Interessado: Fabiana, na qualidade de proprietá ria de “Fogo de Minas”
Assunto: Solicitaçã o de parecer sobre a possibilidade de reduçã o dos valores dos aluguéis
Ementa: pandemia, covid-19, aluguel, reduçã o, imó vel
I. RELATÓRIO
Fabiana, proprietá ria de “Fogo de Minas” solicita a elaboraçã o de parecer
jurídico sobre a possibilidade de reduçã o de aluguéis, descrevendo os fatos como segue: Trata-se de uma atividade empresarial relacionada a alimentos que exerce sua atividade na cidade de Dracena, Sã o Paulo. Tais atividades sã o exercidas em um imó vel que nã o é da empresa, sendo alugado. Devido a pandemia de covid-19 que atualmente afeta a todo o país, o restaurante foi obrigado a suspender suas atividades comerciais e sofreu impactos em seu faturamento. Devido a esses fatores Fabiana questiona a possibilidade de reduçã o de aluguéis.
Expostos os fatos, foram formulados os seguintes quesitos:
1. É possível a reduçã o dos aluguéis? 2. Quais os pontos positivos e negativos da reduçã o dos aluguéis? 3. Qual conclusã o a que se chega?
É o relató rio.
II. FUNDAMENTAÇÃO
Empreendedores podem negociar descontos no valor do aluguel, propor
suspensã o temporá ria dos pagamentos, e até mesmo proceder a devoluçã o do imó vel já que os contratos de locaçã o de imó veis urbanos sã o regidos pela Lei nº 8.245/1991 (Lei de Locaçõ es) e subsidiariamente pelo Có digo Civil, e que o artigo 18 daquela norma prevê a possibilidade de as partes fixarem novo valor do aluguel de comum acordo, bem como inserir ou modificar as clá usulas de reajuste e é possível uma Açã o Revisional de Aluguel, descrita no capítulo IX da Lei nº 8.245/1991, do artigo 68 ao 70.
No entanto, em períodos marcados por eventos imprevisíveis devido a
excepcionalidade que é a pandemia, o Có digo Civil é quem impera, permitindo renegociaçõ es de contratos comerciais, independentemente das açõ es específicas previstas nos citados artigos 58 e seguintes da Lei de Locaçõ es.
A possibilidade de revisã o contratual por motivos imprevisíveis está
expressamente prevista no artigo 317 do Có digo Civil, assim redigido: “Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporçã o manifesta entre o valor da prestaçã o devida e o do momento de sua execuçã o, poderá o juiz corrigi- lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestaçã o.” Isto caracteriza a chamada Teoria da Imprevisã o, que permite à s partes invocarem a clá usula rebus sic standibus, implícita em todos os contratos de trato sucessivo, dispondo que qualquer modificaçã o na situaçã o de fato implica também alteraçã o da execuçã o das obrigaçõ es dos contratantes.
Os Tribunais de Justiça devido a situaçã o atual têm entendido que é
necessá rio sim o reajuste do valor antes definido em decorrência da pandemia. É evidente que enquanto vigorarem decretos restritivos à circulaçã o e aglomeraçã o de pessoas, o contrato torna-se oneroso de forma excessiva, gerando evidente desequilíbrio econô mico, vez que os custos da quarentena ficam desproporcionalmente a cargo do locatá rio, o que nã o pode acontecer a menos que ela tivesse contribuído com o evento danoso. A prestaçã o mensal torna-se maior e mais potencialmente danosa que a anteriormente acordada. Sendo assim, nã o restam dú vidas de que manter o contrato de aluguel da forma anteriormente acordada configuraria situaçã o de extrema vantagem para a locadora do imó vel. O fato é que a parcela de aluguel comercial pode ser alterada judicialmente, na hipó tese de evento imprevisível e extraordiná rio como é a pandemia. É importante em primeiro lugar que as partes tentem um acordo sobre o valor do aluguel bem como o período que durará e que essa negociaçã o seja boa para os dois lados e que toda essa nova transaçã o seja colocada em um documento por escrito. Cada situaçã o será analisada caso a caso e a parte que foi afetada com a pandemia deverá comprovar perante o juízo competente as razõ es que justificam o seu pedido que pode ser: a reduçã o, suspensã o e rescisã o do contrato de locaçã o.
A exemplo da assertiva acima, traz-se ao presente texto da decisã o proferida
em 11 de Setembro de 2020 pelo MM. Juízo da 36ª Câ mara de Direito Privado, o Tribunal de Justiça de Sã o Paulo, nos autos do processo nº 2099506- 17.2020.8.26.0000, em um julgado de agravo de instrumento que abordava o tema da diminuiçã o do valor originá rio da locaçã o, definiu que a situaçã o deve ser considerada como um caso fortuito ou de força maior, o que impede que o contrato continue vigorando em seus termos firmados, fazendo com que haja a necessidade de readequaçã o do aluguel, no caso avaliada em 30% (trinta por cento). Ao deferir a tutela, o Magistrado nã o se absteve de aferir o binô mio necessidade/possibilidade, buscando repartir de forma isonô mica as perdas inevitá veis de cada Parte, tendo como fundamento legal a funçã o social do contrato.
Relator: Jayme Queiroz Lopes, Data de Julgamento: 11/09/2020, 36ª Câ mara de Direito Privado, Data de Publicaçã o: 11/09/2020) Haveria a possibilidade de um acordo entre as partes, nã o sendo necessá rio a intervençã o judicial para que ocorra a reduçã o do aluguel, esta só sendo possível caso as partes entrem em um acordo de consentimento mutuo. Por outro lado, nã o sendo possível um acordo é necessá rio frisar que mesmo que os Tribunais inclinam-se a julgar positivamente a reduçã o do valor do aluguel, como é proposto pela interessada, nã o é garantida ou obrigató ria que esta decisã o seja positiva para a locatá ria, podendo pender para o proprietá rio do imó vel. Além disso o valor deve ser determinado pelo juiz responsá vel, podendo assim variar de 10% a 80% do valor originá rio.
III. CONCLUSÃO
Em resposta à s perguntas formuladas pela interessada Fabiana conclui-se
que de acordo com a Lei de Locaçõ es e Có digo Civil é possível que ocorra a reduçã o dos valores dos aluguéis, pontuando-se que ocorre a resoluçã o de maneira positiva para a causa da interessada Fabiana, enquanto de maneira negativa nã o exige um acordo padrã o para o valor a ser reduzido e nem a obrigatoriedade da aplicaçã o.
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