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COPPE/UFRJ – Pós-Graduação em Engenharia Biomédica

Disciplina: COB755 - Engenharia Clínica


Professor.: Roberto Macoto
Nome: Dayana Silva dos Santos Vieira

Desfibriladores e Cardioversores
A cardioversão e a desfibrilação elétricas são procedimentos terapêuticos que visam à reversão
das arritmias cardíacas pela aplicação de um pulso de corrente elétrica de grande amplitude num curto
período de tempo. Ao atravessar o coração, esta corrente força uma contração simultânea das fibras
cardíacas, possibilitando o restabelecimento de um ritmo normal.
Diversas situações podem induzir um funcionamento anormal do coração, levando a um
conjunto de patologias conhecido por arritmias (situações em que o ritmo das contrações cardíacas é
perturbado ou mesmo interrompido). Dentre estas, a mais grave é a fibrilação, caracterizada por uma
perda de sincronismo nas contrações do miocárdio, resultando em contrações desordenadas das fibras,
impossibilitando o bombeamento do sangue.
Se a fibrilação se instalar nos átrios, não há um risco imediato de vida para o paciente (uma
vez que não há um comprometimento obrigatório dos ventrículos). Já a fibrilação ventricular é uma
condição de emergência, pois a ausência de bombeamento do sangue resulta em perda de débito cardíaco
(fluxo de sangue circulante) e redução drástica na pressão sanguínea, podendo levar à morte em poucos
minutos.
A fibrilação é diagnosticada por ausência de pulso arterial e pela substituição do traçado do
ECG (eletrocardiograma) por uma forma de onda flutuante de alta frequência, ou onda de fibrilação.
Raramente a fibrilação ventricular é revertida espontaneamente, o que exige ação imediata da equipe
médica, com equipamento adequado e operacional.
A aplicação de um pulso de corrente elétrica que atravessa o coração promove a despolarização
(contração) de uma grande quantidade de fibras ventriculares que estavam repolarizadas (relaxadas) e
prolonga a contração das que já estavam contraídas.
Os desfibriladores são equipamentos eletrônicos portáteis destinados a gerar e aplicar pulsos
intensos e breves de corrente elétrica na musculatura cardíaca, com o objetivo de reverter arritmias. Nos
cardioversores existem também circuitos capazes de detectar a atividade elétrica do coração e
sincronizar a aplicação do pulso desfibrilatório com a onda R do ECG de modo que a aplicação deve
ocorrer em até 30 ms após a onda R. Esta precaução tem por objetivo evitar que o pulso desfibrilatório
seja aplicado no momento em que a maioria das fibras está se repolarizando (relaxando), pois um
estímulo à contração neste instante poderia induzir à perda do sincronismo entre as fibras e levar a uma
fibrilação ventricular. A cardioversão é utilizada principalmente em arritmias menos severas e em
fibrilações atriais.
Desfibriladores e cardioversores têm como princípio de funcionamento básico o
armazenamento de energia elétrica em um capacitor e a manutenção desta condição de carga, bem como
a descarga no paciente quando determinado pelo operador. Durante o período de carga (de no máximo
10 s), o equipamento armazena energia, da rede ou de baterias. O início da carga é comandado
normalmente por um botão localizado no painel e, ou nas pás de aplicação do pulso desfibrilatório. A
descarga de energia corresponde à aplicação da corrente no paciente através das pás. A descarga é
normalmente comandada pelo operador do equipamento através de botões em ambas as pás (mais
comum), ou por um botão localizado no painel. As tensões de carga variam de 2 kV a 7 kV, dependendo
do valor do capacitor e do nível de carga requerido.
As formas de onda desfibrilatória mais utilizadas atualmente são a senoidal amortecida e onda
bifásica. No primeiro caso, o pulso é obtido quando a descarga do capacitor (C) se dá através de um
indutor (L) interno ao equipamento e da resistência (R) do peito ou do coração do paciente,
caracterizando um circuito de descarga RLC série. Os desfibriladores mais modernos utilizam
principalmente a onda bifásica (quando a corrente flui pelo coração em um sentido e depois no inverso,
antes de se extinguir), que é uma evolução da senoide amortecida.
A aplicação da descarga desfibrilatória no paciente é feita através de eletrodos autoaderentes
à pele, ou pás metálicas e adequadamente isoladas para proteger o operador (mais comum). É importante
assegurar um bom contato entre as superfícies (eletrodos e paciente) para evitar que parte da energia
seja dissipada nesta interface, no caso de descarga transtorácica, o ideal é aplicar um gel condutivo nas
pás e apoiá-las firmemente contra o peito do paciente. No caso de desfibriladores automáticos,
geralmente são utilizados eletrodos autoaderentes descartáveis. Estes eletrodos já vêm com o gel
condutivo e dispensam a pressão sobre o paciente.
Nos desfibriladores manuais, o operador deve interpretar o traçado do ECG (atividade elétrica
do coração) e decidir se há ou não necessidade de pulso desfibrilatório e qual sua energia. O equipamento
apenas realiza a operação, de acordo com os ajustes do operador. No caso dos modelos semiautomáticos,
os equipamentos possuem também uma forma de captar a atividade elétrica do coração (ECG), seja
através das próprias pás de aplicação da descarga, seja através de comunicação com um monitor de
ECG.
Os desfibriladores externos automáticos são uma evolução natural dos semiautomáticos e sua
operação requer apenas que o usuário aplique os eletrodos no paciente e ative o equipamento. Este capta
e analisa e atividade elétrica do coração e determina se o pulso desfibrilatório é necessário. Se sim, o
equipamento automaticamente carrega e aplica a descarga. Outro tipo são os desfibriladores
implantáveis, estes são dispositivos destinados à detecção e correção precoce de arritmias cardíacas
(taquicardias ou fibrilação ventriculares). São implantados através de técnicas semelhantes às dos
marca-passos cardíacos. Em função do contato direto com o miocárdio e da detecção precoce da
arritmia, os níveis de energia empregados na desfibrilação são muito menores (0,5 a 30 J), fazendo com
que baterias e capacitores sejam proporcionalmente menores que nos equipamentos de desfibrilação
externa.
Já os cardioversores são os modelos mais comuns atualmente nos hospitais. Além das
operações realizadas pelos desfibriladores manuais ou semiautomáticos, permitem a aplicação de pulso
desfibrilatório sincronizado com a onda R do ECG.

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