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TV Digital: Uma Nova Era

Otacílio Vicente Ferreira Neto


Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Paraíba
otacilioferreiro@hotmail.com

Resumo

A TV Digital é a ferramenta para a da inclusão digital que o Brasil está apostando. Através
da interatividade o governo pretende democratizar as tecnologias e espera alcançar grande parte
de população já que a maioria das residências possui um aparelho televisor. Diante desse novo
campo que vem surgido, e da 'facilidade' de criação e expansão de aplicativos, surgi um novo
mundo de oportunidades.

Palavras-chave: TV-Digital, interatividade, Set-Top Box, televisão, Ginga, Xlet.

Introdução
Padrão ATSC

Para falar de TV Digital e suas


funcionalidades, mais especificamente sua • Implementado nos EUA, Argentina, Taiwan,
interatividade, é necessário um pouco do seu Coréia do Sul e no Canadá;
histórico e seus objetivos primários. A primeira idéia • O sistema americano visava inicialmente a
surgiu na década de 70, no Japão, com a emissora imagem em HDTV – High Definition TV –
nacional NHK, ao qual buscava uma melhor permitindo também ter imagens em SDTV-
qualidade de áudio e vídeo para suas gravações e Standard Definition TV – e canais de dados
transmissões. Mesmo com intensos investimentos, o para a implementação da interatividade;
atraso da tecnologia da época, como meios de
• Utiliza o PSIP como protocolo de
difusão limitados, formatos do sinal e utilização das
transmissão, que utiliza o numero do canal
freqüências de banda apenas lhes permitiu sucesso
analógico existente como base para
décadas depois.
identidade da TV digital, dando a
Os primeiros avanços vieram na década de
possibilidade de dividir um canal em sub-
80, no Japão e na Europa, com a criação de padrões
canais, onde a emissora pode fazer
híbridos: MUSE – Multiple Sub-Nyquist Sampling
transmissões simultâneas;
Encoding – no Japão e o MAC – Multiplexed
Analog Component – na Europa. Utilizavam • Suporta guia eletrônico – EPG;
transmissões via satélite, mas a composição final do • Possui limitações como a convergência com
sinal era analógica. Com o surgimento de um aparelhos de terceira geração;
método de compactação de áudio e vídeo chamado • Em testes feitos no Brasil, constatou-se
MPEG, iniciou-se estudos para um padrão problemas em grandes distancias e de
totalmente digital utilizando essa tecnologia. Em refração – ondas transmitidas se refletem em
1993 na Europa, foi criado o padrão televisivo DVB um objeto próximo em movimento e retorna
– Digital Video Broadcasting, em 1998 o ATSC – criando interferência. Como na TV digital só
Advanced Television System Committee nos EUA e há formação de imagens se os dados forem
em 2000 o ISDB – Integraded Services of Digital recebidos por inteiro e íntegros, qualquer
Broadcasting no Japão. interferência provoca a interrupção do sinal;
Cada padrão foi criado buscando atender as
necessidades de cada país, portanto, possuindo
características respectivas. Listando as principais Padrão DVB
características de cada um, temos:
Desde o surgimento da televisão, a relação
• Utilizado na União Européia, Austrália e Emissora-Usuário era: emissora transmite, usuário
Nova Zelândia; recebe. Podemos chamar isso de Canal de Descida.
• Privilegiou a multiplicidade de canais e a A partir da TV digital, surgi o Canal de Retorno,
interatividade; onde ocorre o inverso. Agora, o usuário é capaz de
• A transmissão é feita sobre uma taxa de bits, enviar informações para o provedor de conteúdo.
criando a possibilidade para o usuário Juntos, os canais de Descida e Retorno formam o
escolher a qualidade da imagem exibida, Canal de Interatividade, definido como uma ligação
podendo dividir entre outras transmissões. onde a comunicação é feita bidirecionalmente.
Para melhor entendimento, se tivermos De um modo geral, podemos entender como
recebendo uma transmissão de um canal, tudo funciona com o exemplo. No momento em que
podemos assistir em alta ou baixa definição, ligamos a nossa TV, um URD – Unidade Receptora-
podendo dois programas no mesmo canal decodificadora captura o sinal, decodifica os dados
ser exibido em alta e/ou em baixa definição; recebidos. Se estiverem corretos e sem interferência,
a URD envia para a TV o resultado dos dados
• Permite a transmissão para dispositivos
obtidos, formando a imagem e reproduzindo o áudio.
móveis, exceto aparelhos de terceira
Aplicativos poderão estar disponíveis em um menu
geração;
interativo para o usuário fazer o download e utilizar
• Um ponto negativo é o alto custo dos no seu receptor. Se algum aplicativo necessitar levar
aparelhos de recepção; uma resposta a emissora, o caminho inverso é feito.
Essa URD, conhecida também como Set-
Top Box, tem como principal função receber os
Padrão ISDB sinais digitais e repassar para a TV. Nesse período de
transição, essas URDs podem ser adquiridas
separadamente, mas a expectativa é que em poucos
• Utilizado no Japão; anos todas as TVs vendidas no Brasil possuam
• O único modelo a permitir que a TV digital dispositivos integrados.
seja utilizada com todas as suas aplicações,
incluindo a transmissão para aparelhos de
terceira geração;
• O mais indicado para regiões
metropolitanas, com grandes construções;
• Em testes realizados no Brasil foi o que
obteve melhor desempenho em transmissão,
alcance e compatibilidade;

Diante desses padrões, a ANATEL –


Agencia Nacional de Telefonia – ficou encarregada
de escolher o padrão que atenda as necessidades do
país, comparando entre elas a melhor. Facilidade de
implementação, disponibilidade comercial, preços
dos receptores, compatibilidade com sistemas
antigos e/ou ainda em uso, foram fatores importantes
utilizados na decisão.
Após escolher o padrão ISDB, foi decidido
que existiria um tempo de transição entre os
sistemas para a adaptação das emissoras de do
consumidor. A principio a transmissão digital 1. Set-Top Box
começaria nas capitais e depois nas cidades
interioranas sobre uma cota de horas. A cada ano, Alem de receber o sinal digital, também é
essa cota seria incrementada até toda a programação capaz de executar aplicativos criados para interação
estiver sendo exibida no novo sistema. Emissora-Usuário.
O Set-Top Box possui uma estrutura
semlhante com um computador comum. Sua
A Interatividade estrutura é formada por:
• System Board: local onde passam todas as muitas funcionalidades, é necessário um Sistema
informações relacionadas à TV digital; Operacional para gerenciar e coordenar as diversas
funções. Podemos citar como exemplo o Linux, o
• Sintonizador: responsável pela recepção dos Java OS da Sun.
sinais das redes; No cenário atual existem diversos
fabricantes de hardware e software com diferentes
tipos de produtos. Diante das muitas diferenças entre
as camadas e a dificuldade que seria a comunicação
• Modulador e Demodulador: onde é
entre elas foi necessário criar uma camada
verificada a existência de possíveis erros;
intermediaria que fizesse a ligação entre a interface
de aplicações e o sistema operacional. Criou-se uma
• Demultiplexador e Decrytor: são circuitos camada intermediária chama de Middleware.
integrados responsáveis pela identificação 1.1 Estrutura Geral de um Set-Top Box.
dos pacotes de vídeo, áudio ou serviços O middleware tem como função oferecer um
interativos. Também responsável pela serviço padronizado as aplicações, facilitando a
descriptografia dos dados criptografados execução de uma aplicação e ocultando as
recebidos (como senhas); especificações de S.O. e hardware.
Entre os mais diversos, o Java TV é um forte
candidato a ser padrão mundial por sua flexibilidade
• Decodificadores: responsável pela e compatibilidade. Utiliza bibliotecas da linguagem
decodificação de dados para áudio e vídeo. Java, porém sem algumas funções desnecessárias e
Após a decodificação, os dados são enviados outras adicionadas especificamente para o ambiente
ao processador; da televisão.
No Brasil, foi estudado um middleware
• CPU: parte mais importante do Set-Top Box, próprio que atendesse a realidade e as necessidades
pois é ela que ativa os outros componentes, nacionais. Definiu-se então que a televisão deveria
verifica, processa e executa as funções; ser ferramenta de inclusão digital, já que grande
parcela da população não tem acesso à internet, mas
quase toda possui uma televisão. Diante desses fatos,
• Configuração de memória e recursos de foi criado o Ginga. Ele possui funcionalidades
armazenamento: utilizada para o inovadoras permitindo o desenvolvimento de
armazenamento de informações geradas pela aplicações avançadas, explorando a integração de
CPU e recebidas do meio externo. A dispositivos por ser compatível com os protocolos
principio, esses Set-Top Boxes vinham com comuns como Bluetooth, Wi-Fi, USB. Um exemplo
uma memória Flash, porém hoje já é de dispositivo que pode facilmente ser utilizado é o
encontrado URDs com discos rígidos – celular. Através de uma atualização, podendo ate
Hard Disk – com grande capacidade de mesmo ser pela própria TV, ele pode se integrar e
armazenamento; utilizar as funções como se fosse o próprio controle
remoto.
Alem desses, outros recursos e dispositivos
podem ser interligados, como teclados, câmeras de
vídeos, DVD, dependendo do aparelho e suas portas Aplicações Interativas: Xlets
de entrada e saída.

   Aplicações: t-commerce, jogos, O governo brasileiro aposta nas aplicações


interativas como meio de inclusão digital e
etc. propagação das mídias. Portanto a interatividade
pode ser considerada como ponto estratégico do
Middleware Ginga, este que possibilita tanto linguagens
procedurais como declarativas.
A maioria das aplicações que estão sendo
Sistema Operacional desenvolvidas são em Java também chamadas Xlet.
Xlets possuem um 'ciclo de vida' simples, separado
em quatro estados: carregando, pausado, executando
Hardware e destruído. Esses aplicativos podem já estar na
URD ou podem ser recebido pelo meio externo. Ao
Como qualquer dispositivo que possua iniciar-lo imediatamente ele entra no estado de
'carregando'. Após todos os preparativos de reserva OLIVEIRA, Etienne, ALBUQUERQUE, Célio, TV
de recursos, ele entra no estado de 'pausado'. Quando Digital Interativa: Padrões para uma nova era;
for possível ser executado, ele entra em 'executando',
podendo voltar ao estado de 'pausado'. Se necessário CUNHA, Luiz, COELHO, Carlos, SOUZA, Guido,
a passagem para ‘ destruído’ pode ser feita por KULESKA, Raoni, ALVES, Luiz, BRESSAN,
qualquer outro estado, significando fim do Graça, RODRIGUES, Rogerio, SOARES, Luiz,
aplicativo. Isso pode acontecer devido a erros, fim FlexTV – Uma proposta de arquitetura de
do aplicativo, ou algum motivo externo. middleware para o sistema brasileiro de TV Digital,
Todos os comandos de utilização de um Revista de Engenharia de Computação e Sistemas
aplicativo pelo usuário são feitos apenas utilizando o Digitais, PCS, EPUSP;
controle remoto da TV. Uma facilidade para o
usuário e um problema para os programadores e COELHO, Carlos, CUNHA, Luiz, SOUZA, Guido,
criadores dos programas, mesmo a linguagem NERY E SILVA, Lincoln, Suporte para
utilizada ser de certo modo comum. Porém, foram desenvolvimento de aplicações multiusuário e
criados e são utilizados hoje compiladores e multidispositivo para a TV digital com Ginga; T&C
emuladores específicos para todo esse trabalho. Com Amazônia, Ano V, Número 12, Outubro de 2007;
isso, a criação de aplicativos depende apenas da
iniciativa dos profissionais e para os fabricantes a FERNANDES, Jorge, LEMOS, Guido, SILVEIRA,
comercialização dos aparelhos. Gledson, Introdução à Televisão Digital Interativa:
Arquitetura, Protocolos, Padrões e Práticas,
  Congresso da Sociedade Brasileira de Computação,
Atualidade e Expectativas JAI-SBC, Salvador – BA, Agosto de 2004, Anais do
JAI-SBC, 2004;

Há uns meses fiz um seminário sobre TV JOLY,Ana, Interatividade na Televisão Digital – Um


Digital e diante de todos, nosso orientador e estudo preliminar;
professor afirmou que a interatividade não era
realidade, porém hoje podemos dizer que começou a SILVA, Jones, TV Digital Interativa, Monografia,
se tornar. As mídias digitais estão entrando em foco Abril de 2003;
nas universidades e instituições de tecnologia. http://computerworld.uol.com.br/telecom/2007/10/1
Congressos e palestras acontecem em todo o país, 6/idgnoticia.2007-10-16.6887682646/
incentivando e capacitando profissionais para esse
novo ramo tecnológico. http://computerworld.uol.com.br/telecom/2007/07/0
Em relação a produção propriamente dita, já 5/idgnoticia.2007-07-05.7357067845/
existem projetos em desenvolvimento nas mais
diversas áreas. Fiquei pensando que tipo de http://pt.wikipedia.org/wiki/Tv_digital
aplicações poderia desenvolver e com que fim. Acho
que a principio, programas de utilidade diária seria http://www.oficinadanet.com.br/artigo/548/televisao
um bom começo, como programas de _digital
monitoramento do trânsito, mapas entre outras
funcionalidades. http://www.cpqd.com.br/img/historico_tv_digital.pd
As expectativas de futuro são muito boas, f
diante do cenário de tanta euforia entre os http://www.scribd.com/doc/29664/TV-DIGITAL-
profissionais da área. Podemos concluir que uma Brasil-e-Mundo
nova era na informação está começando.

Referências Bibliográficas

SOUZA, Guido, CUNHA, Luiz, COELHO, Carlos,


Ginga-J: The Procedural Middleware for the
Brazilian Digital TV System;

COELHO, Carlos, TV Digital, Java na sala de estar,


Revista MundoJava;

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