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A CENTRALIDADE DA SUPEREXPLORAÇÃO DA
FORÇA DE TRABALHO NO PADRÃO
DE REPRODUÇÃO DO CAPITAL
DAS ECONOMIAS DEPENDENTES
1 INTRODUÇÃO
82
Cf. CARDOSO, Fernando Henrique; FALETTO, Enzo [1969]. Dependência e desenvolvimento
na América Latina: ensaio de interpretação sociológica. 6. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
83
Cf. Martins (2011) e Luce (2018).
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84
Ver o que afirma Marini ([1973] 2011a, p. 135-136), no que destaca que a situação
colonial não é a mesma que a situação de dependência, com esta última somente se dando
quando acontece a plena integração da América Latina na economia mundial após, mais
precisamente, 1840.
85
DOS SANTOS, T. [1978]. Imperialismo y Dependencia. Caracas: Fundación Biblioteca
Ayacucho, 2011, p. 364, tradução nossa.
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86
MARINI, Ruy Mauro. Dialética da dependência [1973]. In: TRASPADINI, Roberta;
STEDILE, João Pedro (Orgs.). Ruy Mauro Marini: vida e obra. 2. ed. São Paulo: Expressão
Popular, 2011a. p. 134-135.
87
Decorrentes, basicamente, da formação de monopólios internacionais de manufaturados; e
da maior produtividade das nações centrais, conforme expõe Marini ([1973] 2011a), o que
ainda detalharemos mais à frente neste trabalho.
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88
Cf. Marini ([1973] 2011a, [1979] 2012).
89
A categoria padrão de reprodução do capital foi elaborada por Ruy Mauro Marini, aparecendo
pela primeira vez num artigo deste autor na publicação não periódica Cuadernos Cidamo,
intitulado Sobre el patrón de reproducción de capital en Chile (1982). Neste, dirá, numa
definição ainda muito genérica, que o padrão de reprodução do capital no Chile se refere à
“relação entre as estruturas de acumulação, produção, circulação e distribuição de bens”. Em:
MARINI, R. M. Sobre el patrón de reproduccíon de capital en Chile. Cuadernos de Cidamo.
México D. F., n. 7, 1982, tradução nossa. Disponível em: http://www.mariniescritos.unam.
mx/061_reproduccion_capital_chile.html. Acesso em: 3 nov. 2018.
90
Em Bottomore (1988), temos que a mediação é uma categoria central da dialética. Por ela,
se estabelecem conexões via algum intermediário. Indo além da posição ocupada por essa
categoria na epistemologia e na lógica em geral, na dialética materialista marxista, porém,
essa categoria assume um estatuto ontológico, ou seja, uma posição que diz respeito à
própria constituição do ser e, mais especificamente, do ser social. O estudo da totalidade
deste ser social, portanto, deve perpassar, obrigatoriamente, pelas mediações pelas quais os
complexos que constituem essa totalidade se efetivam, no que se inclui aí a maneira como as
leis gerais do modo de produção capitalista se conformam em espaço e tempo particular.
91
Sobre esse tema, em específico, ver Martins (2011).
92
Cf. AMIN, S. (2006).
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padrões de reprodução do capital. Estes últimos, por sua vez, são determinados
não apenas pela característica do ciclo do capital que lhes corresponde, mas
pelas determinações do modo como está estruturado o sistema mundial
capitalista no qual estão inseridos93. A configuração particular deste sistema,
nesse sentido, estabelece a situação dos padrões de reprodução do capital em
termos da produção de valores de uso na DIT; e da dinâmica de acumulação e
transferência de valor produzida por cada um deles.
Temos, então, que o processo mundial de acumulação de capital se
apresenta sob a forma de diferentes padrões de reprodução do capital pelo
mundo, pertencentes a núcleos geográficos de acumulação de capital, que se
concentram nas economias centrais ou imperialistas; em contrapartida aos
padrões de amplas regiões dependentes e periféricas, nas quais predomina a
desacumulação de capital94.
Mais além disso, o desenvolvimento do sistema mundial capitalista,
ao longo da história, estabelece diversas DITs que determinam os padrões de
reprodução do capital que se sucedem na economia dependente, do ponto de
vista da sua produção de valores de uso95. Assim, temos um padrão agromineiro
exportador, que abarca desde o início das independências políticas formais
das economias dependentes, efetivadas na primeira metade do século XIX, até
a segunda década do século XX; um padrão industrial, iniciado na segunda
metade dos anos 1930, com uma primeira etapa internalizada e autônoma
que vai até os anos 1940, e tendo continuidade com uma etapa de integração
ao capital estrangeiro, iniciada nos anos de 1950; e um padrão exportador de
especialização produtiva, indo de meados dos anos 1980 e se prolongando até
os nossos dias atuais.96
93
Osorio (2012, p. 79), nesse sentido, nos alerta que, para cada padrão que se sucede na
economia dependente, é preciso “considerar que eles fazem parte de um movimento
mais geral, o do sistema mundial capitalista, de modo que sua análise deve integrar-se aos
processos que marcam o curso de tal sistema, das etapas que vão tendo curso e da lógica que
rege cada uma de suas periodizações”.
94
Tal realidade se conforma mediada pelos mecanismos de transferência de valor, já aqui
citados, que costumam privilegiar as primeiras dessas economias em detrimento destas
últimas regiões. Cf. Osorio (2012, 2014).
95
Os nomes que Osorio (2012) mesmo utiliza para diferenciar tais padrões destaca essa
dimensão material que os qualificam.
96
Se faz necessário lembrar ainda que cada padrão deste está entremeado por etapas de
transição, nas quais se designam “momentos em que um padrão não termina de se subordinar
AGENDA DE DEBATES E DESAFIOS TEÓRICOS 187
e em que o padrão que emerge ainda não domina com clareza”.1 Temos então uma etapa de
transição do padrão agromineiro exportador para o padrão industrial na primeira metade
dos anos 1930; e uma segunda etapa de transição separando o padrão industrial do padrão
exportador de especialização produtiva que vai de meados dos anos 1970 até início dos anos
1980. Por sua vez, as características particulares, num menor nível de abstração, de cada um
destes padrões, podem ser vistas em LUCE, M. Teoria Marxista da Dependência: problemas
e categorias – uma visão histórica. São Paulo: Expressão Popular, 2018.
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97
Em relação a esta última situação, tal coisa se dá de forma significativa, caracterizando
transferência de excedente, somente a partir do momento que a economia latino-americana
obtém um excedente comercial, por meio das exportações, suficiente para fazer e arcar com
somas cada vez maiores de tais dívidas. Marini, citando Sodré (1964), atesta isso mostrando
o caso do Brasil, que “a partir da década de 1860, quando os saldos da balança comercial
se tornam cada vez mais importantes, o serviço da dívida externa aumenta: dos 50% que
representava sobre esse saldo nos anos de 1960, se eleva para 99% na década seguinte”. E
citando Barboza-Carneiro (1920), mostra ainda que, entre 1902-1913, pari passu ao aumento
das exportações brasileiras em 79,6%, a dívida externa apresentou crescimento de 144,6%,
representando, em 1913, 60% do gasto público da nação (MARINI [1973], 2011a, p. 134).
98
MARINI, R. M. Dialética da dependência, op. cit., p 138.
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99
Com isso, não se quer dizer, tal como faz a crítica de Fernando Henrique Cardoso a Marini
logo após a publicação inicial das ideias que conformaram o Dialética da Dependência
(1973), que a superexploração da força de trabalho se restrinja a ser mais-valia absoluta,
ou seja, um mero aumento da exploração em termos quantitativos, sendo superada com
o avanço das forças produtivas na região que geraria mais-valia relativa. O fenômeno
da superexploração da força de trabalho pode se identificar, através dos diferentes
mecanismos que a expressam, com a mais-valia absoluta, porém ele não implica o não
desenvolvimento das forças produtivas. Ver a respeito a resposta de Marini a essa crítica
em Sobre a Dialética da Dependência (1973). Num primeiro momento, no que se refere
à economia exportadora, os mecanismos de superexploração da força de trabalho se
identificam predominantemente, na aparência, com a mais-valia absoluta, o que pode
explicar o fato de Cardoso dizer que ela era somente isso, dado que, inicialmente, ele só
teve acesso à parte do Dialética da Dependência que versava sobre a economia exportadora
e não lidava com o avanço das forças produtivas na região advindo da industrialização.
Sobre isso, ver Memórias (1990), de Marini. Entretanto, a industrialização tem seus efeitos
analisados e relatados nos últimos capítulos de Dialética, tanto nos seus impactos causados
ao ciclo econômico do capital em uma economia dependente, como na própria estrutura
de produção dessa economia. Aqui, a superexploração da força de trabalho não se resumirá
mais a uma diferença quantitativa da exploração, mas a uma diferença de grau que convive
com o avanço das forças produtivas na região.
100
Esta precisão é imperiosa de ser feita para que não corra o risco de cair numa concepção
ricardiana que confunde trabalho e força de trabalho, e acaba por cair numa visão moralista
a respeito da exploração e da geração de mais-valor, que não é a de Marx e nem cremos
ser a de Marini. Contrariamente a isso, Marx deriva o mais-valor em sua teoria a partir
da troca de equivalentes, fornecendo uma visão científica da exploração no capitalismo.
Como diz Carcanholo, M. (2013a, p. 75-6), “tratar os dois [superexploração do trabalho e
superexploração da força de trabalho] como sinônimos equivale a tratar a força de trabalho
(mercadoria) como sinônimo de trabalho (o valor de uso da mercadoria) e, portanto, perder
de vista a dialética da mercadoria força de trabalho. […] o rigor teórico e metodológico exige
utilizar o termo superexploração da força de trabalho, uma vez que explorar – no sentido de
usar, utilizar, consumir, realizar – aquilo que já é o resultado desta exploração (utilização), o
trabalho, não parece fazer muito sentido”.
190 JOSÉ RAIMUNDO TRINDADE • (Org.)
101
A lógica dessa dinâmica se encontra mais bem fundamentada n’O capital III, de Marx, em
que se prevê que, devido ao capital constante não gerar mais-valor na produção, transferindo
somente o seu custo de produção para o produto final, o aumento de seu montante na
economia provoca o decrescimento relativo do capital variável, que é a verdadeira fonte do
mais-valor, tendendo a causar, por fim, um decrescimento da taxa de lucro na economia.
102
MARINI, R. M. Dialética da dependência, op. cit., p. 141.
103
A vinculação que se estabelece, a partir daí, entre economias dependentes e economias
centrais, é uma vinculação, portanto, de cunho imperialista, explicada em suas leis mais
gerais, não sem divergências, pelas obras de Lenin, Hilferding, Bukharin e Rosa Luxemburgo.
A TDM, nesse sentido, é tributária das teorias do imperialismo, configurando-se como um
prolongamento necessário destas, no sentido de que confere centralidade às leis que regem
as economias dependentes. Sobre isso, ver Dos Santos (1978, p. 357).
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104
Para esclarecer a diferença entre a essência e a aparência das relações capitalistas, recomenda-
se a obra em dois volumes de Reinaldo Carcanholo: Capital: essência e aparência (2011,
2013), publicada pela editora Expressão Popular.
105
No caso, Marx explica esse mecanismo no capítulo 10 d’O Capital I, através da diferença
entre custos de produção envolvendo capitais mais e menos produtivos, e a possibilidade
dos primeiros em vender seus produtos abaixo do valor de mercado.
106
Ver mais sobre isso em CARCANHOLO, Marcelo Dias. O atual resgate crítico da Teoria
Marxista da Dependência. Em: Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 11, n. 1, p.
191-205, jan./abr. 2013a.
192 JOSÉ RAIMUNDO TRINDADE • (Org.)
O mero fato de que umas produzam bens que as outras não produzem, ou não o
fazem com a mesma facilidade, permite que as primeiras iludam a lei do valor,
isto é, vendam seus produtos a preços superiores a seu valor, configurando assim
uma troca desigual. Isso implica que as nações desfavorecidas devem ceder
gratuitamente parte do valor que produzem, e que essa cessão ou transferência
seja acentuada em favor daquele país que lhes venda mercadorias a um preço
de produção mais baixo, em virtude de sua maior produtividade.
108
Desmedido porque pautado no quanto as classes dominantes dos países centrais se
apropriam.
109
Os três mecanismos em questão, no entanto, não impedem que não haja tantos outros,
a depender da conformação específica do capitalismo em cada economia dependente,
como é o caso de um quarto mecanismo (não mencionado no Dialética da Dependência)
em que sobe o valor da força de trabalho, entretanto, o salário não acompanha tal subida.
Em toda pesquisa empírica e histórico-concreta de economias dependentes é necessário,
portanto, que se esteja aberto à possibilidade da existência de outros tantos mecanismos que
impliquem superexploração da força de trabalho.
194 JOSÉ RAIMUNDO TRINDADE • (Org.)
110
Cf. Marini (2011b, p. 86).
111
Cf. Marini (2011b, p. 86-87).
112
Fato este possibilitado pelo aumento da capacidade produtiva nessa economia que se orienta
pela busca do mais-valor relativo.
113
Quantidade esta propiciada, segundo Marini (2011a), dentre outras fontes, pela oferta de
mão de obra indígena do México e dos fluxos migratórios europeus, que eram produtos do
avançar tecnológico desse continente até o início do século XX.
AGENDA DE DEBATES E DESAFIOS TEÓRICOS 195
114
O que importa assinalar, portanto, é que a economia dependente, desde então, não segue
o percurso comum clássico do desenvolvimento capitalista da economia central. Na
situação de dependência, a fórmula de Gunder Frank (1965) do “desenvolvimento do
subdesenvolvimento” ganha amplo sentido, podendo-se dizer, para atualização dessa
expressão, que temos um desenvolvimento do capitalismo peculiar em economias nessa
situação. Um desenvolvimento, nesse sentido, dependente.
115
Nesse sentido, diz Marini (2011a, p. 158) que “A harmonia que se estabelece, no nível do
mercado mundial, entre a exploração de matérias-primas e alimentos, por parte da América
Latina, e a importação de bens de consumo manufaturados europeus, encobre a dilaceração
da economia latino-americana, expressa pela cisão do consumo individual total em duas
esferas contrapostas”.
116
OSORIO, J. O Estado no centro da mundialização, op. cit., p. 184-185.
196 JOSÉ RAIMUNDO TRINDADE • (Org.)
117
Ibid., p. 79. Ver, por sua vez, em Bambirra (2013) a explicação de como o processo de
industrialização na América Latina se valeu grandemente dos eventos de âmbito mundial aí
citados, não se podendo pensar tal processo sem eles.
118
A perspectiva dos ciclos econômicos latino-americanos na análise do processo histórico de
conformação das economias dependentes é, pioneiramente, introduzida por Theotônio Dos
Santos em sua obra O novo caráter da dependência (1967). Ali, se destaca que os ciclos
econômicos das economias dependentes, que antes refletiam os ciclos da economia mundial
e seus efeitos sobre a produção agrícola e mineira, após a interiorização de uma indústria
de maquinarias com dinâmica tecnológica própria, passam a ter um aspecto próprio
relativamente autônomo que lhes permitem possuir modalidades endógenas próprias que
duram de 4 a 10 anos.
AGENDA DE DEBATES E DESAFIOS TEÓRICOS 197
119
Tal situação implicou a necessidade do abandono das ilusões de que a industrialização
poderia converter os países “subdesenvolvidos” em “desenvolvidos”. Ilusões estas nutridas
pelas diversas correntes do pensamento desenvolvimentista que compunham desde a Cepal
até mesmo o PCB. Ver Dos Santos (2015).
120
A Produção do mais-valor relativo é o título da seção IV do Livro I d’O Capital, com seu
capítulo 10 revelando mais especificamente o significado da categoria mais-valor relativo
com que Marini (2011a) aí trabalha.
198 JOSÉ RAIMUNDO TRINDADE • (Org.)
121
Cabe lembrar que, nas economias centrais, esse momento havia significado um marco, dada
a necessidade de novos mercados, o que levou a concentração por parte dos capitalistas em
obter lucros a partir do aumento do mais-valor relativo, logo, do aumento da capacidade
produtiva.
122
Se este atuasse sozinho, haveria a possibilidade de mudança qualitativa dessa economia
da feita que passasse a incorporar os trabalhadores à esfera de consumo de produtos
manufaturados.
200 JOSÉ RAIMUNDO TRINDADE • (Org.)
na América Latina feita por Osorio (2012), o chamado padrão industrial possui duas fases:
uma que se inicia na segunda metade dos anos 1930, internalizada e autônoma, que vai
até os anos 1940; e outra que constitui a de integração ao capital estrangeiro, iniciada nos
anos de 1950 e que se prolonga até o momento de transição (de meados dos anos 1970 até
início dos anos de 1980) para o padrão de exportador de especialização produtiva vigente
atualmente.
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Como bem Marx (1867) já alertava sobre o sentido de ser do desenvolvimento tecnológico
124
que reproduza a si e a sua família como ofertantes de força de trabalho no mercado. O valor
total, em contrapartida, deve levar em conta o tempo de vida útil do trabalhador, ou seja,
o total de dias em que o trabalhador vende a mercadoria força de trabalho no mercado em
condições normais de produção, além do tempo em que ele estará aposentado e não poderá
mais fazer isso. Nesse sentido, o valor total determina o valor diário da mercadoria força de
trabalho, posto que este último está pautado no tempo de vida médio do trabalhador, assim
como no seu desgaste médio.
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127
Os mecanismos aqui já foram citados e encontram-se mais bem desdobrados no nível de
abstração que pede a categoria padrão de reprodução do capital em Osorio (2012).
128
Como vimos, este mecanismo é mais difícil de se suceder na economia dependente, devido
às barreiras do monopólio tecnológico impostas pelas economias centrais.
129
Condições estas caracterizadas por “revoluções na microeletrônica, que multiplicam e
aceleram as comunicações, redução nos preços dos transportes de mercadorias e um novo
estágio do capital financeiro” que, por sua vez, propiciam “integrações mais intensas do
mercado mundial, […] novas possibilidades de segmentação dos processos produtivos,
de relocalização de indústrias e serviços, bem como uma elevada mobilidade do capital”
206 JOSÉ RAIMUNDO TRINDADE • (Org.)
(OSORIO, 2012, p. 79). Para ver em mais detalhes as características da mundialização, cf.
OSORIO, J. O Estado no centro da mundialização, op. cit., p. 169-173.
130
O que não significa, como já pontuamos, que as economias dependentes não possam
conviver com aumento de produtividade e inclusive com a produção de mais-valor relativo
ao mesmo tempo em que fazem uso regular da superexploração. Como Osorio (2012, p. 57)
mesmo sinaliza: “O capitalismo [...] não existe para oferecer melhores condições de vida.
Seu objetivo é a valorização, fazendo dos novos avanços na tecnologia e na organização do
trabalho formas não de liberação, mas de maior submissão e exploração”. A isso se soma o
expediente da maior intensidade do trabalho que não deixa de constituir um mecanismo
que pode ser usado para violar o valor da força de trabalho, ajudando a compor o fenômeno
da superexploração.
131
Tal situação também sofre contribuição direta da introdução do capital estrangeiro que
se insere na economia dependente sempre em busca de lucros extraordinários. Ao fazer
isso, como fora projetado para uma realidade exterior, costuma desempregar trabalhadores
em massa, aumentando o exército industrial de reserva e aprofundando as mazelas da
economia dependente, gerando uma situação favorável para superexplorar mais ainda os
trabalhadores.
AGENDA DE DEBATES E DESAFIOS TEÓRICOS 207
132
A este fenômeno é que Marini se refere quando aponta o divórcio da estrutura de produção
da necessidade de consumo do consumo das massas na economia dependente.
133
Tal padrão, segundo Osorio (2012, p. 85), é caracterizado “pelo regresso a produções
seletivas, seja de bens secundários e/ou primários, seja de relocalização de segmentos
produtivos, novas organizações da produção, em geral qualificadas como ‘toyotismo’,
flexibilidade laboral e precariedade, economias voltadas à exportação, drásticas reduções e
segmentação do mercado interno, fortes polarizações sociais, aumento da exploração e da
superexploração e níveis elevados de pobreza e indigência”.
208 JOSÉ RAIMUNDO TRINDADE • (Org.)
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
CARCANHOLO, Marcelo Dias. O atual resgate crítico da Teoria Marxista da Dependência. In:
Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 11, n. 1, p. 191-205, jan./abr. 2013b.
CARCANHOLO, R. Capital: essência e aparência. Vol. 1. São Paulo: Expressão Popular, 2011.
MARINI, R. M. [1990]. Memória: por Ruy Mauro Marini. In: TRASPADINI, Roberta;
STEDILE, João Pedro (org.). Ruy Mauro Marini: vida e obra. 2. ed. São Paulo: Expressão
Popular, 2011b, p. 55-128.
MARX, K. [1885]. O Capital: crítica da economia política, Livro II: o processo de circulação
do capital. São Paulo: Boitempo, 2014.
MARX, K. [1894]. O Capital: crítica da economia política, Livro III: o processo global da
produção capitalista. São Paulo: Boitempo, 2017.
OSORIO, J. Padrão de reprodução do capital: uma proposta teórica. In: FERREIRA, Carla;
OSORIO, Jaime; LUCE, Mathias Seibel (Orgs.). Padrão de reprodução do capital:
contribuições da Teoria Marxista da Dependência. São Paulo: Boitempo Editorial, 2012.