Você está na página 1de 15

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/237490417

Pesquisa clínica em homeopatia: evidências, limitações e projetos [Clinic


research in homeopathy: evidences, limitations and projects]

Article · March 2008

CITATIONS READS

5 2,346

1 author:

Marcus Zulian Teixeira


University of São Paulo
162 PUBLICATIONS   1,174 CITATIONS   

SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Isopathic use of auto-sarcode of DNA as anti-miasmatic homeopathic medicine and modulator of gene expression View project

Special Dossier: Scientific Evidence for Homeopathy - Technical Chamber for Homeopathy, Regional Medical Council of the State of São Paulo (CREMESP) [Dossiê
Especial: Evidências Científicas em Homeopatia - Câmara Técnica de Homeopatia do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP)] View project

All content following this page was uploaded by Marcus Zulian Teixeira on 04 June 2014.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


Pesquisa clínica em homeopatia

Revisões e Ensaios 27

Pesquisa clínica em homeopatia:


evidências, limitações e projetos
Clinic research in homeopathy:
evidences, limitations and projects

La investigación clínica en la homeopatía:


las evidencias, limitaciones y proyectos
Marcus Zulian Teixeira1
Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)
1
Doutorando do Departamento de Clínica Médica da FMUSP e Coordenador da
Disciplina “Fundamentos da Homeopatia” (MCM0773) da FMUSP

Resumo ao princípio de tratamento reacional (princípio


da similitude curativa), os protocolos de pesquisa
Objetivos: revisar as evidências científicas da efi- clínica em homeopatia apresentam uma episteme
cácia clínica da homeopatia e discutir as premissas própria que deve ser respeitada e seguida, para
necessárias para a elaboração de ensaios clínicos que possamos avaliar, de fato, a eficácia clínica do
randomizados que satisfaçam a epidemiologia clí- tratamento homeopático. Conclusões: apesar das
nica homeopática. Fontes pesquisadas: foram se- dificuldades em adaptar o modelo homeopático
lecionados artigos originais, revisões sistemáticas ao modelo biomédico, é possível elaborar ensaios
e metanálises nas bases de dados MEDLINE e LI- clínicos randomizados que visem conciliar ambas
LACS, com as palavras-chave: homeopatia (home- racionalidades médicas, exigindo dos participantes
opathy) e ensaio clínico controlado aleatório (ran- isenções de preconceitos, imparcialidade, espírito
domized controlled trial). Síntese dos dados: apesar científico, dedicação e bom-senso, a fim de que os
de existirem na literatura, metanálises de ensaios resultados destas pesquisas possam vir a beneficiar
clínicos randomizados que concluem serem os o paciente, principal objetivo da prática médica.
efeitos clínicos da homeopatia superiores ao efeito
placebo, com aumento destas evidências científicas Descritores: Homeopatia. Eficácia. Efeito pla-
em algumas condições específicas, a pesquisa clíni- cebo. Métodos epidemiológicos. Ensaio clínico
ca homeopática carece de iniciativas para demons- controlado aleatório. Revisão. Metanálise
trar a eficácia do tratamento homeopático de forma
generalizada. Em vista dos aspectos peculiares ao Abstract
modelo homeopático como a individualização do
medicamento homeopático perante a totalidade de Objectives: to review the scientific evidences of
sintomas característicos da individualidade enfer- homeopathy clinic effectiveness and discuss the nec-
ma, tanto a pesquisa quanto a prática clínica diária essary assumptions for the elaboration of random-
necessita de um tempo maior de acompanhamen- ized clinic trials that fulfill the homeopathic clinic
to dos pacientes, a fim de que as respostas clínicas epidemiology. Data sources: original articles, sys-
tornem-se mais evidentes. Associando esta premis- tematic reviews and meta-analyses in MEDLINE
sa fundamental a outras particularidades inerentes and LILACS databases were selected, with the key-
Pediatria (São Paulo) 2008;30(1):27-40

28 words: homeopathy and randomized controlled trial. trar la efectividad del tratamiento homeópata de una
Data synthesis: despite the existence of randomized manera extendida. En vista de los aspectos peculiares
clinic trials meta-analyzes that support the clinic ef- al modelo homeópata como la individualización de
fects of homeopathy are superior to placebo effects, la medicina homeópata ante la totalidad de síntomas
besides the augmentation of such scientific evidences característicos de la individualidad enferma, tanto la
in some particular conditions, the homeopathic clinic investigación como la práctica clínica diarias necesi-
research lacks initiatives to show the effectiveness of tan un tiempo más grande de la asistencia de los pa-
the homeopathic treatment in a comprehensive way. cientes, para que las respuestas clínicas se puestas más
Regarding the aspects linked to the homeopathic evidente. Asociando esta premisa fundamental a otras
model, such as the individualization of homeopathic particularidades inherentes al principio de tratamien-
medicine concerning the total characteristic symp- to reaccional (el principio de la similitud curativa)
toms of the ill individuality, both research and daily los protocolos de investigación clínica en homeopatía
clinic practice require a longer time of patient fol- presentan una episteme propia que debe respetarse y
low-up, so that clinic responses can become more evi- siguiendo, para que nosotros podamos evaluar, de he-
dent. Associating this fundamental premise to other cho, la efectividad clínica del tratamiento homeópata.
particularities inherent to the reactional treatment Conclusiones: a pesar de las dificultades adaptando
principle (curative similitude principle), the clinic al modelo homeópata al modelo biomédico, es posible
research protocols in homeopathy present their own elaborar ensayos clínicos aleatorizados que buscan
episteme which shall be respected and followed, so reconciliarse ambas racionalidades médicas, mientras
that the clinic effectiveness of the homeopathic treat- exigiendo de los participantes la exención de prejui-
ment can be actually evaluated . Conclusions: despite cios, imparcialidad, espíritu científico, dedicación y
the difficulties in adapting the homeopathic model to bueno-sentido, para que los resultados de estas investi-
the biomedical model, it is possible to elaborate ran- gaciones puedan venir beneficiar al paciente, el objeti-
domized clinic trials aiming the conciliation of both vo principal de la práctica médica.
medical rationalities, allowing participants with
freedom of prejudices, impartiality, scientific spirit, Palabras clave: Homeopatía. Eficacia. Efecto place-
dedication and good sense, so that the results of such bo. Métodos epidemiológicos. Ensayo clínico con-
researches can benefit the patient, the main purpose trolado aleatório. Revisión. Metaanálisis
of the medical practice.
Introdução
Keywords: Homeopathy. Efficacy. Placebo effect. Ep-
idemiologic methods. Randomized controlled trial. Na última edição da Pediatria (São Paulo), pu-
Review. Meta-analysis. bliquei o ensaio “Tratamento homeopático dos dis-
túrbios emocionais e comportamentais da infância
Resumen e da adolescência”1, com o objetivo principal de
informar os pediatras leitores sobre os pressu-
Objetivos: revisar las evidencias científicas de la postos homeopáticos, exemplificando a aplicação
efectividad clínica de la homeopatía y discutir las clínica da homeopatia na modulação das carac-
premisas necesarias para la elaboración de ensayos terísticas psíquicas em desequilíbrio, aspecto de
clínicos aleatorizados que satisfacen la epidemiología grande importância na concepção homeopática do
clínica homeópata. Fuentes de los datos: fueron selec- processo saúde-doença e nas crescentes perturba-
cionados articulos originales, revisiones sistemáticas ções psicossomáticas modernas que acompanham
y meta-análisis en las bases de datos de MEDLINE y os mais diversos quadros clínicos. Ficou faltando
LILACS con las palabras claves: homeopatía (homeo- uma ampliação da discussão sobre as evidências e
pathy) y ensayo clínico controlado aleatório (rando- as limitações da pesquisa clínica em homeopatia,
mized controlled trial). Síntesis de los datos: a pesar tema suscitado pelo Prof. Bernardo Ejzenberg em
de existir en la literatura meta-análisis de ensayos seu editorial “Homeopatia e as evidências cientí-
clínicos aleatorizados que concluyen sea los efectos ficas: é o fim da questão?”2, que iremos abordar
clínicos de la homeopatía superiores al efecto place- mais detalhadamente nesta revisão.
bo, con el aumento de estas evidencias científicas en A título de esclarecimento inicial, gostaria de
algunas condiciones específicas, a la investigación clí- tecer algumas considerações sobre as colocações
nica homeópata le faltan las iniciativas para demos- citadas no referido Editorial2. Primariamente, tor-
Pesquisa clínica em homeopatia

na-se imprescindível entender a importância da in- bioéticos são seguidos desde a fundamentação do 29
dividualização medicamentosa segundo a totalidade modelo homeopático por Samuel Hahnemann em
sintomática característica (e não simplesmente um 1796, e não apenas porque estão sendo “cada vez
“sintoma” como foi colocado) na escolha da tera- mais valorizados pela população”.
pêutica homeopática, premissa indispensável para Assim sendo, os medicamentos homeopáticos
se atingir a eficácia clínica almejada. Principal obs- devem ser administrados em freqüência menor que
táculo à padronização e facilitação do tratamento a maioria dos medicamentos convencionais e nem
homeopático, este processo de conhecimento e sempre em substrato tão “palatável” quanto os ex-
valorização da síndrome sintomática peculiar ao in- cipientes com sabores de frutas dos medicamentos
divíduo enfermo apresenta maior complexidade do pediátricos. Por exemplo, na administração justi-
que os “protocolos terapêuticos modernos”, pois ficável de doses repetidas no tratamento das doen-
são acrescentadas às variáveis clássicas de escolha ças agudas, recomenda-se a administração de gotas
do medicamento e sua posologia (tipo e estágio em solução hidroalcoólica (ao invés dos glóbulos
da doença, acometimento sistêmico, resposta ini- de sacarose), de gosto detestável pela maioria das
cial à medicação, possíveis reações adversas etc), crianças, a fim de que se promova a agitação vigo-
inúmeras outras características idiossincrásicas in- rosa entre uma dose e outra, evitando-se as mes-
dividualizantes (imaginativas, oníricas, sensitivas, mas agravações homeopáticas indesejáveis.
emocionais, intelectivas, volitivas, climáticas, ali- De forma generalizada, entende-se efeito ou
mentares, de lateralidade, de sono, de transpiração resposta placebo como a melhoria dos sintomas e/
etc.), que dificultam a seleção imediata do medica- ou funções fisiológicas do organismo em resposta
mento homeopático individualizado, único capaz de a fatores supostamente inespecíficos e aparente-
despertar a verdadeira reação vital curativa. mente inertes (sugestão verbal ou visual, compri-
Tanto na pesquisa quanto na prática clínica midos inertes, injeção de soro fisiológico, cirur-
diária, esta dinâmica semiológica global e indi- gia fictícia etc.), sendo atribuível, comumente, ao
vidualizante, que possibilita a confrontação das simbolismo que o tratamento exerce na expecta-
diversas características peculiares dos pacientes tiva positiva do paciente. Efeito nocebo é um fe-
com as manifestações patogenéticas semelhantes nômeno oposto ao placebo, em que a expectativa
despertadas pelas substâncias medicinais em in- negativa pode conduzir ao agravamento de um
divíduos sadios, a fim de que se possa selecio- sintoma ou doença. Exemplos naturais de efeito
nar um medicamento homeopático que estimule nocebo são observados no impacto de diagnós-
uma reação homeostática globalizante, necessita ticos negativos e no descrédito do paciente pela
de um número variável e contínuo de avaliações, equipe médica ou por um tipo de tratamento,
prescrições e ajustes, tornando o tratamento ho- tendo seus mecanismos neurofisiológicos estuda-
meopático das doenças crônicas, em geral, uma dos de forma análoga ao efeito placebo5,6.
prática eficaz a médio-longo prazo. Apesar do efeito placebo estar presente em to-
Em relação ao efeito-placebo ou “efeito te- dos os tipos de intervenção terapêutica para as mais
rapêutico psicológico”, considerado por muitos diversas doenças, a classe médica atribui a sua exis-
como a única explicação para a eficácia clínica do tência como algo indesejável, empregando-o como
tratamento homeopático, em vista do incremento instrumento freqüente de crítica aos tratamentos
na relação cuidador-paciente que a “medicação di- não-convencionais, segundo uma conotação pejo-
ária, repetida, palatável e de longo prazo” promo- rativa. Metanálises recentes que avaliaram a magni-
veria, alguns esclarecimentos devem ser feitos. Ao tude do efeito placebo (% de melhora) numa gama de
contrário do dito popular (“em doses homeopáti- tratamentos convencionais para doenças distintas,
cas”), a boa prática clínica homeopática recomenda analisando ensaios clínicos placebos-controlados
a aplicação de doses únicas semanais, mensais ou bi- (ECC), demonstram a abrangência do fenômeno:
mensais no tratamento das doenças crônicas3, fun- câncer (37 ECC; 1237 pacientes; 9% na dor; 20%
damentada no modus operandi reacional do prin- no apetite; 2,4% na diminuição do tumor)7, doença
cípio da similitude terapêutica e nos princípios de Crohn (32 ECC; 1047 pacientes; 19%)8, síndro-
bioéticos da beneficência e não maleficência, a fim me do intestino irritável (45 ECC; 3193 pacientes;
de evitar as agravações homeopáticas perturbado- 40%)9, colite ulcerativa (38 ECC; 26,7%)10, úlcera
ras que o excesso de doses em sua ação primária duodenal (79 ECC; 3325 pacientes; 36,2-44,2%)11,
pode provocar4. Vale ressaltar que estes princípios síndrome da fadiga crônica (29 ECC; 1016 pacien-
Pediatria (São Paulo) 2008;30(1):27-40

30 tes; 19,6%)12, depressão maior (75 ECC; 29,7%)13, Panorama da pesquisa clínica em homeopatia
mania (20 ECC; 31,2%)14 etc.
Em relação ao “tratamento convencional dos Em vista destes aspectos singulares do modelo
distúrbios comportamentais”, quais as “evidências homeopático, que fazem da homeopatia uma prá-
científicas suficientes” sobre a eficácia clínica dos tica terapêutica humanística e individualizante por
antidepressivos inibidores seletivos da recaptação de excelência, pode-se vislumbrar os limites e as difi-
serotonina (ISRS) no tratamento da depressão maior, culdades encontradas na elaboração de desenhos de
após recente metanálise15 demonstrar que não há di- estudos clínicos e laboratoriais que contemplem as
ferença significativa de eficácia frente ao placebo nos premissas da metodologia científica clássica17,18.
pacientes com depressão moderada e apenas uma Numa primeira metanálise publicada em 1991
pequena e insignificante diferença nos pacientes com no British Medical Journal, Kleijnen et al.19 anali-
depressão muito severa, que apresentam diminuição saram a qualidade metodológica de 107 ensaios
da resposta placebo? No entanto, quais dos colegas clínicos homeopáticos placebos-controlados,
leitores não indicariam ISRS, segundo a medicina ba- concluindo que apenas 22 estudos (20%) foram
seada em evidências, como tratamento de primeira considerados de qualidade metodológica satisfa-
linha para as depressões moderadas e severas? tória (escore mínimo de 55/100 pontos). Destes
Em vista de sua abordagem semiológica e antro- 22 ensaios, 15 (68%) mostraram eficácia clínica
pológica humanística16, que se traduz numa relação do tratamento homeopático frente ao placebo.
médico-paciente diferenciada, a homeopatia certa- Em vista destes resultados, os autores concluíram
mente acrescenta à resposta medicamentosa espe- haver evidência positiva, mas não suficiente para
cífica um incremento de aproximadamente 20-30% tirarem conclusões definitivas.
pelos efeitos inespecíficos que lhe são inerentes Propondo-se a responderem à pergunta “are the
(semelhante ao efeito placebo dos tratamentos con- clinical effects of homeopathy placebo effects?”, Lin-
vencionais anteriormente citados), mas a resolutivi- de et al.20 publicaram em 1997 no The Lancet uma
metanálise com 89 ensaios clínicos homeopáticos
dade clínica que ela pode proporcionar “às infecções
placebos-controlados, concluindo que os resultados
recorrentes das vias aéreas superiores, na asma e em
observados no tratamento homeopático não eram efei-
outras alergias” com o tratamento a médio-longo
tos-placebo (resultados 2,45 vezes superior da home-
prazo, reiterada pelos médicos observadores mais
opatia frente ao placebo). Devido à quantidade insu-
céticos, supera em muito esta porcentagem.
ficiente de ensaios clínicos de uma mesma entidade
Assim como determinados fatores inespecí-
nosológica, para que metanálises específicas fossem
ficos (“desencanto pela alopatia”, “ausência de
realizadas, os autores agruparam todos os tipos de
efeitos adversos”, “concepção holística do trata- trabalhos homeopáticos na sua revisão, sendo criti-
mento” etc.) contribuem à formação de expec- cados por terem adotado esta metodologia.
tativas positivas nos pacientes pelo tratamento Conforme discutidas anteriormente, premis-
homeopático (efeito placebo), outros aspectos sas básicas devem ser seguidas para que atinjamos
inespecíficos (“marginalização da especialidade os resultados desejados no tratamento homeopá-
pelo estafe acadêmico”, “descrédito pela home- tico, estando na individualização do medicamento
opatia comumente propagado pela mídia e pelos segundo a totalidade de sintomas característicos do
colegas de profissão”, “tratamento demorado”, paciente uma condição sine qua non ao desenho
“necessidade da mudança de hábitos arraigados” de estudos epistemologicamente corretos. Desta
etc.) contribuem à formação de expectativas ne- forma, para uma mesma doença, cada indivíduo
gativas nos mesmos pacientes que buscam o tra- enfermo pode receber medicamentos homeopáti-
tamento homeopático (efeito nocebo), sendo difí- cos distintos, não existindo medicamentos particu-
cil estipular qual dos conjuntos é imperativo na lares para condições clínicas específicas21,22.
resposta à terapêutica homeopática. Diversos ensaios clínicos que desrespeitaram
Nesta revisão, iremos discorrer sobre as evidên- a individualização do tratamento homeopático, ad-
cias científicas da eficácia clínica da homeopatia ministrando o mesmo medicamento para diversos
e discutir a complexidade necessária à elaboração indivíduos portadores de uma mesma doença, não
de ensaios clínicos randomizados que satisfaçam a mostraram resultados significativos (exemplifica-
epidemiologia clínica homeopática, a fim de que do no emprego indiscriminado da Arnica Montana
estes estudos apresentem validade externa. para processos inflamatórios)23, ferindo a racio-
Pesquisa clínica em homeopatia

nalidade científica do modelo homeopático. Bus- que, por si sós, podem trazer alívio para muitas 31
cando avaliar a eficácia da homeopatia em estudos manifestações sintomáticas leves. Como citado
que priorizaram a individualização do tratamento anteriormente, o incremento de melhora des-
como “padrão ouro” ou “estado-da-arte” da epide- te efeito placebo pode dificultar a observação do
miologia clínica homeopática, uma metanálise foi efeito específico do medicamento homeopático
realizada com 32 ensaios clínicos placebos-con- no curto prazo, favorecendo o incremento de re-
trolados, de qualidades metodológicas variáveis, sultados falso-positivos de acordo as caracterís-
sugerindo que o tratamento homeopático indivi- ticas influenciáveis da amostra e se o tempo de
dualizado é mais efetivo que o placebo24. tratamento não for suficiente para que a reação
Revisando os ensaios clínicos controlados ho- homeopática seja despertada em sua plenitude.
meopáticos, Jonas et al.25 descreveram que os Os desenhos de ensaios clínicos placebos-
estudos clínicos e laboratoriais homeopáticos controlados convencionais encontram nestas
demonstram resultados que contestam a racionali- particularidades obstáculos suficientes para evi-
dade contemporânea da medicina. Destacaram as denciar a eficácia generalizada do tratamento home-
três metanálises gerais citadas anteriormente19,20,24 opático frente ao placebo42,43, exigindo a incorpora-
como as que utilizaram métodos de avaliação con- ção de critérios epidemiológicos condizentes com os
dizentes com a homeopatia, reportando efeitos aspectos epistemológicos do modelo em questão.
superiores do tratamento homeopático frente ao
placebo. Descartando as metanálises com metodo- Importância da individualização
logia questionável ou que menosprezaram as pe- terapêutica na eficácia clínica homeopática
culiaridades intrínsecas ao modelo26,27, realçaram
as evidências científicas das metanálises que evi- Como vimos reiterando insistentemente, a efi-
denciaram a eficácia do tratamento homeopático cácia e a efetividade do tratamento homeopático
na influenza28, nas alergias29,30 e na diarréia infan- está diretamente relacionada ao grau de simila-
til31, não encontrando respostas satisfatórias nas ridade entre a totalidade dos sintomas caracte-
revisões sistemáticas que avaliaram a resposta ho- rísticos do paciente e os sintomas despertados
meopática frente à profilaxia da enxaqueca32 e da pelos medicamentos nas experimentações pato-
influenza28. Discorrendo sobre a falta de evidências genéticas. Em vista da terapêutica homeopática,
conclusivas para avaliar o tratamento homeopáti- empregar substâncias simples ultradiluídas com
co em outras condições clínicas, defendem que a potência de ação infinitesimal, ao contrário das
homeopatia merece “uma oportunidade isenta de doses ponderais com elevado poder patogenético
preconceitos para demonstrar o seu valor, utilizan- e efeitos colaterais da terapêutica convencional,
do princípios baseados em evidências”. os sintomas do medicamento único corretamente
Ensaios clínicos placebos-controlados iso- selecionado devem apresentar alto grau de seme-
lados evidenciaram a eficácia do tratamento lhança com as características mais peculiares e
homeopático individualizado na enxaqueca 33, idiossincrásicas do paciente, a fim de que o sutil
na fibromialgia34, no transtorno do déficit de efeito primário do medicamento dinamizado con-
atenção e hiperatividade 35,36, e na prevenção siga entrar em ressonância com o desequilíbrio
das infecções do trato respiratório superior37. vital e despertar uma reação homeostática através
Como proposta terapêutica individualizada e do princípio da similitude terapêutica3.
globalizante, além do incremento terapêutico, a Por estes e outros aspectos que Hahnemann e
homeopatia pode acrescentar eficiência e segu- todos os seus seguidores enfatizaram a individua-
rança à medicina convencional, com baixos cus- lização medicamentosa e o emprego de substâncias
tos e efeitos colaterais mínimos38-41. únicas e simples (medicamento único e individuali-
Vale ressaltar que a semiologia homeopática zado) na prática clínica homeopática, aplicando o
clássica busca diagnosticar as diversas suscetibi- princípio da similitude entre a totalidade de sin-
lidades do enfermo com o objetivo principal de tomas característicos do binômio doente-doença
evidenciar sintomas característicos que contri- e as manifestações patogenéticas das substâncias
buam à seleção do medicamento homeopático únicas e simples experimentadas em indivíduos
individualizado. No entanto, permitindo ao pa- humanos, criticando o emprego de meios com-
ciente expor suas idiossincrasias de forma deta- postos (complexos homeopáticos) sem experimen-
lhada, mobiliza aspectos interiores inespecíficos tação patogenética prévia:
Pediatria (São Paulo) 2008;30(1):27-40

32 “Em nenhum caso de tratamento é necessário nicos homeopáticos versus 6 ensaios clínicos conven-
e, por conseguinte, não é admissível admi- cionais), os resultados mostraram fraca evidência
nistrar a um doente mais do que uma única para um efeito específico dos medicamentos ho-
e simples substância medicamentosa de cada meopáticos (OR 0,88; 95% CI 0,65-1,19) e forte
vez. É inconcebível que possa existir a menor evidência para efeitos específicos de intervenções
dúvida acerca do que está mais de acordo com
convencionais (OR 0,58; 95% CI 0,39-0,85). Par-
a natureza e é mais racional: prescrever uma
única substância medicamentosa simples e
tindo da premissa que os efeitos específicos das
bem conhecida num caso de doença ou mis- ultradiluições homeopáticas são “implausíveis”,
turar várias diferentes. Na única, verdadeira, pela dificuldade de explicá-los segundo os parâ-
simples e natural arte de curar, a homeopatia, metros da pesquisa farmacológica dose-dependen-
não é absolutamente permitido dar ao doente te, os autores concluíram que os efeitos clínicos da
duas substâncias medicamentosas diferentes homeopatia eram efeitos placebo.
de uma só vez”. (Organon, § 273)44. Como rege a epidemiologia clínica, em estudos
que visem comparar a eficácia de racionalidades
Estas premissas epistemológicas do modelo ho- médicas distintas como a homeopatia e a alopatia,
meopático foram desrespeitadas na recente meta- os critérios de qualidade metodológicos específi-
nálise publicada no The Lancet45, citada no “Edito- cos a cada modelo devem constar como premis-
rial” do Prof. Bernardo Ejzenberg2 como fonte de sas fundamentais na descrição e na condução dos
evidência científica suficiente para descaracterizar mesmos, a fim de que se reproduza a realidade clí-
a eficácia clínica do tratamento homeopático. Veja- nica na pesquisa (efetividade ou validade externa).
mos como o desconhecimento e o desrespeito aos Desta forma, os ensaios clínicos homeopáticos de-
pressupostos homeopáticos podem gerar erros sis- veriam priorizar como critérios de alta qualidade
temáticos que induzem a conclusões enganosas46. metodológica as seguintes premissas: individuali-
Alegando o intuito explícito de estudar a rela- zação na escolha do medicamento, das doses e das
ção dos efeitos clínicos do tratamento homeopáti- potências homeopáticas; período de estudo sufi-
co com o efeito placebo, Shang et al.45 desenvolve- ciente para ajustar o medicamento à complexidade
ram um estudo comparativo entre ensaios clínicos da individualidade enferma; avaliação da resposta
homeopáticos e alopáticos placebos-controlados. global e dinâmica ao tratamento com a aplicação
Pareando 110 ensaios homeopáticos com 110 en- de instrumentos específicos (questionários de
saios alopáticos segundo as mesmas doenças e os qualidade de vida) etc.
mesmos tipos de resultados (efeitos específicos), Na metanálise citada, estes critérios homeopá-
os autores classificaram os estudos segundo crité- ticos de alta qualidade metodológica não foram
rios de qualidade metodológica clássicos (número valorizados, pois apenas 16% dos ensaios clínicos
de participantes envolvidos, método de randomi- homeopáticos selecionados inicialmente (e ne-
zação, aplicação do método duplo-cego, tipo de nhum dos oito estudos de melhor qualidade me-
publicação, cálculo do Odds ratio etc.), utilizando todológica clássica incluídos na segunda análise)
a meta-regressão como método de análise estatís- respeitavam a individualização na escolha do me-
tica, avaliando como os vícios ou vieses na condu- dicamento, principal premissa do modelo, cons-
ção e na descrição dos estudos poderiam interferir tituindo um viés ou erro sistemático de grande
na interpretação final dos resultados. magnitude à epidemiologia clínica homeopática.
Numa primeira análise geral de todos os ensaios A grande maioria dos ensaios clínicos homeopá-
clínicos levantados (alopáticos e homeopáticos), a ticos selecionados apresentava desenhos impró-
maioria de baixa qualidade metodológica segundo prios à clínica da individualidade, empregando
os critérios clássicos anteriormente citados, os au- um mesmo medicamento (44%) ou uma mesma
tores observaram que tanto a homeopatia quanto a mistura de medicamentos (32%) para uma quei-
alopatia mostraram-se efetiva (semelhante aos re- xa clínica comum a todos os pacientes.
sultados da metanálise publicada no The Lancet em Buscando descaracterizar a premissa da indivi-
1997 e citada anteriormente)20. Entretanto, quan- dualização do medicamento homeopático (que re-
do os erros sistemáticos foram valorizados, sele- quer estudos clínicos com longo tempo de acom-
cionando para análise apenas os estudos com alta panhamento dos pacientes), estado-da-arte da
qualidade metodológica segundo o critério específico epidemiologia clínica homeopática, os autores da
“número de participantes envolvidos” (8 ensaios clí- metanálise admitiram que “addressed these points
Pesquisa clínica em homeopatia

in additional analyses but found no strong evi- ensaios clínicos homeopáticos foram analisados 33
dence in support of these hypotheses”: “found no segundo sete critérios fundamentais, sinalizando
strong evidence” é diferente de “there was weak para as falhas existentes e as premissas que deve-
evidence” citada na conclusão final do estudo. Da riam ser incorporadas em estudos futuros:
mesma forma, “falta de evidência de eficácia clíni-
ca” é diferente de “falta de eficácia clínica”, pois as 1) descrição adequada das características dos
“evidências” se relacionam aos parâmetros de ava- pacientes (sintomas homeopáticos utilizados
liação estipulados no modelo de estudo proposto. corretamente descritos): 10 pontos;
Segundo as premissas apresentadas, ficou 2) número de pacientes envolvidos no estudo:
evidente que tanto esta metanálise45 enviesada 25-49 pacientes = 10 pontos; 50-99 pacientes
quanto o editorial47 (“The end of homoeopathy”) = 20 pontos; >100 pacientes = 30 pontos;
e outras duas matérias críticas48,49 publicadas na 3) ensaio duplo-cego (medicamento ativo sendo
mesma edição do The Lancet apresentavam o in- confrontado com placebo, sem conhecimen-
tuito implícito de desacreditar a homeopatia pe- to dos participantes do estudo): corretamen-
rante a classe científica. te descrito e executado = 20 pontos; apenas
Com este exemplo, frisamos a importância que mencionado = 10 pontos;
deve ser dispensada ao desenho dos protocolos 4) randomização (distribuição aleatória dos pa-
clínicos homeopáticos, a fim de que satisfaçam a cientes nos grupos ativo e placebo): correta-
racionalidade científica do modelo e possam ser mente descrita e executada = 20 pontos; incor-
avaliadas as verdadeiras possibilidades e limita- retamente descrita ou executada = 10 pontos;
ções de sua aplicação no tratamento das diversas 5) conduta medicamentosa corretamente descri-
enfermidades humanas. ta (administração e preparo dos medicamen-
tos) = 5 pontos;
Proposta de protocolo 6) avaliação dos resultados: efeito significante e
para pesquisa clínica em homeopatia corretamente descrito = 10 pontos;
7) apresentação dos resultados corretamente
Com o intuito de demonstrar as dificuldades descrita = 5 pontos.
metodológicas encontradas e aprimorar o de-
senho dos ensaios clínicos homeopáticos con- Numa segunda metanálise20, 89 ensaios clí-
trolados elaborados nas últimas décadas, vimos nicos foram selecionados dentre 119 levantados,
propondo nos últimos anos50,51 uma conciliação por preencherem quatro premissas básicas de
entre as premissas epistemológicas do modelo qualidade metodológica:
científico convencional (epidemiologia clínica)
e as premissas epistemológicas do modelo cien- 1) randomização corretamente descrita e
tífico homeopático (epidemiologia clínica ho- executada;
meopática), buscando suplantar a cristalização 2) alocação e mascaramento dos grupos ativo e
dogmática, estimular a criatividade e ampliar os placebo corretamente descrito e executado;
horizontes de ambas racionalidades científicas. 3) relatório escrito, publicado ou não;
4) apresentação dos resultados corretamente
Premissas epistemológicas do modelo descrita, a fim de se avaliar a eficácia do trata-
científico convencional mento homeopático frente ao placebo.

Como citado anteriormente, a primeira ava- Deste modo, segundo o ponto de vista meto-
liação da qualidade metodológica e científica dos dológico da pesquisa clássica, os ensaios clínicos
ensaios clínicos homeopáticos placebos-contro- homeopáticos deveriam seguir alguns critérios
lados19 foi realizada no início da década de 1990, mínimos para serem aceitos pela racionalidade
evidenciando falhas metodológicas fundamentais científica contemporânea:
que inviabilizavam a maioria dos estudos perante
as premissas da epidemiologia clínica. De um total 1) ensaio duplo-cego, randomizado, placebo-con-
de 107 estudos analisados, apenas 22 (20,6%) mos- trolado corretamente descrito e executado;
traram qualidade científica satisfatória, superando 2) número de indivíduos superior a 50, divididos
o escore de 55/100 pontos. Nesta metanálise, os em dois grupos, placebo e ativo;
Pediatria (São Paulo) 2008;30(1):27-40

34 3) descrição adequada das características dos pa- Esta noção de individualização do tratamen-
cientes, possibilitando relacionar os sintomas to homeopático, aplicando medicamentos úni-
homeopáticos escolhidos com o medicamento cos distintos aos diversos pacientes, esbarra no
administrado; método clássico de avaliação metodológica da
4) qualquer mudança na medicação deve ser jus- eficácia dos fármacos modernos, que empregam
tificada, segundo uma corrente terapêutica uma mesma intervenção terapêutica para pacien-
específica; tes portadores da mesma patologia, buscando
5) os efeitos observados devem estar claramente evidenciar a eficácia clínica frente à intervenção
descritos no estudo, permitindo que os resul- placebo. Dentro da dinâmica individualizado-
tados sejam analisados corretamente. ra das práticas holísticas, estaremos avaliando a
melhora clínica de uma mesma abordagem tera-
Premissas epistemológicas pêutica (segundo condutas padronizadas e devi-
do modelo científico homeopático damente especificadas para efeitos de compara-
ção ou reprodutibilidade posterior) perante uma
Ao contrário do que muitos homeopatas afir- abordagem placebo. Desta forma, chegamos a um
mam, a possibilidade de adaptação dos protocolos denominador epistemológico comum para am-
de pesquisa clínica convencional ao modelo ho- bas metodologias científicas, podendo-se avaliar
meopático é viável, desde que sejam respeitados o tratamento homeopático individualizado dentro
os pressupostos do princípio da similitude cura- dos parâmetros científicos vigentes.
tiva quando empregamos doses infinitesimais de Esta dificuldade de adaptação da terapêutica
substâncias medicinais. homeopática individualizante frente à terapêutica
comum empregada nos ensaios clínicos convencio-
Individualização do tratamento homeopático nais levou à realização de diversos ensaios clínicos
homeopáticos que não valorizaram a totalidade sin-
Independente do diagnóstico clínico, a homeo- tomática característica dos enfermos, não evidencian-
patia utiliza as premissas da totalidade sintomática do melhora significativa perante o placebo52-54, ao
característica e da individualização medicamentosa contrário dos estudos citados anteriormente que
na escolha da sua conduta terapêutica. Assim sen- priorizaram a individualização terapêutica.
do, indivíduos que apresentem uma mesma enfer- Na tentativa de encontrar um denominador
midade, via de regra, poderão receber medicamen- comum entre a individualização e a não-individu-
tos homeopáticos distintos, conforme o conjunto alização do tratamento homeopático, Bignamini
de suas manifestações peculiares (sintomas men- et al.53 selecionaram numa grande população de
tais, gerais e particulares). Fundamentados numa pacientes com uma mesma doença (hipertensão
concepção comum e imprescindível de totalidade arterial), aqueles indivíduos que apresentavam
sintomática característica, os vários autores descre- sintomas característicos do medicamento que se
vem suas técnicas de valorização e hierarquização desejava avaliar (Baryta carbonica), os quais fo-
dos sinais e sintomas observados, priorizando os ram randomizados posteriormente nos grupos
aspectos mentais (imaginativos, sensitivos, oníri- ativo e placebo. Pacientes que foram alocados no
cos, emocionais, intelectivos etc.), gerais (climáti- grupo ativo apresentaram resultados significati-
cos, alimentares, temperatura corporal, transpira- vamente superiores aos do grupo placebo.
ção, sono etc.) ou particulares (sinais e sintomas Alguns ensaios realizados sem a individuali-
dos diversos sistemas orgânicos). zação do medicamento perante o binômio doen-
Apesar das diversas correntes terapêuticas ho- te-doença apresentaram resultados significativos
meopáticas privilegiarem uma ou outra categoria frente ao placebo, estando geralmente relaciona-
de manifestação sintomática, a noção de tera- dos a transtornos secundários a traumas diver-
pêutica individualizada e única, direcionada pelo sos (íleo, hematoma e dor pós-operatórios)55-57,
conjunto de sintomas característicos da individu- caracterizados como intercorrências passageiras
alidade enferma, não pode estar ausente de qual- sem a gravidade de doenças crônicas instaladas,
quer tratamento ou ensaio clínico homeopático, ou seja, sem a profundidade miasmática da con-
que deve propiciar, de forma imperiosa e conco- cepção prognóstica homeopática.
mitante, melhoras psíquicas, gerais e particulares Dentro da similitude etiológica, bastante utilizada
aos pacientes. por algumas correntes homeopáticas seculares nos
Pesquisa clínica em homeopatia

tratamentos isoterápicos (imunoterapia homeopáti- dualidade enferma (totalidade sintomática ca- 35


ca) das doenças alérgicas, que empregam o mesmo racterística crônica ou miasmática);
princípio da identidade curativa (aequalia aequalibus b) medicamento único local (agudo ou sintomático),
curentur) incorporado pela imunoterapia clássica escolhido segundo a hierarquização e repertori-
moderna, os ensaios clínicos que utilizaram prepa- zação dos sintomas particulares, gerais e mentais
rados homeopáticos com os antígenos individuali- característicos do quadro agudo (totalidade sinto-
zados para cada paciente (selecionados atualmente mática característica aguda ou objetiva), dando-se
através dos mesmos aspectos individualizantes da ênfase à modalização dos sintomas sindrômicos,
imunoterapia convencional - história clínica, ante- desde que seja possível transformar sintomas par-
cedentes alérgicos, aspectos ambientais, IgE especí- ticulares comuns em sintomas característicos.
fica etc.) também mostraram diferenças significati-
vas entre os grupos ativo e placebo58-60. Na concepção homeopática geral, aceita-se que
a prescrição de um medicamento constitucional ou
Descrição do método crônico, selecionado segundo a repertorização da
de seleção dos sintomas homeopáticos totalidade sintomática característica crônica, deverá
atingir a suscetibilidade mórbida crônica individu-
A escolha dos medicamentos homeopáticos al, com resultados mais profundos e duradouros
individualizados (conforme a totalidade sinto- nas doenças crônicas, após um tempo de tratamen-
mática característica) deverá ser padronizada se- to mais prolongado. Com os medicamentos locais
gundo uma determinada técnica de valorização ou agudos, selecionados segundo a totalidade sin-
(hierarquização) e repertorização dos sintomas tomática característica objetiva ou do quadro agudo,
(mentais, gerais e particulares), dentre as diver- teremos ação mais imediata nas queixas clínicas
sas abordagens terapêuticas homeopáticas exis- agudas, geralmente com resultados mais superfi-
tentes, a fim de se uniformizar o ensaio clínico ciais e menos duradouros nas doenças crônicas.
num dos aspectos mais subjetivos e difíceis de
se reproduzir. Dentro desta postura objetiva de Doses e potências homeopáticas
análise e conduta, seria favorável que o mesmo
pesquisador realizasse a anamnese homeopática Buscando uma uniformização de critérios3,
(coleta dos sintomas característicos) e a escolha apoiados na observação clínica consensual de que
do medicamento individualizado (hierarquização o medicamento homeopático único corretamente
e repertorização dos sintomas) para todos os pa- individualizado sempre desperta algum tipo de
cientes do ensaio, ou para um grupo representa- resposta, propomos a prescrição inicial do medica-
tivo dos mesmos. mento único constitucional (crônico ou miasmáti-
Na realidade, em cada ensaio clínico homeopá- co) na potência 30cH (10-60 mol), em doses únicas
tico individualizado estaremos avaliando a eficácia (3-5 glóbulos ou gotas sublinguais) bimensais,
de determinada abordagem terapêutica homeo- mensais, ou semanais, segundo o tipo de patolo-
pática, que deve ser estipulada segundo condutas gia analisada e a suscetibilidade do enfermo.
semiológicas e terapêuticas devidamente padroni- Para o medicamento único local (agudo ou sin-
zadas, a fim de que possam ser reproduzidas. tomático), propomos a prescrição inicial do mes-
mo na potência 6cH (10-12 mol), em doses repe-
Abordagens terapêuticas homeopáticas tidas (3-5 glóbulos ou gotas sublinguais, 3 vezes
ao dia), durante as crises agudas; a forma líquida
Na escolha do medicamento homeopático (solução hidroalcoólica) é a mais apropriada, por
individualizado, podemos simplificar as aborda- permitir variações mínimas na potência medica-
gens terapêuticas existentes segundo duas formas mentosa entre as ingestas (através de agitações vi-
de valorização e repertorização dos sintomas ca- gorosas ou sucussões), minimizando as possíveis
racterísticos e peculiares: agravações homeopáticas (piora inicial dos sinto-
mas após a administração excessiva das doses)4.
a) medicamento único constitucional (crônico ou Estes esquemas poderão ser alterados ao longo
miasmático), selecionado segundo a hierarqui- do tratamento, conforme as respostas individuais
zação e a repertorização dos sintomas mentais, dos pacientes, devendo ser avaliados a cada retor-
gerais e particulares característicos da indivi- no mensal ou bimensal.
Pediatria (São Paulo) 2008;30(1):27-40

36 Tempo de consulta e duração misto citado por Bufe et al.64, que associa um estu-
do tratamento homeopático do placebo-controlado inicial ao seguimento pos-
terior num estudo de coorte prospectivo, mostra-
Como prerrogativa essencial, o tempo de con- se como uma alternativa viável a ser incorporada
sulta deve seguir o padrão ao qual o pesquisador nos desenhos de estudos clínicos homeopáticos.
está acostumado, segundo a abordagem semioló- Toda conduta terapêutica homeopática de-
gico-terapêutica que propõe aplicar. verá ser avaliada regularmente, com a possi-
Quanto à duração do tratamento, supomos bilidade de alteração mensal ou bimensal dos
que o tempo mínimo para a avaliação de um medicamentos, das doses e/ou das potências,
ensaio clínico homeopático individualizado em ajustando-se gradativamente as diversas hipóte-
qualquer tipo de doença crônica deva se situar ses medicamentosas à individualidade enferma,
em torno de 6-12 meses, com avaliações mensais viabilizando a aproximação da similitude ideal
da evolução clínica e ajustes na prescrição. Além no menor período de tratamento.
da necessidade de um tempo maior de acompa-
nhamento para se atingir a individualização do Eventos adversos do tratamento homeopático
medicamento homeopático segundo a totalidade
sintomática característica do enfermo, a duração Em vista de seu mecanismo de ação reacional, po-
do tratamento homeopático também deverá ser deremos observar como eventos adversos do trata-
proporcional ao grau de cronicidade da doença mento homeopático, a piora inicial dos sintomas da
e à magnitude dos desequilíbrios homeostáticos enfermidade (agravação primária ou homeopática pro-
instalados na fisiologia humana. priamente dita), o surgimento posterior de sintomas
Ao contrário dos tratamentos supressivos con- acessórios nos órgãos e sistemas afetados (agravação
vencionais em que se observa o retorno dos sinto- secundária ou de cura), o retorno de sintomas antigos e
mas de uma doença crônica após a suspensão da o surgimento de sintomas novos. Todos estes eventos
medicação enantiopática, muitas vezes em intensi- deverão ser anotados pelos pacientes num diário e
dade superior aos níveis iniciais (efeito rebote ou re- relatados ao investigador nos retornos mensais, situ-
ação paradoxal do organismo descritos no ensaio1), ando o paciente nas observações prognósticas homeo-
a recente imunoterapia sublingual tem-se mostrado páticas e orientando o médico na conduta a seguir4.
como um tratamento seguro para as alergias respi- Como principal evento adverso, o surgimento da
ratórias (rinite e asma), com mudanças efetivas no agravação homeopática propriamente dita, fruto da ad-
curso natural destas doenças, e apresentando res- ministração inadequada das doses ou das potências
posta significativa frente ao placebo após um perío- dos medicamentos homeopáticos, produzindo um
do mínimo de 12 meses de tratamento61-63. efeito primário muito forte, indicará ao médico ho-
Pelas analogias existentes entre os pressu- meopata sua conduta frente à posologia empregada.
postos terapêuticos da imunoterapia sublingual Tanto o retorno de sintomas antigos quanto a agrava-
e da homeopatia individualizada (princípios da ção de cura indicarão um bom prognóstico, trazendo
identidade ou semelhança curativa despertados ao investigador a certeza de que uma melhora evi-
por doses repetidas mínimas ou infinitesimais de dente ocorrerá. No caso de sintomas novos impor-
substâncias escolhidas segundo aspectos idios- tantes e incomodativos, evidenciando uma evolução
sincrásicos de cada paciente), podemos inferir indesejada, o medicamento deverá ser suspenso e an-
que os parâmetros de eficácia e de efetividade tidotado com outro que englobe também estes novos
(tempo de tratamento, magnitude e duração sintomas, buscando, prioritariamente, uma melhora
da resposta) de ambas terapêuticas devam se global do indivíduo (psíquica, geral e particular).
aproximar. Dentro deste raciocínio lógico, situ-
amos em torno de 12 meses a duração mínima Avaliação dos resultados
do tratamento homeopático individualizado para do tratamento homeopático
as alergias respiratórias, a fim de que possamos
evidenciar uma diferença estatística na resposta Como citamos anteriormente, a relação médi-
perante o placebo. co-paciente diferenciada do modelo homeopático,
Para minimizar os abandonos inerentes aos es- que visa captar a totalidade de sintomas caracterís-
tudos placebos-controlados com duração prolon- ticos do indivíduo enfermo, pode trazer um incre-
gada, o desenho de ensaio clínico imunoterápico mento de melhora clínica inicial devido a efeitos
Pesquisa clínica em homeopatia

subjetivos e inespecíficos (efeito placebo-consulta), selecionar o medicamento individualizado e 37


distintos dos efeitos objetivos e específicos do me- observar a eficácia e a efetividade verdadeiras
dicamento homeopático (princípio da similitude do tratamento homeopático.
curativa). Em muitos ensaios clínicos homeopáticos Na literatura, encontramos a citação da utiliza-
individualizados, a ausência de diferenças estatísti- ção de antihistamínicos como drogas de escape em
cas significativas na comparação entre os grupos ensaios clínicos homeopáticos em doenças alérgi-
placebo e ativo pode ser causada por esta melhora cas58-60, sem influírem na resposta ao tratamento
subjetiva (falsos-positivos), quando empregamos no curto prazo, empregando-se a freqüência de
períodos de observação e tratamento curtos (como utilização dos mesmos como fator de eficácia do
no estudo65 que avaliou o tratamento homeopático tratamento homeopático frente ao placebo. No en-
na ansiedade citado no Editorial2). tanto, os corticosteróides ou imunossupressores
Além do aumento na duração do tratamento, a deveriam ser evitados nos protocolos homeopáti-
utilização de um período de observação inicial me- cos, por contrariarem a terapêutica pela similitu-
diano (wash-out de 1-2 meses), após a anamnese de, que se baseia na reação do organismo à enfer-
homeopática e antes da administração da terapêuti- midade (reação vital ou homeostática).
ca, permitirá a avaliação da ocorrência de melhora
clínica imputada a alguns dos fatores inespecíficos Conclusão
da abordagem semiológica homeopática (regressão
à média, efeito hawthorne, expectativa pelo trata- Apesar dos avanços da ciência contemporânea
mento, relação médico-paciente etc.). Desde que terem acrescentado enormes progressos à medici-
tenhamos exames complementares com grande na técnico-científica moderna, o modelo científico
especificidade às alterações clínicas de determina- cartesiano, no intuito de aprofundar o estudo e o
da enfermidade, estes métodos objetivos de análise tratamento das partes constituintes do organismo
deverão ser incorporados ao protocolo. físico de forma compartimentada, desprezou a re-
A evolução da dinâmica global (miasmática) do lação médico-paciente e os aspectos subjetivos da
paciente, valorizada no modelo homeopático segun- individualidade enferma, tornando a medicina me-
do os aspectos psíquicos, emocionais, sociais, am- canicista, desumanizada e fragmentada na atenção
bientais e espirituais do indivíduo enfermo, pode integral ao paciente. Prova deste descompasso do
ser avaliada quantitativamente através de questioná- modelo biomédico vigente é o interesse crescente
rios de qualidade de vida, aplicados em todas as fases da população e da classe médica em geral por práti-
do estudo66. Dentre os inúmeros instrumentos de cas não-convencionais em saúde que valorizam os
avaliação da qualidade de vida existentes, resta-nos aspectos humanísticos, em busca de um incremen-
escolher um que melhor se adapte à enfermidade to na relação médico-paciente e de uma terapêutica
estudada e à dimensão globalizante valorizada na que se proponha a atuar de forma integrada na com-
evolução do tratamento homeopático. plexidade enferma (unidade corpo-mente-espírito),
com menos efeitos colaterais aos observados no tra-
Utilização concomitante tamento alo-enantiopático convencional67,68.
de drogas convencionais Aos que ainda não se conscientizaram deste
movimento mundial crescente e irreversível, vale
Segundo a Declaração de Helsinque, depen- ressaltar que o Cecil Medicine, o mais importante
dendo da gravidade da enfermidade analisada Tratado de Medicina Interna, acrescentou em sua
e do tempo de duração do estudo, nenhum en- última edição69 um capítulo sobre “Medicina Al-
saio clínico placebo-controlado será aprovado ternativa e Complementar”, discorrendo sobre as
pelas Comissões de Ética em Pesquisa se não principais iniciativas existentes.
for incluído um fármaco com atuação compro- Apesar das dificuldades na adaptação do mode-
vada no alívio dos sintomas dos pacientes do lo homeopático à racionalidade científica moder-
grupo placebo ou do grupo ativo sem resposta na, encontramos na literatura metanálises de en-
efetiva ao tratamento proposto. Com estas dro- saios clínicos randomizados e placebo-controlados
gas de escape, poderemos prolongar os períodos que fundamentam a eficácia clínica do tratamento
de duração dos ensaios clínicos homeopáticos homeopático perante o placebo.
(acima de 12 meses), prerrogativa essencial Para que se possa atingir um grau de evidência
para que tenhamos maiores possibilidades de desejável, com um incremento na pesquisa clí-
Pediatria (São Paulo) 2008;30(1):27-40

38 nica em homeopatia, novos estudos e propostas 9. Patel SM, Stason WB, Legedza A, Ock SM, Kaptchuk
fazem-se necessários, exigindo da academia uma TJ, Conboy L, et al. The placebo effect in irritable
bowel syndrome trials: a meta-analysis. Neurogas-
postura imparcial e isenta de preconceitos, per-
troenterol Motil 2005;17:332-40.
mitindo que pesquisadores homeopatas imbuídos
do espírito científico tenham oportunidades para 10. Ilnyckyj A, Greenberg H, Bernstein CN. Quantifica-
discutir, aprimorar e desenvolver seus projetos. tion of the placebo response in ulcerative colitis.
Por outro lado, cabe aos homeopatas, deten- Gastroenterology 1997;112:1854-8.
tores do conhecimento deste importante arsenal
11. de Craen AJ, Kaptchuk TJ, Tijssen JG, Kleijnen J.
terapêutico, participarem mais ativamente na di- Placebos and placebo effects in medicine: historical
vulgação e na expansão da homeopatia, dedican- overview. J R Soc Med 1999;92:511-5.
do-se ao desenvolvimento de propostas nas áreas
da assistência, do ensino e da pesquisa univer- 12. Cho HJ, Hotopf M, Wessely S. The placebo response
in the treatment of chronic fatigue syndrome: a sys-
sitárias, a fim de que o exemplo e a informação
tematic review and meta-analysis. Psychosom Med
possam dissolver barreiras seculares que afastam 2005;67:301-13.
colegas da mesma profissão empenhados em di-
minuir o sofrimento dos mesmos pacientes. 13. Walsh BT, Seidman SN, Sysko R, Gould M. Placebo
A homeopatia, como proposta terapêutica response in studies of major depression: variable,
substantial, and growing. JAMA 2002;287:1840-7.
coadjuvante70, pode acrescentar segurança, efi-
cácia, efetividade e eficiência à medicina con- 14. Sysko R, Walsh BT. A systematic review of placebo
vencional, contribuindo para minorar as quei- response in studies of bipolar mania. J Clin Psychia-
xas dos indivíduos acometidos por inúmeras try 2007;68:1213-7.
doenças agudas e crônicas, como vem fazendo
15. Kirsch I, Deacon BJ, Huedo-Medina TB, Scoboria A,
há mais de dois séculos.
Moore TJ, Johnson BT. Initial severity and antidepres-
sant benefits: a meta-analysis of data submitted to the
Referências Food and Drug Administration. PLoS Med 2008;5:e45.

1. Teixeira MZ. Tratamento homeopático dos dis- 16. Teixeira MZ. Homeopatia: prática médica humanísti-
túrbios emocionais e comportamentais da in- ca. Rev Assoc Med Bras 2007;53:547-9.
fância e da adolescência. Pediatria (São Paulo)
2008;29:286-96. 17. Teixeira MZ. Panorama da pesquisa em homeopatia:
iniciativas, dificuldades e propostas. Diagn Trata-
2. Ejzenberg B. Homeopatia e as evidências científicas: é o mento 2004;9:98-104.
fim da questão? Pediatria (São Paulo) 2008;29:246-8.
18. Teixeira MZ. Homeopatia: ciência, filosofia e arte de
3. Teixeira MZ. Estudo sobre doses e potências ho- curar. Rev Med (São Paulo) 2006;85:30-43.
meopáticas. Rev Homeopatia 1995;60:3-23.
19. Kleijnen J, Knipschild P, ter Riet G. Clinical trials of
4. Teixeira MZ. Agravação e prognóstico em homeopa- homoeopathy. BMJ 1991;302:316-23.
tia: uma sistematização de conceitos. Rev Homeopa-
tia 1997;62(1-2):27-68. 20. Linde K, Clausius N, Ramirez G, Melchart D, Eitel F,
Hedges LV, et al. Are the clinical effects of home-
5. Benedetti F, Mayberg HS, Wager TD, Stohler CS, opathy placebo effects? A meta-analysis of placebo-
Zubieta JK. Neurobiological mechanisms of the pla- controlled trials. Lancet 1997;350:834-43.
cebo effect. J Neurosci 2005;25:10390-402.
21. Kleijnen J. What research is needed to show the
6. Benedetti F, Lanotte M, Colloca L. When words are effectiveness of homeopathy? Br Homeopath J
painful: unraveling the mechanisms of the nocebo 2000;89(Suppl 1):S1-2.
effect. Neuroscience 2007;147:260-71.
22. Oberbaum M, Vithoulkas G, Van Haselen R. Clinical
7. Chvetzoff G, Tannock IF. Placebo effects in oncology. trials of classical homeopathy: reflections on appro-
J Natl Cancer Inst 2003; 95:19-29. priate research designs. J Altern Complement Med
2003;9:105-11.
8. Su C, Lichtenstein GR, Krok K, Brensinger CM, Lew-
is JD. A meta-analysis of the placebo rates of remis- 23. Ernst E, Pittler MH. Efficacy of homeopathic arnica:
sion and response in clinical trials of active Crohn’s a systematic review of placebo-controlled clinical
disease. Gastroenterology 2004; 126:1257-69. trials. Arch Surg 1998;133:1187-90.
Pesquisa clínica em homeopatia

24. Linde K, Melchart D. Randomized controlled trials leads to an unconventional study design. Experience 39
of individualized homeopathy: a state-of-the-art re- with open-label homeopathic treatment preceding the
view. J Altern Complement Med 1998;4:371-88. Swiss ADHD placebo controlled, randomised, double-
blind, cross-over trial. Homeopathy 2007;96:35-41.
25. Jonas WB, Kaptchuk TJ, Linde K. A critical overview
of homeopathy. Ann Intern Med 2003;138:393-9. 37. Steinsbekk A, Fonnebo V, Lewith G, Bentzen N. Ho-
meopathic care for the prevention of upper respira-
26. Cucherat M, Haugh MC, Gooch M, Boissel JP. Evi- tory tract infections in children: a pragmatic, ran-
dence of clinical efficacy of homeopathy. A meta- domised, controlled trial comparing individualised
analysis of clinical trials. HMRAG. Homeopathic homeopathic care and waiting-list controls. Com-
Medicines Research Advisory Group. Eur J Clin Phar- plement Ther Med 2005;13:231-8.
macol 2000;56:27-33.
38. van Haselen R. The economic evaluation of comple-
27. Egger M, Juni P, Holenstein F, Sterne JA. Are the mentary medicine: a staged approach at the Royal
clinical effects of homeopathy bias effects? Bristol, London Homeopathic Hospital. Br Homeopath J
United Kingdom: Department of Social Medicine, 2000;89(Suppl1):S23-6.
University of Bristol; 2001.
39. Trichard M, Lamure E, Chaufferin G. Study of the
28. Vickers AJ, Smith C. Homoeopathic Oscillococcinum practice of homeopathic general practitioners in
for preventing and treating influenza-like syndromes. France. Homeopathy 2003;92:135-9.
Cochrane Database Syst Rev 2000;(2):CD001957.
40. Jain A. Does homeopathy reduce the cost of con-
29. Wiesenauer M, Lüdtke R. A meta-analysis of the ventional drug prescribing? A study of comparative
homeopathic treatment of pollinosis with Galphimia prescribing costs in general practice. Homeopathy
glauca. Forsch Komplementärmed 1996;3:230-6. 2003;92:71-6.

30. Taylor MA, Reilly D, Llewellyn-Jones RH, McShar- 41. Trichard M, Chaufferin G, Nicoloyannis N. Pharma-
ry C, Aitchison TC. Randomised controlled trial of coeconomic comparison between homeopathic and
homoeopathy versus placebo in perennial aller- antibiotic treatment strategies in recurrent acute rhi-
gic rhinitis with overview of four trial series. BMJ nopharyngitis in children. Homeopathy 2005;94:3-9.
2000;321:471-6.
42. Kaptchuk TJ. Powerful placebo: the dark side of the
31. Jacobs J, Jonas WB, Jiménez-Pérez M, Crothers randomised controlled trial. Lancet 1998;351:1722-5.
D. Homeopathy for childhood diarrhea: combined
results and metaanalysis from three random- 43. Kaptchuk TJ. The placebo effect in alternative medi-
ized, controlled clinical trials. Pediatr Infect Dis J cine: can the performance of a healing ritual have clin-
2003;22:229-34. ical significance? Ann Intern Med 2002;136:817-25.

32. Ernst E. Homeopathic prophylaxis of headaches 44. Hahnemann S. Organon da arte de curar. 6ed. Ri-
and migraine? A systematic review. J Pain Symptom beirão Preto: Museu de Homeopatia Abrahão Brick-
Manage 1999;18:353-7. mann, 1995.

33. Straumshein P, Borchgrevink C, Mowinckel P, Ki- 45. Shang A, Huwiler-Müntener K, Nartey L, Jüni P,
erulf H, Hafslund O. Homeopathic treatment of mi- Dörig S, Sterne JA, et al. Are the clinical effects of
graine: a double blind, placebo controlled trial of 68 homoeopathy placebo effects? Comparative study
patients. Br Homeopath J 2000;89:4-7. of placebo-controlled trials of homoeopathy and al-
lopathy. Lancet 2005;366:726-32.
34. Bell IR, Lewis DA 2nd, Brooks AJ, Schwartz GE,
Lewis SE, Walsh BT, et al. Improved clinical status 46. Teixeira MZ. Será mesmo o fim da homeopatia? Di-
in fibromyalgia patients treated with individualized agn Tratamento 2006;11:61-3.
homeopathic remedies versus placebo. Rheumatol-
ogy (Oxford) 2004;43:577-82. 47. The end of homeopathy. Lancet 2005;366:690.

35. Frei H, Everts R, von Ammon K, Kaufmann F, Walther 48. Vandenbroucke JP. Homoeopathy and “the growth of
D, Hsu-Schmitz SF, et al. Homeopathic treatment truth”. Lancet 2005;366:691-2.
of children with attention deficit hyperactivity disor-
der: a randomised, double blind, placebo controlled 49. McCarthy M. Critics slam draft WHO report on ho-
crossover trial. Eur J Pediatr 2005;164:758-67. meopathy. Lancet 2005; 366:705-6.

36. Frei H, Everts R, von Ammon K, Kaufmann F, Walther D, 50. Teixeira MZ. Protocolo para pesquisa clínica em ho-
Schmitz SF, et al. Randomised controlled trials of ho- meopatia: aspectos fundamentais. Diagn Tratamen-
meopathy in hyperactive children: treatment procedure to 2001;6:11-8.
Pediatria (São Paulo) 2008;30(1):27-40

40 51. Teixeira MZ. Ensaio clínico quali-quantitativo para 61. Wilson DR, Lima MT, Durham SR. Sublingual im-
avaliar a eficácia e a efetividade do tratamento ho- munotherapy for allergic rhinitis: systematic review
meopático individualizado na rinite alérgica perene and meta-analysis. Allergy 2005;60:4-12.
[tese]. São Paulo: Faculdade de Medicina da Univer-
sidade de São Paulo; 2008. No prelo. 62. Penagos M, Compalati E, Tarantini F, Baena-Caqnani
R, Huerta J, Passalacqua G, et al. Efficacy of sublingual
52. Shipley M, Berry H, Broster G, Jenkins M, Clover A, immunotherapy in the treatment of allergic rhinitis in
Williams I. Controlled trial of homoeopathic treat- pediatric patients 3 to 18 years of age: a meta-analysis
ment of osteoarthritis. Lancet 1983;1:97-8. of randomized, placebo-controlled, double-blind tri-
als. Ann Allergy Asthma Immunol 2006;97:141-8.
53. Bignamini M, Bertoli A, Consolandi A, Dovera N, Fe-
lisi E, Saruggia M, et al. A controlled double-blind 63. Calamita Z, Saconato H, Pelá AB, Atallah AN. Efficacy
clinical study of 15 CH barium carbonate vs placebo of sublingual immunotherapy in asthma: systematic
in a group of hypertensive inmates of 2 homes for review of randomized-clinical trials using the Cochrane
the aged. Clin Ter 1987;122:429-36. Collaboration method. Allergy 2006;61:1162-72.

54. Labrecque M, Audet D, Latulippe L. Homeopathic 64. Bufe A, Ziegler-Kirbach E, StoeckmannE, Heidemann
treatment of plantar warts. CMAJ 1992;146:1749-53. P, Gehlhar K, Holland LT, et al. Efficacy of sublin-
gual swallow immunotherapy in children with severe
55. Barnes J, Resch KL, Ernst E. Homeopathy for post- grass pollen allergic symptoms: a double-blind pla-
operative ileus? A meta-analysis. J Clin Gastroen- cebo-controlled study. Allergy 2004;59:498-504.
terol 1997;25:628-33.
65. Bonne O, Shemer Y, Gorali Y, Katz M, shalev AY. A
56. Wolf M, Tamaschke C, Mayer W, Heger M. Efficacy randomized, double-blind, placebo-controlled study
of Arnica in varicose vein surgery: results of a ran- of classical homeopathy in generalized anxiety dis-
domized, double-blind, placebo-controlled pilot order. J Clin Psychiatry 2003;64:282-7.
study. Forsch Komplementarmed Klass Naturheilkd
2003;10:242-7. 66. Teixeira MZ. Avaliação miasmática na pesquisa
clínica homeopática: emprego de questionário de
57. Robertson A, Suryanarayanan R, Banerjee A. Ho- qualidade de vida. Rev Homeopatia 2002;67:5-16.
meopathic Arnica montana for post-tonsillectomy
analgesia: a randomised placebo control trial. Ho- 67. Teixeira MZ, Lin CA, Martins MA. O ensino de práti-
meopathy 2007;96:17-21. cas não-convencionais em saúde nas faculdades
de medicina: panorama mundial e perspectivas
58. Reilly DT, Taylor MA, Beattie NG, Campbell JH, Mc- brasileiras. Rev Bras Educ Med 2004;8:51-60.
Sharry C, Aitchison T, et al. Is evidence for homoe-
opathy reproducible? Lancet 1994; 344:1601-6. 68. Teixeira MZ, Lin CA, Martins MA. Homeopathy and
acupuncture teaching at Faculdade de Medicina da
59. Reilly DT, Taylor MA, McSharry C, Aitchison T. Is ho- Universidade de São Paulo: the undergraduates’ at-
moeopathy a placebo response? Controlled trial of titudes. Sao Paulo Med J 2005;123:77-82.
homoeopathic potency, with pollen in hay fever as
model. Lancet 1986;2:881-6. 69. Goldman L, Ausiello DA. Cecil Medicine. Chapter
36: Complementary and alternative medicine. 23 ed.
60. Reilly DT, Taylor MA. Potent placebo or potency? United States: Elsevier Health Sciences, 2007.
A proposed study model with initial findings using
homoeopathically prepared pollens in hay fever. Br 70. Teixeira MZ. Homeopatia: prática médica coadju-
Homoeopathic J 1985;74:65-75. vante. Rev Assoc Med Bras 2007;53:374-6.

Endereço para correspondência:


Dr. Marcus Zulian Teixeira
Hospital das Clínicas da FMUSP
Serviço de Clínica Médica Geral
Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 155
4º andar, Bloco 6
Cep: 05403-900 Enviado para publicação: 10/3/2008
E-mail: mzulian@usp.br Aceito para publicação: 18/3/2008

View publication stats

Você também pode gostar