto jurídico, o
vestuário, a alimentação, as profissões, as amizades, os gastos, os divertimentos, as formas de
tratamento deviam refletir a pertença a cada uma das ordens: por exemplo, apenas o nobre
usava a espada e apenas o membro do clero usava a tonsura (corte de cabelo que deixa uma
coroa rapada no alto da cabeça e que representava a entrada na ordem clerical).
Esta preocupação em tornar visível a diferenciação social exprimia os principais valores
defendidos na sociedade de ordens: a defesa dos privilégios pelas ordens sociais mais elevadas,
a primazia do nascimento como critério de distinção e a fraquíssima mobilidade social.

 Identificar as vias de mobilidade social


Mobilidade
social: transição
dos indivíduos Ao longo do Antigo Regime a mobilidade social era muito reduzida. Porém, lentamente,
de um para
outro estado Terceiro Estado conseguiu ascender socialmente. As vias de mobilidade ascendente da
social, quer em
sentido burguesia eram, de uma forma geral:
ascendente,
quer em sentido
- O estado;
descendente. - O casamento com filhas da velha nobreza;
Numa
sociedade de - Os lucros do grande comércio (o dinheiro);
ordens esta
mobilidade é - A dedicação aos cargos do Estado.
sempre
reduzida, uma
vez que o
critério de  O Absolutismo Régio
diferenciação
social assenta
no nascimento.
O vértice da hierarquia social é representado pelo rei. Ao rei foram atribuídos todos os
poderes e toda a responsabilidade do Estado.
A legitimidade deste poder supremo só poderia ser encontrada na vontade de Deus. Dela
provinham não só a autoridade real como as qualidades necessárias ao exercício de tão pesado
cargo.

 Os fundamentos do poder real

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O Antigo Regime caracterizou-se, a nível politico, pelo sistema de monarquia absoluta, que
atingiu o expoente máximo nos séculos XVII e XVIII. Segundo Bossuet, o poder do rei tinha
quatro características:
1. Era sagrado, porque provém de Deus que o conferiu aos reis para que estes o exerçam
em seu nome;
2. Era paternal, o rei devia satisfazer as necessidades do seu povo, proteger os fracos e
governar brandamente, cultivando a imagem de “pai do povo”;
3. Era absoluto, o que significa independente. O rei assegurava, com o seu poder supremo,
o respeito pelas leis e pelas normas de justiça, de forma a evitar a anarquia que retira
aos homens os seus direitos e instala a lei do mais forte. O rei concentrava em si os três
poderes do Estado – legislativo, executivo e judicial;
4. Era sujeito à razão, isto é, à sabedoria do rei. O rei, escolhido por Deus, possui certas
qualidades: bondade, firmeza, força de caráter, prudência, capacidade de previsão – são
elas que asseguram o bom governo.

 Sublinhar o papel desempenhado pela corte no regime absolutista

Na monarquia absoluta, o rei utilizava a vida em corte para mais facilmente controlar a
Nobreza e o Clero. O grupo que rodeava o rei (sociedade de corte) estava constantemente
sujeito à vigilância deste. Em França, o centro da vida de corte desenrolava-se no Palácio de
Versalhes, onde habitavam o rei e a alta nobreza. O Palácio era, simultaneamente, lugar da
governação de ostentação do poder e de controlo das ordens privilegiadas.

 Esclarecer o significado da expressão “encenação do poder”

Não foi o Absolutismo que inventou a corte mas foi ele que a transformou no espelho do
poder.
Tal como Luís XIV é o paradigma do rei absoluto, Versalhes é o paradigma da corte real.
Quem pretendia um cargo ou uma mercê só podia obtê-los no palácio. O luxo da corte arruinara
a nobreza que rivalizava no traje, nas cabeleiras, na ostentação, assim se esquecendo de que a
sua influência política se esvaíra nas mãos do soberano.
Nobres, conselheiros, “privados do rei”, funcionários que vivam na corte e para a corte,
seguindo as normas impostas por uma hierarquia rígida e uma etiqueta minuciosa. Esta

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sociedade da corte servia de modelo aos que aspiravam à grandeza, pois representava o cume
do poder e da influência.
Todos os atos quotidianos do rei eram ritualizados, “encenados” de modo a endeusar a sua
pessoa e a submeter as ordens sociais. Cada gesto tinha um significado social ou político, pelo
que, através da etiqueta, o rei controlava a sociedade. Um sorriso, um olhar reprovador
assumiam um significado político, funcionando como recompensa ou punição de determinada
pessoa.

 Evidenciar a preponderância da nobreza fundiária em Portugal

A restauração da independência nacional, em 1640, por iniciativa da nobreza concedeu a


esta ordem de grandes proprietários de terras um papel social importante, reforçado pelos
cargos na governação, na administração ultramarina e no comércio. Deste modo, as principais
características da sociedade de ordens em Portugal são, por um lado, a preponderância política
da nobreza de sangue e, por outro lado, o afastamento da burguesia das esferas do poder. A
debilidade da burguesia portuguesa, deveu-se, em grande parte, à centralização das atividades
mercantis nas mãos da Coroa e da Nobreza e à perseguição de judeus e cristãos-novos (judeus
forçados a converter-se ao cristianismo) pela Inquisição.

Excerto importante do livro:


Contrariamente ao que seria de prever, a organização de um vasto império não se alicerçou
nas competências de uma burguesia de comerciantes e burocratas. Os cargos ligados à
administração ultramarina foram sempre usados pelos monarcas para agraciar a nobreza que,
deste modo, aumentou rendimentos e prestígio, embora com grave prejuízo para os interesses
do reino.
[…]
Pelo menos até meados do século XVIII a nobreza de sangue manteve, quase em regime de
exclusividade, o acesso aos cargos superiores da monarquia: comandos das províncias
militares, presidência dos tribunais da corte, vice-reinados da Índia e Brasil, missões
diplomáticas importantes. Estes serviços permitiam garantir o usufruto dos bens da Coroa e
ordens militares e aumentar com rendas e tenças o património das grandes casas.
À predominância desta nobreza fundiária, fortemente arreigada aos valores linhagem, junta-
se, na sociedade portuguesa, uma outra característica: aqui, a fidalguia não tiras os seus

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rendimentos unicamente da terra, dos cargos públicos e das dádivas reais. Tira-os também do
comércio, sobretudo do comércio ultramarino. Aos nobres portugueses “encontramo-los em
todos os tratos e mercancias sejam eles quais forem”.
Acumulando o comércio com cargos administrativos que exercem por todo o império, os
nobres enriquecem à custa das sedas da China, da canela de Ceilão, dos escravos da Guiné ou
do açúcar do Brasil.

 Caracterizar o “cavaleiro-mercador”

Em Portugal, a nobreza mercantilizada (dedicada ao comércio) dá origem à figura do


“cavaleiro mercador”, o qual investe os lucros do comércio em terras e bens de luxo. Deste
fenómeno decorrem duas consequências:
- Uma difícil afirmação da burguesia portuguesa;
- O atraso económico de Portugal em relação a vários países da Europa.

 Relacionar a eficiência do aparelho burocrático com a efetiva centralização do poder

Nos séculos XVII e XVIII, os reis portugueses procederam a uma centralização do poder que
se caracterizou pelas seguintes etapas:
1. Século XVII – após o domínio filipino, D. João IV, o primeiro rei da dinastia de Bragança
viu-se na necessidade de restruturar os órgãos da administração central e de enfrentar a
situação de guerra. Assim, não sendo um rei de tipo absolutista, criou órgãos
(secretarias e os conselhos) em que delegava poderes.
Assim, ao longo do século XVII a resoluções tomadas em Cortes tinham cada vez
menos importância para o destino do Reino e a sua convocação foi-se tornando cada
vez mais rara até se extinguirem praticamente a partir de 1697.
2. Século XVIII – a figura mais marcante do absolutismo português, o rei D. João V, teve
um papel muito interventivo na governação, remodelando as secretarias criadas por D.
João IV e rodeando-se de colaboradores de confiança.
Porém, a reforma da burocracia do Estado não se traduziu por uma maior eficiência para
os súbditos: por um lado, faltava estabelecer uma ligação entre a administração central e
a administração local; por outro lado, a dependência, para todas as decisões, da

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aprovação do rei, tornava qualquer pedido um processo extremamente lento. Na prática


a burocracia central afastava o povo do seu rei.

 Caracterizar o absolutismo joanino

O fenómeno a que se chamou a “encenação do poder” estava, também, presente na


monarquia portuguesa, em particular no reinado de D. João V. Tal como Luís XIV, D. João V
realçava a figura régia através da magnificência (luxo) permitida pelo ouro e diamantes do Brasil,
da autoridade e da etiqueta, de que se salientaram os seguintes aspetos:
 Subordinação das ordens sociais (manifestada na recusa em reunir Cortes);
 Apoio às artes e às letras (criando a Biblioteca da Universidade de Coimbra e a Real
Academia de História);
 Envio de embaixadas ao estrangeiro (destacando-se, a de 1706, ao Papa);
 Distribuição de moedas de ouro pela população;
 Política de grandes construções (Convento de Mafra);
 Política externa, o rei procurou a neutralidade face aos conflitos europeus,
salvaguardando os interesses do nosso império e do nosso comércio.

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