Você está na página 1de 10

Físi

a Matemáti a I
Jorge L. deLyra

Aula de 15 de Agosto de 2014

(Atualizada em 5 de novembro de 2017)

V1-05: Aspe tos Geométri os das Funções

Estando em ontrole dos on eitos de números omplexos, funções omplexas e funções


analíti as, vamos agora examinar algumas propriedades de aráter geométri o das funções
analíti as, as quais de orrem das ondições de Cau hy-Riemann que elas satisfazem. Em
primeiro lugar, vamos examinar algumas propriedades das duas funções reais de duas va-
riáveis u(x, y) e v(x, y), que onstituem uma função analíti a w = u + ıv. As ondições de
Cau hy-Riemann nos dizem que
∂u ∂v
= ,
∂x ∂y
∂u ∂v
= − .
∂y ∂x
Derivando a primeira destas duas relações em relação a x e usando em seguida a segunda
relação para es rever o resultado apenas em termos de u, obtemos
∂2u ∂ ∂v
=
∂x2 ∂x ∂y
∂ ∂v
=
∂y ∂x
∂2u
= − 2,
∂y
de forma que temos omo resultado que u satisfaz uma equação diferen ial familiar,
∂2u ∂2u
+ 2 = 0,
∂x2 ∂y
a equação de Lapla e em duas dimensões. O mesmo pode ser feito para a outra função,
resultando em
∂2v ∂2v
+ = 0,
∂x2 ∂y 2
ou, usando a abreviação usual para este operador diferen ial,
∂2 ∂2
∇2 = + ,
∂x2 ∂y 2
vemos que as duas funções satisfazem a equação de Lapla e, e que são portanto funções
harmni as,

1
∇2 u = 0,
∇2 v = 0.
Isto estabele e uma relação surpreendente om a eletrostáti a em duas dimensões, na au-
sên ia de argas livres. Basta es rever uma função analíti a qualquer para obter sem maior
esforço duas soluções da equação da eletrostáti a, ou seja, dois possíveis poten iais elétri os
em duas dimensões. Como temos vários métodos para gerar funções analíti as a partir de
funções reais, ou de outras funções analíti as, temos aqui uma verdadeira fábri a de soluções
de problemas em eletrostáti a bidimensional.
Temos aqui uma situação inusitada, pois podemos gerar fa ilmente um grande onjunto
de soluções que  am assim à pro ura de seus problemas! Muitas vezes, om um pou o
de arte, podemos onseguir adivinhar uma função w(z) ujo u satisfaça a ondições de
ontorno apropriadas sobre determinadas urvas no espaço bidimensional, que orrespondem
a superfí ies apropriadas no espaço tridimensional, e portanto a har desta forma a solução
de um problema de eletrostáti a bidimensional.
Por exemplo, e neste aso um exemplo muito simples, onsidere a função φ(z) = c − iαz ,
onde z = x + ıy , c = a + ıb é uma onstante omplexa qualquer, e α é uma onstante real
qualquer. Como se trata de uma ombinação linear de potên ias omplexas, que são funções
analíti as, temos aqui uma função analíti a. As partes real e imaginária desta função são
dadas por
φ(z) = u(x, y) + ıv(x, y) ⇒
u(x, y) = a + αy,
v(x, y) = b − αx,
que são funções lineares de y e x, podendo portanto ser interpretadas omo poten iais
elétri os em uma região do espaço onde o ampo elétri o seja uniforme. Usando u omo
exemplo, ele poderia ser o poten ial elétri o entre duas pla as metáli as planas e innitas,
denidas para ada valor de y por determinadas onstantes para todo valor de x, ou seja,
o poten ial dentro de um apa itor plano innito. Neste aso estamos ignorando a direção
z de um espaço tridimensional, o que pode ser feito em asos omo este, onde haja uma
simetria ompleta de translação na direção z , de forma que nenhuma quantidade dependa
de z , efetivamente reduzindo o problema físi o tridimensional a um problema bidimensional.

Y y
D/2 π

0 X 0 x

−D/2 −π

Figura 1: O plano (X, Y ) om as superfí ies Y = ±D/2 e o orrespondente plano (x, y)


om as superfí ies y = ±π .

Para ompletar este mapeamento de nossa estrutura matemáti a em um problema fí-


si o, é pre iso lembrar que aqui x e y são quantidades adimensionais, e rela ioná-las om
as orrespondentes oordenadas om dimensão de omprimento do problema físi o, que de-
nominamos de X e Y . Por motivos que  arão laros mais tarde, vamos olo ar as duas

2
pla as nas posições que orrespondem a y = ±π , de forma que temos a disposição de ele-
mentos físi os e orrespondentes variáveis adimensionais mostrada na Figura 1. Segue que
as relações entre as variáveis são as seguintes,
x X
=
π D/2
2X
= ,
D
y Y
=
π D/2
2Y
= ,
D
de forma que podemos es rever nosso poten ial omplexo omo
φ(z) = c − iαz
= (a + αy) + ı(b − αx)
   
2παY 2παX
= a+ +ı b− .
D D
Naturalmente, o próprio poten ial também deve ter as dimensões apropriadas em um pro-
blema físi o, o que signi a que na práti a devemos trabalhar om um poten ial Φ = Bφ,
onde B é alguma onstante om dimensões de Volts,
   
2παY 2παX
Φ(z) = B a + + ıB b − .
D D
Colo ando ondições de ontorno denidas, ou seja, voltagens denidas nas duas pla as do
apa itor, determinamos as onstantes a e α. Assumindo que o poten ial seja B/2 na pla a
superior, e −B/2 na pla a inferior, de forma que a voltagem no apa itor seja B , é fá il
ver que devemos ter a = 0 e α = 1/(2π) para que a parte real de Φ represente o poten ial
elétri o. A onstante b permane e indenida, e vamos simplesmente es olhê-la omo zero,
resultando portanto para a função omplexa φ uja parte real representa o poten ial,
Φ(z) = Bφ(z)
 
1 1
= B y−ı x
2π 2π
 
1 1
= B Y −ı X .
D D
Outro fato interessante que podemos mostrar sobre o omportamento de u e v está rela-
ionado om os gradientes destas funções de duas variáveis ou, de forma mais pre isa, às
linhas de ampo ou urvas integrais dos ampos vetoriais bidimensionais formados por estes
gradientes. Os gradientes são os ampos vetoriais dados por
 
~ ∂u ∂u
∇u = , ,
∂x ∂y
 
~ ∂v ∂v
∇v = , .
∂x ∂y
Usando as relações de Cau hy-Riemann podemos es rever o gradiente de v em termos de u,
obtendo

3
 
~ = ∂u ∂u
∇v − , .
∂y ∂x

A tro a das duas omponentes e do sinal trai o fato de que trata-se aqui de uma rotação
de π/2, ou seja, que os dois gradientes são ortogonais um ao outro, omo se pode veri ar
diretamente,

~ · ∇v
~ ∂u ∂u ∂u ∂u
∇u = − +
∂x ∂y ∂y ∂x
= 0.

Segue que os dois gradientes são perpendi ulares um ao outro, não apenas em algum ponto
parti ular, mas em todos os pontos do plano omplexo C onde a função for analíti a. Como
as urvas integrais de um ampo vetorial são tangentes ao vetor do ampo em todos os seus
pontos, segue que as urvas integrais de u e de v se interse tam em ângulos retos em todos
os pontos do plano omplexo.
Dessa forma, se u for interpretado omo um poten ial elétri o, de forma que −∇u ~
é propor ional a um ampo elétri o, então as urvas integrais de v representam urvas
equipoten iais, que orrespondem a superfí ies equipoten iais no espaço tridimensional. Isso
~ aponta na direção na qual u não varia de todo, o que pode ser
de orre do fato de que ∇v
veri ado a partir do fato de que a variação de u devida a um deslo amento dℓ ~ de módulo
dℓ na direção do versor de ∇v é dada por
~

~
~ · dℓ
du = ∇u
~
~ · ∇v dℓ
= ∇u
~ |
|∇v
= 0,

que se anula devido ao anulamento do produto es alar dos dois gradientes. Tendo de-
terminado este fato, podemos agora olo ar superfí ies metáli as ondutoras ao longo das
equipoten iais denidas pelas urvas integrais do gradiente de v, de forma a onstruir as
ondições de ontorno que, em adição à equação de Lapla e, denem de forma ompleta
um problema de eletrostáti a. Um exemplo disso é dado pela nossa função de poten ial
omplexo Φ, pois a partir de
B B
Φ(z) = Y −ı X
D D
= U + ıV

podemos al ular os gradientes de U e V , usando derivadas par iais em relação a X e Y ,


~
∇U = (0, B/D),
~
∇V = (−B/D, 0),

que têm as dimensões de ampo elétri o, levando assim aos dois onjuntos de urvas integrais
mostrados na Figura 2. Dessa forma nos deparamos aqui, pela primeira vez, om o que é
de fato um problema de ondições de ontorno, envolvendo uma equação diferen ial par ial,
bem omo om a sua solução. Este assunto será estudado em detalhe em partes posteriores
deste texto.

4
Y
D/2

−D/2
V

Figura 2: O plano (X, Y ) om as urvas integrais de U e V .

Além dessa relação de ortogonalidade envolvendo os dois gradientes, podemos também


mostrar que eles têm sempre o mesmo módulo, em todos os pontos onde a função for
analíti a. Basta veri ar que, enquanto
 
~ ∂u ∂u
∇u = , ⇒
∂x ∂y
 2  2
~ | 2 ∂u ∂u
|∇u = + ,
∂x ∂y
podemos usar as ondições de Cau hy-Riemann para es rever
 
~ ∂v ∂v
∇v = ,
∂x ∂y
 
∂u ∂u
= − , ⇒
∂y ∂x
 2  2
~ | 2 ∂u ∂u
|∇v = + ,
∂y ∂x

de forma que o módulo de ∇v ~ a aba sendo igual ao módulo de ∇u~ . Isso se deve, é laro,
ao fato de que o gradiente de v é obtido do gradiente de u por uma rotação, que não
muda o seu módulo. Em parti ular, se um dos dois gradientes for nulo então o outro
também é, o que a onte e apenas neste aso. Observe que se os dois gradientes forem nulos
em um determinado ponto, então tanto a parte real quanto a parte imaginária da função
omplexa não variam em primeira ordem naquele ponto. Veremos mais adiante que isso
está rela ionado om a existên ia de um zero da derivada omplexa da função no ponto em
questão.
Outro aspe to de aráter geométri o muito importante é o de se interpretar funções
analíti as omo mapeamentos do plano omplexo no plano omplexo, ou seja, se temos uma
função omplexa w(z) = u + ıv, onde z = x + ıy , então podemos interpretar a função omo
um mapeamento de pontos de um plano (x, y) em pontos de um plano (u, v),
w
(x, y) −→ (u, v).

Este é um mapeamento ponto-a-ponto entre os dois planos, que nem sempre é inversível, ou
seja, pode haver alguns pontos nos quais o mapeamento inverso não exista, porque dois ou
mais pontos diferentes de (x, y) são mapeados no mesmo ponto de (u, v). Em geral é mais

5
interessante examinar este tipo de mapeamento em termos da sua ação sobre urvas dadas
no plano de domínio (x, y). De forma geral, omo se trata aqui de funções ontínuas, estas
urvas são mapeadas em urvas orrespondentes no plano de imagem (u, v). Se a função
w(z) for analíti a, então o mapeamento denido por ela tem propriedades espe iais, que são
reetidas nesta relação entre urvas do domínio e da imagem.
Vamos ilustrar este tipo de mapeamento usando omo exemplo a função
1
w(z) = z + ,
z
onde z = x + ıy = ρ exp(ıθ). Como ela é a soma de duas funções analíti as, esta é também
uma função analíti a, em todo o plano omplexo a menos do ponto z = 0. Se tivéssemos
apenas o primeiro termo, teríamos o mapeamento-identidade, om u = x e v = y , que
mapeia ada ponto de (x, y) no ponto idênti o de (u, v). O exame do omportamento do
segundo termo isoladamente será deixado omo um exer í io. Vamos determinar o que esta
transformação faz om uma determinada urva, a semi ir unferên ia de raio unitário e parte
imaginária positiva mostrada na Figura 3.

y
ı
a a

b c

d 0 e x
−1 1

Figura 3: O semi ír ulo unitário no plano (x, y).

Es revendo a função em termos da representação polar temos


1
w(z) = ρ eıθ + e−ıθ
ρ
   
1 1
= ρ+ cos(θ) + ı ρ − sin(θ),
ρ ρ

e usando isso não é difí il veri ar que a semi ir unferên ia no plano (x, y) determinada
por ρ = 1 e θ ∈ [0, π] é mapeada no segmento real dado por v = 0 e u ∈ [−2, 2] no plano
(u, v). De forma análoga, não é difí il veri ar que os raios do semidis o superior denidos
no plano (x, y) por θ onstante dentro do intervalo [0, π] e ρ ∈ [0, 1] são mapeados em urvas
que omeçam no segmento que a abamos de des rever e se prolongam para o innito no
semiplano inferior do plano (u, v). Em parti ular, o segmento y = 0, x ∈ [0, 1] é mapeado
na semireta v = 0, u ∈ [2, ∞], e o segmento y = 0, x ∈ [−1, 0] é mapeado na semireta v = 0,
u ∈ [−∞, 2], omo mostrado na Figura 4.
Com isto  a laro que o interior do semidis o superior no plano (x, y) é mapeado
em todo o semiplano inferior em (u, v), ou seja, trata-se de uma deformação innita do
semidis o, que é deformado e esti ado até o upar todo o semiplano inferior.
É possível mostrar também que as urvas no plano (u, v) nas quais os raios são mapeados
saem a ângulos retos do segmento u ∈ [−2, 2] no qual a semi ir unferên ia é mapeada. Por
outro lado, é interessante notar que a semi ir unferên ia e os raios formam aquele mesmo
ângulo reto no plano (x, y). Assim, estes ângulos estão sendo mantidos pela transformação

6
v
d a a e
0 u
−2 2

b c

Figura 4: O plano (u, v) om o segmento, as retas e as urvas mapeadas.

que mapeia um plano no outro. Pode-se veri ar que isso a onte e em quase todos os pontos,
mas há duas ex eções, pois nos pontos (−2, 0) e (2, 0) do plano (u, v) este ângulo muda de
π/2 para π , de forma que subitamente temos uma mudança de omportamento.
Transformações que onservam os ângulos entre urvas desta forma são denominadas
de transformações onformes. Vamos demonstrar em seguida que, sob ertas ondições, o
mapeamento denido por uma função analíti a é sempre um mapeamento onforme. Como
veremos, a ondição relevante para que os ângulos sejam onservados em um determinado
ponto é que o mapeamento seja inversível no ponto em questão, ou seja, que o mapeamento
inverso não seja singular naquele ponto.
Consideremos então uma função analíti a w(z), que mapeia pontos z = (x, y) do plano
(x, y) em pontos w = (u, v) do plano (u, v). Ao longo desta demonstração estaremos sempre
en arando z e w omo vetores em duas dimensões, e usando livremente notação vetorial para
es lare er as ideias. Dada uma urva denida por uma equação f (x, y) = 0 em (x, y), esta
transformação produz uma urva orrespondente g(u, v) = 0 em (u, v). Vamos mostrar aqui
que, dadas duas urvas orientadas C1 e C2 que se interse tam em um ângulo θ em (x, y), as
duas urvas orrespondentes C1′ e C2′ em (u, v) se interse tam om o mesmo ângulo θ ′ = θ ,
omo ilustrado no diagrama da Figura 5.

θ w(z)
θ′
1

2 2
z = (x, y) w = (u, v)

Figura 5: Duas urvas C1 e C2 mapeadas entre o plano (x, y) e o plano (u, v) pela função
analíti a w(z).

Consideremos para tal duas variações de z , dz~ 1 e dz


~ 2 , que sejam tangentes às duas
urvas, as quais se interse tam em um ponto (x, y), tomadas nas direções positivas de ada
urva. O ângulo θ entre as duas urvas é dado pelo produto es alar de versores
~ 1 · dz
dz ~2
cos(θ) = ,
~ 1 dz
dz ~2

onde dz
~ 1 = (dx1 , dy1 ), dz
~ 2 = (dx2 , dy2 ), e onde temos que

7

~ 1 =
p
dz (dx1 )2 + (dy1 )2 ,

~ 2 =
p
dz (dx2 )2 + (dy2 )2 .

Estas duas variações dz


~ 1 e dz
~ 2 ausam, através do mapeamento w(z), duas orrespondentes
variações dw1 e dw2 no plano (u, v). O ângulo entre elas é dado por
~ ~

~ 1 · dw
dw ~
2 ,

cos θ ′ =
~ 1 dw
dw ~ 2

onde dw~ 1 = (du1 , dv1 ), dw


~ 2 = (du2 , dv2 ), e assim por diante. Usando a expressão dos
diferen iais de u(x, y) e v(x, y) em termos das variações de x e y , podemos es rever dw
~ 1,2
omo funções dos orrespondentes (dx, dy)1,2 . Omitindo por ora os índi es que identi am
as urvas, temos
~ = (du, dv)
dw
 
∂u ∂u ∂v ∂v
= dx + dy, dx + dy .
∂x ∂y ∂x ∂y
Usando as ondições de Cau hy-Riemann podemos es rever isso ex lusivamente em termos
de u,
 
~ = ∂u ∂u ∂u ∂u
dw dx + dy, − dx + dy .
∂x ∂y ∂y ∂x
Note-se que isso vale para ada uma das duas urvas, e que as derivadas par iais são as
~ 1 e dw
mesmas em ada aso, ou seja, se formos es rever isso de forma explí ita para dw ~ 2 , os
índi es de identi ação de ada urva se apli am apenas às variações (dx, dy). Cal ulando
agora o módulo quadrado de dw~ , podemos ver que os duplos produtos que vêm do quadrado
de ada omponente se an elam, devido às ondições de Cau hy-Riemann, e que temos
portanto
 2     2
2
~ = ∂u 2 ∂u ∂u ∂u
dw (dx) + dxdy + (dy)2
∂x ∂x ∂y ∂y
 2     2
∂u 2 ∂u ∂u ∂u
+ (dx) − dxdy + (dy)2
∂y ∂y ∂x ∂x
"   2 #
∂u 2 ∂u
(dx)2 + (dy)2 .
 
= +
∂x ∂y

As quantidades que restam são o quadrado do módulo do gradiente de u e o quadrado do


~,
módulo de dz
2 2
dw ~ |2 dz
~ = |∇u ~ .

Não há nada de espe ial quanto à presença de |∇u ~ | aqui, pois omo já vimos |∇v~ | tem
o mesmo valor, e poderíamos igualmente es rever esta equação em termos dele. Notemos
mais uma vez que, quando formos es rever isso em separado para ada urva, o gradiente é
~ e dz
o mesmo, e os índi es só devem ser apli ados às variações dw ~.
Podemos al ular também o produto es alar das variações dw ~ 1 e dw
~ 2 . Naturalmente,
desta vez é pre iso manter os índi es das urvas expli itamente em todos os passos. Mais
uma vez veri amos que, devido às ondições de Cau hy-Riemann, os produtos mistos que
apare em se an elam, de forma que resulta

8
∂u 2
   2
~ 1 · dw
~ 2 = ∂u
dw dx1 dx2 + dy1 dy2 +
∂x ∂y
  
∂u ∂u
+ (dx1 dy2 + dx2 dy1 ) +
∂x ∂y
 2  2
∂u ∂u
+ dx1 dx2 + dy1 dy2 +
∂y ∂x
  
∂u ∂u
− (dx1 dy2 + dx2 dy1 )
∂y ∂x
"   2 #
∂u 2 ∂u
= + (dx1 dx2 + dy1 dy2 ).
∂x ∂y

As quantidades que restam desta vez são mais uma vez o quadrado do módulo do gradiente
de u, e o produto es alar das variações dz
~ 1 e dz
~ 2,

~ |2 dz

~ 1 · dw
dw ~ 2 = |∇u ~ 1 · dz
~2 .

Usando os resultados a ima para os módulos e o produto es alar das variações dw


~ 1 e dw
~ 2,
podemos es rever para a expressão do ângulo no plano (u, v)
~ · dw
dw ~
1 2

cos θ ′ =
~ 1 dw
dw ~ 2
~ |2 dz

|∇u ~ 1 · dz
~2
= .
~ | dz
|∇u ~ |∇u
1
~ | dz~ 2

Antes de pro eder aos an elamentos que são sugeridos por esta fórmula, vamos hamar a
atenção para o fato de que só podemos es rever isso se |∇u
~ | 6= 0, o que impli a também
que |∇v | 6= 0. Caso ontrário, as quantidades em numerador e em denominador são ambas
~
nulas e a expressão que dene cos(θ ′)  a indenida. Se tivermos ∇u
~ = 0 = ∇v ~ em um
determinado ponto, então segue que w = (u, v) não varia naquele ponto, quando x e y
variam de forma innitesimal ao redor do ponto orrepondente no plano-domínio. Assim,
todos os valores de z = (x, y) próximos daquele ponto são mapeados em um mesmo valor
de w, mostrando que o mapeamento não é inversível naquele ponto. Assim, vemos que este
teorema só vale em pontos onde a transformação for inversível (o que orresponde à função
analíti a asso iada ter derivada omplexa não-nula no ponto). Neste aso podemos fazer os
an elamentos, e temos então
~ · dw
dw ~
1 2

cos θ ′ =
~ 1 dw
dw ~ 2
~ · dz
dz ~
= 1 2 ,
~ dz
dz
1
~
2

onde, na última versão da fórmula, re onhe emos a expressão de cos(θ), que dá o ângulo no
plano (x, y), de forma que resulta

cos θ ′ = cos(θ),

ou seja, que o ângulo entre as urvas é onservado pela transformação denida por w(z).
A rigor, seria ne essário mostrar também que sin(θ ′) = sin(θ), o que deixaremos para os

9
exer í ios. Desta forma, vemos que o mapeamento denido por uma função analíti a é
uma transformação onforme, em todos os pontos onde tanto o mapeamento quanto a sua
transformação inversa estiverem bem denidos e forem analíti os, sem singularidades.
De erta forma, esta onservação de ângulos está rela ionada também om possibilidade
de usarmos estes mapeamentos para transformar as soluções de problemas eletrostáti os
umas nas outras. Como vimos, as urvas integrais dos gradientes das partes real e imagi-
nária de funções analíti as podem ser interpretadas omo as linhas de ampo e superfí ies
equipoten iais da eletrostáti a, que são sempre perpendi ulares umas às outras. É portanto
ne essário que os mapeamentos onservem estes ângulos, de tal forma que esta propriedade
da solução eletrostáti a no plano-domínio seja preservada na orrespondente solução no pla-
no-imagem. Isso também é garantido pela analiti idade das funções envolvidas, pois omo
veremos mais adiante o poten ial Φ′ no plano (u, v) está rela ionado om o poten ial Φ no
plano (x, y) e om a função w(z) através da omposição de funções. O ponto aqui é que a
omposição de duas funções analíti as gera uma função que também é analíti a, omo já
mostramos anteriormente.
É laro que esta mesma té ni a de solução, que examinaremos no apítulo seguinte,
pode ser usada para ajudar a resolver outros problemas de físi a que possam ser reduzidos
à equação de Lapla e em duas dimensões, o que in lui por exemplo problemas de ondução
de alor e problemas envolvendo o uxo bidimensional de uidos.

10

Você também pode gostar