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Relatório de Iniciação Cientı́fica

Leonardo Schultz Araujo - RA:159828


Orientador: Lino Grama
Projeto: Geometria de órbitas adjuntas de SL(2, R)
IMECC Unicamp
Vigência: 2015-2016
8 de agosto de 2016

1
Introdução
Seguem neste relatório os resultados da segunda metade do Projeto de Ini-
ciação Cientı́fica.
Tendo agora em mãos as ferramentas desenvolvidas na primeira metade
do Projeto, aqui estudaremos a relação entre o grupo SL(2, R) e sua Álgebra
de Lie associada sl(2, R). Direcionaremos nossa atenção as órbitas da re-
presentação Adjunta, que nos fornecerá nosso principal objeto de estudo, o
hiperboloide de uma folha gerado por uma de suas órbitas. Analisaremos al-
gumas propriedades geométricas desta órbita em especial, onde mostraremos
ser possı́vel obter uma estrutura simplética, nos dando um exemplo concreto
de construção.
Sobre esta mesma órbita, estudaremos o comportamento das trajetórias
geradas por um campo gradiente sobre a superfı́cie. O que nos permitirá
concluir que a hipótese de compacidade é indispensável no teorema de Morse-
Smale.

1
Resultados e Conclusões
Apresentaremos aqui um breve resumo do que foi desenvolvido no projeto.
Para maiores detalhes, veja o anexo.
Consideremos a representação adjunta sobre o grupo SL(2, R) e sua álgebra
de Lie associada sl(2, R), definida por Ad : SL(2, R) → Aut(sl(2, R)), tal que
Ad(g)h = ghg −1 .
Tomando a seguinte base de sl(2, R),
     
0 1 1 0 0 1
A= B= C= .
1 0 0 −1 −1 0

Obtemos que as órbitas de Ad são, onde H = xA + yB + zC


Hiperboloide de uma folha:
O = {H = xA + yB + zC ∈ sl(2, R) : x2 + y 2 − z 2 = λ2 , λ 6= 0};
Hiperboloide de duas folhas:
O1+ = {H = xA+yB +zC ∈ sl(2, R) : x2 +y 2 −z 2 = −λ2 , z > 0 e λ 6= 0};
O1− = {H = xA+yB +zC ∈ sl(2, R) : x2 +y 2 −z 2 = −λ2 , z < 0 e λ 6= 0};
Cone:
O2+ = {H = xA + yB + zC ∈ sl(2, R) : x2 + y 2 − z 2 = 0, z > 0};
O2− = {H = xA + yB + zC ∈ sl(2, R) : x2 + y 2 − z 2 = 0, z < 0};
O20 = {0};
Mostramos ser possı́vel obter sobre a órbita O uma estrutura simplética
induzida pela representação coadjunta. E sendo assim, concluı́mos que O é
uma variedade simplética.
Um importante resultado em sistemas dinâmicos/geometria é o Teorema
de Morse-Smale:
Teorema. Seja M uma variedade diferenciável compacta e sem fronteira,
e f : M → R uma função de Morse. Se φp (t) é a trajetória dada pela campo
gradiente gerado por ∇f no ponto p, então os limites

lim φp (t) e lim φp (t)


t→∞ t→−∞

existem e são pontos crı́ticos de f .


Estudamos o campo gradiente gerado pela forma quadrática f (x, y, z) =
yz restrito a órbita O. E assim, concluı́mos que a hipótese da variedade ser
compacta no teorema é essencial, uma vez que encontramos trajetórias nesta
órbita as quais, no limite, divergem.

2
Anexo

3
1 Resultados Preliminares
Relembraremos aqui alguns conceitos e resultados já obtidos, que foram tra-
balhados e desenvolvidos no primeiro relatório.

1.1 Definição das Álgebras de Lie


Uma álgebra sobre um corpo F, é um espaço vetorial A sobre F, munido de
um operador bilinear,
A × A → A, (x, y) → xy.
Dizemos que xy é o produto de x e y.
Uma álgebra de Lie sobre F é um espaço vetorial L sobre F, juntamente
com uma aplicação bilinear, o colchete de Lie
L × L → L, (x, y) 7→ [x, y],
satisfazendo as seguintes propriedades:
[x, x] = 0 ∀x ∈ L, (1)
[x, [y, z]] + [y, [z, x]] + [z, [x, y]] = 0 ∀x, y, z ∈ L. (2)
O item (2) é conhecida como identidade de Jacobi. Dada a bilinearidade do
colchete de Lie, temos que (1) implica
[x, y] = −[y, x] ∀x, y ∈ L. (3)

1.2 Homomorfismo
Se L1 e L2 são álgebras de Lie sobre um corpo F, então dizemos que a
aplicação ϕ : L1 → L2 é um homomorfismo se ϕ é linear e satisfaz ϕ([x, y]) =
[ϕ(x), ϕ(y)], ∀x, y ∈ L1 . Dizemos que ϕ é um isomorfismo se ϕ é também
bijetivo.
Um homomorfismo de extrema importância é o homomorfismo adjunto. Se
L é uma álgebra de Lie, definimos
ad : L → Aut(L)
por (ad x)(y) := [x, y] para x, y ∈ L. Segue da bilinearidade do colchete de
Lie que a aplicação ad x é linear para cada x ∈ L. Pela mesma razão, a
aplicação x → ad x é linear. Para mostrar que ad é um homomorfismo, tudo
que precisamos checar é:
ad ([x, y]) = ad x ◦ ad y − ad y ◦ ad x, ∀x, y ∈ L;
O que é equivalente a identidade de Jacobi. O núcleo de ad é o centro de L.

4
2 Grupo SL(n, R)
Nesta seção estudaremos a relação entre o grupo SL(n, R) e a álgebra de Lie
sl(n, R).
Definição 1. Um subgrupo G ⊂ GL(Rn ) é dito um grupo de Lie (de matri-
2
zes) quando é uma superfı́cie C ∞ do espaço M (n, R) ≈ Rn .
Utilizaremos a seguinte preposição, cuja demonstração está em [2], para
mostrar que SL(2, R) é um grupo de Lie.
Proposição 1. Sejam U ⊂ Rm+n aberto e f : U → Rn uma aplicação de
classe C k . Seja c ∈ Rn . Consideremos o conjunto

M = {p ∈ U tais que f (p) = c e f 0 (p) : Rm+n → Rn é sobrejetora},

Então
(i) M é aberto em f −1 (c).
(ii) Supondo que M é não vazio, M é uma superfı́cie de dimensão m e
classe C k do Rm+n .
(iii) Tp M = Ker f 0 (p) para todo p ∈ M .
2
Lema 1. GL(n, R) é um subconjunto aberto de Rn .
Demonstração. Basta notar que GL(n, R) é formado por duas componentes
conexas, determinadas pelo sinal do determinante, que são:

GL+ (n, R) = {g ∈ GL(n, R) : det(g) > 0}

GL− (n, R) = {g ∈ GL(n, R) : det(g) < 0}


Como a função determinante é contı́nua, temos que cada um destes con-
juntos são abertos.Uma vez que união de abertos é aberto, obtemos nosso
resultado.
Teorema 1. SL(n, R) é uma superfı́cie de dimensão n2 − 1 e classe C ∞ em
2
Rn . Além disso, o espaço tangente a SL(n, R) em I é o conjunto de todas
as matrizes de traço nulo.
Demonstração. Perceba que a função det : M (n, R) → R é de classe C ∞ ,
pois det(X) é n-linear nos vetores colunas de X. Pela expressão geral da
derivada de uma função n-linear, tem-se:
n
X
0
det (X).H = det(X1 , . . . , Hi , . . . , Xn ), X, H ∈ M (n, R)
i=1

5
onde Hi e Xj denota a i-ésima e j-ésima coluna de H e X, respectivamente.
Note então, que para X = I temos:
n
X
0
det (I).H = hii = Tr(H).
i=1

Seja E ij um elemento da base de M (n, R) definido da forma


(
ij 1, se i = k e j = l
(E )kl =
0, caso contrário

Se Xsr é a matriz obtida de X excluindo a linha r e a coluna s, segue que:

∂det
r
(X) = det0 (X).E rs = (−1)r+s det Xsr .
∂xs

Consideremos a restrição det : GL(n, R) → R. Perceba que se X ∈


GL(n, R), então devem existir r, s tais que det(Xsr ) 6= 0, uma vez que det(Xsr ) 6=
0. O que nos garante que det0 (X) é sobrejetora.
Podemos concluir então, pela proposição (1) que o conjunto

SL(n, R) = {X ∈ GL(n, R) tais que det(X) = 1}


2
é uma superfı́cie de dimensão n2 − 1, classe C ∞ em Rn .
O espaço tangente a SL(n, R) em I é o conjunto de todas as matrizes de
traço uma vez que det0 (I).H = Tr(H).

Corolário 1. O grupo SL(n, R) é um grupo de Lie, e TI SL(n, R) = sl(n, R).

Um resultado importante é que se G é um grupo de Lie de matrizes, então


dado A ∈ TI G, tem-se exp(A) ∈ G. Mostraremos este resultado para o caso
onde G = SL(n, R).

Definição 2. Seja A uma matriz n × n sobre R ou C. Definimos a exponen-


cial de A, que denotamos por exp(A), como sendo a matriz n × n dada pela
série ∞
X Ak
exp(A) =
k=0
k!

Teorema 2. Se A ∈ sl(R) então exp(A) ∈ SL(R).

6
Demonstração. Consideremos A na sua forma canônica de Jordam. Se {λi }li=1
são os autovalores de A, temos então
∞ λk1
 P   
k=0 k! ∗ ∗ ∗ eλ1 ∗ ∗ ∗
∞ k
∞ λ λ2
X Ak  0 e ∗ ∗
 P 
0 k=0 k!
2
∗ ∗   
exp(A) = = = 
.. .. .. ..   ... .
.. . . . ...
k!
 
k=0

 . . . .  
0 0 0
P∞ λkl 0 0 0 e λl
k=0 k!

Logo,
l
Y Pl
det(exp(A)) = eλi = e i=1 λi
= etr(A) = e0 = 1.
i=1

Portanto exp(A) ∈ SL(R).

3 Orbitas Adjuntas do Grupo SL(2, R)


Estudaremos aqui a geometria das órbitas de uma ação do grupo SL(2, R)
sobre a álgebra de lie associada a este, o sl(2, R).

Definição 3. Se G é um Grupo de Lie e g a álgebra de Lie correspondente.


Chamamos de representação adjunta a aplicação

Ad :G → Aut(g)
g 7→ Adg

tal que Adg (h) = ghg −1 , para todo g ∈ G e h ∈ g.

Consideremos as órbitas de Ad : SL(2, R) → Aut(sl(2, R)), e tomemos a


base {A, B, C} de sl(2, R), onde
     
0 1 1 0 0 1
A= B= C= .
1 0 0 −1 −1 0

3.1 Hiperboloide de uma Folha


Da definição de Ad, temos que se H ∈ O(λA) é uma matriz não nula com
λ ∈ R\{0}, deve então existir uma matriz S ∈ SL(2, R) tal que λA = SHS −1 .
E portanto, det(λA) = det(SHS −1 ) ⇒ det(λA) = det(H). Segue que se
H = xA + yB + zC, com x, y, z ∈ R, então

7
 
y x+z
det(H) = det = z 2 − x2 − y 2
x − z −y
 
0 λ
det(λA) = det = −λ2 .
λ 0
Donde concluı́mos que se H = xA + yB + zC pertence a O(λA), então
x, y, z devem satisfazer a equação

x2 + y 2 − z 2 = λ2 (Hiperboloide de uma folha)


Mostremos agora que se H = xA + yB + zC é tal que x, y, z satisfazem 
u v
x2 +y 2 −z 2 = λ2 , então H pertence a O(λA). Para isto, tome S = ∈
s t
SL(2, R), donde segue que
     
y x+z 0 λ −1 λ(sv − ut) λ(u2 − s2 )
=S S = .
x − z −y λ 0 λ(v 2 − t2 ) λ(tu − vs)

Logo, y = λ(sv − ut), x + z = λ(u2 − s2 ) e x − z = λ(v 2 − t2 ). Perceba


então que

x2 + y 2 − z 2 = λ2 (u2 − s2 )(v 2 − t2 ) + λ2 (sv − ut)2 = λ2


Portanto, O(λA) = {H = xA + yB + zC ∈ sl(2, R) : x2 + y 2 − z 2 =
2
λ , λ 6= 0}.
Note que det(B) satisfaz a equação do hiperboloide de uma folha. Pela
observação anterior, temos então que O(λA) = O(λB).

3.2 Hiperboloide de Duas Folhas


Considere agora H ∈ O(λC) uma matriz não nula com λ ∈ R\{0}, deve então
existir uma matriz S ∈ SL(2, R) tal que λC = SHS −1 . Portanto, det(λC) =
det(SHS −1 ) ⇒ det(λC) = det(H). Segue que se H = xA + yB + zC com
x, y, z ∈ R, então
 
y x+z
det(H) = det = z 2 − x2 − y 2
x − z −y
 
0 λ
det(λC) = det = λ2 .
−λ 0
Donde concluı́mos que se H = xA + yB + zC pertence a O(λC), então
x, y, z devem satisfazer a equação

8
x2 + y 2 − z 2 = −λ2 (Hiperboloide de duas folhas)
Neste caso, mostraremos que metade superior (z > 0) e inferior (z < 0)
do hiperboloide de duas folhas, são determinadas por duas órbitas distintas,
O1+ e O1− . Onde λC ∈ O1+ para λ > 0, e λC ∈ O1− para λ < 0.
Mostremos então, que se H = xA + yB + zC é tal que x, y, z satisfazem
2 2 2 2 + −
 + y − z = −λ , então H pertence a O1 ou O1 . Para isto, tome S =
x
u v
∈ SL(2, R), donde segue que
s t
     
y x+z 0 λ −1 −λ(sv + ut) λ(u2 + s2 )
=S S = .
x − z −y −λ 0 −λ(v 2 + t2 ) λ(tu + vs)

Logo, y = −λ(sv + ut), x + z = λ(u2 + s2 ) e x − z = −λ(v 2 + t2 ). Donde


temos,

x2 + y 2 − z 2 = −λ2 (u2 + s2 )(v 2 + t2 ) + λ2 (sv + ut)2 = −λ2 .


Perceba que para λ > 0, temos x + z > 0 e x − z < 0 ⇒ z > 0. Sendo
assim,

O1+ = {H = xA + yB + zC ∈ sl(2, R) : x2 + y 2 − z 2 = −λ2 , z > 0 e λ 6= 0}.

Para λ < 0, temos x + z < 0 e x − z > 0 ⇒ z < 0. Logo,

O1− = {H = xA + yB + zC ∈ sl(2, R) : x2 + y 2 − z 2 = −λ2 , z < 0 e λ 6= 0}.

3.3 Cone
Defina D=A+C. Considere H ∈ O(λD) uma matriz não nula com λ ∈
R\{0}, deve então existir uma matriz S ∈ SL(2, R) tal que λD = SHS −1 .
Portanto, det(λD) = det(SHS −1 ) ⇒ det(λD) = det(H). Segue que se
H = xA + yB + zC com x, y, z ∈ R, então
 
y x+z
det(H) = det = z 2 − x2 − y 2
x − z −y
 
0 2λ
det(λD) = det = 0,
0 0
Donde concluı́mos que se H = xA + yB + zC pertence a O(λD), então
x, y, z devem satisfazer a equação

x2 + y 2 − z 2 = 0 (Cone)

9
Neste caso, mostraremos que a metade superior (z > 0), inferior (z < 0)
do cone e a origem z = 0, são determinadas por três órbitas distintas, O2+ ,
O2− e O20 . Onde λD ∈ O2+ para λ > 0, λD ∈ O2− para λ < 0 e λD ∈ O20 para
λ = 0.
Mostremos então, que se H = xA + yB + zC é tal que x, y, z satisfazem
x + y 2 − z 2 = 0, então H pertence a uma das órbitas O2+ , O2− e O20 . Para
2

u v
isto, tome S = ∈ SL(2, R), donde segue que
s t
     
y x+z 0 λ −1 −λut λu2
=S S = .
x − z −y 0 0 −λt2 λtu

Logo, y = −λut, x + z = λu2 e x − z = −λt2 . Donde temos,

x2 + y 2 − z 2 = −λ2 (ut)2 + λ2 (ut)2 = 0.


Perceba que para λ > 0, temos x + z > 0 e x − z < 0 ⇒ z > 0. Sendo
assim,

O2+ = {H = xA + yB + zC ∈ sl(2, R) : x2 + y 2 − z 2 = 0, z > 0}.

Para λ < 0, temos x + z < 0 e x − z > 0 ⇒ z < 0. Logo,

O2− = {H = xA + yB + zC ∈ sl(2, R) : x2 + y 2 − z 2 = 0, z < 0}.

Para λ = 0 temos

O20 = {0}.

3.4 Observação
Afirmamos que estas são todas as órbitas de Ad. Para ver isto, basta notar
que dado H ∈ sl(2, R) uma matriz não nula, com H = xA + yB + zC,
então x2 + y 2 − z 2 = α, para algum α ∈ R. Então se α ∈ R+ , temos que
H ∈ O(λA). Se α ∈ R− , temos que H ∈ O1+ ou H ∈ O1− , e se α = 0 então
H ∈ O2+ ou H ∈ O2− . Se H = 0, então H ∈ O20 . Uma vez que todo elemento
de sl(2, R) está contido em uma, e somente uma, destas órbitas, segue que
estas são todas as órbitas de Ad.

10
Figura 1: Hiperboloide de uma folha (azul), hiperboloide de duas folhas
(amarelo) e cone (verde).

4 A Geometria do Hiperboloide de Uma Fo-


lha
Mostraremos aqui que o hiperboloide de uma folha é composto por união de
retas (Superfı́cie regrada). Resultado este, que usaremos posteriormente no
estudo da dinâmica de um campo gradiente restrito a esta superfı́cie.

Definição 4. Dizemos que uma uma S superfı́cie S é regrada se existe uma


famı́lia de retas {rα }α∈A tal que S = rα .
α∈A
Analogamente, dizemos que S é duplamente regrada se S é a união
duas famı́lias disjuntas de retas.

Para obtermos nosso resultado faremos, uso do o seguinte lema:

Lema 2. Seja S o hiperboloide de uma folha x2 + y 2 − z 2 = λ2 , com λ ∈


R\{0}. Existem duas famı́lias disjuntas de retas, F1 e F2 contidas em S.

11
Demonstração. Considere o cilindro x2 + y 2 = λ2 que intercepta S no plano
z = 0. Seja √ (x0 , y0 ) um ponto da interseção. Se considerarmos a função
f (x, z) = ± λ2 − x2 que descreve o cilindro, temos que o plano tangente ao
cilindro nesse ponto (x0 , y0 ) é:

∂f ∂f
y − y0 = (x0 , 0)(x − x0 ) + (x0 , 0)(z − 0)
∂x ∂z
Donde, para y0 > 0 temos:

λ2
 
x0
y+ p x = p (4)
λ2 − x20 λ2 − x20

E para y0 < 0:

−λ2
 
x0
y− p x = p (5)
λ2 − x20 λ2 − x20
Analisemos separadamente cada caso:

y0 > 0 : Olhemos agora como é a interseção do plano tangente com S.


Substituindo a equação do plano (4) em x2 + y 2 − z 2 = λ2 , obtemos os
seguintes sistemas de equações:
  
p
y + xλ0 z = λ2 − x20


√  (6)
λ2 −x20
x − z = x

0

 λ


  
y − xλ0 z = λ2 − x0


√  (7)
λ2 −x20
x + z = x0


λ

Encontremos então a reta √ determinada pelos planos (6). Perceba que


− λ2 −x20 
v1 = 0, 1, xλ0 e v2 = 1, 0,

λ
são os vetores normais dos planos.
Temos que  p 2
λ − x20 x0

v1 × v2 = − , , −1
λ λ
Portanto,
 p 2
λ − x20 x0

r1 (t) = (x0 , y0 , 0) + t − , , −1
λ λ

12
é a equação paramétrica da reta dada pela interseção dos planos (6). Mos-
tremos agora que r1 está contida
p em S. Para isto basta notar que para todo
t ∈ R (utilizando que y0 = λ − x20 ), vale
2

p 2  2
t λ2 − x20

tx0
x0 − + y0 + − t2 = λ2
λ λ
donde segue nosso resultado.
Vejamos agora a reta √ determinada pelos planos (7). Note que v1 =
x0
 λ2 −x20 
0, 1, − λ e v2 = 1, 0, λ
são os vetores normais dos planos. Temos
que p 2
λ − x20 x0

v1 × v2 = , − , −1
λ λ
Portanto,
p 2
λ − x20 x0

r2 (t) = (x0 , y0 , 0) + t , − , −1
λ λ
é a equação paramétrica da reta dada pela interseção
p dos planos (7). Perceba
então que para todo t ∈ R (utilizando que y0 = λ2 − x20 ), vale
p 2  2
t λ2 − x20

tx0
x0 + + y0 − − t2 = λ2
λ λ
Donde segue que r2 está contida em S.

y0 < 0 : Substituindo a equação do plano (5) em x2 + y 2 − z 2 = λ2 , obtemos


os seguintes sistemas de equações:

  
y − xλ0 z = − λ2 − x0


√  (8)
λ2 −x20
x − z = x

0

λ


  
y + xλ0 z = − λ2 − x0


√  (9)
λ2 −x20
x + z = x0


λ

Encontremos então a reta dada


√ 2pela interseção dos planos (8). Note que
λ −x 2
v1 = 0, 1, − xλ0 e v2 = 1, 0, − λ 0 são os vetores normais dos planos,
 

temos que  p 2
λ − x20 x0

v1 × v2 = − , − , −1
λ λ

13
Portanto,  p 2
λ − x20 x0

s1 (t) = (x0 , y0 , 0) + t − , − , −1
λ λ
é a equação paramétrica da reta dada pela interseção
p dos planos (8). Perceba
então que para todo t ∈ R (utilizando que y0 = − λ2 − x20 ), vale
p 2  2
t λ2 − x20

tx0
x0 − + y0 − − t2 = λ2
λ λ

Donde segue que s1 está contida em S.


Vejamos agora as √ retas determinadas pelos planos (9). Note que v1 =
λ2 −x20 
0, 1, xλ0 e v2 = 1, 0,

λ
são os vetores normais dos planos, temos que
p 2
λ − x20 x0

v1 × v2 = , , −1
λ λ

Portanto, p 2
λ − x20 x0

s2 (t) = (x0 , y0 , 0) + t , , −1
λ λ
é a equação paramétrica da reta dada pela interseção
p dos planos (9). Perceba
então que para todo t ∈ R (utilizando que y0 = − λ2 − x20 ), vale
p 2  2
t λ2 − x20

tx0
x0 + + y0 + − t2 = λ2
λ λ

Donde segue que s2 está contida em S.


Para os pontos (λ, 0, 0) e (−λ, 0, 0) (casos onde y0 = 0), temos que os
planos tangentes são x = λ e x = −λ, respectivamente. No caso do plano
x = λ, temos que as retas estão contidas em S:

l1 (t) = (λ, 0, 0) + t(0, 1, −1)


(10)
l2 (t) = (λ, 0, 0) + t(0, −1, −1)

E no caso do plano x = −λ, as retas contidas em S são:

l10 (t) = (−λ, 0, 0) + t(0, −1, −1))


(11)
l20 (t) = (−λ, 0, 0) + t(0, 1, −1)

14
Figura 2: Interseção do plano (4) com o hiperboloide

Perceba que podemos obter as retas dadas por (9) rotacionado em π


entorno do eixo z as retas obtidas em (6), o que é de se esperar uma vez
que estamos olhando pontos diametralmente opostos no cilindro. De fato,
rotacionando r1 (t), temos:
 √   √ 
t λ2 −x20 t λ2 −x20

cos π − sin π 0
 sin π cos π 0  
x0 − λ   (−x0 ) + t(−xλ
tx  =  (−y0 ) + 0)

 y0 + λ 0
λ

0 0 1 −t −t

que é exatamente s2 (t).


Olhando agora r2 (t), rotacionado em π entorno do eixo z, obtemos:

 √   √ 
t λ2 −x20 t λ2 −x20

cos π − sin π 0 x0 + (−x 0 ) −
λ λ
 sin π cos π 0   y0 − txλ0  =  (−y0 ) − t(−x0 ) 
  
λ
0 0 1 −t −t

que é exatamente s1 (t). Pelo mesmo argumento podemos ver que l10 (t)
também é uma rotação de l1 (t) e l20 (t) é uma rotação de l2 (t).
Defina então F1 como sendo a união das famı́lias de retas obtidas em (6)
e (9) mais l1 e l10 . E F2 como sendo a união das famı́lias de retas obtidas em

15
(7) e (8) mais l2 e l20 . Claramente estes são disjuntos, uma vez que cada reta
vem de um sistema distinto.

Proposição 2. Fi , i = 1, 2, satisfaz as seguintes propriedades:


(i) Se duas retas a, b ∈ Fi então existe uma rotação Rθ em torno do eixo
z, tal que Rθ a = b.
(ii) Se a ∈ Fi , e b é tal que existe uma rotação Rθ em torno do eixo z
onde Rθ a = b. Então b ∈ Fi .

Demonstração. Mostraremos ambos os itens somente para F1 , uma vez que


para F2 é análogo.
(i) Sabemos do lema (2) que se a e b pertencem a F1 , então retas passam
por um ponto (x0 , y0 , 0) ∈ S, de modo que estes são da forma:
 p 2
λ − x20 x0

r1 (t) = (x0 , y0 , 0) + t − , , −1 , y0 > 0
λ λ
p 2
λ − x20 x0

s2 (t) = (x0 , y0 , 0) + t , , −1 , y0 < 0
λ λ
Note que é suficiente mostrarmos que para todo elemento a ∈ F1 exite
Rθ tal que Rθ l1 = a. Pois se Rφ l1 = b, então Rφ Rθ−1 a = b. Uma vez o caso
a = l20 já foi provado no lema anterior, supunha então a 6= l20 . Perceba que,
    
cos θ − sin θ 0 λ λ cos θ − t sin θ
 sin θ cos θ 0   +t  =  λ sin θ + t cos θ  (12)
0 0 1 −t −t

Se a passa pelo ponto (x, y, 0) ∈ S, escolhemos θ de modo a obter x = λ cos θ

2 2 2
√ uma vez que para todo (x0 , y0 , 0) ∈ S
e y = λ sin θ (Perceba que isto é possı́vel
vale x0 + y0 = λ ). Usando que y = λ2 − x2 se y > 0, obtemos:

2 2
 
x + t λλ−x
 y + tx0 
λ
−t

No caso onde y < 0, usamos y = − λ2 − x2 para obter:

2 2
 
x − t λλ−x
 y + tx0 
λ
−t

Donde segue nosso resultado.

16
(ii) Basta mostrarmos que se existe Rθ tal que Rθ l1 = b, então b ∈ F1 ,
uma vez que, por (i), temos que existe Rφ tal que Rφ l1 = a. E portanto
existe α tal que Rα a = b se, e somente se existe φ tal que Rφ Rα l1 = b.
De (12), fazendo a mudança de variável x0 = λ cos θ e y0 = λ sin θ,
obtemos:  √ 
t λ2 −x20
 x0 ± txλ0 
 y0 + λ 
−t
que é exatamente a forma das retas dadas pelos planos (6) e (9). Portanto,
pela definição de F1 , Rθ l1 ∈ F1 .
Teorema 3. O hiperboloide de uma folha é uma superfı́cie duplamente re-
grada.
Demonstração. Seja (x0 , y0 , z0 ) ∈ S um ponto qualquer pertencente ao hi-
perboloide. Olhemos mais uma vez para a reta l1 ∈ F1 , onde l1 (t) =
(λ, 0, 0) + t(0, +1, −1). Mostraremos que existe uma rotação Rθ entorno
do eixo z tal que tal que Rθ l1 (t) = (x0 , y0 , z0 ) para algum t ∈ R (Perceba que
pela proposição (2) Rθ l1 ∈ F1 ). Da equação (12), temos:
Rθ l1 (t) = (λ cos θ − t sin θ, λ sin θ + t cos θ, −t)
Tomando t = −z0 , obtemos:

Rθ l1 (−z0 ) = (λ cos θ + z0 sin θ, λ sin θ − z0 cos θ, z0 ) (13)


Variando θ em (13), percorremos toda a curva de nı́vel S em z = z0 ,
que neste caso é uma circunferência de raio λ2 − z02 . Portanto, uma vez que
(x0 , y0 , z0 ) ∈ S, deve existir um θ tal que λ cos θ + z0 sin θ = x0 e λ sin θ −
z0 cos θ = y0 .
Donde obtemos que Rθ l1 é uma reta pertencente a F1 , tal que (x0 , y0 , z0 ) ∈
Rθ l1 .
Da mesma maneira podemos mostrar que existe uma rotação Rφ tal que
Rφ l2 contém o ponto (x0 , y0 , z0 ).
S S
Portanto temos que S = rα e S = rβ . Donde segue que S é
rα ∈F1 rβ ∈F2
duplamente regrada.

5 Espaço Tangente na Órbita O(λA)


Faremos aqui uma descrição do espaço tangente a superfı́cie descrita pela
órbita O(λA), utilizando o homomorfismo adjunto ad : g → gl(g), que é

17
induzido pela derivada da representação adjunta Ad. Para isto, usaremos a
seguinte proposição a qual a demostração se encontra em [1].

Proposição 3. Im ad(H) ' TH O(λA)

Seja H = xA + yB + zC ∈ g. Como [B, A] = C, [C, A] = B e [B, C] = A,


temos que  
0 z −y
ad(H) =  −z 0 x 
−y x 0
Uma vez que a dim Ker ad(H) = 1, tomando duas colunas qualquer da
matriz obtemos,
TH O = Span{zB + yC, xB − yA}
Suponha então H ∈ O(λA). Da seção (3.1) temos que se H = xA + yB +
zC então x, y e z devem satisfazer x2 + y 2 − z 2 = λ2 . Portanto, segue que

TH O = Span{zB + yC, xB − yA : x2 + y 2 − z 2 = λ2 }

6 Teorema de Morse-Smale
Construiremos nessa seção um exemplo, utilizando a órbita O(λA), mos-
trando ser indispensável a hipótese de compacidade no Teorema de Morse-
Smale. Comecemos com alguns conceitos preliminares.

Definição 5. Seja M uma variedade diferenciável, e f : M → R. Um


ponto crı́tico p de f é dito não degenerado se a hessiana de f em p é não
degenerada. Se todos os pontos crı́ticos de f são não degenerados, então
dizemos f é uma função de Morse.

Teorema 4. Seja M uma variedade diferenciável compacta e sem fronteira,


e f : M → R uma função de Morse. Se φp (t) é a trajetória dada pela campo
gradiente gerado por ∇f no ponto p, então os limites

lim φp (t) e lim φp (t)


t→∞ t→−∞

existem e são pontos crı́ticos de f .

18
6.1 Dinâmica de um Campo Gradiente
Estudaremos aqui o comportamento de um campo gradiente restrito a órbita
O(λA) (tomaremos a partir de agora, por conveniência, λ = 1).
Considere a função f (x, y, z) = yz. O gradiente de f em relação ao
produto interno canônico é:
∂f ∂f ∂f
∇f (x, y, z) = (x, y, z)e1 + (x, y, z)e2 + (x, y, z)e3 = ze2 + ye3
∂x ∂y ∂z
Portanto, a matriz do gradiente de f em relação a base canônica é
 
0 0 0
∇f =  0 0 1  .
0 1 0

Figura 3: Restrição do campo ao hiperboloide


,

Proposição 4. O campo gradiente gerado ∇f é tangente a órbita O(A).

19
p
Demonstração. Considere a função g(x, y) = ± x2 + y 2 − 1 que descreve o
hiperboloide p de uma folha. Olhemos primeiramente para o caso z0 ≥ 0, onde
g(x, y) = x2 + y 2 − 1. Temos que o vetor normal a superfı́cie em um ponto
(x0 , y0 , z0 ) é:  
x0 y0
n= p 2 ,p 2 , −1
x0 + y02 − 1 x0 + y02 − 1
Perceba então, que fazendopo produto interno entre n e ∇f (x0 , y0 , z0 ) =
(0, z0 , y0 ) (usando que z0 = x20 + y02 − 1), temos:
y0 z0
hn, ∇f (x0 , y0 , z0 )i = p 2 − y0 = 0
x0 + y02 − 1

Portanto, segue que ∇f leva o ponto (x0 , y0 , z0 ) em um vetor ortogonal


ao vetor normal da superfı́cie. Portanto ∇f é tangente
p a O(A) para z0 ≥ 0.
Considere agora o caso z0 ≤ 0, onde g(x, y) = − x2 + y 2 − 1
 
x0 y0
n= −p 2 , −p 2 , −1
x0 + y02 − 1 x0 + y02 − 1
p
Onde temos (usando que z0 = − x20 + y02 − 1):
y0 z0
hn, ∇f (x0 , y0 , z0 )i = − p 2 − y0 = 0
x0 + y02 − 1

Donde, da mesma maneira, temos que ∇f leva o ponto (x0 , y0 , z0 ) em um


vetor ortogonal ao vetor normal da superfı́cie, para z0 ≤ 0.
Logo, o campo gradiente gerado ∇f é tangente a órbita O(A).

Proposição 5. A função f (x, y, z) = yz restrita a órbita O(A) é uma função


de Morse.

Demonstração. Olhemos agora para a restrição do campo a órbita O(A).


Note que, como Ker ∇f = Span{e1 }. Portanto, (1, 0, 0) e (−1, 0, 0) são
todas as singularidades da restrição do campo gradiente a órbita O(A). Seja
H a matriz hessiana de f .
 
0 0 0
H(f ) =  0 0 1 
0 1 0

Perceba que H(f ) restrita ao espaço tangente nos pontos (1, 0, 0) e (−1, 0, 0)
é não degenerada em ambos os casos. De fato, utilizando o resultado da seção
(5), uma vez que os pontos (1, 0, 0) e (−1, 0, 0) são identificados pelas matrizes

20
A e −A em O(A) respectivamente, temos TA O(A) = Span{(0, 0, 1), (0, 1, 0)}
e T−A O(A) = Span{(0, 0, −1), (0, −1, 0)}, onde claramente:

TA O(A) ∩ Ker H(f ) = 0


T−A O(A) ∩ Ker H(f ) = 0

Usando a dinâmica acima podemos obter trajetórias que não seguem o


Teorema (4).
Se considerarmos a seguinte sistema de equações diferenciais:
 0    
y (t) 0 1 y(t)
= ,
z 0 (t) 1 0 z(t)

temos que as soluções do sistema (y(t), z(t)), são as trajetórias dadas pelo
campo gradiente ∇f restritas a TA O(A).
Uma vez que λ1 = −1 e λ1 = 1 são autovalores da matriz do sistema, com
autovetores v1 = (−1, 1) e v2 = (1, 1), respectivamente, segue que a solução
geral do sistema é da forma:
 
y(t)
= c1 e−t v1 + c2 et v2
z(t)

Tomando c1 = 0 e c2 = 1, obtemos γ1 (t) = et (1, 1). Note que, neste caso,


lim γ1 (t) = (0, 0), porém, para t → ∞ o limite não existe.
t→−∞
Tomando agora c2 = 0 e c1 = 1, obtemos γ2 (t) = e−t (−1, 1). Onde
lim γ2 (t) = (0, 0), porém, para t → −∞ o limite não existe.
t→∞
Levando em conta que γ1 e γ2 estão contidas em TA O(A), temos que estas
são as retas (1, t, t) e (1, −t, t), que são justamente as retas l1 e l2 descritas
em (10) e no lema (2) na seção (4). Donde segue que estas estão contidas na
órbita O(A).
Dado que a órbita O(A) é uma superfı́cie em R3 (hiperboloide de uma
folha), e portanto uma variedade diferenciável, obtivemos duas trajetórias
γ1 (t) e γ2 (t) dadas pelo campo gradiente ∇f , as quais não satisfazem o te-
orema (4), uma vez que, em ambos os casos, apenas um dos limites existe.
O que acorre pois o hiperboloide de uma folha não é uma variedade dife-
renciável compacta. Logo, concluı́mos que a compacidade é uma hipótese
indispensável no teorema (4).

21
2

-1

-2

-2 -1 0 1 2

Figura 4: ∇f restrito ao TA O(A), onde A = (1, 0, 0).

7 Estrutura Simplética
Veremos aqui como obter uma estrutura simplética sobre a órbita adjunta
O(A). Faremos isto primeiramente construindo esta estrutura sobre a orbita
coadjunta, e depois, através da forma de Killing, mostraremos ser possı́vel
induzi-la sobre órbita O(A).
Definição 6. Seja V um espaço vetorial real, e seja ω : V × V → R uma
forma bilinear antissimétrica. Dizemos que a forma ω é simplética, se

ω(u, v) = 0 ∀v ∈ V =⇒ u = 0.

Nesse caso, dizemos que o par (V, ω) é um espaço vetorial simplético.


Definição 7. Dualizando a representação adjunta podemos obter a repre-
sentação coadjunta

Ad∗ :G → Aut(g∗ )
g 7→ Ad∗g := (Adg−1 )t

ou seja, Ad∗g (ξ)(u) = ξ(Adg−1 (v)), para ξ ∈ g∗ , u ∈ g.

22
Do mesmo modo, temos

ad∗ : g → gl(g∗ )
u 7→ ad∗u := (adu−1 )t

onde, adu ∗ (ξ)(v) = −ξ([u, v]).

Definição 8. Seja M uma variedade diferenciável. Dizemos que uma 2-


forma ω ∈ Ω2 (M ) é não degenerada se ωx é não degenerada para cada x ∈ M ,
de modo que para cada x Tx M é um espaço vetorial simplético.
Uma estrutura simplética em M é uma 2-forma ω ∈ Ω2 (M ) que é não-
degenerada e tal que dω = 0. Neste caso dizemos que o par (M, ω) é uma
variedade simplética.

Considere ξ ∈ g∗ , e seja O = {ϕ ∈ g∗ : ∃u ∈ G, Adu ∗ (ξ) = ϕ} a órbita


coadjunta que passa por ξ. Uma vez que os vetores adu ∗ (ξ) geram o espaço
Tξ O, temos que
Tξ O = {adu ∗ (ξ) : u ∈ g}.
Note que para ξ ∈ g∗ fixo, o valor de ξ([u, v]) depende apenas de adu ∗ e adv ∗
no ponto ξ. De fato, se adu ∗ (ξ) = adu0 ∗ (ξ), então

ξ(u − u0 , v) = (adu ∗ − adu0 ∗ )(ξ)(v) = 0

para todo v ∈ g. Podemos assim definir uma forma bilinear antissimétrica


em Tξ O por
ωξ (adu ∗ (ξ), adv ∗ (ξ)) := ξ([u, v]), (14)

Lema 3. Para cada ξ ∈ g∗ , ωξ é não degenerada.

Demonstração. Note que se ωξ (adu ∗ (ξ), adv ∗ (ξ)) = 0 ∀v ∈ g∗ , então ξ([u, v]) =
0 = −ξ([u, v]) e portanto adu ∗ (ξ) = 0.
Uma vez que [Adg (u), Adg (v)] = Adg ([u, v]), temos que

Adg ∗ ξ([Adg (u), Adg (v)]) = Adg ∗ ξ(Adg ([u, v])) = ξ([u, v]).

Portanto a expressão (14) define ω pontualmente sobre O.

Lema 4. dω = 0.

Demonstração. Olhemos para ω pontualmente. Para ξ ∈ g∗ , temos dωξ =


1
3
(Xωξ (y, z)−Y ωξ (x, z)+Zωξ (x, y))+ 13 (−ωξ ([x, y], z)+ωξ ([x, z], y)−ωξ ([y, z], x).

23
Perceba então que as derivadas direcionais são todas nulas, uma vez que
ωξ é constante em relação a ξ, portanto, utilizando utilizando a identidade
de jacobi
1
dωξ = (−ωξ ([x, y], z) + ωξ ([x, z], y) − ωξ ([y, z], x)
3
1
= (−ξ([[x, y], z] + ξ([[x, z], y]) − ξ([[y, z], x]))
3
1
= ξ(−[[x, y], z] + [[x, z], y] − [[y, z], x])
3
1
= ξ(0) = 0
3

Teorema 5. Seja O ⊂ g∗ uma órbita coadjunta. Então (14) define uma


estrutura simplética em O.
Demonstração. Segue dos lemas (4) e (3).
Teorema 6. Suponha que g possua um produto interno Ad-invariante, ou
seja, hAdg (u), Adg (v)i = hu, vi, para todo g ∈ G. Então a identificação
g∼= g∗ induzida por este produto interno também identifica as representações
adjunta e coadjunta.
Demonstração. O isomorfismo de espaço vetoriais que identifica g e g∗ é:

ϕ :g → g∗
v 7→ Iv (15)

tal que Iv (u) = hu, vi, para todo u ∈ g∗ .


Queremos mostrar que ϕ também é um isomorfismo entre representações,
ou seja, mostrar que ϕ é um homomorfismo de álgebras de lie, e que o seguinte
diagrama comuta,
ϕ
g −−−→ g∗

  ∗
Adg  Adg
y y
ϕ
g −−−→ g∗
ou ainda, ϕ(Adg (u)) = Ad∗g (ϕ(u)) para todo u ∈ g e g ∈ G.
Primeiramente, perceba que, uma vez que ϕ é uma isomorfismo de espaços
vetoriais, se g é o espaço vetorial V munido com o colchete de Lie, podemos
fazer de V ∗ uma álgebra de Lie induzindo o colchete de Lie em V ∗ da seguinte
forma:
[a, b]∗ := ϕ([ϕ−1 (a), ϕ−1 (b)]), para todo a, b ∈ V ∗

24
Donde temos que g∗ ∼= (V ∗ , [·, ·]∗ ).
Desta forma, ϕ é um homomorfismo de álgebras de Lie. De fato,

ϕ([a, b]) = [ϕ(a), ϕ(b)]∗ .

Seja agora v ∈ g. Como Adg é invertı́vel, deve existir um w ∈ g tal


que Adg (w) = v. Portanto, usando que o produto interno é Ad-invariante,
obtemos

ϕ(Adg (u))(v) = hAdg (u), vi = hAdg (u), Adg (w)i = hu, wi.

Do mesmo modo,

Ad∗g (ϕ(u))(v) = ϕ(u)(Adg−1 (v)) = hu, Adg−1 (v)i = hu, wi.

Portanto o diagrama comuta. Donde segue então que ϕ é um isomorfismo


de representações.
Definição 9. Seja g uma álgebra de Lie sobre um corpo F. A forma de
Killing sobre g é a aplicação

B :g × g → F
(x, y) 7→ tr(ad x ◦ ad y)

Proposição 6. A forma de Killing é Ad-invariante.


Demonstração. Basta notar que B(Adg (x), Adg (y)) = tr(g ◦ ad(x) ◦ ad(y) ◦
g −1 ) = tr(ad(x) ◦ ad(y)) = B(x, y).
Proposição 7. A forma de Killing é simétrica e bilinear.
Demonstração. A simetria de B segue diretamente do fato que tr(M N ) =
(N M ). De fato,

B(x, y) = tr(ad x ◦ ad y) = tr(ad y ◦ ad x) = B(y, x).

Uma vez que ad e o traço são lineares, temos

B(αx + βy, z) = tr(ad (αx + βy) ◦ ad z)


= tr((αad x + βad y) ◦ ad z)
= αtr(ad x ◦ ad z) + βtr(ad y ◦ ad z)
= αB(x, z) + βB(y, z).

para todo x, y, z ∈ g. Donde concluı́mos que B é linear na primeira entrada.


Usando que B é simétrica, temos que o mesmo vale para segunda entrada.

25
A partir de agora denotaremos B(a, b) = ha, bi.

Proposição 8. A forma de Killing define um produto interno sobre O(A).

Demonstração. Uma vez que já mostramos que a forma de Killing é simétrica
e bilinear, precisamos apenas mostrar que, para todo H 6= 0 ∈ O(A),

hH, Hi > 0

Se H = xA + yB + zC, segue que

hH, Hi = x2 hA, Ai+y 2 hB, Bi+z 2 hC, Ci+2xyhB, Ai+2xzhA, Ci+2yzhB, Ci.
(16)
Como [B, A] = C, [C, A] = B e [B, C] = A, obtemos:
     
0 0 0 0 0 1 0 −1 0
ad(A) =  0 0 −1  , ad(B) =  0 0 0  , ad(C) =  1 0 0 
0 −1 0 1 0 0 0 0 0

Calculando os produtos temos,


 
0 0 0
hA, Ai = tr(ad(A) ◦ ad(A)) = tr  0 1 0  = 2
0 0 1
 
1 0 0
hB, Bi = tr(ad(B) ◦ ad(B)) = tr  0 0 0  = 2
0 0 1
 
−1 0 0
hC, Ci = tr(ad(A) ◦ ad(A)) = tr  0 −1 0  = −2
0 0 0
 
0 −1 0
hB, Ai = tr(ad(B) ◦ ad(A)) = tr  0 0 0  = 0
0 0 0
 
0 0 0
hA, Ci = tr(ad(A) ◦ ad(C)) = tr  0 0 0  = 0
−1 0 0
 
0 0 0
hB, Ci = tr(ad(A) ◦ ad(A)) = tr  0 0 0  = 0
0 −1 0

26
Substituindo na equação (16), e usando que se H = xA+yB+zC pertence
a O(λA), então x, y, z devem satisfazer a equação x2 + y 2 − z 2 = 1, temos

hH, Hi = 2(x2 + y 2 − z 2 ) = 2

Portanto temos que a forma de Killing é positiva definida sobre O(A).


Logo, usando a proposição (7), temos que a forma de Killing é um produto
interno sobre a órbita O(A).
Sendo assim, podemos identificar a órbita adjunta O(A) com a órbita
coadjunta O∗ (A) = {f ∈ g∗ : ∃u ∈ G, Ad∗u (ϕ(A)) = f }, onde ϕ é a função
descrita em (15), de modo que agora se torna possı́vel induzir em O(A) a
estrutura simplética que construı́mos em O∗ (A). A qual é da seguinte forma,

ωp0 (adp (a), adp (b)) := ωϕ(p) (ad∗ϕ(p) (a), ad∗ϕ(p) (b)) = hp, [a, b]i,

para todo p, a, b ∈ O(A).


Portanto, (O(A), ω 0 ) é uma variedade simplética.

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Referências
[1] BESSE, Arthur L. Einstein manifolds. Berlin: Springer, c2008. 516
p., il. (Classics in mathematics). ISBN 9783540741206 (broch.).

[2] LIMA, Elon Lages. Variedades diferenciáveis. Rio de Janeiro, RJ: IMPA,
1973. 369 p., il.

[3] MACARINI, Leonardo (Coaut. de); BURSZTYN, Henrique.


Introdução a geometria simpletica. Rio de Janeiro, RJ; São Paulo, SP:
IMPA: USP, 2006. 98p., il.

[4] SAN MARTIN, Luiz Antonio Barrera Algebras de Lie, Campi-


nas, SP: Editora da UNICAMP, c1999. 450 p., il. (Livro-texto). ISBN
8526804561 (broch.).

[5] WILDON, Mark J. (Coaut. de); ERDMANN, Karin Introduction


to Lie algebras. London: Springer, c2006. 251 p. (Springer undergraduate
mathematics series), ISBN 9781846280405 (broch.).

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