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Fundamentum

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PRAÇAS:
HISTÓRIA, USOS E FUNÇÕES
Bruno Luiz Domingos De Angelis, Generoso De Angelis Neto,
Gabriela De Angelis Barros e Rafaela De Angelis Barros

Editora da Universidade Estadual de Maringá


PRAÇAS:
HISTÓRIA, USOS E FUNÇÕES
Editora da Universidade Estadual de Maringá

Reitor: Prof. Dr. Gilberto Cezar Pavanelli


Vice-Reitor: Prof. Dr. Angelo Priori
Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação: Profa Dra Alice Eiko Murakami
Diretora de Pesquisa e Pós-Graduação: Prof.ª Dr.ª Maria Helena A. Dias
Coordenador Editorial: Prof.ª Dr.ª Ruth Izumi Setoguti

CONSELHO EDITORIAL
Profª. Drª. Ruth Izumi Setoguti, Prof. Dr. Benedito Prado Dias Filho,
Prof. Dr. Carlos Alberto Scapim, Prof. Dr. Edson Carlos Romualdo,
Prof. Dr. Eduardo Augusto Tomanik, Prof. Dr. Edvard Elias de Souza Filho, Profª. Drª.
Hilka Pelizza Vier Machado, Prof. Dr. José Carlos de Sousa,
Prof. Dr. Luiz Antonio de Souza, Prof. Dr. Lupércio Antonio Pereira. Secretária: Maria
José de Melo Vandresen.
Bruno Luiz Domingos De Angelis
Generoso De Angelis Neto
Gabriela De Angelis Barros
Rafaela De Angelis Barros

PRAÇAS:
HISTÓRIA, USOS E FUNÇÕES

Coleção Fundamentum
nº 15

Maringá
2005
Divisão de Editoração Marcos Kazuyoshi Sassaka
Marcos Cipriano da Silva
Paulo Bento da Silva
Cristina Akemi Kamikoga
Luciano Wilian da Silva
Solange Marli Oshima
Capa – arte final Luciano Wilian da Silva
Marcos Kazuyoshi Sassaka
Projeto gráfico e Editoração eletrônica Luciano Wilian da Silva
Marcos Kazuyoshi Sassaka
Normalização Biblioteca Central - UEM
Tipologia Garamond
Tiragem 100 exemplares

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)


(Biblioteca Central - UEM, Maringá – PR., Brasil)

P895 Praças: história, usos e funções / Bruno Luiz


Domingos De Angelis ... [et.al]. -- Maringá :
EDUEM, 2005.
47 p. : il. (Coleção fundamentum; 15)

ISBN 85-7628-029-9

1. Praças - Histórico. 2. Espaço público. 3. Revitalização de


Praças. 4. Estudo da paisagem. 5. Paisagismo urbano. 6.Paisagem
urbana. I. De Angelis, Bruno Luiz Domingos. II. De Angelis Neto,
Generoso. III. Barros, Gabriela De Angelis. IV. Barros, Rafaela De
Angelis

CDD 21.ed. 712.2


Cicília Conceição de Maria
CR9 1066

Copyright 2005 para Bruno Luiz Domingos De Angelis.


Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer
processo mecânico, eletrônico, reprográfico etc., sem a autorização, por escrito.
Todos os direitos reservados desta edição 2005 para Eduem.

Endereço para correspondência:


Eduem – Editora da Universidade Estadual de Maringá
Av. Colombo, 5790 - Campus Universitário, 87020-900 - Maringá-Paraná
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E-mail: livrariaeduem@uem.br

Índice
Prefácio ................................................................................................................ 1
Introdução........................................................................................................... 1
As praças no tempo ........................................................................................... 3
Ágora ..................................................................................................................... 4
Fórum romano ..................................................................................................... 5
Praça medieval ...................................................................................................... 6
Praça Maior (Plaza Mayor) ................................................................................. 7
Praça de Armas .................................................................................................... 8
Praça Renascentista.............................................................................................. 9
Praça Barroca........................................................................................................ 9
O Classicismo Inglês e a praça ........................................................................... 11
A praça no Brasil .................................................................................................. 12
A praça no Século XXI ....................................................................................... 14
Importância das Praças ..................................................................................... 16
Valores ambientais ............................................................................................... 16
Valores funcionais................................................................................................ 17
Valores estéticos e simbólicos ............................................................................ 17
A praça e o projeto ............................................................................................ 17
Criatividade ........................................................................................................... 18
A inserção da praça na malha urbana ................................................................ 18
Localização e distribuição ................................................................................... 24
Praça temática....................................................................................................... 25
Anseios da população lindeira à praça (ouvir a população) ........................... 25
Características e aptidão do terreno .................................................................. 26
Mobiliário e estruturas......................................................................................... 26
Características do entorno .................................................................................. 30
Disponibilidade de recursos financeiros ........................................................... 31
Disponibilidade de recursos humanos .............................................................. 32
Tipologia ............................................................................................................... 32
Metodologia para diagnóstico, levantamento e avaliação de praças .......... 34
Referências .......................................................................................................... 42
Sobre os autores ................................................................................................. 45
Prefácio
Reminiscências de infância reportaram-me a minha cidade natal
(Cornélio Procópio - PR), onde duas de suas praças, Brasil e Botafogo,
fizeram-me muito refletir e, sem sombra de dúvida, foram
determinantes na escolha da presente temática. Ainda com dez anos de
idade era assíduo freqüentador desses públicos espaços nas tardes
domingueiras, onde, por razões que sequer me lembro, juntava-me à
multidão que a ela acorria para ser “ator” em um caminhar sem fim por
seus passeios. A praça enchia-se de gente tal qual um formigueiro em
frenético labor. A pipoca “corria solta”, da mesma forma que a
paquera, a “fofoca”, o sorvete. Na praça havia vida, havia gente! Praça,
então, me era sinônimo de festa, encontro, confraternização; era a
praça enquanto agente de coesão social. Seu piso em petit pavè e seus
bancos de granitina simbolizavam, para mim, toda a ostentação e
primor arquitetônicos que uma cidade poderia oferecer aos seus
habitantes.
Esses mesmos bancos traziam inscritos em seu encosto
oferecimento os mais diversos: “das Casas Secos e Molhados ao povo
procopense”; vereador “fulano de tal” oferece a Cornélio Procópio; da
família “beltrano” aos seus concidadãos. Minha vista de adolescente
sonhador perpassava por aqueles dizeres e me fazia “viajar”: “quando
for grande vou ter meu nome gravado num desses bancos”. ...o tempo
passou... a praça mudou... do burburinho das pessoas das Praças Brasil
e Botafogo não resta sequer um murmúrio de lamento. Também não
inscrevi meu nome no banco de granitina...

Bruno Luiz Domingos De Angelis


Praças:
história, usos e funções
Bruno Luiz Domingos De Angelis, Generoso De Angelis Neto
Gabriela De Angelis Barros e Rafaela De Angelis Barros

Introdução
As praças são as mãos de uma cidade. Lugar de encontro, ou
promessa de encontrar. Esta palavra - que provem do latim
PLATEA, e esta do grego PLATÝS - resume o sentido da ágora
grega e do fórum romano: o espaço do público, da reunião.
(LLORCA, 1997, p. 3).

Praça! Cenário de festas, passeios, reuniões, comércio,


permanência, encontros e desencontros, descanso, convulsões sociais;
obra do Homem no arco do tempo que transcende o próprio; registro
vivo a perpetuar na História modismos e estilos de cada época.
Senhora dos espaços públicos desafiou séculos desde a ágora grega e,
impassível, superou o abandono, a indiferença e as transformações ao
longo do tempo. Palco e cenário da vida, a praça também foi, e é
coadjuvante da História. Ponto de coesão dada a sua centralidade,
aglutina a massa que nela acorre para o espetáculo - da vida e da morte
-, como se nesse espaço fosse possíveis o anonimato e a proteção. Na
ágora, Sócrates fora colocado sob processo. No Fórum de Roma
nasceu o Império homônimo. A Praça de São Petesburgo foi o berço
da Revolução Comunista da extinta União Soviética. Na Plaza de
Mayo, Buenos Aires, surgiu e resiste o movimento de mães que buscam
seus filhos desaparecidos durante o regime militar. A Praça de
Tiananmen (Praça da Paz Celestial) em Beijing é símbolo e testemunha
da agonia e morte dos que buscavam democracia e liberdade na
primavera de 1989.
É o medo da solidão que também leva à praça; a necessidade do
contato com o outro; o ver o outro e o se fazer ver. A praça reúne,
converge e é, nas palavras de Saldanha (1993), um espaço aberto na
natureza e, em sendo aberta, é épica, convexa, extrovertida, ela retém a
história: a pessoal e a do mundo. Do romantismo à praticidade,
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conceitos e funções sobre as praças existem os mais diversos; porém,


todos têm um ponto em comum: é o local da reunião, do encontro. As
praças são locais onde as pessoas se reúnem para fins comerciais,
políticos, sociais ou religiosos, ou ainda, onde se desenvolvem
atividades de entretenimento (RIGOTTI, 1956). Microcosmos da vida
urbana, as praças oferecem excitação e descanso, comércio e
cerimônias públicas, um lugar para encontrar amigos e ver o mundo
passar (WEBB, 1990; SOULIER, [s.d.]). Ardoroso defensor da arte nas
praças, Sitte (1992, p. 25) escreve que nelas “[...] Concentrava-se o
movimento, tinham lugar as festas públicas, organizava-se as exibições,
empreendiam-se as cerimônias oficiais, anunciavam-se as leis, e se
realizava todo tipo de eventos semelhantes”. Para Lamas (1993), a
praça é o lugar intencional do encontro, da permanência, dos
acontecimentos, de práticas sociais, de manifestações da vida urbana e
comunitária e, conseqüentemente, de funções estruturantes e
arquiteturas significativas. Nó formal que melhor representa a
qualidade do espaço urbano, a praça constitui, por si só, um sucesso a
atestar os valores sociais alcançados pela comunidade, que soube dar o
justo valor às funções institucionais na organização civil (ORLANDI,
1994). Lugar fundamental da vida social, espaço de encontro, de trocas
de palavras e mercadorias, a praça, segundo Casseti e Lietti (1995), é
considerada, desde sempre, como o âmbito da visibilidade, onde
aparecer significa existir na qualidade de ator social. De forma bastante
concisa, Spirn (1995), exprime bem o caráter das praças: lugares para
ver e ser visto, para comprar e fazer negócios, para passear e fazer
política. Zuliani (1995) entende a praça como o lugar privilegiado e
tradicional de trocas, ponto de convergência de ruas e teatro de todas
as forças sociais, eixo de cada movimento. Robba e Macedo (2002)
afirmam que mesmo havendo divergências entre os autores, todos
concordam em conceituá-la como um espaço público e urbano,
celebrada como um espaço de convivência e lazer dos habitantes
urbanos.
Indubitavelmente, não há como negar que a função da praça
alterou-se ao longo do tempo. Na antigüidade, sua função era bem
mais rica de significado, não se limitando a lugar de cruzamento das
vias públicas, estacionamento para automóveis ou de ponto para
comércio de mercadorias as mais diversas. Esse estreitamento de sua
função deu-se a partir do momento em que as estruturas logísticas dos
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Praças: História, Usos e Funções

mercados, a troca de informação e a própria informatização, aliados ao


processo de globalização, sem dizer do poder com seus meios e seus
símbolos, distanciaram-se da dimensão comunitária da coletividade, e
se aproximaram do privado na sua dimensão familiar, se não, ao seu
isolamento individual. Além de seu significado social, vamos ter a praça
como espaço da memória histórica que forneceu tanto a moldura
quanto o fundo para discursos políticos e culturais sobre a cidade como
local de identidade, de tradição, de saber, de autenticidade, de
continuidade e estabilidade.

As praças no tempo
Do símbolo de liberdade (a ágora ateniense era o lugar onde, não
só era possível fazer reuniões, mas também onde cada um podia dar
sua própria opinião) ao símbolo de poder (o fórum romano era local de
comércio e de política popular), as praças foram reduzidas a um
estreito oásis de verde, ou a meros espaços de estacionamento, em uma
cidade que, com o seu destruidor poder urbano, não dá mais espaço ao
prazer de viver em coletividade, fazendo com que as pessoas tenham
perdido o encanto do estar junto e do confronto direto. Nesse
contexto o presente item mostra como tem se comportado a praça ao
longo do tempo. A História demonstra que a praça ocidental tem seu
embrião na ágora ateniense, local de reunião e discussão dos destinos
de muitas das cidades gregas. Da ágora, passando pelo Fórum romano,
pelas praças medievais, renascentistas e modernas, até chegar aos dias
de hoje, é possível constatar que as praças desempenharam – e
desempenham – papel de fundamental importância na vida citadina.
Ora como local de comércio, de encontro e sociabilização, de
espetáculos ou testemunho de religiosidade, esse espaço público tem
sofrido alterações, sobretudo física, ao longo da História.

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Ágora

Figura 1 – Reconstituição da ágora da cidade de Assos. Fonte: Orlandi (1994)

Centro dinâmico da cidade grega, a ágora é a antecessora remota de


nossas praças. Em sua origem era o local de reunião dos cidadãos;
espaço aberto, foco da composição urbanística onde se fazia uso da
palavra, falava-se de política e se formavam as correntes de opinião.
Sendo sua função mais antiga e mais persistente a de ponto de encontro
comunal, o mercado fora subproduto do ajuntamento de consumidores,
que tinham outras razões para se reunirem, além de fazerem negócios
(MUMFORD, 1982).
Detentora de amplo espaço em local privilegiado na cidade, a
ágora estava rodeada de colunas e estátuas, delimitando áreas
sombreadas para passeio ou reunião (UNWIN, 1984). Em algumas
cidades o seu centro estava ocupado por um lago artificial, como em
Éfeso. Ao redor desse espaço agrupava-se as câmaras de deliberação, o
teatro, sala de música, o ginásio, a pista de corrida e, muito próximo, se
encontrava, usualmente, uma segunda ágora, ou mais propriamente a
praça de mercado (CHIUSOLI, 1995; WEBB, 1990). Constata-se que a
ágora não tinha uma forma definida ou regular. Ela é um espaço aberto
de propriedade pública, que pode ser ocupado para finalidades
públicas, mas não necessariamente fechado. Mais do que praça de
mercado, a ágora era “[...] espaço central e vital, tornado historicamente
símbolo da presença do povo na atividade política. Os gregos diziam
que havia povos com ágora e povos sem ágora, uns com liberdade e
outros sem liberdade”. (SALDANHA, 1993, p. 15).

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Praças: História, Usos e Funções

Fórum romano
O fórum romano diferencia-se da ágora por seu traçado
complexo, absolutamente desordenado, em que se misturam os
edifícios destinados a diversas funções - a basílica, a praça central, o
mercado, os templos e o teatro -, sem relação formal explícita entre eles
(MATAS COLOM et al.,1983; ORLANDI, 1994). A origem do fórum
romano remonta ao tempo em que Roma era constituída pela união de
várias tribos estrangeiras. O símbolo da união dessas tribos foi a
fundação de um mercado comum - o fórum -, com um lugar de
assembléia, que era também usado nos primeiros tempos para disputas
atléticas e gladiatóricas (LAVEDAN, 1926). Inicialmente, mero espaço
aberto localizado em uma zona baixa e pantanosa entre colinas
íngremes, o fórum romano cessa sua atividade de mercado por volta do
século IV e se torna uma verdadeira praça, quase seguindo o que
escrevera Aristóteles, apud Rossi (1995, p. 175): “A praça pública...
nunca será sujada por mercadorias e a entrada será vedada aos
artesãos... Distante e bem separada da cidade será a que é destinada ao
mercado...”. Precisamente na época de Aristóteles, o fórum vai se
cobrindo de estátuas, templos, monumentos, aparentemente privado de
ordem, onde as edificações imponentes formam uma estrutura que
cresce por recintos sucessivos. Combinação de ágora e acrópole, o
fórum romano não apresenta quaisquer características radicalmente
novas que não se conseguiria identificar em seu protótipo helenístico
(MUMFORD, 1982).

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Figura 2 – Reconstituição do fórum romano. Fonte: Orlandi (1994)

Fórum e ágora traduzem a necessidade passada (perpetuada até


hoje por outras formas de espaços públicos) de se ter um espaço onde
fosse possível reunir-se, comercializar, debater idéias, adorar deuses,
assistir a jogos ou simplesmente ocupar a ociosidade do tempo. Antes
de tudo, eram espaços onde os Homens exerciam sua cidadania,
públicos que eram.
Praça medieval
A Praça na Idade Média assume um papel preponderante como
local de espetáculo. Espaço social por excelência, lugar de mercado,
ponto de encontro político, mas também espaço destinado a
espetacularização do cotidiano, das relações sociais - o privado é
público. Nesse enredo, encontramos textualmente em Allegri (1995, p.
359), que, “[...] Em uma civilização que não conhece a noção de privado,
com o que se habituou a cultura moderna, tudo quanto é social e
culturalmente relevante é público, ou seja, necessariamente a vista de
todos”. Enquanto espaço físico, a praça medieval é geralmente
irregular, e resulta mais de um vazio aberto na estrutura urbana do que
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Praças: História, Usos e Funções

de um desenho prévio (LAMAS, 1993). Diversos autores atestam que


as praças medievais eram divididas, ou separadas, de acordo com sua
função precípua. Dodi (1946) e Chiusoli (1995), afirmam que é
freqüente a separação das praças medievais segundo suas funções -
praça religiosa, praça cívica, praça de mercado. Zucker (1959), classifica
as praças medievais em cinco categorias distintas: adro da igreja, praça
como centro da cidade, praças agrupadas, praças de entrada da cidade e
praças de mercado. Para Lamas (1993), as praças medievais dividem-se
geralmente na praça de mercado e na praça da igreja (adro), ou o parvis
medieval. As suas funções são diferentes e a sua localização na
estrutura urbana também.

Figura 3 – Praça medieval: planta da piazza del campo na cidade de Siena, Itália. Fonte: Cerone (1994)

Praça Maior (Plaza Mayor)


A memória da praça maior nos reporta às cidades hispânicas e
hispano-americanas, onde a mesma se constitui no elemento central de
seu urbanismo, e não há cidade que não a tenha. Para Torres Balbás,
apud Rodrigues-Avial Llardent (1982), a praça maior tem sua origem a
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partir do século XIII nos mercados que se realizavam, comumente,


fora do tecido urbano em zona extramuros dos castelos, junto a uma
das portas da muralha. Na seqüência, a atração de mais e mais pessoas
para esses mercados propiciou o aparecimento de edificações várias em
seu entorno, ensejando um urbanismo, ainda que incipiente. Ao longo
do século XIV a praça maior sofre uma evolução funcional, deixando
de ser meramente ponto de mercado para se converter em lugar de
reunião e contato social dos habitantes das cidades. É somente no
século XV que a praça maior atinge seu apogeu, onde, de acordo com
Corrêa (1989), passou a ser utilizada como cenário de reuniões públicas
de grande envergadura, como espetáculos profanos - torneios,
touradas, jogos -, mercado semanal, representações teatrais - comédias,
danças, autos sacramentais e de fé -, e prática da justiça. Com o
advento do Renascimento, a praça maior se regulariza sobre a base de
um traçado retangular, concebendo-se seu conjunto arquitetônico
como unidade urbana. Com este fim se constroem em suas quatro
fachadas edificações de idêntico estilo, igual altura e disposição
simétrica de volumes (JONHSON, 1979; WEBB, 1990).
Praça de Armas
A praça de armas é considerada por diversos autores como uma
variante da praça maior, tendo em vista características similares: sua
morfologia - amplo espaço aberto -, e apresentarem pelo menos um
uso comum: o espaço como mercado. De acordo com Rigotti (1956) e
Velasco (1971), a praça de armas assume na antigüidade duas formas
bastante distintas: aquela de verdadeira praça urbana, e aquela que se
constitui em um descampado dentro ou fora dos muros das cidades
fortificadas. No primeiro caso, temos a praça como centro da cidade
fortificada, de onde partiam vias que levavam aos principais portões e
pontos de defesa da poli. Não havia nenhuma estrutura diferenciada
nessas praças, que também eram utilizadas para festas, mercados e
feiras. Em se tratando de uma área descampada, também chamada de
esplanadas, essas se situavam, mormente, extramuros, próximas aos
alojamentos e campos militares, tendo por função maior exercícios,
treinamentos e artes de guerra.

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Praças: História, Usos e Funções

Praça Renascentista
É a partir do Renascimento que a praça se insere em definitivo
na estrutura urbana, sendo que aquelas estruturas - o largo do
mercado, o adro fronteiriço à igreja e outros espaços vazios -
existentes na cidade medieval não são ainda verdadeiras praças. As
praças renascentistas, através do artifício da perspectiva, foram
enriquecidas de novos elementos: os pórticos criaram visuais
filtrantes; fontes, colunas, obeliscos e pavimentação acentuaram seu
caráter axiforme (GIEDION, 1961; CALCAGNO, 1983). Nesse
período histórico, a praça se converte em um dos principais
elementos urbanísticos para transformação e embelezamento das
cidades. Ela é entendida como um recinto ou lugar especial, e não
apenas um vazio na estrutura urbana. Muito mais do que valor
funcional, a praça adquire valor político-social, e também o máximo
valor simbólico e artístico (MATAS COLOM et al., 1983).
Praça Barroca
O Barroco enquanto manifestação artística distingue-se do
Renascimento, segundo Wolffin apud Lamas (1993, p. 170), “[...] Por
um grande sentido de direção e movimento, recorrendo ao poder da
emoção para comover e subjugar com a força de seu impacto cênico”.
Aliado ao seu caráter dinâmico, as praças barrocas caracterizam-se por
um postulado fundamental que é a imaginação, e seu fim é o de
persuadir, envolver, de criar uma nova realidade (CERONE, 1994). Na
busca de tais objetivos projetaram-se grandiosas e impressionantes
praças, como a Piazza del Popolo, a Piazza Spagna e a Piazza di San Pietro,
todas em Roma.

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Figura 4 – Praça barroca: desenho esquemático da piazza di San Pietro na cidade de Roma, Itália. Fonte:
Unwin (1984)

Surge na França no século XVII, a Places Royale, prolongamento


externo da corte e do palácio. A praça barroca é mais monumental que
funcional; a esplanada central expulsa o mercado dando lugar aos
jardins, árvores, bancos e pérgulas; os espaços abertos são valorizados
pela arquitetura. A espetacularidade da arquitetura barroca nas praças
vem de encontro à preferência do século em que se situa por toda
forma de exterioridade, fausto e poder. Concorreu para tanto, o fato
de, segundo Calcagno (1983, p. 107), “[...] A segunda metade do século
XVI ter sido um período de transição entre duas diferentes filosofias:
aquela clássica do ‘finito’, e aquela barroca do ‘infinito’”.

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Praças: História, Usos e Funções

Figura 5 – Praça barroca: desenho esquemático da place royale situada na cidade de Paris, França, 1612.
Fonte: Webb (1990)

O Classicismo Inglês e a praça


O classicismo na Inglaterra encontra seu representante maior nas
praças (particulares) da cidade de Bath - Royal Crescent, Circus e Queen
Square. Mais do que praças, o Royal Crescent e o Circus constituem-se em
uma nova forma de habitar. São conjuntos de edifícios dispostos, no
primeiro caso, em uma elipse aberta, cuja fachada principal se abre
sobre uma praça, e, no segundo caso, as edificações formam um
recinto espacial de forma rigorosamente circular, em cujo centro
localiza-se a praça. Giedion (1961, p. 638), resgata de um Dicionário de
Arquitectura publicado em 1887 o significado para a palavra square:
“Terreno no qual existe um jardim fechado, circundado por uma via
pública que dá acesso às casas situadas em cada um de seus lados”. Tais
jardins, também conhecidos por praças residenciais, eram fechados por
serem reservados aos inquilinos dos prédios circundantes. Idealizados
pelos Wood1, os projetos de Bath buscavam uma equilibrada
composição espacial, baseada em uma nova relação entre arquitetura e

1 Pai e filho, ambos de nome JOHN WOOD. Arquitetos ingleses que a partir de 1727 dirigiram os
trabalhos de renovação da cidade termal de Bath, na Inglaterra.
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espaços abertos, através da introdução da paisagem vegetal no tecido


urbano (CALGANO. 1983; LAURIE, 1983). Para Kluckert (2000), as
‘invenções’ inglesas do século XVIII - crescent, circus, squares -
constituem-se em um novo modo de entender o espaço aberto
coletivo. Além da inovação arquitetônica surgida nos projetos de Bath,
constata-se o nascer de uma visão pioneira que se estende aos dias de
hoje, que é a preocupação com a temática higiênico-recreativo e social
dentro da trama urbana.

Figura 6 – Classicismo inglês - novas formas urbanas: crescent (Bath/Inglaterra). Fonte: Lamas (1993)

A praça no Brasil
No percurso de cada século, os jardins tiveram suas interpretações
e características ligadas ao pensamento paisagístico do período,
influenciadas pelo amor à natureza, principalmente no que diz respeito
à atividade de planejamento. Somente no final do século XVIII é que
no Brasil a tentativa de reaproximar-se do meio ambiente natural,
organizando-o a partir de uma ordem e de um princípio humanos, fará
com que os jardins sejam adaptados às nossas particularidades,
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Praças: História, Usos e Funções

buscando estimular nossa sensibilidade à paisagem. Essa preocupação,


em paralelo ao discurso higienista nascente, levará à integração dos
elementos da flora no próprio traçado da cidade, como reação e ao
mesmo tempo solução ao problema do adensamento urbano.
Reis Filho (1968) registra que no Brasil a presença de praças e
largos vem de longa data, remontando aos primeiros séculos da
colonização e ocupando a posição de valorizadores do espaço com
função organizacional. Sobre esses espaços recaíam as atenções
principais dos administradores, pois constituíam pontos de atenção e
focalização urbanística, localizando-se ao seu redor a arquitetura de
maior apuro, já que eram pontos de concentração da população.
Segundo Marx (1980) as praças no Brasil colônia estavam associadas
aos adros das igrejas, servindo para reunião de pessoas e diversas
atividades, não só religiosas como também as de recreio, mercado,
políticas e militares.
Um dos primeiros jardins públicos construídos no Brasil foi o
Passeio Público do Rio de Janeiro. Suas obras foram iniciadas em 1779
por ordem do vice-rei D. Luís de Vasconcelos que incumbiu Valentim
da Fonseca e Silva - o Mestre Valentim - de projetar um “jardim de
prazer”, isto é, um jardim público, para servir à população da cidade
(TERRA, 1995). As preocupações de ordem higiênica o levaram a
aterrar a lagoa existente (Lagoa Grande ou do Boqueirão da Ajuda),
com o desmonte do Outeiro das Mangueiras. Embora destinado a um
público restrito, será o primeiro jardim estruturado nas proximidades
do contexto urbano. Inaugurado em 1783 teve sua própria história
ligada a todo o decorrer do desenvolvimento da cidade. Pelos registros
existentes constata-se que ele foi traçado nos moldes de um jardim
francês, pois a idéia de perspectiva infinita, proporcionada pelo mar
que chegava até seus limites, dava-lhe um ar de grandiosidade. O seu
estado atual em muito se assemelha à reforma realizada em meados do
século XIX pelo botânico Auguste Marie François Glaziou, admitido
por D. Pedro II para elaborar e supervisionar os Jardins Imperiais.
Ocupado não só com a reforma do Passeio Público, mas também com
o paisagismo da Quinta da Boa Vista e o Campo de Santana, Glaziou
em pouco tempo imprimiu sua marca na cidade: canteiros de desenho
oval cortados por lagos, pequenas cachoeiras e grutas de pedra. Além
da edificação de jardins, dedicou-se também à criação de herbários,
descobrindo muitas espécies e introduzindo plantas brasileiras nas
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praças e ruas. De acordo com Segawa (1996), o Passeio Público do Rio


de Janeiro foi contemporâneo ao surgimento dos primeiros jardins
públicos europeus na segunda metade do século XVIII, símbolos do
pensamento iluminista a invocar algumas formas de sociabilidade nas
quais a aristocracia e a burguesia encontravam um lugar comum. Até o
ajardinamento do Campo de Santana (a partir de 1880), o Passeio
Público foi, por quase um século, o único recinto com as características
de local “para ver e para ser visto”. Blossfeld (1965) fala dos
primórdios da jardinagem no Brasil, no início do século XIX, com a
vinda da corte portuguesa, e liga o fato ao início da urbanização. Os
primeiros trabalhos, segundo o autor, foram: o ajardinamento do Paço,
a formação de aléias e passeios públicos e a criação de parques e praças.
Se nos pautarmos por um enfoque antropológico, não estaremos
incorrendo em erro se afirmarmos que a praça no Brasil tem sua
origem anterior à implantação do Passeio Público do Rio de Janeiro. Se
considerarmos que os índios construíam suas ocas alinhadas formando
um círculo, cujo centro, vazio, era o local das reuniões, festas e ritos,
então teremos aí o primeiro registro desses espaços em nosso país.
Embora tais espaços não fossem nominados como praças, sua função,
porém, as evoca. Sem dizer da centralidade, outra característica muito
comum às praças e tão presente nas aldeias indígenas (tabas).
Há alguns anos era possível encontrar no Brasil interiorano, rural
(o das pequenas cidades não contaminadas pela virulência da
globalização, onde shopping-centers, quando muito, existiam no
imaginário das pessoas) a “praça televisiva”. Esta se fazia presente a
preencher o vazio das noites e ócio dos fins de semana. Televisiva
porque aquele espaço comportava um monitor de TV que permitia à
comunidade afluir à praça em busca de entretenimento. Sem dizer da
avidez por um mundo novo que se descortinava e se materializava na
forma de sons e imagens. É possível que ainda hoje, em algum “canto”
perdido desse país, possamos encontrar uma “praça televisiva”.
A praça no Século XXI
O Renascimento e as correntes artísticas subseqüentes - Barroco,
Rococó, Classicismo, Maneirismo, Neoclassicismo - criaram praças que
primavam pelo refinamento da arte através de colunas, monumentos,
edifícios, pórticos, estátuas, fontes e tantos outros adornos. As praças
de então representavam a ostentação e o fausto de um rei, da nobreza,

14
Praças: História, Usos e Funções

do clero. Era o lugar da espetacularização e cenário de poder. A praça


que antecede ao modernismo2 tinha uma função endógena, e estava
submetida a um edifício (sagrado como a igreja; espaço cívico anexo a
um edifício municipal; propriedade de um palácio) ou identificada com
um uso específico (mercado). A praça contemporânea, comumente,
não tem uma função específica, nem depende, em sentido estrito, de
um edifício ou de um monumento. Sua finalidade é a de se constituir
em um lugar atrativo de encontro e reunião (FAVOLE, 1995). Por
outro lado, constata-se que o lugar onde a comunidade se reunia para
realizar uma atividade coletiva (religiosa, comercial, política), cede vez a
um espaço onde encontramos pessoas isoladas, solitárias; o espírito de
coletividade inexiste. A corroborar tal afirmativa, Placanica (1995, p.
55), afirma que a praça contemporânea é a antítese,
[...] a negação de uma praça, visto que essa, nascida como lugar
essencialíssimo de encontro - físico, econômico, ideal, cultural -
[...] foi reduzida a depósito de realidade embaraçada, inanimada e
inalterada; local de passagem absolutamente efêmero, no qual é
impossível permanecer, e menos ainda reunir-se.

Concorre para o esvaziamento das praças o surgimento de


múltiplos rivais anômalos a ela enquanto lugar de encontro e reunião:
os shopping-centers, centros empresariais, edifícios polifuncionais, os
estádios. Sem falar do abandono a que são relegadas, trazendo
insegurança e, conseqüentemente, afastando seus freqüentadores. O
advento da informática no atacado trouxe para dentro das casas a TV a
cabo, o pay-per-view, o home-theather, a Internet. Inovações tecnológicas
de lazer que, com seus chips, kbytes de memória, imagens, encontros e
diálogos virtuais, têm levado as pessoas a substituírem o espaço aberto
por uma tela fechada de circuitos eletrônicos. A praça que, por séculos
afora - desde a ágora grega -, fora o espaço público por excelência para
o contato humano, para o socializar-se em um contato próximo com o
outro, é atualmente um pedaço perdido entre tantos na colcha de
retalhos que chamamos por cidade.
A praça, que já foi das armas, dos touros, maior, residencial, real,
passou a ser, a partir da metade desse século, praça de alimentação!

2De acordo com Wilfried KOCH (1982), o modernismo artístico tem origem em diferentes países, com
diferentes características e denominações. Dessa forma vamos encontrar o Estilo Liberty na Itália (1890-
1910); Art Nouveau na França (1890-1910); o Modernismo na Espanha (1880-1925); Jugendstil na
Alemanha (1890-1925); e Arts and Crafts na Inglaterra (1888-1910).
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Coleção Fundamentum • n. 14, 2005

Criação americana junto aos shopping-centers, esse espaço fechado,


recluso e envolto por néon, ar rarefeito, plantas sintéticas, iluminação
artificial, escadas rolantes e fast food, banaliza e tira de foco o conceito
implícito do que seja verdadeiramente uma praça. O espaço de hoje
que ainda, insistentemente, chamamos por praça, já não traz consigo a
significância e importância de um tempo, reduzido que está, muitas
vezes, a um espaço vazio, resultado urbanístico da interceptação de vias
públicas, ou ainda, utilizado como estacionamento para automóveis.
Esses, beneficiários maiores de um espaço esquecido por quem,
efetivamente, deveriam ocupá-lo.

Importância das Praças 3

Valores ambientais
 Melhoria na ventilação e aeração urbana. Metrópoles padecem
atualmente de problemas devido à poluição atmosférica. O espaço
livre urbano, não só o público, mas todo e qualquer espaço livre, é
importante para permitir a circulação de ar, facilitando a dispersão
dos poluentes.
 Melhoria da insolação de áreas muito adensadas.
 Ajuda no controle da temperatura. A vegetação arbórea colabora no
sombreamento das ruas e praças e as superfícies vegetadas
(canteiros) não absorvem nem irradiam tanto calor quanto os pisos
processados, como asfalto, concreto, cimentados. Em cidades
muito quentes, principalmente do Norte, Nordeste e Centro-oeste
do país, a utilização da vegetação é importante para o controle da
temperatura.
 Melhoria na drenagem das águas pluviais com superfícies
permeáveis, que absorvem parte das águas e diminuem sua
velocidade de escoamento, devido à rugosidade das superfícies
plantadas, evitando, assim, enchentes. Atualmente, devido ao
processo maciço de impermeabilização do solo, as cidades
enfrentam problemas que podem ser minimizados com uma correta
política de implantação e distribuição de áreas permeáveis.

3 Extraído de Robba e Macedo (2002, p. 44 e 45).


16
Praças: História, Usos e Funções

 Proteção do solo contra a erosão. Deslizamentos de terra e


desmoronamento podem ser evitados, não deixando o solo exposto
à ação das chuvas. As superfícies vegetadas são de grande auxílio na
contenção de encostas.
 Proteção e valorização dos mananciais de abastecimento, dos cursos
d’água, lagos e represas contra contaminações e poluição.
Valores funcionais
Do ponto de vista funcional, os espaços livres públicos são uma
das mais importantes opções de lazer urbano. Em determinados
bairros, a praça pode ser a única opção de espaço recreativo para os
habitantes. Apesar da enorme concorrência com outros espaços e
atividades de lazer (shopping-centers, parques de diversões temáticos,
estádios de futebol, televisão), o espaço livre atrai sempre mais e mais
freqüentadores.
Valores estéticos e simbólicos
Os espaços livres também são simbolicamente importantes, pois
se tornam objetos referenciais e cênicos na paisagem da cidade,
exercendo importante papel na identidade do bairro ou da rua. Quem
nunca usou a “pracinha” ou a “grande árvore florida” próxima à sua
casa como referência para indicar um caminho ou trajeto? São ainda
objetos de embelezamento urbano, resgatando a imagem da natureza
na cidade. Os espaços verdes e ajardinados são progressivamente
associados a oásis em meio à urbanização maciça.

A praça e o projeto
Não há “receita pronta” para se projetar uma praça. Cada um
desses espaços inseridos na malha urbana deve apresentar uma
“identidade” própria, uma feição que o torne referencial em um espaço
maior (bairro, por exemplo). De acordo com De Angelis (2000),
diversos são os fatores que concorrem para a melhor elaboração do
projeto, conforme apresentado na seqüência:
 criatividade
 inserção na malha urbana
 localização e distribuição
17
Coleção Fundamentum • n. 14, 2005

 praça temática
 anseios da população lindeira à praça (ouvir a população)
 características e aptidão do terreno
 mobiliário e estruturas
 características do entorno
 disponibilidade de recursos financeiros
 disponibilidade de recursos humanos
 tipologia
Criatividade
Criatividade é a mola que imprime um caráter diferenciado ao
projeto de uma praça. É claro que não se constrói coisa alguma se não
se tiver recurso financeiro. Por outro lado, muitas vezes com pouco
dinheiro implanta-se interessante espaço público. Praça não é,
necessariamente, um logradouro onde se deva ter toda parafernália de
equipamentos e/ou estruturas. Confunde-se o que seja um bom
projeto de espaços públicos com a necessidade de se fazer obras
grandiosas que destaque a ação política de um prefeito. Muitas vezes
uma praça com gramado bem cuidado, árvores e, quando muito, alguns
bancos, satisfazem muito mais que uma outra em que se entulhou de
obras. É na criatividade do projetista que reside grande parte do
sucesso de uma praça e seu uso continuado pela população.
Criatividade se traduz por fugir dos lugares comuns: os desenhos
clássicos; a praça entulhada por plantas; os caminhos retos; a
proporcionalidade entre os elementos; a repetição dos motivos; a
artificialidade; a falta de significância para cada componente do
logradouro. Criatividade é resultado não só da emoção que se coloca
naquilo que se faz, mas também do estar atento (percepção) àquilo que
as pessoas esperam do espaço a ser trabalhado.
A inserção da praça na malha urbana
Uma cidade tem por espinha dorsal de sua estrutura as vias
públicas, sendo que, de toda infra-estrutura urbana, é a viária a primeira
a se fazer presente, remontando a Roma antiga (ZMITROWICZ; DE
ANGELIS NETO, 1997). Seus cruzamentos e interseções determinam
não somente o fluxo de automóveis pela urbe, mas também o
surgimento de logradouros públicos, no caso de interesse da presente
18
Praças: História, Usos e Funções

pesquisa, as praças. Enquanto as vias formam como que uma teia a


unir pontos distantes, ora largas, ora estreitas, ora em desnível ou
planas, as praças resultam em um conjunto espaçado a “quebrar” a
monotonia da paisagem urbana. É uma “ilha” que permite ao motorista
visualizar uma paisagem diferenciada, e ao pedestre lhe é propiciado o
descanso, o lazer, ou o simples atravessar por essas áreas. A
importância das vias públicas para as praças reside no fato de sua forma
poder vir a ser definida pelas mesmas, determinando os diferentes tipos
de configuração. Sitte (1992), já no século XIX, ao abordar a influência
das vias públicas na conformação das praças, diagnosticou três sistemas
principais - o sistema retangular, o sistema radial e o sistema triangular -
, e alguns secundários, decorrências daqueles. Na segunda metade do
século XX, Rigotti (1956) apresenta em seu livro Urbanistica - la tecnica,
os primeiros estudos mais acurados sobre a inserção das praças na
trama urbana, levando em consideração a presença e números de vias
enquanto elemento estruturador desses espaços. É nesse contexto que
o referido autor classifica as praças em quatro grupos, a saber: praças
radiais, em leque, de junção tangencial, de junção axial ou de
atravessamento direto.
Ao se projetar uma praça deve-se ter uma visão macro da cidade
de tal forma que o novo espaço esteja inserido nesse contexto,
propiciando a continuidade de um sistema de espaços livres urbanos
interligados - parques, praças, hortos, reservas florestais, fundos de
vales, arborização de acompanhamento viário e outros. Não se pode
conceber uma praça sem se considerar a existência das demais em um
espaço razoável de distância. Não cabe aqui determinarmos um
número, uma vez que os índices são contraditórios e dificultam mais o
trabalho que auxiliam. Prevalece, nesse caso, o bom senso do projetista,
seu conhecimento da cidade e sua criatividade.
A partir dos trabalhos desenvolvidos por Dodi (1946), Sitte (1992)
e Rigotti (1956), acrescido pelo de Matas Colom et al. (1983), e em
consonância com as particularidades de Maringá, foi possível levantar
subsídios que permitiram analisar a inserção das praças na trama
urbana da cidade, identificando-se cinco tipos e nove subtipos
diferentes, os quais são apresentados e descritos na seqüência.

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Coleção Fundamentum • n. 14, 2005

TIPO 1 - Praças conformadas por uma única via


Subtipo (a) - Praças redondas4
É uma praça de distribuição do trânsito, formada por uma via que
a rodeia, onde várias vias, geralmente em número de quatro,
desembocam na mesma (figura 7a). É o tipo de praça mais comum em
Maringá (em número de 40), estando dispostas ao longo de todas as
vias principais.
Subtipo (b) - Praça oval
O tipo em tela diferencia-se da anterior tão somente pela forma
geométrica, sendo configurada, também, por uma única via (figura 7b).
Maringá conta com um exemplo dentro desse subtipo: Praça Jardineiro
Altino Cardoso.

PRAÇA PRAÇA

Subtipo (a) Subtipo (b)


Figura 7 - Esquema das praças de Maringá conformadas por uma via. Fonte: De Angelis
(2000)

4 Praça Rocha Pombo, Presidente Kennedy, José Bonifácio, Sete de Setembro, Rotary Internacional,

Geofrey Wild Diment, da Catedral, Manoel Ribas, dos Expedicionários, Pio XII, 21 de Abril, Deputado
Heitor Alencar Furtado, sem denominação (localizada à Av. Carlos Correia Borges com Anel Viário),
Pioneiro Julio Ribeiro Vilella, Pioneira Thereza R. Barriquelli Covre, Emílio Farjado Espejo, Megumi
Tanaka, das Palmeiras, Pioneiro Jacinto Ferreira Branco, Atleta Reinaldo G. Bittencourt, Arnaldo
Armstrong de Oliveira, Ney Braga, sem denominação (localizada à Av. Antônio Ruiz Saldanha com Anel
Viário), sem denominação (localizada à Av. Pioneiro Maurício Mariani com Anel Viário), Luiz Gonzaga,
Henrique Fregadolli, Jitsuji Fujiwara, das Américas, Senador Abilon Souza Naves, Pioneiro Bento de
Freitas da Silva, da Independência, Pioneiro Galilleu Rigolin, Vila Rica, São Vicente, Ouro Preto,
Farroupilha, Regente Feijó, Emygdio de Britto, Largo Pioneiro Irineu Murazi, Raphaelha Name
Lucchesi.
20
Praças: História, Usos e Funções

TIPO 2 - Praças conformadas por duas vias


No presente caso foi possível distinguir três modos (subtipos)
diferentes de conformar o espaço a partir das duas vias estruturantes.

Subtipo (c)
Formada a partir de uma via que cruza uma segunda que, por sua
vez, está circundando o espaço em questão. Essa interceptação de vias
acaba por propiciar o aparecimento de uma praça descontínua, ou seja,
há o surgimento de dois “bolsões”, criados em ambos os lados de uma
das vias. Nesse caso, como resultado, tem-se uma praça circular bipartida
(figura 8c). A exemplificar o subtipo em questão temos um único
representante em Maringá - Praça Ary Barroso.
Subtipo (d)
Esse subtipo propicia o aparecimento de praças que se
comportam como “alças” dentro da trama urbana, visto serem
formadas pela interceptação de uma via retilínea com outra que
apresenta traçado semicircular (figura 8d). Três praças compõem esse
subtipo: das Bandeiras, Nilza de Oliveira Pipino e Pioneiro Fiori
Progiante.
Subtipo (e)
O espaço se forma em um ângulo resultante da interseção de duas
vias, sem que estas interrompam a continuidade da praça. Na parte
posterior da praça encontram-se edificações (figura 8e). Um único caso
a ilustrar o presente subtipo - Praça Largo das Garças.

PRAÇA PRAÇA

PRAÇA

Subtipo (c) Subtipo (d)


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Coleção Fundamentum • n. 14, 2005

Figura 8 – Esquema das praças de Maringá conformadas por duas vias. Fonte: De Angelis (2000)

TIPO 3 - Praças conformadas por três vias


No caso de Maringá, dois foram os subtipos encontrados pela
interseção de três vias.
Subtipo (f)5
O caso mais simples é o da praça triangular, criada a partir da
interceptação de três vias, formando a referida figura geométrica (figura
9f).
Subtipo(g)
A praça é formada por duas vias paralelas e uma ortogonal a elas,
sendo que a quarta face é ocupada por edificações (figura 9g). Uma única
praça ilustra o presente caso - Naturalista Augusto Ruschi.

PRAÇA

PRAÇA

Subtipo (f) Subtipo (g)


Figura 9 – Esquema das praças de Maringá conformadas por três vias. Fonte: De Angelis (2000)

TIPO 4 - Praças conformadas por quatro vias


Ao constituir o tipo em tela encontraram-se duas variações ou
subtipos, a saber.

5 Ministro Antônio Oliveiro Salazar, Vereador Malaquias de Abreu, Amábile Giroldo, Pioneiro Antônio
Laurentino Tavares, Londrina, sem denominação (localizada às Avenidas Gastão Vidigal e Centenário),
Pioneiro Olímpio Forcelli, sem denominação (localizada à Rua Mitsuzo Taguchi com Luiz Carlos Sossai),
sem denominação (localizada à Rua Alexandra com Nicarágua), Maestro Aniceto Matti, Professor Ester G.
Josepetti, Professor Ary de Lima, Júlio Jerônimo dos Santos, Professora Nadir Aparecida Cancian, Olinda,
sem denominação (localizada às Avenidas Jinroku Kubota com Lucílio de Held), Largo Júlio do Carmo
Esteves, sem denominação (localizada à Av. Alziro Zarur), Zumbi dos Palmares, sem denominação
(localizada à Rua Antônio Tait com Olivar F. de Paiva).
22
Praças: História, Usos e Funções

Subtipo (h)6
Origina praças quadrangulares ou retangulares, frutos que são do
cruzamento de quatro vias, sendo duas a duas paralelas entre si (figura
10h).

Subtipo (i)
É o caso da praça triangular bipartida, conformada por duas vias
que se interceptam ortogonalmente, e duas outras que, ao se cruzarem,
formam o vértice de um triângulo. A praça, nesse caso, é secionada em
duas partes (figura 10i). Os exemplos em Maringá são: Praça dos
Sertões e Lions.

PRAÇA

PRAÇA PRAÇA

Subtipo (h) Subtipo (i)


Figura 10 - Esquema das praças de Maringá conformadas por quatro vias. Fonte: De Angelis (2000)

TIPO 5 - Praças conformadas por cinco vias


São praças retangulares ou quadrangulares, conformadas por
quatro vias paralelas duas a duas, sendo que a essas se soma uma
quinta, a qual secciona a praça ao meio (figura 11). Uma única praça
ilustra esse tipo - Todos os Santos.

6 Praça Nações Unidas, Napoleão Moreira da Silva, Largo General Osório, Largo Pioneiro José Inácio da
Silva, Pedro Álvares Cabral, sem denominação (localizada à Rua Gebel com Alfredo Braido), da Glória,
Cidade de Bréscia, do Aeroporto, Sagrado Coração de Jesus, sem denominação (localizada à Rua São
Lourenço com Diogo Zuliani), Santo Antônio, Santa Isabel, Emiliano Perneta, Raposo Tavares, Juiz
Fernando Antônio Vieira, da Capela, Nossa Senhora da Aparecida, Vereador Eurico Vieira Guido, Salgado
Filho, Elídio Neto Laranjeira, São Benedito, Deputado Renato Celidônio, Vicente Simino, Professora Rachel
D. P. Pintinha, José Bertoni, Vereador Oswaldo Vieira, General Gomes Carneiro, sem denominação
(localizada à Rua Projetada 45-6 com Projetada 45-7).
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Coleção Fundamentum • n. 14, 2005

PRAÇA

PRAÇA

Figura 11 - Esquema das praças de Maringá conformadas por cinco vias. Fonte: De Angelis (2000)

Pode-se dizer que em Maringá a inserção das praças na trama


urbana passou por dois momentos distintos. O primeiro estende-se da
sua criação (1947) até fins da década de 50, onde o desenho da cidade
ainda seguia o projeto original. Neste período predominavam as praças
conformadas por uma única via, o que resultou em praças circulares. A
partir dos anos 60, a cidade firma-se como pólo regional, trazendo uma
expansão desorganizada e fora dos padrões convencionados em seu
projeto. Como conseqüência, vamos encontrar o surgimento de
loteamentos periféricos cujo padrão urbanístico obedece à formação de
quarteirões quadriculados, resultando, comumente, em praças
conformadas por quatro vias. Isto significa praças quadriculadas ou
retangulares. Outras variações são decorrentes da necessidade de
permitir o fluxo de veículos por entre praças que já existiam, quer seja,
a bipartição das mesmas.
Localização e distribuição
Quando se fala em distribuição de praças na malha urbana
devemos adotar um critério eminentemente técnico, qual seja, ela deve
ser locada em um ponto onde o cidadão venha gastar o menor tempo
possível para atingi-la em uma caminhada a pé. Em diversos trabalhos
encontramos diferentes índices. Di Fidio (1990) além de referenciar as
distâncias ideais, ainda propõe uma categorização, sendo que nos
ateremos a apenas duas de nosso interesse: pequenos espaços públicos
tendo por referência a habitação, e situados a uma distância máxima de
400 m (5 a 10 minutos a pé), e que atenda, sobretudo, às crianças
24
Praças: História, Usos e Funções

menores; espaços maiores, tendo por referência o quarteirão, a uma


distância máxima de 800 m (10 minutos a pé), e que ofereça estrutura
para uma clientela mais diversificada. Jantzen (1973) apud Nucci (1996)
sugere que, se esses espaços forem destinados a crianças até 6 anos,
devam estar situados a uma distância de até 100 m da habitação; de 6 a
10 anos a até 500 m; e, de 10 a 17 anos a até 1.000 m. Dodi (1946)
sistematiza da seguinte forma: em se tratando de espaço para crianças a
distância deve estar compreendida em um raio de 250 a 500 m; para
jovens e adolescentes entre 500 e 1.000 m; e, para adultos numa faixa
que vai de 1.000 a 3.000 m. Embora os índices possam apresentar certa
discrepância, é oportuno salientar que quanto mais próximo do local de
moradia, tanto mais efetivo será o uso desses espaços, o que concorre
para que a população que os ocupe cobre do poder público sua
constante manutenção.
Praça temática
Ao projetar-se uma praça temática deve-se estar ciente que todo
modismo é passageiro e, conseqüentemente, o logradouro pode acabar
caindo no esquecimento e se tornar mais um espaço público
abandonado. A praça temática pode perfeitamente coexistir com outra,
sem que para isso exista um espaço específico para ela. É claro que
existem situações particulares que devem ser analisadas à luz daquela
determinada situação.
Anseios da população lindeira à praça (ouvir a população)
Se ao se projetar uma praça os responsáveis pelo projeto
pudessem fazer uma pequena enquête junto aos moradores com
relação àquilo que eles gostariam de ver implantado na praça,
certamente muitas das nossas praças estariam melhores preservadas.
Isso se explica pelo simples fato de que ao se ouvir os moradores e, de
alguma forma atendê-los em suas reivindicações, eles passam a se
sentirem co-responsáveis pela preservação daquele espaço. No entanto,
as coisas não acontecem assim... Projeta-se a praça sem se quer saber a
que clientela ela irá atender. O resultado é o que todos conhecem:
praças desvinculadas da realidade da população local, abandono e
desinteresse pelo logradouro.

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Coleção Fundamentum • n. 14, 2005

Características e aptidão do terreno


Observa-se que é praticamente consenso o fato de que as praças
devam ser implantadas em áreas planas. É um erro grosseiro pensar
assim, uma vez que terrenos em desníveis propiciam melhores
condições para a criação de sub-espaços dentro de uma mesma área. O
“efeito surpresa” é muito importante em uma praça, isto é, criar
condições para que o logradouro não seja visualizado totalmente de um
único ponto e de uma única vez. E a condição ideal para isso é
justamente um terreno em desnível. Deve-se “respeitar” as condições
físicas de um terreno, evitando-se o excessivo movimento de terra
(cortes e aterros), pois isso encarece o projeto, podendo, inclusive, criar
uma área que não se harmoniza com o seu entorno.
Mobiliário e estruturas
O termo mobiliário urbano ou, no caso presente, mobiliário das
praças, tem sua origem a partir da tradução literal do francês mobilier
urbain ou do inglês urban forniture. Por mobiliário urbano entende-se
uma gama considerável de equipamentos e estruturas - bancos,
luminárias, fontes, quiosques, floreiras e vasos, cabines telefônicas,
abrigo de ônibus, lixeiras, pisos, parques infantis, e tantos outros.
Nunca como hoje o mobiliário urbano esteve tão em evidência.
Assumindo importância crescente, seja no que diz respeito ao desenho
da cidade à sua organização, à qualidade e comodidade do espaço, e
acabando por interessar à própria produção industrial (LAMAS, 1993).
As cidades tornaram-se complexos centros habitados, onde os espaços
coletivos exigem uma estruturação adequada aos anseios e necessidades
de sua população. São esses espaços, sejam praças, parques, calçadas,
alamedas ou outros, que conferem humanização à “selva de concreto”,
além de darem uma identidade própria à urbe. Em macro escala
teríamos a identificar uma cidade, por exemplo, o Hyde Park, em
Londres, o Central Park em Nova York, ou ainda o Champs Élysée com a
Place de l’Étoile em Paris. Numa escala menor, agora fazendo referência
ao mobiliário urbano, vamos encontrar particularidades que marcam
em definitivo uma cidade: as cabines telefônicas da Inglaterra; as
entradas do metrô de Paris; as lixeiras industriais de Nova York; as
calçadas de pedra de Londres ou as ruas pavimentadas com pedra
autóctone de vários povoados italianos.
26
Praças: História, Usos e Funções

A presença de equipamentos e estruturas em uma praça deve ser


proporcional a sua área e de acordo com aquilo que a população
almeja. De nada vale a colocação, por exemplo, de fonte luminosa em
bairro onde moram pessoas de baixa renda, pois certamente para elas
essa estrutura não tem maior significância e valor. A dotação de
equipamentos deve ser pautada pelo bom senso, buscando sempre a
harmonia do conjunto, e tendo com muita clareza o sentido daquele
espaço para aquela área. É sabido que uma das funções básicas da
praça é a socialização e seu uso para fins de entretenimento e lazer.
Assim, se nos pautarmos em nosso projeto de praça por uma visão
voltada ao lazer, devemos então considerar seus cinco tipos mais
importantes: lazer cultural, recreativo, esportivo, aquisitivo e
contemplativo. Determinado o(s) tipo(s) de lazer com o qual se
pretende trabalhar fica mais fácil escolher os
equipamentos/instrumentos que comporão o espaço público.
Entre tantos equipamentos que podem compor uma praça dois
merecem destaque, tento vista seu uso mais comum - luminárias e
bancos. Luminárias constituem equipamentos que costumam tornar-se
problemáticas após um certo período de tempo, sobretudo em se
tratando do tipo superposte (trevo). Esse tipo de luminária permite
uma iluminação satisfatória até que as árvores não atinjam a fase adulta,
fazendo com que, nessa fase, a copa das mesmas impeça a passagem da
luz. Isso leva, obrigatoriamente, ao rebaixamento do sistema, onerando
ainda mais a manutenção de uma praça. Em função disso o correto
seria o dimensionamento de um sistema rebaixado já por ocasião do
projeto de elaboração da praça. Em se tratando de bancos dois
aspectos devem ser observados: a questão da ergonomia e sua
disposição no espaço da praça. Como vivemos em um país de clima
tropical onde o sol faz-se presente durante todo o ano e de forma
intensa, o ideal seria dispor o maior número deles sob as árvores, e um
menor número fora da ação da copa das mesmas. Outro detalhe
quanto à sua disposição diz respeito a não locá-los nos caminhos, mas
sim recuados, de forma a não concorrer pelo espaço de circulação.
Quanto à ergonomia devemos atentar para o fato de propiciarmos um
mínimo de conforto, principalmente porque quem mais faz uso dos
bancos são pessoas idosas.
Na seqüência são apresentados diferentes modelos de bancos que
são encontrados em praças públicas.
27
Coleção Fundamentum • n. 14, 2005

MURO DE CONTENÇÃO

Figura 12 – Desenho esquemático de banquetas fixadas em muro de contenção. Fonte: De Angelis


(2000)

MURO DE CONTENÇÃO

Figura 13 – Desenho esquemático de banco adaptado sobre mureta. Fonte: De Angelis (2000)

Palmeira

Figura 14 – Desenho esquemático de banco “serpenteado”. Fonte: De Angelis (2000)

28
Praças: História, Usos e Funções

Árvore
Árvore

Figura 15 – Desenho esquemático de bancos no entorno de árvore. Fonte: De Angelis (2000)

Figura 16 – Desenho esquemático de banco com assento reto e encosto “serpenteado”. Fonte: De Angelis
(2000).

Figura 17 – Desenho esquemático de banco recuado em que se aproveitou o muro de contenção como
encosto. Fonte: De Angelis (2000)

Figura 18 – Desenho esquemático de banco coletivo em foma de “U”. Fonte: De Angelis (2000)

29
Coleção Fundamentum • n. 14, 2005

Na seqüência são apresentados diferentes modelos de luminárias


comumente encontrados em praças públicas.

Figura 19 – Desenho esquemático de luminárias tipo poste com um, dois, três e quatro globos,
respectivamente. Fonte: De Angelis (2000)

Figura 20 – Desenho esquemático de luminárias tipo super poste encimada por “tulipa”, bifurcada e
encimada por “trevo”, respectivamente. Fonte: De Angelis (2000)

Características do entorno
Uma praça não é um elemento aleatório no conjunto da cidade,
mas algo que compõe e interage com todos os outros espaços públicos
30
Praças: História, Usos e Funções

e as demais edificações, formando um continum. Desconsiderar o espaço


que circunda a praça, as construções e vias é “meio caminho andado”
para que esse espaço seja um tremendo fracasso. Imagine-se, por
exemplo, querer desenvolver o projeto de uma praça que privilegie o
lazer contemplativo em uma área de intenso tráfego. Pode parecer algo
de difícil ocorrência, porém ocorre com maior freqüência do que se
pode imaginar. É comum os “projetistas de prancheta” elaborarem
seus projetos de praças sem sequer irem ao local onde ela será
implantada. Comumente usa-se um arquétipo de praças padronizadas,
como se fosse possível sua produção seriada! Isso configura uma
aberração em termos de criatividade, denota descaso para com os
usuários, e desconhecimento total da ciência urbanística. Planejar uma
praça pressupõe a criação de um ambiente que se coadune com seu
entorno e que dê maior satisfação a quem dela fará uso.

Disponibilidade de recursos financeiros


É comum encontrarmos a maioria das praças brasileiras ou em
estado de abandono ou desprovida de qualquer estrutura. E o principal
argumento que o poder público usa é o mesmo de sempre: falta de
recursos financeiros! Observamos que muitas cidades adotaram, e com
sucesso, uma parceria junto com empresas no intuito de implantar e
manter determinada praça. O sucesso de tal empreita depende de uma
conscientização prévia que se deve fazer com as empresas, uma vez que,
passada a euforia da implantação, do momento político e da divulgação
nos meios de comunicação os ânimos arrefecem e a praça fica
abandonada. Ao mesmo tempo em que promovem uma ação de
marketing simpática e politicamente correta, as empresas cumprem um
papel que o poder público deixa de lado. Outra opção é uma co-gestão
com os moradores ou lojas que se localizem no entorno ou próximo da
praça. Essas pessoas cotizariam-se e manteriam a conservação da praça.
Saliente-se aqui, novamente, a importância de um trabalho intensivo de
conscientização.

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Coleção Fundamentum • n. 14, 2005

Disponibilidade de recursos humanos


Sem a menor sombra de dúvida esse é o ponto mais importante e
que, além de determinar o sucesso ou fracasso do projeto de uma praça
(ou de qualquer outro espaço público), acaba por tornar vulnerável o
trabalho de profissionais que, efetivamente, se dedicam ao estudo da
arquitetura da paisagem. Planejar e implantar uma praça pressupõe
conhecimentos mínimos de botânica, edafologia, arquitetura,
urbanismo, entre outros. Porém, muito comum é encontrarmos
pessoas sem a menor qualificação profissional implantando praças sem
sequer elaborarem um projeto. Muito mais sério é o processo de
escolha das espécies vegetais utilizadas, escolhidas sem critério ao sabor
do gosto pessoal por quem, sem conhecimento de causa, imagina estar
implantando um jardim em sua casa...
Tipologia
A partir do final do século passado e início do presente, quando
“abriram-se” as cidades e procedeu-se a uma “limpeza” sanitária, as
praças eram criadas ao sabor do poder dominante, e despojadas de um
planejamento que as inserissem e as harmonizassem com o seu
entorno. Com o vento reestruturador que assola, sobretudo a Europa
no campo urbanístico, os espaços públicos passam a ser planificados
em consonância com as necessidades da urbe, e não mais para
satisfazerem caprichos e vontades pessoais. Normas e regras ditam o
espaço ocupado pelas mesmas. Ela - a praça - passa a ser estruturada
dentro de um contexto mais amplo; de um espaço que abarca um
conjunto composto por vias, passeios e edificações; ela compõe,
interage, harmoniza o ambiente circundante. Ela não é só o agente
físico estruturador, mas um elemento que congrega e referencia a
paisagem local, adquirindo uma conotação simbólica, onde o
observador a retém na memória enquanto ponto de referência. Diante
disso, seu desenho é melhor elaborado; suas linhas mais claramente
conformadas; a “leitura visual” de seus contornos passa a ser melhor
definida. Dessa forma, tanto mais fácil será retê-la na memória. Nas
palavras de Gomes (1997, p. 16),
[...] a praça é um símbolo à medida que permite, dentro do seu
espaço, a emoção perpassar pela sua imagem e, na biografia do seu
usuário, uma energia fluir dessa imagem que se fixou por ter sido
32
Praças: História, Usos e Funções

parte da sua vida. É um símbolo cultural, alimentado pelo universo


simbólico daquele indivíduo que teve toda sua condição de vida
impregnada no cotidiano.

O estudo da tipologia do espaço público pressupõe o


conhecimento de sua identidade, estrutura, significação e, por último,
porém não menos importante, a imaginabilidade. Lynch (1966) define a
imaginabilidade como sendo a qualidade do objeto físico que lhe
confere uma grande probabilidade de suscitar uma imagem vigorosa
em qualquer observador. O atributo de identidade permite conhecer
uma praça como entidade diferenciada, distinguindo-a dos demais
logradouros. A estrutura conforma a imagem através da relação
espacial entre a praça e seu entorno, integrando ambos em um
conjunto único. A significação, por sua vez, é um atributo que
comporta valor simbólico para o observador, transformando a praça
em um espaço reconhecível e representativo para os habitantes da
cidade.
O estudo da tipologia ou dos arquétipos das praças encontra em
diversos autores trabalhos desenvolvidos: Dodi (1946), Zucker (1959),
Lynch (1978), Alexander (1980). Enquanto Zucker (1959) classifica as
praças em cinco arquétipos que vai da praça fechada em seu próprio
espaço à praça envolvida por edifícios, ou ainda a praça amorfa onde
seu espaço é indefinido, Sitte (1992), analisando a relação entre as
praças e os seus edifícios circundantes, identifica duas categorias de
praças: as de largura e as de profundidade. Por sua vez, para Moughtin
(1992) há duas maneiras de se categorizar as praças: pela sua função e
pela sua forma. Dodi (1946) propôs a seguinte tipologia para as praças,
segundo suas funções: praça de igreja - como o próprio nome sugere, é
um espaço que comporta um templo religioso; praça de escola -
contém uma escola em sua área; praça cívica e representativa -
caracterizada por apresentar edifícios públicos de caráter político e
administrativo; praça de mercado - local onde o mercado estava
instalado; praça de feira - onde ocorriam as feiras e exposições; praça
da estação - apresenta específica função, como o próprio nome o diz; e
praça para estacionamento de veículos. Rigotti (1956) propôs algo
semelhante a que propunha Dodi (1946), porém enquadrando as praças
em dois grandes grupos: de descanso e de circulação. Por sua vez, as
praças de circulação dividem-se em praças de estacionamento para
autos, praças de estação e praças para edifícios públicos. Já as praças de
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Coleção Fundamentum • n. 14, 2005

circulação comportam os seguintes subtipos: praças de mercado, de


igrejas e palácios, de reunião e monumentais, e praças para espetáculos.
Trabalhos mais recentes, como por exemplo, o de Matas Colom et al.
(1983) sobre as praças de Santiago do Chile, não apresentam mudanças
consideráveis no estudo da tipologia das praças. O autor classifica
aquelas praças em quatro categorias: praça de significação simbólica, de
significação visual, praça com função de circulação e praça com função
recreativa. A praça com significação simbólica é um marco urbano que
se recorda com claridade. É, quase sempre, de desenho monumental e
se relaciona com algum acontecimento de importância nacional. A
praça com significação visual é aquela que não se recorda por si, senão
pelo monumento ou edificação, geralmente pública, que a define e ao
qual ela está subordinada. A praça com função recreativa é aquela que
se reconhece pelo desenvolvimento de atividades de entretenimento,
passeio ou encontro. Por fim, a praça com função de circulação é
aquela que, devido à sua localização, converte-se em um lugar de
passagem obrigatória de veículos e/ou pedestres.

Metodologia para diagnóstico,


levantamento e avaliação de praças
A presente metodologia baseia-se na pesquisa de campo, visto que
tal expediente é o que melhor se coaduna para fazer frente ao trabalho
de diagnóstico, levantamento e avaliação de praças. O instrumental
utilizado consiste de duas partes: (a) levantamentos de natureza quali-
quantitativo; e, (b) enquete de opinião. Considerando que a
metodologia está alicerçada em levantamentos, necessário se faz a
aplicação de formulários, em número de quatro, a saber: levantamento
quantitativo (formulário 1), avaliação qualitativa (formulário 2),
levantamento quantitativo da vegetação (formulário 3) e enquête de
opinião (formulário 4).
Através do formulário 1 propõe-se levantar a existência ou não de
equipamentos e estruturas – no presente caso enumerou-se vinte e
duas. A escolha das estruturas e equipamentos que compõem o

34
Praças: História, Usos e Funções

presente formulário levou em consideração o que mais comumente


encontra-se nas diversas praças.
Por meio do formulário 2 busca-se avaliar o estado de conservação
das estruturas e equipamentos ocorrentes nas praças, além de suas
características de ambiência. Cada um dos 30 itens presentes no formulário
2 serão avaliados por conceitos - péssimo, regular, bom e ótimo -, aos
quais correspondem notas que variam numa escala de 0,0 (zero) a 4,0
(quatro), conforme explicitado a seguir:
 0 —| 1,0  péssimo
 1,0 —| 2,0  regular
 2,0 —| 3,0  bom
 3,0 — 4,0  ótimo.
No intuito de se evitar que um mesmo equipamento ou estrutura
tivesse diferente avaliação em diferentes praças, estabeleceram-se
parâmetros fixos de avaliação. Dependendo do elemento em foco, será
considerado na avaliação: condições de conservação, disponibilidade
para uso, qualidade do material utilizado, manutenção, conforto,
funcionalidade, entre outros. Na seqüência elenca-se os parâmetros
utilizados na avaliação de cada um dos itens do formulário 2.
 Bancos: estado de conservação; material empregado em sua
confecção; conforto; locação ao longo dos caminhos - se recuados
ou não; distribuição espacial - se em áreas sombreadas ou não;
desenho; quantidade.
 Iluminação: alta ou baixa - em função da copa das árvores; tipo -
poste, super poste, baliza, holofote; localização; conservação;
atendimento ao objetivo precípuo.
 Lixeiras: tipo; quantidade; localização; funcionalidade; material
empregado; conservação.
 Sanitários: condições de uso; conservação; quantidade.
 Telefone público: localização - na praça, próximo ou distante de;
conservação.
 Bebedouros: tipo; quantidade; condições de uso; conservação.
 Piso: material empregado; funcionalidade e segurança; conservação.
 Traçado dos caminhos: funcionalidade; largura; manutenção;
desenho.

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Coleção Fundamentum • n. 14, 2005

 Palco/coreto: funcionalidade; conservação; desenho; uso -


freqüente, esporádico, sem uso; se compatível com o desenho da
praça.
 Monumento/estátua/busto: significância da obra de arte;
conservação; inserção no conjunto da praça.
 Espelho d’água/chafariz: em funcionamento; se inserido ou não
no contexto da praça; conservação.
 Estacionamento: conservação; sombreamento; segurança.
 Ponto de ônibus e de táxi: se na praça, próximo ou distante de;
presença ou não de abrigo; conservação.
 Quadra esportiva: quantidade; conservação; material empregado;
com iluminação; esportes passíveis de serem praticados; cercada.
 Equipamentos para prática de exercícios físicos: tipo e
quantidade; material empregado; conservação.
 Estrutura para terceira idade: estruturas existentes; conservação;
compatibilidade de uso com os usuários.
 Parque infantil: brinquedos que o compõe; material empregado e
cor; se em área reservada e protegida; conservação; compatibilidade
de uso com os usuários.
 Banca de revista: localização - periférica ou central, em evidência
ou não; material empregado em sua construção; desenho; estética -
se compatível com a praça.
 Quiosque para alimentação e/ou similar: tipo - treiler, carrinho,
construção em alvenaria,...; higiene; estética; localização.
 Segurança: em função da localização, freqüência de pessoas,
policiamento e conservação.
 Manutenção da estruturas físicas: estado geral dos equipamentos
e estruturas.
 Limpeza: varrição dos gramados e caminhos.
 Localização: se próximo ou distante de centros habitados;
facilidade de acesso.
 Vegetação: estado geral; manutenção.
 Paisagismo: escolha e locação das diferentes espécies; criatividade;
inserção do ‘verde’ no conjunto.
 Conforto acústico: presença de agentes causadores de barulho.
36
Praças: História, Usos e Funções

 Conforto térmico: relação entre área sombreada e não;


impermeabilização da área da praça e seu entorno.
 Conforto visual: harmonia entre elementos construídos e
vegetação; característica visual do entorno.
Após a avaliação conduzida em cada praça sobre os itens
presentes será efetuada a média aritmética simples, de onde se obterá
uma nota final e, conseqüentemente, um conceito, o qual permitirá
classificá-la como estando em ótimo, bom, regular, ruim ou péssimo
estado de conservação.

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Coleção Fundamentum • n. 14, 2005

Formulário 1 – LEVANTAMENTO QUANTITATIVO


Praça n. º : _______
Nome da praça:
Localização:
Bairro:
Forma geométrica:
 quadrangular  circular  retangular  triangular
 outra: ___________________________
Área: _________ m 2
Data da avaliação: _____/_____/_____
Levantamento efetuado por:
EQUIPA MENTOS/ESTRUTURA S SIM NÃ O
01. Bancos - quantidade: - material:
02. Iluminação: ( ) alta - ( ) baixa
03. Lixeiras - quantidade:
04. Sanitários - quantidade:
05. Telefone público - quantidade:
06. Bebedouros - quantidade:
07. C aminhos - material:
08. Palco/coreto
09. ( ) Monumento ( ) estátua ( ) busto
10. Espelho d’água/chafariz
11. Estacionamento
12. Ponto de ônibus
13. Ponto de táxi
14. Quadra esportiva - quantidade:
15. Para prática de exercícios físicos - equipamentos:
16. Para terceira idade - estruturas:
17. Parque infantil - equipamentos:
18. Banca de revista
19. Quiosque de alimentação ou similar
20. Identificação
21. Edificação institucional
22. Templo religioso
23. Outros

Fonte: De Angelis (2000).

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Praças: História, Usos e Funções

Formulário 2 – AVALIAÇÃO QUALITATIVA


ITENS AVALIADOS NOTA
01. Bancos
02. Iluminação alta
03. Iluminação baixa
04. Lixeiras
05. Sanitários
06. Telefone público
07. Bebedouros
08. Piso
09. Traçado dos caminhos
10. Palco/coreto
11. ( ) Monumento ( ) estátua ( ) busto
12. Espelho d’água/chafariz
13. Estacionamento
14. Ponto de ônibus
15. Ponto de táxi
16. Quadra esportiva
17. Equipamentos para exercícios físicos
18. Estrutura para terceira idade
19. Parque infantil
20. Banca de revista
21. Quiosque para alimentação e/ou similar
22. Vegetação
23. Paisagismo
24. Localização:
( ) zona residencial
( ) zona comercial
( ) zona industrial
( ) zona mista
25. Manutenção das estruturas físicas
26. Limpeza
27. Segurança
28. C onforto acústico
29. C onforto térmico
30. C onforto visual
Fonte: De Angelis (2000).

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Coleção Fundamentum • n. 14, 2005

O levantamento da vegetação (formulário 3) consistirá em se


determinar as espécies plantadas em cada uma das praças analisadas,
segundo quatro grupos distintos: arbóreas, palmáceas, arbustivas e
forração.

Formulário 3 – LEVANTAMENTO DA VEGETAÇÃO


GRUPO* NOME CIENTÍFICO NOME COMUM FAMÍLIA N.º**

*AR  Espécie arbórea - *AB  Espécie arbustiva - *PA  Palmácea - *FR  Forração
**  Quantidade

A pesquisa de opinião, enquanto alternativa metodológica, tem


sua justificativa no fato de ser instrumental que permite conhecer o que
pensa a população de um bairro, cidade ou um outro espaço geográfico
qualquer, com relação às praças. Na aplicação do questionário de
enquête de opinião deve-se, inicialmente, determinar quem serão os
respondentes, e que instrumentos de levantamentos podem, efetiva e
eficientemente, levar de encontro aos objetivos pretendidos. Na
seqüência o mesmo deve ser aplicado em pré-teste a um universo
restrito de pessoas para testá-lo e, posteriormente, proceder às
necessárias adequações quanto a sua forma. Nesse primeiro momento
não há necessidade que se faça uma amostragem significativa, visto que
o objetivo é apenas o de verificar a qualidade do questionário e seu
entendimento por parte dos respondentes. O pré-teste não procura
discernir qualquer aspecto dos objetivos da pesquisa; ele não serve para
trazer nenhum resultado sobre os objetivos visados; seu objetivo deve
ser, único e exclusivamente, o de avaliar o questionário enquanto
instrumento. Superada essa fase, e procedidas às correções, passa-se à
fase subseqüente, qual seja, a aplicação do questionário ao universo
pretendido, segundo parâmetros estatísticos pertinentes.

Formulário 4 – ENQUETE DE OPINIÃO


1. IDADE SEXO
2. LOCAL DE RESIDÊNCIA
3. NÍVEL DE INSTRUÇÃO
4. RENDA FAMILIAR

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Praças: História, Usos e Funções

5. OCUPAÇÃO
6. EM MÉDIA, QUANTAS HORAS VOCÊ TRABALHA POR SEMANA?
7. EM MÉDIA, QUANTO TEMPO VOCÊ DEDICA AO LAZER?
8. NOS SEUS DIAS DE FOLGA, NA MAIOR PARTE DAS VEZES, VOCÊ:
( ) FICA EM CASA ( ) SAI
9. QUANDO VOCÊ FICA EM CASA NOS DIAS DE FOLGA, O QUE MAIS FAZ
(ATÉ 3 OPÇÕES)?
10. QUAIS LUGARES (ATÉ 3) VOCÊ COSTUMA FREQÜENTAR NOS SEUS DIAS
DE FOLGA?
11. VOCÊ FREQÜENTA ALGUMA PRAÇA?
( ) SIM - QUAL (OU QUAIS)?
( ) NÃO - POR QUÊ?
SE A RESPOSTA À PERGUNTA ACIMA FOR NEGATIVA, PASSE DIRETAMENTE
PARA A DE N.º 18.
12. QUAL, OU QUAIS DIAS DA SEMANA VOCÊ VAI À PRAÇA?
( ) DURANTE A SEMANA ( ) SÁBADO ( ) DOMINGO ( ) FERIADOS
13. EM QUE PERÍODO VOCÊ VAI COM MAIS FREQÜÊNCIA À PRAÇA?
( ) MANHÃ ( ) TARDE ( ) NOITE
14. EM MÉDIA, QUAL É O SEU TEMPO DE PERMANÊNCIA NA PRAÇA?
15. QUAL, OU QUAIS, OS MOTIVOS QUE O LEVAM A UMA PRAÇA?
16. O QUE MAIS GOSTA E O QUE MENOS GOSTA NA(S) PRAÇA(S) QUE
FREQÜENTA?
17. O QUE VOCÊ ACHA NECESSÁRIO MELHORAR NAS PRAÇAS QUE
FREQÜENTA?
18. QUAL É SUA OPINIÃO SOBRE AS PRAÇAS DA CIDADE?
_________________________________________________________________
Fonte: De Angelis (2000).
Praça, piazza, plaza, place, platz, square,... Espaço público, “cenário
da vida urbana”, “palco coletivo”,... Urbanistas, arquitetos, geógrafos,
sociólogos,..., definiram-na, conceituaram-na, caracterizaram-na.
Deram-lhe funções e atributos os mais diversos. Ocupada por reis,
desocupados, prostitutas e pelo cidadão comum, já teve dias de
grandeza, e hoje vai encolhendo, encolhendo, encolhendo, encolhendo,
encolhendo, encolhendo, encolhendo, ,...
encolhendo

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Coleção Fundamentum • n. 14, 2005

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Praças: História, Usos e Funções

Sobre os autores
Bruno Luiz Domingos De Angelis é professor Doutor do Departamento
de Agronomia e dos Programas de Pós-Graduação em Agronomia
(PGA/UEM) e Pós-Graduação em Geografia (PGE/UEM).

Generoso De Angelis Neto é professor Doutor do Departamento de


Engenharia Civil e do Programa de Pós-Graduação em Geografia
(PGE/UEM).

Gabriela De Angelis Barros é acadêmica do Curso de Pedagogia/UEM

Rafaela De Angelis Barros é acadêmica do Curso de Turismo e


Hotelaria/CESUMAR.

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