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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Recursos – Parte I
Prof. Anderson Ferreira

DOS RECURSOS – PARTE I

Teoria Geral dos Recursos

Amigo (a), quando falamos de recurso, estamos diante de um instrumento que

visa impugnar as decisões judiciais proferidas pelo Juiz. Bem, é normal que uma

decisão desfavorável a alguma das partes, seja objeto de inconformismo, aspecto,

em certa medida, até natural do ser humano. Sendo assim, por meio do recurso, é

possível carrear a questão examinada ao Poder Judiciário, a fim de que ela seja re-

apreciada. No entanto, há de se ressaltar o seguinte, não é porque autor ou réu da

relação jurídica processual estão inconformados com o a decisão que será admitido

o recurso, negativo! Recorre-se com fundamentado em ilegalidade, inconstitucio-

nalidade ou erro atribuído ao Julgador.

Diante do que foi consignado no parágrafo acima, o recurso tem o objetivo

de reanalisar a questão na expectativa de que ela seja modificada, invalidada,

esclarecida ou complementada. Vale ressaltar que os recursos não formam um

novo processo, não! Eles têm o condão de alongar a relação processual e pos-

suem a aptidão para impedir a coisa julgada, haja vista postergarem a decisão

final.

Veja, estimado (a) leitor (a), lembro-me de ter comentado com você acerca

dos pronunciamentos do Juiz ao longo da marcha processual. Veja, os recur-

sos são cabíveis para atacar os seguintes pronunciamentos judiciais, a saber:

decisões interlocutórias; sentenças; decisões monocráticas e acórdãos.

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Recursos – Parte I
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De acordo com o artigo 1.001 da Lei de Ritos, não cabe recurso dos despachos

proferidos pelo Juiz.

Os recursos são interpostos com os seguintes objetivos:

• Reformar a sentença: busca reformar a decisão, como, por exemplo, modifi-

car a sentença com o objetivo de que não haja condenação ao pagamento de

danos materiais e lucros cessantes relativos a um acidente de trânsito.

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• Invalidar a decisão: intenta invalidar a decisão sob o argumento de que houve

erro no procedimento, relativo aos ditames do Direito processual Civil (error

in procedendo) ou erro no conteúdo, no direito material aplicado (error in

judicando).

• Efeito integrativo: Tem por objetivo esclarecer a decisão, como ocorre na in-

terposição de embargos, os quais tem o objetivo aclarar, explicar a decisão

quando ela for omissa, obscura ou contraditória, ou seja, tem por escopo

esclarecer.

 Obs.: Em regra, os recursos não se prestam a avaliar matérias, as quais não

formam arguidas ou discutidas anteriormente, as exceções estão previstas

nos artigos 493 e 1.014 do Novo Código de Processo Civil.

Art. 493. Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou
extintivo do direito influir no julgamento do mérito, caberá ao juiz tomá-lo em conside-
ração, de ofício ou a requerimento da parte, no momento de proferir a decisão.
Parágrafo único. Se constatar de ofício o fato novo, o juiz ouvirá as partes sobre ele
antes de decidir.
(...)
Art. 1.014. As questões de fato não propostas no juízo inferior poderão ser suscitadas
na apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior.

Amigo (a), a interposição dos recursos ocorre, como regra, por meio do endere-

çamento ao juízo a quo (do qual vai) para o juízo ad quem (para onde vai), ou seja,

há uma sistemática de uma instância em grau inferior para outra em grau superior,

o que pode ser flexibilizado no agravo de instrumento.

Art. 1.016. O agravo de instrumento será dirigido diretamente ao tribunal competente,


por meio de petição com os seguintes requisitos: (...)

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Com base no exposto, em linhas acima, acompanhe comigo, de forma gráfica a


regra para interposição dos recursos:

Pressupostos Recursais ou Requisitos de Admissibilidade.

Uma vez interpostos os recursos, alguns pressupostos ou requisitos devem ser


analisados para que haja a admissibilidade do recurso interposto. Se o juízo de ad-
missibilidade for positivo, analisa-se o mérito, ou seja, o recurso será conhecido.
Vamos analisá-los.

Cabimento
O cabimento é a possibilidade jurídica de interposição do recurso, ou seja, se ele
será admissível. Veja, estimado (a) estudante, os recursos estão previstos em um
rol taxativo, encartado no artigo 994 da Lei de Ritos.

Art. 994. São cabíveis os seguintes recursos:


I – apelação;
II – agravo de instrumento;
III – agravo interno;
IV – embargos de declaração;
V – recurso ordinário;
VI – recurso especial;
VII – recurso extraordinário;
VIII – agravo em recurso especial ou extraordinário;
IX – embargos de divergência.

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Além dos recursos supramencionados, algumas leis esparsas preveem outras

espécies recursais, as quais não estão previstas no rol da Lei Adjetiva, como é o

caso do recurso inominado, positivado no artigo 41 da Lei n. 9.099/95.

Art. 41. Da sentença, excetuada a homologatória de conciliação ou laudo arbitral, ca-


berá recurso para o próprio Juizado.
§ 1º O recurso será julgado por uma turma composta por três Juízes togados, em exer-
cício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.
§ 2º No recurso, as partes serão obrigatoriamente representadas por advogado.

Legitimidade

A legitimidade diz respeito aos legitimados para interpor o recurso. Além das

partes, o artigo 996 do Novo Código consigna que são legitimados para interposi-

ção de recurso: a parte sucumbente (vencida), o Ministério Público, seja na

condição de parte ou de fiscal da ordem jurídica (custos iuris), e terceiros

que podem ser prejudicados com a decisão proferida.

Art. 996. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e
pelo Ministério Público, como parte ou como fiscal da ordem jurídica.
Parágrafo único. Cumpre ao terceiro demonstrar a possibilidade de a decisão sobre a
relação jurídica submetida à apreciação judicial atingir direito de que se afirme titular
ou que possa discutir em juízo como substituto processual.

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O novo Código de Processo Civil deixa claro que o amicus curiae pode ingressar

com embargos de declaração e recorrer das decisões em incidentes de demandas

repetitivas.

Art. 138.
(...)
§3º: O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente de resolução de
demandas repetitivas.

Interesse

Veja, prezado (a) leitor (a), no que se refere ao interesse para recorrer da sen-

tença, o interessado deve ter sucumbido, no todo ou em parte da demanda, ou

seja, poderia ter tido uma sentença mais favorável na ação.

O legitimado deverá ter sucumbido na demanda, no todo ou em parte, para inter-

por recurso, ou seja, o resultado de sentença poderia ter sido melhor para ele, sal-

vo no caso de embargos de declaração, manejados em caso de sentenças obscuras,

omissas contraditórias ou eivadas de erro material.

Tempestividade

A tempestividade diz respeito ao prazo para a interposição do recurso. Isso

significa dizer que, acaso a peça seja interposta intempestivamente (fora do lapso

estabelecido por lei), não será reconhecido.

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Como dito, em aulas anteriores, o prazo padrão para interposição de recursos

no Código de Processo Civil de 2015 é de 15 (quinze) dias. Contudo, entretanto e

todavia... há exceção a essa regra no que diz respeito ao lapso temporal dos em-

bargos de declaração, cujo interregno é de 5 (cinco) dias para interposição.

Lembro-te de que os prazos são contados em dias úteis, conforme prevê o arti-

go 219 da Lei Adjetiva, e possuem a contagem (termo inicial e final) regulada pelo

artigo 1.003 do Novo Código, contados da data da intimação da decisão. Caso o

recurso remetido pelos correios, a contagem inicia-se da data da postagem

para verificação da tempestividade. Além do exposto, caso haja feriado local no

transcurso da interposição do recurso, a parte que o interpõe deverá comprovar o

fato. Acompanhe comigo os dispositivos legais em comento:

Art. 219. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão
somente os dias úteis.
(...)
Art. 1.003. O prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os advoga-
dos, a sociedade de advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministé-
rio Público são intimados da decisão.
§ 1º Os sujeitos previstos no caput considerar-se-ão intimados em audiência quando
nesta for proferida a decisão.
§ 2º Aplica-se o disposto no art. 231, incisos I a VI, ao prazo de interposição de recurso
pelo réu contra decisão proferida anteriormente à citação.
§ 3º No prazo para interposição de recurso, a petição será protocolada em cartório ou
conforme as normas de organização judiciária, ressalvado o disposto em regra especial.
§ 4º Para aferição da tempestividade do recurso remetido pelo correio, será considerada
como data de interposição a data de postagem.

O prazo padrão para interposição de recursos é de 15 (quinze) dias, salvo os em-

bargos de declaração, cujo lapso temporal é menor, qual seja: 5 (cinco) dias.

§ 5º Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para


responder-lhes é de 15 (quinze) dias.

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Conforme dito, linhas acima, o prazo para embargos de declaração e de 5 (cin-

co) dias úteis. Essa espécie de recurso interrompe o prazo para interposição de

outros recursos.

Amigo (a), observe que, em caso de feriado local, deverá existir a comprovação

quando da interposição do recurso, para que não seja considerado intempestivo,

de modo a não ser possível a comprovar o “feriadão” em momento posterior, con-

soante o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ), vide EREsp 957.821

de novembro de 2017.

Chamo sua atenção para as regras previstas nos artigos 180, 183 e 186 da Lei

de Ritos relativas aos prazos em dobro para comunicação do Ministério Público, Fa-

zenda Pública, Defensoria Pública.

Art. 180. O Ministério Público gozará de prazo em dobro para manifestar-se nos autos,
que terá início a partir de sua intimação pessoal, nos termos do art. 183, § 1º.
(...)
Art. 183. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas au-
tarquias e fundações de direito público gozarão de prazo em dobro para todas as suas
manifestações processuais, cuja contagem terá início a partir da intimação pessoal.
§ 1º A intimação pessoal far-se-á por carga, remessa ou meio eletrônico.
(...)
Art. 186. A Defensoria Pública gozará de prazo em dobro para todas as suas manifes-
tações processuais.

Além dos prazos mencionados, quando o processo for físico, o lapso temporal

será contado em dobro, acaso haja litisconsórcio com diferentes procuradores de

escritórios de advocacia distintos, com estribo no artigo 229 da Lei n. 13.105/2015.

Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advo-


cacia distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em
qualquer juízo ou tribunal, independentemente de requerimento.
(...)
§ 2º Não se aplica o disposto no caput aos processos em autos eletrônicos.

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Preparo

Amigo (a), o preparo se refere ao pagamento das custas relativas ao recurso, as

quais incluem porte, remessa e retorno (pagamento feito aos correios), sob pena

de deserção (quando há o abandono do recurso).

O preparo não será cobrado quando o recurso for interposto pela Fazenda Pú-

blica, Entes Políticos e suas autarquias, além do Ministério Público ou beneficiário

da justiça gratuita. Bem, o pagamento deverá ser comprovado nos autos por com-

provante de recolhimento (se não houver a aludida comprovação, o recorrente será

intimado, por meio do advogado, para pagar o valor em dobro!).

Art. 1.007. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exi-


gido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de
retorno (dispensados em caso de processo eletrônico), sob pena de deserção.
§ 1º São dispensados de preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, os recursos
interpostos pelo Ministério Público, pela União, pelo Distrito Federal, pelos Estados, pe-
los Municípios, e respectivas autarquias, e pelos que gozam de isenção legal.

Querido (a), como disse anteriormente, o preparo se refere ao pagamento de

custas relativas ao recurso interposto e deve ser comprovado quando da interposição

da peça recursal. Todavia, há casos em que o valor poderá estar incompleto, inclusi-

ve no que se refere ao porte, remessa e retorno. Diante disso, se houver insuficiência

na quantia, o recorrente será intimado, por seu advogado, para complementar o

preparo no prazo de 5 (dias). Caso não desembolse o valor, haverá deserção.

§ 2º A insuficiência no valor do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, impli-


cará deserção se o recorrente, intimado na pessoa de seu advogado, não vier a supri-lo
no prazo de 5 (cinco) dias.
§ 3º É dispensado o recolhimento do porte de remessa e de retorno no processo em
autos eletrônicos.
§ 4º O recorrente que não comprovar, no ato de interposição do recurso, o recolhimento
do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, será intimado, na pessoa de seu
advogado, para realizar o recolhimento em dobro, sob pena de deserção.
§ 5º É vedada a complementação se houver insuficiência parcial do preparo, inclusive
porte de remessa e de retorno, no recolhimento realizado na forma do § 4º.

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A regra que autoriza o Tribunal a oportunizar a complementação não se aplica

aos casos em que o sujeito não fez o preparo e tem a possibilidade de fazer em do-

bro. Ele não pode, ao invés de fazer em dobro, fazer insuficientemente e requerer

mais 5 (cinco) dias.

§ 6º Provando o recorrente justo impedimento, o relator relevará a pena de deserção,


por decisão irrecorrível, fixando-lhe prazo de 5 (cinco) dias para efetuar o preparo.
§ 7º O equívoco no preenchimento da guia de custas não implicará a aplicação da pena
de deserção, cabendo ao relator, na hipótese de dúvida quanto ao recolhimento, intimar
o recorrente para sanar o vício no prazo de 5 (cinco) dias.

O § 7º possibilita que o relator do processo intime o recorrente para sanar o

vício relativo ao preenchimento da guia de custas, ou seja, dá como diria meu pai:

“uma colher de chá” ao recorrente ao invés de aplicar, de plano, a deserção.

 Obs.: A súmula 484 do Superior Tribunal de Justiça admite prorrogação do prepa-

ro, o qual poderá ser efetuado no primeiro dia subsequente, quando a inter-

posição do recurso for efetuada após o encerramento bancário.

 Os embargos de declaração se prestam a sanar contradição, obscuridade,

omissão e erro material da decisão não se sujeitam a preparo.

Efeitos dos Recursos

Amigo (a), estudar os efeitos dos recursos é ter em mente que as classificações

irão variar de acordo com a Doutrina adotada. Nesse conduto de raciocínio, irei para-

frasear o grande mestre Barbosa Moreira quando advertiu que não existem clas-

sificações certas ou erradas, mas úteis ou inúteis e, nesse passo, faremos

uma análise voltada para provas.

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Os efeitos dos recursos são:

• Obstativo: Um dos efeitos dos recursos é o de obstar, impedir que haja o trânsito

em julgado da sentença. Porém, isso não impede que a decisão produza efeitos.

• Devolutivo: o efeito devolutivo se refere à devolução da matéria ao Poder Judici-

ário, a fim de que ela seja reanalisada pela instância superior. É atribuído ao todos

os recursos. Nesses casos, a apreciação versará sobre o que foi acostado à peça

recursal, ou seja, não examinará além do que fora alegado (estará adstrito ao que

foi impugnado) arvorado no princípio tantum devolutum quantum appellatum,

salvo se houver matéria de ordem pública (que pode ser examinada de ofício).

• Suspensivo: Impede que a decisão proferida produza seus efeitos. Porém,

esse efeito não é atribuído a todos os recursos, porquanto alguns podem pos-

suir (como a apelação, exceto se for o caso do artigo 1012, § 1º da Lei de Ri-

tos, e algumas Leis esparsas), e outros não (como, em regra, casos de agravo

de instrumento). Chamo sua atenção para o fato de que o Relator do processo

(incumbido de instrui-lo e, ao final, emitir um relatório) pode atribuir efeito

suspensivo aos recursos, caso haja probabilidade de provimento do recurso e

se existir risco de lesão grave de difícil reparação.

Art. 995. Os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou
decisão judicial em sentido diverso.
Parágrafo único. A eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do re-
lator, se da imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou
impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso.
(...)
Art. 1026 (...)
§ 1º A eficácia da decisão monocrática ou colegiada poderá ser suspensa pelo respecti-
vo juiz ou relator se demonstrada a probabilidade de provimento do recurso ou, sendo
relevante a fundamentação, se houver risco de dano grave ou de difícil reparação.

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• Expansivo: O efeito expansivo pode ser dividido em:

− Efeito expansivo subjetivo: ocorre quando houver litisconsórcio e o re-

sultado do recurso puder atingir aquele que não recorreu. Nesses casos,

será admissível em litisconsórcio unitário (decisão atinge a todos) e quan-

do for simples, irradiará efeitos se a matéria alegada for comum a

todos que ocupam o polo da ação. Imagine o caso em que Pepe Nouglas

se submeta à cirurgia plástica a fim de parecer com ator Brad Pitt, mas

fica parecido com o famosíssimo pastor alemão da série policial Ri-Tin-Tin.

Diante disso, Nouglas propõe ação em desfavor do hospital e do médico (li-

tisconsórcio passivo) em razão do dano sofrido. Suponha, ainda, que Pepe

tenha decisão favorável a seu pleito. Bem, nesse cenário, caso o hospital

recorra, mas o médico não, e a decisão seja reformada no sentido de não

ter ocorrido dano, também aproveitará o cirurgião.

− Efeito expansivo objetivo, se refere a um pedido que depende de outro

julgamento, como no caso de uma ação de alimentos que dependerá da

decisão acerca da paternidade. Então, perceba, atento (a), estudante que

uma questão é prejudicial em relação a outra, o julgamento de um in-

terfere no outro.

Art. 1.005. O recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo se
distintos ou opostos os seus interesses.
Parágrafo único. Havendo solidariedade passiva, o recurso interposto por um devedor
aproveitará aos outros quando as defesas opostas ao credor lhes forem comuns.

− Efeito translativo: Versa sobre a possibilidade de o Tribunal apreciar a

matéria de ordem pública (incompetência absoluta, prescrição e decadên-

cia, pressupostos processuais, legitimidade e interesse, por exemplo), a

qual poderá ser revista de ofício, mesmo que não seja o objetivo do recurso.

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Desistência e Renúncia ao Direito de Recorrer

Da Desistência

Quando falamos em desistência, estamos diante de um recurso que foi interpos-

to, porém, o recorrente (quem interpôs a peça) poderá desistir a qualquer momen-

to até o julgamento. A desistência não depende de anuência da outra parte

e não admite retratação.

Art. 998. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos
litisconsortes, desistir do recurso.
Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja reper-
cussão geral já tenha sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos
extraordinários ou especiais repetitivos.

Caso haja a desistência do recurso, isso não impedirá a análise da questão cuja

repercussão geral já tenha sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de

Recursos especiais ou Recursos Extraordinários repetitivos.

Da Renúncia e da Aquiescência

Na renúncia e na aquiescência, ao contrário da desistência, ainda não ocorreu

à interposição do recurso. A renúncia trata-se de ato unilateral e, por conseguinte,

não depende da aceitação da outra parte. A aquiescência se caracteriza por

ser uma manifestação (expressa ou tácita), no sentido de concordar com a decisão

judicial, emanada por quem tem o direito de recorrer. Podem ser:

• Expressa: a parte exteriorizada o deseja de não recorrer, ela se mani-

festa. A título ilustrativo, imagine uma situação de divórcio em que, após

a sentença, uma das partes expressa que não possui interesse em recor-

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rer, porquanto deseja pôr fim ao desconformo emocional vivido. Contudo,

após declarar essa condição, interpõe recurso para reexaminar parte, na

qual tenha sucumbido. Diante dessa aquiescência, não será conhecido o

recurso.

• Tácita: é o caso do sujeito processual, o qual, conquanto não manifeste a

vontade de recorrer, aceita a decisão sem interposição de recurso ou pratica

ato incompatível com o desejo de recorrer, por exemplo, paga o valor da con-

denação referente a danos materiais após a sentença.

Art. 999. A renúncia ao direito de recorrer independe da aceitação da outra parte.


Art. 1.000. A parte que aceitar expressa ou tacitamente a decisão não poderá
recorrer.
Parágrafo único. Considera-se aceitação tácita a prática, sem nenhuma reserva, de ato
incompatível com a vontade de recorrer.

Dos Princípios Aplicados aos Recursos.

Bem, amigo (a), do Gran Cursos Online, nosso Código de Processo Civil se

alicerça sobre os valores e normas fundamentais estabelecidas na Constituição.

Nesse sentido, tem-se, em sede de recursos, o Duplo Grau de Jurisdição (implícito

da Carta Magna), princípio fundamental adotado pela nova processualística civil.

Por esse princípio, uma matéria, objeto de sucumbência, poderá ser carreada ao

Poder Judiciário a fim de ser reanalisada.

Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores


e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa
do Brasil, observando-se as disposições deste Código.

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Além do princípio supramencionado, pode-se citar os seguintes princípios do

Processo Civil:

Princípio da Taxatividade

Por esse princípio, só podem ser manejados recursos expressos em lei (a maior

parte prevista no Código de Processo Civil). O artigo 994 da Lei de Ritos prevê um

rol de recursos. Veja, prezado (a), estudante, existem recursos previstos em leis

esparsas, como o recurso inominado previsto na lei n. 9.099/95 e embargos infrin-

gentes (previstos na Lei de Execuções Fiscais, n. 6.830/80), os quais não foram

adotados pela Nova Lei de Ritos.

Princípio da Unicidade ou Singularidade Recursal

Por esse princípio, para cada decisão recorrida há um recurso apropriado, a fim

de reexaminá-la. Então, se for uma sentença, será cabível o recurso de apelação,

decisão interlocutória será atacável por agravo de instrumento. Contudo, esse prin-

cípio é mitigado (flexibilizado) em casos de embargos de declaração (que podem ser

interpostos com outro recurso) e em casos de Recurso Especial e Recuso Extraordi-

nário (os quais podem ser interpostos de forma conjunta em petições separadas).

Princípio da Fungibilidade

O princípio da fungibilidade se refere à possibilidade de o Poder Judiciário acei-

tar um recurso, interposto de forma equivocada, por outro. Nesse passo, há uma

dúvida objetiva quanto à interposição do recurso. Estava previsto no Código de

1939 e, conquanto não tenha sido positivado nos Códigos de 1973 e 2015, é utili-

zado pelo Poder Judiciário. Por esse princípio, não importa a forma, mas o desejo

inequívoco de recorrer da decisão proferida. Podemos entender como requisito

para aplicação da fungibilidade: a dúvida objetiva (divergência doutrinária

ou jurisprudencial).

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Segundo o professor Marcus Vinícius Rios Gonçalves,

“nem sempre caberá a aplicação da fungibilidade. Há um requisito indispensável, a


existência de dúvida objetiva a respeito da decisão, que resulta de controvérsia efetiva,
na doutrina ou na jurisprudência, a respeito do julgamento”. (Gonçalves, Marcus Viní-
cius. Direito Processual Civil Esquematizado. 10ª ed. São Paulo. Editora Saraiva. 2019.
P.959).

 Obs.: O conceito de dúvida objetiva, para a aplicação do princípio da fungibilida-

de recursal, pode ser relativizado, excepcionalmente, quando o equívoco na

interposição do recurso cabível decorrer da prática de ato do próprio órgão

julgador. Vide STJ, 2ª Seção. EREsp 230.380-RN. Rel. Min. Paulo de Tarso

Sanverino, julgado em 13/09/2017 (Info 613).

Princípio da Proibição a Reformatio in Pejus

Veja, querido (a), pelo princípio ora examinado, veda-se a reforma da decisão

para agravar a situação do recorrente. Em outras palavras, o resultado do recurso

não poderá piorar a situação jurídica daquele que recorreu. Nesse sentido, o Juiz só

analisa o que foi objeto do pedido, arvorado no princípio tantum devolutum quan-

tum appellatum, de modo a analisar apenas o que fora pleiteado.

 Obs.: Com base no efeito translativo do recurso, o Juiz poderá examinar matérias

de ordem pública, mesmo que isso traga prejuízo ao recorrente. À guisa de

exemplo, seria o caso de recurso interposto Bill S. Preston, o qual inten-

ta receber o valor total de uma dívida (que fora reconhecida em 99,9%,

mas ele queria 100%). Contudo, o Julgador percebeu que o Juiz, o qual

julgou o caso era absolutamente incompetente para o julgamento (questão

de ordem pública). Sendo assim, o Magistrado poderá reconhecer a incom-

petência absoluta, de ofício, mesmo que Bill ganhe 0%.

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Recurso Adesivo

O Código de Processo Civil de 2015 prevê a possibilidade de interposição de re-

curso adesivo. Como assim, professor? Um recurso que “cola” no outro? Rs. Bem,

prezado (a), estudante, e mais ou menos por aí, o termo tem que te ajudar! Veja,

quando as partes sucumbirem de forma recíproca, e uma delas recorrer tempes-

tivamente (nos moldes temporais previstos pelo Código), é possível que o outro

sucumbente se utilize desse expediente. Imagine que Pepe Nouglas ingressou com

uma ação de reparação de danos em desfavor de Ted Theodore Logan. Pepe pediu

R$ 1.000 como valor da causa e Ted contestou a inicial, de modo a refutar o valor

total, mas reconheceu que deveria pagar R$ 600,00. O Juiz proferiu sentença a

qual condenou Ted a retirar a onça pintada do bolso e pagar R$ 750,00. Perceba,

que nem Pepe nem Ted foram totalmente contemplados com relação às intenções,

ou seja, ambos foram reciprocamente sucumbentes.

Diante do exemplo acima, caso Pepe interponha recurso de apelação contra a

sentença proferida e Ted não tenha interposto no prazo de 15 dias (lapso temporal

para apelar de forma tempestiva), Ted poderá interpor recurso, ainda assim, des-

de que observe as exigências legais. Todavia, o recurso de Ted, fica subordinado

ao recurso de Pepe, inclusive quanto a admissibilidade (observância do cabimen-

to, tempestividade, legitimidade, preparo) e não será admitido caso o recorrente

(Pepe) desista do recurso (que é o principal).

Art. 997. Cada parte interporá o recurso independentemente, no prazo e com obser-
vância das exigências legais.
§ 1º Sendo vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá aderir
o outro.

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§ 2º O recurso adesivo fica subordinado ao recurso independente, sendo-lhe aplicáveis


as mesmas regras deste quanto aos requisitos de admissibilidade e julgamento no tri-
bunal, salvo disposição legal diversa, observado, ainda, o seguinte:
I – será dirigido ao órgão perante o qual o recurso independente fora interposto, no
prazo de que a parte dispõe para responder;
II – será admissível na apelação, no recurso extraordinário e no recurso especial;

Veja, cauteloso (a) leitor (a), a admissibilidade do recurso adesivo se refere à

apelação, recurso extraordinário e recurso especial.

III – não será conhecido, se houver desistência do recurso principal ou se for ele consi-
derado inadmissível.

O artigo 1.008 do Novo Código estabelece que o julgamento proferido pelo

Tribunal substituirá a decisão impugnada no que tiver sido objeto de recurso, ou

seja, possuirá um efeito substitutivo.

Art. 1.008. O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a decisão impugnada no


que tiver sido objeto de recurso.

O recurso adesivo possui dois requisitos, quais sejam:

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Querido(a), em arremate a parte geral dos recursos, chamo sua atenção para

o fato de que, nos tempos atuais, recorrer se tornou mais caro, de modo que é

preciso que o recorrente fique atento quanto à interposição de recurso, porquanto

caso seja sucumbente, os honorários do advogado poderão ser majorados em até

20% em relação à quantia estabelecida em 1º grau. Essa é uma inovação da Lei

Adjetiva.

Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor.


(...)
§ 2º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cen-
to sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível
mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa, atendidos:
(...)
§ 11. O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixados anteriormente levan-
do em conta o trabalho adicional realizado em grau recursal, observando, conforme o
caso, o disposto nos §§ 2º a 6º, sendo vedado ao tribunal, no cômputo geral da fixação
de honorários devidos ao advogado do vencedor, ultrapassar os respectivos limites es-
tabelecidos nos §§ 2º e 3º para a fase de conhecimento.

 Obs.: É cabível a fixação de honorários recursais, prevista no art. 85, § 11 (1), do

Código de Processo Civil (CPC), mesmo quando não apresentadas contrar-

razões ou contraminuta pelo advogado.

 O Tribunal, por unanimidade, negou provimento a agravo regimental em

ação originária e, por maioria, fixou honorários recursais.

 Quanto à fixação de honorários recursais, prevaleceu o voto do ministro Luiz

Fux, que confirmou o entendimento fixado pela Primeira Turma. Para ele, a

sucumbência recursal surgiu com o objetivo de evitar a reiteração de recur-

sos; ou seja, de impedir a interposição de embargos de declaração, que

serão desprovidos, independentemente da apresentação de contrarrazões.

A finalidade não foi remunerar mais um profissional, porque o outro apre-

sentou contrarrazões.

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 O ministro Edson Fachin afirmou que a expressão “trabalho adicional”, con-

tida no § 11 do art. 85 do CPC, é um gênero que compreende várias espé-

cies, entre elas, a contraminuta e as contrarrazões. (STF, Plenário, AO 2063

AgR/CE, rel. orig. Min, Marco Aurélio red. p/ o ac. Min, Luiz Fux, julgado em

18/05/2017) (Info 865).

Segundo o enunciado n. 16 da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de

Magistrados (ENFAM), “Não é possível majorar os honorários na hipótese de inter-

posição de recurso no mesmo grau de jurisdição (art. 85, § 11, do CPC/2015)”.

Dos Recursos em Espécie

Amigo (a), vimos que o artigo 994 da Lei de Ritos estabelece um rol, taxativo,

de recursos cabíveis contra decisões judiciais. Sendo assim, vamos analisá-los a

partir de agora.

Da Apelação

O primeiro recurso a ser examinado no que se refere às espécies de recursos é

o de apelação, cuja previsão está encartada no Código de Processo Civil de 2015

dos artigos 1.009 a 1.014.

A apelação possui o objetivo de atacar sentenças definitivas (extinguem o pro-

cesso como resolução de mérito) ou terminativas (extinguem o processo sem re-

solução de mérito), ou seja, é um recurso cabível em decisões que finalizam o

processo de conhecimento ou extinguem a execução.

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Da Sentença Cabe Apelação.

Prezado (a) estudante, a Lei de Ritos de 2015 prevê que as decisões interlo-

cutórias contra as quais não seja cabível agravo de instrumento (rol previsto no

artigo 1.015) e não acobertados pela preclusão, devem ser suscitadas em preli-

minar de apelação (pelo apelante) ou na peça de contrarrazões (pelo apelado),

de modo que o recorrente (aquele interpôs a apelação) será intimado no prazo de

15 (quinze) dias para manifestar-se. Acaso essas questões não sejam suscitadas

em momento oportuno, sobre elas incidirá a preclusão e, com efeito, não serão

analisadas.

§ 1º As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não


comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser susci-
tadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou
nas contrarrazões.
§ 2º Se as questões referidas no § 1º forem suscitadas em contrarrazões, o recorrente
será intimado para, em 15 (quinze) dias, manifestar-se a respeito delas.
§ 3º O disposto no caput deste artigo aplica-se mesmo quando as questões menciona-
das no art. 1.015 integrarem capítulo da sentença.

Fique atento (a)!

Como a nova processualística não admite o agravo retido, as questões interlocutó-

rias não previstas no artigo 1.015 poderão ser suscitadas em preliminar de apelação

(pelo apelante) ou em contrarrazões (pelo apelado).

Dos Requisitos de Admissibilidade da Apelação

O artigo 1.010 da Lei de Ritos estabelece os requisitos para que seja inter-

posta a apelação, tais como: os nomes e qualificação das partes, exposição das

situações de fato e de direito, as razões da reforma ou da decretação da nulidade

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das decisões e o pedido de nova decisão. O prazo para apelação é de 15 (quin-

ze) dias, com a observância dos artigos 180, 186 e 229 do Novo Código. Chamo

sua atenção para o fato de que apelação será interposta no juízo de 1º grau de

jurisdição.

Art. 1.010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro grau,
conterá:
I – os nomes e a qualificação das partes;
II – a exposição do fato e do direito;
III – as razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade;
IV – o pedido de nova decisão.
§ 1º O apelado será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze)
dias.
§ 2º Se o apelado interpuser apelação adesiva, o juiz intimará o apelante para apresentar
contrarrazões.

Após as formalidades da peça de apelação, os autos serão remetidos ao Tribu-

nal. Então, estimado (a) leitor (a), podemos dizer que o processamento se dá em

dois momentos distintos, a interposição será realizada no juízo a quo que fará a

remessa ao juízo ad quem. Bem, vamos esquematizar o que foi dito por meio de

representação gráfica:

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O juízo de admissibilidade relativo à apelação (em que se analisam os requisitos do

recurso, tais como: tempestividade, cabimento, legitimidade e preparo) ocorre no

Tribunal (para onde o recurso é remetido).

§ 3º Após as formalidades previstas nos §§ 1º e 2º, os autos serão remetidos ao

tribunal pelo juiz, independentemente de juízo de admissibilidade.

Amigo (a), em alguns momentos desse curso, tive a oportunidade de conversar

com você a respeito do Relator, aquele a quem compete instruir o recurso e emitir

um relatório para o julgamento do colegiado (o qual é composto por outros Julga-

dores). Pode-se dizer que o relator poderá proferir uma decisão monocrática (iso-

lada, sem que outros Julgadores participem), nos seguintes casos previstos pelo

artigo 932, incisos III a V da Lei de Ritos, a saber:

Art. 932. Incumbe ao relator:


(...)
III – não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha impugnado
especificamente os fundamentos da decisão recorrida;
IV – negar provimento ao recurso que for contrário a:
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio
tribunal;
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça
em julgamento de recursos repetitivos;
c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de as-
sunção de competência;
V – depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar provimento ao recurso se
a decisão recorrida for contrária a:
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio
tribunal;
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça
em julgamento de recursos repetitivos;

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c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de as-


sunção de competência;
(...)
Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo
de 5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada a docu-
mentação exigível.
(...)
Art. 1.011. Recebido o recurso de apelação no tribunal e distribuído imediatamente, o
relator:
I – decidi-lo-á monocraticamente apenas nas hipóteses do art. 932, incisos III a V;

No entanto, caso não seja a hipótese de ser proferida decisão monocrática pelo

Relator, ele irá elaborar o voto para que haja o julgamento pelos outros Julgadores,

que comporão o órgão colegiado de julgamento, de modo que os demais Membros

do colegiado poderão seguir o relator (postura muito vista em sessões de julga-

mento quando um Julgador diz: “voto com o Relator”) ou se posicionarem de modo

contrário àquele que elaborou o relatório.

II – se não for o caso de decisão monocrática, elaborará seu voto para julgamento do
recurso pelo órgão colegiado.

Dos Efeitos da Apelação

• Efeito suspensivo: Em regra a apelação terá efeito suspensivo, o qual im-

pede que a decisão produza, de imediato, seus efeitos.

Art. 1.012. A apelação terá efeito suspensivo

• Efeito devolutivo: Esse é um efeito cabível em todos os recursos e está dis-

ciplinado no artigo 1.013 da Lei n. 13.105/2015.

Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada.

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Veja, atento (a) leitor (a), o efeito devolutivo poderá ocorrer em:

− Extensão: cuja análise se restringe aquilo que o apelante pediu. Então,

imagine que Bill S. Preston tenha apelado em razão de uma sentença des-

favorável quanto a um dano moral, danos emergentes e lucros cessantes.

Todavia, Bill recorre, apenas, do dano moral e danos emergentes. Nesse

caso, o julgamento não examinará os lucros cessantes, pois o apelante não

pleiteou isso. É uma avaliação em perspectiva horizontal.

− Profundidade: são analisadas todas as questões afetas ao caso, mes-

mo que não examinadas e discutidas na sentença (juízo a quo). Então, o

Tribunal revisita todos os pontos trazidos no efeito em extensão e todos

os meios de prova. A análise possui uma perspectiva vertical e é analisa-

da como diria minha tia: “trás para frente, de frente para trás”. Perceba,

atento (a) leitor (a), que todas as questões acostadas aos autos serão

analisadas, independente de terem sido ou não examinadas na decisão

originária, relativas ao capítulo impugnado. A questão relativa à profun-

didade se relaciona aos fundamentos os quais embasaram a decisão, que

podem ser reexaminados pelo Tribunal. Veja como o artigo 1.013 da Lei

Adjetiva trata o tema:

Art. 1.013. (...)


§ 1º Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões
suscitadas e discutidas no processo, ainda que não tenham sido solucionadas, desde
que relativas ao capítulo impugnado.
§ 2º Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas
um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais.

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Além do exposto, o artigo 1.013, §§ 3º e 4º da Lei de Ritos estatuem o princí-

pio da causa madura, por meio do qual o Tribunal poderá decidir o mérito quando

estiver em condições de julgamento.

§ 3º Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir


desde logo o mérito quando:
I – reformar sentença fundada no art. 485;
II – decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites
do pedido ou da causa de pedir;
III – constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que po-
derá julgá-lo;
IV – decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação.
§ 4º Quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição,
o tribunal, se possível, julgará o mérito, examinando as demais questões, sem
determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro grau.
§ 5º O capítulo da sentença que confirma, concede ou revoga a tutela provisó-
ria é impugnável na apelação.

Cumpre destacar que, embora a regra seja atribuir efeito suspensivo a apela-

ção, o artigo 1.012, § 1º, incisos I a VI da Lei de Ritos, elenca hipótese, nas quais

não se aplica, de plano, o efeito suspensivo, mas o devolutivo, com produção de

efeitos imediatos. Examine comigo quais são elas:

§ 1º Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediatamen-


te após a sua publicação a sentença que:
I – homologa divisão ou demarcação de terras;

O inciso acima estatui regras relativas ao procedimento especial de divisão ou

demarcação de terras

II – condena a pagar alimentos;

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Os alimentos se referem a uma situação de urgência, as quais estão diretamen-

te relacionadas à própria sobrevivência do alimentado, o que não é compatível com

a concessão de efeito suspensivo, de plano, na hipótese ora examinada.

III – extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do executado;

O inciso supracitado se refere às sentenças que extinguem o processo sem re-

solução de mérito ou que julgam improcedentes os embargos dos executados.

IV – julga procedente o pedido de instituição de arbitragem;


V – confirma, concede ou revoga tutela provisória;

A sentença que confirmar ou refogar a tutela provisória poderá surtir efeitos de

imediato.

VI – decreta a interdição.

Estamos diante de um procedimento especial que não se compatibiliza com a

concessão do efeito suspensivo, em razão da urgência, de modo a produzir efeitos

de imediato.

Segundo os parágrafos 3º e 4º do artigo 1.012:

§ 3º O pedido de concessão de efeito suspensivo nas hipóteses do § 1º poderá ser for-


mulado por requerimento dirigido ao:
I – tribunal, no período compreendido entre a interposição da apelação e sua distribui-
ção, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-la;
II – relator, se já distribuída a apelação.
§ 4º Nas hipóteses do § 1º, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator se
o apelante demonstrar a probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo relevante
a fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação.

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• Efeito regressivo: tem cabimento nas sentenças que indeferem a petição

inicial (artigo 331 do Novo Código); extinguem o processo sem resolução

de mérito (artigo 485, § 7º da Lei de Ritos) e de improcedência liminar do

pedido, por meio da qual o Julgador que proferiu a decisão pode retratar-se

daquilo que for decidido, isto é, reconsiderar o que fora pedido.

Nas sentenças que indeferem a petição inicial (previstas no artigo 330) é cabível

apelação, com base no artigo 331 do Novo Código. Lembro a você que é facultado

ao Juiz retratar-se da decisão no prazo de 5 (cinco) dias.

• Efeito translativo: é possível que o Juiz examine de ofício matérias de or-

dem pública, mesmo que não tenham sido objeto da apelação.

Obs.:
 Mesmo que não tenham sido discutidas no juízo inferior, as questões de fato

poderão ser analisadas em sede de apelação, caso a parte prove que não sus-

citou em razão de força maior, com estribo no artigo 1.014 da Lei Adjetiva.

Art. 1.014. As questões de fato não propostas no juízo inferior poderão ser suscitadas
na apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior.

Agravo de Instrumento

Amigo (a), o agravo de instrumento é um recurso cabível para atacar decisões

interlocutórias, as quais se caracterizam por serem pronunciamentos do Juiz que,

conquanto possuam carga decisória, não põem fim a processo ou fase de conheci-

mento no processo de cognição. Nesse sentido, é possível agravar a decisão men-

cionada no pronunciamento judicial que verse sobre uma das hipóteses previstas no

artigo 1.015 do Código de Processo Civil, o qual passo a examinar, junto com você.

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Não existe mais agravo retido.

Antes do julgamento do REsp 1.704.520/MT de Relatoria da Ministra Nancy Andri-

ghi, adotava-se o posicionamento no sentido de que as hipóteses de cabimento do

agravo de instrumento estavam encartadas em um rol taxativo, previsto no artigo

1.015 da nova Lei de Ritos. No entanto, o Tribunal de Cidadania adotou a tese da

taxatividade mitigada, por meio da qual caberá agravo de instrumento fora das

hipóteses elencadas pelo artigo 1.015 da Lei n. 13.105/2015, acaso seja verifica-

da a urgência que decorre da inutilidade do julgamento da questão no recurso de

apelação. Agora, chamo sua atenção para o fato de que essa tese será aplicada às

decisões interlocutórias proferidas depois da publicação do aludido julgado.

Feitas as considerações acima, vejamos as hipóteses de cabimento de agravo

de instrumento.

Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem
sobre:
I – tutelas provisórias;

Essas tutelas foram examinadas por nós, em estudo próprio para o tema (en-

cartado entre os artigos 294 e 311 da Lei de Ritos). Então, é cabível agravo de

instrumento contra decisões interlocutórias que versem sobre tutela de urgência e

de evidência.

II – mérito do processo;

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Amigo(a), as decisões de mérito relativas ao inciso II, se referem ao julga-

mento antecipado e parcial da questão, o qual está previsto no artigo 356 da Lei

n. 13.105/2015, quando um ou mais pedidos ou parcela deles se mostrar incon-

troverso ou quando estiver em condições de imediato julgamento, nos moldes do

julgamento antecipado do mérito, previsto no artigo 355.

III – rejeição da alegação de convenção de arbitragem;

Se houver rejeição da alegação de convenção de arbitragem, caberá agravo.

Todavia, caso haja aceitação, o recurso cabível será o de apelação.

IV – incidente de desconsideração da personalidade jurídica;

Esse incidente foi trabalhado por nós em aula específica. Quando for o caso de

incidente de desconsideração de personalidade jurídica (com previsão nos artigos

133 a 137 da Lei n. 13.105/2015) a decisão será atacável por meio de agravo de

instrumento.

V – rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua


revogação;

Bem, caso o pedido de gratuidade da justiça seja rejeitado ou acolhido o pedido

de sua revogação, será uma decisão agravável. Perceba, atento (a) estudante, que

não cabe agravo para a decisão que defere o benefício, mas para que rejeita ou

acolhe pedido de revogação.

VI – exibição ou posse de documento ou coisa;

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Essa é uma situação que deve ser resolvida de forma rápida no processo, haja
vista versar sobre documentos ou coisas as quais constituem elementos probatórios
relativos ao caso examinado, que podem ter grande relevância para o julgamento.

VII – exclusão de litisconsorte;

Cabe agravo quando for excluído um dos integrantes dos polos da demanda em
caso de litisconsórcio.

Não cabe agravo de instrumento contra decisão de indeferimento do pedido


de exclusão de litisconsorte. STJ. 3ª Turma, REsp 1.724.453, Rel Min Nancy
Andrighi, julgado em 19/03/2019 (Info 644).

VIII – rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;

Nesse caso, está-se diante de um litisconsórcio multitudinário e o Juiz decide


restringir o número de litisconsortes por meio do desmembramento do processo.
Essa decisão será agravável.

IX – admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;

Tanto a admissão como inadmissão de intervenção de terceiros são agraváveis,


salvo quando se tratar da figura do amicus curiae, por força do artigo 138, §1º da
Lei adjetiva.

Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do


tema objeto da demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão ir-
recorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se, so-
licitar ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especia-
lizada, com representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação.
§ 1º A intervenção de que trata o caput não implica alteração de competência nem au-
toriza a interposição de recursos, ressalvadas a oposição de embargos de declaração e
a hipótese do § 3º.
X – concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução;

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Em regra, os embargos à execução (tratados em aula específica), não são do-

tados de efeito suspensivo. Porém, pode ser atribuído o aludido efeito, caso pre-

sentes os requisitos autorizadores das tutelas provisórias. Acaso seja concedido,

modificado ou revogado o efeito, a decisão será agravável.

XI – redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º;

Querido (a), em regra o ônus da prova recaí sobre aquele que alega os fatos

(Teoria da Carga Estática). Entretanto, há casos de redistribuição do ônus da prova

(aplicação da Teoria da Carga Dinâmica). Nesses casos, é possível interpor agravo

de instrumento.

Art. 373. O ônus da prova incumbe:


I – ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
II – ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito
do autor.
§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à
impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput
ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir
o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso
em que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi
atribuído.
XII – (VETADO);

Esse artigo versava sobre a conversão da ação individual em coletiva.

XIII – outros casos expressamente referidos em lei.

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São situações que podem ser previstas por legislação, como, por exemplo, casos

previstos nos artigos 354, § único da Lei Adjetiva.

Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias


proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no pro-
cesso de execução e no processo de inventário.

Bem, amigo (a) do Gran Cursos Online, o agravo de instrumento possui um pro-

cessamento apresentado diretamente ao Tribunal competente para o julgamento

do recurso (juízo ad quem), com base no artigo 1.016. Então, interposição se dará

da seguinte forma:

Veja, estimado (a) leitor (a), por meio de petição, o agravo será endereçado ao

Tribunal e conterá os requisitos previstos pelos incisos do artigo 1.016, cujo teor

colaciono abaixo.

Art. 1.016. O agravo de instrumento será dirigido diretamente ao tribunal competente,


por meio de petição com os seguintes requisitos:
I – os nomes das partes;
II – a exposição do fato e do direito;
III – as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão e o próprio pedido;
IV – o nome e o endereço completo dos advogados constantes do processo.

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Querido(a), um ponto interessante no que se refere ao processamento do agra-

vo é que como ele irá direto ao Tribunal. Nesse cenário, é necessário que se forme

um instrumento, composto de cópias das principais peças do processo, a fim de

enviar para o juízo ad quem, com o objetivo de que o recurso seja compreendido

e, por conseguinte, examinado. O artigo 1.017 da Lei de Ritos consigna quais são

as peças que deverão instruir o agravo de instrumento, com cópias obrigatórias e

outras facultativas.

Art. 1.017. A petição de agravo de instrumento será instruída:


I – obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da contestação, da petição que
ensejou a decisão agravada, da própria decisão agravada, da certidão da respectiva in-
timação ou outro documento oficial que comprove a tempestividade e das procurações
outorgadas aos advogados do agravante e do agravado;
II – com declaração de inexistência de qualquer dos documentos referidos no inciso I,
feita pelo advogado do agravante, sob pena de sua responsabilidade pessoal;
III – facultativamente, com outras peças que o agravante reputar úteis.

Se houver alguma irregularidade na apresentação do recurso, o relator irá con-

ceder prazo de 5 (cinco) dias para saneamento da irregularidade ou apresenta-

ção de documentação faltante, antes de considerar inadmissível o recurso, confor-

me o parágrafo único do artigo 932 da Lei Adjetiva.

Bem, o prazo para a interposição do agravo de instrumento é de 15 (quinze)

dias, recuso o qual exige o preparo (pagamento das custas) do porte, remessa e

retorno com base na tabela dos Tribunais.

§ 1º Acompanhará a petição o comprovante do pagamento das respectivas custas e do


porte de retorno, quando devidos, conforme tabela publicada pelos tribunais.

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Cumpre destacar que se os processos não forem eletrônicos, o agravante

deverá informar a juízo a quo (onde tramita o processo) acerca da interposição

do recurso em 3 (três) dias, com a cópia da petição do agravo. Caso não faça

e o agravado informe esse fato ao Juiz, ocorrerá a inadmissibilidade do

Recuso. A comunicação mencionada permite ao Juiz exercer a retração e co-

municá-la ao relator (o qual diante disso, considerará prejudicado o recurso).

Art. 1.018. O agravante poderá requerer a juntada, aos autos do processo, de có-
pia da petição do agravo de instrumento, do comprovante de sua interposição e da
relação dos documentos que instruíram o recurso.
§ 1º Se o juiz comunicar que reformou inteiramente a decisão, o relator considerará
prejudicado o agravo de instrumento.
§ 2º Não sendo eletrônicos os autos, o agravante tomará a providência prevista no
caput, no prazo de 3 (três) dias a contar da interposição do agravo de instrumento.
§ 3º O descumprimento da exigência de que trata o § 2º, desde que arguido e pro-
vado pelo agravado, importa inadmissibilidade do agravo de instrumento.

Essa regra não vale para processos eletrônicos.

O Agravo de instrumento será recebido pelo Tribunal e distribuído ao Relator.

Se não for o caso de aplicação dos incisos III e V do artigo 932, a saber:

“III - não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha impug-
nado especificamente os fundamentos da decisão recorrida; V - depois de facultada
a apresentação de contrarrazões, dar provimento ao recurso se a decisão recorrida
for contrária a: a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de
Justiça ou do próprio tribunal; b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal
ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivo) entendi-
mento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção
de competência”,

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o Relator poderá adotar as algumas posturas no prazo de 5 (cinco) dias, as


quais mostro a você no esquema abaixo.

Por fim, o relator irá solicitar dia para o julgamento, em prazo não superior a 1
(um) mês da intimação do agravado, consoante o artigo 1.020 da Lei de Ritos.

 Obs.: Segundo entendimento do Tribunal de Cidadania, é possível que as peças


que formam o agravo de instrumento sejam apresentadas em DVD. Vide
STJ, 2ª Turma. REsp 1.608.298-SP. Rel. Herman Benjamin, julgado em
1/9/2016 (Info 591).

Amigo (a), feitas essas considerações acerca dos recursos, vamos iniciar nossa
bateria de exercícios com o objetivo de fixarmos os conteúdos trabalhados durante
nosso bate-papo de hoje, venha comigo!

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