Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. INTRODUÇÃO
Figura 1. Análise de estabilidade elástica – programa CUFSM [13]. Fonte: Maia [3]
2
Enio Mesacasa Jr. e Maximiliano Malite
Como se pode notar, o modo definido como “local/torcional” (assim chamado pela
coincidência supracitada) não apresenta ponto de mínimo definido em função do
comprimento de meia-onda, ao contrário do que ocorre normalmente com outras seções
transversais como U ou Z.
Em face de tais conhecimentos, é apresentada aqui uma análise detalhada sobre
cantoneiras simples de abas iguais em aço formadas a frio submetidas à compressão
centrada, objetivando contribuir com o entendimento dos fenômenos envolvidos no seu
dimensionamento, fazendo uso de novos ensaios experimentais combinados com análises
numéricas pelo Método dos Elementos Finitos, e com foco também nos métodos de
previsão teórica sugeridos em trabalhos recentes.
2. ESTUDO ANALÍTICO
Segundo as normas Norte-americana (ANSI AISI S100-2007) [14], Australiana (AS/NZS
4600:2005) [16] e Brasileira (ABNT NBR 14762:2010) [15], o valor característico
(nominal) da força axial de compressão resistente (Nc,Rk) é dada por:
N c , Rk = χ ⋅ Aef ⋅ f y (1)
3
Enio Mesacasa Jr. e Maximiliano Malite
4
Enio Mesacasa Jr. e Maximiliano Malite
Sendo Wef o módulo elástico da seção efetiva em relação à fibra extrema que atinge o
escoamento.
O momento fletor solicitante MSk é dado pelo produto da força axial solicitante NSk pela
excentricidade sugerida por Rasmussen [2]:
M Sk = N Sk ⋅ e0 (10)
Sendo e0 dado por:
fy
λp = (12)
σ cr
A força axial resistente característica é obtida com base na condição limite da expressão
(7), tal qual mostrado na expressão (13), considerando NSk = NRk.
N Sk C M
+ m Sk = 1 (13)
N c , Rk M Rk α y
3. ESTUDO EXPERIMENTAL
Os estudos experimentais elaborados nas três últimas décadas têm conduzido autores a
conclusões díspares. Conforme será visto a seguir, há casos em que a força resistente
experimental do perfil se aproxima da força prevista teoricamente considerando-se
somente o modo de flexão, e outros em que, mesmo considerando-se o modo flexo-torção
conforme recomendações normativas atuais, a força resistente experimental é menor do
que a da previsão teórica.
Para conseguir uma abordagem mais ampla, foram analisados os trabalhos de Prabhu [5],
Wilhoite apud Rasmussen [2], Popovic et al [6], Young [1], Chodraui [3], Maia [4],
Bonatto [7], e ainda ensaios realizados recentemente para este trabalho (Mesacasa [18]).
Assim sendo, são apresentados na Tabela 1 as propriedades geométricas e materiais dos
perfis utilizados por cada autor, e na Tabela 2 são apresentados os resultados dos ensaios,
bem como as condições de vínculos de extremidade na execução dos mesmos
(denominadas “Rot” para rotuladas, e “Eng” para engastadas).
5
Enio Mesacasa Jr. e Maximiliano Malite
Sendo: bf a largura total da aba; t a espessura da aba; rdi o raio interno de dobramento; A a
área bruta da seção; rmín o raio de giração em relação ao eixo de menor inércia; fy a resistência
ao escoamento; e E o módulo de elasticidade longitudinal do aço utilizado pelos respectivos
autores.
Tabela 2 - Resultados dos ensaios experimentais
Cond. Modo de
Autor Seção Ensaio Lef (mm) máx Nexp (kN)
Vínculos Falha*
1 1.171 Rot 136,8 24,0 F
2 1.171 Rot 136,8 24,0 F
3 1.511 Rot 176,5 14,6 F
L 45x3,00
6
Enio Mesacasa Jr. e Maximiliano Malite
… continuação – Tabela 2
Cond. Modo de
Autor Seção Ensaio Lef (mm) máx Nexp (kN)
Vínculos Falha*
1 275 Eng 27,9 54,0 FT
2 485 Eng 49,3 41,5 FT
3 690 Eng 70,1 37,0 F+FT
4 874 Eng 88,8 31,3 F+FT
5 1.100 Eng 111,8 26,4 F+FT
6 1.299 Eng 132 22,3 F
1 459 Rot 46,6 41,7 FT
L 50x2,50
7
Enio Mesacasa Jr. e Maximiliano Malite
… continuação – Tabela 2
Cond. Modo de
Autor Seção Ensaio Lef (mm) máx Nexp (kN)
Vínculos Falha*
1 125 Eng 8,7 56,5 L
2 125 Eng 8,7 57,7 L
Young (2004)
L 60x2,25
L 27x1,06
4. RESULTADOS ANALÍTICOS
São apresentados aqui os resultados de quatro procedimentos diferentes: (I) o
procedimento normativo considerando como força axial de flambagem elástica a mínima
entre flexão e flexo-torção; (II) o procedimento normativo desconsiderando o modo de
flexo-torção; (III) o procedimento sugerido por Young [1], comentado no item 2.1; (IV) e
8
Enio Mesacasa Jr. e Maximiliano Malite
9
Enio Mesacasa Jr. e Maximiliano Malite
curva de dimensionamento idealizada por Young [1], que apesar de não apresentar
diferenças significativas em relação à curva de flexão do procedimento II para esbeltezes
baixas, estabelecem uma redução significativa da força resistente em esbeltezes
intermediárias a altas.
É possível visualizar ainda que o procedimento IV apresenta, em média, bons resultados
de previsão teórica, contudo, os ensaios realizados por Wilhoite (Wilhoite apud
Rasmussen [2]) apresentaram força resistente relativamente maior que a força teórica do
procedimento, e divergiram consideravelmente da média obtida para os demais resultados
experimentais. Deste modo, se forem desconsiderados estes ensaios, a média obtida para o
erro de modelo se reduz para 1,01, com desvio-padrão de 0,16 e coeficiente de variação de
0,15, tornando evidente o bom desempenho do procedimento sugerido por Rasmussen [2]
para barras com extremidades rotuladas.
10
Enio Mesacasa Jr. e Maximiliano Malite
11
Enio Mesacasa Jr. e Maximiliano Malite
Por fim, o procedimento I, que também apresentou boas correlações com os ensaios
experimentais de extremidades rotuladas, mostrou erro de modelo médio bastante elevado
e altos índices de dispersão. Contudo, buscou-se ainda a influência de outras variáveis no
comportamento da força resistente característica das barras analisadas, encontrando-se
como um bom indicativo a relação b/t das abas (esbeltez local) junto ao procedimento I de
cálculo.
Este indicativo mostrou uma clara tendência de dispersão nos resultados para as barras
com extremidades engastadas, como pode ser visto na Figura 4, enquanto para outras
condições de extremidade ou procedimentos de cálculo, não puderam ser identificados
comportamentos semelhantes.
Figura 4. Erro de modelo do procedimento I em função da relação b/t das abas dos perfis – barras
engastadas.
5. ESTUDO NUMÉRICO
No contexto apresentado até então, se faz essencial a utilização de modelos numéricos que
permitam o estudo paramétrico e a análise da influência das diversas variáveis que
compõem o problema das cantoneiras submetidas à compressão.
Com isso, foram calibrados modelos numéricos seguindo a mesma metodologia
empregada por Chodraui [3] e Maia [4], que desenvolveram análises numéricas de
cantoneiras à compressão com bons resultados.
12
Enio Mesacasa Jr. e Maximiliano Malite
400
300 Abas (Experimental)
200 Dobra (Estimado - 15% Maior)
100
0
0 0,05 0,1 0,15
Deformação (e)
(a) (b)
Figura 5. (a) Tensão x Deformação corrigida para Mesacasa [18] e (b) Ensaios experimentais de Young [1].
Adaptado de: Ellobody e Young [12].
Contudo, vale lembrar que o efeito do trabalho a frio sobre as propriedades mecânicas do
aço na região das dobras é assunto com ampla variação nos resultados experimentais
obtidos por diferentes autores. Por exemplo, Karren e Winter [9] mostram um aumento de
fy na região de dobra em um perfil U simples de 70% em relação à região das mesas. Já
Popovic et al. [6], obtiveram resultados de fy na região da dobra de cantoneiras cerca de
50% maiores em relação à região das abas, enquanto este mesmo aumento medido em
13
Enio Mesacasa Jr. e Maximiliano Malite
(a) (b)
Figura 6. Modo de flexão em torno do eixo de menor inércia (a) e modo de flexo-torção (b).
As tensões residuais em perfis formados a frio é outro tema em que não há um consenso
sobre panorama de distribuição, magnitude, e seus reais efeitos no comportamento
estrutural.
É aceito (por simplificação) entre diversos autores, que as tensões residuais são
constituídas de duas parcelas, uma de flexão e outra de membrana.
Segundo Schafer e Peköz [10], a magnitude da parcela de membrana, geralmente, é da
mesma ordem de grandeza do aumento na tensão de escoamento da região das dobras do
perfil devido ao trabalho a frio, portanto, pode ser desprezada, juntamente com este
aumento da tensão de escoamento, pois os dois fenômenos “se anulam” nestas regiões.
14
Enio Mesacasa Jr. e Maximiliano Malite
(a) (b)
(c)
Figura 7. Modelos de tensão residual aplicados – (a) Young [1], (b) Schafer e Peköz [10]
e (c) Quach et al. [11].
6. RESULTADOS NUMÉRICOS
15
Enio Mesacasa Jr. e Maximiliano Malite
atingida a força máxima resistente (peak load), verifica-se o aumento na intensidade das
tensões nos casos de maiores tensões residuais aplicadas. As Figuras 9.a, 9.b e 9.c
apresentam as tensões de von Mises no modelo de tensões baseado em Young [1], em
Schafer e Peköz [10] e em Quach et al. [11], respectivamente.
Conforme visto ainda na Figura 8, a trajetória de equilíbrio dos modelos numéricos
apresenta deslocamentos menores que o experimental, assim, procurou-se avaliar também
a influencia das imperfeições geométricas sobre a trajetória, buscando-se aproximar mais
o modelo numérico do experimental.
Aumentando-se, portanto, a imperfeição global de flexão para L/500, e mantendo as
maiores tensões residuais dentre os modelos analisados (tensões de Quach et al. [11]),
verificou-se que a trajetória de equilíbrio pouco varia.
Figura 8. Diagrama Força x Deslocamento axial para vários panoramas de tensões residuais.
(a) (b)
(c)
Figura 9. Tensões de von Mises no instante de carregamento máximo com os diferentes modelos de tensão
residual.
16
Enio Mesacasa Jr. e Maximiliano Malite
Outro aspecto interessante das análises numéricas com relação à distribuição de tensões é
que, mesmo com tensões residuais, nos casos de modelos com extremidades rotuladas, o
carregamento máximo resistente é obtido sem que se verifique plastificação no perfil, ou
seja, a tensão de escoamento só é atingida no estágio pós-pico.
O Gráfico da Figura 10 mostra a evolução da tensão máxima no modelo (verificado
geralmente na aba do perfil em cerca de um quarto do comprimento – vide círculo
vermelho na Figura 9.a) em relação ao estágio da força aplicada para perfis de mesmo
comprimento efetivo e diferentes condições de apoio.
Figura 10. Tensão máxima x Força aplicada em perfis de mesmo comprimento efetivo.
Por fim, em termos gerais o comportamento dos modelos numéricos mostrou-se
satisfatório, permitindo boa previsão da força máxima resistente e modos de instabilidade
condizentes com aqueles verificados experimentalmente.
A Figura 11 apresenta os resultados experimentais de Chodraui [3] juntamente com
resultados numéricos obtidos com os modelos idealizados, para os quais também foram
simulados comprimentos menores a fim de se verificar a tendência de capacidade máxima
nesta faixa de esbeltezes (λ<40), onde é constatada uma característica comum para todas
as barras estudadas de ganho de resistência em proporções diferentes daquelas verificadas
em faixas de esbeltezes intermediárias e altas.
17
Enio Mesacasa Jr. e Maximiliano Malite
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho desenvolvido até o momento mostrou que, com base na ampla compilação de
resultados experimentais realizada juntamente com os modelos numéricos criados, foi
possível apresentar e definir características de comportamento de cantoneiras formadas a
frio sob compressão centrada frente a diferentes procedimentos teóricos propostos em
trabalhos recentes e também previsões normativas, considerando e desconsiderando o
modo de flexo-torção.
Assim sendo, são mencionadas aqui algumas considerações obtidas no decorrer deste
trabalho:
- Dentre os resultados experimentais apresentados, ficou evidente a diferença no
comportamento de perfis com extremidades rotuladas e engastadas. Tal
diferenciação de comportamento também foi verificada recentemente por Dinis et
al. [17] em um amplo e detalhado estudo numérico, e ainda pôde ser analisada
numericamente neste trabalho, confirmando a tendência de força máxima resistente
superior para perfis com extremidades engastadas;
- Verificou-se que dentre os modelos teóricos propostos, o procedimento II é o único
que apresenta bom desempenho tanto para barras com extremidades rotuladas
quanto engastadas. Contudo, o procedimento I apresentou resultados para barras de
extremidades engastadas que evidenciam tendências de comportamento em função
da relação b/t, o que pode permitir, através de uma análise de regressão, uma
correção estatística tanto em média como em dispersão. Este estudo de correção
estatística e análise de confiabilidade é um dos aspectos a serem estudados nas
próximas etapas desta pesquisa;
- A análise de sensibilidade mostrou que diferentes panoramas de tensões residuais
pouco influenciam tanto na força máxima resistente do perfil, como na trajetória de
equilíbrio. No entanto, estudos de Quach et al. [11] mostram que as tensões
residuais podem atingir níveis bastantes elevados, da ordem de 1,5 vezes a tensão
de escoamento. Como no presente estudo não foram utilizadas tensões residuais
acima da tensão de escoamento devido a dificuldades de convergência, não foi
possível concluir se tensões tão altas e regiões previamente plastificadas podem
modificar de alguma forma a trajetória de equilíbrio ou a força axial resistente dos
perfis;
- As imperfeições geométricas inseridas no modelo numérico de 0,64·t (local) e de
L/1500 (global) conduziram a bons resultados em termos de força máxima
resistente quando comparados aos resultados experimentais. Verificou-se ainda a
baixa sensibilidade da força máxima resistente em relação à imperfeição global,
enquanto pequenas variações na imperfeição local provocaram grandes diferenças
no resultado.
Por fim, também será objeto desta pesquisa em etapas futuras o estudo do
comportamento de cantoneiras de abas iguais carregadas pela aba (compressão
excêntrica), e cantoneiras enrijecidas sob compressão centrada e excêntrica.
18
Enio Mesacasa Jr. e Maximiliano Malite
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao CNPq e à FIPAI pelos recursos financeiros concedidos para a
realização e divulgação desta pesquisa.
REFERÊNCIAS
[1] Young, B. (2004). Tests and design of fixed-ended cold-formed steel plain angle
columns. Journal of Structural Engineering, 130(12), 1931-1940. American Society of
Civil Engineers.
[2] Rasmussen, K. J. R. (2003). Design of angle columns with locally unstable legs.
Research Report R830. Australia. Department of Civil Engineering, Univ. of Sydney.
[6] Popovic, D., Hancock, G. J., & Rasmussen, K. J. R. (1999). Axial compression tests of
cold-formed angles. Journal of structural engineering New York, N.Y., 125(5), 515-
523.
[8] Young, B., & Rasmussen, K. J. R. (1999). Behaviour of cold-formed singly symmetric
columns. Thin-Walled Structures, 33(2), 83-102. Exeter, United Kingdom: Elsevier
Science Ltd.
[9] Karren, K.W., & Winter, G.. (1967). Effects of cold-forming on light-gage steel
members. Journal of the Structural Division, ASCE, v.93, n.ST1, p433-469.
[10] Schafer, B. W., & Peköz, T. (1998). Computational modeling of cold-formed steel:
characterizing geometric imperfections and residual stresses. Journal of Constructional
Steel Research, 47(3), 193-210.
19
Enio Mesacasa Jr. e Maximiliano Malite
[11] Quach, W. M., Teng, J. G., & Chung, K. F. (2006). Finite element predictions of
residual stresses in press-braked thin-walled steel sections. Engineering Structures,
28(11), 1609-1619. doi: DOI: 10.1016/j.engstruct.2006.02.013.
[12] Ellobody, E., & Young, B. (2005). Behavior of cold-formed steel plain angle columns.
Journal of Structural Engineering, 131(3), 457-466. American Society of Civil
Engineers.
[13] Schafer, B.W., & Ádány, S. (2006). Buckling analysis of cold-formed steel members
using CUFSM: conventional and constrained finite strip methods. Eighteenth
International Specialty Conference on Cold-Formed Steel Structures, Orlando, FL.
[14] American Iron and Steel Institute (AISI). (2007). North American Specification for the
design of cold–formed steel structural members. Washington, DC.
[17] Dinis, P.B., Camotim, D., & Silvestre, N. (2010). Post-buckling behavior and strength
of angle columns. Proceedings of SDSS’Rio - International Colloquium Stability and
Ductility of Steel Structures. V.1, P. 1141 – 1150. Rio de Janeiro, Brazil. ISBN: 978-
85-285-0137-7.
20