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Título: Teoria e prática da reintegração social: o relato de um trabalho crítico no âmbito

da execução penal1

“Somente quando pega a sociedade e joga na exclusão que saberá


a dor de ser excluído, o sentimento que gera exclusão. Me senti
sociedade e vi vocês na exclusão”2

Ana Gabriela Mendes Braga 3


Maria Emília Accioli Nobre Bretan4

Resumo: O presente artigo retrata os fundamentos e a prática de um trabalho “crítico” no


âmbito da execução penal, a partir da proposta de reintegração social e das atividades
desenvolvidas pelo Grupo de Diálogo Universidade-Cárcere-Comunidade (GDUCC)
junto aos presos de uma Penitenciária paulista. O objetivo do grupo é possibilitar
experiências de encontro entre a universidade, o cárcere e a comunidade, buscando
restaurar o diálogo entre esses segmentos da sociedade, a partir dos pressupostos teóricos
da criminologia crítica aplicados à execução penal, tais como: simetria nas relações,
aceitação da ética do outro e busca da transdiciplinariedade. Os relatos colhidos durante
os encontros realizados no 2º semestre de 2006 dialogam com esses pressupostos,
reafirmando-os ou colocando-os em xeque, e demonstrando os êxitos e dificuldades do
projeto.

Palavras-chave: prisão; reintegração social; criminologia crítica; clínica da


vulnerabilidade.

1
Artigo publicado no livro Criminologia e os Problemas da Atualidade. São Paulo: Atlas, 2008, pp.
255-275.
2
Fala de um preso em uma das reuniões do GDUCC ocorridas no segundo semestre de 2006.
3
Advogada, graduada e mestranda em Direito Penal pela Faculdade de Direito da USP.
4
Advogada, graduada e mestranda em Direito Penal pela Faculdade de Direito da USP.

1
Introdução
O presente artigo relata a experiência do Grupo de Diálogo
Universidade-Cárcere-Comunidade (GDUCC), criado no 2º semestre de 2006, no âmbito
da Faculdade de Direito da USP (FDUSP), dentro do Departamento de Direito Penal,
Medicina Forense e Criminologia (DPM), sob a coordenação do Prof. Dr. Alvino
Augusto de Sá e com a coordenação adjunta das autoras do artigo.
Serão apresentados o histórico, características e objetivos do Grupo; seguidos dos
pressupostos teóricos que alicerçam as suas atividades, as metodologias de intervenção,
de registro e a avaliação dos encontros.
A presente exposição será ilustrada pelo relato de algumas vivências na
Penitenciária, problematizando a aplicação dos pressupostos teóricos e dos objetivos do
Grupo no cotidiano prisional, as limitações, impotências e pequenas conquistas. É difícil
pensar em resultados, quando o objetivo maior está no processo em si, na abertura do
canal de comunicação. As conseqüências e repercussões dessa tentativa serão trazidas no
final do artigo, a partir das avaliações feita pelos próprios participantes do projeto.

1. Histórico, caracterização e objetivos do GDUCC


O GDUCC surgiu como um projeto paralelo ao Grupo de Estudos de Temas de
Criminologia (GETCrim)5 com o objetivo de implementar experiências de diálogo entre
a universidade e o cárcere.
A participação no Grupo foi aberta a todos os interessados, sendo que no primeiro
semestre de sua atuação (2º semestre de 2006), o Grupo se compôs de estudantes da
graduação em Direito (do 2º ao 5º ano), psicólogos, um advogado da pastoral carcerária e
duas alunas da pós-graduação da FDUSP - autoras do presente artigo, que funcionaram
também como coordenadoras adjuntas das atividades. Contamos ainda com a vasta
experiência do Prof. Dr. Alvino Augusto de Sá na coordenadoria geral dos trabalhos6.

5
GETCrim é a sigla para o Grupo de Estudos sobre Temas de Criminologia, que iniciou suas atividades no
1º semestre de 2006, vinculado ao DPM da FDUSP, com a coordenação dos Professores Dr. Alvino
Augusto de Sá e Livre Docente Sério Salomão Shecaira e coordenação adjunta das pós-graduandas Ana
Gabriela Mendes Braga e Maria Emilia Accioli Nobre Bretan. É aberto a todos os interessados. Para mais
informações: http://getcrim.blogspot.com ou getcrim@gmail.com.
6
Os participantes do GDUCC durante o 2º semestre de 2006, a quem agradecemos a contribuição para este
artigo, por meio dos registros e transcrições de cada encontro, são: Ana Gabriela Mendes Braga, Andréia
Zuchi Teles, Bárbara Rodrigues de Freitas; Danilo Cymrot; Elisa Pires da Cruz; Emanuelle Machado Prette,
José de Jesus Filho; Juliana Baggio Secches, Juliana Nunes de Freitas, Juliene Cardoso Prado; Lívia
Gimenes Dias da Fonseca , Luísa Luz de Souza; Maria Emilia Accioli Nobre Bretan, Mônica Soligueto e
Ruy Cruz. Agradecemos ainda a Diretoria de Serviço Social do Departamento de Reintegração Social da
Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) com a qual foi firmado uma parceria informal,que

2
O nome GDUCC foi sugerido pelos participantes da FDUSP 7 . Representa a
intenção de se constituir como um espaço de diálogo não só entre universitários e
encarcerados, mas também com os egressos, as famílias e comunidades e, por fim, com a
comunidade em sentido amplo, da qual, afinal, fazem parte todos esses segmentos sociais,
já que o diálogo entre esses sujeitos foi rompido antes mesmo da cisão imposta pelos
muros da prisão.
A grande mudança trazida pela Criminologia Crítica foi analisar a realidade
criminal não mais a partir do indivíduo, mas a partir do processo de criminalização. Como
conseqüência, um trabalho de execução penal que se pretenda crítico deve também
deslocar seu foco de atuação da pessoa do apenado (visão individual) para as relações
dele com outros atores sociais e, principalmente, com as das instâncias de controle (visão
sistêmica) (Sá, 2007).
Apesar de sabermos da necessidade e importância de fazer a ponte com a
“comunidade”, ou mesmo de fazer um trabalho específico com funcionários do sistema
prisional, nesse primeiro momento, reconhecendo nossas limitações, optamos por realizar
um trabalho direto somente com os presos. Outros segmentos da comunidade foram
atingidos mediatamente, com a repercussão da fala dos próprios participantes quanto ao
trabalho desenvolvido- conforme o relato de um deles:

“Hoje teve uma movimentação porque houve uma divulgação do trabalho. Eu já


compartilhei com a esposa, com meu companheiro de cela. Mexe, desperta
interesse, vocês estão se aproximando de nós. As pessoas podem colocar a
opinião do que acha”.8

2. Pressupostos teóricos e objetivos do Grupo

O GDUCC busca desenvolver um trabalho na Execução Penal seguindo os

permitiu a realização dos nossos trabalhos, especialmente nas figuras do Dr. Mauro Bitencourt e Fátima
França.
7
Entendemos que o GDUCC, enquanto Grupo de Diálogo, é composto por dois 'subgrupos': um que se
originou da FDUSP, formado por estudantes e profissionais interessados na temática do cárcere; e outro
formado pelos próprios presos. O trabalho do GDUCC pressupõe o encontro entre esses diversos segmentos.
Nesse sentido, optamos por apresentar os sujeitos como 'presos' ou participantes/membros da FDUSP, de
modo a diferenciá-los, mas sempre considerando que todos fazem parte do GDUCC.
8
Sobre a forma de apresentação das falas ao longo do artigo, que foram retiradas dos registros realizados
pelos membros do GDUCC ao longo dos encontros, esclarecemos que, quando se tratar da transcrição de
um diálogo, haverá menção genérica sobre quem fala (aluno 1, preso 1, etc); quando se tratarem de falas
isoladas, não haverá tal distinção (aluno1, aluno2, por ex), e a transcrição será precedida da informação
sobre quem fala (ex: 'conforme fala dos presos').

3
pressupostos da criminologia crítica elaborados pelo italiano Alessandro Baratta e pelo
argentino Eugenio Raul Zaffaroni, visando contribuir para a integração entre segmentos
da sociedade e para o fortalecimento psíquico do encarcerado.
Antonio Beristain, do Instituto Vasco de Criminologia, também inspirou nosso
trabalho com a sua proposta mística de re-encantamento da criminologia (Beristain,
1993), que passa pelo re-encontro dos seres humanos, a partir de um movimento de
abertura que possa proporcionar uma aproximação entre os sujeitos desse diálogo.
A solução proposta por esses teóricos é a diminuição tanto qualitativa quanto
quantitativa do encarceramento, abrindo os muros da prisão para a sociedade e
fortalecendo os que lá estão, minimizando, dessa forma, os efeitos da prisionização.

2.1 Transcendência e re-encantamento: a aceitação do outro na proposta de


Beristain
O caminho místico traçado pelo jesuíta e criminólogo espanhol Antonio Beristain
pressupõe o abandono de concepções individuais que rompem com o outro, excluem
determinados transgressores, vigiam os suspeitos e temem o diferente.
Somente a partir de uma visão integral do ser humano, com a aceitação plena do
outro e da sua verdade, chegaremos ao re-encantamento da Criminologia, em
contraposição ao desencantamento que atinge a sociedade contemporânea -caracterizada
pela desmoralização, apatia, distanciamento, perda das ilusões e do sentido da vida - os
quais seriam, enquanto fatores desintegralizantes, fontes da criminalidade (Beristain,
1993).
Esse re-encantamento só seria possível a partir do desenvolvimento da capacidade
de se reconhecer no outro, de compreendê-lo em sua dignidade e apesar das diferenças;
com a superação das tradicionais categorias bipolares (bom-mau, cidadão de
bem-delinqüente, certo-errado) e aceitação das sombras, do que existe de ruim dentro de
si, superando essa cisão:

"Preso 1: será que podemos lidar com uma experiência nova?

Aluno 1: essa experiência já é nova e possível.

Preso 2: sim, porque a sociedade nos vê de outra forma, então


essa possibilidade é nova.

Preso 3: mas são poucas as pessoas que se interessam por nós,


por saber quem somos.

4
Aluno 2: depende de onde você procura.

Preso 4: São pessoas como essas que vêm aqui que podem nos
colocar de outra forma lá fora. É só você não fechar o olho para
esse ponto de vista".

O GDUCC parte do princípio de uma aceitação mútua entre os seus


participantes,seja os que estão dentro ou fora do cárcere. Buscamos, enquanto desafio
pessoal, ouvir e olhar o outro sempre com os sentidos abertos, reconhecendo nele um ser
humano que tem uma história de vida, valores e princípios próprios, que tanto deve ser
responsabilizado quanto respeitado nas suas escolhas.

“Se o objetivo9 é esse, a gente está chegando lá. Mas a gente


está chegando no sapatinho, bem devagarzinho”.

2.2 Reintegração Social: a perspectiva de Alessandro Baratta


Em substituição às tradicionais metas de reeducação e ressocialização, o
criminólogo italiano Alessandro Baratta propõe a reintegração social. A reintegração
constitui uma “via de mão dupla” (Sá, 2007), a abertura de um processo de comunicação
a partir do qual os presos se reconheçam na sociedade e esta se reconheça na prisão, sendo
que ambos têm responsabilidade por essa reaproximação (Baratta, 1990). Difere das
chamadas ideologias “res”, pelas quais o indivíduo é objeto de intervenção penal,
cabendo a ele readequar-se valorativamente como condição de seu aceite pela sociedade.
Se não temos condições, no momento, de prescindir das prisões, também não
podemos reforçar a falácia representada pelas ideologias de reeducação e ressocialização.
Uma nova perspectiva de trabalho deve ser pensada desvinculada da lógica de prêmio e
castigo, não a partir do cárcere, mas apesar dele (Baratta, 1990).
Compõem ainda a estratégia de reintegração social proposta por Baratta: a
presunção de normalidade do preso, a construção de relações simétricas sob uma
perspectiva de igualdade, a participação ativa do sentenciado na escolha e decisão sobre
as atividades que irá desempenhar, a preocupação com os funcionários da prisão, e, ainda,
a presença de trabalhos voluntários na dinâmica prisional.
A seguir, trataremos desses pressupostos, explicando de que forma buscamos

9
O objetivo a que o participante se refere é “ver os outros além dos papéis tradicionais – agente,
universitário, preso”, idéia que surgiu após a fala de uma agente do sistema penitenciário (ASP) que
participava das reuniões.

5
concretizá-los na dinâmica do GDUCC, assim como as dificuldades da sua realização.

2.2.1. Presunção de normalidade do preso


Essa é a premissa básica de qualquer trabalho de reintegração social: a única coisa
que difere o preso das pessoas não presas é a própria prisão. Obviamente, como veremos
adiante, a criminalização de determinada pessoa deflagra uma vulnerabilidade
psico-social perante o sistema punitivo, e a própria vivência prisional agrava esse quadro
de vulnerabilidade (processo de prisionizacão), contribuindo para a criminalização
secundária daquele indivíduo e para o seu conseqüente retorno ao sistema (reincidência).
Como reflexo dessa concepção, não buscamos, no indivíduo, a “causa da
delinqüência” ou traços de distinção entre sujeitos presos e não presos. Pelo contrário,
buscamos nos reconhecer neles, identificando conflitos e questionamentos comuns,
lembrando-nos da humanidade que compartilhamos.
Um das atividades propostas logo nos primeiros encontros foi muito importante
para esse reconhecimento: a chamada “dinâmica da teia” ou “ teia da vida”. A dinâmica
consiste em, com o uso de um rolo de barbante, criar uma teia ligando todos os
participantes. Assim, em roda, a cada participante foi proposto relatar um acontecimento
bom e ruim da sua história. Após contar os acontecimentos, o participante prendia um
pedacinho do barbante entre os dedos e jogava o rolo para outro participante. Dessa
forma, ao final, formou-se uma “teia” simbolizando a ligação de todos que a compunham.
Mais forte que esse símbolo, contudo, foi o conteúdo das falas dos participantes, o contato
com o sentimento do outro, o compartilhar da vida, das alegrias e das dores que a
conformam.

2.2.2. Construção de relações simétricas


Dentro de um trabalho de reintegração social que se pretenda distante de uma
proposta de readequação ética ou qualquer discurso moralizante, a construção de relações
simétricas aparece como um grande desafio. Despir-se da intenção de querer convencer o
outro da sua própria verdade já é uma tarefa difícil no dia-a-dia; tarefa que, na
penitenciária, se mostra ainda mais difícil, principalmente pelo fato de o Direito Penal ser
carregado de fortes concepções ético- religiosas, pautado por conceitos de bem e mal,
onde o crime está atrelado à culpa e a pena à expiação.
Outra preocupação foi a valorização das concepções elaboradas pelos próprios
presos, em contraposição à super-valorização do discurso acadêmico que, como qualquer

6
saber, sustenta e é sustentado pelo poder e, por ser revestido de cientificidade, tende a
deslegitimar os demais saberes10.
O formato das reuniões foi uma das maneiras encontradas para nos aproximarmos
da simetria. Sempre nos organizávamos em roda, intercalando membros da FDUSP e da
penitenciária, e todos os presentes participavam igualmente das dinâmicas.
Porém, apesar dos nossos esforços, constatamos que grande parte dos presos se
referia aos nossos encontros como "palestras" ou "aulas", e identificava nosso trabalho
como pertencente à “educação” 11. Aliás, dentro da Penitenciária em questão, assim como
em tantas outras, trabalhos coletivos são raros ou inexistem: as atividades mantêm sempre
um caráter de aula.

10
A relação entre saber-poder e suas implicações foram desenvolvidos pelo filósofo francês Michel
Foucault em diversas obras, notadamente Microfísica do Poder e, voltada à questão da aplicação da pena ,
Vigiar e Punir.
11
Cabe ressaltar que as atividades eram desenvolvidas em duas salas de aulas localizadas no Setor de
Educação da unidade.

7
2.2.3. Participação ativa do sentenciado
Outro pressuposto da reintegração social é que, enquanto maior interessado e
sujeito da execução penal, o preso deve se manifestar e ser propositivo no tocante às
atividades a serem realizadas durante o cumprimento da pena.
Com isso em mente, nesse primeiro semestre de atividades do GDUCC,
propusemos aos presos que se responsabilizassem pela elaboração, preparo e
coordenação de um dos encontros.
O resultado foi excelente, por diversas razões: pelo comprometimento e cuidado
demonstrado pelos presos com o trabalho; por reafirmar a confiança entre os grupos
(presos e FDUSP) , e ainda, pelo próprio conteúdo da atividade- que será relatada mais
adiante.
Entendemos que essa inversão de responsabilidades possibilitou, nesse encontro,
a desejada simetria e participação ativa do preso. O fato merece destaque e reflexão
inclusive no planejamento das atividades futuras do Grupo, sendo desejável ampliar cada
vez mais essa forma de participação, chegando, quem sabe, em breve, à distribuição
equitativa da organização dos encontros- uma semana o grupo da FDUSP planejaria e na
outra o grupo dos presos.

2.2.4. Preocupação com os funcionários da prisão


A preocupação com os funcionários da prisão se desdobra em duas atuações: uma
delas é aproximar e envolver o pessoal do presídio no trabalho que é realizado com os
presos, não só por uma demonstração de respeito com a “casa”, mas também com vistas a
harmonizar as atividades lá realizadas.
Outra atuação possível seria realizar um trabalho diretamente voltado para
os funcionários, uma vez que o processo de prisionização atinge não só os indivíduos
presos, mas todos os envolvidos no cotidiano prisional 12. A situação dos funcionários do
sistema prisional é bastante delicada, principalmente no caso dos Agentes Penitenciários
de Segurança (ASPs); apesar de não terem sido condenados pela Justiça, passam grande
parte do seu dia atrás das grades, recebendo baixos salários e sofrendo inúmeras pressões.
Os ASPs têm a difícil função de conciliar o discurso humanitário do Estado e da direção

12
Sobre essa temática fazemos menção ao ótimo trabalho de MORAES, Pedro Rodolfo Bodê de. Punição,
encarceramento e construção de identidade profissional entre agentes penitenciários. São Paulo:
IBCCRIM, 2005. 285p. (Monografias, 33)., bem como ao trabalho de CHIES, Luiz Antônio Bogo et allii,
Prisionalização e sofrimento dos agentes penitenciários : fragmentos de uma pesquisa, Revista Brasileira
de Ciências Criminais, Vol 13, nº52, jan./fev, p. 309-335 São Paulo: RT,2005.

8
do presídio, de respeito e bom tratamento aos “reeducandos”, com o seu trabalho diário,
no front, no qual se encontram expostos a todos os momentos à violência real, e a
segurança aparece como objetivo principal. Ademais, muitos deles não têm espaço para
relatar suas angústias e conflitos e extravasar a tensão do cotidiano prisional; muitas
vezes, sentem-se preteridos ao presenciar trabalhos e movimentos voltados para o preso, e
muito pouco centrado neles.
Com essas diretrizes em mente, algumas medidas de ordem prática foram tomadas
buscando o envolvimento dos funcionários: antes de iniciar os trabalhos, foi realizada
uma reunião com a Diretoria, ASPs e demais técnicos da Penitenciária para informá-los
sobre as nossas intenções e convidá-los a integrar o grupo. Ao final, todavia, somente
uma ASP (uma mulher) participou com certa regularidade das reuniões, parecendo estar
realmente envolvida com o projeto.
Um trabalho específico com funcionários ainda não foi realizado, apesar do
reconhecimento de sua extrema importância e de uma intenção futura do GDUCC de
concretizá-lo.

2.2.5. Realização de trabalhos voluntários na dinâmica prisional


Entre as diversas propostas práticas de Alessandro Baratta para a reintegração
social destaca-se a importância da presença de membros da comunidade na dinâmica
prisional, principalmente por meio de realização do voluntariado, o qual teria uma tripla
função: freiar os possíveis abusos a partir da visibilidade, propiciar o envolvimento social
e humano dos presos com os voluntários e, ainda, estabelecer uma “relação
desinteressada” que não se caracterizaria enquanto uma relação de poder (Baratta,1990).
A abertura do cárcere para a sociedade é uma das vias da reintegração social. O
trabalho voluntário dentro da prisão possibilita a interação permanente entre o
microcosmo prisional e o macrocosmo social, aproximando essas duas esferas, de modo
que as pessoas do cárcere possam refletir e questionar sobre as questões sociais mais
amplas13 e a sociedade livre possa vivenciar um pouco da realidade prisional.
Ademais, a presença de pessoas estranhas à prisão e o relato delas acerca dessa
experiência a outras de seu convívio (na família, escola, trabalho, igreja) contribui para a

13
Aqui cabe relatar que durante as atividades do GDUCC do primeiro semestre de 2007, a greve da
Universidade de São Paulo e a ocupação da Reitoria da Universidade pelos seus alunos despertaram grande
interesse dos presos. Eles nos questionaram sobre a motivação da greve e sobre nosso posicionamento
acerca das atitudes dos ocupantes. Ademais, ressaltaram a diferença de atuação da Tropa de Choque da
Polícia Militar no confronto com os estudantes com a usual atitude da PM em relação a eles (presos).

9
desmistificação da prisão e dos indivíduos que nelas vivem, e encoraja as pessoas a se
aproximarem de seus muros. Como fica claro na fala de alguns presos:

“Bom que vocês vão mostrar para o povo lá de fora que nós (presos) não somos o
que pensam da gente”

“ Gostei do projeto...Vocês vão levar esse debate pra sociedade


preconceituosa?”

“ A sociedade cobra muito. Exige os direitos dela e esquece de abrir a porta”

2.3 Criminologia Clínica por Zaffaroni: a clínica da vulnerabilidade


Visando integrar os pressupostos críticos com uma atuação clínica, Eugênio Raul
Zaffaroni propôs a idéia de “clínica da vulnerabilidade” enquanto “um saber que permita
ajudar as pessoas criminalizadas a reduzir seus níveis de vulnerabilidade” (Zaffaroni,
1998:26) ou “uma técnica tendente a ensinar ao homem a não oferecer a face à bofetada
do sistema penal” (Zaffaroni, 1990:64).
O criminólogo argentino propõe a substituição de uma etiologia da conduta
criminal por uma “etiologia da vulnerabilidade”; ou seja, ao invés da criminologia se
debruçar sobre a biografia do indivíduo, tentando explicar a formação de sua identidade
delinqüente, ela compreenderia a história de fragilização daquela pessoa perante o
sistema punitivo com o objetivo de revertê-la, tentando evitar assim a criminalização
secundária e quebrar a “profecia-que-se-auto-realiza”.
O caminho para fortalecimento do indivíduo dar-se-ia por meio de um diálogo
aberto e autêntico, de forma a tornar as escolhas cada vez mais conscientes:

“A clinica da vulnerabilidade não é uma colocação ao nível de superioridade


ética, de superioridade moral frente ao criminosos contra a propriedade.
Simplesmente dizer: desse jeito não. Se você escolhe o trabalho de freguês da
cadeia é uma escolha; mas mostrar, tornar consciente essa escolha, é uma
comunicação existencial de perceber que, no fundo dessa escolha, acha-se um
erro, que conduz à deterioração e à destruição da pessoa e, na nossa realidade, à
morte” (Zaffaroni, 1990:59)

Nesse sentido, uma das tarefas mais difíceis do trabalho foi não coadunar com a
postura de vítima em que tantas vezes os presos se colocam, apesar de concordarmos com

10
as suas críticas quanto à seletividade do sistema penal, acolhendo sua indignação e
sentimento de injustiça perante sua condenação e as penas que receberam (enquanto
tantos outros que cometeram crimes seguem impunes), e compreendendo sua história de
vida e sua fragilidade psico-social.
Apoiar esse discurso vitimizador significaria entender, também, que não são
sujeitos de sua própria história, e que não existe nenhuma outra saída possível a não ser
"sentar e chorar".
Embora legítimo, o sentimento de injustiça pode ser usado como uma forma de
justificar a inércia e acomodação; desse modo, no decorrer dos trabalhos tivemos a
preocupação, ainda que reconhecendo o funcionamento do sistema, de promover
atividades que trouxessem o tema da responsabilidade pelas escolhas, no sentido de
“empoderar” os participantes, e não descreditar-lhes mais uma vez a autonomia das suas
próprias vidas.
Com esse objetivo, em um dos encontros, realizamos o que denominamos
“dinâmica da injustiça”. Nesta dinâmica, cada participante deveria contar uma injustiça
que cometeu e uma injustiça que sofreu, descrevendo como se sentiu nessas ocasiões e o
que fez perante elas.
Esse trabalho nos ajudou a perceber que, ainda que em diferentes graus, todos nós
sofremos e cometemos algum tipo de injustiça; a possibilidade de simbolizar esse
acontecimento auxilia na elaboração do ocorrido e a lidar com os sentimentos gerados a
partir dele.

3. O papel da criminologia e da universidade


A criminologia é um saber empírico que tem por objeto o estudo do crime e do
controle social, assim como dos sujeitos afetados pelo sistema de controle ou que nele
atuam (vítima, polícia, funcionários da justiça e sentenciados). Porém, não podemos
perder de vista que a criminologia é legitimadora do instrumento punitivo, à medida que
constitui um saber produtor de verdades e que respalda e é respaldada pelo poder; a partir
dessa consciência podemos pensar quais usos lhe queremos atribuir.
Como saber empírico, a Criminologia deve buscar na reintegração social um
objeto de estudo, pesquisa e intervenção, de modo a influenciar a promoção de políticas
criminais integradoras do preso com a comunidade de qual ele faz parte e da sociedade
em que sua comunidade se insere.
Por seu turno, como lócus privilegiado do ensino, pesquisa e desenvolvimento de

11
um olhar crítico, a Universidade tem um importante papel de transformação social, não se
restringindo à reprodução do conhecimento e à formação de profissionais, mas
expandindo-se enquanto um espaço de reflexão sobre a criação da realidade carcerária,
uma vez que nela também se constrói o saber que legitima o funcionamento do sistema
punitivo.
Ao levar para dentro do cárcere, entre outros sujeitos, estudantes de direito -
portanto, futuros juízes, promotores e advogados -, o GDUCC atinge um objetivo tanto de
formação quanto de transformação, como fica claro na fala de um dos presos:

"Vocês têm coisa mais importante para fazer, principalmente os


estudantes de direito deveriam conhecer [a penitenciária], tem
advogado que só conhece do parlatório pra lá. (...) Nós somos
presos e depois ninguém vê a gente. É tudo no papel".

A Universidade deve, neste sentido, pensar alternativas para o enfrentamento dos


graves problemas gerados por uma política criminal vulnerabilizante, estigmatizante,
encarceradora e punitiva; propondo uma nova política integrativa, que se preocupe com o
indivíduo e se emancipe das categorias tradicionais criadas pela própria Criminologia e
pelo Direito Penal.
E uma das formas de atuação é justamente ampliar os canais de interação
presídio-comunidade por meio de programa de debates presos- universidade (Sá, 2007).
De acordo com Sá (2007:181), "a grande meta, o grande compromisso da
Academia em relação à questão penitenciária, seria exercer uma liderança frente à
sociedade no sentido de buscar reatar as relações com aquela população de excluídos,
procurando inclusive reparar os danos por eles sofridos e assim restaurar os valores, as
capacidades, enfim, a cidadania que neles ainda existem".
Porém, além da mudança na postura acadêmica, cabe aos alunos e professores um
desafio pessoal, uma atenção ao estabelecer as relações com os presos, de forma que elas
sejam as mais simétricas possíveis, restaurando a confiança e a relação de um com outro.
Nesse passo, é importante relatar que os objetivos do trabalho foram questionados
mais de uma vez pelos presos participantes:

"(...) perguntou quem estava fazendo o projeto de mestrado ou


doutorado daquela pesquisa, assumindo que o grupo estaria lá
porque haveria um mestrado sobre aquilo, se iria para a
imprensa, para o jornal. (...) disse que ‘acha que deve ter algo

12
escrito publicado para que não se perca a experiência, que sirva
para outras pessoas que estão lá fora”

"A sociedade não enxerga quando quer. É injusta, corrupta. A


gente tá vendo que têm diversos lados e sentenciados já
quebraram uma barreira que é o preconceito os seus filhos
podem vir aqui. Vocês tão quebrando vindo, nós queremos saber
qual é o objetivo de vocês. Tem um preço, vocês deixaram algo
lá fora para virem aqui".

Como resposta, informamos aos participantes que não se tratava de pesquisa, mas
sim de uma intervenção, não havendo projetos de mestrado ou doutorado vinculados
formalmente ao GDUCC, mas somente a participação de pessoas interessadas no estudo
das Ciências Penais e, particularmente, na questão da prisão.
Os questionamentos revelam uma desconfiança legítima por parte de pessoas que
se sentem abandonadas pelo Poder Estatal (quando não esmagadas por ele), dependendo
da ajuda de familiares e de muita sorte para sobreviver dentro da cadeia e para superar os
estigmas e as dificuldades quando de sua saída:

“A gente viu que a gente não está tão desprezado como a gente via
antes”

“A galeria da escola estava agitada. Porque vocês são visitas para


nós, é raro visita dentro de uma unidade penitenciária, é raro a
sociedade se preocupar com os nossos, em querer saber o que a
gente pensa, como a gente vive. Isso [a presença do GDUCC] causa
um impacto. Tinha quase todos os representantes do raio aqui”

4. Interdisciplinaridade e Transdisciplinaridade

A Criminologia é um saber multidisciplinar por natureza. Estudos criminológicos


podem ser realizados em diversas áreas do conhecimento e em múltiplos espaços
acadêmicos da Universidade (Educação, Sociologia, Serviço Social etc).

Mas a multidisciplinaridade é limitada, porque nela não há de fato integração de


saberes, mas simples soma de informações, troca entre sujeitos que não abrem portas para
uma comunicação uns com os outros.

Estamos, portanto, no nosso entender, um passo além: a interdisciplinaridade.


Segundo Sá (2007:177), "(...) a interdisciplinaridade não é uma soma de conhecimentos,

13
que se completam, de forma a possibilitar um conhecimento mais amplo do fenômeno.
Seria antes uma interdependência de conhecimentos, de tal sorte que cada um deles,
isoladamente, não pode se sustentar como via de acesso a esse fenômeno. Uma
interdependência que é dinâmica e se abre sempre a novas descobertas. Ela supõe uma
atitude, um sentimento, uma intenção por parte das pessoas envolvidas nesses
conhecimentos".

A própria composição de seus membros e a igualdade com que se colocam dentro


do Grupo, sem hierarquização de conhecimentos, sem a intenção de 'ensinar' algo aos
demais, mas sim de integrar conhecimentos, leva a uma interdisciplinaridade. Para a
compreensão e reflexão das vivências experienciadas em um Grupo de Diálogo, é preciso
uma ampliação dos conhecimentos de todos a partir de todos, de modo que todo o Grupo
vá crescendo junto, aprendendo novas experiências, interpretando-as com base naqueles
saberes que cada um tinha anteriormente mas que, a partir dessa integração, se constitui
em um novo saber, diferenciado e compartilhado por todos dentro do Grupo.

É no sentido da transdisciplinaridade, como meta a ser atingida, que o GDUCC


trabalha. Transdisciplinaridade que "supõe uma revisão de nossa própria história, nossos
valores e de nossa ética, não no sentido de negá-los, mas de reconhecer-lhes os limites, os
questionamentos, a relatividade, no sentido de repensá-los par a par com o contraditório
oferecido por outros valores e outras formas de pensar a ética, no sentido de repensá-los à
luz de outras histórias, de outras subjetividades" Sá (2007:186).

A transdisciplinaridade vai além de nossos conhecimentos acadêmicos, portanto,


partindo-se para uma compreensão da ética do outro, o que inclui todos os participantes
do GDUCC, estudantes, professores, profissionais e presos (que, por sua vez, antes de
serem presos, já foram também estudantes, profissionais e, porventura, professores).
Desse modo, o conhecimento do Grupo cresce não só dentro dos muros da
Universidade ou só dentro dos muros da Penitenciária, mas ele transcende esses dois
muros, rompe essa barreira, de modo que se cria um conhecimento capaz de ser
compreendido dentro ou fora de qualquer um desses muros, e capaz de ser difundido a um
amplo número de pessoas, possibilitando uma expansão das experiências positivas ali
vividas.
Com uma composição heterogênea e papéis intercambiáveis, o GDUCC buscou
se afastar de uma lógica de atuação especifica e compartimentada, pautada por relações
hierárquicas ou discursos moralizantes.

14
No planejamento da dinâmica buscamos acolher tanto questões trazidas pelos
membros da FDUSP quanto trazidas pelos presos, buscando, nos encontros, manter a
humildade, a mente e o coração aberto. Lembrando que a abertura para os novos
conhecimentos e perspectivas diferentes deve advir de em esforço conjunto das partes
envolvidas:

“Confesso que no começo tinha preconceito. E essas meninas? Vai vir essas
menina da faculdade tudo fresca. Assim como vocês viram que os presos são
pessoas normais.”

5. Metodologia dos encontros, dos registros e avaliação das atividades


Inicialmente foram realizadas algumas reuniões preparatórias nas dependências
da FDUSP, imprescindíveis para construir os objetivos do GDUCC, consolidar a base
teórica a partir de leituras e discussões, e realizar o planejamento do trabalho a ser
realizado.
Paralelamente a essas reuniões, foram realizadas aproximações com a Direção da
Penitenciária e com o Departamento de Reintegração Social, de modo a permitir a entrada
do Grupo na unidade prisional.
Um encontro preparatório na Penitenciária foi realizado, com a presença de alguns
membros da equipe de psicólogos e de alguns agentes de segurança penitenciária (ASP),
bem como da Direção da casa e de alguns presos. O objetivo era informar o que ocorreria
durante os próximos meses, buscando garantir não só a adesão ao trabalho e o seu
andamento tranqüilo, mas também, estimular a participação de alguns funcionários nas
atividades. Essa participação não ocorreu conforme o imaginado. Segundo informações
de um dos técnicos, colocar um ASP em pé de igualdade com um preso significaria
rebaixá-lo (o ASP), o que é inadmissível dentro da cultura prisional
Somente uma ASP esteve presente aos encontros, exercendo um importante papel
na intermediação entre o Grupo, a Direção e lideranças do presídio, se destacando,
inclusive pela disponibilidade pessoal de envolvimento com o trabalho, como fica claro
na sua fala:

"Hoje graças a minha evolução eu consigo entender eles. Mas vestir de ASP é
uma proteção, assim como preso. Eu pessoa, procurei ser justa e quebrar essa
barreira. Ele te respeita muito mais quando se aproxima, do que com armadura".

15
Em trabalhos voluntários, é grande o risco de abandono por não haver uma
sensação de compromisso com o sujeito ou com o projeto que se desenvolve. Era
necessário, portanto, desenvolver um certo grau de comprometimento dos participantes,
de modo a evitar a evasão.
Desse modo, criou-se uma dinâmica de coordenação em que, nos dias de visita à
Penitenciária, havia sempre dois participantes do GDUCC coordenando as atividades e
um outro responsável por fazer as anotações de campo, que deveriam posteriormente ser
transcritas e enviadas para todos os integrantes por email. É bom salientar que as
participações como coordenador do dia e como 'sistematizador' foram voluntárias, sendo
que alguns participaram mais de uma vez na mesma função.
Com isso, foi possível não só criar esse senso de responsabilidade, mas também
possibilitou-se a apropriação do GDUCC pelos seus participantes, que permaneceram
motivados durante todo o semestre, tendo havido pouquíssimas faltas e nenhum
abandono.
Na Penitenciária, as reuniões se realizavam nas salas de aula da escola, sendo que
dois grupos fixos, que foram denominados A e B14, trabalharam simultaneamente.
Após as visitas à Penitenciária, ocorria uma supervisão de aproximadamente uma
hora, com a discussão dos problemas enfrentados, relatos do desenvolvimento das
atividades e planejamento do encontro seguinte. O papel de supervisor coube ao
Coordenador do GDUCC.
Os deslocamentos até a Penitenciária e de volta à FDUSP foram feitos em sistema
de carona, com rateio das despesas entre os integrantes do Grupo15. Esses momentos de
deslocamento, em especial a volta, foram bastante valorizados pelos participantes da
FDUSP.
Os registros das atividades foram feitos apenas com a orientação de anotar as falas
e todo o possível, inclusive observações sobre o ambiente, arquitetura, sensações
causadas, agitação do local, etc, mas sem uma orientação específica quanto à forma
desses registros e sua posterior transcrição.
Cada um dos participantes dos trabalhos (presos, estudantes, coordenadores e
funcionários) assinou um termo de comprometimento livre e esclarecido que autorizava a

14
Durante o desenvolvimento do trabalho, ficou nítida a diferenciação que foi ocorrendo entre os grupos A
e B, pela própria composição dos grupos (que foi aleatória) refletindo no tipo de questões suscitadas e em
posicionamentos mais ou menos politizados.
15
Todos os custos com material, alimentação e deslocamento foram suportados pelos integrantes do Grupo.
Todos os participantes são voluntários, inclusive as coordenadoras adjuntas.

16
divulgação do trabalho, desde que assegurada a preservação da identidade dos
participantes16.
No último dia de encontro na Penitenciária, foi realizada uma avaliação oral e
escrita (esta última anônima) em que todos os participantes puderam dizer suas
impressões sobre os encontros. Abaixo, transcrevemos algumas falas dos presos:

“A gente viu que a gente não está tão desprezado como a gente via antes”

“De uma forma vocês ficaram fazendo parte de uma pessoa, assim como eu de
vocês. Agora vocês vão deixar a gente. É a parte mais ruim. Eu me apeguei muito
a vocês. Tem muita coisa para aprender assim como vocês a aprender com a
gente.”

“Que a gente possa se encontrar na rua e acabar dando risadas do que a gente
passou”

Os presos receberam um certificado de sua participação, que foi entregue em uma


pequena cerimônia realizada na Penitenciária no início de 2007.

6. O projeto pensado x o projeto realizado

O projeto de reintegração social intitulado “Atendimento à população jovem”,


publicado no Manual de Projetos de Reintegração Social, da SAP (p. 34), sob nº 1.2, de
autoria de Nivaldo Antônio Lopes, foi o escolhido pelos participantes da FDUSP para ser
implementado como a primeira experiência do GDUCC.
O objetivo do projeto era discutir a organização de um projeto de vida. O projeto
previa a realização de cinco encontros, com atividades que envolviam rodas de diálogo a
partir de poesias, textos, filmes e músicas, bem como algumas dinâmicas de grupo.
Durante o semestre, verificou-se a inviabilidade de realizar o projeto, naqueles
moldes, dentro da Unidade prisional escolhida, por diversas razões. Por exemplo, pela
duração do filme proposto (muito longa para o pouco tempo disponível), falta de
equipamentos/locais adequados para projeção, ou simplesmente pelo fato de que
determinadas temáticas que surgiram durante o processo não puderam ser ignoradas pelos
participantes da FDUSP (conforme relatado no item 2.3 supra).

16
O modelo do termo de consentimento livre e esclarecido assinado pelos participantes está reproduzido no
anexo desse artigo.

17
Assim, a partir de questões e situações surgidas no decorrer de cada encontro, o
grupo passou a pensar maneiras de trabalhar essas temáticas no encontro seguinte.
Algumas dinâmicas do projeto original foram aproveitadas, assim como textos e
músicas; outras substituídas. Por fim, outra diferença do projeto original para o de fato
realizado é que, em um dos encontros, foi proposto aos presos que elaborassem atividades,
dinâmicas ou temas de discussão, conforme será relatado no item 6 infra.
O número de encontros foi também maior que o previsto, necessidade que surgiu
do desenvolvimento do trabalho.
Com relação ao tema do projeto escolhido, que era 'Projeto de Vida', algumas
dificuldades surgiram, espelhadas nas falas dos próprios presos:

“Hoje está civilizado17. Mas o sistema quer cada vez mais que se
transforme em um monstro, querem aniquilar o projeto de vida”.

“Eu tenho meu objetivo, o que a sociedade vai me oferecer?”

“Aqui dentro pra nós que somos presos a vida é meio parada.
Fazemos um projeto de vida e às vezes em um acontecimento temos
que mudar tudo”

Diante dessas falas, é impossível não se perguntar: podemos exigir que elaborem
um projeto de vida com base no que a sociedade, hoje, lhes oferece como perspectiva? E
mais ainda, o que significa pedir que eles o elaborem? Como conciliar essa exigência com
a aceitação incondicional da ética do outro?
Quando pedimos aos presos que pensem em um projeto de vida, estamos
querendo que planejem seu futuro a partir dos nossos referenciais, dos padrões aceitáveis
socialmente: trabalho, estudos, família, igreja... E se, por um lado, a elaboração de um
projeto de vida pode ajudar a enfrentar e superar as dificuldades vividas cotidianamente
no cárcere, seja pela construção de uma perspectiva, seja pelo estímulo à simbolização;
por outro lado, conforme as próprias falas acima demonstram, sabemos da dificuldade
que é tentar se integrar socialmente após a saída do cárcere.
Sujeitos que, muitas vezes, saem da prisão sem documentos e praticamente sem
amparo estatal 18, e aos quais se oferece, se tanto, um salário mínimo como opção de

17
A partir da presença das facções criminosas, como PCC e CRBC, nos presídios paulistas.
18
No Estado de São Paulo, a SAP oferece um serviço de assistência ao egresso que não suporta a demanda
por atendimento. Em outros Estados, esse serviço é muitas vezes executado por Patronatos, como na Bahia
e no Rio Grande do Sul, sendo atingidos ótimos resultados, com baixíssimas taxas de reincidência entre os
atendidos. Em São Paulo, com a deficiência do Estado, foi fundado em 2005 o Instituto de Ação

18
tornar-se um cidadão.
Além dessas questões, outras demandas temáticas acabaram surgindo durante os
encontros, razão pela qual o tema 'projeto de vida', como eixo principal, acabou sendo
deixado de lado. Logicamente, a intervenção por si e os temas que foram trabalhados
durante o semestre, como a identidade, responsabilidade, as escolhas etc, estão
intimamente ligados a essa temática, de modo que, ainda que indiretamente, acaba-se
atingindo o fim originalmente proposto.
No último encontro, em um dos grupos, a partir da proposta feita pela
coordenação, alguns presos entregaram, por escrito, observações ou mesmo reflexões
sobre seu passado e sobre sua vida. Esse exercício, por si, já tem uma validade, por
proporcionar uma tomada de consciência sobre as atitudes adotadas até então e sobre a
possibilidade ou não de mudanças na vida após a saída da prisão.
Não esperamos, com isso, uma readequação ética ou a adoção de um discurso
'bonzinho', mas sim uma consciência a respeito da sua história de vida e das perspectivas
de futuro que podem ser atingidas com os recursos internos (psíquicos) e externos
(materiais, pessoais) disponíveis e escolhidos por cada um.

“A cada reunião, é o tempo, é um diálogo, abre um espaço de ir se


conhecendo um pouco mais”

7. Relato de um dos encontros


Como já mencionado no item 2 do presente artigo, buscando aplicar o princípio de
simetria de funções, propusemos aos presos que, em um dos encontros, a elaboração e
coordenação das atividades ficasse sob sua responsabilidade, tendo liberdade para
escolha de dinâmicas ou de temas que queriam discutir. Os membros da FDUSP somente
registraram esse encontro, tendo contado com a ajuda de um dos internos que se ofereceu
para relatar as impressões do grupo de presos19.
Esse encontro foi um dos mais interessantes do projeto. Diferente do que
acontecia nos outros encontros, quando entramos, encontramos os presos andando pela
sala e ansiosos para a atividade do dia. Nas outras oportunidades em que nos reunimos
eles pareciam animados, mas não tanto quanto desta vez.

Contra-Cena, inspirado na experiência desses Patronatos, com os fins de atendimento ao Egresso do


sistema prisional paulista, entre outros objetivos.
19
Agradecemos especialmente a Elisa Pires Cruz responsável por sistematizar esse encontro, cujo registro
reproduzimos parcialmente aqui.

19
Os coordenadores da dinâmica pediram para que os membros da FDUSP, saissem
da sala e formassem uma fila indiana próxima à porta. Receberam um papel para
qualificação com um número escrito. Era esse o número pelo qual chamariam a todos a
partir de então: a matrícula. Percebemos que simulavam uma inclusão.
Todos ficaram na fila com o papel em mãos. Os internos não foram agressivos,
mas diziam o tempo todo para não falarmos nada e nos comportarmos em fila.
Começaram a nos chamar e quando entramos fomos obrigados a preencher o restante da
ficha com a qualificação pessoal e com um artigo do Código Penal. A maioria dos artigos
era de crime patrimonial (quase sempre roubo), mas havia também homicídio. Os artigos
eram “soprados” por eles quando preenchíamos as fichas. O número que cada um recebeu
correspondia ao número de matrícula dos internos que participavam da atividade; os
artigos, aos crimes que cada um, em tese, cometeu.
Após o preenchimento das fichas, todos receberam roupas de detento: calça e
“jaleco” de cor amarela forte20. Vestimos e fomos orientados a formar nova fila, próxima
à parede. Um dos presos, fingindo ser um funcionário do presídio, caminhava e dizia que,
a partir daquele momento, deveríamos responder “sim, Senhor” ou “não, Senhor” para
tudo o que nos fosse falado ou perguntado. Também andava de um lado para o outro,
demonstrando a intenção de pressionar psicologicamente as pessoas que estavam na fila,
fazendo comentários, tais como “pare de rir!”, “tá achando graça do quê?”, “olha pro
chão!”.
Aos poucos éramos chamados, novamente pelo número da ficha, para responder
perguntas que eram feitas por dois dos detentos, simulando também serem funcionários
do presídio. Desta vez as perguntas eram “você pertence a alguma facção criminosa?”,
“tem inimigos neste presídio?”, “está arrependido?”. Durante o questionário, os internos
explicavam a cada um que as respostas deveriam ser verdadeiras, já que o objetivo das
argüições era preservar a vida e a integridade física das pessoas que estavam ingressando
no estabelecimento prisional. Ao terminar, cada um assinava um termo de
responsabilidade pelas respostas dadas.
Uma das participantes da FDUSP, ao ser questionada sobre pertencer a alguma
facção criminosa, respondeu que era de uma facção rival à que pertence a maior parte dos
presos daquela Penitenciária.. Sua ousadia impressionou os coordenadores da atividade,
bem como o restante do Grupo. Frente à situação, perguntaram se ela queria realmente

20
Depois, viemos a descobrir que as roupas pertenciam aos próprios presos (eram o “uniforme reserva”) e
que foram cuidadosamente lavadas e separadas para o nosso uso.

20
entrar naquele presídio e, diante da resposta afirmativa, deram ciência a ela do que
poderia acontecer caso algum interno descobrisse o fato; ela assinou o termo de
responsabilidade e entrou com os demais. Os “funcionários” agiram de forma a
demonstrar pouco caso com as pessoas que entravam.
A próxima atividade foi, da mesma forma como acontece com os recém-chegados
na prisão, procurar lugar para morar. Todos tivemos de procurar uma cela, conversar com
as pessoas que lá estavam e perguntar se havia espaço para mais um. Algumas pessoas
não foram aceitas de início. Nesse momento, conversamos um pouco sobre a rotina da
cadeia e eles explicaram que existem regras a serem seguidas, quanto ao dia da visita, aos
horários, às responsabilidades, aos companheiros de cela, aos modos, etc.
Em seguida, simulou-se uma situação em que uma pessoa seria mandada para o
“pote” (solitária). 21
A próxima atividade foi a simulação de um furto de cigarro e o desenrolar de toda
situação a partir desse conflito. Segundo os presos, nesses casos, ocorre o chamado
“sumário”, que é a forma de resolver qualquer problema entre eles. É o momento das
argüições para se identificar um culpado e o motivo pelo qual se deu a situação.
Posteriormente, os presos explicaram que é assim que funciona quando um interno “livra
a cara” do outro e que quem acusa, deve ter provas, pois se a pessoa acusada morre e
depois se descobre que ela não teve culpa, o acusador morre também.
Na seqüência, experimentamos o que é um dia de visita. Os presos explicaram que
todos deveriam se arrumar, bem como as celas, e, depois, ficar pela sala, uns com ar de
ansiedade, outros mais tranqüilos, outros parados. Nos foi explicado que, quando as
visitas chegam, aparecem na porta, e todos olham para ver se é visita sua. Caso não seja,
todos devem parar de olhar e esperar sua visita chegar. O ato de olhar muito para a visita
de outro demonstra desrespeito e não é aconselhável.. Também nos foi dito que não
deveríamos interromper um preso que recebeu visita: não é respeitoso que se atrapalhe o
momento de um preso com a pessoa que foi vê-lo, a menos que seja convidado para ficar
junto ou para conversar brevemente.
Durante a visita, porém, nos pediram para que simulássemos uma briga,
ocasionada porque um de nós “mexera” com a visita de outro. Após iniciada a discussão,

21
O pote é uma cela pequena (mais ou menos 2x2, segundo os internos), com um buraco no chão e pela qual
escorre (pela parede) um fio de água. Lá são colocados internos que cometeram qualquer falta no presídio,
como “castigo”. Os detentos explicaram que, geralmente, quem chega no presídio, logo após a inclusão, já
é mandado para o pote. Também explicaram que para beber água é preciso tirar a camisa, encostá-la no fio
de água que escorre e, após, torcê-la próximo à boca. O mesmo procedimento era feito para manter a
higiene pessoal. As necessidades fisiológicas eram depositadas no buraco que tinha no chão.

21
nos foi recomendado que deixássemos para depois e seguíssemos na visita, já que o ato
prejudicaria as visitas dos demais e conturbaria aqueles “momentos sagrados”.Os presos
explicaram que, após a visita, haveria novamente o “sumário” e que o responsável pela
briga e os demais envolvidos sentiriam, cada qual, as conseqüências de seus atos.
Em razão do curto tempo disponível para desenvolver os trabalhos, deu-se por
encerrada a “simulação” e todos sentaram-se em círculo para discutir o que havia
ocorrido naquele dia. Em primeiro lugar, os presos contaram as impressões que tiveram,
mostrando as anotações que fizeram no caderno, que a participante da FDUSP
transcreveu na íntegra:

“Detento fez inclusão.


Todos estavam demonstrando desconforto e medo, mesmo sendo
uma simulação, imagine realidade.
Ficaram com aspecto de reeducando.
A pessoa levada para o seguro realmente se comportou como
reeducando.
O rato-mocó foi aliviado por seu parceiro e não iria para o seguro.
Na visita os reeducando se demonstram feliz e contente.”

Após lermos o que os presos haviam escrito, passamos todos a comentar nossas
impressões. Enquanto isso, os presos contaram um pouco sobre a rotina do presídio e
sobre o “Código de Ética” deles.
Percebemos uma série de sensações durante as dinâmicas. Pudemos constatar
principalmente medo e insegurança.
O diálogo abaixo demonstra o sentimento que perpassou os participantes da
FDUSP:

"Aluno: me senti como um ninguém!


Preso: Então você se sentiu como nós"

Os presos disseram que nos mandaram olhar para o chão nas dinâmicas porque é o
que acontece quando ingressam na prisão. O local é novo, tudo em volta é novo. Numa
situação como essa, a curiosidade é o primeiro sentimento que desperta no ser humano,
mas aos recém-chegados sequer é permitido olhar para os lados.
Para concluir, transcrevemos a impressão de um dos presos sobre a atividade
daquele dia:

22
“Eu nunca imaginei que pudesse colocar numa visita um jaleco e
uma calça. Vocês não perceberam, mas dá um impacto. Você
percebe que ela está colocando aquele pesadelo, o amarelão.
Parece que estão levando vocês pra uma masmorra, um
confinamento. Eu fiquei um pouco constrangido.”

8. Conclusão
O GDUCC representa uma tentativa de, por meio do diálogo, transcender os
muros externos e internos que nos separam uns dos outros e nos prendem em nossos
papéis, não permitindo que possamos nos enxergar, essencialmente, como seres
humanos.
Consideramos que até o momento, mesmo com todos os erros, insegurança e
questionamentos, se tratando de um projeto que apenas se inicia, os resultados foram
satisfatórios. Dificilmente conseguiremos medir o efeito que as nossas visitas causaram
naqueles sujeitos encarcerados. Temos algumas pistas, contudo, não só pelos relatos na
avaliação, mas também pelos efeitos causados em nós.
No tocante aos participantes da FDUSP, consideramos que os principais
resultados foram: o impacto da vivência prisional nas concepções dos sujeitos, que em
sua maioria nunca haviam estado no cárcere; e a repercussão desse impacto no âmbito
familiar, acadêmico e profissional (até pela curiosidade e estranhamento que um trabalho
desse tipo causa); contribuindo, dessa forma, para a “normalização” dos presos e
aproximação desses segmentos da realidade prisional.
Em 2007, o Grupo mudou, com a saída de alguns integrantes e a entrada de novos,
porém permanece realizando seu trabalho, buscando estar cada vez mais sensível às
demandas locais e nas formas de se chegar à simetria das relações.
A possibilidade de abrir um espaço de reflexão, de humanização dentro de um
ambiente tão desumano, representa uma pequena vitória e estimula a continuidade do
trabalho.22
Só com a abertura de espaços libertários, mesmo que ainda dentro dos muros da
prisão, é que poderemos alcançar mudanças significativas. A sociedade, como está, é
resultado da ação ou omissão de todos. Como parte desta sociedade, o GDUCC assume
sua parcela de responsabilidade e mostra que é possível, sim, transcender muros por meio

22
Um acontecimento significativo pode dar uma idéia do tipo de repercussão que tem o trabalho: logo no
início do projeto, houve uma dinâmica em que todos deveriam dizer o nome, porque tinha ganhado aquele
nome e, se soubesse, o significado. Várias pessoas não sabiam a origem do seu nome. Na semana seguinte,
um dos presos nos contou que, na visita, perguntara à mãe porque tinha ganhado aquele nome.

23
do diálogo.
A fala recorrente dos presos de que “ali, por um momento se esqueciam que
estavam na prisão” ou ainda a avaliação feita por um deles do nosso trabalho: “Vocês
deram espaço para demonstrar o homem que nós somos, e os sentimentos que nós temos.
(...)”, são elucidativas e reconfortantes, e nos encorajam a prosseguir.

24
Bibliografia
BARATTA, Alessandro. Por un Concepto Critico de Reintegración Social del
Condenado, in OLIVEIRA, E. (Coord.), Criminologia Critica (Forum Internacional
de Criminologia Crítica) Belém: CEJUP, 1990, p. 141-157.

BERISTAIN, A. Re-encantamiento criminologico en projimidad desde el


des-encantamiento. Madrid, Actualidad Penal, 1993, p. 343-359.

CHIES, Luiz Antônio Bogo et allii. Prisionalização e sofrimento dos agentes


penitenciários: fragmentos de uma pesquisa. Revista Brasileira de Ciências
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Tribunais, 2005

FOUCAULT, Michel. Estratégia, poder-saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária,


2006.

_______. Vigiar e Punir. Petrópolis: Ed. Vozes, 2002.

MORAES, Pedro Rodolfo Bodê de. Punição, encarceramento e construção de


identidade profissional entre agentes penitenciários. São Paulo: IBCCRIM, 2005.
285p. (Monografias, 33)

SÁ, Alvino Augusto de. Criminologia Clínica e Psicologia Criminal. São Paulo: 2007.

ZAFFARONI, Eugenio Raul. Criminologia: aproximación desde um margen. Santa Fe


de Bogotá: Editorial Temis, 1998.

Manual de Projetos de Reintegração Social. Departamento de Reintegração Social


Penitenciário, Secretaria de Estado da Administração Penitenciária. Governo do Estado
de São Paulo. São Paulo: Imprensa Oficial, 2005 p. 34, nº 1.2.

ANEXO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

25
Esclarecimento
O GDUCC – Grupo de Diálogo Universidade, Comunidade e Cárcere - é um
grupo formado na Faculdade de Direito da Universidade São Paulo no segundo semestre
de 2006. Compõe-se de acadêmicos e profissionais interessados na temática do cárcere.
No ano de 2007, o Grupo propõe-se a desenvolver na Penitenciária Parada Neto um
projeto de reintegração social cujo objetivo é abrir um canal de diálogo entre os internos e
universitários, proporcionando momentos de reflexão e visando o fortalecimento pessoal,
o aumento da auto-estima. Para tanto, serão proporcionados momentos de discussões e
debates em grupo sobre temas diversos e realização de dinâmicas de grupo. Em algumas
ocasiões, a responsabilidade da preparação do encontro será dos internos, com o objetivo
de proporcionar uma relação de igualdade e de troca. O trabalho visa o crescimento de
todos os participantes, cada um a partir de sua posição na vida. A partir dessas
experiências de diálogo, o GDUCC pretende divulgá-las e discuti-las em outros contextos,
seja em seminários, congressos e outros eventos, seja por meio de publicações, sempre
com o objetivo de incentivar o diálogo comunidade – cárcere.
O trabalho se estenderá ao longo dos 1º e 2º semestres de 2007, com previsão de
um encontro por semana, iniciando-se em 16 de abril e terminando em 19 de setembro,
com pausa durante todo o mês de julho. Cada encontro terá 2 horas de duração. Diante do
exposto, solicita-se ao prezado participante que, caso concorde, assine o presente termo,
no qual deixa claro consentir participar do trabalho e autorizar sua divulgação através de
eventos ou publicações, respeitado o sigilo sobre sua identidade.

Prof. Alvino Augusto de Sá Ana Gabriela M. Braga Maria Emilia A. N. Bretan


Prof. Coordenador Coord. Adjunta Coord. Adjunta

Declaração de consentimento
Eu, ________________________________________________, na condição de
_______________________________, declaro que li e entendi as informações acima e
que concordo em participar do trabalho e com sua divulgação, respeitado o sigilo sobre
minha participação, ficando eu livre de desistir do mesmo a qualquer momento.
_________________________

26

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